domingo, abril 17, 2016
Em "Ele Está de Volta" o século XXI recebe Hitler de braços abertos
domingo, abril 17, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O que aconteceria se Hitler reaparecesse hoje graças a algum estranho
fenômeno temporal que o fizesse escapar da morte em seu bunker em 1945? A
resposta que o filme “Ele Está de Volta” (Er Ist Wieder Da, 2015), disponível
no Netflix, dá é no mínimo preocupante. Combinando ficção e documentário, o
desconhecido ator Oliver Masucci fez uma turnê pela Alemanha – em 300 horas de
gravação somente duas pessoas reagiram negativamente. A maioria tirava selfies
com Hitler e confessavam sua preocupação com estrangeiros e refugiados que,
para eles, estariam destruindo a Alemanha. Borrando a fronteira entre ficção e
realidade, Hitler é recebido como um comediante que não consegue sair do papel
e vira uma celebridade midiática. Mas embora ninguém pareça estar levando a sério,
ele prepara planos para finalmente construir o Terceiro Reich através da melhor
invenção que veio depois do cinema: para Hitler, a TV.
sexta-feira, abril 15, 2016
Impeachment: Sincromisticismo, Efeito Copycat e Parapolítica
sexta-feira, abril 15, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Loren Coleman, pesquisador norte-americano em Sincromisticismo e os
chamados “efeitos copycat” midiáticos, dá um “alerta vermelho” para o mês de
abril. O quarto mês do ano historicamente é marcado por “coincidências
significativas”. Homicidas e terroristas parecem querer conferir notoriedade a
seus atos ao aproximá-los de datas marcadas por acontecimentos tragicamente
históricos, dentro de um efeito de imitação (efeito copycat). Também como
evento planejado e roteirizado para produzir rendimento midiático, a votação do
impeachment em abril também guarda “coincidências” que acabam se tornando muito
significativas. As diversas coincidências no planejamento das datas da votação
do impeachment sugerem que poderíamos estar diante de um evento que vai para além da Ciência Política para entrar no campo esotérico da Parapolítica.
terça-feira, abril 12, 2016
Em "A Bruxa" a mente é o combustível do horror
terça-feira, abril 12, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Bruxas e a moralidade de puritanos da América colonial do século XVII
narrado com explícitas alusões à família que se autodestrói no filme "O
Iluminado" de Kubrick e a referência visual do quadro de Goya "O Sabá das
Bruxas". Tudo leva a crer que “A Bruxa” (The Witch, 2015) é mais um filme do
gênero terror com sustos, sangue e perseguições. Mas o estreante diretor Robert
Eggers sabe que a mente é o verdadeiro combustível
do horror: mantém o espectador no fio da navalha entre a realidade e a ficção:
a dúvida se o elemento sobrenatural sugerido no filme é real ou se atmosfera claustrofóbica da
moralidade puritana foi capaz de criar bruxas e demônios. O resultado é uma
verdadeira psicanálise dos arquétipos do horror e das bruxas que sempre foram
“bodes expiatórios” dos horrores que povoam nossas mentes.
domingo, abril 10, 2016
Curta da Semana: "Right Place" e "Break Up Services" - como terceirizar a solidão
domingo, abril 10, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um curta premiado em Cannes que projetou internacionalmente o diretor japonês Kosai Sekine e o seu olhar “neo-futurístico” para as metrópoles do país, presentes nos seus projetos que vão de curtas a vídeos publicitários. “Right Place” (2006) aproxima o transtorno obsessivo compulsivo de um funcionário de uma loja de conveniência com a solidão de Tóquio. Um olhar social que também aparece em um vídeo publicitário para a Adidas, “Break Up Services” (2009), onde uma empresa de serviços terceiriza corações partidos e crises conjugais – o japonês é um povo polido e ocupado demais para confrontar outra pessoa. Então, uma empresa termina o relacionamento para o cliente.
sexta-feira, abril 08, 2016
Grande mídia resgata espécimes do Brasil Profundo
sexta-feira, abril 08, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Esqueça os folclóricos tipos urbanos produzidos pela recente onda do
neoconservadorismo político e cultural como, por exemplo, os coxinhas, coxinhas
2.0, simples descolados etc. Esses tipos ainda são de um “Brasil Renitente”. Com o baixo astral generalizado posto em prática pela grande mídia, a pesada
atmosfera psíquica nacional revela agora novos espécimes, dessa vez de um “Brasil
Profundo”: retrofascistas e protofascistas, tipos-ideais mais perigosos e
beligerantes: pequenos escroques, acadêmicos e intelectuais obscuros, músicos
que fizeram sucesso no passado e que foram esquecidos, ex-anônimos que
confundem militância profissional com fundamentalismo religioso e oportunistas
de toda sorte. Todos, ao mesmo tempo, parecem ter sido resgatados do ostracismo
e infernos pessoais graças à incansável atividade da grande mídia em produzir
novos personagens que sustentem suas pautas.
Depois desses tempos de neoconservadorismo político e cultural nos
brindar com uma rica fauna urbana composta por coxinhas, coxinhas 2.0, novos tradicionalistas,
simples descolados, “rinocerontes” etc. (sobre esses tipos urbanos clique aqui, aqui e aqui), a pesada atmosfera psíquica que
baixou no País, decorrente da polarização política e da intensa atividade do
contínuo midiático para gerar baixo astral, produziu o habitat perfeito para
novos e exóticos espécimes.
Eles vieram do Brasil Profundo! Vamos listar alguns desses exemplares:
Espécime 1 – Nome: Ju Isen. Modelo anônima, famosa por tirar a roupa em uma das manifestações
Anti-Dilma na Avenida Paulista em São Paulo, tentou repetir a dose como
destaque no desfile da Unidos do Peruche e foi expulsa do Sambódromo. Outras
modelos desconhecidas tentaram seguir o exemplo em outro protesto da mesma avenida
de São Paulo, seminuas e segurando cartazes anti-PT ostentando enormes óculos
de marca. Uma se excedeu ao ficar totalmente nua e foi levada presa pela
Polícia Militar.
Espécime 2 – Nome: Junior de França. Ajuda a organizar o acampamento de manifestantes pró-impeachment em
frente ao prédio da Fiesp em São Paulo. Às vezes se passa por jornalista,
outras vezes por ator, mas na verdade recruta homens e mulheres para participar
de feiras. É acusado de estelionato e de tentar fazer sexo com modelos, segundo
matérias na TV Record e no Portal R7 – clique aqui.
Espécime 3 – Nome: Douglas Kirchner. Transformado em personagem nacional atuando em parceria com a revista Época no vazamento de denúncias contra
Lula, o procurador do Ministério Público Federal Douglas Kirchner tem uma
controversa militância religiosa e uma conturbada vida amorosa. Fiel de uma
seita denunciada por explorar crianças e adolescentes, foi acusado de agredir
fisicamente a esposa e mantê-la em cárcere privado no interior de uma das
igrejas da seita. Ministra o seminário “Casamento Gay e Marxismo Cultural” onde
ataca a igualdade de sexos e defende que o feminismo é um “ideal agnóstico das
esquerdas” – sobre a história desse espécime clique aqui.
Espécime 4 – Nome: Janaina Paschoal. Assustando até os apoiadores do impeachment da
presidenta Dilma, numa performance resultante do cruzamento de Death Metal com o desempenho da atriz Linda Blair no filme O Exorcista, a professora de Direito Janaina
Paschoal fez um discurso em ato de apoio ao impeachment na Faculdade de Direito
do Largo do São Francisco em São Paulo. Transtornada e transfigurada fez
alusões ao poder de uma “cobra” que mantém o país no “cativeiro de almas e
mentes”. “Acabou a República da Cobra!”, gritava ensandecida em um discurso que
lembrava um bispo evangélico fora do controle.
“De onde vem essa gente?”
Como perguntou certa vez o Homem-Aranha, cansado depois de enfrentar o Monstro
de Areia e o Venon: “de onde vem toda essa gente?”.
Pequenos escroques, acadêmicos e intelectuais obscuros, músicos que
fizeram sucesso no passado e que foram esquecidos, ex-anônimos que confundem
militância profissional com fundamentalismo religioso e oportunistas de toda
sorte.
Todos de repente parecem ter sido resgatados, todos ao mesmo tempo, de
seus ostracismos, infernos e limbos pessoais para serem reciclados, ressignificados
pela grande mídia e se tornarem a esperança de um futuro melhor – ou uma “ponte
para o futuro”, bordão que subliminarmente vem repetindo a todo momento, em
alusão ao documento do PMDB divulgado como proposta para um futuro governo
pós-impeachment.
Em toda a crise política, talvez a melhor contribuição dada pela grande
mídia foi a de trazer à tona esses personagens do Brasil Profundo, pescados nas
águas turvas de uma conturbada psicologia de massas.
Uma verdadeira contribuição no campo da Etnografia e da Antropologia
Urbana: ressuscitar espécimes que estavam em estado latente, hibernos, apenas
esperando a atmosfera ideal para que voltassem a respirar em plenos pulmões.
Espécimes redivivos que agora podemos finalmente ter a oportunidade de
estuda-los in loco.
Brasil Renitente e Brasil Profundo
Por “Brasil Profundo” não estamos nos referindo a uma referência
geográfica como um “interior” ou “periferia”. Mas como o ponto mais profundo de
um inconsciente coletivo ou “sombra”, no sentido dado pela psicanálise
junguiana.
Muito mais profundo do que o imaginário da “Casa Grande e Senzala” de um
país ainda marcado pelos signos de distinção de classes (elevador social,
uniformes de empregadas domésticas etc.), marcas de uma antiga ordem escravocrata. Onde até mesmo um publicitário como Nizan Guanaes (Publicidade, símbolo de uma suposta modernidade brasileira) é capaz de revelar esses velhos estereótipos em sua coluna na Folha, reclamando sobre o fim das empregadas domésticas: “Preciso de uma Dona Flor, mas
que não precisa ter o corpo da Sônia Braga – precisa é cozinhar”, explicou. –
Folha, 16/11/2011.
Esse não é ainda o Brasil Profundo, é o Brasil Renitente.
Ego embrutecido
“Quem é duro consigo mesmo, também é com os demais”, dizia o sociólogo
Theodor Adorno na sua célebre fórmula do psiquismo do nazi-fascismo. Certamente
esta fórmula poderia ser aplicada nesse estudo dos espécimes do Brasil
Profundo.
Em comum, todos eles vieram do esquecimento e obscurantismo. São pessoas
apegadas aos valores da meritocracia e competição, o que mais torna essa
condição de anonimato em profunda frustração de um ideal de ego também atormentado
por um profundo ressentimento.
Ju Isen busca a oportunidade que lhe proporcione, pelo menos, a condição
de sub-celebridade; Kirchner, o típico concurseiro de editais públicos,
espécime que massacra o próprio psiquismo em busca da aprovação – após a
vitória, com o ego tão embrutecido e encouraçado, torna-se frio, indiferente em
diversos graus, como, por exemplo, no conservadorismo político e de costumes.
Janaina Paschoal, com seu ego igualmente embrutecido em um meio tão competitivo
e masculinizado como o campo do Direito; e Júnior de França, oportunista de
ocasião no mundo das sub-celebridades que vivem a fama como farsa.
Ressuscitados do seu estado de torpor pela eletricidade das mídias,
descobriram que tinham nas mãos uma hiper-tecnologia: redes sociais e dispositivos
móveis para poderem amplificar em tempo real seu ódio e ressentimento.
Retrofascismo
Como alertava o sociólogo canadense Arthur Kroker no final do século
passado, o futuro seria do “retrofascismo”: uma situação ambivalente de
hiper-tecnologia e primitivismo. Kroker dizia que “o fascismo é a revolta dos
derrotados”. A vida dirigida pelo ódio de si mesmo (o ressentimento pelo
ostracismo e obscurantismo) vingando-se através da destruição do outro - leia KROKER, Arthur. Data Trash, New York: Saint Martin's Press, 1994.
Como nos informa o prefixo “retro”, esses espécimes protofascistas são
nostálgicos de um passado de pureza onde supostamente haveria lei e ordem. Nos
nazifascistas do trágico passado, a pureza da raça em um Idade do Ouro; nos
retrofascistas, a ordem militar que nos mantinha seguros de feministas, gays e
comunistas - sobre o conceito de retrofascismo clique aqui.
Brasil Profundo e Neodesenvolvimentismo
Ao contrário do Brasil Renitente, o Brasil Profundo foi parido nessa
última década. A inclusão de milhões de brasileiros à sociedade através do
consumo (que o economicismo e neodesenvolvimentismo faziam o PT acreditar que
por si só geraria consciência política e de cidadania) na verdade produziu um
perverso efeito inverso: despolitização por meio da percepção de que qualquer
direito seria um oportunista substituto do mérito e do trabalho.
Estado policial e militarismo é a atmosfera ideal para esses espécimes
protofascistas – a oportunidade de destruir o outro mandando à favas todas as
formas de direitos e garantias sociais. Destruir todos esses preguiçosos
corruptos que vivem à sombra do Estado com bolsas famílias e créditos
educativos.
A ironia é que esses espécimes são perdedores na corrida meritocrática:
concurseiros que se mataram em concursos públicos para conseguirem estabilidade
dentro de um Estado tão odiado, pequenos escroques, oportunistas intelectuais e
acadêmicos condenados à própria mediocridade, além de roqueiros esquecidos pelo
mercado.
Ressuscitados por uma grande mídia ávida por novos personagens que deem
sustentação às suas pautas, sentem na nova atmosfera a chance de vingar no
outro a dureza com que tratam a si mesmos.
Fora de suas tocas onde se mantiveram hibernos, hoje esperam uma
tradução política para, mais uma vez na História, ocuparem o Estado.
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"Samorost 3": gnosticismo em um jogo eletrônico, por Claudio Siqueira
sexta-feira, abril 08, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Vamos falar de um game saído do forno há poucos dias. Oriunda da
República Checa, a equipe Amanita Design brindou o mundo com seus
Point-and-Click Games no estilo Adventure, divulgando produtos e serviços
através de um processo conhecido como “Gameficação”, utilizando-se da
ferramenta para fins de publicidade. Como não poderia deixar de ser, o game é
repleto de influências gnósticas embora os próprios criadores talvez não se
deem conta disso. Prova de que o Inconsciente Coletivo reverbera em toda a
esfera terrestre.
terça-feira, abril 05, 2016
Na exposição "Mondrian e o Movimento De Stijl" o irônico final das vanguardas modernas
terça-feira, abril 05, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
De repente, pessoas pareciam esquecer de Mondrian e passavam a
fotografar os detalhes “art noveau” do histórico prédio do Centro Cultural
Banco do Brasil, Centro de São Paulo. Esse foi um comportamento recorrente
observado por esse humilde blogueiro na exposição Mondrian e o Movimento De
Stijl. Para além da ironia de uma exposição sobre uma radical escola de
vanguarda moderna acontecer no interior de um prédio cujo estilo seria a
síntese de tudo que o Manifesto De Stijl mais odiava, o comportamento de muitos
visitantes pode ser o sintoma do também irônico destino da arte de Mondrian:
inspirado na arte iniciática e esotérica da Teosofia, suas linhas retas e cores
chapadas procuravam a paz espiritual. Mas tornou-se conservador e
artisticamente estéril ao se tornar a base de toda estética da cultura de
massas e publicidade. Da arte e design revolucionários que prometiam que um dia
viveríamos todos no interior de um quadro de Mondrian, hoje vemos crianças em
quartos cenográficos com alusões à animação “Carros” da Disney/Pixar.
segunda-feira, abril 04, 2016
Agora para a Globo é matar ou morrer
segunda-feira, abril 04, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Depois de servir como um substituto midiático a uma incompetente
oposição parlamentar, agora a Globo parte para o desespero: matar ou morrer,
isto é, ou o sucesso do impeachment que lhe garanta sobrevivência num mundo de
hegemonia dos dispositivos de convergência tecnológica ou ser engolida pelo Google. Desde
que a presidenta Dilma apareceu nas mídias dentro de uma carro automático do
Google controlado por GPS no ano passado, a Globo radicalizou contra um governo
que promete favorecer seus adversários tecnológicos e comerciais - Facebook e Google. Nem que seja
ao custo de perder anunciantes, cada vez mais preocupados com a crescente
rejeição ao Grupo Globo estampado em redes sociais e manifestações de rua. Mas
a Globo vive um cenário complexo: está entre a “guerra híbrida” produzida pela
estratégia geopolítica dos EUA para esfacelar os BRICS e a inevitabilidade do
fim do tradicional perfil de publicidade com a entrada do Google com tudo no
País.
sábado, abril 02, 2016
Em "O Predestinado" somos todos prisioneiros dos paradoxos do Tempo
sábado, abril 02, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A noção de Tempo não passa de uma convenção lógica criada pelo homem
para organizar os eventos da sua existência. Por isso, guarda uma série de
paradoxos, assim como os sistemas lógicos matemáticos, mostrando seus limites e
insuficiências. O filme australiano “O Predestinado” (Predestination, 2014)
trata de um desses paradoxos: o paradoxo da predestinação – passado, presente e
futuro não se sucedem mas coexistem e se interagem, condenando-nos à condição
de prisioneiros em espécies de armadilhas temporais. Ciclos viciosos cuja única
fuga é através da condição existencial de estranhamento, alienação e investigação
paranoica. A condição de sermos como Detetives e Estrangeiros para escaparmos
dessas armadilhas. Assim como certa vez o matemático Alfred Tarski resolveu o
célebre Paradoxo do Mentiroso de Epiménides. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
segunda-feira, março 28, 2016
Em "O Cérebro Que Não Queria Morrer" o pesadelo da ciência tecnognóstica
segunda-feira, março 28, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um filme que assombrou a infância desse humilde blogueiro. Assistido
décadas depois, o filme de terror sci fi “O Cérebro Que Não Queria Morrer” (The
Brain That Wouldn’t Die, 1962) comprova ser uma verdadeira cápsula do tempo: mostra uma
Hollywood onde a herança cultural europeia ainda estava presente na crítica
à ética do progresso científico – a consciência ou “alma” não se localiza
exclusivamente no cérebro (ecos da psicologia Gestalt e da Fenomenologia), o
que torna a experiência do protagonista (o transplante da cabeça de sua noiva)
moralmente abominável. Bem diferente da atualidade, onde a agenda tecnognóstica
na Ciência crê numa consciência descorporificada que poderia ser traduzida
em bytes e aspirar à eternidade.
domingo, março 27, 2016
Curta da Semana: "This House Has People In It" - o terror em transmídia
domingo, março 27, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Esse curta tornou-se viral e muitos internautas tentam desvendar o
mistério que envolve o destino daquela família. “This House Has People In It” é
um curta assustador que aponta para o futuro do gênero terror: as narrativas
transmídias onde os espectadores participam de forma imersiva em um ARG –
Alternate Reality Game. Um site de uma suposta empresa que comercializa vídeos
de vigilância e um misterioso vídeo de um escultor em argila disponível no
YouTube são as pistas para que cada usuário monte sua narrativa e crie
hipóteses para o que aconteceu naquela casa onde todos pareciam estar
preparando uma inocente festa de aniversário.
O gênero “found footage” encontra-se com o tema “drama familiar”,
argumento que vem fascinando os cineastas nos últimos anos.
sábado, março 26, 2016
Em "Closer To God" o mito de Frankenstein enfrenta a Ciência, Mídia e Religião
sábado, março 26, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Como o clássico terror gótico “Frankenstein” seria contado no século
XXI? Certamente o cientista teria a sua disposição a clonagem e contra ele o
sensacionalismo midiático alimentando uma turba enfurecida de fundamentalistas
religiosos pregando o fim da Ciência e uma nova Idade Média. Esse é o terror
independente “Closer To God” (2014) de Billy Senese, onde vemos o drama de um
geneticista criador do primeiro clone humano e que terá que enfrentar uma
extensa cobertura midiática que o transforma em alvo de diversos grupos
religiosos radicais e violentos. Um filme que evita os clichês hollywoodianos
do “cientista louco” e do maniqueísmo “Ciência versus Religião”. Todos os lados
(Ciência, Mídia e Religião) têm suas mazelas e culpas. E o único ser próximo de
Deus é a pequena Elizabeth, o bebê clone inocente de toda a tragédia ao redor. Filme sugerido pelo nosso leitor Antonio Oliveira.
terça-feira, março 22, 2016
Agenda Hollywood e os super-heróis: ingovernabilidade para o mundo
terça-feira, março 22, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Numa manhã de domingo de 2001 Karl Rove, Vice-Chefe da Casa Civil do
presidente Bush, reuniu-se em Beverly Hills com os chefões de Hollywood. Era o
início da criação da “Agenda Hollywood” para esse século – mais uma vez, a
indústria do entretenimento norte-americana era convocada a servir de braço político para o jogo
geopolítico mundial. Na época, o terrorismo da Al Qaeda. Hoje, as várias
“primaveras”, árabe e brasileira, e o xadrez político jogado contra os países
que compõem os BRICS. Sincronicamente quando a Agenda Hollywood intensifica a
presença das franquias de super-heróis nas telonas, as diversas “primaveras”
(manifestações e protestos em diversos países) são tomadas por bizarros
adereços do super-heróis do cinema como metáforas de solução para crises
políticas nacionais. Com isso, a Agenda Hollywood avança da simples propaganda
para o “neurocinema”: moldar a percepção de que problemas podem ser resolvidos
através da amoralidade dos super-heróis. A palavra-chave do jogo é indução à
ingovernabilidade em países emergentes, como o Brasil.
domingo, março 20, 2016
Em "Boneca Inflável" somos tão vazios quanto uma boneca de sex shop
domingo, março 20, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Uma fábula moderna inspirada em um mangá, onde é feita uma releitura de
Pinóquio com um toque erótico: uma boneca inflável de sex shop
inexplicavelmente ganha vida, ganha as ruas e procura entender o que nos define
como humanos. Mas tudo que descobre é que nós somos tão vazios espiritualmente
como uma boneca é vazia fisicamente. O filme “Boneca Inflável” (“Kûki Ningyô”,
2009) de Hirokazu Koreeda baseia-se em um específico problema sócio-cultural japonês (o
“kodokushi”, morte solitária), mas sua reflexão sobre a solidão urbana,
inércia, sonhos derrotados e a perda da inocência de uma boneca erótica aspira
a um tema bem universal: o fetichismo dos produtos e serviços.
Ao longo do século XX a sociedade japonesa conseguiu combinar muitos
hábitos e instituições feudais com o moderno dinamismo cultural e econômico do
Capitalismo Tardio. Mas com um preço alto: fragilização dos laços familiares e
uma conduta de boa parte da sociedade japonesa de evitar qualquer tipo de
situação que possa incomodar outra pessoa. Chamam essa atitude de “meiwaku”.
sábado, março 19, 2016
Curta da Semana: "Bright Future My Love" - o amor em uma distopia gnóstica
sábado, março 19, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Da Sérvia vem esse enigmático curta distopico sobre uma mulher que tenta
despertar através do amor um homem vazio de espírito e consciência num mundo que lembra "1984" de George Orwell. Mas o Big Brother não é mais um Estado opressor, mas telas de TV que
exibem mensagens de publicidade e propaganda que mantém todos isolados e sós
numa rotina de trabalho sem sentido. Os mitos gnósticos da Queda e de Sophia encontram-se em um mundo sombrio filmado em preto e branco. É o curta “Bright Future My Love” (2014) de Marko
Zunic, um profissional de engenharia da informação de Belgrado que parece ter
transformado o hobby de fazer curtas-metragens em uma expressão fílmica da
distopia do mundo corporativo.
sexta-feira, março 18, 2016
De anti-Collor a anti-Dilma: 24 anos depois midiatização e neomoralismo
sexta-feira, março 18, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Depois de pouco mais de duas décadas o País está às voltas com
manifestações de apoio ao impeachment de um presidente da República. As
manifestações do último domingo na Avenida Paulista, em São Paulo, foram
consideradas “sem precedentes”, tanto em número de participantes quanto à
infraestrutura formada por trios elétricos, canhões de luzes, áreas VIP e todo
um aparato voltado para o “ethos” de um perfil sócio-econômico acostumado a
serviços e hábitos de consumo de alto nível. Pesquisas como a do Datafolha confirmaram
isso. É importante comparar por dentro, nas ruas, as manifestações anti-Collor
de 1992 e a atual anti-Dilma em aspectos como atmosfera, comportamento, marcas
geracionais, signos de consumo etc. Essa comparação pode revelar as profundas
mudanças na opinião pública brasileira – midiatização, neomoralismo e a
ascensão do “cinismo esclarecido”.
Vinte quatro anos depois surgem nas ruas do País manifestações de apoio
a um impeachment de um presidente da República. Esse humilde blogueiro tem
idade suficiente para ter vivido essas duas épocas: das manifestações marcadas
pelo protagonismo dos jovens chamados “caras-pintadas” em 1992 aos protestos
atuais cercado de toda uma parafernália de adereços e fantasias como patos
amarelos gigantes, bonecos infláveis “pixulecos” e Dilma presidiária chagando a
grupos vestidos de Batman e toda a sorte de super-heróis.
domingo, março 13, 2016
Comercial de lavadora reforça estereótipos da empregada doméstica da classe média
domingo, março 13, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Toda obra audiovisual é um sintoma de cada época. E algumas vezes esse
sintoma é um ato falho, como na atual série de comerciais para a TV da Lavadora
Black Panasonic onde o pensamento ecologicamente correto e tecnologia
sustentável convivem confortavelmente com uma remanescência das relações entre Casa
Grande e Senzala da época da escravidão brasileira: a figura da empregada
doméstica uniformizada. A modelo/apresentadora Fernanda Lima aparece andando na
área de serviço contracenando com uma alegre empregada que dança imitando os movimentos da máquina, em diversas situações que sugerem o estereótipo
de segregação do imaginário das classes médias. Os sofisticados
eletrodomésticos do século XXI tornam o cotidiano mais prático, o que
dispensaria a necessidade de uma “assistente do lar”. Mas ela permanece,
uniformizada, como signo da permanência da distinção de classes.
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