sábado, março 23, 2019
Ressentimento de excluídos alimenta massacres dos zumbis na nova ordem global
sábado, março 23, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Incels” (Celibatários Involuntários), “Hominis Sanctus”, PUA (Pick-up Artists), formas violentas de socialização masculina (macho alpha etc.) e uma variedade de pseudociências e conspirações LGBTs e feministas contra os homens formam um ecossistema de informação de fóruns e chans da Internet e Deep Web que se transformaram em “exército psíquico de reserva” – usina de ressentimento e ódio que alimenta ataques e massacres como em Toronto, Realengo, Suzano e Nova Zelândia. Um exército de zumbis à espera de cripto-comandos, sejam presentes em videogames ou em discursos de extrema-direita de um Trump ou de um Bolsonaro. Nova ordem global representada pela ascensão do nacionalismo de direita na qual o capitalismo precisa eliminar ou “reciclar” os excluídos (aqueles que nem para serem explorados servem mais). Os que não forem eliminados pelas políticas de redução populacional, tornam-se doadores psíquicos de ressentimento que legitima o Estado policial e militar – aparelho repressivo necessário num cenário de pulverização de garantias e direitos sociais.
domingo, março 17, 2019
Em "Brexit" as ligações perigosas entre ficção e realidade
domingo, março 17, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Depois do filme “Polícia Federal: a Lei é para Todos” (2017) no cinema ou a série “O Mecanismo” (2018-) na Netflix (duas produções sobre processos que ainda não foram concluídos), agora é a vez de a HBO lançar “Brexit” (“Brexit: The Uncivil War”, 2019), também sobre eventos que ainda estão em desdobramentos: o resultado do referendo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia ainda não foi homologado e há investigações sobre a ilegalidade da campanha. Esse evento do Reino Unido foi o laboratório para as novas armas de guerra híbrida (algoritmos, mineração de dados e psicometria) que, dois anos depois, seriam aplicados silenciosamente na campanha eleitoral brasileira. Produções audiovisuais que expõem as perigosas relações de narrativas ficcionais com fatos reais que ainda estão em andamento: no Brasil, peças de propaganda para cimentar a realidade por meio da ficção; e na produção HBO a transformação em “thriller político” da grave crítica de como os algoritmos estão minando a democracia.
sábado, março 16, 2019
Massacre de Suzano: guerra híbrida prepara seu exército de zumbis
sábado, março 16, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Não tinha percebido, agora é tarde demais. A campanha deles começou há 20 anos... Um lento conta-gotas de medo e ódio...”. Talvez essa linha de diálogo do filme “Brexit” (narrando os bastidores de uma campanha política que disseminou polarização com todas as armas de uma guerra híbrida) seja uma das pistas para um início de discussão em torno do massacre na escola pública de Suzano/SP. Mais uma tragédia numa sucessão tão sincrônica de eventos que demonstra o quanto a psico-esfera nacional foi envenenada. Da recorrência de simbolismos dos sonhos nos períodos que antecederam guerras, constatada por Carl Jung na Alemanha, às “coincidências significativas” que acompanham os recentes massacres, ataques e atentados no Brasil, tudo parece comprovar uma dominância no inconsciente coletivo de “pontos nodais” de energia psíquica que influenciam ações de indivíduos. Há uma conexão entre a hipótese sincromística e Guerra Híbrida? Se existir a conexão, essa guerra semiótica teria um propósito mais profundo: a formação de um verdadeiro exército de zumbis para atuar em dois fronts: tecnologia da informação e disseminação do medo na sociedade.
domingo, março 10, 2019
O horror da elite poderosa e amoral no filme "Society"
domingo, março 10, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Tente misturar referências cinematográfica como “Veludo Azul” com “Eles Vivem” e “Invasores de Corpos”, para depois se apropriar das obras de Salvador Dali, Goya e Bosch como se elas estivessem vivas e em movimento. O resultado estranho e bizarro será o filme cult de terror “Society” (1989): no subterrâneo da ensolarada vida em tons pastéis de mansões e ricaços de Beverly Hills, suspeita-se que se esconda algum tipo de lodo subterrâneo libidinoso e surreal de festas privadas, orgias e estranhos rituais. A suspeita e a paranoia farão os protagonistas suspeitarem de algo satânico, para descobrirem que é algo ainda maior e incompreensível, numa das sequências finais mais estranhas da história do cinema, podendo ser colocada ao lado de finais com viradas narrativas como Cidadão Kane e O Sexto Sentido. Mas também “Society” cria a perfeita metáfora de uma classe dominante rica, poderosa e amoral.
“Somos uma grande família feliz... Exceto por um pequeno incesto e psicose.”
(linha de diálogo do filme “Society”)
(linha de diálogo do filme “Society”)
sábado, março 09, 2019
O show que nunca termina: a guerra semiótica criptografada do clã Bolsonaro
sábado, março 09, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Muitos afirmam que o governo atual delibera através do Twitter. Parece que essas opiniões estão prisioneiras de uma aparência. Na verdade, esse governo se orienta principalmente pela estratégia de ocupação da pauta midiática de todo o espectro político. O capitão que posta “Xvídeos”?; “Golden Showers?”; declarações de que a democracia só existe por uma benesse das Forças Armadas? É um show que começou em setembro do ano passado e jamais termina: quase diariamente a irresponsabilidade retórica típica de uma eleição persiste num governo já eleito. Uma tática semiótica criptografada: criação sistemática de dissonâncias para cativar a atenção de toda a midiosfera. Enquanto isso, os movimentos da política executiva de terra arrasada seguem em frente, sem a devida atenção da opinião pública. A grande mídia participa do jogo para criar uma aparência de imparcialidade e se livrar de uma cobertura monofásica das “reformas”. E a esquerda perde suas energias com o doce sabor do prato frio da vingança oferecido de bandeja para ela.
quarta-feira, março 06, 2019
Curta da Semana: "Animals" - Smartphone e solidão nos tornam selvagens
quarta-feira, março 06, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um dia como outro qualquer de pessoas comuns viajando em um trem. Cada um perdido em seus próprios pensamentos e preocupações. Até que surge o inesperado: a porta do vagão não abre, e o trem permanece em movimento para as próximas estações. Aquelas nove pessoas começarão a fazer uma rápida descida para o caos, a irracionalidade e, por fim, a selvageria – tudo registrado por um smartphone de um passageiro que apenas se preocupa em postar o vídeo em redes sociais, ao invés de tomar uma atitude de ajuda. Esse é o curta-metragem “Animals”(2019), trabalho de conclusão do “Animation Workshop” do animador dinamarquês Tue Sanggaard. Seis minutos que resumem as principais teses clássicas da psicologia social sobre o comportamento do homem na multidão. Porém, no século XXI, turbinadas pelas novas tecnologias.
segunda-feira, março 04, 2019
Estamos imersos no mar de sincronismos no filme "Redemoinho"
segunda-feira, março 04, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Qual a relação entre as ideias do pré-socrático Tales de Mileto e o filme “Redemoinho” (“Maelström”, 2000) do diretor canadense Denis Villeneuve? Está em uma narrativa que certamente é a que melhor explorou o simbolismo místico da água no cinema: um peixe prestes a ser sacrificado para se transformar em fruto do mar em um restaurante narra a “bonita história de uma mulher na longa descida à realidade”. O pai da filosofia ocidental achava que todas as coisas estão “cheias de deuses”. Pode parecer uma ideia poética, mas não para a protagonista de “Redemoinho” que da pior maneira conhecerá essa verdade filosófica – de que suas decisões estão imersas em um mar de sincronismos, tendo o peixe como elemento simbólico central. E de que uma vida inteira pode se transformar no fluxo da mecânica dos fluidos que dá nome ao filme.
domingo, março 03, 2019
O autoproclamado presidente José de Abreu e a "Carta Roubada" de Allan Poe
domingo, março 03, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Teve repercussão internacional, ele chamou o autoproclamado presidente Juan Guaidó para o debate e o Google o reconhece como presidente do Brasil. Estamos falando de uma perfeita bomba semiótica de trolagem (“culture jamming”): através do Twitter, o veterano ator José de Abreu se proclamou presidente do Brasil e vem postando resoluções executivas tais como convocar Chico Buarque para o ministério e Marcelo D2 se colocou à disposição para o novo governo. Uma trolagem perfeita num momento em que a grande mídia vive a saia justa de tentar dar naturalidade e lógica a eventos arbitrários na atual guerra híbrida no Brasil e Venezuela. O impacto estratégico dessa bomba de trolagem está na semelhança da questão semiótica proposta pelo conto "A Carta Roubada" de Edgard Allan Poe: o que procuramos pode estar na frente do nosso nariz – na intransitividade dos signos da grande mídia, tão vazios quanto uma nota de três reais.
Este “Cinegnose” vem insistindo em postagens e workshops nos quais participa que diante de um contexto de guerra híbrida, no qual a grande mídia combinado com a chamada “cultura de convergência” (redes sociais digitais e dispositivos móveis) têm papel central, as táticas de guerrilha semiótica são as primeiras formas de ativismo político.
Se no Brasil foi fácil as táticas de guerra híbrida encontrarem o gatilho cognitivo ideal para chegar ao impeachment de 2016 (a apropriação das manifestações de rua a partir de 2013, anti-petismo e polarização da opinião pública), na Venezuela as coisas fugiram ao script.
Mesmo depois da mídia corporativa internacional e agências de notícias baterem nos “indicadores macroeconômicos em colapso”, no “aumento da desnutrição” e “regressão epidemiológica” (que, de resto, o Brasil apresenta o mesmíssimo quadro) transformando a Venezuela em “tragédia humanitária internacional” e enquadrar o presidente Maduro como “ditador”, o governo insiste em não cair.
A perplexidade é tão grande que o Comandante Sul das Forças Armadas dos EUA, general John Kelly, em entrevista à CNN, apontou explicitamente que o interesse norte-americano na Venezuela é ter o controle sobre as maiores jazidas de petróleo do planeta (clique aqui), mandando às favas qualquer prurido moral.
Golpe virtual
Como acompanhamos recentemente, a última cartada foi o líder opositor Juan Guaidó se proclamar presidente da Venezuela: se do lado dos EUA, sem vacilar, as intenções se tornaram explícitas, então do lado midiático o jogo da cena acabou – se o golpe não deu certo, a mídia empossa Guaidó como novo presidente e cria um golpe virtual, contando até com apoio internacional. Para começar, do inacreditável clã Bolsonaro.
E o Dia D foi 23 de fevereiro, no qual o auto empossado presidente lideraria a entrada de “ajuda humanitária” pelas fronteiras da Venezuela, através do Brasil. Um Cavalo de Tróia, para colocar dentro daquele país armas e agentes mercenários para tentar desestabilizar o governo Maduro. Esperavam-se soldados desertando para o lado brasileiro e um povo aliviado dando apoio à causa “humanitária”. Porém, nada aconteceu! A não ser a figura do presidente virtual acenando para a claque midiática.
Enquanto isso, a grande mídia brasileira vive uma dupla saia justa: de um lado assumiu a missão de dar alguma racionalidade, método ou um mínimo de seriedade nas intenções em um governo brasileiro no qual ministros e generais batem cabeça e falam barbaridades em série; e do outro, dar sua cota internacional de ajuda ao autoproclamado presidente Juan Guaidó e encontrar também alguma racionalidade em um político que repentinamente se auto nomeia alguma coisa.
A trolagem de José de Abreu
Em meio a esse cenário no qual jornalismo corporativo parece ter perdido totalmente o pudor, eis que o veterano ator José de Abreu dispara uma bomba semiótica de trolagem – “culture jamming”, ativismo semiótico de guerrilha que visa romper ou subverter conteúdos midiáticos, expondo suas verdadeiras intenções ou artificialismo.
Na noite do dia 25 de fevereiro, José de Abreu se proclamou presidente do Brasil numa série de publicações no Twitter, ironicamente dizendo que seguia o exemplo do líder da oposição venezuelana.
“A partir de hoje (25) eu sou o autodeclarado Presidente do Brasil. Igual fizeram na Venezuela. Lulá está nomeado chefe da casa civil, militar e religiosa do Brasil”, escreveu o ator. Desde então, publica suas decisões como presidente.
Minutos depois, alguém foi à página da Wikipedia no verbete Brasil e mudou a linha referente ao presidente e colocou: “em disputa”, com uma nota de rodapé na qual lê-se que Zé de Abreu é o “presidente interino constitucional”, visto que “a posse de Jair Bolsonaro seria sem efeito”.
Sentindo o impacto da explosão dessa bomba semiótica, a mídia corporativa brasileira tenta minimizar seu estrago – enquadra a notícia em editorias como “Celebridades”, “Famosos” ou “Televisão”. Enquanto em sites internacionais a repercussão é como notícia política, como na “Brasil Wire”: “Meet Brazil’s new President: José de Abreu”... clique aqui.
Uma bomba perfeita
Uma perfeita bomba semiótica de trolagem. Se não, vejamos:
(a) Uma brincadeira ao mesmo tempo séria e irônica com esses tempos de “democracia plebiscitária” nas redes sociais. Como tenta a direita nacionalista de Trump, Bolsonaro e Steve Bannon, transformar as redes sociais em uma forma populista de “governo direto”, sem representação política. Na qual a discussão pública mediada é substituída por pitacos, bravatas e provocações visando deliberada polarização para travar qualquer debate racional.
(b) A trolagem de José de Abreu explicita no atual momento a ameaça de algo mais sério do que as fake news: a pós-verdade. Como o linguista Noam Chomsky argumenta, as pessoas não acreditam mais nos fatos e que o critério de verdade deixou de ser importante nas interlocuções pessoais. A trolagem do ator confirma de forma tragicômica o diagnóstico de Umberto Eco sobre a Internet e as redes sociais: “as mídias sociais deram direito à fala a legiões de imbecis que antes falavam só no bar, sem causar danos à coletividade”, frase dita após uma cerimônia na Universidade de Turim, em 2015.
(c) O despudor da grande mídia atual é tão grande que fica explícito o artifício e a intransitividade entre discurso e a realidade – como assim, alguém se autoproclama presidente e a comunidade política internacional o reconhece como Chefe de Estado?
O que lembra o conto de Edgard Allan Poe “A Carta Roubada” que inaugura a moderna literatura policial. Poe nos conta a história de uma carta que foi surrupiada e escondida onde ninguém encontra, mesmo estando na frente do nariz dos protagonistas: em um porta-cartas pendurado no meio da lareira.
Pois a constitucionalidade da autoproclamação de Guaidó e a democracia plebiscitária de Bolsonaro (que os analistas políticos do nível de Camarottis ou Mervais tentam encontrar alguma seriedade ou lógica) parecem-se com a carta de Poe: são meros significantes vazios e intransitivos, sem lastro com a realidade. Em termos linguísticos, significantes sem significados.
Enquanto no conto de Poe o delegado que investigava o roubo levava em conta as estatísticas dos seus anos de polícia (sempre os criminosos ocultam objetos roubados em lugares rebuscados), não considerou como um criminoso poderia agir com simplicidade – esconder a carta no lugar mais óbvio.
Pois a autoproclamação de Guaidó, assim como as inúmeras notícias da pauta do mainstream jornalístico, são como a carta roubada de Poe – são narrados e analisados como fatos lógicos, com uma racionalidade histórica.
Mas nada mais são do que nomes, signos tão vazios como uma nota de três reais.
A trolagem de José de Abreu explicita isso, ao repetir no humor e ironia o mesmo gesto de um personagem supostamente pertencente à realpolitik.
“Vamos respeitar a minha presidência como estão respeitando a do venezuelano, por que não”, publicou José de Abreu.
Esse é o objetivo estratégico de toda guerrilha anti-mídia: desmoralizar a agenda da grande mídia.
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sábado, março 02, 2019
Cinegnose em Londrina: na guerra semiótica a esquerda descerá ao abismo para se encontrar
sábado, março 02, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Desde o século passado a direita sempre esteve vários passos à frente ao lançar mão das tecnologias de ponta de cada momento. Lá atrás, nazistas usaram o rádio e o cinema. E hoje o nacionalismo de direita manipula algoritmos, inteligência artificial e mídias de convergência. Somente com uma formação interdisciplinar articulando ciências da comunicação, computação e política será possível a esquerda compreender as diferenças entre as dinâmicas de massificação e viralização, reformulando o ativismo e militância política. A esquerda terá que descer ao abismo simbólico para encontrar a si mesma. Esse foi o tema que dominou o workshop “Guerra Híbrida e Guerra Semiótica” ministrado por este editor do “Cinegnose” no último sábado (23/02) em Londrina/PR. Organizado pela Frente Ampla Pela Democracia, com apoio da Associação dos Professores do Paraná, o evento contou com auditório lotado de acadêmicos, estudantes, ativistas e sindicalistas, com muita curiosidade e entusiasmo para o debate.
Este humilde blogueiro esteve em Londrina/PR no último sábado (23/02) para abrir a “caixa de ferramentas” de referências teóricas e práticas fornecidas pela Ciência da Comunicação para servir de instrumento de ação naquilo que este “Cinegnose” vem denominado como “guerra semiótica” – episódio brasileiro da estratégia geopolítica de guerra híbrida que a geopolítica norte-americana vem encetando em países estratégicos e sensíveis às suas ações.
Lá encontrei o lotado auditório da Associação dos Professores do Paraná e um público bem heterogêneo (de acadêmicos e estudantes a ativistas e sindicalistas) e disposto ao bom debate – quando a curiosidade pelo saber motiva a busca por ações e alternativas. Um público vivamente disposto a entender a conjuntura atual e como o papel estratégico da Comunicação nesse momento.
Se a comunicação é a criação de um acontecimento, parece que o debate em Londrina alcançou o objetivo – até agora chegam perguntas e colocações através do grupo, criado após o workshop, no WhatsApp chamado “Guerra Híbrida Semiótica”.
“O que aconteceu?” e “O que fazer?”. Essas duas questões existenciais foram as que nortearam o debate, questões-chave desde os resultados eleitorais do ano passado que parece que ainda não terminou.
Ilusão consensual
Com todo o tempo disponível pela natureza de um workshop, este editor do “Cinegnose” começou definindo os conceitos de “bomba semiótica”, “guerra semiótica” e “guerra híbrida” e, principalmente, uma introdução à ciência da Semiótica. Principalmente a sua latente aplicação política com a noção de “signo”: se o que vemos não é a realidade, mas o signo da realidade, o que entendemos por realidade passa a ser uma “ilusão consensual”.
Em outras palavras, o que entendemos por realidade passa a ser de natureza perceptiva. O que abre margem à existência de “engenharias” de percepções. Portanto, isso altera o que entendemos por “comunicação”: de informação ou sinalização de um conteúdo (ideologia, discursos, doutrina etc.) passa a ser a criação de acontecimentos, “bombas” que criam repercussões destinadas especificamente a alterar essa ilusão consensual.
O workshop demonstrou como os nazistas no século XX compreenderam bem essa natureza, naquilo que Walter Benjamin chamou de “esteticização da política”: líderes que emulavam personagens do cinema mudo (a “canastrice” na política), ridicularizados no começo, mas que depois se tornaram críveis graças à analogia com a ficção cinematográfica. Hoje a TV faz esse papel – como Bolsonaro foi promovido como um mito tosco em programas de humor como Pânico na TV e CQC para depois virar um personagem ficcional que invadiu a “ilusão consensual” da realidade política.
Massificação e viralização
A partir desse ponto, passamos a manhã de sábado tentando compreender a grande novidade que a guerra híbrida trouxe para a comunicação e a política: a passagem das estratégias de massificação para as dinâmicas de viralização.
Muitos analistas ainda tomam como idênticos esses dois conceitos, como fossem regidos pelos mesmos princípios da psicologia de massas. Mas são muito diferentes, principalmente quando o workshop apresentou como a tecnologia algorítmica em Inteligência Artificial utilizado pela Cambridge Analytica e o fundo de hedge Renaissance Technologies de Robert Mercer foi decisiva para a vitória de Donald Trump e Bolsonaro – a aplicação dos algorítmicos probabilísticos da área financeira aplicada na mineração e análise de dados para comunicação política estratégica.
Enquanto a massificação implica em panfletagem, doutrinação ou disparo de discursos de forma indiscriminada para a sociedade como um todo, a viralização significa modular o discurso para perfis específicos que, sabe-se, irá compartilhar para sua rede de relações.
Na realidade, influenciadores ou líderes de opinião já eram conhecidos desde as pesquisas empíricas de recepção de Paul Lazarsfeld nos anos 1930-40 nos EUA. A diferença é que na atualidade a tecnologia de mineração de dados potencializou essa estratégia.
Métodos dedutivo e indutivo na política
Isso significa que no espectro político há duas maneiras bem distintas de atuação política na comunicação: enquanto a esquerda se orienta por um método dedutivo (parte de valores éticos e morais universais para tentar transformar a realidade – do universal ao particular) a direita é indutiva - do particular para o universal, da manipulação das percepções e sensações para depois criar uma narrativa política geral.
Enquanto a esquerda se escandaliza ao ver a sociedade ir contra os valores kantianos universais de dignidade, cidadania e liberdade e tenta conscientizar as massas dessa realidade, a direita induz percepções (signos da realidade) para depois criar narrativas “universais” – conspirações comunistas, LGBTs, midiáticas etc. Não à toa que a direita se apropriou da imagem antissistema ou revolucionária que sempre esteve do lado da esquerda.
Por isso, somos capazes de ver o “filósofo” Olavo de Carvalho (guru da “alt-right” tupiniquim) usar o mesmo discurso da esquerda, mas com sinais trocados – por exemplo, denunciar o “autoritarismo dos meios de comunicação” que quer impor o “politicamente correto”, a “ditadura gay”, o “petismo”...
O que fazer?
A partir desse ponto, o “o que fazer” tomou conta dos debates: como se contrapor ao tripé semiótico no qual se baseia a tática de guerra semiótica da direita? – apropriação (do discurso antissistema, dos símbolos nacionais com a técnica semiótica da iconificação etc.), provocação (formas de comunicação indireta para falar com a maioria silenciosa e não com o interlocutor) e polarização (usar o discurso beligerante para travar qualquer debate público racional).
Discutimos desde a necessidade de modelagem o discurso (direcionar mensagens para perfis ou líderes de opinião para conseguir efeitos virais – o que implicaria entrar na área do “ativismo cibernético”).
E também as polêmicas, por assim dizer, “baterias anti-áereas” contra as bombas semióticas da grande mídia: as táticas de guerrilhas anti-mídia – pegadinhas (“media prank”) e trolagens (“culture jamming”) com o objetivo sistemático de desmoralizar a mídia corporativa.
Principalmente quando sabemos que a mídia clássica ainda tem um importante papel, mesmo com o crescimento das mídias de convergência (smartphones, tablets etc.). Hoje a grande mídia tem um papel de agendamento da pauta e não mais de doutrinação ideológica, como no passado. Daí a importância da existência de uma sistemática ação de guerrilha midiática.
Nesse sentido, a recente trolagem criada pelo ator José de Abreu (se autoproclamando presidente do Brasil, da mesma maneira como a mídia auto empossou Juan Guaidó como presidente da Venezuela) é uma bomba semiótica perfeita. Um exemplo que a esquerda poderia replicar.
Respostas a questões levantadas nos debates no workshop:
(1) Teremos que fatalmente nos apropriarmos dessas armas (elas demandam conhecimento, grana, operadores especializadíssimos e, fundamentalmente, a Munição da Indução, a qual, a ética não tem lá tanta relevância) ou se, descobrindo e construindo Baterias Antiaéreas seria suficiente para resistirmos com danos menores?
Resposta: A direita de hoje possui o mesmo modus operandi do século XX. Se lá o nazifascismo utilizou-se das tecnologias de ponta da época, rádio e cinema, hoje se apropria da inteligência artificial que rendeu milhões para Robert Mercer no mercado financeiro – algoritmos probabilísticos que preveem tendência de ações e títulos. E agora preveem escolhas ideológicas e partidárias de determinados perfis. De alguma maneira, em algum momento, a esquerda terá que se tornar interdisciplinar: sair do campo familiar das ciências humanas e se enveredar pelo ativismo digital no campo das chamadas “ciências exatas”.
Isso nos leva à questão ética: teremos que usar o mesmo condenável modus operandi de indução da direita? Essa é uma questão que esse humilde blogueiro não tem ainda uma resposta pronta, mas também em algum momento a esquerda terá que lutar no mesmo campo simbólico da direita. A esquerda terá que descer no abismo para encontrar a si mesma.
(2) O que explica que mesmo com o uso dessa arma poderosíssima já em ação em toda a campanha, caso não fosse impedido de disputar a eleição, Lula venceria já no primeiro turno, como indicavam todas as pesquisas a menos de um mês para a eleição?
Resposta: Isso talvez seja relativo. Como demonstrou uma reportagem do insuspeito jornal “El País” sobre os motivos que levaram João Doria Jr a ganhar votos na periferia de São Paulo, para muitos a leitura sobre Lula era meritocrática – um metalúrgico que chegou à presidência pelas vias do mérito e do trabalho, aquele que “começou de baixo”... assim como Doria Jr que chegou à prefeitura de SP... (leia “A metamorfose do eleitor petista da periferia que decidiu votar em Doria” – clique aqui). A promoção “Sebastiana” do mito Lula (como o “salvador” e “conciliador”) pode chegar a essas interpretações bizarras.
(3) Será que para termos uma perspectiva de sucesso à nossa Resistência e consequentes avanços, não é necessário juntarmos o aprendizado em identificarmos os disparos desses Mísseis poderosos, aprendermos a operar as Baterias Antiaéreas e, ao mesmo tempo, treinarmos nossas tropas nos quartéis de "média patente" através do resgate de Programas de Formação de Formadores? Programas já desenvolvidos há tempos atrás, com sucesso, pelas Centrais Sindicais nos Sindicatos e CPCs (Centros Populares de Cultura) nas Universidades e comunidades periféricas?
Resposta: Pergunta que faz a gente voltar à primeira questão acima: a partir do ponto em que chegamos, é urgente repensar a formação e formas de atuação política. Na verdade, desde a vitória do nazismo na Alemanha, a esquerda se tornou o cachorro-que-caiu-do-caminhão-de-mudança. Se mal compreendeu o papel do rádio e do cinema naquele contexto entre guerras, o que dirá diante das tecnologias de convergência atuais? Como disse, é necessária uma formação interdisciplinar na atuação política – Ciências da Computação e Comunicação combinadas com a Ciência Política. E muito bom humor, ironia e sagacidade com as “baterias antiaéreas” das pegadinhas e trolagens contra-midiática.
(4) Minha questão que eu gostaria que ele comentasse é a relação da semiótica no Teatro Imagem de Augusto Boal. Lembro que uma frase que sempre repetimos nas oficinas de Teatro Imagem é que " a imagem é real enquanto imagem".
Resposta: Com o Teatro do Oprimido, Boal focava as linguagens não verbais: pensar com as imagens, sem o uso das palavras, usando o próprio corpo do ator e objetos como forma máxima de expressão. Com isso, Boal queria expandir as possibilidades de expressão do oprimido – imaginação, percepção, relacionamento etc.
De fato, uma analogia perfeita para a expansão das táticas de ação política em torno da comunicação: não ficar apenas no campo do discurso verbal e de conscientização (método dedutivo) e se aventurar pelo campo semiótico da percepção, da iconificação e da apropriação imaginativa de todo signo, principalmente daqueles produzidos pela própria grande mídia no sentido de invertê-la.
De novo, a trolagem do ator José de Abreu: ridicularizar a autoproclamada posse de Juan Guaidó, tão levada a sério pelo jornalismo corporativo.
A todos os organizadores e participantes do workshop meu sinceros agradecimentos pela oportunidade e contribuições com novas ideias que todos trouxeram ao debate!
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Wilson Roberto Vieira Ferreira
Há na vida apenas essas certezas: de que vamos morrer, que as pessoas que amamos também irão morrer e que eventualmente nossa própria morte fará outros sofrerem. Mas a sociedade nos oferece inúmeras estratégias e ferramentas tecnológicas para esquecermos dessa amarga ontologia. Principalmente para a geração dos millennials, através do individualismo e as bolhas virtuais das redes sociais digitais. Esquecendo que o mundo é muito maior do que pensamos e que nossos atos têm consequências sobre todos que encontramos. Esse é o tema subjacente da série Netflix “Boneca Russa” (2019-): tal qual o filme clássico “O Feitiço do Tempo” (1993), Nadia fica presa em um loop temporal – a cada morte em um ciclo, acorda diante do espelho do banheiro na sua festa de 36 anos. Como explicar o mistério? Apenas um bug nas linhas algorítmicas que compõem a programação do Tempo? Ou algum tipo de lição moral que será obrigada a entender? A saída será a lembrança e a memória.
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Wilson Roberto Vieira Ferreira
Por que aquilo deu nisso? Por que toda aquela energia das manifestações nas ruas brasileiras, de jovens estudantes e ativistas, que queriam mudar o País (“desculpe o transtorno, estamos mudando o Brasil” eram as faixas mais vistas nas manifestações) resultou num retrocesso geopolítico de deixar atônito jornalistas e pesquisadores estrangeiros? Isso é que o Workshop “Guerra Híbrida e Guerra Semiótica” tentará responder nesse sábado (23/02), em Londrina, Paraná. Este editor do Cinegnose levará elementos teóricos das ciências da comunicação que poderão ser referências para construção de ferramentas e estratégias de ação nas guerras semióticas anti-mídia. Principalmente quando sabemos que grande mídia e novas tecnologias de convergência estão por trás das atuais formas inéditas de ação geopolítica.
terça-feira, fevereiro 19, 2019
Globo adota "a boa notícia é que..." para tentar se salvar do baixo astral nacional
terça-feira, fevereiro 19, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O telejornalismo é um dos principais produtos televisivos. Não importa se as notícias sejam boas ou ruins. No todo, o produto deve garantir uma experiência esteticamente agradável para o espectador. Em suma, ser um “infotenimento”, para atrair prestígio, anunciante e rentabilidade. Porém, a atmosfera pesada desse início de ano baixou nos telejornais: Brumadinho, jovens atletas mortos no incêndio do CT do Flamengo, notícias diárias de feminicídios, câmeras nas ruas mostrando valentões armados disparando e matando em prosaicas brigas de trânsito ou simples disputa de vaga num estacionamento e seguranças matando pobres em supermercados. Conjunções adversativas e adjuntos adverbiais já não dão mais conta de neutralizar o tsunami de tragédias e violência – amenizar as más notícias para garantir a experiência "infotenimento". Agora, repórteres da Globo repetem a expressão “a boa notícia é que...”: encontrar alguma brecha de esperança no "outro lado" das más notícias. A grande mídia perdeu o controle do próprio monstro que criou...
domingo, fevereiro 17, 2019
Deus e o Diabo querem nossas memórias e identidades em "Coração Satânico"
domingo, fevereiro 17, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em 1987 o filme “Coração Satânico” (Angel Heart) de Alan Parker (“Pink Floyd - The Wall” e “Fama”) alcançou o mesmo impacto de “O Sexto Sentido” de Shymalan: violentas viradas narrativas que comprovam como as nossas certezas em relação à realidade podem sumir em um instante. Porém, no thriller de horror “Coração Satânico” o problema fica mais complexo quando as próprias memórias e a identidade podem nos enganar. Um detetive particular é contratado para encontrar uma pessoa desaparecida. A investigação leva a um mergulho no obscuro mundo de religiões, magia negra e vodu. Mostrando que tanto Deus como o Diabo nos iludem ao criar a impressão de que nossos cultos e rituais nos mantém sob o controle do caos em que vivemos. Filme sugerido pelo nosso leitor infatigável Felipe Resende.
terça-feira, fevereiro 12, 2019
Avise a esquerda: luta de classes existe, e está em Brumadinho e no CT do Flamengo
terça-feira, fevereiro 12, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Cansada de tantas derrotas nos últimos tempos, a esquerda
simplesmente comemora como fosse um gol a forma como a Globo detonou a ministra
Damares Alves no quadro “Detetive Virtual” no Fantástico do último domingo. Uma
detonação bem seletiva: enquanto a emissora demonstra toda sua indignação e
furia investigativa nas questões identitárias e de costumes (vide a caça aos
abuso sexuais de João de Deus), as tragédias de Brumadinho e do incêndio no Centro
de Treinamento do Flamengo são encaixadas na narrativa “tragédia-emoção-homenagens”
– com direito a Galvão Bueno narrando os nomes dos jovens atletas mortos... Depois
de colocar Lula na prisão perpétua e por os militares no Governo, agora o novo
papel da Globo é varrer a luta de classes para debaixo do tapete – cônscia de
que, a partir de agora, acidentes como esses e a tensão social tenderão a
crescer sob o modelo econômico de extrativismo selvagem: vender commodities
módicas como ferro, manganês e jovens jogadores. Tudo a baixo custo, no limite
da irresponsabilidade. Enquanto isso, sem se ater à tática semiótica de
dissonância posta em ação pela parceria Governo/Globo, a esquerda reage de
forma reflexa a cada bravata “politicamente incorreta” e esquece da luta de
classes.
domingo, fevereiro 10, 2019
O apocalipse foi a própria Criação em "Oblivion"
domingo, fevereiro 10, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Se "Matrix" (1999) foi o auge hollywoodiano do gnosticismo pop, “Oblivion” (2013) é outro filme que consegue sintetizar o mito central dos gnósticos: o apocalipse já aconteceu, e foi a própria Criação: um erro cósmico no qual nos tornamos prisioneiros da ilusão e do esquecimento. Tom Cruise é Jack, um técnico de manutenção de drones e robôs cumprindo sua última missão na Terra: conduzir os recursos naturais remanescentes de um planeta devastado para uma lua de Saturno, último refúgio humano. Mas Jack aos poucos começa a questionar os propósitos da sua missão. Principalmente quando a mulher dos seus recorrentes flashs de memória aparece na queda de uma nave.
terça-feira, fevereiro 05, 2019
A Ciência é a última resistência contra a onda conservadora em "Boy Erased"
terça-feira, fevereiro 05, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O cancelamento da Universal Pictures em exibir o filme “Boy
Erased – Uma Verdade Anulada” nos cinemas brasileiros, mesmo sob a
justificativa comercial de baixa perspectiva de bilheteria, acendeu a suspeita
de autocensura – numa atmosfera política atual pesada e conservadora, uma
produção que contesta a chamada “cura gay” não seria conveniente para a
distribuidora. Mas o filme “Boy Erased” levanta outra questão tão sombria
quanto a “conversão gay”: o projeto “científico” que está por trás – reescrever
a própria história da Ciência, assim como o nazismo tentou ao criar um bizarro
mix Ciência, Religião e Ocultismo. Depois da economia (neoliberalismo
pentecostal) e a política (a direita nacionalista), a Ciência (escolas e
universidades) é a última resistência. Da “Terra Plana” à “cura gay”, hoje
ridicularizados, agora necessitam do verniz “científico”. Por isso, “Boy Erased”
dá um alerta em suas entrelinhas: a Ciência poderá ser reescrita pela Religião.
domingo, fevereiro 03, 2019
A arte vinga-se do capitalismo no filme "Velvet Buzzsaw"
domingo, fevereiro 03, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A arte pode ser perigosa e aqueles lucram com isso estão arriscando suas próprias vidas nessa sátira misturada com horror gore na produção Netflix “Velvet Buzzsaw” (2019). Se no filme anterior “O Abutre” o diretor e escritor Dan Gilroy figurava os bastidores da competição por audiência de programas sensacionalistas de TV, em “Velvet Buzzsaw” o alvo é o mundo do mercado das artes: artistas pretensiosos, gananciosos donos de galeria, clientes milionários e, principalmente, temidos críticos de arte – uma crítica publicada pode valer milhões de dólares ou o fim de uma carreira. Até encontrarem um acervo de pinturas e desenhos hipnóticos de um obscuro artista falecido. Uma oportunidade de lucro rápido. Mas um rastro de mortes começa a acompanhar aquelas telas. A fixação fetichista que temos pelas imagens (como, por exemplo, a ilusão de que a Mona Lisa sempre nos observa) é levada ao limite do horror. Como se a arte e as imagens estivessem se vingando da sociedade mercantil que as subjugou.
sábado, fevereiro 02, 2019
A ameaça simbólica de Lula e a Síndrome de Brian da esquerda
sábado, fevereiro 02, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Covardia!”, “desumanidade!”, “barbárie!”. Assim reagiu a esquerda, chocada com a proibição de Lula (prisioneiro há nove meses) participar do velório do seu irmão em São Bernardo do Campo/SP. Até a ditadura militar autorizou que Lula fosse ao velório da mãe, em 1980!, acusa inconformada a esquerda. A Polícia Federal apresentou seis motivos para não conceder o benefício. Em cada um deles, está a evidência de que o atual oponente da esquerda não são mais os toscos militares da ditadura que, ironicamente, permitiam até gestos humanitários. Agora há um atento e utilitarista cálculo dos riscos na guerra semiótica: as repercussões simbólicas de Lula repentinamente aparecer em público, diante das lentes das câmeras. PF e Judiciário são mais zelosos com a ameaça simbólica de Lula do que a esquerda jamais foi – entregou de bandeja sua maior arma semiótica, agora condenada à invisibilidade. Enquanto isso, convive com a sua autoindulgente “síndrome de Brian” (relativo ao filme "A Vida de Brian" do grupo de humor Monty Python), imaginando ainda estar enfrentando os velhos inimigos toscos do passado.
quarta-feira, janeiro 30, 2019
No filme "Apóstolo" o assassinato e a mentira fundam seitas e religiões
quarta-feira, janeiro 30, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Há um “modus operandi” na fundação de seitas e religiões: um assassinato que se transforma no sofrimento necessário do mártir; e a mentira decorrente dessa narrativa. Em consequência, o Sagrado mistura-se com o profano, e o Divino com a violência. Como é possível emergir amor e compaixão nesse modelo psíquico doentio? Essa é a questão principal do filme “Apóstolo” (“Apostle”, 2018). Um jovem ex-religioso, descrente de tudo após um passado traumático, tem a missão de resgatar sua irmã, raptada por uma estranha seita reclusa em uma ilha. Ele se infiltra entre os seguidores de um profeta enlouquecido, mas estranhamente não consegue determinar, afinal, o quê aquela seita adora. Através do horror gore (nada gratuito, já que o tema do filme é como sangue e violência são a outra face das seitas e religiões), o protagonista mergulha em uma sociedade que se pretendia utópica, mas que revela uma questão bem atual: o flerte da religião com o poder político por meio do Estado Teocrático. Filme sugerido pelo nosso incansável leitor Felipe Resende.
segunda-feira, janeiro 28, 2019
Curta da Semana: "Fake News Fairytale" - quando notícias falsas viram contos de fadas
segunda-feira, janeiro 28, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Políticos são como mágicos, acenando com as mãos, fingindo que o truque está acontecendo em outro lugar. Enquanto isso, eles nos distraem, escondendo aquilo que está acontecendo diante de nossos olhos.” Essa é a conclusão de “Fake News Fairytale” (2018), um curta sobre como se articulam as noções de verdade, ficção, realidade e ilusão nas fake news, abordadas pela diretora Kate Stonehill como narrativas análogas a contos de fadas. Em um divertido documentário que simula ser um “mockumentary”, baseia-se num caso real: a repentina fama que a pequena cidade de Veles, no interior da Macedônica, ganhou como o centro da “corrida do ouro” das fake news: adolescentes que ganharam muito dinheiro com anúncios em website que publicavam notícias falsas repercutidas nas redes sociais a partir de perfis falsos. E ajudando a vitória de Trump nos EUA. Sem emprego ou futuro, jovens viram a chance de ganhar dinheiro rápido. Essa é a matéria-prima da atual ultradireita nacionalista.
domingo, janeiro 27, 2019
Rebaixamento dos padrões de inteligência da Revolução Industrial 4.0 criou Bolsonaro
domingo, janeiro 27, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
No momento em que o presidente eleito Jair Bolsonaro saiu da sua zona de conforto e se expôs em cenários não controlados como o Fórum Econômico de Davos ou a tragédia humano-ambiental de Brumadinho/MG, revela-se a sua condição limítrofe, com sérias deficiências cognitivas. E diante de pesquisas de opinião cujos resultados se colocam contra as principais linhas da sua “plataforma de governo”, muitos questionaram: mas afinal, como ele foi eleito? Discurso fascista? Anti-petismo? Há um fator ainda não tematizado - as relações intrínsecas entre a chamada “alt-right” (direita alternativa) e as redes sociais não é um mero acaso ou oportunismo. Personagens como Bolsonaro ou Trump são produtos das tecnologias de convergência da Revolução Industrial 4.0. Tecnologias que criaram uma cultura de aplicativos e redes sociais estruturada na noção algorítmica de “Inteligência Artificial”, que consiste em rebaixar os padrões do que entendemos como “inteligência”, enquanto os usuários se tornam simples processadores de informação.
sexta-feira, janeiro 25, 2019
A nova sensibilidade gnóstica do horror no filme "Ghost Stories"
sexta-feira, janeiro 25, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Desde a Era Vitoriana, quando os fenômenos paranormais (mesas girantes, fantasmas, fotografias de ectoplasmas etc.) entraram em cena na cultura Ocidental, as explicações sobre esses eventos sempre estiveram sintonizadas com o “zeitgeist” de cada época. Na virada de século, as tentativas de explicações científicas deram lugar à mistura de fé com espiritualidade. Nesse cenário, a sensibilidade gnóstica começa a se esgueirar pelos filmes de terror, um gênero que sempre foi canônico. Apesar de parecer uma homenagem às velhas antologias cinematográficas de terror, “Ghost Stories” (2017) vai mais além: é um exemplo que segue a linha das violentas viradas narrativas como “Sexto Sentido” e “Os Outros” – a abordagem PsicoGnóstica da paranormalidade, na qual a mente pode ser a nossa principal prisão. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
quinta-feira, janeiro 24, 2019
Ano 2019 é um Vortex Temporal? Como modular a atenção em tempos extremos, por Nelson Job
quinta-feira, janeiro 24, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Este ano de 2019 aparece com recorrência no imaginário especulativo como um ano de "turning point". Parece ter sido privilegiado por obras do passado de cineastas, escritores e médiuns que o elegeram como um ano marcante. Os filmes “Blade Runner” e “O Sobrevivente”, o animê “Akira”, as previsões de Isaac Asimov e de Chico Xavier, todos fazem referência a este ano. Quais as razões disso? 2019 será, de fato, o trampolim de uma Nova Era, como astrólogos e esotéricos do mundo inteiro anunciam, ou será uma completa catástrofe? Podemos entender o ano de 2019 como uma espécie de vortex transtemporal? Forças dos acontecimentos anteriores e do futuro estariam de auto-organizando no tempo? Neste artigo, investigaremos essas ocorrências e traçaremos um desdobramento delas.
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