Quanto mais a Ciência se distancia do
antigo modelo mecanicista de Universo, curiosamente mais se aproxima da antiga
Cosmogênese do Gnosticismo e da mitologia grega na qual mesmo o poderoso Zeus
estava submetido às leis do Senhor do Tempo – Cronos. Pesquisadores do CERN
perplexos afirmam: o Universo não deveria existir! Sem conseguirem encontrar
assimetria entre matéria e anti-matéria, os pesquisadores atestam que o
Universo deveria ter se auto-aniquilado no segundo seguinte à Criação após o
Big Bang. Ao mesmo tempo, cientistas do Instituto Max Planck na Alemanha chagaram
a dados relativos à energia interna de um buraco negro que inesperadamente
confirmam a hipótese do Universo Holográfico – em algum lugar nos limites do
Universo existiu uma superfície 2D que “codificou” toda a informação que
descreve a nossa realidade 3D + Tempo. A improbabilidade do Universo seria mais
uma evidência do cosmos ser uma simulação finita?
O leitor deve já ter ouvido falar no
filme Fenda no Tempo (1995),
adaptação para a TV de Tom Holland do livro de Stephen King chamando “The
Langoliers”: um grupo de dez passageiros em um voo de Los Angeles a Boston
acorda e descobre que os outros passageiros e tripulação desapareceram, não
sabem mais para onde estão voando e não têm mais qualquer contato nem visual e
nem de rádio com o solo.
Acabam pousando em um aeroporto vazio e
sentem-se como os últimos sobreviventes da Terra. Para mais tarde descobrirem
que estão em um limbo interdimensional em alguma fração do tecido do tempo
entre o passado e o futuro. E devem fugir dali, antes de serem devorados por
monstros do Tempo vindos do passado – dessa forma o Tempo anda para frente, num
fluxo em que o presente é devorado por monstros para se tornar passado. O Tempo
consome a si mesmo – desculpe pelos spoilers,
mas será por uma boa causa...
Duas notícias de recentes descobertas no
campo da microfísica e astrofísica parecem sugerir algo análogo a essa
misteriosa narrativa de Stephen King.
Um Universo improvável
Pesquisadores do CERN, na Suíça, fizeram
recentemente medidas mais precisas da força magnética de prótons e antiprótons
e descobriram que eram exatamente as mesmas. Apenas com sinais trocados de
carga positiva e negativa. Matéria e antimatéria seriam simétricas!
Os pesquisadores usaram uma câmera
antimatéria para armazenamento e uma “armadilha Penning” (um recipiente
cilíndrico que captura partículas carregadas), mantendo a antimatéria
extremamente fria por 405 dias, tempo suficiente para fazer as medidas do
momento magnético. E a medida em magnéton nuclear (μN)
foi de -2,7928473441. A exata medida do próton, mudando a penas o sinal
negativo.
Para
o físico Christian Smorra do Symmetry Experimental Baryon-Antibaryon do CERN,
isso significa que o Universo NÃO deveria existir, colocando em xeque o modelo
cosmológico do Big Bang: se a explosão primordial criou quantidades iguais de
matéria e antimatéria, tudo deveria ter se aniquilado mutuamente. Então, por
que ainda continuamos aqui?
Perplexo,
Smorra afirma: “tem que existir alguma assimetria, em algum lugar. Simplesmente
não entendemos onde está a diferença entre matéria e antimatéria que justifique
a existência do Universo” - clique aqui.
Muitos começaram a especular que essa
descoberta corrobora com a hipótese do Universo como um gigantesco holograma ou
as teses do filósofo Nick Bostrom ou de Rich Terrile da NASA de que o universo
seria uma gigantesca simulação computacional – sobre isso clique aqui.
Buracos negros holográficos
Principalmente depois dessa outra notícia:
cálculos da energia interna de um buraco negro bateram com a hipótese do
Universo holográfico.
Publicado na revista Physic
Review Letters em 2016 com o título “Horizon Entropy from Quantum Gravity Condensates”
(Daniele Oriti, Daniele Pranzetti e Lorenzo Sidoni do Max Planck Institute for
Gravitational Physics da Alemanha e Scuola Internazionale Superiore di Studi
Avanzati, Itália), por
meio de simulações computacionais de alta precisão, os pesquisadores calcularam
a energia interna de um buraco negro e a energia interna de um cosmo sem
gravidade (que é parte fundamental do modelo de Maldacena de Universo
Holográfico). Os dois cálculos bateram.
Em outras palavras, ao
usarem a gravidade quântica, os cientistas construíram um modelo de buracos
negros cujos cálculos indicaram que esses misteriosos objetos podem ser
hologramas! Isso significa que, embora se acredite que os buracos negros tenham
três dimensões, eles podem ser projeções bidimensionais.
Um holograma é uma imagem de três
dimensões impressa num suporte de duas dimensões. Falar que o Universo é
holográfico, não significa evidentemente que somos todos desenhos animados
vivendo em um mundo sem profundidade.
Bem diferente disso, significa que toda a
“informação” que compõe e descreve a nossa realidade 3D, além do tempo, está
contida em uma superfície 2D nos limites desse Universo.
"Imagine
que tudo que você vê, sente e ouve em três dimensões (e a sua percepção do
tempo), de fato emana de um campo plano bidimensional. A ideia é semelhante à
dos hologramas comuns, onde uma imagem tridimensional é codificada em uma
superfície bidimensional, como no holograma em um cartão de crédito. No
entanto, neste caso, todo o universo está codificado!" explica o professor
Kostas Skenderis, da Universidade de Southampton, no Reino Unido.
Universo holográfico, Relatividade e Quanta
Essa
hipótese foi corroborada com análises recentes do micro-ondas de fundo cósmico
– a “radiação cósmica de fundo” tida pela teoria do Big Bang como um eco
remanescente da explosão primordial.
A
equipe liderada por Skenderis fez um mapa dessa radiação de fundo, cujo
resultado foi a conciliação da Relatividade Geral de Einstein com a Teoria
Quântica – o Universo teria passado por uma “Fase Holográfica” na qual essa
superfície 2D foi “codificada” e o espaço e tempo ainda não estavam bem
definidos – e onde se aplicavam as teorias de campo quântico. Mais tarde, passou
para a fase geométrica (a imagem em 3D + Tempo) que pode ser descrita pelas
equações de Einstein.
E nessa
fase “geométrica” atual do Universo, podemos encontrar a “assinatura” fractal
desse gigantesco holograma: as “cordas” (modelo físico onde a partícula como
base da física é substituída pela noção de “cordas”: blocos fundamentais
extensos e unidimensionais) e os pixels do universo.
Cosmogênese Gnóstica na Física atual?
Este Cinegnose vem acompanhando nos últimos
anos como as recentes descobertas experimentais e hipóteses formuladas por
matemáticos, filósofos e físicos cada vez mais fazem lembrar a cosmogênese
narrada pela mitologia gnóstica: o cosmos material como a criação de uma falsa
divindade conhecida como Demiurgo - um
Universo que tentou emular a Plenitude (Pleroma) mas que resultou em algo
paródico e imperfeito – regido pela entropia, caos e destruição.
A
Ciência surge com o modelo mecanicista (determinista e regido pela causalidade
linear) que via o universo análogo um mecanismo, o que pressupunha um ser
superior não-mecânico (Deus) assim como o relógio pressupõe a existência de um
relojoeiro – um Deus que tenha dado a “corda” inicial ou a tacada inicial das
bolinha de bilhar que batem umas nas outras.
Esse
modelo foi desafiado pela Relatividade de Einstein que, a cada “crise” com a
descoberta da relatividade em alguma dimensão, o físico tentava restaurar a
normalidade em um outro plano.
A
perspectiva probabilística quântica e o indeterminismo de Heisenberg só fez
aumentar a resistência de Einstein contra a vanguarda quântica – ao responder
aos paradoxos quênticos dizendo que “Deus não joga com dados o Universo”,
Einstein talvez pressentisse a confirmação desse fantasma gnóstico: de fato, o
Demiurgo criou uma universo “imperfeito”, que nunca foi regido por alguma
causalidade Divina.
A
perplexidade dos pesquisadores do CERN pela ausência de assimetria entre
matéria e antimatéria e, em decorrência, o inexplicável fato de que o Universo
não ter se auto-aniquilado e ainda estarmos vivos parece mais uma vez alimentar
o fantasma do Gnosticismo.
Se ainda estamos vivo e se o universo
holográfico em 3D possui ainda o Tempo como outra variável na sua equação,
talvez a sobrevida que espanta o CERN seja apenas uma questão de Tempo.
Pelas leis do Relativismo Geral que
explicam esse gigantesco holograma, quanto mais nos aprofundamos com nossos
telescópios no céu profundo, mais voltamos para o passado: observamos as luzes
de eventos que levaram milhões de anos até chegarem aos nossos olhos - eventos, galáxias e estrelas que nem mais existem.
Stephen King, Langoliers e Cronos
O que nos faz retornar ao thriller
metafísico no início dessa postagem proposto por Stephen King: o Tempo consome
a si mesmo, como monstruosos pac man
que comem o passado em direção ao futuro.
Isto é, observamos buracos negros e
estrelas morrendo como se observássemos o Universo, célere, se autoconsumindo
em nossa direção. Como um constructo artificial, um holograma projetado de uma
superfície 2D nos limites do Universo, talvez o CERN esteja correto: a
imperfeição fundamental desse cosmos, tal como na mitologia gnóstica, é a sua
inevitabilidade: auto-aniquilar-se, um processo que dura milhões de anos, mas
que se confunde com a própria eternidade.
Talvez as suspeitas do CERN estejam
corretas: o Universo já se auto-aniquilou desde o momento da Criação. Apenas
observamos com os nossos telescópios os “langoliers” de Stephen King se
aproximarem do nosso quadrante no cosmos para devorar o tempo e espaço junto
com a humanidade.
Daí a urgência da mítica exortação
gnóstica: acorde! Para a mitologia gnóstica a humanidade é prisioneira da
Criação por um deus enlouquecido que tenta fazer nesse plano uma uma cópia do
Pleroma - a Luz que existe acima do
nosso mundo, ocupado pela Plenitude. O lugar no qual o princípio Divino jamais
foi criado, mas simplesmente emanado.
É no mínimo curioso como quanto mais a
Ciência se distancia do antigo modelo mecanicista, mais vem se aproximando da
cosmogênese gnóstica: a natureza artificial, finita e codificada da Criação,
que tende para a entropia e destruição.
O que remonta à própria mitologia grega
onde até mesmo Zeus, que governava o mundo do alto das nuvens, comandando raios
e trovões, estava sujeito às leis de Cronos – o Senhor do Tempo.
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