terça-feira, julho 31, 2018

Como ler as intenções de um produto Disney com "Os Incríveis 2"


Em 2001 Karl Rove, Vice-Chefe da Casa Civil do presidente Bush, reuniu os chefões de Hollywood em Beverly Hills. Num esforço de propaganda, Rove exigiu da indústria do cinema mais filmes sobre família, heróis e ameaças externas. Foi o ponto de partida da onda de filmes de super-heróis com franquias da Marvel e DC Comics. E a animação da Disney “Os Incríveis” em 2004 fez parte dessa agenda. Depois de 14 anos, “Os Incríveis 2” é lançado. Diferente do tom motivacional das outras produções do estúdio Pixar, a franquia “Os Incríveis” se distingue pela explícita temática social e política. Dessa vez, Mulher Elástica é a protagonista, patrocinada por um megaempresário de uma rede de comunicação numa estratégia de propaganda para reabilitar a imagem dos super-heróis. E os problemas da família do Sr. Incrível às voltas com a opinião pública, as leis e os políticos. Que se tornam inimigos tão nefastos quanto a nova geração de super-vilões. “Os Incríveis 2” é um exemplo didático da “Agenda Hollywood” proposto por Karl Rove: anti-intelectualismo e repulsa à política como novas estratégias para conquistar as mentes de crianças e adultos. Pauta sugerida pelo nosso leitor Saulo Regis.

domingo, julho 29, 2018

Curta da Semana: "Final Offer": aliens agora preparam "invasões híbridas"


Algo está mudando no clássico roteiros dos filmes de invasões alienígenas. A série “Colony” do Netflix é uma evidência. E o curta canadense “Final Offer” (2018) é uma prova. Agora as sinistras inteligências de outros planetas nos atacarão através de “invasões híbridas”: em primeiro lugar, explorando as fraquezas da natureza humana, para depois roubarem o que quiserem. Um advogado “loser” e alcoólatra acorda de ressaca preso em uma estranha sala em estilo vitoriano, diante da garota com a qual estava na última noite. Ela é a representante de uma raça alien e ele foi escolhido como representante da humanidade para a “negociação” de um sinistro contrato: os extraterrestres querem levar nossos oceanos e em troca... seduzir o pobre advogado através da sua baixa autoestima.

sábado, julho 28, 2018

Filme "O Culto": e se nossas vidas forem gigantescas anomalias temporais?


Uma boa ideia, com um roteiro inteligente, um elenco forte são capazes de fazer filmes convincentes, mesmo com pouco dinheiro. O filme “O Culto” (The Endless, 2017) é mais um filme independente que comprova a capacidade inventiva de renovar subgêneros do horror e da ficção científica. Dessa vez a dupla de diretores Justin Benson e Aaron Moorhead (“Resolution”, 2012) faz um inteligente meta-horror em torna do tema das anomalias tempo-espaço. Dois irmãos (interpretados pelos próprios diretores), depois de terem fugido de uma suposta seita suicida em uma floresta montanhosa, decidem retornar depois de receberem um estranho vídeo. “O Culto” não se limita a fazer uma desconstrução do tema dos “paradoxos temporais” no cinema. Num insight gnóstico, estende esses paradoxos para a nossa realidade cotidiana: e se nossas próprias vidas já fossem gigantescos paradoxos tempo-espaço, que nos aprisionam nesse cosmos, obrigando-nos a repetir uma mesma narrativa indefinidamente? Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

quinta-feira, julho 26, 2018

Assassinato da estudante brasileira na Nicarágua revela timing da guerra híbrida


O assassinato da estudante brasileira de medicina na Nicarágua, em meio à violência nas manifestações contra o governo Daniel Ortega, é mais uma evidência de que a crise naquele país segue o roteiro já visto das guerras híbridas no Brasil e no mundo. Timing perfeito: no momento em que a grande mídia internacional já está retratando a “Revolução Popular Híbrida” nicaraguense como “espontânea” ou “o novo” que veio substituir a velha política carcomida pela corrupção, surge a necessidade de uma vítima feminina exemplar. Assim como no Brasil, quando vítimas femininas anônimas foram  repercutidas pela grande mídia e redes sociais durante os protestos de 2013 a 2016. E como foi a execução de Marielle Franco. É sempre a deixa para a grande imprensa entrar em ação com um discurso único: “protestos pacíficos” que são violentamente reprimidos por um governo corrupto. Como sempre, a cobertura dos eventos descontextualiza o cenário geopolítico por trás de uma crise nicaraguense que surge (como em toda Guerra Híbrida) após uma reeleição democrática: a parceria multipolar da Nicarágua com China e Rússia para a construção do Canal Transoceânico para fazer frente ao Canal do Panamá, controlado pelos EUA.

segunda-feira, julho 23, 2018

Na série "Strange Angel" a ciência dos foguetes se confunde com o Ocultismo


Seu nome foi proscrito da história da Ciência. Embora suas descobertas tenham sido uma das bases das viagens espaciais e de ser co-fundador do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, seu nome também foi riscado da história da agência espacial. Ele é Jack Parsons (1914-1952), jovem projetista de foguetes e químico, criador dos combustíveis sólidos. Mas viveu em um fina linha que separa a genialidade da loucura: de dia exercia a ciência experimental. E à noite era o líder da O.T.O (Ordo Templi Orientis) da Califórnia, organização ocultista dominada por Aleister Crowley. Até o momento em que Ciência e Ocultismo se misturaram a tal ponto em que para ele a tecnologia dos foguetes era não apenas uma forma do homem chegar ao espaço. Mas também a oportunidade para abrir portais para seres extradimensionais. A série “Strange Angel” (2018-) produzido pela rede CBS dos EUA pretende mergulhar na vida desse controverso cientista que, ironicamente, possui uma cratera no lado oculto da Lua batizada com o seu nome.

sábado, julho 21, 2018

Pós-verdade e Fake News são notícias falsas para colocar jornalistas hipsters "na linha"


Diretores, presidentes e executivos da grande imprensa e associações jornalísticas, historicamente sempre avessos às “teorizações” da área acadêmica, de repente passaram a participar ativamente de congressos e simpósios sobre jornalismo investigativo, ciberjornalismo e jornalismo online. Para repercutirem não só junto a pesquisadores, mas também clientes, profissionais e líderes de opinião a já extensa lista de livros e artigos sobre o fenômeno da “pós-verdade” e das “fake news”. Para provar como a supremacia da verdade deixou de existir no debate público atual. E os vilões: Internet, blogs, redes sociais. Por que esse repentino esforço profissional-acadêmico para dar um ar de novidade a um fenômeno tão velho quanto a própria história do Jornalismo? A necessidade em dar verniz científico para noções retóricas de “pós-verdade” e “fake news” através de um velho macete de engenharia de opinião pública: publicação de artigos científicos e livros. Conferir verossimilhança a uma agenda que traz lucros para a grande mídia: transformar jornalismo investigativo em “checagem”, colocar os jornalistas hipsters “na linha”, sentados, sem ir a campo. E com desdobramentos mercadológicos: monopólio e censura da concorrência no mercado de notícias.

quinta-feira, julho 19, 2018

Na série "Colony" uma invasão alienígena demasiado humana


Disponível no Netflix, a série “Colony” (2016-) subverte de diversas maneiras a típica história de invasão alienígena: os humanos podem ser tão amorais e cruéis quanto os aliens e também não há uma metrópole distópica, sombria e em ruínas, mas uma Los Angeles ensolarada sob um persistente céu azul. Mas principalmente, os invasores não criam guerras de extermínio com suas naves ou máquinas monstruosas, como em clássicos do gênero. Apenas exploram as principais fraquezas humanas por meio de ferramentas que a própria humanidade criou para subjugar as fraquezas de outros seres humanos: meios de comunicação, religião, ensino e propaganda que arrancam o pior de nós – ambição, traição, ganância, egoísmo e desejo por poder. Eles não são mais “aliens”: agora são “RAPs” ou “hospedeiros”. Invasores “low profile” que apenas jogam os homens uns contra os outros, tirando seu lucro disso. Uma invasão “demasiado humana”, assim como nas atuais Guerra Híbridas nas quais o poder global invade países conquistando corações e mentes.

domingo, julho 15, 2018

Por que agora a Globo apoia movimentos identitários? Brizola explica.


Em toda sua história, a Rede Globo foi acusada de sexismo e racismo: uma teledramaturgia com um cast de atores que mais parecia ter saído de algum país nórdico, enquanto os poucos negros ocupavam papéis subalternos; as mulheres eram objetificadas em programas de entretenimento e o machismo sempre figurado como uma prova do verdadeiro amor. Ao mesmo tempo, o seu diretor de Jornalismo dizia que o Brasil nunca foi racista e que isso não passava de uma invenção da esquerda para dividir o País. Mas de repente, a emissora começou a apoiar e dar visibilidade a movimentos identitários e culturais (movimentos de gênero, étnico-raciais, geracionais que postulam a diversidade, alteridade e reivindicação de direitos sociais) como nunca antes. Política de “controle de danos” para tentar descolar a sua imagem do Golpe de 2016 e dar alguma credibilidade ao telejornalismo? Ou há algo além? De natureza estratégica em um ano eleitoral decisivo. “Se a Globo é a favor, somos contra!”, alertava o velho Brizola. E se nesse momento a emissora estiver pondo em prática outra velha máxima: “dividir para conquistar”? A Globo estaria desempenhando o seu derradeiro papel? Ser o para-raio do ódio tanto da esquerda quanto da direita?

quinta-feira, julho 12, 2018

Frankenstein, Inteligência Artificial e pós-feminismo em "Desejos Virtuais"


Esse é outro filme para cinéfilos que adoram se aventurar por filmes estranhos. Dessa vez, para aqueles que acreditam que por trás do senso de humor trash de filmes que aparentemente não se levam à sério há importantes temas para serem discutidos. “Desejos Virtuais” (“Teknolust”, 2002) é um filme que reflete todo o ciber-imaginário pós-humanista (com motivações místicas) e do velho conceito de Inteligência Artificial (que ainda tentava emular a inteligência humana) por trás da antiga Web 1.0. Uma bio-geneticista clona seu próprio DNA em três mulheres “Autômatos Auto Replicantes” (SARs) que habitam um site da Internet. Porém, necessitam de constantes quantidades de cromossomo Y presente no sêmen humano. Uma delas deve se aventurar no mundo real para, através de sexo casual em bares locais, obter preservativos usados que servirão de sachês que serão consumidos pelas SARs. Frankenstein de Mary Sheeley se encontra com o psicodelismo de Timothy Leary e o pós-feminismo de Camile Paglia. 

terça-feira, julho 10, 2018

Moro e Neymar: a vaidade é o pecado favorito do Diabo


Em 72 horas os maiores investimentos semiótico-ideológicos da grande mídia foram desconstruídos: Sérgio Moro e Neymar Jr. O primeiro caiu na armadilha do habeas corpus que supostamente iria soltar Lula. E o segundo, na arapuca tautista midiática que fez o jogador acreditar que era intocável, até a viralização do mote “cai-cai” em vídeos pelo mundo eliminá-lo junto com a Seleção. Duas bombas semióticas: uma intencional (o objetivo não era soltar Lula, mas criar um fato político para o mundo) e outra involuntária (efeito da blindagem tautista da mídia e mercado publicitário). Al Pacino fazendo o papel do próprio demônio em “O Advogado do Diabo” tinha razão: “a vaidade é meu pecado favorito...”. A vaidade dos juízes e do jogador deixou-os cegos. A mídia sentiu o golpe: enquanto o Fantástico teve que se desfazer de Neymar (“hoje não se tolera mais ludibriar o juiz”, fuzilou Tadeu Schmidt), Globo News começou a falar em “instabilidade jurídica” e “politização do Judiciário”. Bombas semióticas perfeitas que produzem efeitos fatais: detonação, letalidade, impasse midiático e dissonância cognitiva.

domingo, julho 08, 2018

Curta da Semana: "Craig's Pathetic Freakout" - quando "Show de Truman" se aproxima da maconha


E se ao invés de cerveja, o amigo Marlon desse a Truman um cigarro de maconha para tentar acalmar suas crises paranoicas sobre as suspeitas de que sua vida era um programa de TV? Será que Truman ficaria “anestesiado” ou chegaria mais rapidamente à verdade no filme “Show de Truman?”. O curta “Craig’s Pathetic Freakout” (2018), de Graham Parkes, levanta essa curiosa questão de cinéfilo – Craig é um cara orgulhoso demais para aceitar que não pode lidar bem com drogas. Fuma uma erva e começa a ficar paranoico, acreditando estar dentro de um filme. Ficção e realidade se misturam num curioso exercício metalinguístico e de narrativa em abismo – um filme dentro de um filme. E, como toda metalinguagem no cinema e audiovisual, trás um sabor gnóstico: e se a realidade for também um filme dirigido por alguém muito louco? 

sábado, julho 07, 2018

Por que o Brasil não podia ser campeão?


A máquina semiótica da Guerra Híbrida faz nesse momento um pesado investimento ideológico para justificar os efeitos do atual modelo neoliberal imposto ao Brasil: crise, desemprego e precarização do trabalho, no qual milhões de desempregados foram promovidos repentinamente a “empreendedores”. E no rescaldo da eliminação do Brasil diante da Bélgica na Copa da Rússia está sendo mobilizado uma operação de emergência para salvar o alto investimento semiótico-ideológico feito no futebol pela grande mídia e mercado publicitário: salvar Tite e Neymar e colocar em ação o tradicional sacrifício do bode expiatório – o volante Fernandinho. Por que? Ao contrário do “pão e circo” que cercava o futebol nos anos da ditadura militar, hoje a função é mais sofisticada: a de “cimento ideológico” através de um discurso mérito-empreendedor no qual Tite é o maior garoto-propaganda. Enquanto isso, Neymar é o reflexo da “commoditização” do futebol brasileiro: jogadores exportados com baixo grau de transformação para, nos clubes europeus, se transformarem em “craques-commodities” de alto valor agregado. Mas cronicamente disfuncionais em suas seleções de origem.

sexta-feira, julho 06, 2018

O pesadelo tecnognóstico na série "Altered Carbon"


O sonho tecnognóstico por séculos, desde a Teurgia e Alquimia, foi transcender a matéria – abandonar os nossos corpos como condição para a verdadeira evolução espiritual. Mas como Santo Irineu de Lyon alertou no século II, “O que não é assumido não pode ser redimido”. E o sonho milenar pode se transformar em pesadelo com uma tecnologia que promete a imortalidade: a consciência digitalizada em “pilhas cervicais” que podem, a qualquer momento, serem transferidas para qualquer corpo (ou “capa”). Mas isso acabou provocando uma sociedade tremendamente desigual e violenta. Essa é a série Netflix “Altered Carbon” (2018-), um cyberpunk-noir que suscita profundas reflexões teológicas: se pudermos ser ressuscitados após a morte em uma nova “capa”, a alma persistirá entre os códigos que transcreveram nossa consciência e memórias? Ou nos transformaremos em “capas” ocas manipuladas por uma elite amoral? Uma elite que alcançou a verdadeira imortalidade – fazer backups da própria consciência via satélite.

quarta-feira, julho 04, 2018

Globo cria "crocodilo napolitano" na Copa da Rússia


Em 2009 o jornal inglês “The Telegraph” contou a pitoresca história de um mafioso napolitano que ameaçava comerciante locais com um imenso crocodilo. Qualquer um deles poderia ser a próxima refeição do bicho se não lhe pagasse proteção. É melhor ser temido do que amado, como afirmava Maquiavel? Depois de pouca mais de uma década de pauta diária com Mensalão e Lava jato, intimidação virou um “modus operandi” tautista da Globo. Traquejo tão natural que até invadiu outras editorias. Assim como a hábito do cachimbo entorta a boca. Até na cobertura da Copa da Rússia. Às vésperas do jogo das oitavas do Brasil contra o México, a Globo colocou sob suspeita o árbitro italiano em possíveis conspirações no VAR (árbitro de vídeo) e, de quebra, requentou notícia antiga sobre suposto envolvimento de jogador mexicano com cartéis de drogas. A Globo apresentou o juiz e o jogador para o seu “crocodilo napolitano” intimidando-os caso se intrometessem em seus interesses? Na verdade a mensagem da Globo não foi para nenhum dos dois. Foi para os seus potenciais inimigos internos. Principalmente porque, ao contrário da Copa de 2014, agora o sucesso da Seleção é estratégico para Globo e mercado publicitário.

segunda-feira, julho 02, 2018

Perdido no labirinto da Inteligência Artificial em "Lunar"


No filme “2001” de Kubrick o computador HAL 9000 queria matar toda a tripulação da nave Discovery a caminho de Júpiter. Já no filme de estreia do diretor Duncan Jones, “Lunar” (“Moon”, 2009), o computador Gerty de uma estação lunar automatizada é mais amigável, sempre com um “smile” no monitor. Mas não menos perigoso: ele representa o atual estágio algorítmico da inteligência artificial – sempre com uma voz amigável, é como se jogasse migalhas de pão em um labirinto para que o sigamos. Até nos perder de nós mesmos e esquecermos do que foi um dia a noção de “inteligência humana”, envolvidos que somos em bolhas virtuais que acreditamos ser a realidade. É o que acontece com Sam Bell em “Lunar” - um solitário astronauta em uma estação lunar de mineração que, após três anos na Lua, espera o final do contrato de trabalho com uma empresa, para retornar à Terra. Mas seu único companheiro, o computador Gerty, criou o seu próprio labirinto para Sam se perder.

quinta-feira, junho 28, 2018

O Mal está na crueldade cotidiana no filme "Experimentos"


A velha questão permanece: como são possíveis holocaustos e genocídios, sistemática e profissionalmente organizados seja na guerra ou em sistemas metódicos cotidianos? Quem são essas pessoas que executam as ordens? Burocratas que apenas obedecem superiores ou monstros frios e maus? No filme “Experimentos” (“Experimenter”, 2016), sobre os célebres experimentos sobre autoridade e obediência realizados pelo psicólogo social Stanley Milgram em 1961, a resposta é paradoxal: nem uma coisa e nem outra, intuiu Milgram. Para entender o jogo da autoridade que cria ilusões, somente criando uma outra ilusão: uma experiência de simulação no qual o voluntário era colocado em um dilema moral – é possível obedecer ordens mesmo que confrontem convicções íntimas? “Experimentos” mostra como o insight gnóstico muitas vezes está presente na Ciência: a ilusão pode definir um cenário no qual a verdade pode ser revelada – a “banalidade do mal”, que é mais cotidiana do que podemos imaginar.

domingo, junho 24, 2018

Neymar + efeito Heisenberg = outro ovo da serpente chocado


Observe leitor a fotografia que abre essa postagem. Ela poderá explicar bastante o futuro que talvez esteja reservado para a Seleção brasileira nessa Copa. A imagem mostra Neymar Jr. correspondendo às câmeras em um flagrante do chamado “efeito Heisenberg” midiático – o jogador tenta criar algum tipo de empatia após desfilar, nos minutos anteriores ao achar que estava tudo perdido, arrogância e xingamentos que sobraram até mesmo para o próprio capitão do time, Thiago Silva. O mesmo efeito Heisenberg (no qual a mídia transmite nada mais do que os próprios efeitos que ela cria ao cobrir eventos) que levou o Brasil às cordas frente à Alemanha em 2014 (choros, hinos a capela, etc.), agora leva sincronicamente o dublê de técnico e pastor motivacional Tite e o astro Neymar Jr. ao chão: um tropeço e logo depois o choro como marcas publicitárias. Assim como muitos outros ovos de serpente chocados nos anos de neodesenvolvimentismo dos governos petistas, Neymar Jr. é mais um. Com a leniência da grande mídia e do mercado publicitário.

sexta-feira, junho 22, 2018

Em "Rebirth" a liquefação das seitas no marketing e nas empresas


A produção Netflix “Rebirth” (2016) é mais uma dentro da recente onda de filmes sobre seitas ou cultos. Aos fazer constantes alusões a clássicos como “Vidas Jogo”, “Clube da Luta” e à série “Black Mirror”, o filme em alguns momentos torna-se previsível. Mas a grande virtude de “Rebirth” é mostrar como na atualidade as seitas estão se “liquefazendo” – deixam de serem exclusivas a grupos sectários místicos ou religiosos para se tornarem ferramentas motivacionais nas empresas, marketing e estratégia de vendas. Técnicas de manipulação como “breaking sessions”, “temor e intimidação”, “controle do tempo”, “love bombing” etc. integram-se ao cotidiano de empresas e marketing de rede. Enquanto assistimos na TV notícias sobre líderes malucos que levam grupos ao suicídio, sem sabermos podemos estar trabalhando agora mesmo em uma seita.  

domingo, junho 17, 2018

Terço abençoado pelo Papa faz agência de checagem Lupa exigir "Deus ex-machina"


Parido pela guerra híbrida (que em uma das suas etapas criou a base etnográfica de jovens neoconservadores através da confluência entre mídia e universidades privadas), o jornalismo hipster costuma reciclar velhas ideias por meio de eufemismos embalados em high tech. Agora é o “hip” das fake news e “agências checadoras”, com nítidos conflitos de interesses, sob o frisson de algo tão antigo quanto o jornalismo: as notícias falsas. A polêmica criada pela Agência Lupa em torno de um prosaico terço benzido pelo Papa Francisco para ser entregue a Lula revelou o quanto são arbitrárias as “etiquetas de checagem” supostamente técnicas e objetivas. Quando colocadas em xeque por desmentido de um site de notícias do Vaticano, a Lupa recorreu a um quase literal “Deus ex-machina” (velho truque de roteiros de cinema mal feitos): “então, que o Vaticano ou o próprio Papa façam um “posicionamento oficial” para que a agência ponha a etiqueta “Verdade!”,  exigiu a agência em esclarecimento. Mesmo preso, Lula ainda não sai da cabeça da Direita. Porque algo falhou na narrativa imposta pós-impeachment: não foi entregue o crescimento econômico prometido. Resta à grande mídia requentar um prato frio: mais uma vez bater em Lula. E ensaiar uma nova forma de censura à mídia independente.

quinta-feira, junho 14, 2018

Copa do Mundo na Rússia enfia grande mídia em dupla saia justa



Definitivamente essa é uma Copa do Mundo curiosa: a grande mídia está nesse momento lidando com uma dupla saia justa. De um lado, o risco de humanizar demais os russos. Afinal, tanto o cinema como o jornalismo os celebrizaram como “RAVs” (Russos, Árabes e Vilões em geral) – terra dos soviéticos, comunas, terroristas e hackers que mudam resultados eleitorais de outros países. Como cobrir a Copa, evitando que eles pareçam gente como a gente? E do outro lado, o recorde de desinteresse dos brasileiros com o evento, divulgado pelas últimas pesquisas. Ainda o rescaldo do tiro no pé do “Não vai ter Copa!” de 2014 e numa situação em que os brasileiros estão pensando muito mais na própria sobrevivência. Por isso, assistimos ao esforço em vinhetas e chamadas na TV para didaticamente tentar ensinar ao brasileiro que ele é torcedor! E promover os jogadores (tão “alienígenas” quanto os russos) a modelos mérito-empreendedores de sucesso para motivar a massa deprimida a sair do buraco.

quarta-feira, junho 13, 2018

Cinegnose discute bombas semióticas e guerra híbrida na FACIP/Universidade de Uberlândia



Na noite da última quinta-feira, 07/06, no Anfiteatro I do Bloco B da Faculdade de Ciências Integradas do Pontal/UFU – Universidade de Uberlândia – este humilde editor do “Cinegnose” ministrou a palestra de abertura do Curso “O Golpe de 2016 e o futuro da democracia”. “Guerra Híbrida e Bombas Semióticas” foi o tema discutido depois que esse blogueiro estoicamente enfrentou o pânico de avião. A contribuição que a Semiótica e as ciências da comunicação podem dar como ferramenta para dissecar a ação da grande mídia na guerra híbrida e as detonações das chamadas “bombas semióticas” que transformam opinião pública em “clima de opinião”. E também como referência para ações anárquicas anti-mídia, tendo em vista a centralidade da grande mídia e da judicialização da vida pública brasileira.

domingo, junho 10, 2018

Mulheres com testosterona demais para fazer Ciência em "Aniquilação"


O que de imediato é notável em “Aniquilação” (“Annihilation”, 2018) é o elenco de protagonistas totalmente feminino e alusão à ficção científica soviética de “Stalker” do mestre Andrei Tarkovsky. Mas estamos numa produção hollywoodiana de um estúdio traumatizado com o fracasso do filme “Mãe!” no ano passado – uma reflexão gnóstica e metafísica fora da curva.  Por isso, o que era para seguir uma reflexão metafísica (a queda de um meteoro cria uma área de distorção magnética e biológica que se expande), resultou em um sci-fi com mais armas e militares do que Ciência e Filosofia. Um grupo de cientistas forma uma expedição para tentar desvendar o enigma da “Cintilação”. Mas elas passam a maior parte do tempo dando tiros. Mulheres com testosterona demais para fazer Ciência.

quarta-feira, junho 06, 2018

Editor do Cinegnose abre curso sobre "Golpe de 2016" na Universidade Federal de Uberlândia



Este humilde blogueiro fará nessa quinta-feira, 07/06, a palestra de abertura do curso “O Golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil” na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Campus Pontal, em Ituiutaba, Minas Gerais.

O tema será “ “Guerras Híbridas e Bombas Semióticas midiáticas: por que aquilo deu nisso?". O evento começa às 19 horas no Anfiteatro I, Bloco B, FACIP/UFU.

O evento não será transmitido ao vivo. Porém, será gravado e disponibilizado posteriormente on line. Tão logo seja disponibilizado, o Cinegnose divulgará o vídeo para os leitores.

A palestra

A palestra pretende descrever como foi possível uma ação midiática organizada ter não só desestabilizado um governo para jogar o País numa surreal crise política, mas também ter envenenado psiquicamente a esfera pública de opinião, travando o debate político racional pelo ódio e intolerância.

Através da articulação dos conceitos de “Bomba Semiótica” e “Guerra Híbrida” podemos entender os momentos em que a grande mídia nacional interveio politicamente, desde o golpe militar de 1964 até os atuais movimentos táticos da Guerra Híbrida. Como se forma uma engenharia de opinião pública e as possíveis táticas de “guerrilha antimídia”.

Os efeitos socialmente letais daquilo das “bombas semióticas” dentro de uma guerra geopolítica mais ampla – a “Guerra Híbrida”, nesse momento impactando o contínuo midiático nacional e por trás das diversas “primaveras” que rondaram o planeta nos últimos anos.

E também uma avaliação das oportunidades de contra-hegemonia perdidas e a possibilidade de uma guerrilha semiótica anti-mídia. Mas, principalmente, entender: afinal, por que aquilo deu nisso?

Para acessar a programação completa do curso, clique aqui.

domingo, junho 03, 2018

Curta da semana: "The Cut-Ups" - o filme que fez pesoas fugirem desorientadas do cinema


Esse curta metragem é para cinéfilos aventureiros e corajosos. Numa parceria entre o escritor norte-americano “beatnik” William Burroughs e o distribuidor de filmes de terror B Anthony Balch, o curta “The Cut-Ups” (1966) foi exibido por duas semanas em Londres naquele ano, causando uma “desorientação de sentidos” na plateia pega de surpresa. Pessoas corriam da sala de projeção largando seus pertences, com sensações de náusea, nojo e desorientação. Burroughs conhecia a técnica dadaísta do “cut-up” (recorte) de justaposição aleatória de recortes. Então, o escritor resolveu aplicar em outras mídias como fitas de áudio e cinema. Para ele,  a técnica (muito usada depois por compositores do rock como David Bowie) ajudaria a nos libertarmos das formas de controle da linguagem que nos tranca em formas tradicionais de pensamento. Seria a saída para uma questão semiótica: se o que chamamos de real é apenas o signo do real, o que existe lá fora, para além dos signos?

sábado, junho 02, 2018

Toda a democracia que o dinheiro pode inventar em "Terra Prometida"


Era para ser mais uma operação comercial de rotina: convencer os moradores de uma pequena cidade a venderam suas terras para uma grande corporação extrair gás natural sob a cidade, por meio de uma técnica de alto risco ambiental. Mas tudo se complica quando um professor mostra para os moradores evidências de catástrofes ambientais ocorridas anteriormente: envenenamento do gado e das águas. E para complicar, chega na cidade um ativista ambiental que rastreia as atividades escusas da empresa. Além disso, a tensão cresce com a proximidade do dia da eleição na qual os moradores devem decidir se aceitam a oferta de compra. “Terra Prometida” (Promised Land, 2012) de Gus Van Sant discute até que ponto a opinião pública se confunde com propaganda – as modernas estratégias de engenharia de opinião pública na qual as grande corporações têm gigantescos interesses financeiros. Muito dinheiro para ficarem à mercê do imponderável dos resultados eleitorais. Quanto dinheiro é necessário para simular uma discussão pública e democrática? Confrontado com a atual crise política brasileira, fruto da guerra hibrida e geopolítica do petróleo, “Terra Prometida” dá no quê pensar...

quinta-feira, maio 31, 2018

A "Nova Ordem" do bullying e intolerância no filme "Klass"

A princípio, o filme estoniano “Klass”(2007) é mais um filme sobre assassinatos seriais em escolas, na linha de “Elephant”, “Tiros em Columbine” ou “Precisamos Falar Sobre Kevin”. Também baseado em um incidente real, “Klass” se esforça em não ser mais um filme “sobre” violência escolar, mas procura falar “da” violência, sem estilização tradicional do tema – fetichização das armas e atiradores vestidos com trajes snipers negros. Formado por um cast de atores amadores e não-atores, “Klass” arranca performances espontâneas e brutais sobre a história de Joosep, vítima de bullying e desprezo de uma classe que cria um mundo fechado. Incompreensível para adultos preocupados com seus próprios afazeres. “Klass” vai ao fundo psicológico do nascimento do extremo desejo de vingança: uma Nova Ordem na qual família e escola pouco significam ou compreendem um movimento que está muito além da Razão: uma secreta aliança entre Id e Superego – autoritarismo aliado ao prazer sadomasoquista. Filme sugerido pelo nosso onipresente leitor Felipe Resende.

domingo, maio 27, 2018

O roteiro da greve dos caminhoneiros: um filme já visto?


Se a política é a continuidade da guerra por meios semióticos, então a atual crise provocada pela greve dos caminhoneiros deve ser analisada dentro de dois princípios de engenharia de opinião pública: clima de opinião e espiral do silêncio - criar atmosferas difusas de medo, pânico, emergência, instabilidade. Para construir uma conjuntura política visando efeitos imediatos e de médio prazo. E sempre o petróleo como pivô. Greve de caminhoneiros é um filme já assistido em momentos de instabilidade política e social que antecedem golpes políticos (João Goulart em 1964 e Allende no Chile em 1973, por exemplo). Em muitos aspectos o script da greve que atinge todo o País é idêntico ao das “Manifestações pelos 20 centavos” de 2013: “espontaneidade”, suposta organização horizontal, redes sociais etc. Mais uma ação de guerra híbrida para melar as eleições? Para criar comoção pública que justifique intervenção e adiamento das eleições? Para, na falta de um candidato competitivo da situação, ganhar tempo para a realização da agenda neoliberal de privatizações?

sábado, maio 26, 2018

O Capitalismo se desmancha no ar no filme "Fome de Poder"

“Tudo que era sólido se desmancha no ar”, dizia Karl Marx sobre o poder do Capitalismo revolucionar incessantemente seu modo de produção. “Fome de Poder” (The Founder, 2016) descreve como um vendedor ambulante de mixer para milk shakes chamado Ray Kroc encontrou no gênio dos irmãos McDonald muito mais do que uma revolucionária linha de montagem de hambúrgueres. Viu nos arcos de uma loja dos irmãos algo além de um mero detalhe arquitetônico: vislumbrou a máquina semiótica de produção de marcas e símbolos como uma nova força produtiva do Capitalismo que não oferece mais produtos tangíveis. Consome-se uma fé, uma ideia ao invés de um hambúrguer que se desmanchou no ar – pouco importam as suspeitas sobre a procedência das batatinhas fritas ou da carne do Big Mac. Ray Kroc fez o mundo consumir muito menos um sanduíche do que a marca e um sistema de conveniência.

quarta-feira, maio 23, 2018

Os fantasmas daquilo que esquecemos no filme "Radius"



Um homem acorda sem memórias após um acidente automobilístico. Na medida em que vaga pela estrada em busca de ajuda, vê pessoas e animais caindo mortos na sua frente. Ao mesmo tempo, flashs de fragmentos de lembranças aparecem involuntariamente, mostrando que ele está em meio a um gigantesco quebra-cabeças. Tudo lembra a atmosfera dos episódios da série clássica “Além da Imaginação”. Mas estamos diante da nova safra de filmes de ficção-científica independente, onde nunca sabemos o que vamos encontrar pela frente. É um sci-fi? Um thriller sobre ataques terroristas? Ou uma discussão metafísica sobre a responsabilidade sobre atos de um passado do qual não lembramos? O filme canadense “Radius” (2017) eleva os temas gnósticos da “amnésia” e do “detetive” (aquele que tenta solucionar um enigma) para um novo patamar: sempre tentamos reunir cacos de um mundo desmoronando, sem saber que o enigma que buscamos desvendar tem a ver com nós mesmos – o passado esquecido que vem cobrar responsabilidades, culpas ou contas a acertar.

sábado, maio 19, 2018

A guerra semiótica calça chuteiras para a Copa 2018


Para quem ainda duvida e acha que guerra híbrida e bombas semióticas não passam de “teoria da conspiração”, uma simples comparação entre as peças publicitárias que promoviam a Copa de 2014 e a desse ano, na Rússia, põe fim a qualquer dúvida: enquanto a Copa no Brasil foi dominada por criações publicitárias para lá de polissêmicas (ambiguidade entre festa e agressividade, alegria e raiva, em consonância com a pesada atmosfera das manifestações do “Não Vai Ter Copa!” + Lava Jato), nesse ano a publicidade é bem diferente: uníssona e assertiva - a Nação deve ficar unida, esquecer as diferenças e torcer pela Seleção. Em 2018 a Guerra Semiótica veste as chuteiras cumprindo duas funções: a primeira política, pacificar as ruas com a ideia de união e nação; e no campo ideológico, enfiar goela abaixo da choldra as preleções de Tite, misto de “coaching” e pastor motivacional. Para nos fazer acreditar que desemprego não é crise. É oportunidade para virarmos todos empreendedores. Mas, e se algo sair fora do script? Então teremos um “Plano B” cujos balões de ensaio já estão sendo lançados.

domingo, maio 13, 2018

Cigarros e niilismo gnóstico no filme "Lucky"


Um homem solitário e ranzinza confronta a chegada da morte. Com quase 90 anos, ele segue uma rotina espartana: faz alguns exercícios de ioga pela manhã, depois pega o chapéu e caminha através de uma paisagem árida de cactos numa cidadezinha no meio do nada. Trava conversas aleatórias sobre religião, filosofia, moral, game shows da TV, saúde e a morte numa cafeteria e num bar. Enquanto fuma muitos, muito cigarros. E entre seus interlocutores está o famoso diretor David Lynch, que faz um homem que tem uma tartaruga chamada “Presidente Roosevelt”. Esse é o filme “Lucky” (2017) sobre um protagonista ateu que entra na lista de produções sobre personagens excêntricos de uma América profunda. Mas Lucky tem um ateísmo de natureza muito especial – é dotado de um niilismo gnóstico. Ele não crê num propósito ou sentido para a vida. Pelo menos, não para esse mundo.

sábado, maio 12, 2018

Esquerda ri de si mesma na derrota da guerra semiótica


O sucesso na Internet da camiseta vermelha da seleção brasileira, para torcedores de esquerda torcerem na Copa sem serem confundidos com “paneleiros do pato amarelo”, e do “Museu da Direita Histérica” no Facebook são dois sintomas de um mal-estar da esquerda: a derrota por WO no campo da comunicação. Quando ri dos vídeos impagáveis da “direita raivosa” ou se diverte com a camiseta alternativa da seleção, no fundo ri de si mesma – enquanto a esquerda brada as armas dos símbolos (o vermelho, cartas para Lula e bandeira do MST e CUT etc.), a direita dispara a bomba semiótica da iconificação – a apropriação dos símbolos para se converterem em ícones facilmente massificados ou viralizados. Símbolos são iniciáticos, sectários, exclusivos. Enquanto os ícones valem mais do que mil símbolos. Desde a iconificação do símbolo da suástica pelos nazistas.

domingo, maio 06, 2018

Curta da Semana: "Tennessee" e "Look At Me Only" - estamos confundindo Comunicação com Informação


Dois fantasmas rondam a atual tecnologia de convergência com seus celulares e tablets: o solipsismo e a incomunicabilidade. Uma garota sente-se solitária no seu aniversário porque todos ao seu redor estão imersos em mundos virtuais. E uma garota ciumenta em um restaurante exige a atenção do seu namorado, que prefere prestar atenção ao seu pequeno hamster. Ou será um celular? São as pequenas estórias contadas respectivamente pelos curtas de animação “Tennessee”(2017) e  “Look At Me Only”(2016). Por que as tecnologias atuais produzem incomunicabilidade? Talvez porque estamos confundindo comunicação com informação.

sábado, maio 05, 2018

Será que incêndio de prédio em SP foi também mais um não-acontecimento?


Da mesma forma como os recentes atentados em Paris, Berlim, Londres etc., o incêndio seguido de desmoronamento do Edifício Wilton Paes de Almeida, no Centro de São Paulo e ocupado por movimento de luta à moradia, está cercado de sincronismos, “coincidências significativas”, recorrências, anomalias e evidente oportunismo pelo lucro político e comercial da tragédia – grande mídia, interesses privados por trás das chamadas “Operações Urbanas” e a construção de um novo inimigo interno com o pós-Lula e o enfraquecimento do discurso do combate à corrupção: a identificação do crime organizado (PCC) com os movimentos sociais. Seria tudo um “não-acontecimento”, da mesma magnitude e propósito do incêndio do Reichstag de 1933 que conduziu os nazistas ao poder?

quarta-feira, maio 02, 2018

O mal-estar dos millennials diante do fim do mundo em "Bokeh"



Um jovem casal norte-americano em férias na Islândia. Que mal poderia acontecer? A não ser, acordar numa manhã e descobrir que todo mundo desapareceu e aparentemente só restaram eles? Celulares e Internet continuam funcionando, mas... não há ninguém do outro lado. Será que toda humanidade desapareceu? Esse é o filme "Bokeh" (2017, disponível na Netflix) no qual a atmosfera "Além da Imaginação” é apenas um pano de fundo para discutir questões geracionais e existenciais da chamada “Geração Y” ou “Millennials”. Ao invés de procurar uma resposta, ou mesmo sobreviventes, o casal de fecha ainda mais no mal-estar que emerge da relação: o estranhamento de estarem cara-a-cara, sem mediações tecnológicas, e o estranho nostalgismo pós-moderno: saudades de épocas que não foram vividas.

domingo, abril 29, 2018

Com elegância e decadência a modernidade aguarda o nazismo na série "Babylon Berlin"


A série mais cara de televisão alemã, a produção Netflix “Babylon Berlin” (2017-) cria para o espectador uma estranha sensação de atualidade. É ambientada na Berlin do final de década de 1920, coração da modernidade urbana do cinema e dos clubes de jazz. Mas também da hiperinflação, pobreza, racismo, drogas, filmes pornográficos e a ascensão de grupos proto-nazistas. Subprodutos do envenenamento psíquico da República de Weimar na qual comunista e bolcheviques são o pretexto para destruir uma jovem democracia. Um jovem inspetor de polícia dá uma batida e descobre um estúdio de cinema onde eram produzidas versões de contos bíblicos, com muito sexo e pedofilia. Mas o fio da meada que o policial puxará o levará a um obscuro submundo no qual se esconde todo o mal psíquico que fará um país cair nos braços do totalitarismo.

sábado, abril 28, 2018

Trompete invade link da Globo e abre perspectivas na guerra semiótica


A invasão de um solo de trompete num link ao vivo do “Jornal da Globo” entoando o refrão de “Olê, olê, olê, olá, Lula, Lula” é mais uma mostra da eficiência da estratégia de guerrilha antimídia do “culture jamming” (trolagem) – tática anárquica de criar ruídos, atrapalhar ou interferir no fluxo normal da informação. No atual cenário de guerra híbrida (demonstrado pela imediata criação de uma “cinderela de esquerda” pelo BBB18 após a ocupação do “tríplex do Lula”), a trolagem do link ao vivo da Globo demonstra seu poder de fogo por potencialmente mobilizar elementos semióticos de opinião pública fundamentais: clima de opinião, importância e ambiguidade, ironia e sarcasmo e trolagens multi-culturais. Eficácia que só aumentaria através de uma espécie de “temporada de caça aos links ao vivo da grande mídia”, ação de guerrilha midiática que atingiria o ponto fraco da TV atual: apesar do seu “tautismo” crônico, a TV tem necessidade de abrir pequenas janelas (blindadas) para o mundo. Afinal, ela vive do álibi da informação e entretenimento.

Cinegnose discute "bolhas virtuais" e obscurantismo no "Poros da Comunicação"


Por que a Internet deixou de ser uma janela aberta para o mundo para se converter numa bolha virtual dentro da qual cada um de nós vive uma realidade simulada? Por que os algoritmos que animam essa bolhas parecem conhecer mais de nós que nós mesmos? E de que forma a motivação mística tecnognóstica anima esse cenário tecnológico, ameaçando criar novas formas de obscurantismo? Essas foram as interrogações que esse humilde blogueiro levou para o sexto programa “Poros da Comunicação”, transmitido ao vivo pela TV FAPCOM na última quinta-feira (26)  com o tema “Tecnologias e o Sagrado: um Novo Obscurantismo?”. Assista à gravação do debate aqui no “Cinegnose”.

quarta-feira, abril 25, 2018

Editor do "Cinegnose" participa de debate sobre tecnologias, sagrado e obscurantismo


Nessa quinta-feira (26/04) esse humilde blogueiro participará de debate transmitido ao vivo pela TV FAPCOM – Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação cujo tema é “Tecnologias e o Sagrado: um novo obscurantismo? A transmissão ocorrerá pelo canal do YouTube da TV FAPCOM e terá início às 14h – clique aqui para acessar o canal da TV FAPCOM.

Também participarão do debate os professores e pesquisadores Ciro Marcondes Filho (mediador, ECA/USP/FiloCom), Carlos Eduardo de Souza Aguiar (FAPCOM), Marcella Faria (FAPCOM) e Jorge Miklos (PUC/SP).

Como os leitores mais antigos do Cinegnose devem saber, este humilde blogueiro levará as reflexões em torno dos conceitos desenvolvidos aqui como Tecnognosticismo (o “pós-humano”) e Cartografias e Topografias da Mente – o esforço multidisciplinar envolvendo as neurociências, ciências cognitivas, Cibernética, Inteligência Artificial e Teoria da Informação para, além de desvendar o funcionamento da mente, também procurar um modelo de simulação que permita não só compreender a dinâmica dos processos mentais e da consciência, mas, principalmente, manipulá-la e controlá-la.

Além disso, compreender as motivações místicas ou religiosas por trás dessa nova forma de engenharia social – a religião do Vale do Silício (a “religião das máquinas”, a que se refere o cientista computacional Jaron Lanier), teurgia, alquimia e cabala.

Poderiam essas motivações políticas e imaginárias por trás das tecnologias atuais uma nova forma de obscurantismo? A racionalidade caindo sob o encanto do mito?



O Programa “Poros da Comunicação” (sempre transmitido ao vivo pelo YouTube, agora na sexta edição) é uma parceria da FAPCOM com o FiloCom, que é um núcleo de estudos filosóficos da comunicação da ECA/USP. Foi Fundado em 2000 com o objetivo de realizar pesquisas, encontros e publicações relativas ao modo filosófico de entender os fenômenos da comunicação.

A FiloCom tem vínculo internacional com pesquisadores brasileiros e estrangeiros na Europa e EUA.

Link para a TV FAPCOM: https://www.youtube.com/user/faculdadepaulus

terça-feira, abril 24, 2018

O império contra-ataca na guerra semiótica: Globo faz a Cinderela de esquerda no BBB18


Dentro da atual guerra semiótica, a Globo foi rápida após acusar o golpe da invasão tática do “tríplex do Lula” no Guarujá pelo MTST e Frente Povo Sem Medo. Três dias depois, a emissora simplesmente promoveu uma militante petista (Gleici Damasceno, a jovem acreana “feminista e militante”, como descreveu o programa) a nova milionária do BBB18. E de quebra, como vice, um refugiado sírio.  Resposta semiótica direta e incisiva: entrou no “controle de danos” após a prisão de Lula (compulsivamente a Globo tenta aparentar agora imparcialidade). Ao mesmo tempo em que utilizou a arma ideológica tão antiga quanto a própria televisão brasileira: narrativas da “Rainha por um Dia” e “Boa Noite Cinderela” do velho Silvio Santos desde décadas atrás – reciclar miseráveis (e agora também militantes de esquerda) em exemplos de imparcialidade e evidências do outro lado da moeda da meritocracia: a sorte e oportunidade. E a esquerda tenta pegar carona em Gleici: “Quando é no voto, a gente sempre ganha”, “Gleici campeã, deu PT” etc. Parece que a vitória da ocupação do triplex não ensinou nada...

domingo, abril 22, 2018

A família do século XXI em cacos na série Netflix "Perdidos no Espaço"


Toda refilmagem revela o espírito de época quando comparada com o original. É também o caso da série Netflix "Perdidos no Espaço" (Lost In Space, 2018), nova versão da série clássica de TV dos anos 1960 – que já contava com um longa-metragem em 1998. Agora os Robinsons não são mais a família nuclear perfeita do sonho americano, mas uma família à beira da separação que tenta reunir os cacos enquanto enfrenta os perigos de um planeta desconhecido. O novo “Perdidos no Espaço” revela o espírito de época do século XXI: o militarismo e a amoralidade do vilão. Além da relação histérica com o objeto do desejo, traço psíquico da cultura contemporânea: só voltamos a desejar aquilo que amamos na eminência da sua perda com a morte ou a destruição.

quinta-feira, abril 19, 2018

Ocupação do triplex: pontos para a esquerda na guerra semiótica



Finalmente a esquerda marca pontos na atual guerra semiótica no front do campo simbólico da sociedade (grande mídia + opinião pública): a ocupação do indefectível “triplex do Lula” no Guarujá pelo MTST e a Frente Povo Sem Medo apresentou todas as características de um petardo semiótico: Detonação, Letalidade, Dilema Midiático e Dissonância Cognitiva. Uma ocupação curta (pouco menos de quatro horas), mas o suficiente para a grande mídia viver um dilema e dar uma guinada gramatical no seu discurso, como se sentisse o golpe. Mas o melhor dessa bomba semiótica foi como a mídia corporativa mordeu a isca (o álibi) para a ocupação revelar o seu verdadeiro propósito: a filmagem no interior da verdadeira caixa preta em que se tornou o imóvel. Revelando a dissonância entra as narrativas jurídico-midiática e da oposição. Uma ação simbólica bem-sucedida que revela outras questões. Entre elas, a possível criação de um grupo de inteligência semiótica para multiplicar essa ação prototípica.

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