quinta-feira, janeiro 30, 2014

Crianças chiliquentas e pais frágeis no documentário "Crianças Consumidoras"

A cada ano desenvolve-se uma nova ciência do consumo que turbina um mercado cujos ganhos se equivalem a soma das economias de 115 países pobres: é a ciência do consumo infantil, uma verdadeira “blitzkrieg” contra as crianças através da mobilização de especialistas que vão de antropólogos e sociólogos a neurologistas e cientistas comportamentais. É o tema do documentário “Crianças Consumidoras – A Comercialização da Infância” (2008) que alerta: profundas mudanças no psiquismo infantil estão sendo feitas nesse momento com o desaparecimento da infância por meio do novo perfil etnográfico dos “tweens” (a fusão da infância na adolescência) e o reforço subliminar da “cultura da reclamação” (chiliques, birras etc.) para que crianças insistentes...

terça-feira, janeiro 28, 2014

A bomba semiótica do fusca em chamas

O bordão “Não tem arroz, não tem feijão, mas assim mesmo o Brasil é campeão” em 1962 e o atual “Não Vai Ter Copa” demonstram que as bombas semióticas são a principal arma de uma guerra psicológica. Se no passado a ação era feita através de cinedocumentários exibidos para as classes pobres por meio de projetores montados em chassis de caminhões abertos, agora é por meio de produção de eventos com alto rendimento midiático, causando impacto mesmo em manifestações com baixo número de "manifestantes". O caso mais recente foram as dramáticas imagens do fusca incendiando e uma família humilde sendo salva das chamas, em uma rara combinação do oportunismo, sincronicidades e significados ambíguos, elementos que são o pavio da detonação de uma típica bomba semiótica. Em 1990 os telejornais de...

domingo, janeiro 26, 2014

Em Observação: "O Destino de Júpiter" será um novo "Matrix"?

Com lançamento no Brasil aguardado para o segundo semestre desse ano, “O Destino de Júpiter” (Jupiter Ascending) não só representa o retorno dos irmãos Wachowski à mitologia gnóstica da trilogia Mtarix, mas a ambição de elevar essa mitologia do plano terrestre para o cósmico por meio de uma space opera. Assim como o personagem Neo era um entediado programador de computadores que descobria que por trás das camadas da realidade existia uma terrível conspiração contra a humanidade, Júpiter é uma entediada limpadora de banheiros que descobre que seu DNA possui uma assinatura especial que a conduzirá às estrelas. E lá descobrirá que o planeta Terra é uma pequena parte de uma gigantesca indústria cósmic...

sexta-feira, janeiro 24, 2014

Transmissão ao vivo e o declínio da vida pública

As críticas do jurista Dalmo Dallari de que a experiência da transmissão ao vivo das sessões do Supremo Tribunal Federal foram nefastas por gerar “vedetismo e deslumbramento” entre os ministros, retirando a sobriedade das decisões, vai de encontro a um fantasma que assombra as ciências sociais: o declínio da vida pública, ameaçada pelas supostas “experiências imediatas” que as imagens transmitidas ao vivo ou em tempo real poderiam proporcionar. A ideologia de uma suposta “transparência” das decisões do Estado por meio das imagens televisivas seria a ponta do iceberg de um processo mais geral de crise esfera pública: se a vida pública foi o auge de um processo civilizatório onde graças as mediações (papéis sociais e a cultura do escrito e...

quarta-feira, janeiro 22, 2014

Os "rolezinhos" são um Cavalo de Tróia?

Sintoma do apartheid social? Flash mob da periferia? Movimento consciente de protesto? Movimento político? Luta de classes? Repique das grandes manifestações de Junho? A maioria das abordagens sobre o fenômeno dos rolezinhos parece se esquecer de um importante detalhe: são eventos feitos para a mídia, divulgados pela mídia e repercutidos pela mídia. Antes de ser um sintoma sociológico ou econômico, é um evento midiatizado. Por isso se aplicaria nessa discussão o clássico enigma pragmático dos estudos de comunicação: quem comunica o que, para quem e com qual efeito. Em outras palavras, para além do fenômeno sociológico ou econômico, há o semiótico cuja análise traz uma importante suspeita, a de que os rolezinhos teriam se tornando para a...

segunda-feira, janeiro 20, 2014

Carma e atração gravitacional no filme "Gravidade"

Desde “2001: Uma Odisséia no Espaço”, nunca um filme como “Gravidade” (2013) do mexicano Alfonso Cuarón, conseguiu representar tão bem a vastidão do espaço e seu vazio obliterante. Indicado ao Oscar de filme, direção, atriz entre outras categorias técnicas, o filme é elogiado pela crítica pela narrativa direta, crua e de grande verossimilhança científica, diferente dos blockbusters recentes, sempre envolvidos em complexas mitologias. Porém, por trás das alucinantes sequências de destruição por detritos espaciais que obrigam a abortar a missão de reparos no telescópio Hubble, há um poderoso núcleo místico-religioso que o próprio diretor admite em entrevistas: morte e renascimento. Mas o filme vai mais além, ao simbolicamente aproximar a lei...

sábado, janeiro 18, 2014

O misterioso simbolismo de Kubrick em "De Olhos Bem Fechados"

Um mundo tenso e dividido entre as fantasias privadas e a realidade da rotina conjugal, entre o mundo brega das decorações natalinas e de pessoas carentes tagarelando incessantemente e o mundo do silêncio e imobilidade de uma poderosa e secreta elite. Esse foi o legado e síntese da visão de mundo de Stanley Kubrick no seu último filme “De Olhos Bem Fechados”, o mais esperado e controverso filme da década de 1990. Meticulosamente filmado (a maioria das cenas exigiram inumeráveis takes fazendo o filme entrar no Guinness World Records como a mais longa produção cinematográfica) a adaptação do livro “Dream Story” de Arthur Schnitzler resultou em uma complexa narrativa onde Kubrick compôs cuidadosamente cada plano com vários símbolos, alusões...

terça-feira, janeiro 14, 2014

Por que a mídia está tão obcecada pelos tomates?

Dentre os vários itens que supostamente teriam elevado os índices inflacionários, por que a mídia escolheu como vilão o tomate? Quando tudo perecia ter sido esquecido, eis que portais da Internet no final do ano passado localizaram supostos ataques pontuais em regiões isoladas e, no início desse ano, telejornais reavivam a memória e até, timidamente, tentam um revival dos tomates inflacionários . Por que essa obsessão pelos tomates? Por que não o pão, o leite ou os vestuários? Por trás dessa escolha aparentemente arbitrária e sua recorrência midiática, o tomate revela um antigo simbolismo cultural. Uma área vasta, riquíssima e interdisciplinar, envolvendo antropologia, semiótica da cultura e sincromisticismo. Ou seja, o tomate oferece...

domingo, janeiro 12, 2014

A bomba semiótica da inadimplência

Em 1999 o colunista José Simão bradava em pleno feriado de 7 de setembro: “Inadimplência ou Morte!”. Mas na época a grande mídia fazia vistas grossas à quebradeira de consumidores e empresas na ressaca do Plano Real. Ao contrário, hoje uma suposta onda de inadimplência se converteu numa agenda midiática obsessivamente repercutida a cada imagem aérea mostrada pela TV da Rua 25 de Março lotada de consumidores: uma combinação resultante de uma suposta inflação descontrolada, crédito fácil, juros baixos e falta de educação financeira da população. Combinado com a pauta do “consumo consciente” e “crédito responsável”, o discurso da inadimplência acaba de se transformar na mais recente bomba semiótica. As explosões dessa nova bomba pretendem criar...

quinta-feira, janeiro 09, 2014

Misteriosas conexões da mitologia da estrela Sirius no Cinema e na Música

De “Show de Truman” ao filme “Número 23”, do álbum “Diamond Dogs” de David Bowie a série “Harry Potter”, podemos encontrar uma recorrência sincromística: a misteriosa conexão desses produtos de entretenimento com a mitologia que envolve a estrela Sirius da constelação do Cão Maior, presente nas mais variadas culturas e civilizações desde a antiguidade. Passando pela escola dos mistérios do antigo Egito, a mitologias da tribo dos Dogons de Mali, na Teosofia de Madame Blavatsky, sociedades secretas como a Maçonaria ou na antiguidade grega, percebe-se ela é dotada de um simbolismo ambíguo, seja como a estrela que ilumina o mundo espiritual ou que aponta para maus presságios, e tempos de calor e loucura – “dias de cão”. Na bandeira nacional,...

segunda-feira, janeiro 06, 2014

Exposição faz viagem pela mente de Stanley Kubrick e alimenta conspirações

A partir de uma cenografia que recria os ambientes e a sofisticação visual de cada filme, a exposição Stanley Kubrick, em cartaz até o dia 12/01 no Museu da Imagem e do Som (MIS) em São Paulo cria a curiosa sensação no visitante de estar caminhando no interior da mente do diretor. Mas, além disso, a variedade de documentos, cartas e memorandos expostos alimentam muitas teorias conspiratórias que envolvem um diretor que sempre foi recluso e avesso a entrevistas ou a ter que dar explicações para os significados de seus filmes: a consultoria do mainstream tecnocientífico dos EUA na produção de “2001 – Uma Odisséia no Espaço”; os arrojados efeitos especiais à frente de seu tempo, dez anos antes de “Guerra nas Estrelas”; e a morte do diretor...

sábado, janeiro 04, 2014

Uma versão sinistra do Mágico de Oz no filme "YellowBrickRoad"

Uma equipe de psicólogos, cartógrafos e fotógrafos tenta transformar uma lenda em registro histórico: por que uma cidade inteira desapareceu depois de assistir ao filme “O Mágico de Oz” em 1940? Inspirado em um caso real onde os habitantes de uma vila esquimó desapareceram repentinamente deixando todos os seus afazeres para trás, o filme “YellowBrickRoad”(2010) faz uma sombria releitura do filme clássico de 1939 por um viés metalinguístico do cinema, forte tendência dos filmes independentes atuais. Assim como Dorothy levantou a cortina e descobriu que Oz não era um mágico no filme clássico, em "YellowBrickRoad" os espectadores daquela pequena cidade remota descobriram da pior maneira possível, após saírem do cinema, que a Cidade de Esmeralda...

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