quinta-feira, janeiro 07, 2021

Invasão do Capitólio foi um não-acontecimento?

Chocados e bestificados, jornalistas da grande mídia viam o mito da democracia americana se transformar numa república bananeira, ao vivo, no cerco e invasão do Capitólio por um “white riot” trumpista. Diante de tudo, jornalistas buscaram criar uma narrativa com happy end – afinal, essa é a função do jornalismo corporativo: alarmar e, depois, tranquilizar. Porém, as coisas não são bem assim. Assim como o auge dos atentados terroristas “não acontecimentos” na Europa (psy ops, false flags e inside jobs), também o cerco e invasão do Capitólio suscitam algumas questões que, como sempre, a grande mídia passa longe. Como em todo não-acontecimento (repleto de paus de self e ativistas digitais fazendo lives), o ataque ao Capitólio possui em seu núcleo uma ambiguidade fundamental e implica numa pergunta: “quem ganha?”.

Choque! Consternação! Incredulidade! Como foi possível na considerada maior democracia do planeta centenas de manifestantes cercarem o prédio do Congresso dos EUA, invadirem, resultando em quatro mortos e 50 feridos? 

Esse foi o tom do jornalismo corporativo cujos apresentadores, ainda mais consternados, liam a manifestação de solidariedade do “ditador” Nicolas Maduro, presidente da Venezuela, desejando “estabilidade e justiça social” para os EUA... como assim? Um ditador latino-americano dando lição de moral aos EUA transformado por algumas horas em república bananeira? Algo parecia estar fora da ordem! 

“Baderneiros” ou “arruaceiros” foram as expressões mais usadas para nomear os manifestantes pró-Trump, incitados depois de um discurso de três horas do seu líder e herói, na praça do obelisco de Washington. "Você não cede quando há roubo envolvido", disse ele. "Nosso país está farto e não vamos aguentar mais", acrescentou. Pronto! Foi o comando para a multidão se dirigir ao Capitólio no momento em que os parlamentares debatiam a certificação da vitória de Joe Biden.

Entre incrédulos e bestificados, as narrativas dos telejornais buscavam algum happy end que colocasse as coisas em ordens e os EUA voltassem a ser o modelo de democracia para o mundo. E veio... Depois de várias horas de confronto entre manifestantes e policiais, os trabalhos foram retomados e a vitória de Biden foi ratificada às 3h40 da madrugada.

Para os analistas da grande mídia, a Democracia foi colocada de volta nos trilhos e os maiores derrotados foram Trump e os arruaceiros, jogados na lata do lixo da História... shame on you!... essa é a lição de moral que a grande mídia tenta passar ao distinto público. Afinal, essa é a sua função social: alarmar e depois tranquilizar, para que depois todos voltem para a cama e tenham um dia seguinte produtivo.



Porém, as coisas não são bem assim. Assim como o auge dos atentados terroristas “não acontecimentos” na Europa, de 2013 a 2016 (Paris, Nice, Berlim, Bruxelas, Londres etc.), cheios de fios soltos sugerindo psy ops, false flags e trabalhos internos (inside Jobs – sobre o conceito de “não-acontecimento”, clique aqui), também o cerco e invasão do Capitólio suscitam algumas questões que, como sempre, a grande mídia passa longe. Afinal, ela está sempre em busca de um happy end tranquilizador. Aquilo que não tranquiliza é rapidamente descartado como “teoria da conspiração”.

 Como em todo não-acontecimento, o ataque ao Capitólio possui em seu núcleo de evento uma característica e uma pergunta: ambiguidade e “quem ganha?”.



“Por que a segurança do Capitólio não estava preparada para os ataques que já eram previstos?”, pergunta David Ignatius em artigo no The Washington Post. Para o articulista, o Departamento de Justiça e Defesa sabia que os manifestantes que os manifestantes pró-Trump, incluindo extremistas supremacistas armados, poderiam invadir o prédio do Congresso. 

Por que, então, não estavam melhor preparados para o ataque que se sucedeu?

Esse é o enigma no centro do espasmo de anarquia violenta de quarta-feira: as autoridades viram a multidão chegando, mas não estavam prontos ou capazes de pará-la - e eles permitiram que centenas invadissem o Capitólio, ameaçassem legisladores e, por um tempo, fomentassem um golpe dentro o símbolo mais precioso da democracia dos EUA” (clique aqui).

A Polícia do Capitólio planejou expandir o perímetro normal ao redor do edifício e prender qualquer um que tentasse violá-lo. No final das contas, eles estavam totalmente despreparados para o ataque que veio. Segundo Ignatius, quando questionado o porquê da Polícia do Capitólio não ter agido de forma mais agressiva ou chamado reforços mais rapidamente, um oficial sênior respondeu apenas: “Essa é uma boa pergunta”.

Ao invés do Pentágono e Guarda Nacional, a segurança foi entregue ao gabinete do prefeito e Departamento de Justiça

A resposta do articulista do The Washington Post é fraca, tentando diluir a gravidade dessa “boa pergunta”: teria sido supostamente um cálculo proposital da chefia do Pentágono para que militares não fossem usados para reprimir um protesto civil, para não dar a Trump o pretexto de invocar a Insurrection Act. 

Mesmo que para todos parecesse uma insurreição, que acabou colocando em risco a vida dos legisladores no importante momento da liturgia democrática: a certificação do resultado das eleições.  Apesar da crônica anunciada de um desastre, a retirada dos insurgentes do interior do Capitólio acabou sendo feita pela SWAT, pelo Escritório de Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos e outras agências.

White Riot

Por outro lado, Derecka Purnell, do The Guardian, lembrou a imagem de um grupo de homens e mulheres brancos com bandeiras e vestindo camisetas com dizeres supremacistas perseguindo um policial negro, que empunhava apenas uma vara para se defender. Ele tentava desesperadamente conter a turba que o perseguia subindo por uma escadaria no interior do Capitólio. 


Cerco aos Congressos: EUA (2020), Brasil (2013): Guerra Híbrida?

Derecka Purnell acusa: “Onde há rebelião branca por causa conservadoras, há conluio com o Estado” (clique aqui).

Um White Riot, com bandeiras americanas, confederadas, imagens de crânios com rifles cruzados, serpentes em forma do “Q” do ifame QAnon, red necks subindo por andaimes, quebrando janelas, invadindo escritórios de senadores e a grande cena: um sujeito com roupa de búfalo, cara pintada, sem camisa, como fosse um personagem saído do filme Mad Max, sentado na cadeira do presidente do Congresso.

E um tratamento das forças policiais bem diferente das rebeliões negras, onde forças policiais militarizadas pisam, lançam bombas, atiram balas de borracha e prendem centenas de manifestantes.

“Por que não vemos policiais em manifestações fascistas? Da mesma forma como não vemos Batman e Bruce Wayne juntos”, ironizava um tuite lido por este humilde blogueiro no calor dos acontecimentos.

Ao ver as imagens da invasão do Capitólio, foi inevitável lembrar das imagens da também infames da guerra híbrida das “Jornadas de Junho de 2013” nas quais manifestantes fizeram fogueiras nos gramados em frente ao Congresso Nacional, invadiram a cobertura do prédio e tentaram forçar a entrada. Sob ações repressivas tímidas e pontuais. 

O resultado foi a crescente polarização política até a desconstrução do sistema político pela extrema-direita que chega ao poder prometendo destruir, por dentro, as instituições democráticas.

Quem ganha?

Parece ser estranho, mas poderíamos falar de um trabalho interno por trás dos eventos de Washington? Uma psy-op? Será que presenciamos a mesmas táticas da Guerra Híbrida, agora do “Deep State” contras as próprias instituições da democracia liberal norte-americana? Um não-acontecimento, destinado à irradiação pelo contínuo midiático, para solapar ainda mais a democracia liberal pelo reforço da polarização radical de corações e mentes? Como Biden e as instituições democráticas governarão em um país tão dividido?



Quem ganha com esse desastre previsto, proposital e calculado?

Para as cabeças pensantes da mídia liberal, Trump será jogado para a lixeira da História. Mais a realidade é mais cinzenta do que o preto no branco.

Em postagem anterior discutíamos como a mídia tenta salvaguardar o mito da América como a maior democracia do mundo. Tenta ignorar que todos os pontos fracos do propositalmente confuso sistema eleitoral dos EUA (um sistema elitista feito por proprietários de terra e de escravos) foram tensionados e explorados por Trump e a extrema-direita. Um agente do caos, assim como o Coringa em The Dark Night de Christopher Nolan, no qual explorou todas as fraquezas morais de Gotham City (clique aqui).

Apontávamos que mesmo com a derrota, a direita alternativa (alt-right) já havia vencido: implodiu o sistema e a opinião pública por dentro - transformou uma eleição em gigantesco plebiscito, deixando irremediavelmente o país dividido. O que aumentará cada vez mais a tensão sobre as instituições que estruturam a democracia liberal. 

O populismo nacionalista de extrema-direita se alimenta dessa atmosfera de medo (ameaça ao intrínseco conservadorismo da esfera privada), polarização (irracionalidade de qualquer debate político que se transforma em Fla X Flu) e caos - ações reativas de ambas as partes que conduzem a inevitáveis judicializações: o ato final da elitização das decisões políticas.

Porém, sabemos que historicamente a extrema-direita (desde a eclosão do nazi-fascismo no século XX) sempre é requisitada para fazer o serviço sujo do Capitalismo para resolver suas próprias contradições internas. Ela é apenas um instrumento e seus supremacistas, buchas de canhão.

Quem está ganhando em última instância? O chamado “Grande Reset Global” do Capitalismo, exortado pelo fundador do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab.

Big Tech X Democracia Liberal

Em outra postagem anterior (clique aqui), discutíamos que essa nova reconfiguração do Capitalismo que é sintezada por Ailton Krenak, líder indigenista, ambientalista e escritor: 

“Para mim, é a próxima missão do capitalismo: se livrar de ao menos metade da população do planeta. O que a pandemia tem feito é um ensaio sobre a morte. É um programa do necrocapitalismo. A desigualdade deixa fora da proteção social 70% da população do planeta... e no futuro não precisará deles, sequer como força de trabalho” – clique aqui.

É a agenda do necrocapitalismo e do capitalismo gore, a política do “deixar morrer” (cuja pandemia global abriu uma incrível janela de oportunidades), até das formas mais cruéis – crime organizado, por exemplo.



A necessidade dessa agenda está na chamada “Quarta Revolução Industrial” – a remodelagem da vida através do trabalho pelas plataformas tecnológicas turbinada pela Inteligência Artificial, a Internet das Coisas (IoT) e a Internet dos Corpos (IoB) – uma indústria crescente comandada pela RAND Corporation:

A RAND foi, e é, a organização essencial desse empreendimento. Ao longo de sua história, a RAND esteve no centro daquele entrelaçamento de concupiscência e ganância financeira do Pentágono que o presidente Eisenhower pretendia chamar de complexo militar-industrial-legislativo. A RAND literalmente remodelou o mundo moderno – e muito poucos sabem disso – ABELLA, Alex, "Soldiers of Reason: The RAND Corporation and the Rise of American Empire", Mariner Books, 2009.

Assim a RAND define a IoB: “uma indústria crescente de dispositivos que monitoram o corpo humano, coletam informações de saúde e outras informações pessoais e transmitem esses dados pela Internet”.

Em outras palavras, isso representa o próprio hackeamento do DNA, o nível mais profundo de invasão da privacidade e reengenharia social – com tendências eugênicas.Uma tecnologia invasiva e penetrante:

Em 2025, haverá mais de 41 bilhões de dispositivos IoT ativos, gerando 2,5 quintilhões de bytes de dados diariamente sobre meio ambiente, transporte, geolocalização, dieta, exercícios, biometria, interações sociais e vidas humanas diárias. Essa explosão nos dispositivos IoT resultará em uma popularidade ainda maior dos dispositivos IoB (IDEM).

Nessa nova reconfiguração tecnológica e econômica, a democracia liberal não terá lugar – os quintilhões de bytes de dados prospectados pelas empresas com um poder muito além de qualquer possibilidade de controle ou regulamentação pública por poderes do Estado de Direito.

De um lado, a gestão da morte do Necrocapitalismo; e do outro, a IA que hackeará todos aqueles direitos celebrizados pelo Humanismo e Iluminismo.

O cerco e invasão do Capitólio foi um não-acontecimento transmidiático, com o mesmo modus operandi das diversas “Primaveras” pelo planeta (como a brasileira, p. ex.) promovidas pela Guerra Híbrida do Deep State dos EUA – o leitor deve ter percebido a quantidade de manifestantes com paus de self e blogueiros, youtubers e instagramers das mídias de extrema-direita transmitindo lives no meio da invasão.

Uma Revolução Popular Híbrida (RPH): não-acontecimento transmídia que objetiva repercutir vídeos nas redes para reforçar ainda mais a divisão através da pós-verdade – é a própria desconstrução da esfera pública de consenso que fundamenta a democracia liberal.

Uma típica ação de RPH no próprio país que secretamente promove guerras híbridas pelo planeta revela que esse tipo de ação política tem uma dimensão mais ampla do que o domínio geopolítico dos EUA no planeta: a Guerra Híbrida visa a própria derrocada da democracia liberal, agenda dessa nova reconfiguração do Capitalismo. 

 

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