sábado, janeiro 23, 2021

Iconografia da posse de Biden revela símbolos do Deep State X simulacros midiáticos


Eram visíveis os rostos aliviados de apresentadores e analistas do jornalismo corporativo ao cobrir a cerimônia de posse de Joe Biden e Kamala Harris. Eles tinham um script pronto para a cobertura: narrar o retorno da “maior democracia do mundo” à normalidade, os EUA como reserva moral e exemplo para o planeta com a “agenda progressista” do novo governo que enxotou Trump: uma administração que supostamente preza pela inclusão, diversidade, atenta às mudanças climáticas e sustentabilidade. Tudo muito bonito! Porém, uma análise iconográfica e semiótica revela contradições entre esse script e as imagens e símbolos de um evento criado exclusivamente para a TV – já que Washington DC estava sitiada com mais militares do que Iraque e Afeganistão juntos. Enquanto o discurso era “progressista”, as imagens mostravam a onipresença de símbolos fálicos, patriarcais, marciais e imperiais confirmando aquilo que sempre foi: o abismo entre o “Deep State” e o simulacro da Democracia nas telas de TV.

quinta-feira, janeiro 21, 2021

'Cowboys & Aliens': a mitologia gnóstica renova gênero Western

Este século tem mostrado tentativas de renovar o gênero Western, com caubóis sensíveis e mulheres determinadas. “Cowboys & Aliens” (2011) vai mais além, chegando ao excêntrico: em 1873 encontramos caubóis raivosos e embrutecidos, como nos velhos tempos, em busca de ouro. Mas encontramos alienígenas, também em busca de ouro: no planeta deles o ouro é tão escasso quanto aqui. Não, não é uma sátira e, muito menos, uma comédia que pretenda desconstruir o gênero como Mel Brooks fez em “Banzé no Oeste” (1974). “Cowboys & Aliens” renova o gênero através de elementos da mitologia gnóstica (o Demiurgo, o Divino Feminino, o Salvador) mostrando como é possível uma narrativa que fuja da clássica Jornada do Herói, estrutura mítica popularizada pelo “Paradigma Disney” da Pixar. “Cowboys & Aliens" nos apresenta a alternativa da jornada do herói gnóstico numa inesperada fusão de gêneros.

segunda-feira, janeiro 18, 2021

CNN promove 'barriga' jornalística na corrida maluca pela vacina



“Olha aí! Vai partir o avião da esperança! Tô quase chorando... vamos bater uma salva de palmas! Clap! Clap! Clap! Imagem histórica...”. Essa cena de causar vergonha alheia tomou conta do “CNN 360” (14/01) no momento em que víamos imagens do Airbus da Azul decolando de Viracopos para, supostamente, ir buscar dois milhões de doses da vacina na Índia. Jornalismo torna-se propaganda para, depois, virar numa barriga jornalística. Desde o início do ano já se sabia que a Índia iria barrar a exportação da vacina AstraZeneca. Por que, então a CNN embarcou na corrida maluca de Pazuello pela vacina em meio ao caos da crise do oxigênio em Manaus? Para além das suspeitas da CNN Brasil fazer parceira de Bolsonaro (em janeiro de 2019, os sócios da então futura rede televisiva no Brasil tiveram um encontro fora da agenda com Bolsonaro para apresentar o projeto de criação do canal), há uma lógica intrínseca à grande mídia que acaba criando situações tão constrangedoras como essa: o duplo vínculo Alarme/Tranquilização e o chamado “Efeito Heisenberg” do jornalismo corporativo.

sábado, janeiro 16, 2021

Ford, Matrix ou como a esquerda está se tornando reacionária


Ford anuncia sua saída do País. “Eles querem subsídios!”, criticou Bolsonaro. Ferida em seus brios, a esquerda reage gritando que há 20 anos Olívio Dutra (PT), então governador do RS, teria previsto isso ao recusar as imposições draconianas para a montadora se instalar no Estado. Uma convergência crítica da extrema direita com a esquerda? Por que a “Trilogia Matrix” tornou-se um símbolo anti-sistema para a extrema direita, sob protesto da co-criadora Lily Wachowski? A direita alternativa põe em ação a mesma tática usada pela “Nouvelle Droite” (“Nova Direita”) francesa no final dos anos 1960: apropriar-se de temas e linguagem da esquerda para aprisionar o oponente numa “matrix semiótica”. Sem saída, torna-se gradativamente reacionária: renuncia aos próprios temas que foram abduzidos pelo oponente político com medo de ser confundida com as “teorias da conspiração” alucinadas da direita: QAnon, Pizzagate, Ursal etc. – na verdade, psy ops para que a esquerda caia na cilada da crítica “nem-nem” da grande mídia: o ardil da negação dos “extremos”.

terça-feira, janeiro 12, 2021

'Palm Springs': o loop temporal é déjà-vu do nosso isolamento social na pandemia

Para além dos aspectos econômicos, os reflexos da pandemia e isolamento social no cinema e audiovisual também se apresentam nos picos temáticos dos roteiros: além da “covid exploitation” e do tema da “viagem no tempo”, há uma alta do subgênero “time loop” – personagens tornam-se prisioneiros de um período de tempo que se repete. A produção indie “Palm Springs” (2020) é mais um loop temporal entre as produções desse período: um protagonista preso desde sempre no dia de uma festa de casamento. Ele mal se recorda da vida anterior e está adaptado ao seu destino vivendo todos os prazeres que uma vida amoral e hedonista pode proporcionar. Até uma das convidadas cair sem querer em seu loop, quebrando a sua confortável rotina. Por que tantos loops no cinema e audiovisual em 2020? Será um “déjà-vu” dos espectadores na pandemia? Ou seria também um sintoma do chamado “presente extenso”, consequência das nossas vidas agora hipermediadas por dispositivos tecnológicos?

segunda-feira, janeiro 11, 2021

Nietzsche, Gnosticismo e Teocídio no filme 'Matando Deus'


O que você faria se Deus aparecesse? E se Ele não fosse como Morgan Freeman em “O Todo Poderoso” (2003), uma divindade bondosa que pacientemente dá lições morais para Jim Carrey. Não, e se Deus aparecesse como um anão sem-teto, alcoólatra, desbocado e de saco cheio da própria Criação? Pior, com um plano de exterminar a humanidade. Essa é a comédia de humor negro “Matando Deus” (“Matar a Dios”, 2017): o Todo-Poderoso invade a noite de Ano Novo de uma família disfuncional que é o microcosmo de todas as mazelas do demasiado humano. Depois de muitos dilemas morais, o grupo chega a uma conclusão: eles precisam matar Deus. Uma narrativa que combina humor negro com o melhor do slasher dos filmes B. E suscitando leituras tanto nietzschianas como gnósticas.

sábado, janeiro 09, 2021

'Equinox' e a paranoia moderna: por que milhares de pessoas somem diariamente no mundo?

A narrativa gira em torno do desaparecimento de uma classe inteira de formandos do ensino médio de 1999, com exceção de três alunos. Vinte anos depois, a irmã de uma das alunas desaparecidas recebe uma ligação misteriosa e reacende seu desejo de investigar este mistério. A série dinamarquesa da Netflix, “Equinox” (2020) é mais uma produção audiovisual inspirada num fenômeno de escala mundial: o desaparecimento de milhares de pessoas sem motivos identificáveis – abduções extraterrestres? Organizações criminosas? Tráfico de órgãos? Acidentes interdimensionais? Até se tornou matéria-prima para a paranoia política-conspiratória de extrema-direita com a teoria QAnon. Em “Equinox” vemos como paranoia moderna cria o personagem gnóstico-noir do Detetive como o espírito do nosso tempo: o mistério policial que se torna existencial, virando de ponta-cabeça o mundo do Detetive. A paranoia conspiratória vulgar evolui para a paranoia espiritual no subgênero "scandi-noir" ou "noir nórdico".

quinta-feira, janeiro 07, 2021

Invasão do Capitólio foi um não-acontecimento?

Chocados e bestificados, jornalistas da grande mídia viam o mito da democracia americana se transformar numa república bananeira, ao vivo, no cerco e invasão do Capitólio por um “white riot” trumpista. Diante de tudo, jornalistas buscaram criar uma narrativa com happy end – afinal, essa é a função do jornalismo corporativo: alarmar e, depois, tranquilizar. Porém, as coisas não são bem assim. Assim como o auge dos atentados terroristas “não acontecimentos” na Europa (psy ops, false flags e inside jobs), também o cerco e invasão do Capitólio suscitam algumas questões que, como sempre, a grande mídia passa longe. Como em todo não-acontecimento (repleto de paus de self e ativistas digitais fazendo lives), o ataque ao Capitólio possui em seu núcleo uma ambiguidade fundamental e implica numa pergunta: “quem ganha?”.

terça-feira, janeiro 05, 2021

Cobertura midiática da pandemia oculta cálculo do Necrocapitalismo e Capitalismo Gore


Zygmunt Bauman falava em “vidas desperdiçadas”. Aquiles Mbembe, fala “Necropolítica”. E Sayak Triana denuncia a ascensão do “Capitalismo Gore”, ou “Slasher Capitalism”. O eufemismo corporativo para tudo isso é “Quarta Revolução Industrial”. Todos esses conceitos convergem para o novo salto mortal do capitalismo: do controle populacional centrado na gestão da fertilidade para o novo foco na gestão da morte. Esse novo “reset” do capitalismo é o que a grande mídia tenta ocultar na cobertura da pandemia, interpretando as políticas sanitárias errantes e o desdém de Bolsonaro com a crise sanitária como “negacionismo” da “ala ideológica” do Governo. Oculta uma política calculada e proposital sincronizada com a “ala técnica” de Paulo Guedes para atender à urgência da Banca representada pelo Big Money e Big Pharma: mitigar através da pandemia o crash que ocorreria em 2020 e transformar isso numa janela de oportunidades – o mundo está cheio e o refugo humano deve ser eliminado! 

sexta-feira, janeiro 01, 2021

A história secreta do Natal e Réveillon: Jesus, Iemanjá e Cabala Hermética, por Claudio Siqueira


2020 foi um ano retratado como catastrófico de forma profética por várias obras distópicas como Blade Runner e a HQ Visões de 2020. E nesse primeiro dia do ano, o Cinegnose fala sobre os dois grandes acontecimentos de todo fim de ano: o Natal e o Réveillon. Porém, sem querer contar a origem do Natal ou do Papai Noel, como sempre o jornalismo tenta fazer nessa época do ano. Mas dessa vez vamos contar uma história secreta: três das muitas versões do mito de Jesus Cristo e a presença de Iemanjá e da cabala hermética nos tradicionais rituais de final de ano.

quarta-feira, dezembro 30, 2020

Ano de 2020 foi a temporada mais audaciosa de Black Mirror na retrospectiva '2020 Nunca Mais'


O criador da série “Black Mirror”, Charlie Brooker, tem ouvido uma piada recorrente: de que 2020 foi a temporada mais ousada de Black Mirror. Certamente foi para dar uma resposta a essa piada que Brooker criou a retrospectiva mockumentary “2020 Nunca Mais” (“Death to 2020”), disponível na Netflix. Uma curiosa retrospectiva sobre fatos reais na perspectiva de personagens ficcionais como um jornalista new yorker, um historiador britânico liberal racista enrustido, uma dona de casa suburbana e supremacista, um digital influencer que passou o ano reposicionando o discurso ao estilo Felipe Neto, a Rainha inglesa que chama os telespectadores de “terráqueos”, a dona de casa que esgotou o acervo de séries da Netflix na quarentena, etc. O ano de 2020 realizou de tal maneira quase todos os pesadelos de Black Mirror que Charlie Brooker propôs um jogo ao espectador: uma retrospectiva de fatos reais feita por personagens ficcionais que narra os acontecimentos de cada mês como um episódio de uma temporada de mau gosto. 

terça-feira, dezembro 29, 2020

A gnose é o jazz da vida na animação da Pixar 'Soul'


Por que sentimos as emoções que sentimos? Há vida após a morte? Um rato pode fazer uma refeição de três pratos? Após tentar responder a essas perguntas nas animações “Divertida Mente”, “A Vida é uma Festa” e “Ratatouille”, agora o estúdio Pixar vai direto ao ponto: qual o sentido da própria vida? Esse é “Soul” (2020), a narrativa mais esotérica e mística do estúdio. Principalmente porque vai buscar a resposta no conceito de “spark” - palavra explicitamente gnóstica: “centelha” ou “faísca” como contraparte divina da alma). Um conceito incompreendido nas traduções em legendas e dublagens brasileiras, traduzido ora como “propósito”, ora como “missão”. O gênio de “Soul” é representar esse tema esotérico por meio do Jazz: um professor de música tem uma experiência de quase morte no dia mais importante da sua vida para ser levado ao plano da existência do trânsito das almas entre o Céu e a Terra.  Para alcançar a gnose na qual a centelha da vida é como o Jazz: para realmente apreciá-lo, é necessário que coração e a mente estejam imersos na música... assim como na vida.

sexta-feira, dezembro 25, 2020

Astrologia transdisciplinar: com Grande Reset Big Money tenta reverter Grande Conjunção astral

No dia 21 de dezembro houve nos céus a chamada Grande Conjunção de 2020 com o alinhamento de Júpiter e Saturno. Enquanto aqui na Terra, em meio à pandemia global, Klaus Chwab, fundador do Fórum Econômico Mundial, exorta que um “Grande Reset Global” será iniciado em janeiro de 2021 – uma reinicialização através da tecnologia digital guiada pela filosofia do Pós-Humanismo. Para astrólogos transdisciplinares isso não é mera coincidência: é um evento sincromístico e uma batalha no campo astral da humanidade: de um lado, a Grande Mutação: uma nova modulação espiritual para a humanidade; do outro, o Grande Reset Global no qual o capitalismo fará o que sempre fez, mas com nova roupagem. Bilionários precisam de astrólogos, dizia JP Morgan... e ocultistas. Isso desde o nazismo até a Magia do Caos apropriada pela direita alternativa de Trump e Bannon. E nesse momento, o Big Money tenta reverta essa energia da Grande Conjunção a seu favor. Assim como no passado o símbolo esotérico da suástica foi revertido pelo ocultismo nazi. 

terça-feira, dezembro 22, 2020

Série 'Alice in Borderland': o gnosticismo pop japonês dos mangás ao vídeo

Enquanto o Ocidente absorve religiões orientais pela sua fluidez e exotismo, o Oriente se inspira no esoterismo ocidental. Principalmente a vertente gnóstica na cultura pop japonesa através de mangás e animes. Até chegar aos vídeos, como a série Netflix “Alice in Borderland” (2020-) adaptada do mangá de Haro Aso “Imawa no Kuni no Alice”. Três jovens saem de uma estação de metrô de Tóquio e descobrem que estão num mundo paralelo onde a capital japonesa está deserta e às escuras. Apenas acendem painéis de led exortando a participarem de games repletos de charadas e paradoxos: se não zerar o jogo dentro do tempo, o castigo é a morte. A gameficação da jornada interior do herói se mistura com os mitos gnósticos do Demiurgo, da Alma Decaída e do Divino Feminino.

sexta-feira, dezembro 18, 2020

Suposta resiliência de Bolsonaro oculta 'jornalismo snapchat' e psy-ops da grande mídia

Enquanto os números das pesquisas revelam o melhor percentual de aprovação a Bolsonaro desde o início do mandato, eximindo-o de qualquer responsabilidade pelos mortos da Covid-19, além do aumento da resistência popular contra a vacina, jornalistas falam em “resilência do presidente ao bombardeio incessante da mídia”. Vamos combinar! Será que depois de todo esforço do consórcio Mídia-Mercado-STF como proxy na guerra híbrida, agora a grande mídia se voltaria contra sua própria criatura? Essa percepção incorre em dois erros metodológicos, típicas da incompreensão de fenômenos de comunicação: confundir o “jornalismo snapchat” da mídia corporativa (a ambiguidade das “passadas de pano” + psy-ops das profecias autorrealizadoras e psicologia reversa) com “bombardeio midiático”. E confundir “influência da mídia” com “influência social” que, em última instância, é o que sanciona os conteúdos propagados pelos meios de comunicação, seja de massa ou digitais. 

terça-feira, dezembro 15, 2020

Série 'Travelers': por que precisamos da viagem no tempo?


A partir de 2016, o cinema e audiovisual (principalmente séries) vive um surto de narrativas sobre a viagem no tempo. Principalmente envolvendo a mitologia da segunda chance: a ciência relativística e quântica parece ter trazido mais angústias existenciais do que respostas. E as sombrias previsões políticas, econômicos e climáticas, só alimentam ainda mais essa angústia. A série original Netflix “Travelers” (2016-18) é mais uma estória sobre “segunda chance”, dessa vez para a história humana: através de “hospedeiros”, viajantes do futuro chegam no século XXI para desfazerem uma cadeia de eventos que levará o mundo a algum tipo de catástrofe climática e econômica futura que transformará o planeta num mundo árido e hostil. Depois dos deuses, messias e discos voadores vindos dos céus, agora a esperança vem através de viajantes do Tempo. 

sexta-feira, dezembro 11, 2020

'Cinegnose' discute pandemia, Grande Reset Global e Guerra Híbrida em Seminário

O que é o “Grande Reset Global”? – expressão usada pelo Fórum Econômico Mundial para racionalizar o cenário econômico da atual pandemia. Por que essa “grande reinicialização” é o outro lado da moeda necessária na agenda geopolítica do capitalismo do século XXI? E como a pandemia se transforma numa máquina semiótica que mascara os três principais vetores da agenda 2020: crash financeiro global, biopolítica e necropolítica. Esses foram alguns temas que este editor do Cinegnose tratou ontem (10/12) no Seminário-oficina Permanente Justiça, Bem-Estar e Economia 2020, evento realizado esse ano on line, dentro da Agenda 2030/ONU. Assista ao vídeo.

quarta-feira, dezembro 09, 2020

Biocentrismo e imortalidade quântica no filme 'No Limite do Amanhã'


Na superfície, “No Limite do Amanhã” (“Edge of Tomorrow”, 2014, agora disponível na Netflix) é mais um sci-fi daqueles que gostam de heróis com armaduras robóticas enfrentando monstruosos aliens com muitas explosões em computação gráfica. De fato, Tom Cruise gasta os seus cinquenta anos, mais uma vez, tentando salvar o mundo. Mas, dessa vez, em um alto conceito presente no cinema desde os clássicos “Matadouro 5” (1972) e “O Feitiço do Tempo” (1993): um protagonista prisioneiro em um loop temporal, repetindo indefinidamente o mesmo dia até a sua morte. Porém, “No Limite do Amanhã” acrescenta o toque da mecânica quântica: a interpretação dos Muitos Mundos onde o simples fato de observar provocaria efeitos no mundo atômico – a bifurcação na qual todas as opções ocorrem, criando muitos mundos. Disso decorreria a hipótese do “biocentrismo”: nossa consciência persistiria nesses múltiplos mundos, criando uma imortalidade quântica. 

domingo, dezembro 06, 2020

Eleições 2020/22: na guerra híbrida, esquerda precisa fazer comunicação anticíclica


No rescaldo da derrota das esquerdas nas eleições municipais, as repostas à angustiante pergunta “O que fazer?” (frentes amplas, retornar às bases, cidadania autônoma etc.)  são previsíveis. Por quê? Porque todas elas ignoram uma questão simples, mas decisiva no campo da guerra híbrida no qual os atores políticos estão operando – a maioria, inconsciente, agindo no modo piloto automático: a questão da COMUNICAÇÃO. Enquanto a esquerda a confunde com “propaganda”, esquece do seu papel estratégico de criação de “acontecimentos comunicacionais” num cenário de guerra semiótica. A criação de acontecimentos ANTICÍCLICOS que revertam o loop retroativo no qual a esquerda é prisioneira reativa – a esquerda que a direita adora...

quinta-feira, dezembro 03, 2020

Deus está morto no país do Estado Mínimo na série 'Ninguém Tá Olhando'


As representações no cinema e audiovisual sobre o Céu, anjos e vida após a morte são um verdadeiro sismógrafo do que ocorre aqui embaixo, na vida dos vivos. A série brasileira de humor da Netflix “Ninguém Tá Olhando” (2019) não poderia ser diferente: retrata uma organização burocrática de anjos da guarda que protegem os seres humanos, sempre seguindo as regras de um chefe ausente. Um anjo recém-chegado passa a questionar as regras estabelecidas, fazendo todo o sistema lentamente afundar em crise. É sintomática a representação do Céu como uma repartição pública e os anjos como burocratas entediados de alguma estatal: num país no qual o discurso neoliberal do Estado Mínimo em que as estatais são a fonte de todos os males políticos e econômicos, essa série faz todo o sentido. Se Deus/Estado estiver morto, então ninguém tá olhando! A tese nietzschiana da morte de Deus se encontra com o Estado Mínimo neoliberal.

segunda-feira, novembro 30, 2020

Cancelamento do debate da Globo e isolamento social: o Circuit Braker político da pandemia


O cancelamento no último instante, por razões sanitárias, do debate na TV Globo com os candidatos às eleições de São Paulo no segundo turno e a imagem de Boulos, em isolamento social, segurando uma cartolina estampada “Vamos Virar!” são emblemáticas. São instantâneos de mais uma janela de oportunidades que a pandemia Covid-19 está proporcionando ao “Estado de Segurança”: o “Circuit Braker” social e político – campanhas eleitorais frias e engessadas, desde as regras dos debates televisivos que evitam confrontos ao esvaziamento das ruas por razões sanitárias e que favorecem a continuidade do "status quo". Com as ruas vazias, como reverter cenários eleitorais adversos? No campo da Comunicação, esse "circuit braker" esvazia a própria alma das transformações políticas: o “acontecimento comunicacional”.

sexta-feira, novembro 27, 2020

A realidade é mais assustadora do que o sobrenatural em 'O Que Ficou Para Trás'


Dos filmes de ficção científica surgiu nos últimos anos o subgênero “alt.sci-fi” (plots tradicionais do gênero como pretexto para discutir temas existenciais e psicológicos). “O Que Ficou Para Trás” (“His House”, 2020 disponível na Netflix), ao lado do horror racial de “Corra!” (2017), ensaia da mesma maneira um novo subgênero, agora no gênero horror: o “alt.terror”, tradicionais plots do gênero como pano de fundo para temas existenciais e políticos. A partir do tema clássico da casa assombrada, “O Que Ficou Para Trás” discute os problemas existenciais em torno dos refugiados na Europa e o ressentimento contra os estrangeiros como resultante da geopolítica global que produz guerras híbridas em alvos políticos das grandes corporações petrolíferas – no caso, refugiados do Sudão do Sul. Um novo tipo de terror onde a realidade pode ser mais estranha e assustadora do que os elementos sobrenaturais.

segunda-feira, novembro 23, 2020

Não existe ficção científica no país do futuro em 'Branco Sai, Preto Fica'

O ano é 1986. Cidade-satélite de Ceilândia. Uma violenta repressão policial em um baile funk resulta em dois jovens negros com sérias sequelas: um, na cadeira de rodas; e o outro, andando com ajuda de uma prótese. Baseado nesse fato real, o filme “Branco Sai, Preto Fica” (2014), do documentarista Adirley Queirós, constrói uma curiosa ficção científica (gênero rarefeito no cinema brasileiro) “hipo-utópica”: o futuro não existe nem mesmo como distopia, sendo uma mera projeção hiperbólica do presente dos protagonistas – um apartheid racial e social em volta de uma Brasília sitiada. De um futuro que parece o Brasil atual, vem um “agente terceirizado do Estado brasileiro” investigar os responsáveis pela tragédia de 1986. A mistura de gêneros documentário e sci-fi é proposital: mostrar como no “País do Futuro”, passado, presente e futuro se estendem num estranho eterno presente. Sem existir o amanhã.

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