domingo, maio 08, 2016

Curta da Semana: "The Controller" - o recorrente simbolismo de Sophia no cinema


A anime japonesa “Akira” se encontra com o sci-fi norte-americano “Tron”. É o curta “The Controller” (2013) onde uma gigantesca corporação mantém prisioneira uma jovem com grandes poderes psíquicos. Se ela escapar, o mundo poderá virar de cabeça para baixo. Ficções científicas com protagonistas femininas dotadas de poderes psíquicos e que ameaçam poderosos é um tema recorrente no cinema atual. Todos esses filmes parecem se inspirar no arquétipo gnóstico de Sophia – aquela que simboliza simultaneamente o aspecto feminino de Deus e a alma humana. 

             O que acontece quando Akira se encontra com Tron? O resultado é esse curta-conceito chamado The Controller (2013) escrito e dirigido pelo iraniano Saman Kesh cujos direitos já foram adquiridos pelos estúdios da Fox visando a produção de um longa metragem.

Essa é uma tendência no mundo dos curta atuais: a produção do chamado “curta-conceito”, uma espécie de episódio-piloto onde o diretor mostre do que é capaz (mostrar que o diretor tem bom gancho para uma história e competência visual)  para chamar a atenção dos grandes estúdios e conseguir engatar uma franquia lucrativa.

“Eles dizem que se eu escapar, o mundo vai ficar de cabeça para baixo”, diz a protagonista prisioneira em um gigantesco prédio de uma sinistra corporação em New Taipé, Taiwan. Ela tem enormes poderes psíquicos que interessam essa corporação que, de alguma maneira, querem usá-los para controle social.

Nesse estranho futuro distópico e asséptico,  a garota arquiteta uma forma de escapar: com seus poderes assume o controle físico do seu namorado transformando-o em uma espécie de terminal com um capacete no estilo Daft Punk conectado a uma interface gráfica. Uma história de amor envolta com sangue e violência.


A garota dirige seu namorado através de um labirinto de cubículos no interior dos escritórios da corporação, com impressionantes efeitos de movimentos de câmera que lembram as lutas coreografadas de Matrix.

Uma garota com poderes psíquicos prisioneira que, caso escape, virará o mundo do avesso? Hummm! Isso lembra o simbolismo gnóstico de Sophia.

Na mitologia gnóstica, Sophia (na tradição gnóstica simboliza simultaneamente o aspecto feminino de Deus e a alma humana) foi um “aeon” que foi a responsável pela transição do imaterial para o material, do numenal ao sensível, causado por uma falha – uma paixão que produziu um filho ( o Demiurgo, Yaldabaoth, o “filho do caos”).

Sophia decai prisioneira no mundo material conseguindo infundir alguma fagulha espiritual no cosmos físico produzido pelo Demiurgo. Inconsciente da existência de Sophia, o Demiurgo acredita ser a única divindade existente e que o mundo físico existe apenas pela sua vontade. Porém, sua criação não passa de formas etérias vazias. O dinamismo, vitalidade e sentido é dado pela luz espiritual infundida por Sophia nesse cosmos.


Sophia consegue ascender de volta ao Pleroma. Porém, observa os homens (inconscientemente portadores dessa fagulha de Luz) e deseja que eles alcancem a gnose, se libertem do mundo físico e alcancem o mundo espiritual.

A combinação no cinema entre protagonistas femininos, ficção científica e poderes psíquicos é recorrente (Sense8, Lucy etc.) é remete sempre a esse arquétipo gnóstico de Sophia: mulheres com poderes especiais, prisioneiras de alguém muito poderoso (demiurgos como corporações, mafiosos ou governos totalitários) que quer manter seus poderes sob controle pois, caso contrario, subverterá toda a ordem – ou como a protagonista adverte no curta “o mundo vai ficar de cabeça para baixo”.

O conceito da metrópole futurística do curta é intrigante e inovador: nada das distopias com mundos escuros e ruínas pós-apocalipse. Aqui há uma espécie de hiper-assepsia: tudo muito clean, claro, liso e brilhante. E todos os membros da corporação com máscaras cirúrgicas com ideogramas e símbolos de proibição e censura.


De qualquer forma é um bom vídeo para começar uma semana de trabalho com aquela sequência de lutas entre as baias do escritório corporativo. Quem não quer virar tudo de cabeça para baixo e mandar os chefes às favas?

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