sexta-feira, julho 27, 2012

Sobre coincidências e sincronicidades

Da esquerda: James Holmes, o atentado ao WTC em 2001
e Mateus Meira (o "maníaco do Shopping) em 1999
Coincidências que são encontradas diariamente em eventos extremos como o massacre do Colorado têm acendido a imaginação política dos teóricos de conspirações e a imaginação sociológica das discussões acadêmicas. Apesar de opostos, ambos os lados tentam encontrar uma causalidade secreta que explique os efeitos, de Iluminatis à cultura da violência. Mas e se eventos como esse não tiverem “causa” e serem a parte com maior visibilidade midiática de uma dinâmica cotidiana e sincrônica que nos envolve assim como o ar que respiramos? Um “oceano de pensamentos” que por determinadas condições sedimentam-se em egrégoras e arquétipos capazes de produzir “conexões significativas”.

Quanto mais nos aprofundamos no caso do massacre do Colorado, mais informações e “coincidências” aparecem por todos os lados obrigando a quem pesquisa fenômenos comunicacionais a ter que admitir: as atuais referências teóricas e metodológicas não conseguem dar conta de fenômenos extremos como esse.

Percebe-se que essas coincidências têm acendido a imaginação política dos teóricos da conspiração e a imaginação sociológica de muitos pesquisadores acadêmicos. Todos parecem estar procurando a causalidade secreta, o elo perdido dos eventos: a questão da regulamentação de armas, Iluminatis, misteriosos projetos governamentais de controle mental, assassinatos rituais ocultistas, cultura da violência, sociedade de consumo etc.

Das intrincadas maquinações dos teóricos da conspiração às pesquisas científicas acadêmicas, todos têm um mesmo denominador comum metodológico: a busca das relações causa-efeito – uma sociedade secreta, uma disfunção social, uma patologia mental endêmica e assim por diante.

Mas será que eventos extremos como esse têm uma “causa”? E se os fatos forem a parte mais visível, midiática e sensacionalista de uma fenômeno cotidiano, “atmosférico” ou sincrônico que envolve a todos assim como o ar que respiramos?


Antes de tentar responder a essas questões vamos enumerar algumas “coincidências” que envolvem três fenômenos extremos midiáticos: o massacre do Colorado, o atentado às torres gêmeas de Nova York em 2001 e o assassinado do shopping em São Paulo em 1999.

Coincidências no massacre do Colorado


O video-clip dp rapper Lil Wayne:
esqueletos na sala de cinema
Segundo o jornal on line “The Telegraph” o atirador James Holmes teria relatado calmamente aos detetives que era o Coringa e que teria tomado 100 mg do analgésico Vicodin, a mesma droga encontrada no corpo do ator Heath Ledger após overdose fatal em 2008 pouco tempo depois após interpretar o mesmo personagem no filme “Batman: o Cavaleiro das Trevas”.

Para reforçar a hipótese conspiratória de que o evento foi uma operação ritualística de sacrifício ocultista, coisas estranhas teriam acontecido para “anunciar” esse massacre. Por exemplo, dias antes do tiroteio foi lançado um vídeo clip do rapper americano Lil Wayne que apresenta ele com jovens em uma sala de cinema cheia de esqueletos (veja foto ao lado).

Gangasters invadem cinema em trailler antes
da fatídica estréia de Batman em Aurora
Isso sem falar que naquela fatídica sessão de estreia do filme do Batman foi apresentado um trailler do filme “Gangster Squad” onde apresentava um sequência em que gangsters em uma sala de cinema caminham até a tela e disparam suas metralhadoras contra os espectadores. Sob o impacto dessa infeliz coincidência, o filme teve seu lançamento adiado provavelmente para o ano que vem.


O atentado ao WTC em 2001


Talvez seja mais uma ironia do que propriamente uma coincidência. Há décadas a indústria do entretenimento vem destruindo ficcionalmente a cidade de Nova York. Desde a transmissão radiofônica de Guerra dos Mundos de Orson Welles pela rádio CBS em 1937 (onde tripods marcianos invadiram a cidade na transmissão fake de radiojornalismo que provocou pânico em quase toda Costa Leste), a imaginação cinematográfica está fixada nessa ideia: “Nova York Sitiada”, Independence Day”, “Armagedom”, “Godzila”, “Impacto Profundo” etc.

O que o terror islâmico fez foi atualizar em tempo real para o complexo midiático norte-americano o imaginário cinematográfico. Não é à toa que a reação de muita gente nas ruas ou diante das telas de TV fosse de incredulidade por acreditar estar diante de um evento ficcional como uma grande produção hollywoodiana a céu aberto em Nova York .


O maníaco do Shopping


Mais uma conexão entre massacres e o cinema. No meio da exibição do violento filme “O Clube da Luta” em um shopping em São Paulo em 1999, Mateus Meira disparou freneticamente uma submetralhadora contra a plateia de 40 pessoas, resultando em três mortos e vários feridos.

Videogame Duke Nukem que teria inspirado
o atirador Mateus Meira
O atirador era fã do videogame “Duke Nukem”: um jogo violento, em primeira pessoa, onde o personagem entra num cinema, vai ao banheiro, escolhe as armas e entra atirando em monstros na platéia. Este jogo ficou muito conhecido pois teria servido de inspiração a Mateus Meira,um jovem estudante de medicina, a entrar disparando em supostos 'monstros' que ele via na plateia. 


O método causa-efeito


Essas coincidências são um prato cheio para a aplicação da tradicional metodologia da causa-efeito: conspirações de sociedades que praticam obscuros rituais de sacrifício objetivando uma Nova Orem Mundial ocultista; efeito “copycat” (interesse do criminoso pelo sensacionalismo midiático de assassinatos violentos em série e suicídios); influência hipodérmica da repetição de estímulos violentos em filmes ou jogos eletrônicos; por fim, a piece de resistance dos fatores sociológicos como a conexão entre proliferação de armamentos e a sociedade violenta e competitiva onde o bulling é um exemplo da sua manifestação no universo infantil e jovem.

Talvez o que mais se aproxima da ruptura desse vício metodológico seja a hipótese chamada pós-moderna de pesquisadores como o francês Jean Baudrillard. Para ele, na medida em que o real procura se assemelhar ao simulacro das imagens midiáticas (seja de entretenimento ou de informação), o mundo transforma-se em hiper-real: pessoas, comportamentos, atitudes, fachadas urbanas etc. tendem a se equiparar à ficção, enquanto a ficção torna-se, paradoxalmente, em algo físico e palpável.

Baudrillard aproxima-se com isso ao neo-platonismo gnóstico (sobre isso veja links abaixo) onde o real estranhamente torna-se plástico e moldável por referências metafísicas não mais do Mundo as Ideias (Platão), mas agora do complexo tecnológico midiático.

Mas ainda falta algo: de onde vêm esses simulacros? Maquinações midiáticas? Novas conspirações?

O “contínuo atmosférico midiático” e a hipótese sincromística


Egrégoras e arquètipos capazes
de produzir conexões significativas
Como vimos em postagem anterior, a abordagem sincromística de pesquisadores como Jason Horsley, Christopher Knowles e Jake Kotze baseia-se em conceitos como forma-pensamento, arquétipos e sincronicidade. A partir de noções teosóficas como a de forma-pensamento (criações mentais que utilizam matéria fluídica capazes de criar formas autônomas no Plano Astral), o Sincromisticismo concebe as relações sociais como que imersas em um oceano de pensamentos que por determinadas condições sedimentam-se em egrégoras e arquétipos capazes de produzir “conexões significativas”.

Se o pensamento humano nas relações interpessoais já é capaz de produzir tais efeitos, em uma sociedade onde arquétipos e egrégoras são instrumentalizados e materializados pela indústria do entretenimento esse poder plástico de moldagem no Plano Astral seria potencializado de forma exponencial. Em consequências as “conexões significativas” ou eventos sincrônicos multiplicam-se. Um vídeo-clip de um rapper, um trailler de um filme de gangsters e os quadrinhos de Frank Miller em 1986 com o mesmo tema da morte em uma sala de cinema são formas-pensamentos que se tornam um arquétipo no “Plano Astral Midiático”, mundo ficcional (mas não ilusório) que em dadas circunstâncias (vácuo mental de um indivíduo associado a legalização da posse de armas) pode entrar em contato com o mundo “real” produzindo um evento (o massacre em um cinema) ou uma conexão significativa, isto é, sincrônica.

Curiosamente (sincronicidade?) o pesquisador da ECA-USP Ciro Marcondes Filho, dentro do que denomina como “Nova Teoria da Comunicação”, criou o conceito de “contínuo midiático atmosférico” que na essência aproxima-se bastante da dinâmica descrita pelo Sincromisticismo:
“O contínuo midiático atmosférico os atravessa [as esferas políticas, econômicas e sociais] com suas ondas temáticas e acontecimentos produzindo continuamente ‘espíritos do tempo’ dotadores de sentido. A esfera política joga iscas no contínuo midiático atmosférico visando repercussões de seus movimentos da esfera pública (...) e o contínuo midiático atua como esfera dominante e determinante, apesar de não ser dirigida explicitamente por ninguém, de ser uma nebulosa que funciona apenas como corpo sem órgãos de tudo o que sobre ele rebate. O contínuo amorfo midiático é atmosférico, sem forma nem definição física; é apenas um ‘espírito’, uma força cega, mas sua operação é realizada por instituições concretas e visíveis, que são os meios de comunicação de massas” (MARCONDES FILHO, Ciro (org). Dicionário da Comunicação. São Paulo: Paulus, 2009, p.77).
Embora dentro de um viés “materialista” é sintomática a utilização do autor de imagens como “nebulosa”, “espírito”, “força cega”, “corpo sem órgãos” para expressar essa dimensão etérica “dominante” acima dos meios de comunicação. Uma complementação sincromística dessa dimensão nada mais seria do que esse magma das formas-pensamento que aleatoriamente se aglutinam para formar constelações de arquétipos e eventos sincromísticos.

O que as mídias fazem é abrir uma espécie de caixa de pandora: repercutir e ampliar formas-pensamentos e arquétipos de forma instrumental (busca do lucro, audiência, visibilidade etc.) sem se dar conta de como eles captam e aglutinam desejos, paixões, decepções e ressentimentos, até tornarem-se formas autônomas que vão inspirar ações e articular eventos distantes no tempo e no espaço.

Resta uma questão final: até aqui só nos referimos a eventos negativos como massacres e atentados. Esses eventos sincrônicos poderiam produzir fatos benéficos, altruístas e progressistas como a paz, prosperidade ou esperanças? 

Pensando um pouco dentro da lógica do arquétipo do “Trickster” encarnado pelo vilão Coringa, o Universo é caos e entropia porque regido pela lei da seta do tempo. Portanto, em um mundo físico, tudo tende para a desordem, morte e destruição. Infelizmente, para esse cosmos físico, a dinâmica das formas-pensamento é a do esgotamento e dispersão das energias astrais que, nesse plano, esgotam-se em eventos nada agradáveis.

Como na narrativa de André Luiz na obra “Nosso Lar”, psicografada por Chico Xavier na década de 1940, onde temos uma descrição do que ocorria no plano espiritual perto de eclodir a Segunda Guerra Mundial: “falanges obscuras do Umbral amontoam-se sobre a Europa impulsionando a mente humana para crimes”.

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