quarta-feira, novembro 07, 2018

Estamos todos à espera de algo que nunca chega em "Esperando Godot"

Obra-prima do Teatro do Absurdo de Samuel Beckett, “Esperando Godot” sempre esteve à espera de uma adaptação cinematográfica. A qual Beckett resistia por temer que o espírito de dissonância original da peça fosse perdido na linguagem fílmica. Mas o projeto “Beckett in Film” do diretor irlandês Michael Lindsay-Hogg certamente superou esses temores de Beckett. Em “Esperando Godot” (2001), a peça em dois atos em que nada acontece ganha novos tons, principalmente gnósticos: por que dois mendigos à espera do misterioso Godot que nunca aparece, simplesmente não viram as costas e vão embora? O que temem? O absurdo e surrealismo de "Esperando Godot" é apenas a superfície de um horror metafísico de Beckett que parece remeter ao trauma do Holocausto: como foi possível uma barbárie jamais vista na Segunda Guerra Mundial? Que cosmos é esse em que vivemos que cria condições para acontecer horrores que jamais deveriam acontecer?

domingo, novembro 04, 2018

Vinte e seis anos depois, Brasil se parece com "Bob Roberts"

Num país onde a elaboração de um roteiro para o cinema e o planejamento do marketing político de um candidato são a mesma coisa, filmes como “Bob Roberts” (1992) não se limitam a fazer uma mera sátira da política. Vai mais além, misturando fatos reais da propaganda política com a ficção. Produzindo o paradoxal efeito “mockumentary” – acreditar na realidade por meio de um filme ficcional que simula ser um documentário sobre um candidato de extrema-direita ao Senado dos EUA. Um filme obrigatório, principalmente após o controvertido processo eleitoral brasileiro que levou outro candidato da extrema-direita ao poder, dessa vez à presidência. Após 26 anos da exibição de “Bob Roberts”, o filme continua assustadoramente atual, com surpreendentes semelhanças com as eleições brasileiras: manipular os fios da “política das emoções” (racismo, sexismo etc.) para esconder que por trás não existe nada.

sábado, novembro 03, 2018

Em "Await Further Instructions" a TV nos contamina com insanidade e obediência cega

Uma família tenta se reconciliar na noite de Natal depois de anos de estranhamento. Mas em breve, encontram-se presos e incomunicáveis com o mundo exterior em sua casa suburbana. Há algum tipo de entidade não identificada que se comunica exclusivamente através da televisão, por meio de teletextos (que lembram os velhos videogames de 8 bits) com ordens ambíguas que progressivamente provocam discórdia, histeria e violência. Será que tudo não passa de algum reality show televisivo? Um ataque terrorista? Ou algo pior? Ao lado de “Videodrome” (1982) de David Cronemberg, “Await Further Instructions”(2018) é um filme que nos mostra que a TV há muito deixou de ser uma janela aberta para o mundo para se converter em tela que nos passa comandos. Nós não temos ideias, mas é as ideias que nos têm, nos transformando em hospedeiros virais para replicar a insanidade e a obediência cega. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende. 

sexta-feira, novembro 02, 2018

Retrofascismo: na Guerra Híbrida o fascismo retorna como farsa

Em 2011 este “Cinegnose” teve uma sombria antevisão: “o retrofascimo brasileiro só está à espera de uma tradução política para conquistar, mais uma vez, o Estado”, afirmava este humilde blogueiro. E este momento chegou! Só que dessa vez como farsa, diferente da tragédia do fascismo clássico do século XX. Conceito criado pelo pesquisador em Cultura e Tecnologia, Arthur Kroker, “retrofascismo” representa o mix dos motivos que fizeram surgiu o fascismo histórico com a hipertecnologia do século XXI. É necessário entender as nuances entre o fascismo do passado e o atual, como mais um lance no xadrez geopolítico da Guerra Híbrida brasileira: assim como no passado, o retrofascismo utiliza a matéria-prima psíquica da personalidade autoritária, mas dessa vez como estratégia de dissuasão midiática (e, por isso, como farsa) – criação da agenda da polarização em torna das questões identitárias, culturais e de costumes para esconder um programa de governo ruim de voto. Porém, produziu três efeitos residuais: o efeito “Uma Noite de Crime”; o efeito “A Ficha Caiu!”; e o efeito “Apertem os Cintos, a Grande Mídia sumiu!”.

sábado, outubro 27, 2018

Gil Gomes e Datafolha fazem a tradução política do fascismo brasileiro


Nos dias que antecederam a eleição de segundo turno dois fatos relevantes: a morte do radialista e jornalista Gil Gomes e os resultados da pesquisa Datafolha sobre os atributos dos candidatos à presidência. O primeiro, evento sincrônico cheio de significados – a morte do representante de uma extirpe da crônica policial que por décadas cultivou o ódio, medo e vingança dos telespectadores e ouvintes. Cuja colheita vemos na atual polarização política. E o segundo, divulga números sobre os atributos aos candidatos à presidência que relembram os resultados da célebre pesquisa “Personalidade Autoritária” liderada por Theodor Adorno na década de 1940 nos EUA. Pesquisa representou as configurações psicodinâmicas relacionadas a atitudes e expressões antissemitas, etnocêntricas, conservadorismo político e econômico para chegar ao potencial fascista, a famosa “Escala F”. Provando que o pensamento autoritário não é uma simples “aberração cognitiva”. Mas uma formação reativa psíquica à espera de uma tradução política.

sexta-feira, outubro 26, 2018

O capitalismo é apenas mais uma forma de gerir o hospício humano em "Insanidade"



O filme checo “Insanidade” (“Silení, 2005) é para poucos pela sua alta carga de niilismo e humor negro. O diretor Jan Svankmajer volta à crítica da sociedade de consumo do filme anterior “Little Otik” (2000), mas dessa vez por um viés político e ontológico: a história humana é comparada a um problema de gestão de um manicômio no qual há duas formas de fazê-lo - ou a liberdade absoluta na qual o prazer e orgia se aproximam do crime e da morte, ou o totalitarismo da dor e castigo que também flerta com a morte. Um jovem tem recorrentes pesadelos até encontrar um milionário excêntrico que emula o próprio Marquês de Sade. Ele apresenta o médico gestor de um manicômio que apresenta uma técnica supostamente revolucionária que irá livrá-lo dos seus pesadelos. “Insanidade” é uma fábula sobre como a História até aqui não conseguiu conciliar Eros e Thanatos, prazer e morte. E como o capitalismo é mais uma forma de gerir essa loucura.

quinta-feira, outubro 25, 2018

"Esquerda precisa de um novo Goebbels?", indaga Cinegnose na CEE-Fiocruz no Rio


Nessa segunda-feira este humilde blogueiro participou da oficina “Guerra Semiótica, Políticas Sociais e Saúde” após gentil convite da pesquisadora Letícia Krauss, coordenadora do evento. A oficina foi no CEE-Fiocruz (Centro de Estudos Estratégicos da Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro). Procurei fazer um comparativo entre as ações da direita e esquerda, no espectro político, dentro do campo da comunicação. O problema: enquanto a esquerda mal compreendeu o funcionamento das mídias de massa no século XX, nesse século a direita da um segundo salto tecnológico com a guerra semiótica no campo das tecnologias de convergência – Internet e redes sociais. Solução: lutar no mesmo campo simbólico da direita, modular a comunicação para alcançar líderes de opinião de grupos e comunidades (analógios ou digitais) e táticas de guerrilha antimídia. Será que para isso seria necessário um novo Goebbels, agora na esquerda?

terça-feira, outubro 23, 2018

Memória, identidade e controle mental no filme "Upstream Colour"



Um filme inclassificável. Pode ser um romance com uma racionalização sci-fi. Uma jovem engole uma capsula medicinal contendo um estranho verme cuidadosamente cultivado em estufa, tornando-se hospedeira tanto da larva como do controle mental de alguém que a transformou numa cobaia involuntária de um experimento. Agora ela terá flashbacks, flashfowards e flahs periféricos tornando o filme “Upstream Colour” , 2014, de Shane Carruth (“Primer”) num filme estranho, surreal. Num verdadeiro quebra-cabeças que cobra do espectador esforço cognitivo para restabelecer a linearidade. Uma experiência enigmática, única, hipnótica e surreal. “Upstream Colour” nos dá a sensação de, através de um microscópio, estarmos vendo a matéria-prima das nossas memórias e identidades: as sensações mais básicas dos nossos cinco sentidos. Tão efêmeras e frágeis que podem ser roubadas quando menos esperamos.

domingo, outubro 21, 2018

"Cinegnose" discute no Rio guerra semiótica nas políticas públicas de saúde


Mais uma vez este humilde blogueiro do “Cinegnose” vai ao Rio de Janeiro. Dessa vez, no CEE Fiocruz (Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz – Fundação Oswaldo Cruz) para apresentar a oficina “Guerra Semiótica, Políticas Sociais e Saúde”. O evento será nessa segunda-feira às 13h30. Será abordado todo um espectro de conceitos teóricos, práticos e políticos associados à Teoria da Comunicação e Semiótica. Mas principalmente, como esses referenciais teóricos podem orientar práticas de política de comunicação no atual cenário brasileiro de guerra híbrida e semiótica. Em particular, atingindo as políticas públicas de saúde.

sábado, outubro 20, 2018

"ZapGate" é o último ato da guerra híbrida


Cinicamente a Globo chama de “guerra virtual” para encobrir o caráter assimétrico da batalha do disparo de milhões de notícias falsas com apoio empresarial pela campanha de Jair Bolsonaro - o "ZapGate". Enquanto isso, mais uma vez o PT aciona seu Exército Brancaleone para pedir, dessa vez, medidas punitivas da Justiça Eleitoral – como se não estivéssemos testemunhando o previsível último ato de uma guerra híbrida metódica e sistemática iniciada em 2013. Aguarda-se um show de contorcionismo judicial-midiático para deixar o tempo passar mais rapidamente. Ou enfiarão a cabeça na terra e se fingirão de morto...Este é o último desafio para a esquerda: se ela mal compreendeu o porquê do sucesso da propaganda hipodérmica do nazi-fascismo do século XX, poderá entender e dar uma resposta estratégica à guerra da mineração de big data criadora de dissonâncias cognitivas e realidades paralelas? Apesar do ar pós-modernoso do “ZapGate”, as origens da sua estratégia de comunicação estão no século XX: a descoberta de que as redes dos líderes de opinião de grupos e comunidades é que sancionam os conteúdos midiáticos. 

segunda-feira, outubro 15, 2018

"O Abrigo": o mais perturbador filme pós-apocalipse dos últimos tempos


Pode parecer que “O Abrigo” (“The Divide”, 2011) é mais um filme pós-apocalíptico em que, outra vez, Nova Iorque é destruída. Dessa vez por bombas nucleares em uma guerra indeterminada. Mas dessa vez não temos uma narrativa épica de um herói que luta em colocar ordem no caos para salvar o dia. As coisas irão de mau a pior num grupo de sobreviventes em um abrigo subterrâneo. A obsessão pela temática pós-apocalipse e do fim do mundo no cinema encobre a raiz de um sintoma que “O Abrigo” revela de maneira explícita: o freudiano “Mal-Estar da Civilização” assentado no temor da morte, da fragilidade do corpo e no inferno que representa o outro. Por isso, o diretor Xavier Gens vai buscar inspiração em dois clássicos da literatura do niilismo pós-guerra: a peça “Entre Quatro Paredes” de Sartre e “O Senhor das Moscas” de William Golding. “O Abrigo” é um filme para cinéfilos com mente e estômago fortes. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

sábado, outubro 13, 2018

Uma psicanálise da engenharia da computação na série "Maniac"


Mais do que entender “quem é o dono do hardware” atrás dos aplicativos, gadgets e algoritmos que nos envolvem e fazem a mediação de todas as nossas relações familiares, pessoais e profissionais, é urgente também fazermos uma psicanálise da “classe virtual”: a “tecno-intelligentsia” de neurocientistas, engenheiros, cientistas da computação, criadores de jogos eletrônicos e toda gama de desenvolvedores digitais. Até que ponto o atual paradigma digital (que confunde a mente com o próprio funcionamento dos computadores) é a projeção de uma “ego trip” desses membros da elite virtual: estariam traumas, fantasmas e obsessões íntimas dos próprios desenvolvedores digitais projetados no modelo cognitivo que a ciência da computação impõe para nós? Esse é o mais importante tema da nova série Netflix “Maniac” (2018): uma radical técnica fármaco-computacional promete eliminar as memórias de nossos traumas para voltarmos à realidade felizes e produtivos. Mas, e se ficarmos aprisionados nos próprios traumas dos neurocientistas criadores do experimento?

quarta-feira, outubro 10, 2018

Bolsonaro é um avatar. Como enfrentá-lo?


Estamos à beira do desfecho de uma guerra híbrida iniciada em 2013 com as chamadas “Jornadas de Junho”. Num mecanismo tão exato quanto um “tic-tac”, passo a passo, um depois do outro, irresistível, sistemático: a Política foi demonizada, um governo foi derrubado, o psiquismo nacional envenenado e a polarização despolitizou e travou qualquer debate racional. Tudo iniciado pelas bombas semióticas detonadas diariamente pelas mídias de massas. E nesse momento o desfecho ocorre na velocidade viral das redes sociais. Por isso, Bolsonaro converte-se em um “candidato-avatar”: a Nova Direita descobriu a tática do “Firehose” – a espiral de boatos e desmentidos pelos “fact-checking” cria paradoxalmente o subjetivismo e relativismo que blinda o próprio candidato-avatar. Apesar de toda essa pós-modernidade, a Nova Direita tem o mesmo elemento de estetização da política criada pelo fascismo histórico: a narrativa ficcional cômica – de programas de humor da TV, Bolsonaro despontou como um “mito” de quem ria-se e não se levava a sério. Por isso, circulou livremente. Hoje, é o protagonista do “gran finale” da guerra híbrida. Como enfrentar um avatar?

domingo, outubro 07, 2018

Em "Jogador Número 1" a jornada moralista do herói de Spielberg


Depois de abordar temas como tubarões, terrorismo, ETs e narrativas de aventuras que sempre tiveram a marca do retrô pop, dessa vez no filme “Jogador Número 1” (“Ready Player One”, 1978) o consagrado diretor Steven Spielberg mergulha na tecno-mitologia dos games de computador – uma vasta paisagem virtual de um jogo imersivo de avatares lutando em um parque temático da cultura pop: um gigantesco museu interativo sobre o século XX no futuro, um labirinto de referências e alusões da mitologia pop. Como sempre, Spielberg entrega ao público a velha narrativa da Jornada do Herói repleta de elementos herméticos e gnósticos. Mas Spielberg é a nata da indústria hollywoodiana: mais do que tudo, sabe construir narrativas míticas e elementos esotéricos fascinantes (porque prometem transcendência) embaladas com o moralismo da boa e velha dualidade maniqueísta hollywoodiana. “Jogador Número 1” dá a reposta a uma questão que sempre incomodou o “Cinegnose”: por que o Gnosticismo parou nas mesas de produtores e roteiristas de Hollywood?

segunda-feira, outubro 01, 2018

Para grande mídia, cárcere do Lula é o Gabinete do Dr. Caligari


Desde o impeachment de 2016, aos poucos as bombas semióticas na grande mídia foram dando lugar a estratégias narrativas: como transformar uma má notícia em um “conto maravilhoso” (Vladimir Propp) em plenas narrativas não ficcionais jornalísticas? Narrativas em que verossimilhança e relações de causalidade são mandadas às favas – transmutações, pensamento animista, magia, forças sobrenaturais, ação à distância por princípio de semelhança etc. Em meio ao mal estar da grande mídia em ver, mais uma vez, o PT ir ao segundo turno eleitoral (apesar das diversas mortes anunciadas do partido e de Lula), o jornal "Estadão" nos brindou com mais uma dessas narrativas fantásticas: tal como o clássico expressionista alemão de terror “O Gabinete do Dr. Caligari” (1920), uma colunista alerta que Lula usa poderes hipnóticos e paranormais – de dentro da prisão, Lula controla mídia, inventou Bolsonaro e o anti-petismo para depois derrota-lo... e Haddad é o seu Cesare – hipnotizado, às vezes até emula o “chefe” com a voz rouca em carros de som. Grande mídia revela agora seu expertise narratológico – só mesmo a semiótica de Julien Greimas para desmontar essa bomba narratológica.

domingo, setembro 30, 2018

Curta da Semana: "Nerd Cave" - a Caverna de Platão 2.0


“Nerd” deixou há muito tempo de ser um termo pejorativo, principalmente porque por trás deles há uma lucrativa indústria em expansão: os jogos de computadores. Alguns pesquisadores em cibercultura acreditam que se tornou até mesmo uma “categoria psicológica” motivada pelo desejo da imortalidade através da desconexão com a realidade. Principalmente quando atualmente os games adquiriram o status de esporte. O curta dinamarquês “Nerd Cave” (2017) um compulsivo gamer de jogos on line vive em sua própria “Caverna de Platão”, com a sua mãe. Até que um dia, a energia do bairro em que mora acaba e o seu mundo desmorona. Então, sua mãe tentará se reconectar com o filho, através de peixinhos num aquário. Um curta repleto de alegorias. Mas a principal é que agora vivemos a Caverna de Platão 2.0: também podemos interagir e jogar com as sombras projetadas na parede.

sábado, setembro 29, 2018

Em "Branco Sai, Preto Fica" o tempo brasileiro é o eterno retorno


Em 1986 policiais invadem um baile funk em Ceilândia, cidade-satélite de Brasília, ferindo física e psiquicamente dois homens. Em 2014, um terceiro homem vem do futuro a procura de evidências que ajudem um movimento identitário negro mover uma ação contra o Estado pelos danos daqueles homens no passado. “Branco Sai, Preto Fica” (2014) de Adirley Queirós é uma ousada experimentação em um gênero pouco visitado pelo cinema brasileiro – o filme consegue construir uma espécie de “meta docudrama sci-fi”. Com sua desolação, frieza e aridez, Brasília deixou de ser a utopia modernista de uma possível civilização brasileira para se transformar na perfeita cenografia de filmes distópicos, com uma vantagem: não é preciso computação gráfica. No país do futuro, o tempo é um eterno retorno: se o presente é um apartheid social, o futuro não deixa por menos – a “Vanguarda Cristã” tomou o poder e ameaça o sucesso das investigações. Filme sugerido pelo nosso leitor Paulo Pê.

segunda-feira, setembro 24, 2018

Bolsonaro X Haddad no segundo turno? Guerra híbrida continua vencendo


Mais uma vez a sabedoria desconfiada do velho Leonel Brizola. Acostumado com os truques da geopolítica dos EUA, em 1989 Brizola acusava Lula de ser inflado pela direita para mais facilmente a própria direita, representada então por Collor, vencer. Tudo leva a crer que Bolsonaro e Haddad irão ao segundo turno. Otimismo e ufanismo ganham a esquerda, saudando o gênio político de Lula, mesmo com todo massacre midiático e “lawfare”. Como sempre, a esquerda apenas compreende a superfície da atual guerra híbrida brasileira, em ação desde 2013. Para além do impeachment e a prisão de Lula, há um objetivo semiótico mais insidioso: polarização (petismo X anti-petismo) e despolitização (o jargão do empreendedorismo e moralismo travando qualquer debate de macro-conjuntura) - infantilização o debate político através do ódio e irracionalidade de uma opinião pública que se acostumou a odiar a Política. E nesse momento, a grande mídia busca mais uma “bala de prata” para turbinar a polarização. Será que o velho Brizola tem mais uma vez razão? (ilustração: Felipe Lima, "Gazeta do Povo")

domingo, setembro 23, 2018

Estranhas portas que jamais foram fechadas em "Mandy"


Um filme que parece ter saído de alguma capa de disco heavy metal dos anos 1980, começando pelo pôster promocional. E que exige do espectador uma entrega ativa, ao invés de passivamente analisa-lo. Por isso, a maioria da crítica considera “Mandy” (2018), do diretor canadense Pano Cosmatos, um filme absolutamente insano, estranho e difícil de ser resenhado. Na verdade, nem seria um “filme”, mas uma “experiência” non-sense e surrealista com um mix alucinado de referencias a comerciais, animações, HQs, rock metal e mais da cultura pop dos anos 1980. Tirando as camadas de exercício de estilo, Cosmatos dá continuidade à reflexão iniciada no filme anterior “Beyond The Black Rainbow” (2010): as consequências do “despertar místico” do esoterismo e ocultismo na cultura pop em torno das viagens alucinógenas psicodélicas do LSD. De como toda uma geração tentou buscar um atalho para a iluminação espiritual, mas acabou encontrando uma “bad trip”: o Demiurgo existente em cada um de nós.

terça-feira, setembro 18, 2018

Por que teledramaturgia da Globo está assombrada com o Tempo e a História?


Dois temas parecem assombrar a atual teledramaturgia da Globo: o Tempo (viagem no tempo, déjà vus, vidas passadas, reencarnações etc.) e a História (pastiches da Idade Média, releituras do Brasil do Império etc.). Algo que se distingue das tradicionais “novelas de época” que marcaram a história do gênero na TV brasileira. Nunca se verificou essa recorrência temática em tantas telenovelas, apresentadas simultaneamente ou em sequência nos diferentes horários. Sabe-se que em ano eleitoral o laboratório de feitiçarias semióticas da emissora funciona em tempo integral. O que essa recorrência pode significar dentro desse contexto? Nova bomba semiótica? Ou o sintoma do temor de uma emissora hegemônica que sabe da importância do atual cenário eleitoral? – é matar ou morrer. É o momento de entendermos a célebre afirmação de George Orwell: “Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o passado”.

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