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sábado, junho 27, 2015

Série "Sense8" renova o Gnosticismo Pop de "Matrix"

Diante da série "Sense8" os críticos parecem estar incertos: ou a produção dos irmãos Wachowski é uma obra-prima ou um completo desastre. Para aqueles que já assistiram aos filmes “Matrix”, “Cloud Atlas” ou mesmo “O Destino de Júpiter”, perceberão que os Wachowski ingressam em um território familiar – protagonistas que levam uma vida banal e que de repente descobrem um propósito maior que os levará a enfrentarem um cruel sistema de dominação. Como em “Matrix”, “Sense8” revisita a mitologia gnóstica, porém com uma novidade que faz a série entrar em sintonia com o seu tempo: enquanto em Matrix a ilusão que aprisionava o protagonista era uma sinistra simulação tecnológica, em “Sense8” culturas regionais e nacionais criam rígidos modelos de gênero e identidade que mantém os protagonistas presos a uma conspiração. E a iluminação espiritual não é mais um processo ascético individual, mas agora uma rede mental coletiva e global.  

Os irmãos Wachowski serão de agora em diante chamados de “The Wachowskis” nos créditos das suas produções. Essa não é a única novidade na série do Netflix Sense8. Para aqueles que se dedicam ao estudo das recorrências do Gnosticismo na indústria do entretenimento, como faz esse blog Cinegnose, a série apresenta a principal novidade: uma nova interpretação da mitologia gnóstica dentro daquilo que definimos como “Gnosticismo Pop” – o súbito interesse de diretores, roteiristas e produtores de Hollywood pelos simbolismos e narrativas míticas do Gnosticismo.

Uma tendência que se iniciou no final do século passado, cujo ápice desse revival pop gnóstico foi certamente o filme Matrix dos Wachowskis que sintetizou o que muitos filmes anteriores já exploravam – Dark City (1998), A Vida em Preto e Branco (1998), Show de Truman (1998), O Décimo Terceiro Andar (1999), Clube da Luta (1999) entre outros.

sábado, fevereiro 21, 2015

Em "O Destino de Júpiter" os Wachowski esquecem a pílula vermelha do Gnosticismo Pop

Com o filme “O Destino de Júpiter”, mais uma vez os irmãos Wachowski criam uma fábula gnóstica pop. E dessa vez sincronizando um evento astronômico (a ascensão do planeta Júpiter nos céus em fevereiro) com uma releitura do mito gnóstico da Criação, Queda e Ascensão do “Apócrifo de João” escrito em 150 DC. Tal como na “Trilogia Matrix”, a humanidade é prisioneira dos Demiurgos para ter sua energia drenada. Lá em Matrix presos em incubadoras.  Aqui em “O Destino de Júpiter” para serem semeados e colhidos por uma casta real alienígena em uma espécie de gigantesco latifúndio cósmico. Porém, dessa vez os Wachowski fizeram grandes concessões à Hollywood: a pílula vermelha da gnose que despertava para a Verdade da Matrix desapareceu para ser substituída pelo obediente retorno do espectador à ordem.

Originalmente O Destino de Júpiter (Jupiter Ascending, 2015) tinha lançamento previsto para junho do ano passado. Foi adiado e, “coincidentemente”, só entrou em cartaz em fevereiro desse ano, no momento em que o planeta Júpiter ascendeu à posição oposta ao Sol – Júpiter sobe no céu no momento em que o Sol se põe, brilha mais alto à meia-noite e se põe em torno do nascer do Sol. Júpiter nesse momento está mais próximo da Terra, aparecendo maior e mais brilhante.

Em se tratando dos irmãos Wachowski e pelo emaranhado de simbologias gnósticas e esotéricas que o filme explora, tudo NÃO é mera coincidência. Andy e Lana Wachowski sabem o que estão fazendo: com essa sincronia entre os eventos cinematográfico e astronômico, reforçam ainda mais a mitologia por trás do verdadeiro delírio visual de um filme que parece que fundiu Matrix, Star Wars e Flash Gordon dentro de uma gigantesca space opera.

segunda-feira, janeiro 05, 2015

Os olhos dos mortos retornam nos recém-nascidos no filme "I Origins"


Aos 21 anos o diretor Mike Cahill teve um estranho sonho e quando acordou sentiu a necessidade de escrever a seguinte frase: “Os olhos dos mortos retornam nos recém-nascidos”. Catorze anos depois tornou-se interessado no tema da biometria através íris. Junto com a lembrança da misteriosa frase do passado, Cahill escreveu o argumento do roteiro do filme “I Origins” (2014) – um biólogo molecular obcecado pelo design complexo do olho humano quer terminar de vez o debate entre criacionistas e evolucionistas, conseguindo preencher definitivamente a lacuna do mapeamento evolutivo do órgão humano, provando a inexistência de Deus. Sem ser um filme New Age disfarçado, Cahill opõe os argumentos dos dois lados, mostrando que Ciência e Espiritualidade podem andar juntas, embora em planos separados da existência. E o que as uniria seria o acaso, representado por uma misteriosa garota com a íris multicolorida, a "Sophia" da mitologia gnóstica. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

sexta-feira, julho 04, 2014

"L'Immortelle" criou a mulher metafísica para o cinema

Filmes gnósticos como “Matrix” e “Vanilla Sky” apresentam uma galeria de personagens femininos fortes, sem história, que de repente surgem na vida do protagonista para retirá-lo de um mundo de ilusões. Esses filmes são tributários não só da mitologia gnóstica de Sophia, mas, cinematograficamente, do cult “L’Immortelle” (1963) de Allain Robbe-Grillet. Depois de mulheres pin-ups, objetos e femme fatales na história do cinema, o diretor e romancista francês inseriu a mulher em narrativas de mistério metafísico: misteriosas, etéreas, mas ao mesmo tempo sensuais e sedutoras. Dessa forma, a mulher metafísica de Robbe-Grillet converte o protagonista masculino em "Estrangeiro" – metáfora da condição humana de alienação e estranhamento.

Quem não se recorda da personagem Sofia (Penélope Cruz) em Vanilla Sky (2001) despertando o protagonista David Aymes aprisionado em uma simulação de realidade em um sonho lúcido? Ou de Trinity (Carie-Anne Moss) que, graças ao seu amor, fez Neo descobrir que era O Escolhido em Matrix (1999)? Ou ainda da personagem Sylvia que fez Truman descobrir que sua vida era uma prisão dentro de em um gigantesco reality show em Show de Truman (1998)? Personagens femininos fortes, sem história, que surgem de repente na vida do protagonista para despertá-lo do sono das ilusões que o prendem a esse mundo. Mulheres que muitas vezes sacrificam o seu amor e a si mesmas pela redenção do herói e de toda humanidade.

Pois essas mulheres por trás de todos esses heróis do gnosticismo pop cinemático descendem mitologicamente do personagem gnóstico de Sophia, o aeon que vai despertar no homem a fagulha de luz interior (a gnose) para conectá-lo de volta à Plenitude. Mas cinematograficamente, são devedoras de um cult do cinema onde a mulher foi elevada a outro patamar, depois de décadas de mulheres objetos, femme fatales e pin-ups: o filme francês L’Immortelle (1963). Aqui o diretor Alain Robbe-Grillet (romancista e roteirista indicado ao Oscar no filme de Allain Renais The Last Year at Marienbad - 1961) eleva a mulher a um patamar metafísico - mas sem deixar de ser carnal e provocante.

sábado, maio 17, 2014

Um marco gnóstico no filme "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças"

Um marco entre os filmes gnósticos. Se Matrix se tornou um clássico no Gnosticismo pop onde o homem é prisioneiro em um cosmos simulado por máquinas, no filme “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças” (2004) temos uma mudança nas representações do Gnosticismo no cinema: agora o homem é prisioneiro em um mundo interno, a própria mente, através do sono do esquecimento induzido por uma tecnociência demiúrgica. “Brilho Eterno” é profético em relação ao novo século que então se iniciava ao fazer uma crítica às chamadas tecnologias do espírito (autoajuda, neurociências etc.) e a sua popularização através da cultura Prozac que promete deletar nossas inquietações (sonhos e memórias) por meios de recursos fármacos e neurocientíficos para, em troca, nos proporcionar a paz dos cemitérios.

Ao lado do filme Vanilla Sky (2001), o filme de Michel Gondry  Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (Eternal Sunshine of the Spotless Mind, 2004) é um marco na história dos filmes gnósticos. Esses dois filmes representaram o fim do que chamamos modelo Matrix de Gnosticismo pop: o mundo ilusório no qual o protagonista se encontra aprisionado é mais uma simulação tecnológica perfeita produto de um Demiurgo computacional como em Matrix (1999), aliens como Cidade das Sombras (Dark City, 1998) ou um diretor de TV como em Show de Truman (1999); a partir de Vanilla Sky e Brilho Eterno vemos o protagonista preso em um mundo interior devido a alguma desordem neurológica ou psíquica, conflitos interiores, alucinações ou sonhos.

Se no modelo Matrix de Gnosticismo pop já era colocado a necessidade da gnose através de uma busca interior ou reforma íntima para conseguir superar a ilusão aprisionadora, agora a partir de filmes como Brilho Eterno, esse mergulho interior passa a ser mais profundo, demonstrando que a prisão começa a partir dos próprias bloqueios psíquicos como traumas, ressentimentos e angústias.

segunda-feira, abril 28, 2014

A Serpente do Paraíso rouba a cena no filme "Noé"

No livro bíblico do Gênesis, a história da arca de Noé tem apenas três páginas. Conhecendo o senso hollywoodiano de espetáculo e a inclinação de Darren Aronofsky em explorar complexas simbologias místicas e esotéricas, era de se esperar que o filme “Noé” (Noah, 2014) não fosse um thriller bíblico nos moldes de “Os Dez Mandamentos”. Pelo contrário, Aronofsky subverte o famoso personagem bíblico através de uma releitura gnóstica e cabalística. O diretor não só abandonou a Bíblia como transformou a Serpente do Jardim do Éden no personagem principal, trazendo para as telas a antiga versão gnóstica do mito do Paraíso, sob uma embalagem atual política e ecologicamente correta.

Quem conhece a obra do cineasta Darren Aronofsky, sabe que se pode esperar de seus filmes profundos simbolismos místicos e esotéricos. Foi assim em filmes como Pi (um thriller cabalístico onde um gênio matemático procura uma constante numérica universal), Cisne Negro (fábula gnóstica sobre a exploração da luz interior humana por um demiurgo representado pelas exigências mercadológicas de uma companhia de balé) e Fonte da Vida (uma jornada de elevação espiritual através de complexos simbolismos gnósticos e alquímicos).

  Com o filme Noé (Noah, 2014) não poderia ser diferente. Porém, desta vez Aronofsky saiu do campo dos dramas seculares traduzidos por simbolismos para entrar em uma narrativa bíblica fazendo uma releitura paradoxalmente sem referência à Bíblia: Aronofsky fez uma subversão flagrantemente gnóstica e cabalística do famoso personagem bíblico.

sábado, março 08, 2014

Há um fantasma na máquina no filme "Ela"

No filme “Ela” (Her, 2013 - Oscar de melhor roteiro original), o diretor Spike Jonze retorna ao tema da intimidade e incomunicabilidade das relações humanas abordadas pelo filme “Quero Ser John Malkovich” (1999). Só que dessa vez sem alegorias, mas com a mediação tecnológica de um sistema operacional que parece adquirir inteligência e desenvolver emoções autênticas. Será que o software desenvolve uma verdadeira inteligência ou será que nós estamos rebaixando nossas expectativas sobre a inteligência para as máquinas parecerem mais espertas? Se isso for verdade, isso não prejudicaria também nossas expectativas em relação aos relacionamentos e o amor? Mas para Spike Jonze há um fantasma na máquina que pode subverter as programações algorítmicas e encontrar uma dimensão espiritual no espaço quântico entre o “0” e o “1” da codificação binária.

Em meados da década de 1990 um hacker americano em Berlin e um colega francês colocaram em prática uma curiosa experiência em ciber-sexo: criaram um traje especial para o corpo imergir numa experiência de sexo à distância. Uma perfeita máquina de ciber-sexo que possibilitaria uma relação sexual virtual entre Paris e Berlin. O experimento foi divulgado e atraiu uma multidão nas duas cidades. O que se sucedeu foram pessoas vetorizando seus corpos, supostamente sentindo toques e penetrações de seus parceiros remotos como fossem experiências presenciais.

Mas algo curioso aconteceu. Ao final do segundo dia um ciber-parceiro de Paris mandou uma mensagem dizendo que estava tendo um problema com os códigos: uma falha na programação estava fazendo o programa funcionar em loop, em um feedback fechado. O que significava que em dado momento o usuário não estava mais fazendo sexo com algum parceiro remoto, mas com suas próprias sensações digitalizadas em looping. E os participantes estavam adorando! Em síntese, a experiência europeia de ciber-sexo converteu-se em um evento autístico, uma ciber-masturbação (leia KROKER, Arthur. Hacking the Future. New York: St. Martin Press, 1996).

domingo, dezembro 15, 2013

Curta "Compramos e Vendemos Sentimentos" renova crítica ao consumismo


Produtos audiovisuais de língua portuguesa estão inovando a forma de abordar a sociedade de consumo. Fugindo da habitual crítica do ter-que-substitui-o-ser (que se tornou clichê no momento em que a moderna publicidade absorveu a crítica e transformou a imagem do consumo em atividade “consciente”, “sustentável” e “espiritualizada”), o curta “Compramos e Vendemos Sentimentos”, trabalho de conclusão de curso de Cinema da Universidade Lusófona de Lisboa, apresenta uma nova abordagem crítica ao consumismo: uma sociedade mecanizada e futurista onde as pessoas para poderem ir e vir têm de se vender. São viciadas em sentimentos e têm de trocá-los para adquirirem o que querem. Veja o curta.

Por muito tempo a crítica mais comum à sociedade de consumo sempre foi de que é uma sociedade de alienação e de espetáculo, onde o ter substitui o ser. Mas a indústria publicitária e o consumismo evoluíram e incorporaram essas críticas quando se tornaram mais “espiritualizadas”: parece que assimilaram todas as críticas feitas a ela ao longo da história (consumismo, superficialidade, frivolidade, materialismo etc.) e agora procura demonstrar através de um novo discurso que mudaram, se espiritualizaram e não veem mais o consumo como mero ato de aquisição, mas de enriquecimento espiritual.

Tendências como o chamado “consumo consciente”, “sustentável” e todo um discurso motivacional e ético que envolve agora o ato da compra (o consumo muito menos como um ato de acúmulo e ostentação e mais como uma oportunidade de buscar uma espécie de atalho para a iluminação espiritual - comprar-consumir-espiritualizar-se) parece dominar a linguagem publicitária.

quinta-feira, dezembro 12, 2013

Você sabe que é gnóstico quando...


Você pode ser gnóstico e não sabe! Em dezembro de 2011 publicamos uma pequena lista de doze atitudes que indicariam quando uma pessoa tem predisposição a ser gnóstica. A lista tinha sido elaborada pelo escritor norte-americano Miguel Conner, apresentador do programa radiofônico online Aeon Bytes Gnostic Radio e um pesquisador sobre as diversas escolas da filosofia gnóstica. Esse ano resolvemos elaborar a nossa própria lista: uma série também de doze itens onde são apresentadas atitudes, impressões, sentimentos ou insights que revelariam indícios de que uma pessoa teria uma certa predisposição ou atitude mental gnóstica.

Essa lista, ao mesmo tempo séria e irônica (esse mix intelectual faz parte da visão gnóstica) demonstraria o porquê da longevidade histórica do Gnosticismo e, ao mesmo tempo, porque despertou tanto ódio e perseguições das religiões institucionalizadas – e principalmente a Católica. Primeiro porque o Gnosticismo não é uma religião, doutrina ou filosofia plenamente sistematizada como bem definiu Stephen Holler: “uma certa atitude da mente, uma ambiência psicológica, um certo tipo de alma”. A atitude crítica, desconfiada que beira a paranoia e, algumas vezes, a insanidade, já torna alguém um “gnóstico”. Claro que não é uma consciência crítica comum, político-ideológica-partidária. É um ceticismo radical: por que a sociedade e a realidade são assim, quem as fez e com quais propósitos? E, a mais importante questão, o que o homem faz no meio de tudo isso?

Por isso atraiu o ódio das religiões e escolas filosóficas institucionalizadas: tal ceticismo não funciona muito bem com hierarquias e estruturas de poder, ainda mais aquelas cujos mandatários teriam sido nomeados pelo próprio Deus.

quarta-feira, dezembro 11, 2013

Aleister Crowley e Bohemian Grove: o Oculto no classic rock e na política


Membros da elite artística ou política repercutindo nomes como Aleister Crowley, manipulando magia cerimonial e participando de estranhos rituais coletivos. As conexões documentadas entre aquele que é considerado o maior ocultista do século XX, Aleister Crowley, com o classic rock ou vídeos que documentam a elite política e financeira internacional participando de um bizarro ritual coletivo anual em Bohemian Grove, Califórnia, atiçam a imaginação dos teóricos da conspiração. Mas a atração das elites pelo oculto talvez se deva mais a um tentava de expiação da sua má consciência na tentativa de se tornarem senhores de seus próprios infernos. Porém, a ampliação midiática de antigos simbolismos e formas-pensamentos pode trazer consequências imprevisíveis.
A genialidade tanto do classic rock quanto das elites políticas parece estar na forma como foram capazes de mobilizar e comercializar o esoterismo e ocultismo no século XX. Essa mobilização de símbolos, personagens e mitos originais dessa esfera metafísica da cultura criaram os princípios básicos de manipulação pela indústria do entretenimento de arquétipos ou egrégoras antigas, criando uma espécie de contínuo midiático atmosférico.
A formação desse contínuo midiático resulta no renascimento, renovação ou fortalecimento de formas-pensamento que podem ser tanto direcionados de forma proposital (propaganda, publicidade, jornalismo etc.) ou com resultados caóticos ou inesperados como, por exemplo, incidentes violentos – é o caso do massacre do Colorado nos EUA em 2012 e suas conexões sincromísticas com o personagem do Coringa no filme Batman: o Cavaleiro das Trevas, ou a relação entre o “maníaco do shopping”, que em 1999 disparou freneticamente uma submetralhadora contra a plateia de 40 pessoas, resultando em três mortos e vários feridos no cinema de um shopping em São Paulo que exibia O Clube da Luta.

quarta-feira, junho 26, 2013

Lâmpadas e conspirações no curta argentino "Luminaris"


O mais premiado curta de animação argentino e que chegou a ficar entre os dez finalistas para concorrer ao Oscar da categoria, “Luminaris” (2011) de Juan Pablo Zaramella apresenta em seus seis minutos uma grande riqueza simbólica a partir da colagem de estilos que vai da arte Deco e Surrealismo ao Filme Noir e Neorrealismo. O que representaria a alegoria de um universo alternativo governado por uma estranha força magnética do Sol que arrasta todos para os seus trabalhos? Apesar de Zaramella desconversar sobre o simbolismo do seu curta, podemos fazer um pequeno exercício de leitura do conteúdo da narrativa a partir de três pontos de vista: o marxista, o conspiratório e o gnóstico.

O mais premiado curta argentino, “Luminaris” em 2012 foi pré-selecionado entre os dez finalistas para concorrer ao Oscar dentro de sua categoria. Feito com uma técnica de stop-motion denominada pixilation onde atores reais interagem com objetos inanimados - veja o curta abaixo.

Dirigido por Juan Pablo Zaramella, a narrativa de seis minutos é ambientada em uma Buenos Aires que parece o resultado do cruzamento entre filme noir, realismo fantástico, neorrealismo e surrealismo. O curta conta a história de um homem (Gustavo Cornillón) que vive em um universo alternativo onde o tempo, o trabalho e o cotidiano são controlados pela luz do sol que age como espécie de força magnética, despertando a todos para depois arrastá-los ao trabalho e trazê-los ao final do expediente de volta para casa. O protagonista tem um trabalho rotineiro e repetitivo na linha de montagem em uma fábrica de lâmpadas onde são produzidas de uma forma, digamos, não muito ortodoxa...

domingo, abril 21, 2013

Deus está nos números no filme "Número 9"


Três personagens em três episódios. Cada um em uma espécie diferente de prisão: o primeiro em uma prisão domiciliar; o segundo em um reality show; e o último preso ao vício por games de computador. Em sua estreia como diretor no filme “Número 9” (The Nines, 2007), John August  faz uma reflexão metalinguística sobre o trabalho do diretor/roteirista no cinema usando uma poderosa metáfora gnóstica do protagonista como o próprio ser humano prisioneiro na Terra, cujo planeta é visto como uma realidade mal produzida e roteirizada por um “deus ex machina”: toda vez que o protagonista começa a compreender o simbolismo místico da recorrência do número nove na sua vida, o mundo é desmanchado para recomeçar em um próximo episódio, do zero, levando o personagem principal ao esquecimento da sua verdadeira identidade.

Chris Carter, criador da série “Arquivo X”, em um comentário sobre o episódio chamado “Improbable” da nona temporada fez a seguinte detalhamento do argumento da estória: “tudo é sobre a compreensão da natureza de Deus através do uso da numerologia, sincronicidade, probabilidade, reconhecimento de padrões, física teórica ou algo parecido”.

Nesse episódio de Arquivo X a personagem Agente Scully trava um interessante diálogo com a Agente Reys:
“Scully: veja, Agente Reys, você não pode reduzir tudo na vida, toda criação, toda obra de arte, arquitetura, música, literatura... num jogo de vencedores e perdedores.
Reys: Por que não? Talvez os vencedores sejam aqueles que jogaram melhor o jogo. Eles conseguiram ver padrões e conexões, assim como nós estamos tentando fazer nesse momento.”
Pois o filme “Número 9” dirigido e escrito por John August (em seu primeiro filme como diretor depois de fazer o roteiro de diversos filmes de Tim Burton) lida diretamente com esse tema ao propor que a compreensão do simbolismo místico das coincidências e sincronicidades permitiria um ser divino escapar da sua prisão corporal. A compreensão dos significados das sincronicidades como ferramenta para a libertação.

quarta-feira, janeiro 23, 2013

A esperança pós-apocalíptica no filme "A Estrada"

A Estrada (The Road, 2009) é um filme do gênero pós-apocalipse que você nunca viu, baseado no livro de Cornac Mcarthy e premiado em 2007 com o prêmio Pulitzer. Ao contrário de filmes com a mesma temática como “O Livro de Eli” (The Book of Eli, 2010), a esperança dos protagonistas não está em livros sagrados ou em Deus. A fé perdida deve ser buscada no "fogo do coração": em um mundo arrasado por um evento apocalíptico só resta a busca em si mesmo e na lembrança daquilo que foi perdido que não está nesse mundo, mas em algum lugar idílico no "Sul" para onde os protagonistas tentarão chegar percorrendo uma estrada de provações.

O mundo como conhecemos foi destruído por algum evento apocalíptico indeterminado. O resultado é a morte progressiva do planeta: com exceção dos seres humanos, animais e o reino vegetal estão morrendo em meio a terremotos e a uma insistente chuva que cai num mundo cada vez mais cinzento e gelado. Sem alimentos, grupos se organizam em gangs em busca de combustível e de outros seres humanos para serem canibalizados. Aqueles que não recorreram ao suicídio lutam para não serem capturados por essas gangs e sobreviver sem comer seus semelhantes.

Um homem (Viggo Mortensen) tem apenas seu filho (Kodi Smit-McPhee) para a companhia nesta terra árida. A mãe (Charlize Theron) se matou, e a única esperança de sobreviver ao inverno eterno é atravessar o país em direção do litoral e rumar para o sul. Ao longo de seu caminho deverão enfrentar a constante ameaça das gangues canibais e os perigos de um planeta que está morrendo.

Esse plot parece ser familiar: mais um filme pós-apocalíptico na linha de “Mad Max” ou do recente “O Livro de Eli” (aliás, como os norte-americanos gostam de destruir o próprio país nos filmes!). Porém, sua narrativa glacial e precisa, com uma constante atmosfera de horror pelos recorrentes sinais de canibalismo generalizado  torna “A Estrada” um filme pós-apocalíptico como jamais vimos.

domingo, janeiro 20, 2013

A mitologia da Queda é renovada em "Upside Down"

Ao mesclar ficção científica com romance, “Upside Down” (uma co-produção Canadá/França dirigida pelo argentino Juan Diego Solanas) dá nova roupagem aos mitos da Queda, tão antigos quanto a humanidade: relatos míticos que tentam relacionar a dor e sofrimento à queda da humanidade de um estado de pureza e inocência. Em um engenhoso roteiro, Solanas constrói uma versão literal da Queda ao criar um universo onde a Lei da Gravidade ao mesmo tempo une e separa dois planetas que não possuem céu ou horizontes, mas apenas a versão invertida da sua própria sociedade: o opulento mundo “de cima” que sempre faz lembrar a pobreza do mundo “de baixo”. Mas um amor proibido desafiará a gigantesca corporação que mantém essa ordem através da exploração da energia e dos meios de comunicação.

Os mitos da Queda são tão antigos quanto a história humana.  Das tradições das religiões abraâmicas (que se referem a um estado de transição humana da inocência e obediência a Deus para um estado de culpa e pecado) às heresias gnósticas (a Queda como uma catástrofe de dimensão cósmica da qual o homem tenta se libertar), são relatos que tentam explicar a origem de tanta dor e sofrimento humanos que teria iniciado em algum momento posterior a Criação.

A esse mito associa-se o de uma “Era Dourada” derivada da mitologia grega e de diversas lendas que via o início da humanidade como um estado ideal quando o gênero humano era puro e imortal. Isso criou o arquétipo do “mito das origens” presente em obras como a do filósofo francês Rosseau que vai, por exemplo, influenciar teorias psicopedagógicas: a infância como um momento de feliz  espontaneidade e pureza que será perdida na entrada da fase adulta.

Pois o filme “Upside Down”, uma coprodução Canadá/França dirigido pelo argentino Juan Diego Solanas, vai não só se inspirar nessas fontes míticas como também vai dar uma nova roupagem, dessa vez literal a essa “Queda” – associá-la às leis gravitacionais através de um engenhoso roteiro que parte das seguintes premissas:

sábado, janeiro 05, 2013

Tudo é humano, demasiado humano em "Cloud Atlas"

Como um produto hollywoodiano como “Cloud Atlas” (A Viagem) consegue simultaneamente explorar simbologias de mistérios antigos (órficos, pagãos e gnósticos) e, ao mesmo tempo, adequar-se às convenções do gênero blockbuster? Como conciliar em uma mesma narrativa o niilismo do eterno-retorno com a concepção de que a existência é dotada de um propósito que nos levaria a um final apoteótico? Como lidar com o desejo de liberdade e transcendência do espectador dentro de um produto mercadológico da indústria de entretenimento? Os irmãos Wachowski e Tykwer encontraram a resposta na ideia de que tudo é “humano, demasiado humano”: o Universo seria uma perfeita sinfonia. O que atrapalha é a humanidade. "Cloud Atlas" faria nas entrelinhas o julgamento religioso das ações humanas.

“O que tentamos foi fazer uma história sobre uma reviravolta, a mesma reviravolta experimentada pelo personagem Neo que sai deste mundo oprimido e programado para participar na construção do sentido da sua vida. E nós pensamos assim: poderemos levar ao público algo similar a experiência do personagem principal nos três filmes?”, afirmou Lana Wachowski referindo-se a uma comparação entre o atual “Cloud Atlas” e a trilogia “Matrix” (Veja “Cloud Atlas Entrevista” In: Scifiworld).

O filme “Cloud Atlas” (com o infeliz título em português “A Viagem”, que vamos ignorar nessa postagem) dirigido pelo trio Tom Tykwer (“Corra, Lola, Corra”) e Lana e Andy Wachowski (trilogia “Matrix”) é um exemplo magistral de como a indústria de entretenimento equilibra-se em uma corda bamba entre o impulso metafísico em lidar com antigas simbologias dos antigos mistérios sejam pagãos ou gnósticos (que no final procuram capturar o desejo por liberdade e transcendência dos espectadores) e a necessidade de fazer um produto que se adapte às convenções ideológicas do gênero blockbuster.

Nas quase três horas de duração, entramos em pânico na primeira meia hora ao não entendermos nada sobre o propósito de cada uma das seis estórias narradas de forma entrelaçada e aparentemente aleatória. Aos poucos vamos ligando os pontos e passamos a saborear a brilhante montagem das sequências. Como o próprio David Mitchell (autor do livro no qual se baseou o filme) afirmou, a chave é o tema da reencarnação. Um empreendimento difícil e arriscado ao entrelaçar eventos ao longo de cinco séculos, em diferentes gêneros (sci fi, drama, espionagem, policial etc.) com os mesmos atores vivendo papéis, personagens, sexo e raças diferentes, sugerindo as diversas existências numa espécie de jornada cósmica de almas imortais.

sábado, dezembro 22, 2012

O fim do mundo não foi televisionado

Conclusão do post 
"A necrospectiva do fim do mundo"
Peter Cornelius, The Riders of Apocalypse (1845)
Abrigos nucleares são vendidos nos EUA para aqueles que acreditam que o fim do mundo se aproxima. No interior da França uma comunidade religiosa acredita que apenas a pequena localidade onde vivem será uma das poucas que sobreviverá ao cataclismo global. E se invertermos a linha de tempo? Em outras palavras, e se o apocalipse já tiver ocorrido? E se, sem sabermos, já estivermos em um mundo pós-apocalíptico vivendo as consequências de um cosmos que se legitima por meio da crença religiosa de que tudo, um dia, terá um fim? Essa é a heresia gnóstica, esquecida pela hegemonia de um mercado de profecias sobre o fim do mundo que desempenha um duplo papel: como manipulação ideológica e, também, como sintoma da condição humana alienada nesse mundo.

O Titanic já afundou. Os cavaleiros do Apocalipse já cavalgaram há muito tempo pela Terra. O Apocalipse não foi televisionado e nem foi roteirizado por uma produção hollywoodiana. Já ocorreu há muito tempo atrás com o “Big Bang” da Criação.

Esse é o princípio da filosofia gnóstica. O Mal já estava na própria Criação. Por isso o Gnosticismo  sempre foi associado a uma espécie de “escatologia realizada”.  Isto significa que qualquer realidade que vale a pena se desfez antes da Criação, com a queda mitológica de Sophia. O Big Bang foi o Apocalipse. Os seres humanos seriam apenas fragmentos da Divindade suprema agarrados a destroços mortos flutuando em um oceano de matéria escura.

domingo, abril 15, 2012

O Homem Diante da Queda no Filme "Dublê de Anjo"

Em plena era dos efeitos especiais digitais no cinema, o indiano Tarsem Singh (veterano diretor de videoclipes e filmes publicitários) resolveu fazer um filme de fantasia baseado unicamente em figurinos, fotografia e locações buscadas em 28 países que acreditamos serem impossíveis. Aparentemente somente poderiam ser imagens geradas em computador.  Mas são reais! Com as escadas infinitas e labirintos sem saída que mais parecem gravuras saídas da imaginação de M.C. Escher, o filme "Dublê de Anjo" (The Fall, 2006) narra a tentiva de suicídio de um amargo dublê de cinema hospitalizado após um acidente em filmagens. A improvável amizade com uma menina de quatro anos cria um mundo imaginário, uma simbólica narrativa da Queda e Redenção humanas.

Tarsem Singh Dhabdwar arriscou quase tudo que tinha para fazer um filme que durante anos ninguém estava disposto a financiar. Tarsem fez muito dinheiro como diretor de filmes publicitários e videoclipes de bandas como Green Day e REM (por exemplo, o videoclip “Losing My Religion”) e via o projeto do filme “Dublê de Anjo” (The Fall, 2006) como a realização de “um sonho de todos no meio publicitário, o de um dia fazer um grande filme”.

Por quatro anos Tarsem capturou imagens de 28 países em locais que, acreditamos, não seriam possíveis. O diretor afirma que não usou computadores para criá-los: eles existem. Planos subaquáticos de um elefante nadando graciosamente enquanto carrega homens nas costas, pátios de palácios construídos a partir de escadas interligadas que parecem ter saído de gravuras de M.C. Escher, uma aldeia agarrada a uma montanha onde os prédios parecem ter sido individualmente pintados em tons sutilmente diferentes de azul.

São imagens surpreendentes porque reais, com detalhes que escapariam até de um artista digital. Diferente do seu filme anterior, “A Cela” (The Cell, 2000), Tarsem decidiu fazer um filme baseado unicamente na fotografia, locações e figurino.

Por isso, o filme é quase impossível de descrevê-lo. Podemos dizer o que acontece, mas não conseguimos transmitir o espanto de como isso acontece. Para um dos produtores do filme, o diretor David Fincher (“O Clube da Luta” e “A Rede Social”), o filme é um cruzamento de “O Mágico de Oz” com Tarkowsky.

sexta-feira, abril 06, 2012

O Sabor Gnóstico dos Muppets

A longevidade dos Muppets, que resistiram à concorrência das modernas animações digitais, parece apontar para uma mudança da sensibilidade infantil em relação aos universos ficcionais: muito mais metalinguística, reflexiva e irônica. A percepção de que a realidade não é mais estável e perene, mas uma construção artificial, plástica, que pode a qualquer momento ser alterada pela força da imaginação. Mas os Muppets parecem atribuir um valor a mais a essa força, um sentido místico.

Nessa Páscoa resolvi inovar. Ao invés de dar ovos de páscoa para meus filhos, resolvi dar dois DVDs clássicos dos Muppets: “Os Muppets: o filme” de 1979 e “Os Muppets Conquistam Nova Iorque” de 1984. Para quem não conhece, a série “Os Muppets” é um universo ficcional criado por Jim Henson que iniciou na TV norte-americana nos anos 1970. A principal característica das narrativas é que os diversos personagens que compõem o universo Muppets (Caco, Miss Piggy, Gonzo, Urso Fozzie etc.) convivem com humanos de uma forma natural. O que já é suficiente produzir uma série de situações cômicas e inusitadas.

Assistimos juntos aos filmes: o primeiro que narra a ascensão dos Muppets, do anonimato de Caco, o Sapo, nos pântanos até o sucesso em Hollywood e o outro onde eles tentam fazer um musical de sucesso na Broadway.

A primeira questão levantada por eles: por que ninguém no mundo humano preocupa-se com o fato de os Muppets serem diferentes dos seres humanos?  A questão levantada chamou-me a atenção de uma espécie de sensibilidade metalinguística ou irônica das crianças contemporâneas em relação aos filmes e animações.

sábado, novembro 19, 2011

O Western Espiritual "Dead Man"

De todos os subgêneros e revisionismos criados a partir do western clássico, o que mais chama a atenção é o “acid western” pelo seu caráter “underground” místico e messiânico: todos os personagens do gênero estão lá (caçadores de recompensas, prostitutas, cowboys errantes etc.), porém eles não lutam mais por vingança, conquista ou justiça: buscam a iluminação espiritual. “Dead Man” (1995) do diretor Jim Jarmuch se insere nesse subgênero ao rechear as linhas de diálogos com inúmeras referências ao poeta e pintor inglês místico e herético William Blake e construir uma narrativa hipnótica como um mantra ao som da guitarra de Neil Young.

O gênero western é um produto tipicamente norte-americano que passou por uma série de renovações, sempre com a preocupação da indústria do entretenimento universalizá-lo para torná-lo um produto com um mercado globalizado: do western clássico desde a era do cinema mudo que retrata a luta do homem para conquistar a natureza infestada por índios e animais selvagens, passando pelo diretor John Ford (culturalmente mais neutro onde os nativos passam a ter um melhor tratamento) que vai construir aprofundamentos psicológicos em toda a galeria dos personagens do gênero (caçadores de recompensas, cowboys errantes etc.) até chegar a autoconsciência paródica do chamado “spaghetti western”de Sérgio Leone e o revisionismo de Sam Peckinpah onde pretendia arrancar poesia da violência representada em câmera lenta.

Para além dessa trajetória “mainstream”, o crítico de cinema Jonathan Rosenbaun aponta para um subgênero underground: o “acid western”subgênero que se inicia com o filme “El Topo” (The Mole, 1970), um western místico Cult recheado de referências ao tarot, messianismo e referências bíblicas em linguagem lisérgica. “Dead Man” de Jim Jarmuch se insere claramente nessa linha ao criar um protagonista que não busca mais conquista, vingança ou justiça, mas iluminação espiritual através de uma “poesia escrita com sangue”.

É a estória de um jovem homem que realiza uma jornada espiritual em uma terra estranha para ele, nas fronteiras extremas do oeste americano, em algum momento da segunda metade do século XIX. William Blake (Johnny Deep) é um contador que recebe convite para trabalhar em uma metalúrgica em uma cidade chamada Machine. Em seus bolsos alguns dólares e a carta de promessa de emprego na metalúrgica. Chegando lá, descobre que outro homem já ocupava a vaga de contador e que ele, Blake, chegou com um mês de atraso.

Deprimido, vai para um saloon, onde encontra com uma mulher, ex-prostituta, Thel (Mili Avital). Defende-a da agressividade dos homens do local, sendo convidado por ela para ir até seu quarto. Lá, ambos são flagrados pelo noivo Charlie Dickinson (Gabriel Byrne) que dispara um revólver, atingindo os dois. Em legítima defesa, Blake o mata e foge, depois de constatar que Thel estava morta. A partir desse ponto, começa o purgatório de Blake: Charlie era, na verdade, filho do proprietário da metalúrgica, que contrata três pistoleiros para matá-lo em vingança.

sexta-feira, maio 27, 2011

Minissérie "Alice": O País das Maravilhas 150 Anos Depois

Como seriam o País das Maravilhas e Alice 150 anos depois? Certamente mais violentos:  ela faixa preta em karatê e a Wonderland um reino onde o castelo da Rainha é substituído por um cassino de onde comanda um esquema de rapto de seres humanos para que suas emoções sejam drenadas  e transformadas em matéria-prima para a produção de drogas. Essa é a versão atualizada do clássico de Lewis Carroll escrita e dirigida por Nick Willing, numa minissérie em dois episódios para o canal por assinatura Syfy. Uma surpreendente combinação da distopia pós-moderna com uma clássica narrativa a partir da mitologia gnóstica.

A minissérie para TV “Alice” (2009) é mais uma adaptação de clássicos feita por Willing como na produção anterior “Tin Man” de 2007 (“Homem de Lata”, baseado no “Mágico de Oz”) e atualmente, em fase de pós-produção, a minissérie para TV “Neverland”, uma adaptação de Peter Pan.

A protagonista Alice de Willing  (Caterina Scorsone) não é mais uma jovem garota inglesa, mas agora uma jovem na faixa dos 20 anos professora de karatê e que mora nos Estados Unidos. Tudo começa quando o seu namorado  Jack Chase (Philip Winchester) é estranhamente sequestrado. Alice persegue os sequestradores até o interior de um escuro galpão abandonado até dar de encontro com um espelho, através do qual cai numa espécie de “wormhole” que a conduz até o País das Maravilhas.

Wonderland continua dominado pela maldosa Rainha de Copas (Kathy Bates), mas o esquema de dominação é bem diferente do descrito no original de Carroll (ameaças constantes de cortar as cabeças e o dragão Jabberwocky). Diferente do regime de terror do passado, agora a Rainha domina através da estratégia da sedução.

Com a ajuda de uma organização secreta (a “Sociedade do Coelho Branco”, um mix de Gestapo e SS nazista) sequestram seres humanos (“ostras” como eles denominam) no mundo real trazendo-os através do espelho/portal. Na Wonderland são mantidos prisioneiros em um gigantesco cassino em estado de semi-inconsciência e euforia em jogos em que todos sempre ganham. Mantidos nesse estado de delírio e euforia pelos prazeres proporcionados pela gratificação instantânea artificialmente criada, sentimentos, emoções e paixões são drenados para que os “carpinteiros” (os cientistas e técnicos laboratoriais) destilem a essência em frascos que se tornam a droga e moeda de troca para os súditos da rainha.

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