sábado, janeiro 27, 2018
O destino de Lula e a "Síndrome de Brian" da esquerda
sábado, janeiro 27, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
No
momento que o destino de Lula era selado pelo TRF-4, sincronismos e
coincidências cercavam o evento: o “Dia D” da vacinação contra a febre amarela,
o “beijo incestuoso” do BBB da Globo e o estranho jornalismo paranormal da
grande mídia, capaz de antecipar resultados de votação (assim como a Globo “previu”
o sorteio do mando de campo da final da Copa do Brasil em 2016) e detalhes da
prisão de Lula. Enquanto isso, embargos declaratórios, infringentes e recursos
povoam as estratégias da executiva do PT, que vive uma crônica “Síndrome de
Brian” – relativo ao filme “A Vida de Brian” (1979) da trupe inglesa de humor
Monty Python: a estratégia paralisante da “Frente Popular da Judéia” contra o
imperialismo romano, mais preocupada em fazer propaganda auto-indulgente do que
enfrentar o oponente em seu próprio território: a psicologia de massas. Por
incrível que pareça, Kim Kataguiri e a cena em que o porta-voz da indústria de
tabaco, Nick Naylor, convence seu filho de que o sorvete de baunilha é melhor
que o de chocolate no filme “Obrigado Por Fumar”(2005) têm mais lições a ensinar
do que o discurso sobre “resistência”, “indignação” e “esperança” da esquerda.
E parece que a filósofa Marcia Tiburi foi a primeira a perceber a armadilha na
qual a esquerda está metida. Pauta sugerida pelo nosso leitor José Carlos Lima.
quinta-feira, janeiro 25, 2018
Morre Mark E. Smith, a Dialética Negativa do rock
quinta-feira, janeiro 25, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Para
muitos foi um compositor e vocalista que mudou tudo o que se pensava sobre
palavras e linguagens. Capaz de produzir um efeito sísmico sobre o poder da
música e as possibilidades do som, demonstrando que o rock poderia vir de algum
lugar mais profundo e escuro. Muito além do entretenimento. Morreu aos 60 anos
Mark E. Smith, líder do “The Fall”, banda que por 40 anos resistiu a todos os
tipos de rótulos da indústria do entretenimento. Embora solidamente enraizado
no punk das cidades industriais inglesas dos anos 1970, o prolífico compositor
de 32 álbuns Mark E. Smith conseguiu produzir uma música atemporal, cujas
composições referenciam nomes como Camus, Philip K. Dick, HP Lovercraft e
Edgard Alan Poe, criando uma atmosfera de pesadelo sci-fi. Assim como B.B. King
esteve para o blues, Mark Smith também esteve para o rock: criar na música
aquilo que Theodor Adorno chamava de “dialética negativa” – a recusa de conciliação com esse mundo. Ao invés
de síntese, criar o antagonismo radical: manter para sempre na música a memória
da rudeza da vida nas notas atonais, nas composições obscuras e cheias de
hipérboles ao estilo da escrita de Charles Bukowski.
terça-feira, janeiro 23, 2018
Em ano eleitoral Globo aciona a "Máquina de Narciso"
terça-feira, janeiro 23, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Uma
doutora e professora da Pós-graduação em Ciência Política da UFMG no BBB 2018.
Enquanto isso, pacientemente repórteres da Globo ensinam telespectadores a
gravarem vídeos com celulares para enviar depoimentos que respondam a pergunta:
“Que Brasil você quer para o futuro?” em exíguos 15 segundos. São dois lados de
um mesmo processo brasileiro detectado nos anos 1980, quando um jovem engraxate
da favela da Rocinha respondeu à pergunta “O que você quer ver na TV?”. “EU!”,
respondeu o jovem diante de um pesquisador perplexo. Nesse momento, a Globo
coloca em funcionamento a chamada “máquina de Narciso”: no momento em que o ano
eleitoral aponta para o acirramento da crise social e econômica, anomia e caos,
a mínima forma de uma coesão social é através das imagens. O final
do projeto midiático de substituir todas as formas políticas de mediação (a
representação, o voto, o partido, o sindicato etc.) pelos próprios meios de
comunicação – Berlusconi, Trump, Doria Jr. e o aspirante Luciano Huck seriam o
aspecto mais visível disso. Sem esperanças na Política e na Economia, restaria
a última boia salva-vidas oferecida pela mídia no mar da crise: a do ego mínimo
promovido a Narciso.
quinta-feira, janeiro 18, 2018
Em "La Casa de Papel" ladrões roubam o bem mais importante: o Tempo
quinta-feira, janeiro 18, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Diante de
toda uma geração que vive sob o impacto do desemprego e da perda de direitos sociais
desde o crash financeiro internacional de 2008, a Espanha vem produzindo uma série de filmes
que pensa essa condição. O mais recente é a série para TV “La Casa de Papel”
(2017-), disponível no Netflix, que reflete a perplexidade de todos diante da
natureza dessa crise: como conformar-se com bancos, agentes financeiros e
especuladores capazes de fabricar, sem limites, o próprio dinheiro enquanto o
restante da sociedade sofre as consequências? Um grupo de ladrões trajando
macacões vermelhos e com máscaras do Salvador Dalí invade a Casa da Moeda da
Espanha, liderado por alguém cujo codinome é “Professor”. Eles não vieram
roubar, mas fabricar seu próprio dinheiro com a ajuda dos próprios reféns. Mas
o “Professor” terá que roubar um bem menos tangível e muito mais importante:
roubar o tempo do Governo, da Polícia e da grande mídia. Quais as conexões
entre um sistema monetário-financeiro sem lastro e o controle do Tempo?
domingo, janeiro 14, 2018
Após 200 anos, "Frankenstein" continua o Prometeu acorrentado
domingo, janeiro 14, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Nesse
mês comemoram-se os 200 anos da primeira edição impressa em janeiro de 1818 do
romance de Mary Shelley “Frankenstein ou o Prometeu Moderno”, cujo impacto na
cultura moderna começou com as primeiras adaptações ao teatro. Mas o filme
“Frankenstein” de 1931, com as correntes galvânicas, trovões, um cientista
louco gritando “Está vivo!” e a icônica maquiagem de Boris Karloff,
definitivamente consolidaram o personagem e suas variações (zumbis, autômatos,
replicantes etc.) na cultura popular.
Porém, nesses dois séculos as adaptações do livro clássico
invariavelmente giraram em torno da crítica à arrogância humana e científica do
homem querer se equiparar a Deus. E a punição e sofrimento, assim como no mito
de Prometeu acorrentado e punido pelos deuses. Por isso, ainda o cinema deve uma
adaptação fiel ao imaginário romântico de “Frankenstein”: a criatura como um
Prometeu desacorrentado que sintetizou o espírito revolucionário do Romantismo:
a rejeição tanto do cristianismo quanto do materialismo iluminista através do
sincretismo da ciência com o terreno espiritual - Alquimia, Cabala e
Gnosticismo. Pauta sugerida pelo nosso leitor Eduardo G.
quarta-feira, janeiro 10, 2018
Luciano Huck: da vulgaridade regada a funk e pagode à "grande esperança branca"
quarta-feira, janeiro 10, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O
ex-cineasta e jornalista Arnaldo Jabor chamava-o de “fazendeiro de bundas” no
final dos anos 1990. Naquele momento, a elite bem-pensante de um país cujo
presidente era um sociólogo e doutor pela Sorbonne via-o como um personagem do nível de apresentadores como Gugu ou Ratinho. Produto da “revolução da
vulgaridade regada a funk e pagode”. Mas os tempos mudaram. Agora Luciano Huck
é a “grande esperança branca” depois de muitas idas e vindas – subliminarmente
lançou sua candidatura no “Domingão do Faustão” ao negar ser “o salvador da
pátria” e acrescentar: “não sei o que vai ser a minha vida”, ao lado da
candidata a primeira-dama Angélica. Como sempre, o “wishful thinking” das
esquerdas considera tudo uma “manobra desesperada dos golpistas”. Mas o golpe
não chegou até aqui, com um tic-tac milimetricamente calculado e eficiente com
o apoio logístico da Guerra Híbrida e do Lawfare do Departamento de Estado dos
EUA, para ver todas as “reformas” perdidas numa eleição democrática. A ocupação
midiática do Estado já superou a antiga visão da “Sociedade do Espetáculo” de
Guy Debord. Agora a grande mídia quer dispensar intermediários para alinhar de
uma vez o Estado ao tempo real midiático-financeiro.
segunda-feira, janeiro 08, 2018
"Paul Virilio - Pensar a Velocidade": o Acidente Integral é o nosso futuro?
segunda-feira, janeiro 08, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Por
décadas o urbanista e pensador francês Paul Virilio, através de inúmeros
ensaios sobre estratégia, tecnologia e estética, nos alerta para o risco do
“Acidente Integral”: o momento em que a velocidade dos sistemas computacionais
automáticos, cujas decisões estão à cargo dos algoritmos, se precipitará
catastroficamente sobre o Tempo, a Sociedade e a História. A ameaça do Bug de
2000 foi o preâmbulo; e o risco probabilístico de que o acelerador de
partículas do CERN produza um buraco negro que trague todo o planeta o seu
principal simbolismo. O documentário “Paul Virilio: Pensar a Velocidade”
(2009), no momento exibido no Brasil pelo canal fechado “Curta!”, narra o pensamento
original do pesquisador francês cuja especialização que criou (a “Dromologia”)
parte de dois pressupostos: primeiro, toda tecnologia surgiu da guerra e, por isso,
irradia o princípio da velocidade como modo de vida. E segundo, toda tecnologia produz o
seu acidente: o trem, o descarrilamento; o avião, o acidente aéreo; o navio, o
naufrágio. Paul Virilio questiona: portanto, qual será o acidente produzido
pela “bomba informática”?
sábado, janeiro 06, 2018
"After Life": após a morte, cinema, memória e esquecimento nos esperam
sábado, janeiro 06, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O filme
japonês “After Life” (Wandafuru Raifu, 1998), de Hirokazu Koreeda, é um ponto
fora da curva das representações do pós-vida no cinema. O filme combina duas
representações que sempre se opuseram: de um lado, a representação do céu como
uma organização hierárquica com porteiros, anjos e tribunais; e do outro o céu
solipsista, como projeção dos nossos sonhos, memórias e desejos. Um grupo de
recém-falecidos chega a um velho prédio, no qual são recebidos por funcionários
que explicam que morreram. Os funcionários são roteiristas e produtores de
cinema. A missão: escolher uma memória a partir da vida de cada um. Para ser
roteirizada e transformada em um filme que reconstitua a cena mais feliz que
cada um levará para toda a Eternidade. Enquanto todo o restante da vida será
esquecido. Uma fábula sobre o tempo, morte e memória. Mas também suscita uma
reflexão sobre um tipo de memória criada a partir dos simulacros da imagem.
sexta-feira, janeiro 05, 2018
Guia para rastrear Fake News cria nova mitologia no Jornalismo
sexta-feira, janeiro 05, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A Abraji
(aquela associação de jornalistas que confunde “jornalismo investigativo” com
“checagem de informação”) divulgou o “Guia para Consumidores de Notícias” do
jornalista norte-americano Bob Garfield com “11 dicas simples para separar o
joio do trigo”. E, claro, o joio são aqueles sites e blogs
suspeitos de Fake News com “muita publicidade, banners e pop-ups”. Bem vindo ao mundo das
“plataformas de fact-checking” que, assim como fazem as próprias notícias falsas, requentam o
prato frio das Fake News, tão velhas quanto a história do jornalismo. Mas para os "checadores", as notícias falsas surgiram só depois de cinco séculos de jornalismo, com
a Internet, para profanar a inocência das vestais da grande imprensa. Fake News
é a nova mitologia publicitária para valorizar o produto notícia mediante a
produção da “escassez” informativa e também um novo selo de controle de
qualidade para "separar o joio do trigo” e manter o monopólio informativo da
grande imprensa. Além de ser mais uma arma da guerra híbrida: uma “plataforma
de fact-checking” para cada país com “eleições, corrupção e crise política”.
quarta-feira, janeiro 03, 2018
Curta da Semana: "5 Films About Technology" - cinco acidentes em nossas bolhas virtuais
quarta-feira, janeiro 03, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Cinco
contos sobre a nossa obsessão pelos smartphones. Cinco pequenas vinhetas
sobre acidentes (físicos, mal entendidos, incontroláveis efeitos virais etc.). Pequenos
momentos que retratam a vida de pessoas normais através de gags sobre efeitos
inesperados das nossas relações com os celulares nos quais cada efeito é rapidamente interligado com o personagem da próxima vinheta. É o
curta de Peter Huang chamado “5 Films About Technology” (2016) que nos permite
fazer uma reflexão sobre dois fundamentos da nossa experiência na modernidade:
a tecnologia e o acidente. Mas principalmente o irônico destino dos dispositivos
móveis: ao invés da comunicação, a incomunicabilidade – bolhas solipsistas que
tornam a realidade um conjunto de impressões sem existência própria. Mas o
acidente está sempre à nossa espera: sempre as bolhas estouram.
sábado, dezembro 30, 2017
Mídia esvazia significado oculto do Ano Novo
sábado, dezembro 30, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Nesse
momento de contagem regressiva para o Ano Novo, cada telejornal e programa de
entretenimento recorre à pauta de sempre: as resoluções para o novo ano e as
simpatias e crendices para o reveillon. Principalmente agora, época em que desempregados
e trabalhadores temporários foram reciclados como “empreendedores” para tentar
elevar o astral da patuleia. Mas tudo isso esconde um significado oculto e
milenar das festividades de final de ano que envolve “Janus” - a divindade indo-europeia ambivalente com duas
caras, uma olhando para o futuro e a outra para o passado. De onde veio
“Janeiro”, cujo primeiro dia do mês na Roma antiga era dedicado a rituais e
sacrifícios ao deus criador das mudanças e transições, como progressão do
passado para o futuro, de uma visão para a outra, de um universo para o outro.
Janus olhava para o futuro, mas também para o passado para lembrar e aprender.
Mas para grande mídia é apenas a comemoração do fim de uma ano velho e a
celebração otimista de um ano supostamente novo. Não olhar para o passado e
repetir os mesmos erros no futuro. Celebrar o esquecimento.
quinta-feira, dezembro 28, 2017
No oitavo aniversário "Cinegnose" atualiza lista com 101 filmes gnósticos
quinta-feira, dezembro 28, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Nesse
mês o “Cinegnose” faz aniversário. Oito anos analisando filmes gnósticos e também os chamados "filmes estranhos" - "weird movies". Procurando mapear, seja nos filmes hollywoodianos, pop ou
no cinema de arte, a presença e evolução dos diversos elementos gnósticos e
simbolismos místicos ou esotéricos associados ao sincretismo do chamado
Gnosticismo Hermético. Também baixamos à terra, onde “Cinegnose” exerceu a
crítica à política da grande mídia e à cultura pop – instrumentos que perpetuam
a ilusão desse mundo. Afinal, esse é o plot central do drama cósmico narrado
pela Cosmogonia gnóstica. Para comemorar esse oitavo aniversário, o “Cinegnose”
atualizou a lista dos filmes que receberam o “Certificado de Filme Gnóstico” do
blog. Agora são 101 filmes, analisados ao longo desses anos. Certamente filmes
diante dos quais não podemos passar indiferentes. Pelo menos, enquanto
estivermos nesse mundo.
segunda-feira, dezembro 25, 2017
Os sinais silenciosos que antecedem um golpe em "The Handmaid's Tale"
segunda-feira, dezembro 25, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Para a
revista “New Yorker”, publicação dos leitores bem pensantes liberais dos EUA, a
série “Handmaid’s Tale” (2017-) é um “distópico conto feminista” da atual era
Trump. Mas enquadrar a produção da plataforma de streaming Hulu nesse clichê é
confirmar aquilo que a própria série alerta: ao qualificar os sinais do
conservadorismo apenas como excrescências religiosas de gente ignorante é mau
informada, reduzimos tudo a uma estranha normalidade, sem percebemos os sinais silenciosos cotidianos que antecedem os golpes políticos. Em “The Handmaid’s Tale” a
América foi dominada por um estado teocrático fundamentalista cristão. Um
desastre ambiental tornou a maioria das mulheres estéreis. As poucas mulheres
férteis foram subjugadas e transformadas em “servas”, reduzidas a aparelhos
reprodutores de uma elite dominante masculina. O Congresso, a Casa Branca e o
Supremo Tribunal foram massacrados e a Constituição foi substituída pela leitura
radical dos versículos da Bíblia.
domingo, dezembro 24, 2017
O espírito do tempo do Natal em "Santa Claus" e "Star Wars Holiday Special"
domingo, dezembro 24, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O que há em comum entre o filme mexicano “Santa Claus” (1959, aka “Santa Claus vs. The Devil”) e “Star Wars Holiday Special” (1978), o especial de Natal da CBS, considerado a pior coisa já feita para a TV? Cada uma dessas produções, na sua época, traduziu o Natal de acordo com o “espírito do tempo”. O primeiro, na esteira do início da corrida espacial e Guerra Fria EUA e URSS. E o segundo, no rastro do sucesso do filme de 1977, já antevendo o computador pessoal e compras e comunicação através da Internet. Contextos tecnológicos e políticos diferentes que criaram, cada um no seu tempo, formas diferentes de interpretar os simbolismos natalinos: o primeiro, global; o segundo, cósmico. Mas os destinos das produções foram diferentes: “Santa Claus” foi um dos filmes natalinos mais reprisados da TV norte americana; enquanto “Star Wars Holiday Special” foi renegado pelos atores, fãs e pelo próprio George Lucas: “eu queria apenas tempo e um martelo para destruir cada cópia”, lamentou.
quinta-feira, dezembro 21, 2017
Globo faz mais três "Contos Maravilhosos" para Natal do mérito-empreendedor
quinta-feira, dezembro 21, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Olhe
sempre para o lado brilhante da vida”, cantava um condenado à morte pelos
romanos, na cruz, no filme “A Vida de Brian” do grupo inglês de humor Monty
Python. Diante de uma realidade birrenta e teimosa que insiste em contradizer a
pauta da “retomada do crescimento econômico”, a mídia corporativa faz como Eric
Idle cantando naquele filme: tenta transformar más notícias em positivos “Contos
Maravilhosos”, conceito dos estudos de narratologia do
pesquisador Vladimir Propp – contos mágicos de perda e recompensa. Para tentar
elevar o astral da patuleia, agora convertida em mérito-empreendedores, a Globo
criou mais três edificantes contos para as festas de fim de ano: os contos
maravilhosos sobre o botijão de gás, o Conto Maravilhoso do resgate dos valores
natalinos e uma novidade – o Meta Conto Maravilhoso da jornalista demitida.
terça-feira, dezembro 19, 2017
Bebês, repolhos e Papai Noel no cruel mundo adulto de "Patch Town"
terça-feira, dezembro 19, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Bebês,
pés de repolhos e Papai Noel numa fábula sobre um mundo adulto que prepara
crianças para o futuro cruel que as espera – a exploração física e psíquica
pelo trabalho e sociedade de consumo. Um filme que combina a iconografia da era
soviética, folclore europeu oriental, a mitologia gnóstica do demiurgo, Papai
Noel e elfos. Um mundo no qual bebês são recolhidos em campos de repolhos para
serem vendidos como bonecas para crianças de todo o mundo. Para depois serem
recolhidas pelo “Coletor de Crianças”, a memória delas apagada e em seguida
exploradas em uma fábrica que produzirá mais bonecas com bebês presos em seu
interior. Tudo com pitadas de cenas musicais e dança. Este é o estranho filme
canadense “Patch Town” (2014): um cruzamento da estética “dark” de Tim Burton
com as atmosferas opressivas de Terry Gilliam.
sábado, dezembro 16, 2017
Nossas vidas são estradas e escadarias infinitas no filme "El Incidente"
sábado, dezembro 16, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Será que
na realidade somos como pobres hamsters prisioneiros de uma roda que gira
eternamente sem nos darmos conta da nossa terrível situação? Será que repetimos sempre os mesmos gestos,
em um mesmo cenário, sempre com os mesmos efeitos e as mesmas consequências?
Poderia ser essa a definição de loucura: tentar resultados diferentes repetindo
a mesma rotina? Duas estórias paralelas com personagens presos em loops
espaço-tempo eternos – um grupo em uma escadaria e uma família prisioneira em
uma estrada infinita na qual o sol nunca se põe. Esse é o filme mexicano “El
Incidente” (2014) do jovem diretor Isaac Ezban. Uma ambiciosa ficção científica
metafísica que aproxima as geometrias impossíveis de M.C. Escher com o universo conspiratória de Philip K. Dick, procurando aproximar a hipótese da existência dos mundos
paralelos da cosmogonia dos diversos
“céus” dos antigos gnósticos.
Três "Contos Maravilhosos" para novos mérito-empreendedores
sábado, dezembro 16, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Hoje a
grande mídia esforça-se para demonstrar imparcialidade para não se desmoralizar
de vez diante de telespectadores e leitores. Diante da crise econômica crônica e da
tragédia social brasileira, a mídia é obrigada a abandonar o confortável campo
semiótico da dissimulação (simplesmente mentir, omitir ou censurar) para
aplicar a estratégia mais trabalhosa da simulação: tem que mostrar as mazelas
brasileiras. Mas o desafio é transformá-las em “contos maravilhosos” no sentido
dado pelo pesquisador de narratologia, Vladimir Propp – o estudo da estrutura
narrativa recorrente em todos contos de fadas. Agora o jornalismo
corporativo tenta transformar personagens anônimos da tragédia brasileira em
protagonistas de contos de fadas pós-modernos. O “Cinegnose” analisa três contos
maravilhosos midiáticos: o conto “a economia alquímica para as massas”, o conto
do “presépio vivo de uma moradora de rua” e o conto “a virada maravilhosa de um
homem em um economia que cresceu 0,1%”.
quinta-feira, dezembro 14, 2017
Trump inventou a "Meta-False Flag" em explosão de Nova York?
quinta-feira, dezembro 14, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
À
primeira vista a explosão de uma bomba caseira atada ao corpo de
um homem em estação de ônibus e metrô em Nova York parece ser mais do mesmo: um
não-acontecimento (aqueles fatos que são relações públicas de si mesmos) com
timing, ambiguidades, anomalias, a indefectível narrativa do “lobo solitário” etc. E um
homem que se explode “acidentalmente” e sobrevive apresentando um aspecto de um
personagem de desenho animado chamuscado. Mas Donald Trump deu o toque de
novidade: imediatamente após o suposto atentado, um tweet no qual o próprio
presidente sugere que o episódio foi uma “fake news”, atacando os canais CNN e
MSNBC. Uma curiosa “Meta-False Flag”? Por que Trump acusa de “fake news” um
episódio no qual saiu ganhando? Para a grande mídia, o “atentado” foi
retaliação contra o anúncio da transferência da embaixada dos EUA para cidade
santa de Jerusalém. Ou mais um “não-acontecimento”, desta vez com objetivo de desviar a atenção
da opinião pública da derrota norte-americana diante da tática de dissuasão
nuclear da Coréia do Norte?
domingo, dezembro 10, 2017
Curta da Semana: "Where Are They Now?" - uma cilada destruiu Roger e Jessica Rabbit
domingo, dezembro 10, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Onde estão os ícones da animação
dos anos 1980 como He-Man, Roger e Jéssica Rabbit (do filme "Uma Cilada Para Roger Rabbit"), o Esqueleto, Garfield, Popeye,
Mumm-Rá, muito tempo depois do auge? Como seria a realidade das suas vidas
atuais? O animador inglês Steve Cutts (conhecido por narrativas críticas sobre
a vida moderna) os imagina viciados, obesos, compulsivos, desempregados ou
subempregados em call-centers e caixas de supermercados. Esse é o argumento do
pequeno curta “Where Are They Now?” (2014): heróis que perderam a batalha final
contra inimigos mais poderosos do que vilões desse ou do outro mundo: o mundo
corporativo, o trabalho precarizado e o desemprego crônico. E terminaram
esquecidos porque acabaram ficando parecidos demais com os espectadores.
sábado, dezembro 09, 2017
A batalha humana de lembrar e esquecer em "Marjorie Prime"
sábado, dezembro 09, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O que é a memória? Um poço
profundo no qual resgatamos lembranças? Ou apenas lembramos da últimas vez que
lembramos? Cópias de cópias de lembranças cada vez mais inexatas. E se uma
Inteligência Artificial fosse programada com nossas memórias? Seria um poço de
lembranças ou uma máquina que cobre a lacuna das nossas memórias apenas com
simulacros? Esse é o tema de “Marjorie Prime (2017) – num futuro indeterminado
foi introduzido um serviço que permite “ressuscitar” a pessoa amada de forma
holográfica, “primes” programados pelas memórias do usuário e familiares. Mas
essas próteses de memórias não serão nem humanizadas e muito menos pretenderão
nos subjugar. Serão apenas testemunhas passivas da nossa desumanização. Filme sugerido pelo nosso infalível leitor Felipe Resende.
quinta-feira, dezembro 07, 2017
Mídia dilui significado da descoberta de papiro com "ensinamentos secretos" de Jesus
quinta-feira, dezembro 07, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
As
notícias foram dadas como alguma coisa entre Indiana Jones, conspirações do
“Código da Vinci” de Dan Brown ou sobre Jesus convenientemente próximo do
Natal. As notícias sobre a descoberta do manuscrito em grego do “Primeiro Apocalipse de
Tiago” (manuscrito apócrifo gnóstico até então conhecido em linguagem copta da
chamada “Biblioteca de Nag Hammadi”), perdido no acervo da Universidade de
Oxford, foram cercadas por uma mitologia midiática que sempre é acionada para
diluir aquilo que é de mais virulento e revolucionário no Gnosticismo (razão pela qual
foi tão perseguido por toda a História): os conflitos políticos e econômicos como
parte do drama de uma luta cósmica entre o Bem e o Mal, sem superação dialética
ou solução evolutiva. A grande mídia cobriu a descoberta como “religiosa”,
diluindo a potencial ameaça às instituições desse mundo: de que Jesus não
veio para nos “salvar”, mas para nos revelar algo que já existe dentro de nós –
apenas nos fazem esquecer através de ilusões. E a mídia que “noticia” a
descoberta do manuscrito é uma delas.
terça-feira, dezembro 05, 2017
Para a Globo, vingança é um prato que se come... quente!
terça-feira, dezembro 05, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Diz o
ditado, imortalizado no livro “O Chefão”, de Mário Puzzo, na fala de Dom
Corleone: “A vingança é um prato que se come frio”. Mas para a Globo não é bem
assim: deve-se servir bem quente. Ataque e contra-ataque, retaliatório e
vingativo. O candidato à presidência Jair Bolsonaro (criatura que emergiu da lama
psíquica que a Globo remexeu para engrossar o caldo do impeachment) acusou a
emissora de “emplacar o Lula” e ameaçou, “quando chegar lá”, reduzir pela
metade a verba publicitária da emissora. Foi o bastante para de imediato o jornal “O Globo” denunciar, em
letras garrafais, o nepotismo do deputado no Congresso. Mais um episódio que comprova como o jornalismo global
nunca esteve no campo da informação – se isolou num fechado sistema tautista de
autopreservação. Quando vê ameaçado seus interesses logísticos e econômicos (da
política ao futebol), escala seus apresentadores e colunistas para colocar suas
“grifes” como ventríloquos dos “furos” que rapidamente descem da cúpula para o
piso da redação. Chamam isso de “jornalismo investigativo”.
domingo, dezembro 03, 2017
Em "Cosmodrama" Ciência, Religião e Filosofia travam duelo sem rumo
domingo, dezembro 03, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Sete
astronautas, acompanhados por um cachorro e um chipanzé, acordam em uma
espaçonave depois de saírem do estado de criogênico. Nenhum deles sabe o que
está fazendo ali ou qual o destino final da viagem. Aparentemente a nave (um
mix vintage da “Discovery” de “2001” e a “Enterprise” da série de TV “Star
Trek”) está programada para funcionar automaticamente. Eles apenas terão que
confiar na própria capacidade de observação para especular o propósito de tudo
aquilo. Logo descobrirão que cada um é especialista em um área do conhecimento:
Psicologia, Astronomia, Semiótica, Jornalismo, Filosofia, Biologia e Genética.
Esse é o filme francês “Cosmodrama” (2015) de Phillipe Fernandez. Com
delicadeza e humor, através de gags e situações absurdas, introduz o espectador
às grandes especulações cosmológicas sobre o início e o fim do Universo: o Big
Bang, a Eternidade, o design inteligente e o universo holográfico. Ciência,
Religião e Filosofia duelam entre si para entender o propósito da existência.
Porém, o mistério maior permanece: mas afinal, o quê é aquela espaçonave? Com a
colaboração do nosso infalível leitor Felipe Resende.
quinta-feira, novembro 30, 2017
O jogo da simulação de censura Globo/Gabriel Bá
quinta-feira, novembro 30, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Nas
redes sociais indignação. O desenhista Gabriel Bá apareceu no talk show da
Globo “Conversa com Bial” com seu indefectível boné verde – marca registrada do
artista. Só que dessa vez com a estrela vermelha coberta de forma improvisada
com duas fitas isolantes preta. “Evite números ou símbolos para que não haja
associação a marcas ou partidos políticos”, teriam dito os figurinistas nos
camarins. “Censura!”, gritaram internautas. Se foi mesmo censura, como pode a
Globo fazê-la de forma tão tosca e improvisada? O episódio apresenta algumas
dissonâncias que sugerem mais uma estratégia de manipulação. Mas dessa vez não mais no campo
semiótico da “dissimulação” – esconder, mentir, censurar. Mas agora no campo da
“simulação”: propositalmente tornar o evento visível (a suposta “censura”).
Para quê? Para a Globo tentar se livrar de mais um dos seus dilemas: depois de
anos de oposição política explícita explorando símbolos e números de forma até
subliminar, agora, candidamente, tenta demonstrar que possui uma linha
editorial “imparcial”. E o artista, assim como os indignados críticos,
participaram inconscientes desse blefe.
quarta-feira, novembro 29, 2017
"Crumbs": o primeiro sci-fi da Etiópia é sobre o apocalipse ocidental
quarta-feira, novembro 29, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em um mundo pós-apocalíptico, um homem fará uma jornada espiritual em busca do... Papai Noel, para que realize seu sonho de leva-lo para uma espaçonave que está parada no céu. Enquanto isso, sua esposa reza num altar com a foto de Michael Jordan para que divindades como “Justin Bieber IV” e “Paul MacCartney XI” os proteja nessa difícil missão. Esse é o primeiro filme de ficção científica da Etiópia: “Crumbs” (2015) de Miguel Llansó sobre um futuro em que tudo o que restou da antiga civilização foram brinquedos, objetos e detritos de plástico e vinil da extinta cultura pop. Sem terem a memória do mundo anterior ao apocalipse, criaram uma nova mitologia transformando todos esses restos do passado em símbolos místico-religiosos e amuletos de sorte. Toda a bizarrice e surrealismo de “Crumbs” nos faz pensar: assim como eles, será que também mitologizamos símbolos e objetos antigos, criando novas religiões tão loucas quanto as do filme “Crumbs”?
segunda-feira, novembro 27, 2017
Curta da Semana: "Happiness" - quando a felicidade vira ideologia
segunda-feira, novembro 27, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Como
pode ser prometida a felicidade numa sociedade de competição generalizada? Uma
competição tão naturalizada e entranhada cuja narrativa teria seu início na
seminal corrida dos espermatozoides na reprodução humana. A felicidade somente
seria possível no plano da ideologia: a felicidade individual às custas da
infelicidade da maioria. Esse é o tema do curta de animação “Happiness” (2017)
do britânico Steve Cutts: ratazanas antropomorfizadas correm frenéticas em
metrôs, ruas, calçadas e shoppings lotados, lutando entre si pela posse de
mercadorias em uma Black Friday selvagem. E todos cercados por centenas de
peças publicitárias que prometem felicidade com a compra de qualquer coisa.
Quanto maior a infelicidade que a competição provoca, mais valorizada é a mercadoria
“felicidade” no mercado. A sátira social do curta “Happiness” questiona o
modelo de felicidade prometido, com ácida ironia.
domingo, novembro 26, 2017
Filme "Solaris" de Tarkovsky é o anti-"2001" de Kubrick
domingo, novembro 26, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Andrei
Tarkovsky considerava “2001: Uma Odisseia no Espaço” de Kubrick um filme
“estéril”. Por isso, “Solaris” (1972), produção do cineasta soviético, foi
considerado pela crítica o filme “anti-2001”: se os EUA ganharam a corrida
espacial colocando o primeiro homem na Lua, no cinema a URSS ganharia a Guerra
Fria fílmica ao desconstruir o gênero ficção científica que legitimava
a conquista do espaço. De certa forma, Solaris foi o primeiro filme
PsicoGnóstico: há uma planeta, uma estação espacial e astronautas. Mas tudo não
passa de um álibi para discutir como o tema das viagens espaciais são um mito
que esconde a verdadeira viagem: lá em cima, ao descobrirmos que estamos só em
um Universo vazio e sem propósito, faremos uma viagem no interior do nosso próprio
psiquismo. Um planeta com um misterioso oceano que prova aos cientistas de uma
estação espacial de que não precisamos de outros mundos. Precisamos de
espelhos.
sábado, novembro 25, 2017
Grande mídia transforma Black Friday em Teleton da Era Temer
sábado, novembro 25, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um
repórter cobrindo ao vivo um congestionamento de empilhadeiras em um depósito
central de produtos vendidos pela Internet. Enquanto isso, uma outra repórter
foi destacada para ficar o dia inteiro numa espécie de “sala de guerra” na
qual, através de um telão, as vendas e os números acumulados dos valores dos descontos eram acompanhados em tempo real . Agora o viés da grande mídia para a Black
Friday virou uma espécie de Teleton comercial. Só que ao invés de um evento em
prol de crianças que necessitam de cuidados especiais, agora virou uma espécie
de contagem progressiva de um País que estaria saindo da crise. Basta um
simples exercício de jornalismo comparado para perceber a radical mudança de
viés, principalmente da Globo: se de 2010 a 2015 (período do jornalismo de
guerra e de esgoto) era “Black Fraude” e “Black Friday da crise”, agora tornou-se
indicador de um País que lentamente estaria saindo do buraco depois da
“irresponsabilidade fiscal” do passado. Além de revelar mais uma contradição em
que a Globo se mete: ao mesmo tempo que pede a cabeça de Temer para aparentar
imparcialidade, tem que defender as reformas daquele que supostamente quer
derrubar.
quarta-feira, novembro 22, 2017
O niilismo gnóstico de Tarkovsky contra Ciência, Religião e Arte em "Stalker"
quarta-feira, novembro 22, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Stalker”
(1979), segundo filme de ficção científica do soviético Andrei Tarkovsky após
“Solaris” (1972), está conectado tanto com o passado quanto futuro: com a
misteriosa explosão em Tunguska, Sibéria, em 1908 e com o acidente nuclear de
Chernobyl em 1986, cujo argumento do filme foi estranhamente profético. Um
stalker (guia ilegal) conduz um cientista e um escritor para “A Zona” – região
misteriosa desértica e em ruínas (lá teria caído um asteroide ou nave
alienígena) cercada por forte aparato policial. Nessa zona proibida existiriam
estranhos poderes capazes de realizar os desejos mais recônditos de quem sobrevivesse
a suas armadilhas mortais. Para Tarkovsky, “A Zona” seria o microcosmo da
própria vida: Ciência, Arte e Religião se confrontam em uma batalha niilista
para ver quem herdará o que restou da sociedade moderna – mesmo depois do fim, a ilusão, a fé vulgarizada e oportunismo lutam entre si.
domingo, novembro 19, 2017
Hollywood abriu as portas para ocultismo e maldições com o filme "Incubus"
domingo, novembro 19, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Os
críticos consideram o filme “mais amaldiçoado da história do cinema”. Um
filme que abriu as portas para o ocultismo e hermetismo em Hollywood numa
década de “despertar místico e religioso” através das viagens alucinógenas do
psicodelismo e estados alterados de consciência. O Filme “Incubus” (1966) foi
dirigido e escrito por Leslie Stevens (criador da série de TV “Quinta Dimensão”)
e protagonizado por William Shatner, um ano antes de viver o capitão Kirk da
série “Star Trek”. Desde sua estreia, “Incubus” foi marcado por suicídios,
assassinatos, falências, divórcio e incêndio. Tão amaldiçoado que o diretor
tirou o filme de circulação e os negativos foram destruídos. Para em 1996 uma
cópia ser encontrada na França e recuperada para relançamentos em VHS e DVD. E
logo em seguida reiniciaram as “coincidências” fatais. Muitos pesquisadores em
Sincromisticismo consideram Hollywood um “centro de recrutamento de médiuns”,
manipulando voláteis e perigosas formas-pensamento e arquétipos do inconsciente
coletivo. “Incubus” seria um caso exemplar.
sexta-feira, novembro 17, 2017
FBI, FIFA e a nota oficial "tautista" da Globo
sexta-feira, novembro 17, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Nem a
Patafísica (a “ciência das soluções imaginárias”) de Alfred Jarry ou o teatro
do Absurdo de Backett conseguiriam imaginar um texto tão tautológico, circular,
auto-referencial e metalinguístico como a nota oficial da Globo diante do
escândalo das denúncias na Justiça dos EUA do pagamento de suborno pela
emissora para a FIFA para ter a exclusividade nas transmissões do futebol:
“após dois anos de investigações internas, a Globo apurou que jamais realizou
pagamentos não previstos em contratos...”, leu a nota um constrangido jogral de
apresentadores do JN. Desde que o ex-apresentador do Globo Esporte, Tiago
Leifert, transformou a inauguração de um ônibus-estúdio em notícia mais
relevante do que o próprio treino da seleção brasileira que deveria cobrir, a emissora
vive um processo de negação “tautista” (tautologia + autismo) no qual
transforma “eventos” em produtos próprios, criando uma atmosfera de amoralidade
e blindagem. Assim como as telenovelas. Mas isso pode lhe custar caro: não
perceber que a investida do FBI contra a FIFA (atingindo diretamente a Globo) é
mais uma estratégia de lawfare na geopolítica dos EUA. Dessa vez, para
reconfigurar o cenário da grande mídia mundial.
quarta-feira, novembro 15, 2017
A fé em um mundo sem Deus no filme "Entre o Bem e o Mal"
quarta-feira, novembro 15, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Entre o
Bem e o Mal” (“Adams Æbler”,
2005), comprova a tese de que os melhores filmes religiosos no cinema foram
feitos por ateus. Escrito e dirigido pelo dinamarquês Anders Thomas Jensen, é
uma tragicomédia de humor negro sobre um neonazista condenado a prestar
serviços comunitários em uma remota igreja no campo. Lá encontra um padre cuja
fé é baseada em um patológico otimismo de negação da realidade, e dois
ex-presidiários: um muçulmano que continua roubando postos de gasolina à noite
e um ex-jogador dinamarquês de tênis profissional, alcoólatra e cleptomaníaco.
Mas o sacerdote acredita na bondade humana, mesmo em um neonazista que esmurra
sua cara. O filme baseia-se em um argumento paradoxal: pouco importa sabermos
se Deus existe, se continuaremos sofrendo do mesmo modo. Portanto, só nos
restaria a solução introspectiva pessoal: a fé em um mundo sem Deus. Filme
sugerido pelo nosso leitor... você sabe quem: Felipe Resende.
segunda-feira, novembro 13, 2017
Hans Donner mostra nova bandeira no "Fórum do Amanhã" olhando para o ontem
segunda-feira, novembro 13, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
As leis
trabalhistas foram “modernizadas”, assim como o próprio trabalho com os ventos “modernizadores”
do empreendedorismo e agora luta-se para que toda essa “modernização” alcance
também a Previdência Social. Mas falta algo, alguma coisa que sinalize essa
nova visão de país e inspire o povo. Para o designer gráfico Hans Donner, isso
somente será possível com uma bandeira nacional também “modernizada” – com
degradês, efeitos 3D, e a palavra “Amor” antes do lema “Ordem e Progresso” com
a faixa apontando para cima, para dar “poder” ao povo... O designer austríaco
apresentou o projeto em um evento chamado “Fórum do Amanhã” em MG, e pretende
levá-lo ao Congresso para implementação. Ironicamente, em um evento sobre o
“amanhã”, Donner apresenta uma bandeira retro-futurista igual a marca visual da
Globo das décadas passadas, que hoje nem a própria emissora adota mais,
privilegiando um visual “orgânico” e menos artificial. A “nova” bandeira
nacional de Hans Donner certamente está menos na estética, e muito mais no campo
dos sintomas: sinais expressados por uma elite que fala em futuro, mas com os
olhos sempre mantidos no passado. Para deixar o presente igual o ontem: o
futuro do pretérito.
domingo, novembro 12, 2017
Curta da Semana: "Working With Jigsaw" - Como se vingar do chefe com jogos mortais
domingo, novembro 12, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A
franquia “Jogos Mortais” acabou e o pequeno fantoche Jigsaw teve que se virar e
arrumou um emprego em um escritório como qualquer mortal. Mas velhos hábitos
são difíceis de esquecer. E Jigsaw inferniza os seus colegas de trabalho com
mais jogos “mortais”, dessa vez com ameaçadores post-its, fitas adesivas, pop
ups pornográficos saltando em telas de computadores e mouses com alfinetes...
Esse é o impagável argumento do curta “Working With Jigsaw”(2016) no qual o
sádico fantoche vinga-se dos seus chefes que acusam seus jogos de diminuir a
“produtividade” e “sinergia” da empresa. Um curta que suscita uma interessante
analogia: como os jogos das relações humanas corporativas muitas vezes podem
ser tão sádicos e arbitrários quanto os do filme “Jogos Mortais”.
sábado, novembro 11, 2017
A cobertura midiática do Enem: muito além do "fact-checking"
sábado, novembro 11, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Até 2015, o Enem era noticiado pela
grande mídia como “eleiçoeiro” e “populista”, uma “fogueira” (a “fogueira do
Enem”) na qual os alunos viviam assustados e lesados com sucessivas denúncias
de fraude e desorganização. A partir do ano passado, tudo mudou como num passe
de mágica: agora é o “Enem nota 1.000” para aqueles alunos mais “focados e
determinados” no qual fraudes são problemas pontuais tecnicamente resolvidas,
sem mais o protagonismo do Judiciário. Depois de anos do jornalismo de guerra
no esgoto, a grande mídia tenta recuperar o seu produto tão vilipendiado: a
notícia. Enquanto joga ao mar antigos líderes como o jornalista William Waack
para recuperar uma suposta isenção, apoia agências de “fact-checking” para se prevenir
das “fake news” que ela própria inventou. Mas pela sua missão de salvar as
aparências, o “fact-checking” ignora as mudanças do viés atribuídos aos fatos
ao longo do tempo, de acordo com a mudança do contexto. A mudança da cobertura
midiática dada ao Enem de 2009 a 2017 é um caso exemplar: a mentira não está
apenas no ocultamento ou na invenção – está na angulação, seleção e edição.
sexta-feira, novembro 10, 2017
Globo despacha William Waack para tirar a lama das próprias mãos
sexta-feira, novembro 10, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Assim como no episódio do assédio sexual
do ator José Mayer (naquele momento a Globo fez o cast feminino da casa vestir
uma camiseta estampada “Mexeu com uma mexeu com todas”), da mesma maneira
prontamente a emissora despachou William Waack depois da repercussão de um
antigo vídeo no qual o jornalista fazia afirmações racistas em tom de galhofa
enquanto aguardava para entrar ao vivo. Fosse em outros tempos, episódios como
esses entrariam para o folclore da história dos bastidores televisivos. Quem armou essa cilada contra William Waack
levou em conta o atual contexto delicado da Globo: depois de seu jornalismo de
guerra nos últimos anos ter dado visibilidade e repercussão à direita raivosa (aquela
que vê o “politicamente correto” como “conspiração comunista”) para acirrar a
crise política que culminaria no impeachment, agora a emissora tenta limpar
suas mãos da lama que estrategicamente revolveu por anos. Disse em nota que é
“visceralmente contra o racismo”. A Globo tenta ignorar de forma tautista a
patologia psíquica que ajudou a incitar, da mesma maneira como até hoje tenta
provar que nada teve a ver com a lama da ditadura militar que ajudou a esconder.
quinta-feira, novembro 09, 2017
A vida entre o milagre e o caos em "The Frame"
quinta-feira, novembro 09, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Cada vez mais filósofos, físicos e matemáticos
suspeitam que o Universo seria um gigantesco game de computador ou algum tipo
de simulação tecnológica. Qual a principal evidência? A capacidade humana de
também criar simulações e ilusões narrativas como o Cinema, TV e games de
computador. Em “The Frame” (2014), Jamin Winans (“Ink”) propõe uma espécie de
quebra-cabeças metafísico inspirado no célebre “Princípio da Correspondência”
do Hermetismo: assim como roteiristas escrevem narrativas e dramas de
protagonistas enquadrados pelos planos de câmera vistos pelos espectadores no
cinema e na TV, será que da mesma forma nossas vidas seriam, nesse momento,
roteirizadas e editadas como algum tipo de série assistida por alguma divindade
malévola no além? Os produtos audiovisuais funcionariam como pequenos fractais
– tal como o fracta na geometria, um fragmento que reproduz dentro de si,
infinitamente, o padrão do todo. Esta é a curiosa “narrativa em abismo”
gnóstica proposta por Jamin Winans em “The Frame”.
segunda-feira, novembro 06, 2017
O sonambulismo gnóstico-noir em "Sleepwalker"
segunda-feira, novembro 06, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Uma mulher traumatizada pela morte do seu marido convive com sérios distúrbios do sono: sonambulismo, insônia e pesadelos. Sob tratamento em uma clínica especializada, finalmente consegue um sono reparador. Porém, algo de assustador começa a acontecer: a cada despertar, é como se acordasse em uma realidade alternativa com um novo sobrenome e pessoas conhecidas que não se lembram dela. “Sleepwalker” (2017) é um curioso filme que transita entre a estética “noir” (ninguém é o que aparenta ser), uma estranha atmosfera retro atemporal e a narrativa gnóstica sobre uma protagonista que parece navegar por diversas realidades em busca de memórias perdidas e crescente paranoia. O sonambulismo é o elo que em “Sleepwalker” une o “noir” com o gnóstico: estar desperto em um sonho é um evento marcado por uma forte carga simbólica de alguém que tenta acordar e encontrar a verdade. Filme sugerido pelo nosso antenado leitor Felipe Resende.
sábado, novembro 04, 2017
Fantasma do Gnosticismo ronda CERN: para pesquisadores Universo não deveria existir!
sábado, novembro 04, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Quanto mais a Ciência se distancia do
antigo modelo mecanicista de Universo, curiosamente mais se aproxima da antiga
Cosmogênese do Gnosticismo e da mitologia grega na qual mesmo o poderoso Zeus
estava submetido às leis do Senhor do Tempo – Cronos. Pesquisadores do CERN
perplexos afirmam: o Universo não deveria existir! Sem conseguirem encontrar
assimetria entre matéria e anti-matéria, os pesquisadores atestam que o
Universo deveria ter se auto-aniquilado no segundo seguinte à Criação após o
Big Bang. Ao mesmo tempo, cientistas do Instituto Max Planck na Alemanha chagaram
a dados relativos à energia interna de um buraco negro que inesperadamente
confirmam a hipótese do Universo Holográfico – em algum lugar nos limites do
Universo existiu uma superfície 2D que “codificou” toda a informação que
descreve a nossa realidade 3D + Tempo. A improbabilidade do Universo seria mais
uma evidência do cosmos ser uma simulação finita?
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