A anime japonesa “Akira” se encontra
com o sci-fi norte-americano “Tron”. É o curta “The Controller” (2013) onde uma
gigantesca corporação mantém prisioneira uma jovem com grandes poderes
psíquicos. Se ela escapar, o mundo poderá virar de cabeça para baixo. Ficções
científicas com protagonistas femininas dotadas de poderes psíquicos e que
ameaçam poderosos é um tema recorrente no cinema atual. Todos esses filmes
parecem se inspirar no arquétipo gnóstico de Sophia – aquela que simboliza
simultaneamente o aspecto feminino de Deus e a alma humana.
O que acontece quando Akira se encontra com Tron? O resultado é esse curta-conceito chamado The Controller (2013) escrito e dirigido pelo iraniano Saman Kesh cujos direitos já foram adquiridos pelos estúdios da Fox visando a produção de um longa metragem.
Essa é uma tendência no mundo dos curta atuais: a
produção do chamado “curta-conceito”, uma espécie de episódio-piloto onde o
diretor mostre do que é capaz (mostrar que o diretor tem bom gancho para uma
história e competência visual) para
chamar a atenção dos grandes estúdios e conseguir engatar uma franquia
lucrativa.
“Eles dizem que se eu escapar, o mundo vai ficar de
cabeça para baixo”, diz a protagonista prisioneira em um gigantesco prédio de
uma sinistra corporação em New Taipé, Taiwan. Ela tem enormes poderes psíquicos
que interessam essa corporação que, de alguma maneira, querem usá-los para
controle social.
Nesse estranho futuro distópico e asséptico, a garota arquiteta uma forma de escapar: com
seus poderes assume o controle físico do seu namorado transformando-o em uma
espécie de terminal com um capacete no estilo Daft Punk conectado a uma
interface gráfica. Uma história de amor envolta com sangue e violência.
A garota dirige seu namorado através de um labirinto
de cubículos no interior dos escritórios da corporação, com impressionantes
efeitos de movimentos de câmera que lembram as lutas coreografadas de Matrix.
Uma garota com poderes psíquicos prisioneira que,
caso escape, virará o mundo do avesso? Hummm! Isso lembra o simbolismo gnóstico
de Sophia.
Na mitologia gnóstica,
Sophia (na tradição gnóstica simboliza simultaneamente o aspecto feminino de
Deus e a alma humana) foi um “aeon” que foi a responsável pela transição do
imaterial para o material, do numenal ao sensível, causado por uma falha – uma
paixão que produziu um filho ( o Demiurgo, Yaldabaoth, o “filho do caos”).
Sophia decai prisioneira
no mundo material conseguindo infundir alguma fagulha espiritual no cosmos
físico produzido pelo Demiurgo. Inconsciente da existência de Sophia, o
Demiurgo acredita ser a única divindade existente e que o mundo físico existe
apenas pela sua vontade. Porém, sua criação não passa de formas etérias vazias.
O dinamismo, vitalidade e sentido é dado pela luz espiritual infundida por
Sophia nesse cosmos.
Sophia consegue
ascender de volta ao Pleroma. Porém, observa os homens (inconscientemente
portadores dessa fagulha de Luz) e deseja que eles alcancem a gnose, se
libertem do mundo físico e alcancem o mundo espiritual.
A combinação no cinema
entre protagonistas femininos, ficção científica e poderes psíquicos é
recorrente (Sense8, Lucy etc.) é
remete sempre a esse arquétipo gnóstico de Sophia: mulheres com poderes
especiais, prisioneiras de alguém muito poderoso (demiurgos como corporações,
mafiosos ou governos totalitários) que quer manter seus poderes sob controle
pois, caso contrario, subverterá toda a ordem – ou como a protagonista adverte
no curta “o mundo vai ficar de cabeça para baixo”.
O conceito da
metrópole futurística do curta é intrigante e inovador: nada das distopias com
mundos escuros e ruínas pós-apocalipse. Aqui há uma espécie de hiper-assepsia:
tudo muito clean, claro, liso e brilhante. E todos os membros da corporação com
máscaras cirúrgicas com ideogramas e símbolos de proibição e censura.
De qualquer forma é um
bom vídeo para começar uma semana de trabalho com aquela sequência de lutas
entre as baias do escritório corporativo. Quem não quer virar tudo de cabeça
para baixo e mandar os chefes às favas?