Vivemos em uma gigantesca simulação semelhante à Matrix e nesse momento
bilionários estão financiando cientistas que pensam em uma saída. Essa
afirmação não foi feita por algum escritor de ficção científica, teórico da
conspiração ou filósofo. Ao contrário, foi anunciado como uma variável em
cenários futuros de investimentos em uma nota informativa distribuída para
clientes do Bank of America Merryl Lynch, uma das maiores instituições
financeiras dos EUA. Como assim? Profissionais supostamente realistas e pragmáticos
do mundo dos negócios levando à sério hipóteses de filósofos como Nick Bostrom
ou de físicos teóricos? Quais os efeitos dessa variável em um cenário futuro de
negócios em games, computadores, Realidade Virtual e Realidade Aumentada?
Alívio cômico em uma sisuda nota informativa? Sintoma de um espírito de época?
Ou além dos cientistas, os próprios operadores financeiros esbarraram em alguma
anomalia nos algoritmos que pilotam operações em milissegundos?
Se a teoria de
que o Universo inteiro é, na verdade, uma simulação computacional partisse apenas
de filósofos, físicos teóricos ou místicos, até poderíamos retrucar dizendo que
tudo não passa de diletantismo de gente que não tem mais o que pensar.
Pensaríamos até indicar esses cientistas ao famigerado Prêmio IgNobel – prêmio
dado àquelas pesquisas científicas mais estranhas do ano que “fazem rir, e
depois pensar”.
Mas quando essa
mesma teoria é apoiada por profissionais do mundo pragmático dos mercados
financeiros, aquela pulga atrás da orelha começa a incomodar. E, o que causa
mais perplexidade, essa teoria torna-se uma das variáveis dos futuros cenários
de investimentos.
De acordo com o
Bank of America Merrill Lynch (BAML), uma das maiores instituições financeiras
dos EUA, o plot que os irmãos Wachowski criaram para a trilogia Matrix está muito
próximo da realidade.
Segundo a versão
online do Daily Mail (clique aqui) e do Business Insider (clique aqui), nota informativa
enviada aos investidores do BAML em seis de setembro diz que há entre 20% e 50%
de chance de todos nós estarmos vivendo em uma Matrix – o que significa que
todos nós, nossas vidas pessoais e financeiras, estão imersas em uma simulação.
O BAML chega a
citar as teses de Elon Musk, Neil
deGrassi e do filósofo de Oxford Nick Bostrom – cujas ideias já foram
discutidas nesse Cinegnose – clique aqui.
A nota descreve
que no início desse ano, pesquisadores se reuniram no Museu Americano de
História Natural para debater essa hipótese e diz:
Muitos cientistas, filósofos e líderes empresariais acreditam que há entre 20% a 50% de probabilidade que os humanos vivem em no interior de uma simulação computacional. Em abril de 2016, pesquisadores fizeram um encontro no Museu Americano de História Natural para debater a questão. O argumento é que estamos muito próximos de simulações foto-realistas em 3D nas quais milhões de pessoas poderão simultaneamente participar. É concebível que com os avanços atuais em inteligência artificial, realidade virtual e capacidade computacional, membros de uma civilização futura tenham decidido ‘rodar’ uma simulação da realidade para seus antepassados [ou seja, todos nós].
Infográfico da nota informativa do BAML mostrando cenários futuros, inclusive a possibilidade de estarmos vivendo em um mundo simulado |
Cenários prováveis
Também a nota
informativa do BAML destaca três cenários futuros prováveis que Nick Bostrom
cria para a espécie humana: (a) extinção antes de chegar a fase “pós-humana”;
(b) atingir a fase pós-humana, mas sem conseguir simular a história evolutiva;
(c) já estamos na Matrix.
Ao mesmo tempo
em que o BAML soltava essa nota informativa, a Business Insider especula,
a partir de um artigo da revista New Yorker, que algumas das pessoas
mais ricas e poderosas do planeta estão financiando cientistas para ajuda-los a
sairmos dessa simulação.
Entre eles estão
Elon Musk - fundador da Tesla Motors e da SpaceX – empresa que pretende enviar
para Marte o primeiro voo espacial tripulado privado; além disso é sócio com
Sam Altman da Open AI, empresa que estuda Inteligência Artificial. Inclusive,
Sam Altman afirmou: “Ou nós escravizamos a IA, ou ela nos escraviza”.
Tad Friend,
jornalista da revista New Yorker, afirma: “muitas pessoas no Vale do
Silício estão obcecadas com a hipótese da simulação, o argumento que aquilo que
experimentamos como realidade é de fato fabricado num computador. Dois
bilionários da tecnologia chegaram a secretamente engajar com cientistas para
trabalhar em livrar-nos da simulação” – leia “Sam Altman’s Manifest Destiny”, New Yorker.
Embora ainda não
esteja claro quais as implicações que a confirmação da hipótese da simulação
poderia trazer para o mundo dos negócios, fica a indagação: por que
profissionais supostamente racionais e pragmáticos, em um mercado onde o
cálculo realista das relações custo/benefício antecedem quaisquer curiosidades
filosóficas ou metafísicas, repentinamente passam a se interessar por algo da
filosofia, física e astrofísica? E mais, por uma teoria com evidente motivação
gnóstica?
Tal como fizeram o Daily Mail e a New Yorker,
vamos fazer um exercício especulativo e formular algumas hipóteses.
(a) Senso de humor
No sisudo mundo
dos negócios envolvendo games, computadores, Realidade Virtual (VR) e Realidade
Aumentada (AR), o BAML quis fazer um pequeno alívio cômico: inserir uma
variável absurda em cenários futuros em um infográfico. Ao lado do crescimento
dos serviços baseado em AR e VR, games, gadgets e marketing, a insólita
possibilidade de todos nós estarmos em um mundo tão simulado quanto os
negócios.
Piada interna auto-referencial?
(b) Algo está acontecendo ou já aconteceu
Sabemos que o
mercado financeiro global é uma verdadeira metafísica econômica. Se no passado
a economia era uma questão de exploração do espaço (escravidão, renda da
terra no Feudalismo, guerras colonialistas, imperialismo etc.), hoje o sistema
financeiro explora o tempo.
Tantos os juros
como a velocidades das decisões de compra e venda é uma questão de tempo: juros
tem a ver com a relação risco/tempo e atualmente grande parte das negociações
no mercado financeiro estão nas mãos de sistemas de algoritmos de alta
frequência - (Negociações de Alta
Frequência – NAF) emitem automaticamente ordens de compras e vendas de ações em
frações de segundos. Exploram as pequenas oscilações de um ou vários ativos, às
vezes em milisegundos. O computador executa e toma decisões de uma
maneira mais rápida do que uma pessoa faria.
A
microinformática e da nanotecnologia surgem na hora certa como ferramentas para
dominar a complexidade das interconexões simultâneas, o cálculo probabilístico
das transações financeiras, da equalização das caóticas tendências nas jogadas
em bolsas de valores e na análise dos tensos cenários econômicos. As
tecnologias da informação permitem a integração complexa das praças financeiras
de todo o mundo em tempo real.
Por
exemplo, as operações da City londrina começam às 4h30 da manhã (hora de Nova
York) e são suspensas às 11h. Wall Sreet abre duas horas antes, às 9h, local
time, e fecha às 17h. Tóquio a substitui a partir das 16h30 até 1h da manhã
(sempre segundo a hora de Nova York), e é seguido por Bahrein que abre à
meia-noite e fecha às 6h, quando a City já retomou as atividades há 90 minutos
.
Arrastado
pela sucessão de fusos horários e pela interconexão dos computadores, o mercado
financeiro mundial funciona as 24 horas do dia em instantânea onipresença.
Essa busca
contínua do domínio do tempo por meio da combinação de algoritmos,
computadores, tempo-real e nanotecnologia poderia ter criado situações análogas
entre Física e Economia.
Assim como
na física quântica a alta resolução do mundo das partículas sub-atômicas sugere
um Universo não mais analógico, mas pixelado e fragmentado (sugerindo o limite
da renderização da simulação), da mesma forma no mundo da financeirização a
busca de variações de mercado em nano-segundos (onde fortunas podem ser criadas
ou destruídas num piscar de olhos) poderiam ter batido na barreira da fronteira
da simulação.
Algo como
mostrado no filme O Décimo Terceiro Andar
(1999) onde o personagem pega seu carro e guia pelo deserto até chegar no fim
da renderização do seu Universo simulado.
Poderia a
busca incessante pelo domínio e exploração do tempo nas velozes e precisas
operações do mercado financeiro global ter criado um efeito colateral ou
acidente? Acidentalmente operadores encontraram o limite da simulação no mundo
microfísico dos nano-segundos? – sobre os limites de um universo simulado clique aqui.
Alguma
coisa teria ocorrido ou está acontecendo nesse momento.
(c) Engenharia de opinião
O misto de
empresário, futurista e visionário, o bilionário Elon Musk, anunciou na sua
página do Twitter que será lançado neste mês um novo produto da Tesla Motors.
Musk qualifica o novo produto como “inesperado”.
A adesão de Musk
a essa discussão iniciada por cientistas e filósofos seria uma jogada
mercadológica? Apenas para reforçar a aura entorno do seu nome associada ao
futurismo dos carros autônomos da Tesla, viagens espaciais a Marte e IA?
O BAML tem
interesse financeiros em investir nesses projetos?
(d) Espírito do Tempo
Agentes do mundo
financeiro não são assim tão racionais como imaginamos. Como mostrou filmes
como Wall Street (1987), O Lobo de Wall Street (2014) ou mesmo
documentários como Inside Job (2010), o mundo financeiro é regido por um
misto de messianismo místico, impulsividade e promiscuidade.
Com a
virtualização da riqueza e volatização de títulos, papéis e números que
aparecem em telas sem qualquer lastro com o mundo real, o apoio a essas teorias
é o sintoma do zeitgeist (o espírito do tempo) de um setor da economia que dá
as cartas do atual jogo geopolítico global.
Leia a quinta hipótese do nosso leitor Wilson Cardoso: clique aqui.
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