Da esquerda: James Holmes, o atentado ao WTC em 2001 e Mateus Meira (o "maníaco do Shopping) em 1999 |
Quanto mais nos aprofundamos no
caso do massacre do Colorado, mais informações e “coincidências” aparecem por
todos os lados obrigando a quem pesquisa fenômenos comunicacionais a ter que
admitir: as atuais referências teóricas e metodológicas não conseguem dar conta
de fenômenos extremos como esse.
Percebe-se que essas
coincidências têm acendido a imaginação política dos teóricos da conspiração e
a imaginação sociológica de muitos pesquisadores acadêmicos. Todos parecem
estar procurando a causalidade secreta, o elo perdido dos eventos: a questão da
regulamentação de armas, Iluminatis, misteriosos projetos governamentais de
controle mental, assassinatos rituais ocultistas, cultura da violência,
sociedade de consumo etc.
Das intrincadas maquinações dos
teóricos da conspiração às pesquisas científicas acadêmicas, todos têm um mesmo
denominador comum metodológico: a busca das relações causa-efeito – uma
sociedade secreta, uma disfunção social, uma patologia mental endêmica e assim
por diante.
Mas será que eventos extremos
como esse têm uma “causa”? E se os fatos forem a parte mais visível, midiática
e sensacionalista de uma fenômeno cotidiano, “atmosférico” ou sincrônico que
envolve a todos assim como o ar que respiramos?
Antes de tentar responder a
essas questões vamos enumerar algumas “coincidências” que envolvem três fenômenos
extremos midiáticos: o massacre do Colorado, o atentado às torres gêmeas de
Nova York em 2001 e o assassinado do shopping em São Paulo em 1999.
Coincidências no massacre do Colorado
O video-clip dp rapper Lil Wayne: esqueletos na sala de cinema |
Segundo o jornal on line “The Telegraph” o atirador James
Holmes teria relatado calmamente aos detetives que era o Coringa e que teria
tomado 100 mg do analgésico Vicodin, a mesma droga encontrada no corpo do ator
Heath Ledger após overdose fatal em 2008 pouco tempo depois após interpretar o
mesmo personagem no filme “Batman: o Cavaleiro das Trevas”.
Para reforçar a hipótese
conspiratória de que o evento foi uma operação ritualística de sacrifício
ocultista, coisas estranhas teriam acontecido para “anunciar” esse massacre.
Por exemplo, dias antes do tiroteio foi lançado um vídeo clip do rapper
americano Lil Wayne que apresenta ele com jovens em uma sala de cinema cheia de
esqueletos (veja foto ao lado).
Gangasters invadem cinema em trailler antes da fatídica estréia de Batman em Aurora |
Isso sem falar que naquela
fatídica sessão de estreia do filme do Batman foi apresentado um trailler do
filme “Gangster Squad” onde apresentava um sequência em que gangsters em uma
sala de cinema caminham até a tela e disparam suas metralhadoras contra os
espectadores. Sob o impacto dessa infeliz coincidência, o filme teve seu
lançamento adiado provavelmente para o ano que vem.
O atentado ao WTC em 2001
Talvez seja mais uma ironia do
que propriamente uma coincidência. Há décadas a indústria do entretenimento vem
destruindo ficcionalmente a cidade de Nova York. Desde a transmissão
radiofônica de Guerra dos Mundos de Orson Welles pela rádio CBS em 1937 (onde
tripods marcianos invadiram a cidade na transmissão fake de radiojornalismo que
provocou pânico em quase toda Costa Leste), a imaginação cinematográfica está
fixada nessa ideia: “Nova York Sitiada”, Independence Day”, “Armagedom”,
“Godzila”, “Impacto Profundo” etc.
O que o terror islâmico fez foi
atualizar em tempo real para o complexo midiático norte-americano o imaginário
cinematográfico. Não é à toa que a reação de muita gente nas ruas ou diante das
telas de TV fosse de incredulidade por acreditar estar diante de um evento
ficcional como uma grande produção hollywoodiana a céu aberto em Nova York .
O maníaco do Shopping
Mais uma conexão entre massacres e o cinema. No meio da exibição do
violento filme “O Clube da Luta” em um shopping em São Paulo em 1999, Mateus
Meira disparou freneticamente uma submetralhadora contra a plateia de 40
pessoas, resultando em três mortos e vários feridos.
Videogame Duke Nukem que teria inspirado o atirador Mateus Meira |
O atirador era fã do videogame “Duke Nukem”: um jogo violento, em
primeira pessoa, onde o personagem entra num cinema,
vai ao banheiro, escolhe as armas e entra atirando em monstros na platéia. Este
jogo ficou muito conhecido pois teria servido de inspiração a Mateus Meira,um
jovem estudante de medicina, a entrar disparando em supostos 'monstros' que ele
via na plateia.
O método causa-efeito
Essas coincidências são um prato cheio para a aplicação da tradicional
metodologia da causa-efeito: conspirações de sociedades que praticam obscuros
rituais de sacrifício objetivando uma Nova Orem Mundial ocultista; efeito
“copycat” (interesse do criminoso pelo sensacionalismo midiático de
assassinatos violentos em série e suicídios); influência hipodérmica da
repetição de estímulos violentos em filmes ou jogos eletrônicos; por fim, a piece de resistance dos fatores
sociológicos como a conexão entre proliferação de armamentos e a sociedade
violenta e competitiva onde o bulling é um exemplo da sua manifestação no
universo infantil e jovem.
Talvez o que mais se aproxima da ruptura desse vício metodológico seja
a hipótese chamada pós-moderna de pesquisadores como o francês Jean
Baudrillard. Para ele, na medida em que o real procura se assemelhar ao
simulacro das imagens midiáticas (seja de entretenimento ou de informação), o
mundo transforma-se em hiper-real: pessoas, comportamentos, atitudes, fachadas
urbanas etc. tendem a se equiparar à ficção, enquanto a ficção torna-se,
paradoxalmente, em algo físico e palpável.
Baudrillard aproxima-se com isso ao neo-platonismo gnóstico (sobre isso veja links abaixo) onde o
real estranhamente torna-se plástico e moldável por referências metafísicas não
mais do Mundo as Ideias (Platão), mas agora do complexo tecnológico midiático.
Mas ainda falta algo: de onde vêm esses simulacros? Maquinações
midiáticas? Novas conspirações?
O “contínuo atmosférico midiático” e a hipótese sincromística
Egrégoras e arquètipos capazes de produzir conexões significativas |
Como vimos em postagem anterior, a abordagem sincromística de
pesquisadores como Jason Horsley, Christopher Knowles e Jake Kotze baseia-se em
conceitos como forma-pensamento, arquétipos e sincronicidade. A partir de
noções teosóficas como a de forma-pensamento (criações mentais que utilizam
matéria fluídica capazes de criar formas autônomas no Plano Astral), o Sincromisticismo
concebe as relações sociais como que imersas em um oceano de pensamentos que
por determinadas condições sedimentam-se em egrégoras e arquétipos capazes de
produzir “conexões significativas”.
Se o pensamento humano nas relações interpessoais já é capaz de
produzir tais efeitos, em uma sociedade onde arquétipos e egrégoras são instrumentalizados
e materializados pela indústria do entretenimento esse poder plástico de
moldagem no Plano Astral seria potencializado de forma exponencial. Em
consequências as “conexões significativas” ou eventos sincrônicos
multiplicam-se. Um vídeo-clip de um rapper, um trailler de um filme de
gangsters e os quadrinhos de Frank Miller em 1986 com o mesmo tema da morte em
uma sala de cinema são formas-pensamentos que se tornam um arquétipo no “Plano
Astral Midiático”, mundo ficcional (mas não ilusório) que em dadas
circunstâncias (vácuo mental de um indivíduo associado a legalização da posse
de armas) pode entrar em contato com o mundo “real” produzindo um evento (o massacre
em um cinema) ou uma conexão significativa, isto é, sincrônica.
Curiosamente (sincronicidade?) o pesquisador da ECA-USP Ciro Marcondes
Filho, dentro do que denomina como “Nova Teoria da Comunicação”, criou o
conceito de “contínuo midiático atmosférico” que na essência aproxima-se
bastante da dinâmica descrita pelo Sincromisticismo:
“O contínuo midiático atmosférico os atravessa [as esferas políticas, econômicas e sociais] com suas ondas temáticas e acontecimentos produzindo continuamente ‘espíritos do tempo’ dotadores de sentido. A esfera política joga iscas no contínuo midiático atmosférico visando repercussões de seus movimentos da esfera pública (...) e o contínuo midiático atua como esfera dominante e determinante, apesar de não ser dirigida explicitamente por ninguém, de ser uma nebulosa que funciona apenas como corpo sem órgãos de tudo o que sobre ele rebate. O contínuo amorfo midiático é atmosférico, sem forma nem definição física; é apenas um ‘espírito’, uma força cega, mas sua operação é realizada por instituições concretas e visíveis, que são os meios de comunicação de massas” (MARCONDES FILHO, Ciro (org). Dicionário da Comunicação. São Paulo: Paulus, 2009, p.77).
Embora dentro de um viés “materialista” é sintomática a utilização do
autor de imagens como “nebulosa”, “espírito”, “força cega”, “corpo sem órgãos”
para expressar essa dimensão etérica “dominante” acima dos meios de comunicação.
Uma complementação sincromística dessa dimensão nada mais seria do que esse
magma das formas-pensamento que aleatoriamente se aglutinam para formar
constelações de arquétipos e eventos sincromísticos.
O que as mídias fazem é abrir uma espécie de caixa de pandora:
repercutir e ampliar formas-pensamentos e arquétipos de forma instrumental (busca
do lucro, audiência, visibilidade etc.) sem se dar conta de como eles captam e
aglutinam desejos, paixões, decepções e ressentimentos, até tornarem-se formas
autônomas que vão inspirar ações e articular eventos distantes no tempo e no
espaço.
Resta uma questão final: até aqui só nos referimos a eventos negativos
como massacres e atentados. Esses eventos sincrônicos poderiam produzir fatos
benéficos, altruístas e progressistas como a paz, prosperidade ou esperanças?
Pensando
um pouco dentro da lógica do arquétipo do “Trickster” encarnado pelo vilão
Coringa, o Universo é caos e entropia porque regido pela lei da seta do tempo.
Portanto, em um mundo físico, tudo tende para a desordem, morte e destruição.
Infelizmente, para esse cosmos físico, a dinâmica das formas-pensamento é a do
esgotamento e dispersão das energias astrais que, nesse plano, esgotam-se em
eventos nada agradáveis.
Como na narrativa de André Luiz na obra
“Nosso Lar”, psicografada por Chico Xavier na década de 1940, onde temos uma
descrição do que ocorria no plano espiritual perto de eclodir a Segunda Guerra
Mundial: “falanges obscuras do Umbral amontoam-se sobre a Europa impulsionando
a mente humana para crimes”.
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