quarta-feira, novembro 01, 2017

As 10 revelações gnósticas na série "Philip K. Dick's Electric Dreams"


Philip K. Dick escreveu seus contos sob a sombra do macarthismo da Guerra Fria onde a lealdade e confiança eram as principais armas contra a traição e delação de um sistema totalitário. Mas para ele, esse sistema não era apenas político, mas cósmico – obra de um Deus demente, um Demiurgo Criador que nos aprisiona por meio da ilusão moral (culpa) e ontológica (o princípio de realidade). A nova série da rede britânica Channel 4 “Philip K. Dick’s Electric Dreams” (2017-) adapta esses contos de ficção científica que conduziram o escritor até a violenta epifania mística em 1974, na qual teve visões, sonhos e revelações místico-religiosas que o levaram ao gnosticismo cristão. Os 10 contos que compõem a primeira temporada da série apresentam não só a atmosfera do anticomunismo da Guerra Fria do momento em que foram escritos. Mas didaticamente nos mostra os 10 grandes princípios da Revelação Gnóstica que orientaram toda a obra do escritor. Por isso Philip K. Dick tornou-se visionário: cada vez mais a realidade atual se assemelha a um conto dele.

O grande confronto digno do homem está entre a Tragédia (a clássica vitória grega do Destino sobre o homem) e o Heróico (moderno e faustiano) – e isso acontece pelo colapso do Tempo e Espaço, satisfazendo a morte em seus próprios termos: você não aproveita porque morre. Mas é a sua morte, não uma morte imposta a você violando sua natureza: é o resultado lógico do que você é, e não do que o mundo e o destino sejam. (The Exegesis of Philip K. Dick) 

O mundo atual está cada vez mais parecido com as visões distopicas para o futuro do escritor Philip K. Dick (1928-1982). Não só pelos temas da ganância corporativa, controle autoritário, inteligência artificial, drogas e tecnologias revertidas contra a própria humanidade.

Notícias recentes como a do novo Iphone que desbloqueia através de um dispositivo de reconhecimento facial, modelos robôs fotografados em editoriais de moda ou o prefeito de São Paulo propondo uma gororoba processada para alimentar os pobres lembrando filmes sci fi distopicos como No Mundo de 2020 (1973), nos faz sentir que a vida mais e mais se parece com um conto de Philip K. Dick (PKD).

Os créditos iniciais da nova série do Channel 4 (rede de TV britânica) Philip K. Dick’s Electric Dreams (2017-) já nos revelam essa atualidade do visionário escritor: um robô debruçado em um laptop Mac se arrasta para trás de um pilar; um quinteto de bebês com cordões umbilicais flutuantes fazem uma roda de mãos dadas; luminosos de neon mostrando uma mulher com quatro seios numa paisagem urbana noturna anunciam serviços sexuais entre outras cenas que revelam o apelo contemporâneo da adaptação de contos de PKD escritos na década de 1950.

Nesta primeira temporada são 10 contos: até aqui já foram apresentados The Hood Maker, Impossible Planet, The Commuter, Real Life, Crazy Diamond, Human Is. Nas próximas semanas: Kill All Others, Autofac, Father Thing, Safe and Sound.

Nessa antologia de contos percebe-se a atmosfera da época em que foram escritos, momentos do macarthismo e anticomunismo do início da Guerra Fria: Estados totalitários, delações, traições e o valor da lealdade e companheirismo como forças espirituais para enfrentar um universo corrompido e decadente.

Philip K. Dick (1928-1982)

Por que Hollywood adora Philip K. Dick?


Mas por que as visões de PKD tornaram-se atemporais, transcendendo sua própria época? E principalmente: por que, apesar do escritor combinar misticismo com engajamento político, o mainstream do entretenimento adora PKD?

É um dos autores de ficção mais adaptados no cinema e audiovisual: Blade Runner, Total Recall, Minority Report, Paycheck, A Scanner Darkly, The Adjustment Bureau e a recente série Amazon The Man in The High Castle que mostra uma História alternativa na qual a América foi controlada pelos nazistas na Costa Leste e pelo império japonês na Costa Oeste – os nazistas dominaram primeiro a tecnologia nuclear, mudando todo o desfecho da Segunda Guerra Mundial.

  Talvez a resposta comece nas críticas negativas feitas ao estilo literário de PKD, para horror dos fãs confessos do escritor: PKD não foi um bom escritor – há uma escassez de prosa e muitos diálogos são desajeitados. Certamente ele não chegou ao talento narrativo de alguns autores da sua geração como Ray Bradbury.

Muitas vezes sente-se que as ideias deveriam estar explodindo na cabeça do escritor a um tal ritmo que ele não tinha tempo para jogos de palavras e meandros de estilo e retórica. Por exemplo, o roteirista Ronald D. Moore (Battlestar Galactica), que adaptou o conto “Exhibit Piece” (na série, o episódio chama-se Real Life), disse que da estória originou pouca coisa restou – mas permaneceu “o coração e o cérebro que originaram o conceito da narrativa”.

Por isso, por trás do estilo cru e direto de PKD está aquilo que atualmente Hollywood mais busca: conceitos, ideias, visões.


Visões de PKD


E essas visões sempre foram a de um homem que sempre teve a sensação de que a realidade, como costumamos percebê-la, é uma mera fachada. PKD sempre sentiu que havia algo de moralmente errado em um universo no qual, por exemplo, um inocente gato poderia ser alegremente atropelado por um carro. Por isso, seus romances sempre abordaram o tema do homem prisioneiro de maquinações de um poder além do seu controle.

Portanto, ele era essencialmente gnóstico. Até culminar na sua revelação (gnose) em 1974 quando, a semelhança do episódio “Real Life”, teve visões hipnagógicas, audições, sonhos tutelares, e toda a visão de milhares de gráficos coloridos lembrando "a pintura não-objetiva de Kandinsky e Klee", como descreveu – sobre isso clique aqui.

Seus contos e livros foram a preparação para essa gnose brutal de 1974, “a morte antes de você morrer”, como afirmou. Podemos encontrar na obra do escritor 10 princípios da “revelação gnóstica”, como PKD mostra no livro The Exegesis of Philip K. Dick, 2011.

Até aqui, desde o Gnosticismo Pop de Matrix e Show de Truman, Hollywood tem se sentido atraída por essas revelações: são icônicas, misteriosas, um verdadeiro thriller místico-religioso, que parece ir ao encontro da percepção generalizada dos espectadores nesse mundo em que vivemos: há algo não só muito errado – mas também perigoso e mortal.

Portanto, a chave de compreensão da série Philip K. Dick’s Electric Dreams, isto é, o sentido que une os 10 contos da primeira temporada, é entender como cada um dos episódios se conecta com essas revelações.

Revelações de PKD na série


Revelação 1: O Criador deste mundo é demente

A Criação é uma imensa máquina perversa de um Demiurgo dividido em diversos planos governados por Arcontes. Mesmo depois da morte, o desafio para a alma é navegar entre essas autoridades cósmicas sem ser ludibriado pelas ilusões. O Estado totalitário do primeiro episódio “The Hood Maker”; a corporação especializada em criar ilusões para turistas em tour espaciais em “The Impossible Planet”; uma outra corporação que fábrica “consciências quânticas” para androides terem “élan vital” em “Crazy Diamond” ou uma misteriosa cidade que vicia as pessoas em versões alternativas “felizes” para suas vidas.

Em cada episódio há algum tipo de Demiurgo, auxiliado por seus Arcontes, em algum plano da existência criando realidades para iludir e explorar. São entidades amorais, isto é, moralmente irresponsáveis onde os fins justificam os meios.  


Revelação 2: O mundo não é o que parece. Um véu de ilusão é criado a fim de obscurecer a natureza demente do Criador.

Os discursos dos Criadores Demiurgos são sempre altruístas e positivos, nos quais a distância entre os meios e os fins praticamente inexiste. Em “Real Life” o dispositivo neural é para “tirar férias da própria vida”, embarcando em uma realidade alternativa virtual; a leitura telepática usada pela polícia da União sob o pretexto da segurança e democracia que vira um poder autônoma e descontrolado no episódio “The Hood Maker; ou como em “The Commuter” no qual uma entidade metafísica aparentemente altruísta criando realidades alternativas felizes, atropela o livre-arbítrio e o amor. A suposta felicidade vira vício e escravidão.

Em cada episódio há uma ilusão que encobre a falha da Criação: entropia, morte e “reversibilidade irônica”: felicidade vira escravidão, democracia vira totalitarismo e o amor pela vida cria a morte – como em “Crazy Diamond” onde as “consciências quânticas” (“jacks” e “jills”) têm uma vida breve e começam a falhar (dispositivo corporativo de “obsolescência planejada”) e, como nos replicantes em Blade Runner, uma “CQ” luta para viver mais.


Revelação 3: Há um Reino melhor, acima dessa Criação, e todos os esforços devem ser dirigidos para: voltar para lá; trazê-lo para cá.

Invariavelmente, os protagonistas são “estrangeiros” – vivem relações de alienação e estranhamento em seus ambiente familiares ou cotidianos. Sentem- se como exilados, como se aqueles planos da realidade em que vivem não fossem as deles. “Real Life” temos dois personagens, cada em planos virtuais intercambiáveis, sem saber a que mundo pertencem.

Há perda de memórias, fragmentos de lembranças, déjà vus. Há sempre alguma reminiscência de algum lugar distante no tempo e espaço.

“Real Life” é o episódio que melhor explora essa tensão entre o “lá e cá”.

Revelação 4: Nossas vidas reais estão lá atrás, esquecidas há milhares de anos, e nós podemos recuperar as lembranças das nossas origens nas estrelas.

Em “Crazy Diamond”, tal como Jim Carrey em Show de Truman, Ed Morris (Steve Buscemi) é um nostálgico engenheiro que produz “consciências quânticas”, apegado ao seus discos de vinil e com o sonho de sair pelo oceano a bordo do seu veleiro. O tema que toca é a música psicodélica “Octopus” do guitarrista Sid Barrett nas origens da banda Pink Floyd nos anos 1960.

A típica nostalgia pós-moderna: saudades de épocas que não foram vividas, mas que revela a nossa condição de estrangeiros e exilados. Uma nostalgia indeterminada, de algum lugar ou tempo esquecidos.


Revelação 5: Cada um de nós tem uma contraparte ainda não decaída conectada ao Divino, que pode ajudar a nos despertar. Essa outra personalidade é auto-vigilante, enquanto a nossa consciência dorme. Estamos de fato dormindo, e nas mãos de um mágico perigoso disfarçado como um bom deus, mas é um divindade perturbada. A desolação, o mal e a dor desse mundo (uma prisão determinista) nos faz cedo criar um princípio de realidade e, de bom grado, adormecemos na ilusão.

O episódio “Impossible Planet” é o que melhor ilustra esse revelação de PKD. Dois funcionários de uma corporação de turismo no espaço chamada Astral Dreams (Jack Reynor e Benedict Wong), veem a possibilidade de dar um golpe na personagem de Geraldine Chaplin, uma idosa nostálgica do planeta Terra. Com os recursos em criar ilusões tecnológicas de uma nave turística da empresa, tentarão iludir a cliente simulando uma viagem à Terra - na verdade o planeta já se extinguiu.

Ela é surda e, portanto, presa fácil para os golpistas que ganharão de uma vez o que levariam anos para ganhar honestamente.

Logo percebemos que a nostalgia e as lembranças de um lugar chamado Elk River têm algum tipo de natureza mística que transcenderá a morte.

Revelação 6: Você poderá passar da prisão delirante do mundo em que vive para o reino pacífico se o verdadeiro Deus coloca-o sob sua Graça e permite-lhe ver a realidade através dos seus olhos.

No episódio “Human Is” uma mulher (Essie Davis) sofre em um casamento sem amor com um marido emocionalmente abusivo (Bryan Cranston) e percebe que, quando ele retorna de uma batalha em outro planeta, volta muito diferente - agora amoroso, compreensivo e companheiro. Ela descobrirá o verdadeiro amor através dos olhos de um alien que, parece, assumiu o corpo do seu marido.

Para os gnósticos Deus não é um Criador (sentido dado apenas ao Demiurgo), mas um “alien”: ele foi “emanado” e existe desde sempre. A dimensão da Criação é temporal (criação e decadência, entropia), enquanto a Graça Divina está num plano atemporal.

Na série, todos os pontos de virada dos protagonistas se relacionam a descoberta desse plano atemporal que não foi criado. Enquanto a Criação é ilusão, a Verdade é o Eterno: o que está além do sentimento de culpa em “Real Life”, o amor através dos olhos de um alien em “Human Is”, a descoberta do amor incondicional que está além da felicidade fabricada em “The Commuter”, as memórias que transcendem a própria morte em “Impossible Planet”, a Consciência Quântica que, apesar de manufaturada, descobre o amor pela vida etc.

O plano temporal é ilusório porque fugidio, tendendo à decadência, morte e destruição pela ação da flecha do Tempo. Em seus contos, PKD almeja que seus protagonistas descubram o Eterno – a “Graça de Deus”.


Revelação 7: Cristo deu a Revelação - Ele ensinou aos seus seguidores como entrar no Reino enquanto ainda estão vivos, enquanto as outras religiões só trazem a verdade “em outro reino” ou “em outro tempo”. Nunca aqui, só depois da morte.

Para PKD, o inferno da realidade é o seu determinismo criado por um princípio de realidade imposto pela dor e ausência de esperança. A tensão entre o “lá” e “cá” da Revelação 3 é sempre resolvida aqui e agora, nesse mundo. O plano secreto revolucionário dos telepatas “Teeps” em “The Hood Maker”, ou a descoberta do amor incondicional na relação difícil entre o pai Ed Jacobson (Timothy Spall) e seu filho ao reverter uma viciosa realidade alternativa que prometia uma felicidade egoísta no episódio “The Commuter”.

Daí que o Gnosticismo de PKD se aproxima da Política: a Revelação não está em outro reino que conheceremos após a morte (mesmo porque, a morte é a perpetuação da prisão através dos mecanismos reencarnatórios), mas na ruptura do determinismo e da ilusão.

Revelação 8: Provavelmente a verdadeira igreja cristã ainda vive. O segredo existe, há muito tempo, no subterrâneo. E aqueles iniciados que vivem o Corpus Christi como sua cabeça e governante têm poderes aparentemente mágicos.

É interessante como os contos de PKD tratam de protagonistas que vivem, seja no presente ou no futuro, rotinas absolutamente banais. Sem terem consciência de algum segredo muito antigo ou realidade atemporal que mudará para sempre suas vidas.

Em “Impossible Planet”, Brian Norton (Jack Reinor) tenta aplicar o golpe da falsa viagem ao planeta Terra sem saber de uma realidade atemporal em loop que o liga a idosa ingênua Irma (Geraldine Chaplin), vítima do golpe.

Em “Real Life”, a descoberta de que o véu da “realidade” esconde uma estrutura de mundos possíveis nos quais nossos “eus” vivenciam diferentes personas – e cujos sintomas são os déjà vus.

Há sempre alguma realidade atemporal e imemorial sob a realidade. É claro que para o gnosticismo “viver o Corpus Christi” é uma simbologia: o “Corpo de Cristo” seriam as diversas moradas, cujos acessos demandariam a iniciação a conhecimentos herméticos e mágicos.


Revelação 9: A divisão do Universo em dois tempos (Bem e Mal) e dois reinos (os bons e os maus) terminará abruptamente com a vitória do Bem tornando o invisível em visível – não sabemos quando isso ocorrerá.

Os contos de PKD são “maniqueístas” (no sentido dado pelo pensador gnóstico Mani como dualismo radical): dois reinos coexistentes de Luz e escuridão que se envolvem em conflitos e ações caóticas. Não há superação dialética possível, mas apenas oposição na qual uma das partes será destruída.

Ocasionalmente, a Luz torna-se prisioneira das trevas, num processo lento de extração e salvação. Como os telepatas “teeps” em “The Hood Maker” – presos e instrumentalizados pelo Estado totalitário para finalidades de vigilância e repressão, planejam uma revolução evolutiva para a espécie humana.

Ou em “Human Is” onde o alien rexoriano torna-se um metamorfo (passa a viver no corpo do protagonista Silas) onde, através dessa condição prisioneira em um corpo estranho, mostrará aos humanos que sua raça de aliens tida como selvagem e sem códigos morais, possui uma capacidade de amar ainda maior do que os próprios humanos.

Esse maniqueísmo gnóstico é bem diferente do vulgar maniqueísmo hollywoodiano: enquanto na indústria do entretenimento temos a vitória do Bem (o happy end) para manter a Ordem, destruindo o vilão anômico ou desestabilizador, no Gnosticismo o “happy end” é a destruição da Ordem com a revelação de tudo aquilo que era outrora invisível.

Revelação 10: Durante esse período de tempo de travessia estaremos sendo julgados sobre a qual poder somos fiéis: o Demiurgo Criador perturbado ou o Deus Uno e seu reino, que o conhecemos por meio de Cristo.

Esse elemento moral do julgamento está presente principalmente no episódio “Real Life”: Cora (Karin Anglim), uma policial de Chicago no futuro sente-se culpada por uma chacina de policiais na qual ela foi a única sobrevivente. Esse sentimento de culpa se estende ao seu outro “eu” numa Chicago alternativa no passado (George – Terrence Howard), um engenheiro computacional bem sucedido que com um dispositivo “mindset” vive uma vida virtual feliz no futuro como Cora.

Nesse episódio particular o sentimento de culpa pune os protagonistas: sentem-se culpados por eventos produzidos pelo Universo determinístico criado pelo Demiurgo. A culpa impede a felicidade dos protagonistas.

Nesse específico conto de PKD está sintetizada a visão gnóstica da moral: a culpa e o pecado não são imputados aos homens, mas na própria Criação.

Dessa forma, Cristo não veio morrer por nós ou pelos nossos pecados. Mas para nos eximir deles, ao mostrar que esse quadro moral do Demiurgo nos aprisiona na realidade através da culpa por nos considerarmos pecadores e decaídos. Não merecedores da Criação supostamente Divina.

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E PKD alerta em sua Exegese: “aquele que conhecer esses dez princípios do cristianismo gnóstico, estará cortejando o desastre!”

Portanto, o espectador deverá ter cuidado com o material altamente cáustico e perigoso adaptado pela série Philip K. Dick’s Electric Dreams


Ficha Técnica 

Título: Philip K. Dick’s Electric Dreams
Diretor: David Farr, Fancesca Gregorini, Tom Harper, Julian Jarrold entre outros
Roteiro: baseado em contos de Philip K. Dick
Elenco:  Geraldine Chaplin, Steve Buscemi, Essie Davis, Bryan Craston, Jack Reynor, Terrence Howard
Produção: Channel 4, Sony Pictures Television
Distribuição: Amazon Studios
Ano: 2017
País: Reino Unido/EUA

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