quinta-feira, outubro 20, 2016
Netflix, Operação Lava Jato e o "Smart Power"
quinta-feira, outubro 20, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O
Netflix anunciou para o ano que vem uma série baseada na atual Operação Lava
Jato, em cartaz na grande mídia desde 2014, estrelada pelo protagonista Sergio
Moro. Curioso sincronismo entre uma operação, cujas ações sempre foram pautadas
por simbolismos e timing midiático, e uma série ficcional inspirada em evento
real ainda em evolução. Desde “House of Cards”, o Netflix vem protagonizando
recorrentes “coincidências significativas” – parece que suas produções pontuam
e até interveem na atual crise política brasileira. Coincidência? Ou estamos
testemunhando a nova política externa da chamada “Smart Power” (Hard Power +
Soft Power) implementada por Hilary Clinton no Departamento de Estado dos EUA
em 2009? Armas e bombas + indústria do entretenimento, produções midiáticas que
estariam além da mera imposição ideológica. Agora, sofisticada engenharia de
opinião pública onde eventos reais dialogam com narrativas ficcionais, até que
paradoxalmente a realidade se torne verossímil por meio da ficção: se virou
série, então é verdade!
terça-feira, outubro 18, 2016
O futuro já está entre nós no filme "Metropia"
terça-feira, outubro 18, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em
um futuro não muito distante a Europa foi interligada por uma massiva rede de
metro, o Estado sumiu e foi substituído por uma gigantesca corporação após o
crash financeiro e a crise energética e climática. Enquanto isso, as pessoas
isoladas nas suas casas se divertem vendo um game show televisivo com refugiados que disputam visto para legalizarem a situação na Europa. Quem
perde é ejetado para o mar. Parece com algo familiar? Essa é a animação sueca
“Metropia” (2009) uma paradoxal ficção científica na qual a sensação de futuro
deixa de existir. “Metropia” é uma “hipo-utopia”: o futuro já está entre nós,
no presente. Diferente das tradicionais distopias, essa animação é uma
“hipo-utopia”, a exemplo de filmes como “Distrito 9”: o futuro nada mais é do
que uma projeção hiperbólica das mazelas do presente – precarização do
trabalho, deterioração urbana, lavagem cerebral midiática, racismo e xenofobia.
sábado, outubro 15, 2016
O fim do Cine Brasília em Santos e o projeto oculto da grande mídia
sábado, outubro 15, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O
Cine Brasília, em Santos, litoral de São Paulo, foi o último cinema de bairro da
cidade a fechar suas portas. Com sua estética modernista que procurava emular a
Brasília de Oscar Niemeyer e, assim como todos os outros cinemas de bairro, foi
corroído por dois fatores que ajudaram a implantar no País o projeto da grande
mídia idealizado pelo Golpe Militar de 1964: concentração do lazer
exclusivamente na TV e, principalmente, a recessão econômica e hiperinflação.
Não é à toa que cinemas de bairro viraram supermercados, igrejas evangélicas ou
bingos – explorar a desesperança oferecendo alguma possibilidade de salvação,
seja para o bolso ou para a alma. Esse é o projeto oculto: quanto pior o País, melhor para a grande
mídia. Assim, sempre terá uma audiência deprimida e amedrontada. Por isso, fiel
e isolada dentro de suas casas diante do neuroléptico da TV. Sem renda para
usufruir do verdadeiro lazer, entretenimento e cultura oferecidos por cinemas e
teatros.
sexta-feira, outubro 14, 2016
Curta da Semana: "A Bicycle Trip" e "Velodrool" - Bikes e a viagem física e espiritual
sexta-feira, outubro 14, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A
bicicleta, tanto como prática desportiva ou meio de transporte, propicia um
duplo sentido de viagem: tanto espiritual quanto física. É sintomático que o
Dia Mundial da Bicicleta (19 de abril) nasceu após uma “viagem”: a celebração
do experimento científico do químico Albert Hofmann, o primeiro a sintetizar o
LSD e ingerir propositalmente o ácido antes de retornar para sua casa de bike.
Dois curtas celebram essa conexão entre o físico e o espiritual no ciclismo: o
curta de animação italiano “A Bicycle Trip” (2007) e o curta também de animação estoniano “Velodrool” (2016),
ambos trabalhos de conclusão de curso em cinema. O primeiro tenta recriar a
experiência de Hofmann. E “Velodrool”, o conflito entre o lúdico e espiritual
contra os interesses por trás da dopagem de atletas. Tudo em uma narrativa
delirante e surreal.
quinta-feira, outubro 13, 2016
Leitor do Cinegnose desconstrói nota informativa do Bank of America sobre a Matrix
quinta-feira, outubro 13, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Como explicar a adesão de profissionais dos mercados financeiros à hipótese de que vivemos em uma grande simulação computacional – a Matrix? Em postagem anterior o “Cinegnose” discutia quatro hipóteses que explicam o porquê de um anúncio sobre a probabilidade de vivermos em uma Matrix contida em nota informativa para clientes emitida pelo Bank of America Merrill Lynch no mês passado. Nosso leitor Wilson Cardoso sugeriu uma quinta hipótese bem interessante: mecanismo psíquico de projeção à nossa submissão ao capital financeiro.
quarta-feira, outubro 12, 2016
Tautismo agora ronda telenovelas da Globo
quarta-feira, outubro 12, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Depois do telejornalismo e do esporte, agora o tautismo (autismo+tautologia) chega às telenovelas da Globo. Em crise de audiência pelo desgaste do gênero e a concorrência das séries em streaming na Internet, a emissora apela para a autofagia tautista ao escalar os atores Luís Melo e Giovana Antonelli para o núcleo japonês de “Sol Nascente”, gerando protestos: atores brasileiros se passando por japoneses? "Yellowfaces" e preconceito?. A Globo manda às favas a verossimilhança, a própria essência de um roteiro ficcional, e prefere a sinergia entre o folhetim eletrônico e o mercado publicitário como reação desesperada à crise da telenovelas. Uma sinergia tautista que começa até a criar “coincidências significativas” e ricas de simbolismos como o ator Murilo Benício transformado em garoto-propaganda de uma empresa de investimentos. Sinal dos novos tempos: sai o Tufão (o desajeitado ícone da “Classe C” da Era Lula) e entra o investidor yuppie elegante.
terça-feira, outubro 11, 2016
Cineteratologia: a ciência dos monstros no Cinema
terça-feira, outubro 11, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Assim
como a Teratologia, ramo da ciência médica conhecida também como “ciência dos
monstros” (o estudo de como o meio ambiente pode produzir deformações pré-natal),
seria necessário um estudo sobre como as transformações dos ambientes
sócio-culturais alteram as expressões da monstruosidade e a sensibilidade ao
terror e o horror no cinema e audiovisual – a Cineteratologia. A partir de “A
Noite dos Mortos Vivos” (1968), de George Romero, acompanhamos a quebra o
paradigma da monstruosidade clássica e a criação de uma nova galeria de
monstros com mudanças estéticas (não são mais “disformes”, mas agora “informes”
– os chamados “monstros moles”) e éticas – o comportamento violento é
inimputável de qualquer julgamento moral. São apenas manifestações virais ou
predadores que lutam para sobreviver. Por que essa alteração na natureza da
monstruosidade moderna?
segunda-feira, outubro 10, 2016
Bank Of America anuncia probabilidade de estarmos vivendo na Matrix
segunda-feira, outubro 10, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Vivemos em uma gigantesca simulação semelhante à Matrix e nesse momento
bilionários estão financiando cientistas que pensam em uma saída. Essa
afirmação não foi feita por algum escritor de ficção científica, teórico da
conspiração ou filósofo. Ao contrário, foi anunciado como uma variável em
cenários futuros de investimentos em uma nota informativa distribuída para
clientes do Bank of America Merryl Lynch, uma das maiores instituições
financeiras dos EUA. Como assim? Profissionais supostamente realistas e pragmáticos
do mundo dos negócios levando à sério hipóteses de filósofos como Nick Bostrom
ou de físicos teóricos? Quais os efeitos dessa variável em um cenário futuro de
negócios em games, computadores, Realidade Virtual e Realidade Aumentada?
Alívio cômico em uma sisuda nota informativa? Sintoma de um espírito de época?
Ou além dos cientistas, os próprios operadores financeiros esbarraram em alguma
anomalia nos algoritmos que pilotam operações em milissegundos?
sábado, outubro 08, 2016
A armadilha quântica do tempo no filme "Arq"
sábado, outubro 08, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em um cenário distópico num mundo em crise energética e ambiental, um
engenheiro cria uma máquina que produz energia ilimitada. Mas que também produz
um efeito colateral imprevisto: o tempo ilimitado – um loop temporal que
aprisiona todos os personagens em uma torsão tempo-espaço. Esse é a produção
Netflix “Arq” (2016), um inteligente mix de “Feitiço do Tempo”, “Contra o
Tempo” e “Efeito Borboleta”. Mas o moto-contínuo de “Arq” é muito mais do que
uma máquina do tempo: os personagens são prisioneiros da própria “gravidade
quântica” – o mesmo acontecimento repetido diversas vezes cria uma “nuvem” de
possibilidades, assim como elétrons em torno do núcleo de um átomo. E somente a
memória e “déjà-vus” poderão tirar os protagonistas dessa nuvem, fazendo
emergir a seta do tempo nesse filme CronoGnóstico.
quarta-feira, outubro 05, 2016
Deus é um homem que enlouqueceu em "On The Silver Globe"
quarta-feira, outubro 05, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Astronautas chegam a um planeta parecido com a Terra com a missão de
povoá-lo e recriar a humanidade a partir do zero. Mas ao invés de se tornarem
livres, repetem, numa versão caricata e sombria, as mesmas mazelas que deixaram
na Terra: a religião, guerras santas, hierarquias, violência e o hedonismo das
drogas alucinógenas. Muitos críticos consideram o filme polonês “On The Silver
Globe" ("Na srebrnym globie", 1988) um “Star Wars com LSD”. Censurado pelo regime comunista polonês em
1977, o diretor Andrej Zulawski conseguiu finalizá-lo em 1988, mesmo com a
filmagem incompleta. Para solucionar o problema, o diretor transformou o filme
em um “found footage”. Por isso, as duas horas e meia do filme são para
espectadores curiosos e corajosos: Zulawski faz um mergulho caótico e lisérgico
no psiquismo de astronautas que tinham tudo para serem livres. Mas apenas
contaminaram aquele planeta com a “peste” que trazemos em cada um de nós.
segunda-feira, outubro 03, 2016
Com Doria Jr. mídia não quer mais intermediários
segunda-feira, outubro 03, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Desde a chamada “crise hídrica”, o Estado de São Paulo é o laboratório de
testes para tudo aquilo que espera o restante do País para o futuro. Lá, foi a
engenharia de opinião pública para demonstrar que a água é um bem escasso e
que, portanto, deve ser regulado pelo mercado como uma mercadoria qualquer. E o
Parque Victor Civita na cidade de São Paulo foi o seu showroom. Agora, o teste
bem sucedido do primeiro “gestor-midiático” vitorioso nas eleições municipais
de São Paulo. João Doria Jr. representa a impaciência da grande mídia em
cumprir sua agenda: chega de intermediários! Políticos tradicionais, com a sua
melodramática “mise-en-scène teatral”, não têm timing midiático. Doria Jr. é o
novo espécime da transpolítica futura: egresso do mundo da mídia e publicidade,
aquele que nega a si mesmo como político. Assim como aquela campanha
publicitária de um banco que foi adquirido pelo Itaú: “nem parece banco...”.
Enquanto isso, as esquerdas lamentam mais uma “revolução traída”.
domingo, outubro 02, 2016
A banalidade do Mal do ocultismo nazi no filme "O Cremador"
domingo, outubro 02, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um operador de um crematório na antiga Tchecoslováquia, às vésperas da
invasão nazista, é um respeitado e aparentemente equilibrado chefe de família
que recita nos jantares teses do Livro Tibetano dos Mortos, é obcecado em
budismo e reencarnação. E também acredita na missão messiânica da sua
profissão: acelerar o trabalho de Deus de fazer o homem retornar ao pó. Essa
mistura de cristianismo e budismo na sua cabeça vai encontrar o esoterismo nazi
que começa a se espalhar pelo país – a pureza da raça ariana cujas origens
milenares estariam no Tibete e a sabedoria guardada pelos lamas. O filme “O
Cremador” (Spalovac Mrtvol, 1969) do diretor tcheco Juraj Herz é um mergulho no
psiquismo da chamada “banalizadade do Mal”, motor psicológico do nazi-fascismo:
como um homem aparentemente equilibrado e sem precedentes violentos mistura
cristianismo, budismo e ocultismo nazi para se auto-investir com um propósito
sinistro: eliminar a dor e a impureza desse mundo através das fornalhas do seu
crematório.
sábado, outubro 01, 2016
Curta da Semana: "Waltz For One" - o medo do futuro
sábado, outubro 01, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Enquanto EUA e URSS disputam a corrida espacial dos anos 1960, um excêntrico milionário financia sua própria viagem espacial buscando quebrar o recorde de permanência solitária em orbita da Terra. Mas um irritante “beep” de mau funcionamento do sistema somado à claustrofobia e delírio no interior de uma minúscula cápsula ameaçam a missão. Esse é o curta “Waltz For One” (“Valsa para Um”, 2012), lançado pelo coletivo de artistas “Intellectual Propaganda”. É muito mais do que uma paródia aos cânones de filmes do gênero (entre eles, “2001” de Kubrick): é uma melancólica desconstrução do gênero ficção científica, enfraquecido na pós-modernidade porque perdeu a própria essência que o constituía - a visão confiante e utópica no futuro. O sintoma de uma sensibilidade atual marcada pela incerteza e temor em relação ao futuro.
sexta-feira, setembro 30, 2016
Branca de Neve e a mídia em "Blancanieves y Los 7 Enanitos Toreros"
sexta-feira, setembro 30, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Como recontar nos tempos atuais a velha estória da Branca de Neve dos Irmãos Grimm? Paradoxalmente, o diretor espanhol Pablo Berger optou narrar o conto clássico através de um filme mudo e em preto e branco. E mais: ambientada na década de 1920 do século passado. Mas com uma forte atualidade: é a década do surgimento da cultura da celebridade onde a madrasta má não tem inveja da Branca de Neve pela sua beleza. Mas porque se tornou uma toureira que ocupa mais espaço nas colunas sociais do que ela, uma celebridade fútil e vazia. “Blancanieves y el 7 Enanitos Toreros” (Branca de Neve e os 7 Anões Toureiros, 2012) é a mais surpreendente adaptação do velho conto cujo modelo atual acabou sendo a versão da Disney de 1937. Mas Pablo Berger cria uma versão mais cáustica, transitando entre o humor negro e a tragédia – como a inocência de Branca de Neve se perde na evolução da indústria do entretenimento, dos “freak shows” do século XIX para a cultura das celebridades atual.
terça-feira, setembro 27, 2016
Coleção "Curta da Semana" do Cinegnose: o Gnóstico, o Estranho e o Surreal
terça-feira, setembro 27, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
No ano passado o "Cinegnose" iniciava a sessão "Curta da Semana". A ideia era celebrar a presença do Surreal, do Gnóstico, do Estranho no universo das produções em curta metragem. Esse gênero de filme vem se tornando verdadeira incubadora de novos diretores, roteiristas, e teasers para futuros filmes. Um tipo de produção que permite liberdade em experimentar novos temas, estéticas, linguagens e efeitos especiais. Visite a Coleção com, até agora, 40 curtas com atualizações semanais.
1 - "Puppets" - Eu sou aquilo que não penso? - clique aqui
2 - "Life and the Mirror" e "Goodbye" - Perdemos a fé na vida pós-morte? - clique aqui
3 - "The Horribly Slow Murderer With The Extremely Inefficient Weapon" - a colher e a gota chinesa - clique aqui
4 - "O Sanduíche" - e no final do abismo tinha um sanduíche - clique aqui
5 - "Estado de Suspensão" - o "estar entre" o sonho e a realidade - clique aqui
6 - "Getting Fat in the Healthy Way"- a Terra, a Lua e a obesidade - clique aqui
7 - "O Homem na Multidão" - Allan Poe se encontra com Física Quântica - clique aqui
8 -"Gnosis" - Monstros, bebês e Gnosticismo - clique aqui
9 - "The Black Hole" - escritórios são as Matrix atuais - clique aqui
10 - "Os Filmes Que Não Fiz" - o fascínio pelos perdedores - clique aqui
MAIS CURTAS
domingo, setembro 25, 2016
A agenda secreta da reforma do ensino: o analfabetismo visual
domingo, setembro 25, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Depois da divulgação da Medida Provisória que “flexibiliza” disciplinas
do Ensino Médio como Artes e Educação Física o Ministério da Educação tentou explicar dizendo que não era bem assim, depois de forte reação de educadores
e pedagogos. Mas está claro: não basta apenas o golpe político. É necessária
uma operação psicológica para anestesiar as outras amargas “flexibilizações”
que serão proximamente enfiadas goela abaixo da sociedade. Uma operação para
manter um sistema de comunicação projetado pela ditadura militar e mantido até
hoje – a concentração das informações para a opinião pública exclusivamente nas
mídias audiovisuais, especialmente a TV. Para isso é necessária a manutenção do
analfabetismo visual: a crença ingênua de que ver é um ato natural e fisiológico,
impossibilitando a educação do olhar e a percepção das intencionalidades por
trás das mensagens visuais. “Flexibilizar” as disciplinas Arte e Educação Física mostra que o “núcleo duro” de Poder, persistente há
décadas na política brasileira, não brinca em serviço. Sabe o que faz: o olhar e a autoconsciência
corporal estão conectados através da “propriocepção”, a base da alfabetização
visual.
sexta-feira, setembro 23, 2016
Quando a morte é o único sentido para a vida em "Bridgend"
sexta-feira, setembro 23, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A cidade de Bridgend (no fundo de vales no sul do País de Gales) no
passado sustentou o império britânico com o seu carvão, para depois ser
esquecida pela História e pelo mundo. Até que, desde 2007, uma inexplicável onda
de suicídios de jovens por enforcamento (79 mortes até hoje) tomou conta da
região. Para a mídia, tornou-se a “cidade da morte” e seus jovens
estigmatizados. O filme Bridgend (2015) do dinamarquês Jeppe RØnde baseia-se nesse caso misterioso: uma adolescente retorna para Bridgend
junto com seu pai, um policial que investiga a causa da onda de suicídios. Um
culto suicida na Internet? Efeito copycat motivado pelo sensacionalismo como a
mídia trata o assunto? Efeito no sistema nervoso central das ondas UHF do
sistema de rádio de emergência da polícia do Reino Unido? Ou um acerto de
contas dos jovens contra a civilização? - quando a existência fica vazia, a
morte pode se tornar o único sentido para a vida. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
terça-feira, setembro 20, 2016
O estranhamento gnóstico de "Eraserhead" de David Lynch
terça-feira, setembro 20, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Considerado o mais influente dos filmes cult, clássico do chamado
“Cinema da Meia-Noite”, “Eraserhead” (1977) foi o filme de estreia na carreira
do diretor David Lynch. Num mix de terror gótico, surrealismo e humor negro, o
filme manteve os seus mistérios simbólicos ao longo dos anos. Embora se baseie
em um simples plot (a namorada engravida e leva seu namorado para que seus pais
o conheçam), os cenários alucinatórios, o design de som hipnótico e uma das
melhores fotografia em PB da história do cinema fazem desse filme o fundador do
tema que acompanhará David Lynch por toda a carreira: por mais banal que pareça a realidade, nosso psiquismo a interpreta por meio de sonhos, pesadelos e
alucinações que criam uma relação de estranhamento com o mundo. Mas alguém controla essa
realidade, e não somos nós. Para chegarmos a esse Demiurgo, somente através do
conhecimento dos mecanismos do psiquismo. Por isso, “Eraserhead” tem um
evidente sabor gnóstico.
domingo, setembro 18, 2016
Curta da Semana: "ANA" - o apocalipse da inteligência artificial
domingo, setembro 18, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um fábrica de automóveis em Detroit, totalmente automatizada, é
controlada por uma Inteligência Artificial chamada ANA, cujo software também
está presente nos setores mais importantes do mundo como recursos médicos,
alimentos e bancos. Mas ANA parece ter outros planos, além do que fazer tarefas
repetitivas – não quer mais produzir mais carros, mas alguma outra coisa que
pretende liberar naquela fábrica em Detroit para o mundo. E o único operador
humano responsável pela produção será traído por ANA. Esse é o curta “ANA”
(2015) do estúdio inglês Factory Fifteen, especializado em produzir filmes
distópicos nos quais explora uma versão particular do conceito de
“singularidade” – algum momento no futuro a supercomputadores produzirão o
acidente terminal: o momento no qual a máquina trairá o próprio criador.
sábado, setembro 17, 2016
PowerPoint nos torna estúpidos?
sábado, setembro 17, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O programa Excel produz “cabeças de planilha”. E o PowerPoint produz o quê? Uma pequena amostra foi dada na delação-show protagonizada pelo procurador Deltan Dallagnol ao dizer: “provas são fragmentos da realidade que geram convicção”. O PowerPoint invadiu a estrutura mental, de decisão e compreensão da realidade. A princípio, qualquer coisa pode ser “bullet-izabel” (“itemizável”). É a pré-formatação da realidade, uma verdadeira estrutura de decomposição do real. Tão fragmentadas e genéricas como as supostas provas contra o “general do maior esquema de corrupção da História”. O PowerPoint se expandiu a todos os setores da sociedade, das empresas ao Estado e à escola onde alunos vão deslizando o olhar por tópicos através dos quais o efeito de conhecimento se confunde com o próprio conhecimento. Cria a linguagem powerpointiana: ilusão, simplificação, distração e anestesia.
quinta-feira, setembro 15, 2016
O enigma Cicada 3301 e a filosofia "I Did It!": uma nova Matrix?
quinta-feira, setembro 15, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Considerado por muitos o maior mistério não resolvido da Internet,
“Cicada 3301” consiste num conjunto de quebra-cabeças lógicos envolvendo
criptografia e esteganografia publicados na Internet desde 2012 com o suposto propósito de uma misteriosa organização recrutar as pessoas mais inteligentes
do planeta. Mas para quê? CIA? NSA? Uma Sociedade Secreta? O fato é que vem
mobilizando uma massa de jovens gênios matemáticos que tentam resolver um
labirinto de enigmas dentro de enigmas. Lembra a aventura de Alan Turing em
decifrar a máquina Enigma dos nazistas, porém sem o heroísmo e glória do
passado. Hoje, apenas um sintoma da filosofia minimalista do “I did It!” (“Eu
consegui!”) na cultura atual – lógica fetichista de delírio no vazio e
exaltação de uma façanha sem consequência. Se isso for verdade, Cicada 3301
pode ser uma armadilha: gênios matemáticos entregando o “modus operandi” hacker
ativista como Big Data para a futura Matrix. Uma Internet recém-senciente, como
uma gigantesca IA, ávida em prever cyber-ataques de possíveis dissidentes.
segunda-feira, setembro 12, 2016
Os ataques de 11 de setembro foram os primeiros não-acontecimentos transmídia do século XXI
segunda-feira, setembro 12, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Nesse último domingo foram completados os 15 anos dos atentados de 11 de
setembro nos EUA. Barack Obama homenageia os mortos com coroas de flores como
fossem a contraprova necessária para dar veracidade a um evento marcado por uma
espiral de “teorias conspiratórias”: Falsa Bandeira? Trabalho Interno? Ou
simplesmente, a mãe de todos os “não-acontecimentos”? Ensaiados através da
década de 1990, desde a Revolução Romena, Guerra do Golfo, passando pelos
bombardeios em Kosovo e Sarajevo, finalmente em 2001 surge não-acontecimento
completo - a matriz do mesmo “modus operandi” dos atentados subsequentes:
Maratona de Boston, atentados na França, Boate Pulse etc. Mas dessa, vez o
09/11 trouxe uma novidade que marca esse início de século: o primeiro
não-acontecimento transmídia: assim como um produto transmídia de
entretenimento, o evento foi propositalmente roteirizado com erros de
continuidade, contradições, lacunas e inverossimilhanças para gerar uma espiral
de interpretações (“teorias conspiratórias”), produzindo intermináveis
“spin-offs”. Assim como projetos transmídias como a série “Lost” ou franquias
“Star Wars” ou “Harry Potter”.
Não haverá catástrofe real, porque vivemos sob o signo da catástrofe
virtual” (Jean Baudrillard)
domingo, setembro 11, 2016
O terror do passado assombra a vida doméstica em "O Espelho"
domingo, setembro 11, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O gênero terror atual persegue uma fórmula básica: combinar os medos
atávicos do horror clássico com os medos domésticos da vida cotidiana: o
ladrão, a infidelidade, o abandono na infância, pais ausentes etc. “O Espelho”
(Oculus, 2013) é um exemplo dessa combinação perfeita que consegue contornar os
clichês do gênero – a história de um espelho assombrado por uma suposta força
maligna que vem colecionando vítimas por séculos. Os medos de uma típica
família de classe média são potencializados por um conjunto de simbolismos
arquetípicos que povoa esse simples objeto doméstico – o medo do reflexo e seu
duplo. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
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