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sábado, junho 27, 2015
Série "Sense8" renova o Gnosticismo Pop de "Matrix"
sábado, junho 27, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Diante da série "Sense8" os críticos parecem estar incertos: ou a produção
dos irmãos Wachowski é uma obra-prima ou um completo desastre. Para aqueles que
já assistiram aos filmes “Matrix”, “Cloud Atlas” ou mesmo “O Destino de
Júpiter”, perceberão que os Wachowski ingressam em um território familiar –
protagonistas que levam uma vida banal e que de repente descobrem um propósito
maior que os levará a enfrentarem um cruel sistema de dominação. Como em “Matrix”,
“Sense8” revisita a mitologia gnóstica, porém com uma novidade que faz a série
entrar em sintonia com o seu tempo: enquanto em Matrix a ilusão que aprisionava
o protagonista era uma sinistra simulação tecnológica, em “Sense8” culturas
regionais e nacionais criam rígidos modelos de gênero e identidade que mantém
os protagonistas presos a uma conspiração. E a iluminação espiritual não é mais
um processo ascético individual, mas agora uma rede mental coletiva e global.
Os irmãos
Wachowski serão de agora em diante chamados de “The Wachowskis” nos créditos das
suas produções. Essa não é a única novidade na série do Netflix Sense8. Para aqueles que se dedicam ao
estudo das recorrências do Gnosticismo na indústria do entretenimento, como faz
esse blog Cinegnose, a série
apresenta a principal novidade: uma nova interpretação da mitologia gnóstica
dentro daquilo que definimos como “Gnosticismo Pop” – o súbito interesse de
diretores, roteiristas e produtores de Hollywood pelos simbolismos e narrativas
míticas do Gnosticismo.
Uma tendência que
se iniciou no final do século passado, cujo ápice desse revival pop gnóstico
foi certamente o filme Matrix dos
Wachowskis que sintetizou o que muitos filmes anteriores já exploravam – Dark City (1998), A
Vida em Preto e Branco (1998), Show
de Truman (1998), O
Décimo Terceiro Andar (1999), Clube
da Luta (1999) entre outros.
sábado, fevereiro 21, 2015
Em "O Destino de Júpiter" os Wachowski esquecem a pílula vermelha do Gnosticismo Pop
sábado, fevereiro 21, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Com o filme “O
Destino de Júpiter”, mais uma vez os irmãos Wachowski criam uma fábula gnóstica
pop. E dessa vez sincronizando um evento astronômico (a ascensão do planeta
Júpiter nos céus em fevereiro) com uma releitura do mito gnóstico da Criação,
Queda e Ascensão do “Apócrifo de João” escrito em 150 DC. Tal como na “Trilogia
Matrix”, a humanidade é prisioneira dos Demiurgos para ter sua energia drenada.
Lá em Matrix presos em incubadoras. Aqui
em “O Destino de Júpiter” para serem semeados e colhidos por uma casta real
alienígena em uma espécie de gigantesco latifúndio cósmico. Porém, dessa vez os
Wachowski fizeram grandes concessões à Hollywood: a pílula vermelha da gnose
que despertava para a Verdade da Matrix desapareceu para ser substituída pelo obediente
retorno do espectador à ordem.
Originalmente
O Destino de Júpiter (Jupiter Ascending, 2015) tinha
lançamento previsto para junho do ano passado. Foi adiado e, “coincidentemente”,
só entrou em cartaz em fevereiro desse ano, no momento em que o planeta Júpiter
ascendeu à posição oposta ao Sol – Júpiter sobe no céu no momento em que o Sol
se põe, brilha mais alto à meia-noite e se põe em torno do nascer do Sol.
Júpiter nesse momento está mais próximo da Terra, aparecendo maior e mais
brilhante.
Em se tratando dos irmãos Wachowski e pelo emaranhado de
simbologias gnósticas e esotéricas que o filme explora, tudo NÃO é mera
coincidência. Andy e Lana Wachowski sabem o que estão fazendo: com essa
sincronia entre os eventos cinematográfico e astronômico, reforçam ainda mais a
mitologia por trás do verdadeiro delírio visual de um filme que parece que
fundiu Matrix, Star Wars e Flash Gordon
dentro de uma gigantesca space opera.
segunda-feira, janeiro 05, 2015
Os olhos dos mortos retornam nos recém-nascidos no filme "I Origins"
segunda-feira, janeiro 05, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Aos 21 anos o diretor Mike Cahill teve um estranho sonho e quando acordou sentiu a necessidade de escrever a seguinte frase: “Os olhos dos mortos retornam nos recém-nascidos”. Catorze anos depois tornou-se interessado no tema da biometria através íris. Junto com a lembrança da misteriosa frase do passado, Cahill escreveu o argumento do roteiro do filme “I Origins” (2014) – um biólogo molecular obcecado pelo design complexo do olho humano quer terminar de vez o debate entre criacionistas e evolucionistas, conseguindo preencher definitivamente a lacuna do mapeamento evolutivo do órgão humano, provando a inexistência de Deus. Sem ser um filme New Age disfarçado, Cahill opõe os argumentos dos dois lados, mostrando que Ciência e Espiritualidade podem andar juntas, embora em planos separados da existência. E o que as uniria seria o acaso, representado por uma misteriosa garota com a íris multicolorida, a "Sophia" da mitologia gnóstica. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
sexta-feira, julho 04, 2014
"L'Immortelle" criou a mulher metafísica para o cinema
sexta-feira, julho 04, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Quem não se recorda da personagem Sofia (Penélope Cruz) em Vanilla Sky (2001) despertando o
protagonista David Aymes aprisionado em uma simulação de realidade em um sonho
lúcido? Ou de Trinity (Carie-Anne Moss) que, graças ao seu amor, fez Neo
descobrir que era O Escolhido em Matrix
(1999)? Ou ainda da personagem Sylvia que fez Truman descobrir que sua vida era
uma prisão dentro de em um gigantesco reality show em Show de Truman (1998)? Personagens femininos fortes, sem história,
que surgem de repente na vida do protagonista para despertá-lo do sono das
ilusões que o prendem a esse mundo. Mulheres que muitas vezes sacrificam o seu
amor e a si mesmas pela redenção do herói e de toda humanidade.
Pois essas mulheres por trás de todos esses heróis do gnosticismo pop
cinemático descendem mitologicamente do personagem gnóstico de Sophia, o aeon que vai despertar no homem a
fagulha de luz interior (a gnose) para conectá-lo de volta à Plenitude. Mas
cinematograficamente, são devedoras de um cult
do cinema onde a mulher foi elevada a outro patamar, depois de décadas de
mulheres objetos, femme fatales e pin-ups: o filme francês L’Immortelle (1963). Aqui o diretor
Alain Robbe-Grillet (romancista e roteirista indicado ao Oscar no filme de
Allain Renais The Last Year at Marienbad
- 1961) eleva a mulher a um patamar metafísico - mas sem deixar de ser carnal e
provocante.
sábado, maio 17, 2014
Um marco gnóstico no filme "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças"
sábado, maio 17, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um marco entre
os filmes gnósticos. Se Matrix se tornou um clássico no Gnosticismo pop onde o
homem é prisioneiro em um cosmos simulado por máquinas, no filme “Brilho Eterno
de Uma Mente Sem Lembranças” (2004) temos uma mudança nas representações do
Gnosticismo no cinema: agora o homem é prisioneiro em um mundo interno, a própria
mente, através do sono do esquecimento induzido por uma tecnociência demiúrgica.
“Brilho Eterno” é profético em relação ao novo século que então se iniciava ao
fazer uma crítica às chamadas tecnologias do espírito (autoajuda, neurociências
etc.) e a sua popularização através da cultura Prozac que promete deletar nossas
inquietações (sonhos e memórias) por meios de recursos fármacos e neurocientíficos
para, em troca, nos proporcionar a paz dos cemitérios.
Ao lado do
filme Vanilla Sky (2001), o filme de
Michel Gondry Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (Eternal Sunshine of the Spotless Mind, 2004) é um marco na história
dos filmes gnósticos. Esses dois filmes representaram o fim do que chamamos
modelo Matrix de Gnosticismo pop: o mundo ilusório no qual o protagonista se
encontra aprisionado é mais uma simulação tecnológica perfeita produto de um
Demiurgo computacional como em Matrix
(1999), aliens como Cidade das Sombras
(Dark City, 1998) ou um diretor de TV
como em Show de Truman (1999); a
partir de Vanilla Sky e Brilho Eterno vemos o protagonista preso
em um mundo interior devido a alguma desordem neurológica ou psíquica,
conflitos interiores, alucinações ou sonhos.
Se no modelo
Matrix de Gnosticismo pop já era colocado a necessidade da gnose através de uma
busca interior ou reforma íntima para conseguir superar a ilusão aprisionadora,
agora a partir de filmes como Brilho Eterno, esse mergulho interior passa a ser
mais profundo, demonstrando que a prisão começa a partir dos próprias bloqueios
psíquicos como traumas, ressentimentos e angústias.
segunda-feira, abril 28, 2014
A Serpente do Paraíso rouba a cena no filme "Noé"
segunda-feira, abril 28, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
No livro bíblico
do Gênesis, a história da arca de Noé tem apenas três páginas. Conhecendo o
senso hollywoodiano de espetáculo e a inclinação de Darren Aronofsky em
explorar complexas simbologias místicas e esotéricas, era de se esperar que o
filme “Noé” (Noah, 2014) não fosse um thriller bíblico nos moldes de “Os Dez
Mandamentos”. Pelo contrário, Aronofsky subverte o famoso personagem bíblico
através de uma releitura gnóstica e cabalística. O diretor não só abandonou a
Bíblia como transformou a Serpente do Jardim do Éden no personagem principal,
trazendo para as telas a antiga versão gnóstica do mito do Paraíso, sob uma
embalagem atual política e ecologicamente correta.
Quem conhece a
obra do cineasta Darren Aronofsky, sabe que se pode esperar de seus filmes
profundos simbolismos místicos e esotéricos. Foi assim em filmes como Pi
(um thriller cabalístico onde um gênio matemático procura uma constante
numérica universal), Cisne
Negro (fábula gnóstica sobre a exploração da luz interior humana por um
demiurgo representado pelas exigências mercadológicas de uma companhia de balé)
e Fonte
da Vida (uma jornada de elevação espiritual através de complexos
simbolismos gnósticos e alquímicos).
Com o filme Noé (Noah, 2014) não poderia ser diferente. Porém, desta vez
Aronofsky saiu do campo dos dramas seculares traduzidos por simbolismos para
entrar em uma narrativa bíblica fazendo uma releitura paradoxalmente sem
referência à Bíblia: Aronofsky fez uma subversão flagrantemente gnóstica e
cabalística do famoso personagem bíblico.
sábado, março 08, 2014
Há um fantasma na máquina no filme "Ela"
sábado, março 08, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
No filme “Ela” (Her, 2013 - Oscar de melhor roteiro original), o diretor Spike Jonze retorna ao tema da
intimidade e incomunicabilidade das relações humanas abordadas pelo filme
“Quero Ser John Malkovich” (1999). Só que dessa vez sem alegorias, mas com a
mediação tecnológica de um sistema operacional que parece adquirir inteligência
e desenvolver emoções autênticas. Será que o software desenvolve uma verdadeira
inteligência ou será que nós estamos rebaixando nossas expectativas sobre a
inteligência para as máquinas parecerem mais espertas? Se isso for verdade,
isso não prejudicaria também nossas expectativas em relação aos relacionamentos
e o amor? Mas para Spike Jonze há um fantasma na máquina que pode subverter as
programações algorítmicas e encontrar uma dimensão espiritual no espaço
quântico entre o “0” e o “1” da codificação binária.
Em meados da
década de 1990 um hacker americano em
Berlin e um colega francês colocaram em prática uma curiosa experiência em
ciber-sexo: criaram um traje especial para o corpo imergir numa
experiência de sexo à distância. Uma perfeita máquina de ciber-sexo que
possibilitaria uma relação sexual virtual entre Paris e Berlin. O experimento foi divulgado e atraiu uma
multidão nas duas cidades. O que se sucedeu foram pessoas vetorizando seus
corpos, supostamente sentindo toques e penetrações de seus parceiros remotos
como fossem experiências presenciais.
Mas algo curioso aconteceu. Ao final do segundo dia um ciber-parceiro de
Paris mandou uma mensagem dizendo que estava tendo um problema com os códigos:
uma falha na programação estava fazendo o programa funcionar em loop, em um feedback fechado. O que significava que em dado momento o usuário
não estava mais fazendo sexo com algum parceiro remoto, mas com suas próprias
sensações digitalizadas em looping. E
os participantes estavam adorando! Em síntese, a experiência europeia de
ciber-sexo converteu-se em um evento autístico, uma ciber-masturbação (leia
KROKER, Arthur. Hacking the Future.
New York: St. Martin Press, 1996).
domingo, dezembro 15, 2013
Curta "Compramos e Vendemos Sentimentos" renova crítica ao consumismo
domingo, dezembro 15, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Produtos
audiovisuais de língua portuguesa estão inovando a forma de abordar a sociedade
de consumo. Fugindo da habitual crítica do ter-que-substitui-o-ser (que se
tornou clichê no momento em que a moderna publicidade absorveu a crítica e
transformou a imagem do consumo em atividade “consciente”, “sustentável” e “espiritualizada”),
o curta “Compramos e Vendemos Sentimentos”, trabalho de conclusão de curso de
Cinema da Universidade Lusófona de Lisboa, apresenta uma nova abordagem crítica
ao consumismo: uma sociedade mecanizada e futurista onde as pessoas para poderem ir e vir têm de se vender. São viciadas em
sentimentos e têm de trocá-los para adquirirem o que querem. Veja o curta.
Por muito tempo a crítica mais comum à
sociedade de consumo sempre foi de que é uma sociedade de alienação e de
espetáculo, onde o ter substitui o ser. Mas a indústria publicitária e o consumismo
evoluíram e incorporaram essas críticas quando se tornaram mais “espiritualizadas”:
parece que assimilaram todas as críticas feitas a
ela ao longo da história (consumismo, superficialidade, frivolidade,
materialismo etc.) e agora procura demonstrar através de um novo discurso que
mudaram, se espiritualizaram e não veem mais o consumo como mero ato de
aquisição, mas de enriquecimento espiritual.
Tendências como
o chamado “consumo consciente”, “sustentável” e todo um discurso motivacional e
ético que envolve agora o ato da compra (o consumo muito menos como um ato de
acúmulo e ostentação e mais como uma oportunidade de buscar uma espécie de
atalho para a iluminação espiritual - comprar-consumir-espiritualizar-se)
parece dominar a linguagem publicitária.
quinta-feira, dezembro 12, 2013
Você sabe que é gnóstico quando...
quinta-feira, dezembro 12, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Você pode ser gnóstico e não sabe! Em dezembro de 2011
publicamos uma pequena lista de doze atitudes que indicariam quando uma pessoa tem
predisposição a ser gnóstica. A lista tinha sido elaborada pelo escritor norte-americano
Miguel Conner, apresentador do programa radiofônico online Aeon Bytes Gnostic
Radio e um pesquisador sobre as diversas escolas da filosofia gnóstica. Esse
ano resolvemos elaborar a nossa própria lista: uma série também de doze itens
onde são apresentadas atitudes, impressões, sentimentos ou insights que
revelariam indícios de que uma pessoa teria uma certa predisposição ou atitude
mental gnóstica.
Essa lista, ao mesmo tempo séria
e irônica (esse mix intelectual faz parte da visão gnóstica) demonstraria o
porquê da longevidade histórica do Gnosticismo e, ao mesmo tempo, porque
despertou tanto ódio e perseguições das religiões institucionalizadas – e principalmente
a Católica. Primeiro porque o Gnosticismo não é uma religião, doutrina ou
filosofia plenamente sistematizada como bem definiu Stephen Holler: “uma certa
atitude da mente, uma ambiência psicológica, um certo tipo de alma”. A atitude
crítica, desconfiada que beira a paranoia e, algumas vezes, a insanidade, já
torna alguém um “gnóstico”. Claro que não é uma consciência crítica comum,
político-ideológica-partidária. É um ceticismo radical: por que a sociedade e a
realidade são assim, quem as fez e com quais propósitos? E, a mais importante
questão, o que o homem faz no meio de tudo isso?
Por isso atraiu o ódio das
religiões e escolas filosóficas institucionalizadas: tal ceticismo não funciona
muito bem com hierarquias e estruturas de poder, ainda mais aquelas cujos
mandatários teriam sido nomeados pelo próprio Deus.
quarta-feira, dezembro 11, 2013
Aleister Crowley e Bohemian Grove: o Oculto no classic rock e na política
quarta-feira, dezembro 11, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Membros da elite artística ou política repercutindo nomes como Aleister
Crowley, manipulando magia cerimonial e participando de estranhos rituais
coletivos. As conexões documentadas entre aquele que é considerado o maior
ocultista do século XX, Aleister Crowley, com o classic rock ou vídeos que
documentam a elite política e financeira internacional participando de um
bizarro ritual coletivo anual em Bohemian Grove, Califórnia, atiçam a
imaginação dos teóricos da conspiração. Mas a atração das elites pelo oculto talvez
se deva mais a um tentava de expiação da sua má consciência na tentativa de se tornarem
senhores de seus próprios infernos. Porém, a ampliação midiática de antigos simbolismos
e formas-pensamentos pode trazer consequências imprevisíveis.
A genialidade tanto do classic rock quanto das elites políticas
parece estar na forma como foram capazes de mobilizar e comercializar o esoterismo e
ocultismo no século XX. Essa mobilização de símbolos, personagens e mitos
originais dessa esfera metafísica da cultura criaram os princípios básicos de
manipulação pela indústria do entretenimento de arquétipos ou egrégoras
antigas, criando uma espécie de contínuo midiático atmosférico.
A formação desse contínuo
midiático resulta no renascimento, renovação ou fortalecimento de
formas-pensamento que podem ser tanto direcionados de forma proposital
(propaganda, publicidade, jornalismo etc.) ou com resultados caóticos ou
inesperados como, por exemplo, incidentes violentos – é o caso do massacre
do Colorado nos EUA em 2012 e suas conexões sincromísticas com o personagem do
Coringa no filme Batman: o Cavaleiro das
Trevas, ou a relação entre o “maníaco do shopping”, que em 1999 disparou freneticamente uma submetralhadora contra a
plateia de 40 pessoas, resultando em três mortos e vários feridos no cinema de
um shopping em São Paulo que exibia O
Clube da Luta.
quarta-feira, junho 26, 2013
Lâmpadas e conspirações no curta argentino "Luminaris"
quarta-feira, junho 26, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O mais premiado curta de animação argentino e que chegou a ficar entre
os dez finalistas para concorrer ao Oscar da categoria, “Luminaris” (2011) de
Juan Pablo Zaramella apresenta em seus seis minutos uma grande riqueza
simbólica a partir da colagem de estilos que vai da arte Deco e Surrealismo ao
Filme Noir e Neorrealismo. O que representaria a alegoria de um universo alternativo
governado por uma estranha força magnética do Sol que arrasta todos para os
seus trabalhos? Apesar de Zaramella desconversar sobre o simbolismo do seu
curta, podemos fazer um pequeno exercício de leitura do conteúdo da narrativa a
partir de três pontos de vista: o marxista, o conspiratório e o gnóstico.
O mais premiado curta argentino, “Luminaris” em
2012 foi pré-selecionado entre os dez finalistas para concorrer ao Oscar dentro
de sua categoria. Feito com uma técnica de stop-motion
denominada pixilation onde atores
reais interagem com objetos inanimados - veja o curta abaixo.
Dirigido por Juan Pablo Zaramella, a narrativa de
seis minutos é ambientada em uma Buenos Aires que parece o resultado do
cruzamento entre filme noir, realismo fantástico, neorrealismo e surrealismo. O
curta conta a história de um homem (Gustavo Cornillón) que vive em um universo
alternativo onde o tempo, o trabalho e o cotidiano são controlados pela luz do sol
que age como espécie de força magnética, despertando a todos para depois
arrastá-los ao trabalho e trazê-los ao final do expediente de volta para casa.
O protagonista tem um trabalho rotineiro e repetitivo na linha de montagem
em uma fábrica de lâmpadas onde são produzidas de uma forma, digamos, não
muito ortodoxa...
domingo, abril 21, 2013
Deus está nos números no filme "Número 9"
domingo, abril 21, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Três personagens em
três episódios. Cada um em uma espécie diferente de prisão: o primeiro em uma
prisão domiciliar; o segundo em um reality show; e o último preso ao vício por games
de computador. Em sua estreia como diretor no filme “Número 9” (The Nines, 2007), John August faz uma reflexão metalinguística sobre o trabalho do
diretor/roteirista no cinema usando uma poderosa metáfora gnóstica do
protagonista como o próprio ser humano prisioneiro na Terra, cujo planeta é
visto como uma realidade mal produzida e roteirizada por um “deus ex machina”: toda
vez que o protagonista começa a compreender o simbolismo místico da recorrência
do número nove na sua vida, o mundo é desmanchado para recomeçar em um próximo
episódio, do zero, levando o personagem principal ao esquecimento da sua
verdadeira identidade.
Chris Carter, criador da série
“Arquivo X”, em um comentário sobre o episódio chamado “Improbable” da nona
temporada fez a seguinte detalhamento do argumento da estória: “tudo é sobre a
compreensão da natureza de Deus através do uso da numerologia, sincronicidade,
probabilidade, reconhecimento de padrões, física teórica ou algo parecido”.
Nesse episódio de Arquivo X a
personagem Agente Scully trava um interessante diálogo com a Agente Reys:
“Scully: veja, Agente Reys, você não pode reduzir tudo na vida, toda criação, toda obra de arte, arquitetura, música, literatura... num jogo de vencedores e perdedores.Reys: Por que não? Talvez os vencedores sejam aqueles que jogaram melhor o jogo. Eles conseguiram ver padrões e conexões, assim como nós estamos tentando fazer nesse momento.”
Pois o filme “Número 9” dirigido
e escrito por John August (em seu primeiro filme como diretor depois de fazer o
roteiro de diversos filmes de Tim Burton) lida diretamente com esse tema ao
propor que a compreensão do simbolismo místico das coincidências e
sincronicidades permitiria um ser divino escapar da sua prisão corporal. A
compreensão dos significados das sincronicidades como ferramenta para a
libertação.
quarta-feira, janeiro 23, 2013
A esperança pós-apocalíptica no filme "A Estrada"
quarta-feira, janeiro 23, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A Estrada (The Road, 2009) é um
filme do gênero pós-apocalipse que você nunca viu, baseado no livro de Cornac
Mcarthy e premiado em 2007 com o prêmio Pulitzer. Ao contrário de filmes com a
mesma temática como “O Livro de
Eli” (The Book of Eli, 2010), a esperança dos protagonistas não está em livros
sagrados ou em Deus. A fé perdida deve ser buscada no "fogo do
coração": em um mundo arrasado por um evento apocalíptico só resta a busca
em si mesmo e na lembrança daquilo que foi perdido que não está nesse mundo,
mas em algum lugar idílico no "Sul" para onde os protagonistas
tentarão chegar percorrendo uma estrada de provações.
O mundo como
conhecemos foi destruído por algum evento apocalíptico indeterminado. O
resultado é a morte progressiva do planeta: com exceção dos seres humanos,
animais e o reino vegetal estão morrendo em meio a terremotos e a uma
insistente chuva que cai num mundo cada vez mais cinzento e gelado. Sem
alimentos, grupos se organizam em gangs em busca de combustível e de outros
seres humanos para serem canibalizados. Aqueles que não recorreram ao suicídio
lutam para não serem capturados por essas gangs e sobreviver sem comer seus
semelhantes.
Um homem (Viggo
Mortensen) tem apenas seu filho (Kodi Smit-McPhee) para a companhia nesta terra
árida. A mãe (Charlize Theron) se matou, e a única esperança de sobreviver ao
inverno eterno é atravessar o país em direção do litoral e rumar para o sul. Ao
longo de seu caminho deverão enfrentar a constante ameaça das gangues canibais
e os perigos de um planeta que está morrendo.
Esse plot parece ser
familiar: mais um filme pós-apocalíptico na linha de “Mad Max” ou do recente “O
Livro de Eli” (aliás, como os norte-americanos gostam de destruir o próprio país
nos filmes!). Porém, sua narrativa glacial e precisa, com uma constante
atmosfera de horror pelos recorrentes sinais de canibalismo generalizado torna “A Estrada” um filme pós-apocalíptico
como jamais vimos.
domingo, janeiro 20, 2013
A mitologia da Queda é renovada em "Upside Down"
domingo, janeiro 20, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Ao mesclar ficção científica com romance, “Upside Down” (uma co-produção
Canadá/França dirigida pelo argentino Juan Diego Solanas) dá nova roupagem aos
mitos da Queda, tão antigos quanto a humanidade: relatos míticos que tentam relacionar
a dor e sofrimento à queda da humanidade de um estado de pureza e inocência. Em
um engenhoso roteiro, Solanas constrói uma versão literal da Queda ao criar um
universo onde a Lei da Gravidade ao mesmo tempo une e separa dois planetas que não possuem céu ou
horizontes, mas apenas a versão invertida da sua própria sociedade: o opulento
mundo “de cima” que sempre faz lembrar a pobreza do mundo “de baixo”. Mas um
amor proibido desafiará a gigantesca corporação que mantém essa ordem através
da exploração da energia e dos meios de comunicação.
Os
mitos da Queda são tão antigos quanto a história humana. Das tradições das religiões abraâmicas (que se
referem a um estado de transição humana da inocência e obediência a Deus para
um estado de culpa e pecado) às heresias gnósticas (a Queda como uma catástrofe
de dimensão cósmica da qual o homem tenta se libertar), são relatos que tentam
explicar a origem de tanta dor e sofrimento humanos que teria iniciado em algum
momento posterior a Criação.
A
esse mito associa-se o de uma “Era Dourada” derivada da mitologia grega e de
diversas lendas que via o início da humanidade como um estado ideal quando o
gênero humano era puro e imortal. Isso criou o arquétipo do “mito das origens”
presente em obras como a do filósofo francês Rosseau que vai, por exemplo,
influenciar teorias psicopedagógicas: a infância como um momento de feliz espontaneidade e pureza que será perdida na
entrada da fase adulta.
Pois
o filme “Upside Down”, uma coprodução Canadá/França dirigido pelo argentino
Juan Diego Solanas, vai não só se inspirar nessas fontes míticas como também
vai dar uma nova roupagem, dessa vez literal a essa “Queda” – associá-la às
leis gravitacionais através de um engenhoso roteiro que parte das seguintes
premissas:
sábado, janeiro 05, 2013
Tudo é humano, demasiado humano em "Cloud Atlas"
sábado, janeiro 05, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Como um produto
hollywoodiano como “Cloud Atlas” (A Viagem) consegue simultaneamente explorar
simbologias de mistérios antigos (órficos, pagãos e gnósticos) e, ao mesmo
tempo, adequar-se às convenções do gênero blockbuster? Como conciliar em uma
mesma narrativa o niilismo do eterno-retorno com a concepção de que a
existência é dotada de um propósito que nos levaria a um final apoteótico? Como
lidar com o desejo de liberdade e transcendência do espectador dentro de um produto
mercadológico da indústria de entretenimento? Os irmãos Wachowski e Tykwer encontraram
a resposta na ideia de que tudo é “humano, demasiado humano”: o Universo
seria uma perfeita sinfonia. O que atrapalha é a humanidade. "Cloud Atlas" faria nas entrelinhas o julgamento religioso das ações humanas.
“O que tentamos foi fazer uma história
sobre uma reviravolta, a mesma reviravolta experimentada pelo personagem Neo
que sai deste mundo oprimido e programado para participar na construção do
sentido da sua vida. E nós pensamos assim: poderemos levar ao público algo
similar a experiência do personagem principal nos três filmes?”, afirmou Lana
Wachowski referindo-se a uma comparação entre o atual “Cloud Atlas” e a
trilogia “Matrix” (Veja “Cloud Atlas Entrevista” In: Scifiworld).
O filme “Cloud Atlas” (com o
infeliz título em português “A Viagem”, que vamos ignorar nessa postagem) dirigido
pelo trio Tom Tykwer (“Corra, Lola, Corra”) e Lana e Andy Wachowski (trilogia
“Matrix”) é um exemplo magistral de como a indústria de entretenimento
equilibra-se em uma corda bamba entre o impulso metafísico em lidar com antigas
simbologias dos antigos mistérios sejam pagãos ou gnósticos (que no final
procuram capturar o desejo por liberdade e transcendência dos espectadores) e a
necessidade de fazer um produto que se adapte às convenções ideológicas do
gênero blockbuster.
Nas quase três horas de duração,
entramos em pânico na primeira meia hora ao não entendermos nada sobre o
propósito de cada uma das seis estórias narradas de forma entrelaçada e aparentemente
aleatória. Aos poucos vamos ligando os pontos e passamos a saborear a brilhante
montagem das sequências. Como o próprio David Mitchell (autor do livro no qual
se baseou o filme) afirmou, a chave é o tema da reencarnação. Um empreendimento
difícil e arriscado ao entrelaçar eventos ao longo de cinco séculos, em
diferentes gêneros (sci fi, drama,
espionagem, policial etc.) com os mesmos atores vivendo papéis, personagens,
sexo e raças diferentes, sugerindo as diversas existências numa espécie de
jornada cósmica de almas imortais.
sábado, dezembro 22, 2012
O fim do mundo não foi televisionado
sábado, dezembro 22, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Conclusão do post "A necrospectiva do fim do mundo" |
Peter Cornelius, The Riders of Apocalypse (1845) |
Abrigos nucleares
são vendidos nos EUA para aqueles que acreditam que o fim do mundo se aproxima.
No interior da França uma comunidade religiosa acredita que apenas a pequena localidade onde vivem será uma das poucas que sobreviverá ao cataclismo global. E se
invertermos a linha de tempo? Em outras palavras, e se o apocalipse já tiver
ocorrido? E se, sem sabermos, já estivermos em um mundo pós-apocalíptico
vivendo as consequências de um cosmos que se legitima por meio da crença
religiosa de que tudo, um dia, terá um fim? Essa é a heresia gnóstica,
esquecida pela hegemonia de um mercado de profecias sobre o fim do mundo que
desempenha um duplo papel: como manipulação ideológica e, também, como sintoma
da condição humana alienada nesse mundo.
O Titanic já afundou. Os cavaleiros do Apocalipse já cavalgaram há muito
tempo pela Terra. O Apocalipse não foi televisionado e nem foi roteirizado por
uma produção hollywoodiana. Já ocorreu há muito tempo atrás com o “Big Bang” da
Criação.
Esse é o princípio da filosofia gnóstica. O Mal já estava na própria
Criação. Por isso o Gnosticismo sempre foi
associado a uma espécie de “escatologia realizada”. Isto significa
que qualquer realidade que vale a pena se desfez antes da Criação, com a queda
mitológica de Sophia. O Big Bang foi o Apocalipse. Os seres humanos
seriam apenas fragmentos da Divindade suprema agarrados a destroços mortos
flutuando em um oceano de matéria escura.
domingo, abril 15, 2012
O Homem Diante da Queda no Filme "Dublê de Anjo"
domingo, abril 15, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em plena era dos efeitos especiais digitais no cinema, o indiano Tarsem Singh (veterano diretor de videoclipes e filmes publicitários) resolveu fazer um filme de fantasia baseado unicamente em figurinos, fotografia e locações buscadas em 28 países que acreditamos serem impossíveis. Aparentemente somente poderiam ser imagens geradas em computador. Mas são reais! Com as escadas infinitas e labirintos sem saída que mais parecem gravuras saídas da imaginação de M.C. Escher, o filme "Dublê de Anjo" (The Fall, 2006) narra a tentiva de suicídio de um amargo dublê de cinema hospitalizado após um acidente em filmagens. A improvável amizade com uma menina de quatro anos cria um mundo imaginário, uma simbólica narrativa da Queda e Redenção humanas.
Tarsem Singh Dhabdwar arriscou quase tudo que tinha para
fazer um filme que durante anos ninguém estava disposto a financiar. Tarsem fez
muito dinheiro como diretor de filmes publicitários e videoclipes de bandas
como Green Day e REM (por exemplo, o videoclip “Losing My Religion”) e via o
projeto do filme “Dublê de Anjo” (The Fall, 2006) como a realização de “um
sonho de todos no meio publicitário, o de um dia fazer um grande filme”.
Por quatro anos Tarsem capturou imagens de 28 países em locais que, acreditamos, não seriam possíveis. O diretor afirma que não usou
computadores para criá-los: eles existem. Planos subaquáticos de um elefante
nadando graciosamente enquanto carrega homens nas costas, pátios de palácios
construídos a partir de escadas interligadas que parecem ter saído de gravuras
de M.C. Escher, uma aldeia agarrada a uma montanha onde os prédios parecem ter
sido individualmente pintados em tons sutilmente diferentes de azul.
São imagens surpreendentes porque reais, com detalhes que
escapariam até de um artista digital. Diferente do seu filme anterior, “A Cela”
(The Cell, 2000), Tarsem decidiu fazer um filme baseado unicamente na
fotografia, locações e figurino.
Por isso, o filme é quase impossível de descrevê-lo. Podemos
dizer o que acontece, mas não conseguimos transmitir o espanto de como isso
acontece. Para um dos produtores do filme, o diretor David Fincher (“O Clube da
Luta” e “A Rede Social”), o filme é um cruzamento de “O Mágico de Oz” com
Tarkowsky.
sexta-feira, abril 06, 2012
O Sabor Gnóstico dos Muppets
sexta-feira, abril 06, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A longevidade dos Muppets, que resistiram à concorrência das modernas animações digitais, parece apontar para uma mudança da sensibilidade infantil em relação aos universos ficcionais: muito mais metalinguística, reflexiva e irônica. A percepção de que a realidade não é mais estável e perene, mas uma construção artificial, plástica, que pode a qualquer momento ser alterada pela força da imaginação. Mas os Muppets parecem atribuir um valor a mais a essa força, um sentido místico.
Nessa Páscoa resolvi inovar. Ao invés de dar ovos de páscoa
para meus filhos, resolvi dar dois DVDs clássicos dos Muppets: “Os Muppets: o
filme” de 1979 e “Os Muppets Conquistam Nova Iorque” de 1984. Para quem não
conhece, a série “Os Muppets” é um universo ficcional criado por Jim Henson que
iniciou na TV norte-americana nos anos 1970. A principal característica das
narrativas é que os diversos personagens que compõem o universo Muppets (Caco,
Miss Piggy, Gonzo, Urso Fozzie etc.) convivem com humanos de uma forma natural.
O que já é suficiente produzir uma série de situações cômicas e inusitadas.
Assistimos juntos aos filmes: o primeiro que narra a ascensão dos
Muppets, do anonimato de Caco, o Sapo, nos pântanos até o sucesso em Hollywood e o outro onde eles tentam fazer um musical de sucesso na Broadway.
A primeira questão levantada por eles: por que ninguém no
mundo humano preocupa-se com o fato de os Muppets serem diferentes dos seres
humanos? A questão levantada chamou-me a
atenção de uma espécie de sensibilidade metalinguística ou irônica das crianças
contemporâneas em relação aos filmes e animações.
sábado, novembro 19, 2011
O Western Espiritual "Dead Man"
sábado, novembro 19, 2011
Wilson Roberto Vieira Ferreira
De todos os subgêneros
e revisionismos criados a partir do western clássico, o que mais chama a
atenção é o “acid western” pelo seu caráter “underground” místico e messiânico:
todos os personagens do gênero estão lá (caçadores de recompensas, prostitutas,
cowboys errantes etc.), porém eles não lutam mais por vingança, conquista ou
justiça: buscam a iluminação espiritual. “Dead Man” (1995) do diretor Jim
Jarmuch se insere nesse subgênero ao rechear as linhas de diálogos com inúmeras
referências ao poeta e pintor inglês místico e herético William Blake e construir uma narrativa
hipnótica como um mantra ao som da guitarra de Neil Young.
O gênero western é um produto tipicamente norte-americano
que passou por uma série de renovações, sempre com a preocupação da indústria
do entretenimento universalizá-lo para torná-lo um produto com um mercado
globalizado: do western clássico desde a era do cinema mudo que retrata a luta
do homem para conquistar a natureza infestada por índios e animais selvagens,
passando pelo diretor John Ford (culturalmente mais neutro onde os nativos
passam a ter um melhor tratamento) que vai construir aprofundamentos
psicológicos em toda a galeria dos personagens do gênero (caçadores de
recompensas, cowboys errantes etc.) até chegar a autoconsciência paródica do
chamado “spaghetti western”de Sérgio Leone e o revisionismo de Sam Peckinpah
onde pretendia arrancar poesia da violência representada em câmera lenta.
Para além dessa trajetória “mainstream”, o crítico de cinema
Jonathan Rosenbaun aponta para um subgênero underground: o “acid western”subgênero
que se inicia com o filme “El Topo” (The Mole, 1970), um western místico Cult recheado
de referências ao tarot, messianismo e referências bíblicas em linguagem
lisérgica. “Dead Man” de Jim Jarmuch se insere claramente nessa linha ao criar
um protagonista que não busca mais conquista, vingança ou justiça, mas
iluminação espiritual através de uma “poesia escrita com sangue”.
É a estória de um jovem homem que realiza uma jornada espiritual em uma
terra estranha para ele, nas fronteiras extremas do oeste americano, em algum
momento da segunda metade do século XIX. William Blake (Johnny Deep) é um
contador que recebe convite para trabalhar em uma metalúrgica em uma cidade
chamada Machine. Em seus bolsos alguns dólares e a carta de promessa de emprego
na metalúrgica. Chegando lá, descobre que outro homem já ocupava a vaga de
contador e que ele, Blake, chegou com um mês de atraso.
Deprimido, vai para um saloon, onde encontra com uma mulher,
ex-prostituta, Thel (Mili Avital). Defende-a da agressividade dos homens do
local, sendo convidado por ela para ir até seu quarto. Lá, ambos são flagrados
pelo noivo Charlie Dickinson (Gabriel Byrne) que dispara um revólver, atingindo
os dois. Em legítima defesa, Blake o mata e foge, depois de constatar que Thel
estava morta. A partir desse ponto, começa o purgatório de Blake: Charlie era,
na verdade, filho do proprietário da metalúrgica, que contrata três pistoleiros
para matá-lo em vingança.
sexta-feira, maio 27, 2011
Minissérie "Alice": O País das Maravilhas 150 Anos Depois
sexta-feira, maio 27, 2011
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Como seriam o País das Maravilhas e Alice 150 anos depois? Certamente mais violentos: ela faixa preta em karatê e a Wonderland um reino onde o castelo da Rainha é substituído por um cassino de onde comanda um esquema de rapto de seres humanos para que suas emoções sejam drenadas e transformadas em matéria-prima para a produção de drogas. Essa é a versão atualizada do clássico de Lewis Carroll escrita e dirigida por Nick Willing, numa minissérie em dois episódios para o canal por assinatura Syfy. Uma surpreendente combinação da distopia pós-moderna com uma clássica narrativa a partir da mitologia gnóstica.
A minissérie para TV “Alice” (2009) é mais uma adaptação de clássicos feita por Willing como na produção anterior “Tin Man” de 2007 (“Homem de Lata”, baseado no “Mágico de Oz”) e atualmente, em fase de pós-produção, a minissérie para TV “Neverland”, uma adaptação de Peter Pan.
A protagonista Alice de Willing (Caterina Scorsone) não é mais uma jovem garota inglesa, mas agora uma jovem na faixa dos 20 anos professora de karatê e que mora nos Estados Unidos. Tudo começa quando o seu namorado Jack Chase (Philip Winchester) é estranhamente sequestrado. Alice persegue os sequestradores até o interior de um escuro galpão abandonado até dar de encontro com um espelho, através do qual cai numa espécie de “wormhole” que a conduz até o País das Maravilhas.
Wonderland continua dominado pela maldosa Rainha de Copas (Kathy Bates), mas o esquema de dominação é bem diferente do descrito no original de Carroll (ameaças constantes de cortar as cabeças e o dragão Jabberwocky). Diferente do regime de terror do passado, agora a Rainha domina através da estratégia da sedução.
Com a ajuda de uma organização secreta (a “Sociedade do Coelho Branco”, um mix de Gestapo e SS nazista) sequestram seres humanos (“ostras” como eles denominam) no mundo real trazendo-os através do espelho/portal. Na Wonderland são mantidos prisioneiros em um gigantesco cassino em estado de semi-inconsciência e euforia em jogos em que todos sempre ganham. Mantidos nesse estado de delírio e euforia pelos prazeres proporcionados pela gratificação instantânea artificialmente criada, sentimentos, emoções e paixões são drenados para que os “carpinteiros” (os cientistas e técnicos laboratoriais) destilem a essência em frascos que se tornam a droga e moeda de troca para os súditos da rainha.
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