domingo, maio 01, 2016

Curta da Semana: "Wrapped" - Pós-moderno e Hermetismo em outra destruição de Nova York


A destruição de Nova York  já se transformou em um verdadeiro arquétipo contemporâneo depois de pouco menos de um século com filmes onde vemos monstros, terroristas, cometas e marcianos tirando a “Big Apple” do mapa. Por isso, de Hollywood esse tema recorrente espalha-se para o mundo, tornando-se também uma fixação global. Uma evidência é o curta alemão “Wrapped” (2015) realizado por estudantes de cinema de Ludwigsburg usando efeitos em time-lapsed e CGI: um pequeno rato morre em uma rua da cidade, espalhando uma espécie vegetal viral (heras mutantes) que se espalha engolfando prédios, ruas e carros. Mas suas lindas flores guardam uma ameaça. Wrapped combina pós-modernidade com hermetismo gnóstico – de um lado a figura da monstruosidade viral; e do outro a narrativa em loop que sugere o princípio hermético da correspondência: “tal como em cima é abaixo”.

Quantas vezes Hollywood destruiu Nova York no cinema? Monstros, epidemias, terroristas... Essa obsessão da indústria cinematográfica dos EUA em colocar a chamada Big Apple em constantes situações apocalípticas e pós-apocalípticas já foi tema de postagem do Cinegnose para entender o porquê desse fenômeno cultural – clique aqui.

Essa obsessão já ultrapassou as fronteiras daquele país, como podemos perceber nos atentado às torres gêmeas do WTC em 2001 onde terroristas islâmicos parecem simplesmente ter colocado em prática uma situação tantas vezes encenada por Hollywood.

Agora esse verdadeiro arquétipo contemporâneo manifesta-se na Alemanha: um trio de estudantes de cinema da Film Academy Baden-Württemberg (Roman Kaelin, Falko Peaper e Florian Wittman) produziram o curta Wrapped onde mais uma vez Nova York é devastada, desta vez a partir da morte de um pequeno camundongo em um meio fio qualquer da cidade. Algo penetrou na corrente sanguínea do rato que será o gatilho para a disseminação de espécies de plantas trepadeiras mutantes (heras - hedera helix) que envolverão ruas, carros e prédios até dominar toda a cidade.

Combinando efeitos em time-lapsed e animação em CGI, além de um impecável design de áudio, Wrapped procura a princípio explorar o que aconteceria quando forças inesperadas da natureza colidissem com as estruturas existentes na nossa civilização.


E com uma intrigante narrativa em loop onde parece explorar os efeitos do tempo e da mudança em mundos cujos ciclos parecem não ter fim.

Wrapped também atualiza a forma de destruição: não temos mais monstros, terroristas ou algum tipo de catástrofe climática ou cósmica – as formas clássicas do mal e da monstruosidade: o disforme, o mau e o feio. Nesse paradigma clássico, a monstruosidade tem uma forma e causa aparente ou, pelo menos, por ser descoberta.

Monstruosidade Pós-Moderna


O curta adota a monstruosidade pós-moderna – a disformidade é substituída pela informidade e a sua manifestação virótica por excelência: a contaminação viral no sangue de um rato inicia um processo exponencial onde poderosas plantas trepadeiras envolvem estruturas de prédios e ruas. Há um suspensão morfológica: o mal assume a forma do hospedeiro para, então, destruí-lo.

Outra característica dessa monstruosidade pós-moderna é a ausência de qualquer julgamento moral: as plantas são apenas manifestações viróticas, exemplar de eficiência evolutiva e adaptação ao meio ambiente. Ao contrário da monstruosidade ou maldade clássicas, essas plantas viróticas são inimputáveis de qualquer julgamento moral.


Ao contrário dos tentáculos dos tripods marcianos do filme Guerra dos Mundos serem a manifestação da maldade (o imperialismo marciano que quer exterminar os humanos), em Wrapped as raízes que se ramificam como tentáculos envolvendo os prédios de Nova York são fascinantes modelos de evolução e adaptação.

Lei da Correspondência


Mas apesar de pós-moderno, curta Wrapped traz em sua narrativa em loop o antigo simbolismo hermético da lei das correspondências e analogias: “tal como em cima é abaixo”.

 Como o leitor perceberá, o curta sugere um cosmos gnóstico onde uma série de mundo se interpenetram e coexistem. Ou como o ocultista e fundador do gnosticismo samaeliano Samael Aun Weor (1917-1977) falava que o nosso organismo planetário conteria “nove céus” correlacionando-se inteligentemente com outros mundos nas “nove zonas profundas do planeta Terra”. Somas e restos de dimensões que se penetram e compenetram mutuamente sem se confundir.

Esse parece ser o simbolismo hermético presente em todas as narrativas em loop como em filmes O Triângulo do Medo, Donnie Darko, O Predestinado, Os 12 Macacos etc – o final cria o paradoxo temporal de terminar sendo a sequência causal que dá início à narrativa.


Mas em Wrapped esse paradoxo é resolvido do simbolismo hermético da correspondência: mundos se interpenetram onde o nível superior corresponde ao inferior.

Resta saber se em uma hipotética continuação de Wrapped, as heras mutantes levariam outros mundos para o mesmo final em uma infernal repetição. Ou poderíamos adotar a estratégia do filme O Feitiço do Tempo (1993) onde pequenas mudanças em cada repetição do mesmo dia conseguiu tirar o protagonista Bill Murray da cilada temporal.


De qualquer forma, o sombrio final do curta assume um gosto bem gnóstico: um cosmos onde os sucessivos mundos ou “céus” estão prisioneiros em um gigantesco eterno retorno.


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