Nesse último domingo foram completados os 15 anos dos atentados de 11 de
setembro nos EUA. Barack Obama homenageia os mortos com coroas de flores como
fossem a contraprova necessária para dar veracidade a um evento marcado por uma
espiral de “teorias conspiratórias”: Falsa Bandeira? Trabalho Interno? Ou
simplesmente, a mãe de todos os “não-acontecimentos”? Ensaiados através da
década de 1990, desde a Revolução Romena, Guerra do Golfo, passando pelos
bombardeios em Kosovo e Sarajevo, finalmente em 2001 surge não-acontecimento
completo - a matriz do mesmo “modus operandi” dos atentados subsequentes:
Maratona de Boston, atentados na França, Boate Pulse etc. Mas dessa, vez o
09/11 trouxe uma novidade que marca esse início de século: o primeiro
não-acontecimento transmídia: assim como um produto transmídia de
entretenimento, o evento foi propositalmente roteirizado com erros de
continuidade, contradições, lacunas e inverossimilhanças para gerar uma espiral
de interpretações (“teorias conspiratórias”), produzindo intermináveis
“spin-offs”. Assim como projetos transmídias como a série “Lost” ou franquias
“Star Wars” ou “Harry Potter”.
Não haverá catástrofe real, porque vivemos sob o signo da catástrofe
virtual” (Jean Baudrillard)
Os atentados de
11 de setembro foram a mãe de todos os não-acontecimentos que dominam na
atualidade a pauta dos noticiários da grande mídia nacional e internacional.
Maratona de Boston, Nice, Boate Pulse, Charlie Hebdo, atentados aos trens de
Madrid (2004), aos transportes de Londres (2005), entre outros, são apenas
replicações em escala menor do mega-evento do 11/09 nos EUA, a matriz que
viralizou toda a série de pequenos não-acontecimentos nesse século.
“Não-acontecimento”
é um dos conceitos mais prolíficos e polêmicos do falecido pensador francês
Jean Baudrillard (1929-2007). Diferenciam-se dos acontecimentos históricos (“reais”) porque
são eventos imediatamente destinados ao contágio através das imagens midiáticas.
Desde o início,
são acontecimentos telegênicos, midiatizáveis, simulam ser espontâneos mas têm
a marca da catástrofe virtual – assim como Guerra Fria onde as bombas atômicas
nunca explodiam, também agora os atentados são deflagrados pontualmente para
criar ondas de ressonância no contínuo midiático. Mas a guerra mundial que
nunca é deflagrada – apenas guerras pontuais na Síria, Iraque ou Ucrânia para
servir de algum lastro real e criar ondas migratórias de refugiados,
combustíveis para outros não-acontecimentos: novos atentados terroristas que
caem como uma luva para demonizar estrangeiros.
Homenagem de Barack Obama aos mortos: a necessidade de lembrar das vítimas como contraprova do real |
Os ataques de 11
de setembro não surgiram do nada. Foi o desfecho (ou o início) de uma década de
ensaios e testes de simulação, para afinar a sintonia da tríade
Governo-Inteligência-Mídia.
Em direção ao 09/11
O final da
década de 1980, com o desmoronamento do bloco comunista e a queda do Muro de
Berlim, apontou para o fim do jogo da dissuasão EUA/URSS – o fim do duelo
atômico, do jogo calculado do equilíbrio do terror. Com a perspectiva do
conflito atômico perdendo espaço junto com projeto Guerra nas Estrelas de Reagan,
foram necessários testes para criar uma nova estratégia de simulação com novos
atores e inimigos.
O
desmantelamento do Leste Europeu e a Guerra do Golfo foram os primeiros ensaios
para uma nova ordem mundial que seria inaugurada no futuro pelos atentados de
2001.
A cobertura midiática
da revolução romena em 1989 criou o primeiro inimigo virtual para afrontar os
valores Ocidentais: o sanguinário ditador Ceausescu. Os telejornais de todo o planeta mostraram chocantes imagens do que
ficaram conhecidas como “o ossário de Timisoara”: a descoberta de um ossário de
quatro mil vítimas que, afirmavam os repórteres, eram vítimas da polícia
secreta de Ceausescu. E outros milhares de corpos teriam sido dissolvidos em
ácido.
As imagens atrozes dos cadáveres alinhados
sobre um lençol branco marcaram para sempre a derrubada do ditador na chamada
Revolução Romena de 1989. Mais tarde descobriu-se que tudo tinha sido um
cenário montado para cinegrafistas e fotógrafos: na verdade eram corpos de
pobres desenterrados de um cemitério local e cedidos à necrofilia da TV.
Logo em seguida veio Guerra do Golfo de
1992. Dessa vez, um ensaio decisivo onde a alta tecnologia telemática militar
seria combinada com a inédita transmissão ao vivo da CNN. O resultado foi um
cenário de guerra transformado em um wargame.
E mais um vilão foi virtualmente criado: Saddam Hussein – notícias sobre supostas
bases de mísseis sob o deserto e armas de extermínio em massa estenderam
artificialmente guerra cujos motivos ou significado nunca saíram do campo da
especulação.
Sob o ponto de vista estratégico a guerra
era totalmente irracional. Mas como primeira guerra transmitida ao vivo na
história da mídia, Saddam sabia que o seu gesto via CNN se espalharia pelas
redes de comunicação, tornando-se o novo líder da causa árabe. Do lado
americano, a guerra foi propositalmente prorrogada pelo Pentágono, na medida em
que os índices de audiência da CNN elevavam-se conjuntamente com a comoção da
opinião pública e, mais importante, era ano eleitoral e George Bush buscava sua
reeleição.
Os mortos são a contraprova do real
As intervenções da OTAN na guerra civil
iugoslava com a campanha de bombardeio na Bósnia e Herzegovina em 1995 e a
intervenção militar no Kosovo em 1999 e a enorme mobilização de recursos e
tecnologia para estacionar uma força militar internacional naquela região
sempre foram fracamente justificadas pelo humanitarismo: “deter os abusos de
direitos humanos”.
Uma guerra local (os conflitos étnicos da
ex-Iugoslávia) foi ampliada e estendida pelo consórcio OTAN/mídias para criar
um novo Lugar-depositário do Mal, após entrarem em cena Ceausescu e Sadam
Hussein. Os mortos, transformados em “efeitos colaterais” numa “guerra
cirúrgica” nada mais foram do que necessárias contraprovas de que o evento tinha
sido real. Sim! Há mortos, logo é real.
Os 2.753 mortos na queda das torres do WTC
em 2001 também foram a contraprova necessária para conferir realismo à mãe de
todos os não-acontecimentos que abriria o século XXI – já que nem as imagens
das torres em si (explosões, poeiras e escombros) garantiriam o realismo: as
pessoas nas ruas pegas de surpresa acreditavam presenciar uma cena de efeito
especial de mais uma produção hollywoodiana de destruição de Nova York.
Timing e oportunismo do não-acontecimento
False Flag? Inside Job? O timing e o
oportunismo dos acontecimentos de 2001 já são bastante conhecidos, repetidos em
todos os não-acontecimentos subsequentes. Por exemplo, o 09/11 teve o timing
perfeito para o momento político do então recém-eleito George Bush – o fantasma
de fraude eleitoral na Flórida e o estouro da “Bolha da Internet” e o crash da
Nasdaq e, como sempre, a guerra como tática diversionista para unificar a nação
pelo medo.
Assim como os
atentados em Paris tiveram timing e oportunismo perfeitos para François
Hollande: queda nas pesquisas, greves, protestos contra a reforma trabalhista e
indefinição sobre sua candidatura à reeleição.
Ambiguidade e meta-terrorismo
Mas o 09/11
criou a última novidade que faltava aos não-acontecimentos, e que não estiveram
presentes nos não-acontecimentos anteriores da Romênia, Guerra do Golfo e
guerra civil na Iugoslávia: o meta-terrorismo.
O fator
ambiguidade é o principal elemento que impulsiona a disseminação de boatos,
memes ou mesmo notícias, como descreveram Gordon Allport e Leo Postman em 1947
– o alcance de uma informação é igual a sua importância multiplicada pela
ambiguidade – sobre isso clique aqui.
É inacreditável
como ao longo desses quinze anos foram encontradas facilmente inconsistências,
lacunas e inverossimilhanças na narrativa dos atentados nos EUA. Somente para
listar alguns e depois assista aos vídeos abaixo:
(a) as diversas
imagens do Boeing 747 batendo no WTC mostram estranhas anomalias na parte de
baixo da fuselagem, como se algo estivesse anexado ao avião de forma não
simétrica – os fabricantes se recusaram a comentar, alegando “segurança
nacional”. O avião não teria sido sequestrado, mas preparado antecipadamente
com bombas atadas à fuselagem para explodir nas torres.
(b) As imagens
posteriores mostram claramente outras explosões pontuais ocorrendo em sequência
em várias partes das torres no momento do desabamento. Implosão controlada?
(c) Outro Boeing
747 caiu no Pentágono? Só há apenas imagens de uma câmera de vigilância. As
imagens de outras dezenas de câmeras do Pentágono, além as de um posto de gasolina
nas proximidades, foram confiscadas sob a justificativa de sempre: “segurança
nacional”. As outras imagens poderiam negar a narrativa do Governo? Ao invés do
avião, um míssil terra-terra?
(d) O WTC foi
preparado para uma implosão controlada? Nas semanas que antecederam o 09/11
houve uma quantidade anormal de reparos. Em diversas seções das torres gêmeas
houve evacuação por “motivos de segurança”. Além do jornal Newsday informar que
no dia 06/09 cães farejadores de bombas da segurança interna foram inesperadamente
removidos do edifício. Quem autorizou tudo isso? A empresa de segurança
eletrônica Securacom, empresa cuja diretoria fazia parte o irmão de George
Bush, Marvin Bush. Ele também foi ex-diretor da HCC Insurance Holdings que
assegurava parte do WTC até o 09/11.
O 09/11 foi uma narrativa transmídia?
Quanto mais o
tempo avança, novas “coincidências”, explicações lacônicas ou simplesmente
qualquer recusa de resposta por parte de autoridades ou empresas envolvidas se
avolumam. Tudo isso parece apontar para uma hipótese: os atentados de 2001
acrescentaram um novo elemento à tática dos não-acontecimento – esse
não-acontecimento foi roteirizado como um produto transmídia. Aquilo que os
roteiristas chamam de transmedia storytelling.
Narrativa
transmídia é um tipo de roteiro no qual são combinadas situações ficcionais com
a realidade recorrendo a diversas mídias do mundo real e múltiplas plataformas
de maneira a proporcionar ao receptor uma experiência imersiva.
Enquanto na
narrativa tradicional há começo, meio e fim, ao contrário, na transmídia a
história nunca termina porque vai continuar em múltiplas plataformas. Assim
como em produções transmídia como a série Lost: propositalmente os
roteiristas deixam soltos e sem explicação diversas sequências de episódios
para incitar os espectadores a criar diversas interpretações em múltiplas
mídias – chats, fóruns, YouTube, blogs etc.
A narrativa
transmídia é potencialmente sem fim, assim como as franquias Harry Potter,
Star Wars ou Star Trek. Um universo em expansão que se retroalimenta.
Da mesma forma,
o 09/11 parece ter sido obra de um roteirista que propositalmente deixou lacunas
e ambiguidades que geram uma espiral de interpretações ad infinitum. Uma
nova forma de terrorismo, dessa vez autoconsciente, onde o relato
midiaticamente ambíguo do atentado se torna mais uma arma letal.
Mas, diferente
dos projetos transmídia da indústria do entretenimento, aqui as diferentes
interpretações serão rotuladas como “teorias conspiratórias”. Inspirarão até
roteiros de possíveis documentários e filmes de ficção da própria indústria do
entretenimento.
Porém, ainda
serão rotulados como “ficção”. Por que? Porque as 2.753 mortes do 11/09 e as
centenas de mortes dos não-acontecimentos terroristas serão sempre a
contraprova de que algo real ocorreu para exorcizar as "teorias conspiratórias".
Afinal, como questionou certa vez o
filósofo Jacques Derrida à teoria da simulação de Jean Baudrillard: como dizer
que guerras e atentados são virtuais quando há milhares de mortos reais?
Esse é o momento quando o rabo balança o cachorro.
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