quarta-feira, junho 06, 2018

Editor do Cinegnose abre curso sobre "Golpe de 2016" na Universidade Federal de Uberlândia



Este humilde blogueiro fará nessa quinta-feira, 07/06, a palestra de abertura do curso “O Golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil” na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Campus Pontal, em Ituiutaba, Minas Gerais.

O tema será “ “Guerras Híbridas e Bombas Semióticas midiáticas: por que aquilo deu nisso?". O evento começa às 19 horas no Anfiteatro I, Bloco B, FACIP/UFU.

O evento não será transmitido ao vivo. Porém, será gravado e disponibilizado posteriormente on line. Tão logo seja disponibilizado, o Cinegnose divulgará o vídeo para os leitores.

A palestra

A palestra pretende descrever como foi possível uma ação midiática organizada ter não só desestabilizado um governo para jogar o País numa surreal crise política, mas também ter envenenado psiquicamente a esfera pública de opinião, travando o debate político racional pelo ódio e intolerância.

Através da articulação dos conceitos de “Bomba Semiótica” e “Guerra Híbrida” podemos entender os momentos em que a grande mídia nacional interveio politicamente, desde o golpe militar de 1964 até os atuais movimentos táticos da Guerra Híbrida. Como se forma uma engenharia de opinião pública e as possíveis táticas de “guerrilha antimídia”.

Os efeitos socialmente letais daquilo das “bombas semióticas” dentro de uma guerra geopolítica mais ampla – a “Guerra Híbrida”, nesse momento impactando o contínuo midiático nacional e por trás das diversas “primaveras” que rondaram o planeta nos últimos anos.

E também uma avaliação das oportunidades de contra-hegemonia perdidas e a possibilidade de uma guerrilha semiótica anti-mídia. Mas, principalmente, entender: afinal, por que aquilo deu nisso?

Para acessar a programação completa do curso, clique aqui.

domingo, junho 03, 2018

Curta da semana: "The Cut-Ups" - o filme que fez pesoas fugirem desorientadas do cinema


Esse curta metragem é para cinéfilos aventureiros e corajosos. Numa parceria entre o escritor norte-americano “beatnik” William Burroughs e o distribuidor de filmes de terror B Anthony Balch, o curta “The Cut-Ups” (1966) foi exibido por duas semanas em Londres naquele ano, causando uma “desorientação de sentidos” na plateia pega de surpresa. Pessoas corriam da sala de projeção largando seus pertences, com sensações de náusea, nojo e desorientação. Burroughs conhecia a técnica dadaísta do “cut-up” (recorte) de justaposição aleatória de recortes. Então, o escritor resolveu aplicar em outras mídias como fitas de áudio e cinema. Para ele,  a técnica (muito usada depois por compositores do rock como David Bowie) ajudaria a nos libertarmos das formas de controle da linguagem que nos tranca em formas tradicionais de pensamento. Seria a saída para uma questão semiótica: se o que chamamos de real é apenas o signo do real, o que existe lá fora, para além dos signos?

sábado, junho 02, 2018

Toda a democracia que o dinheiro pode inventar em "Terra Prometida"


Era para ser mais uma operação comercial de rotina: convencer os moradores de uma pequena cidade a venderam suas terras para uma grande corporação extrair gás natural sob a cidade, por meio de uma técnica de alto risco ambiental. Mas tudo se complica quando um professor mostra para os moradores evidências de catástrofes ambientais ocorridas anteriormente: envenenamento do gado e das águas. E para complicar, chega na cidade um ativista ambiental que rastreia as atividades escusas da empresa. Além disso, a tensão cresce com a proximidade do dia da eleição na qual os moradores devem decidir se aceitam a oferta de compra. “Terra Prometida” (Promised Land, 2012) de Gus Van Sant discute até que ponto a opinião pública se confunde com propaganda – as modernas estratégias de engenharia de opinião pública na qual as grande corporações têm gigantescos interesses financeiros. Muito dinheiro para ficarem à mercê do imponderável dos resultados eleitorais. Quanto dinheiro é necessário para simular uma discussão pública e democrática? Confrontado com a atual crise política brasileira, fruto da guerra hibrida e geopolítica do petróleo, “Terra Prometida” dá no quê pensar...

quinta-feira, maio 31, 2018

A "Nova Ordem" do bullying e intolerância no filme "Klass"

A princípio, o filme estoniano “Klass”(2007) é mais um filme sobre assassinatos seriais em escolas, na linha de “Elephant”, “Tiros em Columbine” ou “Precisamos Falar Sobre Kevin”. Também baseado em um incidente real, “Klass” se esforça em não ser mais um filme “sobre” violência escolar, mas procura falar “da” violência, sem estilização tradicional do tema – fetichização das armas e atiradores vestidos com trajes snipers negros. Formado por um cast de atores amadores e não-atores, “Klass” arranca performances espontâneas e brutais sobre a história de Joosep, vítima de bullying e desprezo de uma classe que cria um mundo fechado. Incompreensível para adultos preocupados com seus próprios afazeres. “Klass” vai ao fundo psicológico do nascimento do extremo desejo de vingança: uma Nova Ordem na qual família e escola pouco significam ou compreendem um movimento que está muito além da Razão: uma secreta aliança entre Id e Superego – autoritarismo aliado ao prazer sadomasoquista. Filme sugerido pelo nosso onipresente leitor Felipe Resende.

domingo, maio 27, 2018

O roteiro da greve dos caminhoneiros: um filme já visto?


Se a política é a continuidade da guerra por meios semióticos, então a atual crise provocada pela greve dos caminhoneiros deve ser analisada dentro de dois princípios de engenharia de opinião pública: clima de opinião e espiral do silêncio - criar atmosferas difusas de medo, pânico, emergência, instabilidade. Para construir uma conjuntura política visando efeitos imediatos e de médio prazo. E sempre o petróleo como pivô. Greve de caminhoneiros é um filme já assistido em momentos de instabilidade política e social que antecedem golpes políticos (João Goulart em 1964 e Allende no Chile em 1973, por exemplo). Em muitos aspectos o script da greve que atinge todo o País é idêntico ao das “Manifestações pelos 20 centavos” de 2013: “espontaneidade”, suposta organização horizontal, redes sociais etc. Mais uma ação de guerra híbrida para melar as eleições? Para criar comoção pública que justifique intervenção e adiamento das eleições? Para, na falta de um candidato competitivo da situação, ganhar tempo para a realização da agenda neoliberal de privatizações?

sábado, maio 26, 2018

O Capitalismo se desmancha no ar no filme "Fome de Poder"

“Tudo que era sólido se desmancha no ar”, dizia Karl Marx sobre o poder do Capitalismo revolucionar incessantemente seu modo de produção. “Fome de Poder” (The Founder, 2016) descreve como um vendedor ambulante de mixer para milk shakes chamado Ray Kroc encontrou no gênio dos irmãos McDonald muito mais do que uma revolucionária linha de montagem de hambúrgueres. Viu nos arcos de uma loja dos irmãos algo além de um mero detalhe arquitetônico: vislumbrou a máquina semiótica de produção de marcas e símbolos como uma nova força produtiva do Capitalismo que não oferece mais produtos tangíveis. Consome-se uma fé, uma ideia ao invés de um hambúrguer que se desmanchou no ar – pouco importam as suspeitas sobre a procedência das batatinhas fritas ou da carne do Big Mac. Ray Kroc fez o mundo consumir muito menos um sanduíche do que a marca e um sistema de conveniência.

quarta-feira, maio 23, 2018

Os fantasmas daquilo que esquecemos no filme "Radius"



Um homem acorda sem memórias após um acidente automobilístico. Na medida em que vaga pela estrada em busca de ajuda, vê pessoas e animais caindo mortos na sua frente. Ao mesmo tempo, flashs de fragmentos de lembranças aparecem involuntariamente, mostrando que ele está em meio a um gigantesco quebra-cabeças. Tudo lembra a atmosfera dos episódios da série clássica “Além da Imaginação”. Mas estamos diante da nova safra de filmes de ficção-científica independente, onde nunca sabemos o que vamos encontrar pela frente. É um sci-fi? Um thriller sobre ataques terroristas? Ou uma discussão metafísica sobre a responsabilidade sobre atos de um passado do qual não lembramos? O filme canadense “Radius” (2017) eleva os temas gnósticos da “amnésia” e do “detetive” (aquele que tenta solucionar um enigma) para um novo patamar: sempre tentamos reunir cacos de um mundo desmoronando, sem saber que o enigma que buscamos desvendar tem a ver com nós mesmos – o passado esquecido que vem cobrar responsabilidades, culpas ou contas a acertar.

sábado, maio 19, 2018

A guerra semiótica calça chuteiras para a Copa 2018


Para quem ainda duvida e acha que guerra híbrida e bombas semióticas não passam de “teoria da conspiração”, uma simples comparação entre as peças publicitárias que promoviam a Copa de 2014 e a desse ano, na Rússia, põe fim a qualquer dúvida: enquanto a Copa no Brasil foi dominada por criações publicitárias para lá de polissêmicas (ambiguidade entre festa e agressividade, alegria e raiva, em consonância com a pesada atmosfera das manifestações do “Não Vai Ter Copa!” + Lava Jato), nesse ano a publicidade é bem diferente: uníssona e assertiva - a Nação deve ficar unida, esquecer as diferenças e torcer pela Seleção. Em 2018 a Guerra Semiótica veste as chuteiras cumprindo duas funções: a primeira política, pacificar as ruas com a ideia de união e nação; e no campo ideológico, enfiar goela abaixo da choldra as preleções de Tite, misto de “coaching” e pastor motivacional. Para nos fazer acreditar que desemprego não é crise. É oportunidade para virarmos todos empreendedores. Mas, e se algo sair fora do script? Então teremos um “Plano B” cujos balões de ensaio já estão sendo lançados.

domingo, maio 13, 2018

Cigarros e niilismo gnóstico no filme "Lucky"


Um homem solitário e ranzinza confronta a chegada da morte. Com quase 90 anos, ele segue uma rotina espartana: faz alguns exercícios de ioga pela manhã, depois pega o chapéu e caminha através de uma paisagem árida de cactos numa cidadezinha no meio do nada. Trava conversas aleatórias sobre religião, filosofia, moral, game shows da TV, saúde e a morte numa cafeteria e num bar. Enquanto fuma muitos, muito cigarros. E entre seus interlocutores está o famoso diretor David Lynch, que faz um homem que tem uma tartaruga chamada “Presidente Roosevelt”. Esse é o filme “Lucky” (2017) sobre um protagonista ateu que entra na lista de produções sobre personagens excêntricos de uma América profunda. Mas Lucky tem um ateísmo de natureza muito especial – é dotado de um niilismo gnóstico. Ele não crê num propósito ou sentido para a vida. Pelo menos, não para esse mundo.

sábado, maio 12, 2018

Esquerda ri de si mesma na derrota da guerra semiótica


O sucesso na Internet da camiseta vermelha da seleção brasileira, para torcedores de esquerda torcerem na Copa sem serem confundidos com “paneleiros do pato amarelo”, e do “Museu da Direita Histérica” no Facebook são dois sintomas de um mal-estar da esquerda: a derrota por WO no campo da comunicação. Quando ri dos vídeos impagáveis da “direita raivosa” ou se diverte com a camiseta alternativa da seleção, no fundo ri de si mesma – enquanto a esquerda brada as armas dos símbolos (o vermelho, cartas para Lula e bandeira do MST e CUT etc.), a direita dispara a bomba semiótica da iconificação – a apropriação dos símbolos para se converterem em ícones facilmente massificados ou viralizados. Símbolos são iniciáticos, sectários, exclusivos. Enquanto os ícones valem mais do que mil símbolos. Desde a iconificação do símbolo da suástica pelos nazistas.

domingo, maio 06, 2018

Curta da Semana: "Tennessee" e "Look At Me Only" - estamos confundindo Comunicação com Informação


Dois fantasmas rondam a atual tecnologia de convergência com seus celulares e tablets: o solipsismo e a incomunicabilidade. Uma garota sente-se solitária no seu aniversário porque todos ao seu redor estão imersos em mundos virtuais. E uma garota ciumenta em um restaurante exige a atenção do seu namorado, que prefere prestar atenção ao seu pequeno hamster. Ou será um celular? São as pequenas estórias contadas respectivamente pelos curtas de animação “Tennessee”(2017) e  “Look At Me Only”(2016). Por que as tecnologias atuais produzem incomunicabilidade? Talvez porque estamos confundindo comunicação com informação.

sábado, maio 05, 2018

Será que incêndio de prédio em SP foi também mais um não-acontecimento?


Da mesma forma como os recentes atentados em Paris, Berlim, Londres etc., o incêndio seguido de desmoronamento do Edifício Wilton Paes de Almeida, no Centro de São Paulo e ocupado por movimento de luta à moradia, está cercado de sincronismos, “coincidências significativas”, recorrências, anomalias e evidente oportunismo pelo lucro político e comercial da tragédia – grande mídia, interesses privados por trás das chamadas “Operações Urbanas” e a construção de um novo inimigo interno com o pós-Lula e o enfraquecimento do discurso do combate à corrupção: a identificação do crime organizado (PCC) com os movimentos sociais. Seria tudo um “não-acontecimento”, da mesma magnitude e propósito do incêndio do Reichstag de 1933 que conduziu os nazistas ao poder?

quarta-feira, maio 02, 2018

O mal-estar dos millennials diante do fim do mundo em "Bokeh"



Um jovem casal norte-americano em férias na Islândia. Que mal poderia acontecer? A não ser, acordar numa manhã e descobrir que todo mundo desapareceu e aparentemente só restaram eles? Celulares e Internet continuam funcionando, mas... não há ninguém do outro lado. Será que toda humanidade desapareceu? Esse é o filme "Bokeh" (2017, disponível na Netflix) no qual a atmosfera "Além da Imaginação” é apenas um pano de fundo para discutir questões geracionais e existenciais da chamada “Geração Y” ou “Millennials”. Ao invés de procurar uma resposta, ou mesmo sobreviventes, o casal de fecha ainda mais no mal-estar que emerge da relação: o estranhamento de estarem cara-a-cara, sem mediações tecnológicas, e o estranho nostalgismo pós-moderno: saudades de épocas que não foram vividas.

domingo, abril 29, 2018

Com elegância e decadência a modernidade aguarda o nazismo na série "Babylon Berlin"


A série mais cara de televisão alemã, a produção Netflix “Babylon Berlin” (2017-) cria para o espectador uma estranha sensação de atualidade. É ambientada na Berlin do final de década de 1920, coração da modernidade urbana do cinema e dos clubes de jazz. Mas também da hiperinflação, pobreza, racismo, drogas, filmes pornográficos e a ascensão de grupos proto-nazistas. Subprodutos do envenenamento psíquico da República de Weimar na qual comunista e bolcheviques são o pretexto para destruir uma jovem democracia. Um jovem inspetor de polícia dá uma batida e descobre um estúdio de cinema onde eram produzidas versões de contos bíblicos, com muito sexo e pedofilia. Mas o fio da meada que o policial puxará o levará a um obscuro submundo no qual se esconde todo o mal psíquico que fará um país cair nos braços do totalitarismo.

sábado, abril 28, 2018

Trompete invade link da Globo e abre perspectivas na guerra semiótica


A invasão de um solo de trompete num link ao vivo do “Jornal da Globo” entoando o refrão de “Olê, olê, olê, olá, Lula, Lula” é mais uma mostra da eficiência da estratégia de guerrilha antimídia do “culture jamming” (trolagem) – tática anárquica de criar ruídos, atrapalhar ou interferir no fluxo normal da informação. No atual cenário de guerra híbrida (demonstrado pela imediata criação de uma “cinderela de esquerda” pelo BBB18 após a ocupação do “tríplex do Lula”), a trolagem do link ao vivo da Globo demonstra seu poder de fogo por potencialmente mobilizar elementos semióticos de opinião pública fundamentais: clima de opinião, importância e ambiguidade, ironia e sarcasmo e trolagens multi-culturais. Eficácia que só aumentaria através de uma espécie de “temporada de caça aos links ao vivo da grande mídia”, ação de guerrilha midiática que atingiria o ponto fraco da TV atual: apesar do seu “tautismo” crônico, a TV tem necessidade de abrir pequenas janelas (blindadas) para o mundo. Afinal, ela vive do álibi da informação e entretenimento.

Cinegnose discute "bolhas virtuais" e obscurantismo no "Poros da Comunicação"


Por que a Internet deixou de ser uma janela aberta para o mundo para se converter numa bolha virtual dentro da qual cada um de nós vive uma realidade simulada? Por que os algoritmos que animam essa bolhas parecem conhecer mais de nós que nós mesmos? E de que forma a motivação mística tecnognóstica anima esse cenário tecnológico, ameaçando criar novas formas de obscurantismo? Essas foram as interrogações que esse humilde blogueiro levou para o sexto programa “Poros da Comunicação”, transmitido ao vivo pela TV FAPCOM na última quinta-feira (26)  com o tema “Tecnologias e o Sagrado: um Novo Obscurantismo?”. Assista à gravação do debate aqui no “Cinegnose”.

quarta-feira, abril 25, 2018

Editor do "Cinegnose" participa de debate sobre tecnologias, sagrado e obscurantismo


Nessa quinta-feira (26/04) esse humilde blogueiro participará de debate transmitido ao vivo pela TV FAPCOM – Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação cujo tema é “Tecnologias e o Sagrado: um novo obscurantismo? A transmissão ocorrerá pelo canal do YouTube da TV FAPCOM e terá início às 14h – clique aqui para acessar o canal da TV FAPCOM.

Também participarão do debate os professores e pesquisadores Ciro Marcondes Filho (mediador, ECA/USP/FiloCom), Carlos Eduardo de Souza Aguiar (FAPCOM), Marcella Faria (FAPCOM) e Jorge Miklos (PUC/SP).

Como os leitores mais antigos do Cinegnose devem saber, este humilde blogueiro levará as reflexões em torno dos conceitos desenvolvidos aqui como Tecnognosticismo (o “pós-humano”) e Cartografias e Topografias da Mente – o esforço multidisciplinar envolvendo as neurociências, ciências cognitivas, Cibernética, Inteligência Artificial e Teoria da Informação para, além de desvendar o funcionamento da mente, também procurar um modelo de simulação que permita não só compreender a dinâmica dos processos mentais e da consciência, mas, principalmente, manipulá-la e controlá-la.

Além disso, compreender as motivações místicas ou religiosas por trás dessa nova forma de engenharia social – a religião do Vale do Silício (a “religião das máquinas”, a que se refere o cientista computacional Jaron Lanier), teurgia, alquimia e cabala.

Poderiam essas motivações políticas e imaginárias por trás das tecnologias atuais uma nova forma de obscurantismo? A racionalidade caindo sob o encanto do mito?



O Programa “Poros da Comunicação” (sempre transmitido ao vivo pelo YouTube, agora na sexta edição) é uma parceria da FAPCOM com o FiloCom, que é um núcleo de estudos filosóficos da comunicação da ECA/USP. Foi Fundado em 2000 com o objetivo de realizar pesquisas, encontros e publicações relativas ao modo filosófico de entender os fenômenos da comunicação.

A FiloCom tem vínculo internacional com pesquisadores brasileiros e estrangeiros na Europa e EUA.

Link para a TV FAPCOM: https://www.youtube.com/user/faculdadepaulus

terça-feira, abril 24, 2018

O império contra-ataca na guerra semiótica: Globo faz a Cinderela de esquerda no BBB18


Dentro da atual guerra semiótica, a Globo foi rápida após acusar o golpe da invasão tática do “tríplex do Lula” no Guarujá pelo MTST e Frente Povo Sem Medo. Três dias depois, a emissora simplesmente promoveu uma militante petista (Gleici Damasceno, a jovem acreana “feminista e militante”, como descreveu o programa) a nova milionária do BBB18. E de quebra, como vice, um refugiado sírio.  Resposta semiótica direta e incisiva: entrou no “controle de danos” após a prisão de Lula (compulsivamente a Globo tenta aparentar agora imparcialidade). Ao mesmo tempo em que utilizou a arma ideológica tão antiga quanto a própria televisão brasileira: narrativas da “Rainha por um Dia” e “Boa Noite Cinderela” do velho Silvio Santos desde décadas atrás – reciclar miseráveis (e agora também militantes de esquerda) em exemplos de imparcialidade e evidências do outro lado da moeda da meritocracia: a sorte e oportunidade. E a esquerda tenta pegar carona em Gleici: “Quando é no voto, a gente sempre ganha”, “Gleici campeã, deu PT” etc. Parece que a vitória da ocupação do triplex não ensinou nada...

domingo, abril 22, 2018

A família do século XXI em cacos na série Netflix "Perdidos no Espaço"


Toda refilmagem revela o espírito de época quando comparada com o original. É também o caso da série Netflix "Perdidos no Espaço" (Lost In Space, 2018), nova versão da série clássica de TV dos anos 1960 – que já contava com um longa-metragem em 1998. Agora os Robinsons não são mais a família nuclear perfeita do sonho americano, mas uma família à beira da separação que tenta reunir os cacos enquanto enfrenta os perigos de um planeta desconhecido. O novo “Perdidos no Espaço” revela o espírito de época do século XXI: o militarismo e a amoralidade do vilão. Além da relação histérica com o objeto do desejo, traço psíquico da cultura contemporânea: só voltamos a desejar aquilo que amamos na eminência da sua perda com a morte ou a destruição.

quinta-feira, abril 19, 2018

Ocupação do triplex: pontos para a esquerda na guerra semiótica



Finalmente a esquerda marca pontos na atual guerra semiótica no front do campo simbólico da sociedade (grande mídia + opinião pública): a ocupação do indefectível “triplex do Lula” no Guarujá pelo MTST e a Frente Povo Sem Medo apresentou todas as características de um petardo semiótico: Detonação, Letalidade, Dilema Midiático e Dissonância Cognitiva. Uma ocupação curta (pouco menos de quatro horas), mas o suficiente para a grande mídia viver um dilema e dar uma guinada gramatical no seu discurso, como se sentisse o golpe. Mas o melhor dessa bomba semiótica foi como a mídia corporativa mordeu a isca (o álibi) para a ocupação revelar o seu verdadeiro propósito: a filmagem no interior da verdadeira caixa preta em que se tornou o imóvel. Revelando a dissonância entra as narrativas jurídico-midiática e da oposição. Uma ação simbólica bem-sucedida que revela outras questões. Entre elas, a possível criação de um grupo de inteligência semiótica para multiplicar essa ação prototípica.

segunda-feira, abril 16, 2018

Niall Ferguson: baixa educação e ressentimento alimentam extremismo e guerra híbrida


Historiador escocês, professor de Harvard e nome que esteve na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo pela revista “Time”, Niall Ferguson afirmou: parcelas menos educadas da população tendem a aderir a discursos extremistas de direita como solução para crise. Em passagem em evento promovido pelo banco Itaú em São Paulo, Ferguson referiu-se como a baixa qualidade educacional cria a percepção de que “o mundo não funciona” e a fácil aceitação de que pessoas sozinhas com soluções extremistas resolveriam problemas como criminalidade e imigração. Apesar de ser um intelectual muito solicitado como palestrante em eventos corporativos, a fala de Ferguson revelou como a baixa qualidade educacional cria o ressentimento: a matéria-prima psíquica da qual se aproveitou a guerra híbrida brasileira. Mas agora, discursos extremistas de direita brasileiros estão prontos para oferecer novos bodes expiatórios para direcionar o ressentimento de jovens universitários que sentem que o “mundo não funciona”: a distância entre o diploma conquistado com esforço e a realidade profissional precarizada. Pauta sugerida pelo nosso leitor Paulo Manetta.  
  
Niall Ferguson não é apenas um historiador escocês, professor na Universidade de Harvard e palestrante bastante requisitado na Europa e Estados Unidos. E que passou esse mês aqui pelo Brasil no evento Macro Vision, promovido pelo banco Itaú em São Paulo. Ele também é um “think tank” (instituição ou personalidade especializada em influenciar a opinião pública e decisões políticas), que já esteve na lista das 100 pessoas mais influentes da revista americana Time.

Ferguson costuma vender o diagnóstico de que o mundo ocidental está em decadência: a democracia, o capitalismo, o respeito às leis e a sociedade civil estão em crise e que as políticas dos governos dos EUA e Europa só pioram a situação.

Como não poderia deixar de ser, por onde passa diz que a solução é aquilo que as atentas audiências formadas por CEOs e banqueiros já pensam: limitar o governo e desregulamentar o mercado. Em outras palavras, Niall Ferguson é aquele que atira primeiro a pedra na vidraça para depois tocar a campainha da casa para vender seguro – a estratégia da “vidraça quebrada”.

Mas às vezes devemos ficar atentos às falas desses intelectuais insiders que acenam soluções neoliberais para a banca. Muitas vezes apresentam dados cuja interpretação é “invertida”: apontam para tendências e fenômenos sociais muitas vezes verdadeiras, porém não como denúncia de uma realidade que precisa ser mudada. Mas como prospecção de matéria-prima para futuras ações de guerra híbrida.

Niall Ferguson

Baixa educação e populismo de direita


Em declaração ao jornal Valor Econômico, Ferguson apontou que as experiências recentes do Brexit e das eleições americanas de 2016 sugerem que a parcela menos educada da população tende ao populismo de direita como solução para as crises – clique aqui.

“O que vimos é que pessoas de mais baixa educação têm maior probabilidade de votar no populismo de direita. Isso se mostrou verdadeiro em eleições europeias recentes”. Para Ferguson, “pessoas com maior educação tendem ao centro, seja de esquerda ou direita, porque o mundo funciona para essa parcela da população, que por isso é favorável à manutenção do status quo”.

E completou: “As pessoas que não se beneficiam do status quo são atraídas por quem diz que pode mudar o sistema, que pode sozinha resolver o problema, seja de imigração ou criminalidade”.

Segundo Ferguson, sempre após as crises o populismo de direita tende a ter bom desempenho. E alerta os brasileiros: “imagino que o pesadelo de vocês seja, com a ausência de Lula, uma disputa entre Bolsonaro e o substituto de Lula”.


“O mundo não funciona”


Fica claro que o conceito de “baixa educação” não se refere a uma insuficiência de nível escolaridade formal, mas à precarização da qualidade. Por exemplo, conseguir um diploma de ensino superior em faculdades privadas de baixo nível ou em cursos EAD acessíveis ao nível de renda. Como o pesquisador escocês aborda no livro “The Great Degeneration: How Institutions Decay and Economies Die” – veja “US education and economy are on the skids, says britsh historian” In: Mercatornet, clique aqui.

Isso talvez explique o porquê de Bolsonaro ter melhor resultado entre os mais escolarizados (aqueles que completaram o ensino superior) segundo pesquisa Datafolha (clique aqui e aqui). Além da pesquisa apontar que 60% dos eleitores do parlamentar de direita serem jovens – entre 16 e 34 anos.

Nem tampouco essa “baixa educação” tem a ver exclusivamente com a desinformação que levariam jovens a serem seduzidos pelo canto da sereia dos discursos extremistas – repostas simples baseadas em soluções finais do tipo “subir a Rocinha dando tiros” como defendeu certa vez Jair Bolsonaro.

A chave de compreensão do diagnóstico de Niall Ferguson está na percepção dessas pessoas de que, para elas, “o mundo não funciona”, apesar da escolaridade superior conquistada a muito custo e motivada pela crença da justiça do sistema meritocrático.

A percepção de que “o mundo não funciona” deixa de ser uma questão eminentemente sociológica para entrarmos no campo explosivo psicossocial – campo embrionário do fascismo que sempre esteve vinculado com o ressentimento do indivíduo contra uma sociedade injusta que parece sempre burlar as regras do jogo.

Os anos de governos lulopetistas das políticas de inclusão de estudantes no ensino superior (crescimento de 65%,  e destes 75% em instituições privadas, setor que se tornou um parceiro do governo federal) criaram expectativas para a chamada “Classe C” de que estava entrando no jogo da meritocracia em condições de igualdade. Como reza a boa ideologia do mérito e do empreendedorismo.

Mas essa inclusão quantitativa não foi acompanhada pela qualificação das escolas de ensino superior. O que significa que a conquista do diploma universitário não significou necessariamente a conquista de empregos qualificados ou uma carreira bem remunerada com perspectivas de crescimento profissional.


Ressentimento e precarização


Pesquisadores como Giovanni Alves observaram que o modelo neodesenvolvimentista conduzido pelos governos do PT basearam a inclusão social através do mercado de consumo e da precarização do trabalho. Uma nova geração de trabalhadores cujas noções de cidadania e trabalho passaram muito mais pelas ambições por consumo do que pelos valores de classe social, direitos de trabalho e sindicalização – leia ALVEZ, Giovanni, “Neodesenvolvimentismo e precarização do trabalho no Brasil” – clique aqui.

E os diplomas conquistados em faculdades com educação também precarizada fechou essa conta que mais ampliou expectativas do que as satisfez. Jovens diplomados foram jogados em um mercado de trabalho que confundiu ícones de softwares, sistemas operacionais e aplicativos como um verdadeiro saber profissional. Quando na verdade não passavam de trabalho simplificado, rotinizado e fragmentado, pronto para ser controlado e monitorado por gestores.

E nesse gap entre o diploma e a realidade precarizada (carreira frustrante de baixa remuneração) está o mal estar psíquico do ressentimento – a humilhação e revolta de que “o mundo não funciona”, a percepção genérica de que “tudo que está aí” está errado.

Pronto! Temos a atmosfera psíquica perfeita que busca bodes expiatórios. Apenas aguardando uma tradução em uma bomba semiótica, em um slogan, em uma guerra híbrida.

Em postagens anteriores este Cinegnose vem apontando que a combinação explosiva de meritocracia com ressentimento motiva a atual guerra simbólica empreendida pelo complexo jurídico-policial-midiático cujo ápice foi a prisão de Lula e a sua tradução cinematográfica: o rebento de José Padilha, a série Netflix O Mecanismo – veja links abaixo.


Para o ressentido, o bode expiatório da corrupção é mais atraente do que as críticas dos  juros altos, das políticas econômicas antinacionalistas, do neoliberalismo ou do sucateamento proposital do patrimônio público para as privatizações serem aceitas como fato consumado – de novo, a “estratégia da vidraça quebrada”.

A vantagem é que a corrupção pode ser midiaticamente personalizada em políticos com rostos, partidos etc. – serem demonizados, caçados, presos em espetáculos de meganhagem policial ao vivo na TV, com armas e carros negros reluzentes. Alívio psíquico regressivo (sádico-masoquista) para o ressentimento.

Crítica ao juros alto ou perda da soberania nacional são abstratas demais para um ressentido.

Com a prisão de Lula (vendida a um preço simbólico muito baixo, sob a égide da “rendição”) como o epílogo ideológico da Lava Jato, restam os discursos extremistas de direita, como o de Jair Bolsonaro, herdarem o ressentimento de uma massa de jovens universitários. Frustrados porque o “mundo não funciona”.

De tudo isso, ficam duas questões que sempre atormentaram pesquisadores como esse humilde blogueiro: por que historicamente a frustração social sempre foi melhor traduzida politicamente como ressentimento pelos discursos extremistas de direita? Por que até aqui o ressentimento nunca foi revertido em frustração que motivasse uma crítica ao verdadeiro mecanismo, o sistema reprodutor da desigualdade?

O fato é que diagnósticos como os de Niall Ferguson não são usados para a transformação social. Mas para a prospecção de novas oportunidades no atual quadro de guerra híbrida em escala planetária. 


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