sábado, outubro 04, 2014
"O Doador de Memórias" e a terceira onda do Gnosticismo Pop no cinema
sábado, outubro 04, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Com o filme “O Doador de
Memórias” (The Giver, 2014) Hollywood acrescenta mais uma produção a uma série
de filmes sobre mundos distópicos dominados por estados policiais totalitários.
Essas produções vem retomando símbolos e narrativas gnósticas, mas dessa vez em
uma nova fórmula: um mix de Gnosticismo
com “1984” de Orwell e “Admirável Mundo Novo” de Huxley. Essa terceira onda de
Gnosticismo pop no cinema, assim como nas ondas anteriores, está relacionada
com alterações nos paradigmas tecnológicos. Na atualidade, o projeto da
Internet das Coisas e a nanotecnologia, criando
possibilidades de geolocalização e controle total da privacidade. A obsessão
atual de Hollywood por essas distopias faz surgir teorias conspiratórias como a
chamada “hipótese Fox Mulder”, extraída de um episódio da série “Arquivo X”.
O
Doador de Memórias,
adaptação do livro de 1993 The Giver
de Lois Lowry (premiado best seller
de ficção científica para o público jovem) é o último filme de uma série de
produções recentes que exploram distopias futuristas totalitárias: Snowpiercer (2013), No Limite do Amanhã (Edge of
Tomorrow, 2014), Elysium (2013), Jogos Vorazes (The Hunger Games, 2013), A Viagem (Cloud Atlas, 2012), Oblivion (2013), Capitão América 2: O Soldado Invernal (2014) etc.
Por que o público está sendo
inundado com essas narrativas futuristas sobre novas ordens mundiais e estados
policiais despóticos? Por que esse súbito interesse de Hollywood em nos fazer
torcer por heróis que lutam por escapar de sistemas totalitários enquanto
tentam encorajar a todos (inclusive o espectador) a fazer o mesmo?
terça-feira, setembro 30, 2014
A canastrice de Marina Silva e o DNA hollywoodiano
terça-feira, setembro 30, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Muitas teorias
conspiratórias veem a candidata Marina Silva como um “instrumento de
Washington”, “a nova direita” etc. Se isso for verdade, não seria tanto pelas
teses neoliberais que seu programa de governo defende. Seu DNA não está em
Washington, mas em Hollywood. Marina Silva se filia a uma lista de personagens
políticos construídos a partir do imaginário coletivo cinematográfico como
Hitler e Mussolini (o cinema mudo), Jânio Quadros (Jacques Tati) e Collor de
Mello (Gordon Gekko de “Wall Street”). É a “canastrice” na propaganda, noção
que a ciência política deveria levar mais à sério: políticos tornam-se
verossímeis quando se reconhecem neles elementos de uma certa mitologia pop ou
cinematográfica. Mas por que eleitores não percebem o artificialismo das performances
exageradas, melodramáticas e esteticamente kitschs, características da
canastrice? Talvez porque um século de Hollywood não apenas tenha afetado nossos
corações e mentes, mas a própria percepção.
Era
1997. Em plena crise de um escândalo sexual envolvendo o então presidente dos
EUA Bill Clinton e uma estagiária da Casa Branca, era lançado o filme Mera Coincidência (Wag The Dog). O Título em português não poderia ter sido mais feliz
pela ironia. No filme, um presidente concorrendo à reeleição nos EUA é
envolvido em um escândalo sexual. Com a ajuda de um produtor de Hollywood e um
relações públicas cria uma guerra fictícia com a Albânia como estratégia de
desvio da atenção.
Um
suposto vídeo documental (na verdade produzido em estúdio como tática
diversionista) é exibido pelas emissoras de TV: vemos uma jovem albanesa
com um gatinho branco nos braços fugindo de terroristas estupradores em meio ao
fogo cruzado de bombas e incêndios. Tudo muito melodramático, over, kitsch, estereotipado e com o appeal
e look semelhante às produções medianas
de Hollywood e “sitcons” do horário nobre. Apesar disso, jornalistas e a
opinião pública mordem a isca do suposto vídeo “vazado” como fosse um vídeo
realista.
sábado, setembro 27, 2014
O carro e a experiência fora do corpo
sábado, setembro 27, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um carro pode proporcionar uma experiência mística fora do corpo? Com a
análise semiótica em 360 graus do caso do filme publicitário do Novo Honda
Civic 2015, que apresenta o consumo como um ato muito mais de transformação
espiritual do que de aquisição, o curso "A Linguagem das Mercadorias" da pós em
Comunicação e Semiótica da Universidade Anhembi Morumbi fez seu último encontro dissecando a
mais nova ferramenta semiótica: a “Adgnose”. Diferente das formas anteriores de
busca de identificação do consumidor por meio de fantasias-modais (através de pesquisas
por perfis sócio-econômicos e de estilos de vida), hoje o Marketing e a
Publicidade obtêm o descolamento máximo do consumo em relação à materialidade
do produto com a exploração dos arquétipos: símbolos e imagens do inconsciente
coletivo. Surge uma irônica operação semiótica publicitária: ao invés de
“comprar-consumir-ter”, agora temos “comprar-consumir-espiritualizar-se”.
Nessa
última segunda feira (22 de setembro) esse humilde blogueiro ministrou o último
encontro do curso “A Linguagem das Mercadorias” da pós-graduação em Comunicação
e Semiótica da Universidade Anhembi Morumbi (informações sobre o curso clique aqui). Nos seis encontros do curso,
acompanhamos como a linguagem que promove as mercadorias no capitalismo através
da Publicidade foi progressivamente tornando-se cada vez mais abstrata:
estudamos uma série de ferramentas semióticas que operaram um verdadeiro
descolamento dos signos em relação à materialidade dos produtos.
Vimos
que essa operação de “descolamento” é necessária por duas exigências econômicas
bem concretas:
(a)
Acompanhando o raciocínio dos teóricos da chamada Crítica da Estética da Mercadoria (Peter Haug, Michael Schneider),
percebemos que todas as estratégias do Capital em maximizar lucros se chocam no
limite físico do valor de uso das mercadorias: sua materialidade e finitude
pode limitar o consumo no tempo e espaço (satisfação, saciedade, durabilidade
etc.), diminuindo a velocidade da substituição dos produtos no mercado. Por
isso, historicamente o grande papel da Publicidade foi convencer o consumidor a
comprar o produto não pela sua utilidade,
mas pela inutilidade. Isto é,
associar o produto simbolicamente a um tipo de signo que torna-se cada vez mais
abstrato.
quinta-feira, setembro 25, 2014
Filme "O Fantasma do Paraíso" e o "cinema da meia-noite" dos anos 1970
quinta-feira, setembro 25, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Uma época em que o cinema era menos auto-indulgente e jovens diretores
tinham acesso a altos orçamentos para realizar os projetos mais bizarros. Foi
nos anos 1970, na onda de um subgênero chamado de “cinema da meia-noite” onde
cinéfilos aventureiros embalados com muita maconha frequentavam cinemas nas
madrugadas, assistindo a filmes que foram imediatamente cultuados. Foi o caso
de “O Fantasma do Paraíso” (1974) de Brian De Palma, em uma ousada paródia em que
funde os clássicos “Fausto” com “O Fantasma da Ópera” e o glam rock e o hard
rock da época. Nesse subgênero começou também o revival de muitos temas
mitológicos gnósticos, como nesse filme: o mito do Demiurgo ressurgindo como um
cruel produtor musical que se apossa definitivamente da alma de seus artistas
por meio de pactos de sangue.
Antes de toda onda do gnosticismo
pop que esse blog detectou a partir do filme Dead Man (1995) de Jim Jarmusch e cujo ápice de popularidade foi
inegavelmente Matrix (1999), os temas
gnósticos eram explorados em filmes cults ou autorais. Filmes ainda sem
pretensão de popularidade e restrito a pequenos grupos de cinéfilos com gostos
bem particulares.
É o caso do filme de Brian de
Palma O Fantasma do Paraíso, um filme
produzido deliberadamente para ser um sucesso cult, para um nicho de público
que nos anos 1970 era chamado de “cinema da meia-noite”: filmes com temática
livremente estranha e bizarra que eram exibidos em horários alternativos das
madrugadas, para espectadores aventureiros e sedentos por experimentações. Uma época em que a indústria do entretenimento
permitia que jovens diretores fizessem todo tipo de filme.
sábado, setembro 20, 2014
Sílvio Santos anteviu Patrícia Poeta e o Infotenimento
sábado, setembro 20, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Quando revelou que ia sair da bancada do Jornal Nacional (acendendo as mais diversas teorias conspiratórias), Patrícia Poeta disse que preparava um “projeto de programa de entretenimento” e afirmou “ter se preparado a vida inteira para isso”. Se isso for verdade, é a repetição de um fenômeno que vai da apresentadora Daniela Albuquerque (que descobriu a profissão de jornalismo em uma caixa de toddinho) ao jornalista esportivo Tiago Leifert escalado para apresentar o reality show musical da TV Globo “The Voice Brasil” – confirmando a profética iniciativa de Silvio Santos quando colocou a jornalista Lilian Witte Fibe no júri do “Show de Calouros” em 1991. É o infotenimento, fenômeno no passado restrito ao mundo das “notícias diversas”(notícias insólitas e inexplicáveis), mas hoje recorrente quando jornalistas egressos das “hard news” decidem partir para projetos de entretenimento. Mais que exceções, parecem revelar secretas conexões que sempre existiram entre notícia e entretenimento.
Três parábolas televisivas:
(a) Em 1991 a jornalista
Lilian Witte Fibe foi contratada por Silvio Santos para comandar o Jornal do
SBT. Logo depois, a jornalista foi convocada pela dono da emissora para fazer
uma participação especial no Show de Calouros, quadro do programa das tardes de
domingo de Silvio Santos, ao lado de figuras como Pedro de Lara e Elke
Maravilha. Contrariando o princípio da época da credibilidade do jornalismo,
Silvio coloca a apresentadora do principal telejornal da emissora em um
programa de auditório ao lado das figuras mais caricatas da TV brasileira ;
(b) No início dos anos 2000
é lançado em Toronto, Canadá, o Naked
News. Apresentado pela Internet e TV a cabo, é um telejornal apresentado
ainda hoje onde as apresentadoras fazem strip-tease enquanto leem as notícias.
Com o slogan “um programa que não tem nada a esconder”, faz um irônico
trocadilho com o suposto ideal do jornalismo por “transparência” e de querer apresentar “a realidade nua e
crua”.
quarta-feira, setembro 17, 2014
A Química transforma-se em Alquimia na série "Breaking Bad"
quarta-feira, setembro 17, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Após cinco temporadas, a premiada série televisiva de dramas, crimes e thriller “Breaking Bad” (2008-2013) ingressou na lista de filmes de diversos gêneros que exploram simbologias alquímicas de transformação como “Blue Velvet” de David Lynch ou “Beleza Americana” de Sam Mendes. Narrativas que exploram as possibilidades de transformações íntimas em nossas vidas através de elementos que tradicionalmente tomamos como negativos: caos, trevas e morte. Um professor de Química confronta a morte, o câncer e um vida fracassada por meio de uma jornada radical de redenção no submundo do narcotráfico. A metanfetamina azul se transforma na série em simbologia alquímica ao mesmo tempo de redenção espiritual e destruição de um mundo de aparências. Por isso, “Breaking Bad” também foi um “experimento sociológico”, segundo seu criador Vince Gilligan.
sábado, setembro 13, 2014
Professora da PUC aponta suposto perigo subliminar das ciclofaixas em SP
sábado, setembro 13, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A professora da PUC/SP e uma das principais especialistas em Semiótica
no Brasil, Lucia Santaella, alertou em rede social que as ciclofaixas pintadas
de vermelho em São Paulo são “uma descarada propaganda vermelha do PT,
provavelmente encomendadas do diabo em pessoa” e recomenda que prefeito e
assessores leiam sobre Semiótica para descobrirem o quanto essa diabólica cor
afeta o sistema nervoso central dos incautos cidadãos. Curiosa semiose seletiva
da eminente pesquisadora e da grande mídia: quando bicicletas são da cor
laranja com o logo de um conhecido banco chama-se “projeto de
sustentabilidade”; mas quando ciclofaixas são pintadas de vermelho pelo poder
público viram demoníacas propagandas políticas subliminares. Mas a discussão
sobre cores, Semiótica e Neurociência pode ser um mero sintoma de algo mais
profundo: a zona cinza do conservadorismo.
Cuidado,
incauto leitor. Você talvez não tenha percebido, mas está em andamento nesse
exato momento uma sórdida estratégia de espalhar mensagens subliminares pelas
ruas de São Paulo: estranhas faixas vermelhas, supostamente ciclofaixas, seriam
na verdade uma estratégia subliminar para furtivamente direcionar a intenção de
voto dos cidadãos para o partido do maquiavélico prefeito da cidade, o PT.
Em seu perfil no Facebook a professora Lucia Santaella (titular do Programas de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica e Tecnologias da Inteligência da PUCSP e autora de diversos livros adotados em inúmeras faculdades de comunicação pelo Brasil afora) acusou que “essas faixas não passam da mais descarada propaganda vermelha do PT”.
Em seu perfil no Facebook a professora Lucia Santaella (titular do Programas de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica e Tecnologias da Inteligência da PUCSP e autora de diversos livros adotados em inúmeras faculdades de comunicação pelo Brasil afora) acusou que “essas faixas não passam da mais descarada propaganda vermelha do PT”.
quinta-feira, setembro 11, 2014
Freud explica: encha o estômago antes de comprar
quinta-feira, setembro 11, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Por que as pessoas quando olham para vitrines das lojas em shopping centers
passam a língua ou mordem os lábios, ficam de boca aberta e roem unhas? Por
que os comerciais de produtos de limpeza domésticos como sabão em pó ou
desinfetantes utilizam tantas hipérboles como mostrar a sujeira como
monstrinhos que se escondem na trama dos tecidos ou nos vasos sanitários? Por
que ao lado de cada Ferrari ou Masserati em feiras de automóveis estão sempre
lindas e atraentes modelos? Por que precisamos encher o estômago antes de comprar para evitar o consumo impulsivo? Durante o quarto encontro do
curso “A Linguagem das Mercadorias” na Universidade Anhembi Morumbi (UAM),
ministrado por esse humilde blogueiro, as discussões mergulharam no universo
das técnicas psicanalíticas aplicadas pelo Marketing e Publicidade.
Dentro do Módulo 2 da pós em
Comunicação e Semiótica da UAM, nessa última segunda-feira demos continuidade
ao curso “A Linguagem das Mercadorias” que objetiva apresentar e discutir as
diversas mutações que a forma-mercadoria assume na sociedade de consumo. Pressionada
pelas constantes mudanças das necessidades mercadológicas, vimos que a
mercadoria deve se transformar em signo (abandonar a materialidade do “aqui
está o produto, agora compre-o!) para assumir sucessivas mutações como o
signo-fetiche, o signo-afeto, o signo-desejo, o signo-dádiva etc.
Isso significa que a
mercadoria deve cada vez mais ocultar a sua operação econômico-comercial
(compra, troca e consumo) para se transformar em signos de experiências,
narrativas pessoais, fantasias e desejos. Nesse quarto encontro do curso
acompanhamos os mecanismos de transformação da mercadoria em signo-desejo e
signo-dádiva mergulhando no universo da psicanálise do consumo.
sábado, setembro 06, 2014
Morpheus retorna, mas sem as pílulas vermelha e azul no filme "The Signal"
sábado, setembro 06, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Premiado nesse ano no festival Sundance de
filmes independentes, “The Signal” (2014) escrito e dirigido por William Eubank
faz um instigante mix entre a atual onda de insegurança com a fauna digital que
habita nossos pesadelos cibernéticos (hackers, worms, bugs, vírus etc.), agência
governamentais de espionagem eletrônica e a mitologia gnóstica e platônica de
que toda a tecnologia computacional na verdade seria uma gigantesca caverna
digital em que viveríamos ignorando a verdadeira natureza da realidade.
Laurence Fishburne parece reviver o mítico personagem Morpheus da trilogia
“Matrix”, porém sem as pílulas vermelha e azul com as quais oferecia uma
oportunidade de escolha. Em “The Signal”, a Verdade será empurrada goela abaixo
dos espectadores.Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
Computadores,
Internet e todo o mundo dos bytes sempre exerceu sobre seus usuários um misto
de fascínio e mistério. Nós, usuários de redes sociais e aplicativos, lidamos
muito mais com efeitos de conhecimento do que propriamente com o conhecimento
em si: lidamos apenas com interfaces gráficas, sem compreender o intrincado
mundo dos códigos fontes, algoritmos e das complexas linhas de programação que
faz tudo funcionar. Então, quem os cria (uma fechada casta de nerds, geeks, hackers etc.), passam a
ser cercados por uma aura de lendas e mitos. E suas empresas e start ups
carregados de uma visão mágica de sucessos instantâneos supostamente iniciados
por simples ideias.
E por sermos meros usuários de um conhecimento
que nos chega encapsulado, sem termos acesso à compreensão de como funcionam
hardwares e softwares, somos tomados periodicamente pela paranoia: malwares, vírus, bugs, phishing, cavalos
de troia, worms e toda fauna digital
que habita em nossos pesadelos.
Por
isso, também periodicamente o cinema expressa essa sensibilidade social em
relação a essas novas tecnologias. O filme independente de ficção científica The Signal (2014), premiado nesse ano no
Sundance Film Festival de cinema independente nos EUA, é mais um produto
fílmico que expressa essa sensibilidade ambígua em relação ao mundo digital – a
história de uma sinistra realidade por trás de um misterioso hacker.
quinta-feira, setembro 04, 2014
Curso discute o afeto no consumo e no marketing político
quinta-feira, setembro 04, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Através da linguagem das mercadorias a grande mídia e a sociedade de
consumo conseguem produzir efeitos ideológicos através de meios não
ideológicos: a captura dos nossos afetos, uma dimensão pré-cognitiva e corporal
que é cooptada por uma cadeia semiótica para produzir emoções e decisões de
consumo e políticas. Esse foi o tema de mais um encontro do curso “A Linguagem
das Mercadorias”, ministrado por esse humilde blogueiro, na pós em Comunicação e Semiótica da Universidade Anhembi
Morumbi. Afastando a confusão que normalmente fazemos entre as noções de afeto,
sentimento e emoção, as discussões revelaram a ainda pouca estudada dimensão
dos fenômenos da percepção: como o mundo e principalmente as mídias nos afetam não só mentalmente mas, principalmente, fisicamente e como essas
sensações podem ser instrumentalizadas.
Dando
continuidade ao curso “A Linguagem das Mercadorias” na pós em Comunicação em
Semiótica da Universidade Anhembi Morumbi, nesse segunda-feira aprofundamos a
noção de “signo-afeto” – na aula anterior discutimos o conceito de
“signo-fetiche” presente tanto em Marx como em Freud e as suas aplicações na
sociedade de consumo contemporânea – sobre esse tema clique
aqui.
O
principal objeto das discussões foi apresentar como as estratégias semióticas
da linguagem das mercadorias consegue capturar nossos afetos para direciona-los
através de construções simbólicas que suscitem emoções e pensamentos
previamente indexados nas imagens publicitárias.
Afastando a
confusão que normalmente fazemos entre as noções de afeto e emoção, tomamos o
conceito de afeto como afecção, isto é, a materialidade da
sensação, a concreticidade da experiência – nosso percepção e o corpo são
constantemente afetados por sensações e intensidades como cores, sons, cheiros,
texturas, tonalidades, timbres etc., que nos sinalizam para a existência de
alguma coisa, evento ou realidade e que, posteriormente, os simbolizamos em
emoções ou pensamentos – a chamada “cadeia semiótica” ou cognição.
domingo, agosto 31, 2014
Marina e as novas bombas semióticas do "Sim!" e do "Storytelling"
domingo, agosto 31, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O trágico mergulho fatal do Cessna Citation em Santos não só mudou o
cenário eleitoral como modernizou o arsenal de bombas semióticas midiáticas. No
momento em que a grande mídia esgotava sua estratégia semiótica ainda
condicionada pela Guerra Fria (criar a percepção de caos e pré-insurreição ao
anabolizar as manifestações de rua), eis que surge Marina Silva com o mix de
ambientalismo, fundamentalismo religioso e neoliberalismo potencializado por
duas poderosas bombas semióticas saídas diretamente do atual kit linguístico de
manipulação do mundo corporativo globalizado: a bomba do “Sim!” e a bomba
neuromarketing do “Storytelling”. O problema para os marqueteiros é que Marina
Silva não é um candidato à venda, mas uma narrativa sincromística oferecida
para pessoas sedentas por histórias que seduzem mais do que os dados frios e
duros da realidade.
Quem
não se lembra do personagem Church Lady feito pelo comediante Dana Carvey no
quadro chamado Church Chat no programa Saturday Night Live de 1986-1990? Sempre
preocupada com as conspirações de Satã nesse mundo, Church Lady sempre soltava
um bordão irônico ao perceber satânicas coincidências: “How con-VEEN-ient!”
("Tão conveniente!").
É
difícil não perceber a extrema feliz coincidência e conveniência no trágico
acidente aéreo de Santos que vitimou o candidato à presidência Eduardo Campos:
foi um divisor de águas no cenário eleitoral, substitui um combalido Aécio
Neves pelo fator novidade de Marina Silva e, principalmente, renovou de uma
hora para outra o arsenal de bombas semióticas justamente a poucos meses das
eleições. Exatamente num momento em que se iniciava a propaganda eleitoral na
TV com a candidata à reeleição ocupando a maior fatia de tempo para mostrar
suas realizações.
sábado, agosto 30, 2014
Em Observação: "9 - A Salvação" (2009) - A vida gnóstica dos bonecos
sábado, agosto 30, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Ao lado animações sombriamente lindas como “Coraline” (2009) e “A Noiva
Cadáver” (2005), “9 – A salvação” de Shane Acker, baseado em um curta indicado
ao Oscar de animação em 2005, é outro exemplar que nos oferece uma alternativa
ao estilo do estúdio Pixar da Walt Disney. O seu estilo obsessivamente
detalhista que os fãs chamam de “stitchpunk” dá um sentido visual à clássica
mitologia gnóstica onde máquinas auto-replicantes tornam-se Demiurgos que
dominam um planeta arrasado, auxiliados por bestas metálicas que perseguem
pequenos bonecos de pano que ganham vida e se descobrem prisioneiros naqueles
cosmos hostil. A animação também é mais um exemplo de como o cinema explora os
antigos simbolismo que envolvem fantoches, bonecos e autômatos.
quinta-feira, agosto 28, 2014
Curso "A Linguagem das Mercadorias" revela a secreta conexão entre magia e consumo
quinta-feira, agosto 28, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O que há em comum entre a crença mágica das tribos melanésias da Oceania de que conseguiriam atrair aviões para o chão ao fazer réplicas primitivas dos aparelhos
aéreos na terra e a atual relação dos consumidores com produtos e marcas? A
relação fetichista, o renascimento do antigo pensamento mítico e mágico na
moderna sociedade de consumo. Essa foi a descoberta das discussões do segundo
encontro do curso “A Linguagem das Mercadorias” dentro da pós-graduação em
Comunicação e Semiótica da Universidade Anhembi Morumbi/SP, ministrado por esse
humilde blogueiro. Iniciado no nazismo
como estratégia de propaganda política que manipulava a força de símbolos de
origem mítica, a moderna publicidade logo aprendeu que essa tática semiótica
poderia ser aplicada também para a promoção do consumo de produtos e serviços.
O
curso “A Linguagem das Mercadorias”, dentro do segundo módulo da pós-graduação
em Comunicação e Semiótica da Universidade Anhembi Morumbi , chega à segunda
semana com interessantes descobertas. Ministrado por esse humilde blogueiro, no
primeiro encontro os alunos tiveram contato com as ideias dos três principais
nomes nas ciências sociais que chamaram a nossa atenção para o lado
“fantasmagórico” ou simbólico das mercadorias: Karl Marx, Thorstein Veblen e
Max Weber.
sábado, agosto 23, 2014
A linguagem da sedução do nazismo em "Hitler's Hit Parade"
sábado, agosto 23, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Quando assistimos ao documentário “Hitler’s Hit Parade”
(2005) somos assombrados por uma estranha sensação de atualidade: uma sucessão
de imagens de alta qualidade das décadas de 1930-40 de clipes de filmes de
propaganda, desenhos animados, filmes musicais e vídeos caseiros que demonstram
como a estratégia de comunicação Nazi criou as bases da moderna Publicidade e
da indústria do entretenimento. Sem fazer comentários e apresentando apenas as
imagens da época, o documentário mostra como o mal foi banalizado através de
uma estética kitsch repleta de estereótipos de felicidade (mais tarde imitados
pela sociedade de consumo dos EUA e irradiado para todo o mundo), a estetização
e erotização da política por meio de celebridades, modelos sensuais e a
fetichização dos uniformes. O documentário sugere que o nazismo não morreu - se transfigurou na moderna linguagem midiática.
Quando
pensamos em documentários sobre o nazismo, vem a nossas mentes imagens
impactantes do holocausto, trilhas musicais marciais, soldados em marcha e a
figura de Hitler como um orador enlouquecido nos congressos do Partido Nacional
Socialista.
Bem diferente,
durante pouco mais de uma hora, Oliver Axer e Suzanne Benzer nos apresenta no
documentário Hitler’s Hit Parade uma
surpreendente visão do fenômeno nazi, uma catástrofe política que parece se
originar de uma cultura pop, de um universo paralelo estranhamente
reconhecível, cujo aspecto assustador é a sua alegre normalidade – artistas
cantando em shows exuberantes, enérgicos números de dança, coristas sensuais
sapateando e namorados em jogos amorosos surpreendentemente avançados para os
costumes da época.
quinta-feira, agosto 21, 2014
Bonner e Poeta expõem o desespero tautista da TV Globo
quinta-feira, agosto 21, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A verborragia estudada e simulada de William Bonner e Patrícia Poeta
(perguntas quilométricas e fisionomias treinadas em longos anos de experiência
olhando para “teleprompters” nos estúdios de TV) na suposta entrevista com a
candidata Dilma Roussef não quis dizer apenas que a TV Globo “não gosta dela”.
A dupla de apresentadores do Jornal Nacional involuntariamente expôs a dramática situação atual da emissora: o desespero “tautista” (tautologia +
autismo) – ter que ao mesmo tempo assumir o papel de oposição política servindo
de câmara de eco da pauta da grande mídia e institutos de pesquisa e ter que
demonstrar histericamente que ela é imparcial para tentar recuperar uma
audiência em queda pela perda de credibilidade e relevância. A resposta da emissora para seu dilema
existencial não poderia ser mais autista quando utiliza a técnica de dissociação
psíquica na entrevista, velha tática do Manual Kubark de Interrogatório e
Contra-inteligência” da CIA.
Em
1985, no último bloco de debate dos candidatos à Prefeitura de São Paulo, o
jornalista Boris Casoy disparou uma pergunta a Fernando Henrique Cardoso:
“Senador, o sr. acredita em Deus? A reposta dessa pergunta simples e direta fez
ele perder uma eleição que parecia ganha.
Um
ano depois, durante a Copa do Mundo no México, o dublê de ator e jornalista
Marcelo Tas, na pele do personagem cínico Ernesto Varela, conseguiu invadir a
concentração da seleção brasileira para dar de cara com o cartola Nabi Chedid,
então chefe da delegação. Varela foi direto: “depois da Copa, qual será a sua
próxima jogada?”. Transtornado com a pergunta maliciosa, Nabi expulsou ele e o
câmera Toniko Melo da concentração.
sexta-feira, agosto 15, 2014
Acidente aéreo em Santos prepara bomba semiótica sincromística
sexta-feira, agosto 15, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O trágico acidente aéreo em Santos que vitimou o
candidato à presidência da República Eduardo Campos reacende por caminhos
mórbidos a esperança da grande mídia, com a pressão uníssona de que Marina
Silva assuma a candidatura. O timing da tragédia foi perfeito, num momento em
que já estava esgotado o arsenal de bombas semióticas midiáticas – a última foi
a irrelevância da não-notícia da “fraude da Wikipédia”. Mais do que que
levantar teorias conspiratórias, as sincronias e coincidências que cercaram o
acidente, somado a uma espécie de discurso do “destino manifesto”, do
“imponderável” e do “destino”, estão ajudando a preparar a talvez derradeira
bomba semiótica, dessa vez sincromística porque utiliza como matéria-prima a
simbologia arquetípica do “Mágico”, baseado em estratégia do mundo do Marketing e da Publicidade que manipula arquétipos
do inconsciente coletivo para a criação da imagem de marcas, produtos e
serviços.
Teorias
da conspiração não surgem por acaso. É por ser a realidade estranhamente
sincrônica que acaba sugerindo a suspeita de eventos milimetricamente
maquinados, como no caso da trágica morte do candidato à presidência da
República Eduardo Campos em um acidente aéreo na cidade de Santos-SP no último
dia 13.
Logo
após o incidente, redes sociais e grande mídia se apressaram a fazer um mórbido
inventário de “coincidências”: Eduardo Campos morreu no mesmo dia que o seu avô
Miguel Arraes; o DDD de Santos é o mesmo do dia da tragédia (13) que, por sua
vez, é o mesmo número que identifica o PT nas eleições; a soma das letras do
candidato morto soma 13; o acidente aéreo ocorre pouco tempo depois da denúncia
envolvendo o candidato Aécio Neves sobre um aeroporto construído com dinheiro
público ao lado de fazenda da sua família; em 2006, também no período de
eleições presidenciais, ocorreu o acidente aéreo do choque do Boeing da Gol com
um jato Legacy matando 154 pessoas; o acidente aéreo de Santos se soma a uma
sequência de acidentes como o desaparecimento do Boeing da Malaysian Airlines
no Oceano Pacífico (ou teria sido no Índico?), a queda de outro Malaysian na
Ucrânia e uma mais recente de um Boeing na África...
terça-feira, agosto 12, 2014
O pós-humano de "Lucy" e o mito dos 10% do cérebro
terça-feira, agosto 12, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Lucy” (2014), do diretor francês Luc Besson (“O Quinto Elemento”, “Leon: The Professional”), é mais um filme da safra atual com o tema do pós-humano (“Transcendence”, “The Machine”, “Limitless” etc.). Todos se baseiam em um mito que é o pressuposto da filosofia pós-humanista que anima a agenda tecnocientífica atual: o homem seria um ser limitado porque utilizaria tão somente 10% da capacidade cerebral. Sua limitação viria do corpo físico que nos aprisionaria no medo e na dor. Mito desconstruído por neurologistas sérios como Barry Gordon, da John Hopkins School of Medicine. Por meio de drogas ou tecnologias cibernéticas o homem daria em “upgrade” em si mesmo, acessando 100% o “banco de dados” cerebral. “Lucy” revela uma nova religião onde Deus é substituído pela tecnologia e a alma pela informação.
segunda-feira, agosto 11, 2014
Editor do Cinegnose dá curso sobre linguagem das mercadorias na pós em Comunicação e Semiótica
segunda-feira, agosto 11, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O humilde editor desse blog inicia no dia 18 de agosto o curso “A Linguagem
das Mercadorias” na pós-graduação em Comunicação e Semiótica da Universidade
Anhembi Morumbi em São Paulo. Um curso com proposta, por assim dizer, “maquiavélica”: ao
mesmo tempo em que oferecerá ferramentas práticas derivadas da semiótica e
psicanálise para profissionais de gestão e criação em publicidade, marketing e
comunicação, também desenvolverá ferramentas críticas para o consumidor se
proteger das manipulações e abusos da indústria do consumo e entretenimento.
Esse
humilde blogueiro inicia no dia 18 de agosto o curso na pós graduação em
Comunicação e Semiótica da Universidade Anhembi Morumbi intitulado “A Linguagem
das Mercadorias”. O curso pertence ao módulo 2 da pós lato sensu da
Universidade cujo objetivo é a aplicabilidade das ferramentas da Semiótica na
criação e gestão de processos criativos em comunicação, marketing e
publicidade.
O
curso é composto de seis encontros, todas as segundas das 19h às 22h40 no
campus Vila Olímpia da Universidade Anhembi Morumbi.
sábado, agosto 09, 2014
O "escândalo da Wikipédia" e a autofagia da TV Globo
sábado, agosto 09, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O “escândalo da
fraude da Wikipédia” é a confirmação de que nada mais resta para a grande mídia
do que a bomba semiótica da não-noticia. Em nova “denúncia” jornalistas Miriam
Leitão e Carlos Sardenberg tiveram seus perfis na enciclopédia virtual
Wikipédia “fraudados” com a inserção de difamações e críticas. E tudo teria
partido do endereço virtual “da presidência”... ou teria sido “do Palácio do
Planalto”... ou, então, “de um rede pública de wi fi?”. A ambiguidade dá pernas
à não-notícia que revela um insólito desdobramento de um jornalismo cuja fonte
primária (a Wikipédia) nega a si própria como fonte confiável de investigação. Abre
uma surreal possibilidade de um tipo de jornalismo que se basearia
exclusivamente em fontes onde o próprio repórter pode criá-las para turbinar a
sua pauta. E de quebra revela o momento autofágico da TV Globo que oferece suas
próprias estrelas jornalísticas em sacrifício no seu desespero de ter que lutar
em duas frentes simultâneas: a política e a audiência.
Com o “escândalo Wikipédia” e a perspectiva de uma hilária “CPI do wi fi”
está se confirmando que na atual batalha semiótica pela opinião pública a única
arma que restou para a grande mídia é a da não-notícia – sobre esse conceito clique
aqui.
O jornal O Globo deu a manchete (“Planalto altera perfil de jornalistas
com críticas e mentiras”) e a TV Globo repercutiu nos seus telejornais durante
todo o dia a “notícia” de que os perfis dos jornalistas Carlos Alberto
Sardenberg e Miriam Leitão na enciclopédia virtual foram alterados com o
objetivo de criticá-los. E o IP (endereço virtual) de onde partiram as
alterações era da rede do Palácio do Planalto.
As supostas “críticas” inseridas no perfil dos jornalistas qualificam as
análises e previsões econômicas de Miriam Leitão como “desastrosas” e de ter
defendido “apaixonadamente” os ex-banqueiro Daniel Dantas quando foi preso pela
Polícia Federal em escândalo de crimes contra o patrimônio público. E o
jornalista Sardenberg de ser crítico à política econômico do governo por ter um
irmão economista da Febraban que tem interesse em manter os juros altos no
Brasil.
quarta-feira, agosto 06, 2014
Explode a bomba semiótica da não-notícia
quarta-feira, agosto 06, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Apesar das
previsões catastróficas a Copa do Mundo foi um evento bem sucedido. As grandes
manifestações de rua declinaram. E as eleições se aproximam, mostrando uma
oposição política cada vez mais inepta. Pressionada, a grande mídia lança a “piece
de resistance” do seu arsenal de bombas semióticas, testada durante a Copa: a não-notícia, blefe turbinado pelos “efeitos de realidade” - estratégia
semiótica de produzir uma sensação de verossimilhança através de imagens e sons
propositalmente “sujos” que, numa televisão de alta definição, ganha uma
conotação “investigativa” ou de “denúncia”. E as supostas denúncias da revista “Veja”,
repercutidas de imediato pela grande mídia, sobre a “farsa da CPI da Petrobrás”
são os primeiros estilhaços das não-notícias na opinião pública, apontando a
necessidade urgente de combate a um novo analfabetismo: o midiático-visual.
Em plena televisão digital de alta definição se repetem em telejornais e
congêneres imagens granuladas em preto e branco, câmeras com imagens desfocadas
e trêmulas e infográficos toscos reproduzindo supostos diálogos telefônicos e
microfones escondidos com áudios sujos e trechos inaudíveis acompanhados de
legendas.
Na medida em que as eleições aproximam-se, a Copa do Mundo foi
organizacionalmente bem sucedida (apesar das previsões catastróficas), as
grandes manifestações de rua acabaram e a oposição política ao Governo se
demonstra cada vez mais inepta, a grande mídia lança a piece de resistance do arsenal das bombas semióticas: o blefe das
não-notícias, turbinadas por uma estratégia que, em tempos de paz, a televisão
sempre utilizou de forma discreta e esparsa: aquilo que o semiólogo francês
Roland Barthes chamava de “efeitos de realidade” – detalhes semioticamente
estratégicos para produzir uma sensação de verossimilhança principalmente em
telejornais – leia BARTHES, Roland, S/Z - Um
Ensaio, Edições 70, 1999.
domingo, agosto 03, 2014
O Templo de Salomão da Igreja Universal e a arquitetura da destruição
domingo, agosto 03, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O que há em comum entre Las Vegas e Disneylândia com a recém-inaugurada réplica do Templo de Salomão construída pela Igreja Universal? Las
Vegas é a cidade que irradia hiper-realismo kitsch para todo o planeta com suas
réplicas da Torre Eiffel, Esfinge de Gizé e palácios romanos da Antiguidade. Ao
lado da Disneylândia, foi o primeiro parque temático da História, complexas
cenografias de neons, gesso, concreto e metal que, assim como o Templo da
Igreja Universal, exploram a fé nas entidades “espirituais” – Deus, jogo, sorte
e animações digitais. E assim como shoppings e prédios corporativos espelhados,
o Templo é mais um “bunker” em uma cidade que não se integra. Mais um exemplo
de arquitetura da destruição, dessa vez a serviço da teologia da prosperidade
cuja igreja esconde a mesma natureza dos cassinos: a banca sempre ganha.
Nessa semana foi inaugurado em São Paulo o suntuoso
novo prédio da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), uma réplica do que
teria sido o Templo de Salomão como descrito na Bíblia. Os detalhes que
envolveram a construção do complexo de 74 mil m2 de área construída
são faraônicos: todo
o piso do templo e o altar são revestidos com pedras trazidas de Israel. O
altar traz a Arca da Aliança, descrita na Bíblia como o local em que Salomão construiu
para guardar os Dez Mandamentos no primeiro Templo, em torno do século 11 a.C,
em Jerusalém. Foram ainda trazidos do Uruguai doze oliveiras para reproduzir o
Monte das Oliveiras, local sagrado onde Jesus teria transmitido alguns dos seus
ensinamentos.
O templo supera em quatro vezes o tamanho do espaço
construído do Santuário Nacional de Aparecida (SP), além da grandiosidade dos
altos custos de R$ 685 milhões.
Como era de se esperar, a mídia partiu para cima
lembrando a célebre frase de Balzac: atrás de uma grande fortuna há um crime.
Desde 2010 sob investigação pelo Ministério Público, fala-se em alvarás
irregulares, desrespeito à lei de zoneamento, falta de contrapartidas de
trânsito exigidas pela CET, irregularidades na importação de matérias usados na
construção etc.
sexta-feira, agosto 01, 2014
"La Jetée"´foi o marco da viagem no tempo no cinema
sexta-feira, agosto 01, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O filme de média metragem francês La Jetée (1962) do diretor Chris Marker foi uma das obras que mais influenciaram a cultura atual: da literatura, rock ao cinema de ficção científica como “Os 12 Macacos” de Terry Gilliam, “Red Espectacles” de Momoru Oshi ou “Em Algum Lugar do Passado” de Richard Matheson. Pela primeira vez na ficção científica a viagem no tempo é explorada de forma proustiana como memórias induzidas por estados alterados de consciência. Em um mundo pós III Guerra Mundial, um homem com uma recorrente imagem da infância de uma misteriosa e bela mulher é submetido à experiência de viagem no tempo por meio de drogas como esperança de encontrar no passado um meio de salvar a espécie humana. Mas lá ele encontrará mais do que isso. Filme sugerido pelo nosso leitor Daniel Cruz de Souza.
terça-feira, julho 29, 2014
Em "O Teorema Zero" Terry Gilliam revela seu niilismo gnóstico
terça-feira, julho 29, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em “O Teorema Zero” (The Zero Theorem, 2013)
Terry Gilliam retorna aos temas das produções anteriores “Brazil, O Filme”
(1985) e Os 12 Macacos (1995), porém em um tom mais intimista e filosófico:
enquanto espera uma misteriosa ligação telefônica que revelaria o verdadeiro
sentido da vida, um analista de dados e programador é obrigado a comprovar
matematicamente o contrário: que um dia todo Universo acabará sugado por um
buraco negro e a vida não tem qualquer sentido ou propósito. Esse é o projeto
secreto de uma gigantesca corporação, comprovar matematicamente o “Teorema Zero” –
zero é igual a 100%. Gilliam vai abraçar alegremente esse niilismo gnóstico como
a última esperança de libertação – zero é igual a 100% se aproxima da filosofia
do filme “O Clube da Luta” de David Fincher: depois que perdermos tudo é que estaremos livres. Então encontraremos as
respostas dentro de nós mesmos.
Quem não se lembra daquela situação nas aulas de álgebra
e equações de segundo grau na escola onde você olhava para o enunciado da
equação e intuitivamente já sabia o valor de X? Você escrevia X = 15, mas o
professor não aceitava a reposta, embora correta, pois exigia que demonstrasse
o método resolutivo que fez chegar ao resultado.
Pois é exatamente sobre isso que trata o novo filme
de Terry Gilliam O Teorema Zero onde
Christoph Waltz faz um “triturador de entidades” (Qoen Leth, um analista e
programador de dados) que é incumbido de montar computacionalmente uma
gigantesca equação cujos enunciados comprovem que 0 = 100%, ou seja, que todo o
Universo um dia vai ser encolhido em uma pequena singularidade e engolir a si
mesmo em um buraco negro. Colocado em termos filosóficos, ele deve comprovar
matematicamente que a vida não possui qualquer sentido ou propósito, embora
intuitivamente suspeite (e procure negar) isso.
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