quinta-feira, outubro 25, 2018

"Esquerda precisa de um novo Goebbels?", indaga Cinegnose na CEE-Fiocruz no Rio


Nessa segunda-feira este humilde blogueiro participou da oficina “Guerra Semiótica, Políticas Sociais e Saúde” após gentil convite da pesquisadora Letícia Krauss, coordenadora do evento. A oficina foi no CEE-Fiocruz (Centro de Estudos Estratégicos da Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro). Procurei fazer um comparativo entre as ações da direita e esquerda, no espectro político, dentro do campo da comunicação. O problema: enquanto a esquerda mal compreendeu o funcionamento das mídias de massa no século XX, nesse século a direita da um segundo salto tecnológico com a guerra semiótica no campo das tecnologias de convergência – Internet e redes sociais. Solução: lutar no mesmo campo simbólico da direita, modular a comunicação para alcançar líderes de opinião de grupos e comunidades (analógios ou digitais) e táticas de guerrilha antimídia. Será que para isso seria necessário um novo Goebbels, agora na esquerda?

“A esquerda precisa de um novo Goebbels... mas, claro, sem a parte do Holocausto!”. À guisa da conclusão do debate nessa última segunda-feira (22/10) no Centro de Estudos Estratégicos da Fundação Oswaldo Cruz (CEE-Fiocruz), no Rio de Janeiro, este humilde blogueiro fez essa afirmação. Certamente, uma afirmação retórica sob o impacto da atual atmosfera política da ameaça de um abismo sem fundo para o campo progressista.

O tema da palestra proferida por esse editor do Cinegnose foi “A Guerra Semiótica nas Políticas Sociais e Saúde”. Mas, como não poderia deixar de ser no contexto eleitoral atual, minha fala partiu de um panorama histórico dos diferentes viéses de comunicação entre a direita e a esquerda no espectro político.

A exposição foi comentada por Umberto Trigueiros, assessor do gabinete da presidência da Fiocruz, e Carlos Fidelis Ponte, Pesquisador do Observatório História e Saúde da fundação e diretor da Asfoc-Sindicato. 

Enquanto a direita sempre se mostrou vanguardista no campo da comunicação desde os tempos do nazifascismo (lá no passado, o cinema e o rádio; hoje, tecnologias de convergência e dispositivos móveis), a esquerda ainda mal conseguiu compreender como corações e mentes foram conquistados no século XX em golpes políticos como o nazismo, o fascismo e na América Latina nos anos 1960-70 – Brasil, Chile, Argentina.

Por isso a palestra apresentou um campo de lutas na comunicação assimétrico: a direita sempre compreendeu muito bem a natureza performática da comunicação. A comunicação é de natureza fenomenológica, fugidia, efêmera, é o acontecimento, o instante, o aqui e agora. A posteriori é Semiótica, Linguística ou Sociologia. Já é o primado da representação ou do falar sobre a própria comunicação depois que ela aconteceu.


A direita sabe muito bem que memes, fake news, boatos e mentiras têm efeito viral e criam acontecimentos – climas, atmosferas, percepções. A posteriori, agências de checagens, denúncias ou condenações éticas, morais ou judiciais não desfazem os efeitos.

Destaquei que pior do que o efeito das fake news é o efeito da pós-verdade.  Está além da verdade ou da mentira, da credibilidade ou da desconfiança: a pós-verdade está no campo da verossimilhança.

Enquanto isso a esquerda se apega a uma visão conteudista da comunicação, apenas como um meio para transmitir mensagens – proposições, conscientização, ideologias, doutrinas, denúncias.

A palestra também apresentou didaticamente os três nomes cujas teorias são os pilares da atual guerra semiótica posta em prática pela chamada  “Guerra Híbrida” promovida pelo geopolítica dos EUA, criando as diversas “primaveras” que pipocam pelo mundo na última década: Paul Lazarsfeld (a importância da influência dos líderes de grupos e comunidades para sancionar conteúdos midiáticos), a dupla McCombs-Shall (agenda-setting e engenharia de opinião pública através do agendamento de pautas midiáticas para influenciar maiorias silenciosas com “climas de opinião”) e Gene Sharp (especialista em criar “formas não violentas de revolução” em países por meio de Revolução Popular Híbrida).

Hoje, os líderes de grupos e comunidades são minerados algoritmicamente através do biog data nas redes sociais. Bombas semióticas (a comunicação-acontecimento) são detonadas com o mesmo efeito calculado dos velhos panelaços que antecederam o impeachment de 2016: criar climas de opinião ou atmosferas que propiciam a chamada “espiral do silêncio” – efeito de psicologia de massas baseado numa profecia autorrealizável, em geral criada a partir de boatos e mentiras.

Enquanto isso, a esquerda ou está presa em sua própria bolha falando para convertidos ou “panfleta” de forma aleatória, em massa, sem procurar modulações.

Ao final, foram apresentados três possíveis alternativas práticas para uma política de ação midiática:

(a) lutar no próprio campo simbólico da direita – o que significaria lutar com as mesmas armas do inimigo, com sinal trocado, no limite no amoralidade e niilismo. Incursão perigosa, assim como Dante ao descer nos círculos infernais. Daí a afirmação da esquerda “necessitar de um novo Goebbels”.

(b)  Modular o discurso ao voltar-se para os diferentes líderes de opinião (não confundir com “gatekeepers”  ou formadores de opinião) nos grupos e comunidades (sejam analógicos ou digitais). Não importa o conteúdo que a esquerda veicule nas mídias de massa ou blogosfera: quem sanciona seus conteúdos serão sempre os líderes de opinião – vide o sucesso do marketing político de Obama na Internet em 2007 e 2008.

(c) Táticas anárquicas de guerrilha antimídia para ridicularizar a grande mídia e produzir descrédito por meio de táticas como “Media Prank” (pegadinhas”) e Culture Jamming (trolagens) já bem discutidas nesse blog – veja links abaixo.

Mais informações sobre a palestra clique aqui no blog da CEE-Fiocruz.

E confira os dois vídeos abaixo: o primeiro um teaser e o segundo a apresentação (não editada).]


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