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segunda-feira, março 04, 2013
Blog "Cinegnose" foi tema do Terceiro "Hangout Gnóstico" da Sociedade Gnóstica Internacional
segunda-feira, março 04, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Neste último domingo (03/03) tive a honra de ser
entrevistado no “Terceiro Hangout Gnóstico” dentro do tema “Cinema Gnóstico” e
as contribuições que esse blog tem oferecido ao campo das discussões sobre o gnosticismo. O evento é uma iniciativa da
Sociedade Gnóstica Internacional de Curitiba (PR) que aproveita a ferramenta
Hangout do Google + (sistema que permite videoconferências) para aproximar as
pessoas objetivando construir uma comunidade em torno da espiritualidade
gnóstica.
Seu presidente, Giordano
Cimadon, define essa iniciativa como “uma forma de promover um contato entre
gnósticos de diferentes partes do mundo e estabelecer um formato mais
atualizado de apresentação da cultura gnóstica”.
Na entrevista acompanhada de
debates e questionamentos, pude descrever a trajetória do blog “Cinema Secreto:
Cinegnose” como uma resultante do projeto de mestrado sobre o Cinema Gnóstico,
a evolução desse gênero cinematográfico até a atualidade e a possibilidade de a
mídia cinematográfica possibilitar a experiência da gnosis, projeto atual de doutorado onde procuro relacionar esta
experiência transcendente com o “acontecimento comunicacional” e suas
potencialidades políticas no sentido de quebra de uma ordem do cotidiano do
espectador - assista ao hangout completo no vídeo abaixo.
domingo, março 03, 2013
Drogas, discoteca e 3D: o atalho pop para o Sagrado
domingo, março 03, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Dos primeiros espaços sensoriais multimídia das discotecas dos anos 70 ao cinema 3D da atualidade, acompanhamos diante dos nossos sentidos a materialização tecnológica de toda uma dimensão mística e sagrada: a materialização dos simbolismos arquetípicos da espécie diante dos nossos sentidos por meio da convergência das mídias através das tecnologias digitais. Se no passado era necessário a ascese e disciplina espiritual para vivenciar essa dimensão metafísica, hoje as tecnologias sensorias prometem um atalho. Qual o destino da milenar aspiração mística e religiosa por transcendência num ambiente altamente tecnologizado sob o controle de grandes corporações?
Em uma aula da
disciplina Comunicação Visual na Universidade Anhembi Morumbi discutia com meus
alunos as referências visuais de cada década. Em relação aos anos 70,
apresentava as referências visuais da Disco Music: moda, comportamento e,
principalmente, os espaços multi-sensorias que eram as discotecas. Luzes
estroboscópicas, pistas de dança com luzes em movimento criando formas
geométricas randômicas, gelo seco etc. Em termos de comportamento, sabemos que,
ao longo das décadas as drogas acompanham cada tendência dentro da cultura pop.
Na era da Disco Music acompanhamos a decadência das drogas lisérgicas e a
ascensão das drogas "speed" como a cocaína. Diante de tanto estímulo
sensorial, o importante era ficar ligado e dançar a noite inteira.
domingo, dezembro 16, 2012
No Terceiro Aniversário uma questão: o "Cinegnose" é um blog "sobre Gnosticismo" ou "Gnóstico"?
domingo, dezembro 16, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O blog “Cinema Secreto: Cinegnose” chega ao terceiro aniversário com a
notícia de que chegamos ao Top 3 dos finalistas do prêmio Top Blog 2012 na
categoria “Arte e Cultura”. Projeto iniciado com as análises dos filmes gnósticos
na dissertação de mestrado, o “Cinegnose” começou com uma linha editorial “sobre
Gnosticismo”: especializado na análise de filmes gnósticos como ponto de
partida para aprofundar temas filosóficos do Gnosticismo. Chegamos ao terceiro
ano expandindo a discussão, dessa vez optando pelo “olhar gnóstico”, resultando numa abordagem mais abrangente
para o Cinema, Audiovisual e Cultura Pop.
Esse mês o “Cinema Secreto: Cinegnose” faz aniversário. Pela
terceira vez! Esse foi o terceiro ano de um projeto iniciado com a dissertação
de mestrado “Cinegnose: a recorrência de elementos gnósticos na produção
cinematográfica norte-americana – 1995 a 2005”, defendida na Universidade
Anhembi Morumbi. Como sempre, ao final da edição de qualquer produto cultural
(seja um CD, filme, livro ou dissertação) muito material acaba ficando de fora
por absoluta falta de tempo e espaço físico.
Ao final da análise sobre a recorrência de elementos
gnósticos (narrativas, mitologias, símbolos, iconografia etc.) até 2005,
percebi que, na verdade, o objeto da análise estava em constante desdobramento
e evolução: filmes posteriores como “Ilha do Medo” (2010), “A Origem” (2010) e até o brasileiro
“Os Famosos e os Duendes da Morte” (2009) demonstravam que o Gnosticismo era uma
influência cada vez mais presente (explícita ou implícita) em temas e roteiros
fílmicos.
Foi então que ao final de uma das aulas no doutorado da
ECA-USP, a professora Gloria Kreinz sugeriu-me: por que não faz um blog? Seria
uma forma de dar vazão a todo esse material que ficou de fora do inevitável
corte metodológico que todo trabalho científico impõe.
quarta-feira, dezembro 05, 2012
A dialética da família: de "Charlie e Lola" aos "Simpsons"
quarta-feira, dezembro 05, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O irmão mais velho
assume a imagem de mentor outrora ocupada pelos pais; duas meninas demonstram
poder desenvolver valores sem a necessidade de qualquer tipo de influencia de
adultos; e em outro caso um personagem no papel de pai cuja autoridade é
rebaixada pela sua absoluta incapacidade de lidar com as tecnologias que o
cercam. Pesquisa da Universidade Anhembi Morumbi desenvolvida por alunos da
graduação da Escola de Comunicação encontra nas animações infantis, adolescentes
e adultas a recorrência não só do desaparecimento simbólico ou mesmo literal da
figura dos pais como, também, do anacronismo ou deficiência em desempenhar os
papéis que deveriam ocupar na formação social dos filhos. Além disso,
personagens e narrativas expressariam a chamada "dialética da família" contemporânea: a crítica à autoridade patriarcal como anacrônica e autoritária
ao lado de um modelo familiar igualitário e liberal foram historicamente
emancipadores, mas, por outro lado, expôs as novas gerações às insidiosas e
sedutoras novas formas de manipulação.
Em postagem recente intitulada
“Por que os pais desapareceram do imaginário infantil?” discutíamos como o
anacronismo da família como agencia socializadora, suplantada pela indústria
cultural das celebridades e entretenimento ao oferecer novos modelos de
“super-pais”, estava sendo representado por animações infantis onde se verifica
uma significativa recorrência de situações onde os pais desaparecem
simbolicamente e até mesmo fisicamente.
O grupo de estudantes formados
por Ana Lucia Borsari, Eduardo Gomes, Laryssa Valverde, Leonardo Salles e
Nicolas Gomes da graduação da Escola de Comunicação da Universidade Anhembi
Morumbi (UAM/SP) decidiu então aprofundar a discussão do post em um trabalho de
iniciação científica para a disciplina Estudos da Semiótica, procurando matizar
as animações em três tipos de públicos: infantis, adolescentes e adultos.
Respectivamente, o universo da pesquisa foram “Backyardgans”, Charlie e Lola,
Pink, Dink Doo”e “Milly e Molly”; Os Flintstones e os Jetsons; e o último grupo
“Os Simpsons” e “Uma Família da Pesada”.
quinta-feira, novembro 15, 2012
O Mensalão e a agenda setting: a "Matrix" na prática
quinta-feira, novembro 15, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Muito discutida e ainda pouco compreendida, a essência do filme “Matrix”
(a hipótese da virtualidade do real) talvez já esteja presente no nosso
dia-a-dia mais do que imaginamos. A pesquisa “Agenda Setting e a Cobertura dos
Casos Mensalão e Cachoeira” feita por estudantes de jornalismo da Universidade
Anhembi Morumbi São Paulo como conclusão do curso “Estudos da Semiótica”
apresenta a constatação de que a mídia corporativa não tem mais o poder de
eleger presidentes ou forçar impeachments como no passado, mas ela é eficiente em estabelecer pautas e agendas
como a do atual julgamento do chamado “Mensalão”. Se a hipótese da agenda setting for correta, o que chamamos de “realidade”
poderia ser uma construção a partir de
percepções e cognições fornecidos por um ambiente midiático em que vivemos.
Virtuosismo tecnológico, capas
pretas, bullet time e todo o visual
ciberpunk marcaram as representações dos mundos virtuais em filmes como
“Matrix”: humanos enredados nos véus da ilusão criada por
computadores/demiurgos que nos escravizam. Mas descontando todo esse
sensacionalismo hollywoodiano em torno da hipótese da virtualidade do real,
podemos nos surpreender ao descobrir que a essência do tema de Matrix já está
presente em nosso dia-a-dia, tão diluído nos temas das nossas conversas e na
indústria de informação e entretenimento que nem nos damos conta: mais do que
uma figura retórica, já há muito tempo experimentamos a Matrix na prática!
Isso é
o que demonstra a pesquisa “Agenda Setting e a Cobertura dos Casos Mensalão e
Cachoeira”, trabalho de conclusão da disciplina Estudos da Semiótica da Escola
de Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi – UAM/São Paulo (veja video abaixo). O grupo formado
pelos estudantes da graduação em Jornalismo Ana Carolina Cassiano, Cainã Ito,
Camila Albino, Gustavo Carratte e Renata Corona analisou as capas e primeiras
páginas dos principais veículos de imprensa de alcance nacional e chegou a uma
constatação empírica: até o início do segundo semestre o foco dos veículos como
jornais “O Globo”, “Folha de São Paulo”, “O Estado de São Paulo” e de revistas
como “Veja”, “Isto É” e “Época” “estava concentrado nas repercussões das
denúncias envolvendo o contraventor Carlinhos Cachoeira. O julgamento do
chamado Mensalão ainda era pouco comentado”.
quarta-feira, agosto 01, 2012
A "materialidade" das produções midiáticas (parte 1): rupturas tecnológicas
quarta-feira, agosto 01, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Imagine um álbum ao vivo da banda Led Zeppellin
como o “The Song Remains the Same” de 1973. O conteúdo (um show no
Madson Square Garden, Nova York) foi imortalizado por diversas mídias sucessivas
ao longo das décadas: vinil, fita cassete, VHS, CD e, finalmente, mp3. Cada uma
dessas mídias criou uma “acoplagem” diferente do usuário com os dispositivos de
reprodução: caixas de som, o mono e o stéreo, headphones, tubos catódicos,
telas LCD etc. Poderiam essas diferentes “materialidades” das mídias moldarem a qualidade da recepção estética, ideológica ou política do conteúdo transmitido? Sim, de acordo com a chamada “Teoria da
Materialidade da Comunicação” de Gumbrecht.
Certamente uma
das linhas de pesquisas atuais sobre produção midiática é a “teoria da
materialidade da comunicação” desenvolvida por pesquisadores do departamento de
Literatura Comparada da Stanford University. O principal articulador da Teoria
das Materialidades é o alemão Hans
Ulrich Gumbrecht, ao lado de um grupo de pesquisadores europeus e
norte-americanos como Jeffrey Schnapp, Niklas Luhman, Friedrich Kittler, entre
outros. O termo “materialidades” no enfoque da comunicação não significa
apresentar uma epistemologia absolutamente nova. Ao contrário, significa
encarar, de uma maneira renovada, um aspecto bastante tradicional no fenômeno
da comunicação.
Em primeiro
lugar, quando se fala em “materialidades da comunicação” significa ter mente
que todo ato de comunicação necessita de um suporte material para efetivar-se.
Falar de “materialidades” a partir deste aspecto (significantes, suportes,
meios etc.) parece tocar num aspecto tão óbvio ou já assentado no campo das
discussões teóricas que nem parece ser digna de menção. Porém, esta aparente
naturalidade parece ocultar aspectos decisivos: em que aspecto as diferentes
mídias ou suportes (ou, então, canais) de comunicação alteram o regime de
produção e troca de idéias? As mídias não podem ser consideradas apenas como
diferentes sistemas de signos através dos quais os significados são
transmitidos, de uma forma neutra e isenta de qualquer interferência. Cada
mídia e dotada de uma ambivalência fundamental: por um lado transmite conteúdos
e, ao mesmo tempo, altera o regime de produção e recepção e interfere nos
próprios processos de recepção sentido das mensagens.
terça-feira, julho 31, 2012
A materialidade das produções midiáticas (parte 2): as "acoplagens"
terça-feira, julho 31, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Quais as diferentes “acoplagens” que os
receptores têm com as diferentes mídias? Ao longo da história da comunicação,
cada mídia criou um diferente regime de recepção (temporal e espacial). Oralidade,
manuscrito, escrito até chegarmos ao impresso, cada uma dessas mídias criou uma
cultura própria que altera a recepção, assimilação e compreensão de conteúdos.
Discos de vinil e CDs foram os últimos representantes da “acoplagem” inaugurada
pela cultura tipográfica que será desmaterializada pela cultura digital do mp3.
Sendo as
materialidades da comunicação “a totalidade dos fenômenos que contribuem para a
constituição do sentido sem serem, eles próprios, sentido”[1],
vamos fazer uma breve análise de como os diferentes suportes (indiciais,
icônicos e simbólicos) produzem distintas formas de interações ou “acoplagens”
entre o usuário e a mídia, alterando os regimes de produção de sentido: as
relações entre enunciado e enunciação, a natureza do discurso e a própria
experiência temporal. Isso poderá ser mais drasticamente observado na passagem
das mídias icônicas para as simbólicas, ou seja, dos processos de inscrição
analógicos para as digitais. Aqui, novamente, poderemos constatar a crise das
noções de referência, tempo e totalidade descritas por Gumbrecht.
segunda-feira, julho 30, 2012
A materialidade das Produções midiáticas (parte 3): as desreferencializações
segunda-feira, julho 30, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Imagine uma pessoa chegando a um restaurante. Ela pede o cardápio e começa a comer os signos dos pratos (as fotos) ao invés dos referentes (as comidas que são representadas no cardápio). Pois algo parecido ocorre nas mídias eletrônicas e digitais: passamos a tomar ícones, imagens e a própria tela como fosse o próprio real e não mais uma representação, como tínhams consciência nas mídas anteriores. O resultado é que nas novas tecnologias paradoxalmente as mídias atuias retornarão a muitas características das formas presenciais e orais de comunicação. As consequências encontraremos em diversos gêneros televisivos e digitais.
Como afirmamos na
postagem anterior (veja links abaixo), a produção imagética eletrônica e
digital, aparentemente icônica, podemos classificá-las como simbólicas. Se o signo
simbólico caracteriza-se pelo corte semiótico, ou seja, a transferência da
coisa para o signo, a autonomia e o desligamento do mundo significante,
encontramos esta característica nas mídias das novas tecnologias. A relação
contígua com objeto presente tanto na fotografia como no cinema desaparece nas
tecnologias eletrônicas e digitais. O objeto é trans-codificado ou transcrito
para a cadeia algorítmica dos significantes digitais.
Aqui não encontramos nem
a contigüidade e nem a similaridade icônica. Cores, tonalidades, luzes e
sombras são convertidas para CDs e discos rígidos em seqüências de dígitos ou
algoritmos. Temos a relação semiótica arbitrária dos símbolos com os traços
sensíveis do objeto. Abertos estes arquivos numa tela de computador, temos a simulação de uma imagem a partir de uma
matriz numérica.
Mesmo na TV temos
a simulação através do bombardeio de raios catódicos nos pixels do tubo de imagem, originados a partir do sinal hertziano
proveniente do rastreio eletrônico de uma imagem contiguamente criada na câmera
dentro do estúdio. Tanto nas mídias eletrônicas como digitais temos a recriação
ou transcrição do objeto, seja em pixels
ou em algoritmos.
Esta categoria de simulação
é central para compreendermos a natureza crítica das novas tecnologias de
comunicação.
quinta-feira, julho 12, 2012
Góticos, darks e emos vagam pelos shoppings
quinta-feira, julho 12, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O poder dos símbolos e divindades pagãs é estetizado há décadas pela
indústria do entretenimento, por exemplo, através do imaginário dark, gótico ou
de todo um "sub-zeitgeist" que fascina sucessivas gerações. Seria o sintoma ao mesmo tempo de tendências depressivas principalmente de jovens e adolescentes e do anseio pela "experiência
religiosa imediata". Com o esvaziamento da mitologia política, temos agora o Sagrado e o Religioso como um novo imaginário para canalizar a angústia por transcendência do jovem.
"Toda ideologia tem o seu momento de verdade" (Theodor Adorno)
Recentemente
os alunos da disciplina de Estrutura de Roteiro da Escola de Comunicação da
Universidade Anhembi Morumbi produziram seus primeiros Argumentos e Sinopses,
apresentando oralmente suas produções na sala de aula. Uma característica
recorrente nos argumentos das narrativas apresentadas me chamou a atenção: de
14 estórias apresentadas, quase a metade se inseriam em um imaginário gótico e
místico, recheado de simbologias alquímicas, protagonistas esquizofrênicos que
não distinguem ilusão de realidade, lugares subterrâneos e mundos paralelos
atacados por vampiros etc.
Estórias cujos protagonistas em geral adolescentes, que levam uma vida normal até descobrirem que têm estranhos poderes e que são observados secretamente por entidades sombrias. Por que jovens com idades em torno dos 20 anos são fascinados por esse imaginário dark, com tonalidades ao mesmo tempo depressivas e épicas?
É marcante
o constante revival entre jovens deste universo que ao longo
das décadas assume diversos rótulos.
domingo, julho 01, 2012
Meios "Quentes" e Meios "Frios" - paradoxos das produções midiáticas
domingo, julho 01, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um dos aforismos mais conhecidos de McLuhan é "o meio
é a mensagem". Para ele, o conteúdo de uma mensagem não tem uma grande
importância. O meio muda mais do que a soma das mensagens incluídas nesse meio.
As mesmas palavras ditas de forma presencial, impressas em papel ou
apresentadas na televisão fornecem três mensagens diferentes. Oral, escrito ou
eletrônico, o canal primário da comunicação molda o modo como entendemos o
mundo. O meio dominante numa época domina as pessoas. A partir dessa ideia podemos entender os diversos
paradoxos que envolvem a produção midiática e os fenômenos de recepção e das
novas linguagens.
1. Paradoxo Fascinação versus Dispersão
O fato de a
televisão e o rádio terem sido as mídias de massa mais bem sucedidas e
longevas, no século XX é um verdadeiro milagre pelo ponto de vista técnico da
teoria da comunicação. Principalmente no que se refere à televisão: a invenção
desta mídia tinha tudo para dar errado.
Ao contrário
do que pensamos, a história das invenções na área de comunicação é também a
história também das reações negativas e resistências. Desde o surgimento da
fotografia até a apresentação pública da televisão para um público estupefato,
o que vemos é muito menos uma recepção calorosa como se as pessoas estivessem
necessitando delas há muito tempo, e muito mais reações iniciais de
estranhamento e até resistência.
terça-feira, junho 19, 2012
Edgar Allan Poe, a tortura e a ditadura militar
terça-feira, junho 19, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Dando sequência às adaptações dos contos de Edgar Allan Poe realizadas pelos alunos da disciplina
Estrutura de Roteiro da Escola de Comunicações da Universidade Anhembi Morumbi,
temos o vídeo “Somos Todos Filhos de Deus”. Inspirado na música “Deus lhe Pague”
de Chico Buarque, transpõe o terror e delírio do protagonista do conto “O Poço
e o Pêndulo” para os porões da tortura durante os “anos de chumbo” da ditadura
militar brasileira. O vídeo consegue captar dois elementos universais do conto
de Allan Poe: a manipulação do tempo e espaço como técnica histórica nas torturas
e inquisições e o simbolismo metafísico do poço, que o autor norte-americano
apenas sugere no conto, mas o vídeo vai explorar até as últimas consequências.
O conto “O Poço e o Pêndulo” do escritor norte-americano
Edgar Allan Poe é um típico exemplo clássico do estilo gótico e de terror
psicológico no qual era mestre. Ao contrário dos demais autores que se
concentrava no terror externo, Poe prestava atenção ao terror originado no
interior do próprio protagonista. Como era do seu estilo, o conto inicia com
uma descrição objetiva de tempo e espaço que vai, aos poucos, misturando-se com
o delírio e terror da gradiente de sentidos do personagem (visual e auditivo no
caso desse conto). Tempo e espaço objetivos misturam-se com tempo/espaço
psicológicos.
“O Poço e o Pêndulo” narra o julgamento e a condenação de um
rebelde que, após receber a sentença dos inquisidores, é atirado inconsciente
em um calabouço onde sofrerá diversas torturas físicas e psicológicas. Ao
tentar reconhecer o lugar onde estava se depara com um poço que lhe desperta os
mais terríveis pressentimentos quanto ao seu destino naquela cela.
sábado, junho 09, 2012
Edgar Allan Poe Gnóstico: os vídeos
sábado, junho 09, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Vamos dar início a uma série de postagens com vídeos produzidos pelos meus alunos
da Disciplina Estrutura de Roteiro da Escola de Comunicação na Universidade
Anhembi Morumbi. Foi proposto para eles o seguinte desafio: fazer roteiros literários livremente
adaptados de contos do escritor norte-americano Edgar Allan Poe. Porém,
deveriam manter o núcleo do argumento, ou seja, as atmosferas góticas e reflexões
metafísicas e gnósticas do autor. Esses são os primeiros vídeos resultantes desses roteiros.
Edgar Allan Poe (1809 - 1849) foi o primeiro escritor do continente
americano a influenciar os rumos da literatura para além do seu país. Se Freud
ao visitar os EUA e avistar a Estátua da Liberdade teria dito “não sabem que
estamos lhes trazendo a peste”, um século antes Allan Poe já havia contaminado
o mundo com o seu gótico “impulso pelo perverso” cuja psicanálise é um dos seus
frutos.
Seus contos e poemas estão repletos de uma metafísica
gnóstica: um dualismo radical que vê a alma como aprisionada na materialidade
do mundo como uma prisão e a única forma de escapar é através de um supremo ato
de autoconhecimento, a gnose. Daí o fascínio de Allan Poe por personalidades
divididas, pela Queda, desamparo, saudades, latência, dormência, intoxicação.
Seus relatos sempre começam como relatos sóbrios e verídicos
que logo mergulham em atmosferas de horror crescente até adquirir tons
fantásticos e metafísicos. Allan Poe tinha o talento para descrever situações
intoleráveis onde sua clareza analítica revelava o prazer mórbido do autor em
se aprofundar nas origens dos impulsos da natureza humana e na sua condição de
estrangeira ou de exilada em um mundo cujo Deus é o do Abismo.
quinta-feira, junho 07, 2012
A controvérsia dos games violentos
quinta-feira, junho 07, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Você joga games? Não?
Então, como quer criticá-los”, defendem-se os usuários de jogos por computador
diante das velhas e moralistas críticas de pesquisadores ainda presos a
conceitos como “influência”, “comportamento” e “efeito subliminar”. Ambos os
lados da controvérsia em torno dos games violentos não conseguem se
desvencilhar de duas armadilhas que travam o debate: de um lado a defesa
reflexa do “gosto não se discute” e, do outro, críticas ainda presas a modelos
mecanicistas e comportamentais de comunicação. Uma pesquisa realizada por
alunos da Escola de Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi (UAM/São Paulo)
a partir de uma enquete feita com desenvolvedores de jogos e especialistas na
área de sociologia e psicologia apontou para um enfoque alternativo a essa
controvérsia: o problema dos games violentos não estaria na “influência” mas na
alteração cognitiva da percepção da realidade.
Na controvérsia em torno da suposta influência em jovens e
adolescentes dos games de computador violentos, ambos os lados apresentam
argumentos ou como mecanismos de defesa ou com modelos científicos defasados
que ainda tentam hoje aplicar em mídias digitais e interativas.
De um lado os usuários de games. Tente articular algum
pensamento mais crítico a respeito e logo ouvirá a pergunta: “Você joga games?
Não! Então, como quer criticá-los”. Essa defesa reflexa faz lembrar a mesma
reação que jornalistas tiveram quando o sociólogo francês Pierre Bourdieu
lançou o livro “Sobre a Televisão” com precisas e cortantes críticas ao campo
jornalístico: “Como Bourdieu pode nos criticar, ele não é jornalista!”, diziam
a maioria dos jornalistas à época. É como se diante desse espírito
corporativista fosse impossível qualquer pensamento científico ou crítico a
partir de fora.
Do outro lado, os pesquisadores com os velhos modelos
científicos de comunicação baseados em noções como os de “influência”,
“comportamento”, “efeito subliminar” etc.
quinta-feira, maio 31, 2012
Vídeo "Paranoia Tecnológica"
quinta-feira, maio 31, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O que aconteceria se, de repente, todos os equipamentos de
comunicação de sua casa deixassem de funcionar: celulares, computador,
notebook, Ipads, Iphones e assim por diante? Provavelmente, o usuário rotineiro
desses dispositivos de comunicação seria tomado pela ansiedade, medo, sensação
de vazio e, por fim, a paranoia. Esse é o tema do curta “Paranoia Tecnológica”,
de Gabriela Pagliuca, aluna do curso de Jornalismo. O vídeo fez parte do
trabalho de conclusão da disciplina Estudos da Semiótica que leciono no curso
da Escola de Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi (UAM/São Paulo) cujo
tema era “Obsolescência Planejada”
A narrativa do curta procurou traduzir em imagens algumas
ideias discutidas em torno das relações cada vez mais fetichistas que temos com
os gadgets tecnológicos: investir os objetos tecnológicos de um valor
imaginário onde eles teriam o poder, por si só, de criar uma comunhão ou
relacionamentos da mesma magnitude das relações face-a-face. O poder do modem,
a velocidade da conexão, a atualização dos aplicativos ou a alta performance da
placa de vídeo ou do processador seriam investidos de um valor fetichista onde
a potência tecnológico seria igual à possibilidade de produzir gratificação,
afetos e reconhecimento.
Com a obsolescência acelerada e planejada pelos fabricantes
desses gadgets, a necessidade pelo consumo de cada “novo” aplicativo,
atualização ou simples descarte do que já possui torna-se um imperativo que se transforma
numa espécie de imposição moral: você sente-se culpado se estiver
desatualizado.
O que acaba produzindo uma relação de vício e compulsão
semelhante à dependência química tal como revelado por pesquisa recente pela
Universidade de Maryland, EUA , sobre os sintomas dos usuários em situações de
privação de tencologias de comunicação
ou a pesquisa da Universidade de Bergen, Noruega, sobre a chamada
“Escala de Vício pelo Facebook” (sobre isso veja a postagem anterior nos links
abaixo).
Confira o vídeo a seguir:
quinta-feira, maio 24, 2012
Pesquisas revelam a influência, vício e narcisismo no Facebook
quinta-feira, maio 24, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
As redes sociais devem ser pensadas a partir de conceitos como influência, vício e narcisismo. Essa é a interpretação de um trabalho de conclusão da
disciplina Estudos da Semiótica, que eu ministro dentro do curso de Comunicação Social da Universidade Anhembi
Morumbi (UAM/São Paulo), a partir dos dados de pesquisas empíricas realizadas nos EUA e Noruega sobre usuários do Facebook e redes sociais. A informações levantadas por essas pesquisas mudariam o foco da discussão: a questão não é a tradicional oposição entre os mundos real/virtual, mas a relação fetichista e de viciosidade com os gadgets tecnológicos que se inicia na própria sociedade de consumo, além da diluição das fronteiras entre a vida pública e a privada.
Falar mal das redes sociais, assim como de games de
computadores, parece ter se tornado um lugar comum, mas o diferencial dos
resultados apresentados nesse trabalho intitulado "Escola de Frankfurt e Redes Sociais" (do grupo de alunos formado por Aline Mathias, André Pinheiro, Bruno Cagide, Danilo Alves, Danilo Menezes, Karolina Garcia e Luely Vaz) é que eles se basearam em duas pesquisas
empíricas realizadas recentemente com usuários de redes sociais em várias
partes do mundo.
A primeira pesquisa foi a realizada pela Universidade de
Maryland, nos EUA, levada a cabo em 2011 a partir de um universo de mil universitários
de 37 países entre 17 e 23 anos. Os grupos em estudo foram impedidos de usar
celulares, redes sociais, internet e TV por 24 horas. Somente poderiam usar
telefone fixo e livros e tinham de manter um diário. Segundo os investigadores,
79% dos estudantes relataram sintomas análogos às síndromes de abstinência
química: desespero, “esvaziamento”, ansiedade, confusão e isolamento.
Um em cada cinco alunos relatou sentimentos de abstinência,
enquanto 11% disseram que estavam confusos ou se sentiam fracassados. Quase um
em cinco (19%) relataram sentimentos de angústia e 11% afirmaram que se sentiam
isolados. Apenas 21% admitiram que poderiam sentir os benefícios de ficar
incomunicáveis (veja: http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=48447&op=all).
sábado, abril 14, 2012
Por Que os Pais Desapareceram do Imaginário Infantil?
sábado, abril 14, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Animações para o publico infantil apontam para uma característica recorrente: o desaparecimento dos pais no imaginário infantil. Dos "Flintstones" dos anos 1960 aos atuais "Backyardigans" ou "Charlie e Lola" encontramos o progresssivo desparecimento simbólico e literal dos pais nas narrativas. É o sintoma do anacronismo da família como agência sociaizadora, suplantada pela indústria cultural das celebridades e entretenimento que oferecem modelos mais atraentes de "superpais".
Nessa semana discutia com os alunos do curso de Comunicação
da Universidade Anhembi Morumbi algumas ideias da Escola de Frankfurt. Mais
precisamente, discutia a atualidade dos famosos “Estudos sobe a Autoridade e a
Família” que Theodor Adorno e Max Horkheimer empreenderam na década de 1950.
Nesses estudos os autores encontraram uma tensão dialética no interior da
família no capitalismo tardio: de um lado, a família podia ser vista como a
terrível matriz dos mecanismos de internalização da submissão (agência
psicológica da sociedade), mas, do outro, a possibilidade de se tornar uma oposição
crítica ao Estado Totalitário.
Principalmente no momento atual em que a chamada Indústria
Cultural esvazia a autoridade e competência da família, tornando-a um
suplemento supérfluo já que toda a indústria das celebridades e entretenimento
suplantaram a figura paterna ao oferecer novas figuras de “super-pais” como
modelos de internalização da autoridade.
Exatamente nesse momento em que a função de socialização da
família desaparece para transformar-se em meras imagens paródicas em filmes
publicitários de cereais matinais e margarinas (imagens congeladas de
felicidade), a instituição familiar pode tornar-se uma instância “negativa”:
libertar a inteira estrutura familiar da sua tradicional função repressiva e
“realizar o princípio do amor”, como afirmava Adorno.
sexta-feira, dezembro 16, 2011
Segundo Aniversário do Blog "Cinema Secreto: Cinegnose" - um resumo
sexta-feira, dezembro 16, 2011
Wilson Roberto Vieira Ferreira
No dia 8 de dezembro de 2009 era publicado o primeiro post do blog “Cinema Secreto: Cinegnose”: “O Filme Gnóstico: uma Introdução”. O Blog é uma continuidade do projeto de mestrado desenvolvido na Universidade Anhembi Morumbi entre 2007 e 2009 “Cinegnose: a recorrência de elementos gnósticos na recente produção cinematográfica norte-americana (1995 a 2005)” sob a orientação do Prof. Dr. Luiz Antônio Vadico e do Grupo de Pesquisa CNPQ “Religião e Sagrado no Cinema e Audiovisual”.
A principal preocupação editorial do Blog nesse segundo ano
foi a de trazer para a prática as reflexões da filosofia gnóstica. Depois do
primeiro ano onde a preocupação inicial era amadurecer os principais pontos
filosóficos, teológicos e cosmológicos do Gnosticismo, além de dar aos leitores
a sua dimensão histórica (origem, evolução e, principalmente, o atual “revival”
na indústria do entretenimento), nesse segundo ano procuramos dar uma linha
menos “doutrinária”.
Percebíamos na oportunidade que o termo “gnosticismo” estava
carregado de uma percepção religiosa, sectária ou doutrinária. A filosofia
gnóstica pode ser tudo, menos isso: pelo contrário, ao sustentar posições
heréticas e anti-religiosas por oferecer uma compreensão “invertida” e teologicamente
“negativa”, o Gnosticismo se situa historicamente numa posição underground de
rebelião.
Nesse segundo ano, portanto, o blog procurou seguir duas
linhas editoriais: primeiro, uma massiva análise fílmica indo para além dos
clássicos filmes gnósticos na área sci fi, fantástico etc. Procuramos
demonstrar que as narrativas míticas e arquétipos gnósticos estão presentes em
diversos gêneros, desde dramas ou animações hollywoodianos (“O Paraíso é logo Ali” ou “Kung Fu Panda”, filmes “trashs” e indepentes (“Ultrachrist” e
“Rubber, o Pneu Assassino”) e produções audiovisuais (Mister Maker: o sabor gnóstico para crianças).
sábado, setembro 17, 2011
Somos Todos Viajantes, Detetives e Estrangeiros
sábado, setembro 17, 2011
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Las Vegas, Área 51 e a Bomba Atômica foram eventos inaugurais da cultura pop irradiada pela indústria do entretenimento para todo o mundo. Emoldurados pela mítica paisagem desolada do deserto de Nevada, foram fatos simbólicos que se transformaram no centro espiritual da cultura contemporânea por representtarem os três protagonistas que melhor expressam a condição humana: o viajante, o detetive e o estrangeiro.
domingo, agosto 28, 2011
Classes Médias exigem Cinema com Ficção "Realista"
domingo, agosto 28, 2011
Wilson Roberto Vieira Ferreira
As classes médias apresentam curiosas formações reativas diante de filmes cuja narrativa seja “non sense”, absurda e inverossímel: impaciência, estranheza e até agressividade. A demanda por narrativas realistas na história do cinema coincide com a entrada das classes médias na atual fase industrial e monopolista do meio. Filmes como “Quero ser John Malkovich” são herdeiros do primeiro cinema (do ilusionismo de Méliès ao “slapstick” americano) que as classes médias rejeitaram por ameaçar a estabilidade psíquica necessária para a integração pragmática a um sistema altamente competitivo.
Em uma aula da disciplina de Teoria da Comunicação na Universidade Anhembi Morumbi apresentava aos alunos as principais teses da Escola de Frankfurt, principalmente no que se referia as relações entre os indivíduos e as celebridades na indústria cultural. Discutia a relação que Max Horkheimer estabelecia entre a crise da família patriarcal, a dissolução do ego e as celebridades como os novos ideais do ego oferecidos pela indústria cultural para substituir os pais ausentes.
Para ilustrar a discussão, apresentei o filme “Quero Ser John Malkovich” (Being John Malkovich, 1999) do diretor Spike Jonze. Procurava aproximar o argumento da narrativa (um casal de sociopatas e “loosers” que vislumbram a chance de abandonar suas vidas cinzentas ao descobrir uma forma de entrar na cabeça de uma celebridade e assumir uma nova identidade) com questões atuais da tecnologia digital tais como a relação entre pessoas reais e seus avatares virtuais.
Mas, como falam os lacanianos, a verdade estava em “outra cena”. Muitos alunos reagiram com estranheza e até impaciência a um filme cujo roteiro é surreal com diálogos repletos de “non sense”. Um titereiro que encontra por trás de arquivos a porta de um túnel escuro e úmido que leva direto à cabeça do ator John Malkovich era inverossímel demais, na opinião deles. Pedi para que explicassem melhor a estranheza em relação ao filme. Para eles, o filme era “esquisito” por ser aparentemente “realista” (afinal, trata de relações humanas problemáticas), com atores famosos (Cameron Dias e John Cusak), mas com um argumento surreal, inverossímel e absurdo. E o que é pior, o filme não fornece explicações lógicas para o túnel que acessa a cabeça de um ator célebre.
Já em outra oprtunidade, ao exibir para uma classe o filme “Como Fazer Carreira em Publicidade” (How to Get Ahead in Advertising, 1989 - um publicitário com bloqueio criativo que vê nascer um furúnculo no seu pescoço que se transforma em uma cabeça falante que quer dominá-lo) a reação foi idêntica, na verdade quase chegando ao motim: se rebelaram contra o típico humor negro inglês como “desnecessário” e “irreal”.
É interessante essa “formação reativa” das pessoas diante de narrativas fílmicas inverossímeis. Por trás esconde-se uma percepção realista não só do cinema como também das imagens (fotografia, audiovisual etc.). A imagem não seria apenas representação, mas um documento da realidade. Por isso, a expectativa do público é de narrativas lineares e verossímeis. Mesmo nos filmes repletos de computação gráfica, os efeitos digitais reduzem-se à figura de hipérboles, isto é, de exagerar ou ampliar os efeitos de realidade.
quinta-feira, junho 02, 2011
O Hiperpassado: a História como uma coleção de escolhas gratuitas
quinta-feira, junho 02, 2011
Wilson Roberto Vieira Ferreira
As representações pastiche e retro do passado feitas pelas mídias estão criando uma espécie de "passado genérico" onde a percepção subjetiva do tempo entra em contradição com o tempo cronológico criando um "presente extenso". Embora vivamos numa sociedade tecnológica cuja ideologia é a de que tudo muda mais velozmente do que em qualquer outra época, é paradoxal que o presente extenso crie um eterno aqui e agora onde o futuro se fecha a mudanças e o passado passa a ser uma coleção de escolhas gratuitas.
Em uma aula de Estudos da Semiótica na Universidade Anhembi Morumbi (São Paulo) estava discutindo com os alunos as características culturais e estéticas do Pós-Moderno. Apresentava dois trechos de dois filmes de ficção científica para fazermos uma análise comparativa: o primeiro, o clássico “Planeta Proibido” (Forbidden Planet, 1956) e o segundo o filme de 1979 “Alien”. Ambas com sequências narrando o pouso das naves em planetas desconhecidos. A ideia era a de discutir as diferentes concepções de futuro, a moderna e a pós-moderna.
Após exibir a sequência de “Alien”, um aluno, visivelmente espantado, perguntou de que ano era esse filme. “Nossa, esse filme parece tão atual... esperava um filme parecido como o ‘Planeta Proibido’”, respondeu perplexo o aluno.
Esse espanto do jovem aluno fez-me cair a ficha: falar de moderno e pós-moderno é discutir o tempo e entender como as mudanças do espírito de época acompanham o tempo cronológico. Para ele, o ano de 1979 era muito “antigo”, afinal ele nem era nascido. Ele esperava de “Alien” mais um filme “tosco”, se possível em preto e branco. Mas se defrontou com efeitos especiais e de montagem semelhantes aos atuais. A sua percepção de tempo estava em contradição com a noção cronológica de tempo.
Em outra aula de Estudos da Semiótica, um grupo apresentou para classe um vídeo produzido por eles sobre a Teoria da Informação. Criaram uma narrativa onde um jovem do ano 1900 pegava uma máquina do tempo para cair na década de 40 onde encontrava Norbert Wiener (o criador da Teoria da Informação) que lhes explicaria a Teoria e suas aplicações. Para dar um ar de “antigo” (1900) ao personagem colocaram como áudio “As Quatro Estações” de Vivaldi, obra do século XVIII.
Essa contradição entre percepção e cronologia do tempo nada tem a ver com falta de conhecimento de História no sentido livresco. O que parece estar em jogo aqui é a mudança na percepção do tempo, uma alteração pré-conceitual em como percebemos o passado, presente e futuro.
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