Filme sugerido
pelo nosso leitor Felipe Resende. A crítica destaca que a produção britânica “The
Machine” combina temas do filme premiado pelo Oscar “Ela” e o clássico “Blade
Runner” de Ridley Scott (1982). Em meio a uma nova Guerra Fria, dessa vez entre
o Ocidente e a China, programadores de computador fazem pesquisas em
Inteligência Artificial e neurociência até desenvolverem um androide com alma e
consciência em um laboratório militar subterrâneo. O filme apresenta a
ambiguidade atual das tecnociências que enquanto mantém esperanças altruístas
nos benefícios humanos das descobertas científicas, convivem com a sombra de aplicações
muito mais sombrias pelos poderes que as mantêm.
The Machine (2013)
Diretor: Caradog W. James
Plot: Dois programadores
de computador se apaixonam pela primeira peça de inteligência artificial
autoconsciente, projetada para ajudar a humanidade . Mas as coisas dão
terrivelmente erradas quando o governo britânico rouba sua descoberta para ensina-la a tornar-se uma arma robótica.
Por que
está “Em Observação”? - o filme se passa
em um futuro próximo, onde Reino Unido e China estão envolvidos em uma nova
Guerra Fria onde a corrida armamentista não mais envolve mísseis nucleares, mas
agora o desenvolvimento de armas neurocientíficas e Inteligência Artificial. O
cientista chefe Vincent McCarthy (Toby Stephens) está liderando um programa que
implanta em soldados feridos interfaces neurais cibernéticas para tentar curar
cérebros danificados. Mas suas ambições são mais humanistas: desenvolver uma
verdadeira inteligência artificial capaz de empatia e aprendizagem. Um robô
autoconsciente capaz não apenas de lutar, mas de negociar e manter a paz.
Após Vincent
contratar uma brilhante programadora chamada Ava (Caity Lotz), são atacados por
agentes inimigos e ela morre. Vincent tem então a ideia de pegar os dados
fisiológicos e psicológicos de Ava anteriormente armazenados para criar a
primeira androide em laboratório com uma “consciência”. Mas as emoções humanas
que ele procura alimentar o protótipo são opostas aos que seus superiores
militares planejam: pretendem transformar o androide numa máquina perfeita de
morte e destruição.
O blog se
interessou por esse filme inicialmente pelo fato de que os críticos vêm
apontando que a narrativa faz um cruzamento entre Ela e o clássico Blade Runner:
a conectividade afetiva entre homem/máquina incorporando aspectos distópicos e
de thriller de ação como no filme clássico de Ridley Scott.
Mas o filme The Machine parece oferecer mais temas
para discussão: primeiro, o tema da busca da última interface que resta na
história da tecnologia; depois de o homem ter desenvolvido próteses e
servomecanismos como extensões do corpo humano (interfaces mecânicas,
termomecânicas, eletroeletrônicas e eletromecânicas) agora o homem busca a
interface bioeletrônica através da qual a consciência migre para as redes
eletrônico-neurais e abandone o corpo mortal. Denominamos essa motivação
mística por trás das tecnologias de tecnognose em várias oportunidades –
sobre esse conceito clique aqui.
Outro tema que o
filme parece sugerir é a conexão entre as neurociências e os interesses
político-militares. Sabemos que o discurso atual das neurociências é o mais
altruísta possível: fazer deficientes físicos andarem por meio de exoesqueletos
neuronalmente conectados, recuperar a qualidade de vida de acidentados,
recuperação de danos neurológicos etc. Todos os esforços de cruzar Inteligência
Artificial, neurociências, teoria da informação, psicologia cognitiva e
tecnologias computacionais são divulgados através das mídias como pesquisas
puramente médicas com objetivos terapêuticos.
Como já discutimos
em outra oportunidade, o problema é: quem é o dono do hardware? Quais governos ou
corporações financiam essas pesquisas e quais seus objetivos de médio a longo
prazo? – sobre essa discussão clique aqui. Pesquisadores como o francês Paul
Virilio argumentam que se olharmos por toda história da tecnologia, todos os
avanços tecnológicos foram inicialmente aplicados militarmente para, mais
tarde, seus subprodutos se tornarem gadgets para utilização civil. Foi assim
com a corrida à Lua dentro da Guerra Fria EUA/URSS: produziu transistores,
calculadoras de bolso, sistema GPS etc.
Mas hoje com as
pesquisas neurocientíficas que pretendem fazer a cartografia e topografia da
mente para desvendar o mistério da consciência e produzir máquinas militares e
de exploração autônomas, vemos o inverso: primeiro as mídias divulgam os
benefícios humanistas e altruístas dessas pesquisas como vitrina de opinião
pública, enquanto secretamente se redesenha a corrida armamentista mundial.
Esse é mais um tema do filme The Machine
– a reconfiguração de uma nova Guerra Fria, não mais nuclear, mas agora
neurocientífica.
O que
esperar do filme? – A crítica aponta a ótima performance dos atores e que o roteiro do
filme oscila entre satisfazer os fãs de produções de ficção científica
“cabeças” e satisfazer os fãs dos thriller de ação. Parece que os dois
objetivos estão limitados por uma produção de baixo orçamento. Visualmente
muito bonito com a imagem em widescreen e uma fotografia que, mais uma vez,
lembra Blade Runner com imagens noir em azul e negro.