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quarta-feira, julho 08, 2015

"Uma Aventura Lego" faz evangelho gnóstico pop


Por trás da inocência de uma animação infantil podem estar antigas mitologias que ainda repercutem em nossos corações e mentes. “Uma Aventura Lego” (“The Lego Movie”, 2014) já foi interpretado como uma grande comercial de 100 minutos do brinquedo Lego ou uma sátira metalinguística da cultura pop atual que faz uma mistura maluca de “Matrix”, “Toy Story” e “Os Simpsons”. Mas na verdade é um evento religioso: um evangelho gnóstico pop onde é apresentada uma crítica mordaz às noções de Verdade, Deus e Salvação. Um tirano controla todos os mundos Lego passando-se como o único construtor daquele universo. Mas a resistência secreta formada pelos “mestres construtores” sabe que “o cara lá de cima” enviará um Salvador: Emmet, um operário comum com a cabeça tão vazia que, somente ele com seu "silêncio" interior, poderá ouvir a voz da Verdade.

Com as férias escolares esse humilde blogueiro tem a oportunidade de acompanhar os filhos ao cinema e exposições assistindo a uma série de curtas e animações, como os leitores devem já ter percebido nas últimas postagens do Cinegnose. E assistindo a esse conjunto de audiovisuais não dá para passar despercebido como cada vez mais produções atuais voltadas, a princípio, para o público infanto-juvenil  são baseadas em argumentos filosóficos e/ou místicos.

Uma Aventura Lego (The Lego Movie, 2014) é mais um exemplo desse mix de entretenimento com viés gnóstico que, de início, parece ao espectador como alguma coisa entre o non-sense e o surreal. A melhor primeira impressão que a animação pode passar foi dada por Susan Wlosczyna no site de crítica de cinema Roger Ebert. com:  “imagine Toy Story feito por Mel Brooks depois de comer cogumelos mágicos enquanto lia 1984 de George Orwell”.

sábado, junho 27, 2015

Série "Sense8" renova o Gnosticismo Pop de "Matrix"

Diante da série "Sense8" os críticos parecem estar incertos: ou a produção dos irmãos Wachowski é uma obra-prima ou um completo desastre. Para aqueles que já assistiram aos filmes “Matrix”, “Cloud Atlas” ou mesmo “O Destino de Júpiter”, perceberão que os Wachowski ingressam em um território familiar – protagonistas que levam uma vida banal e que de repente descobrem um propósito maior que os levará a enfrentarem um cruel sistema de dominação. Como em “Matrix”, “Sense8” revisita a mitologia gnóstica, porém com uma novidade que faz a série entrar em sintonia com o seu tempo: enquanto em Matrix a ilusão que aprisionava o protagonista era uma sinistra simulação tecnológica, em “Sense8” culturas regionais e nacionais criam rígidos modelos de gênero e identidade que mantém os protagonistas presos a uma conspiração. E a iluminação espiritual não é mais um processo ascético individual, mas agora uma rede mental coletiva e global.  

Os irmãos Wachowski serão de agora em diante chamados de “The Wachowskis” nos créditos das suas produções. Essa não é a única novidade na série do Netflix Sense8. Para aqueles que se dedicam ao estudo das recorrências do Gnosticismo na indústria do entretenimento, como faz esse blog Cinegnose, a série apresenta a principal novidade: uma nova interpretação da mitologia gnóstica dentro daquilo que definimos como “Gnosticismo Pop” – o súbito interesse de diretores, roteiristas e produtores de Hollywood pelos simbolismos e narrativas míticas do Gnosticismo.

Uma tendência que se iniciou no final do século passado, cujo ápice desse revival pop gnóstico foi certamente o filme Matrix dos Wachowskis que sintetizou o que muitos filmes anteriores já exploravam – Dark City (1998), A Vida em Preto e Branco (1998), Show de Truman (1998), O Décimo Terceiro Andar (1999), Clube da Luta (1999) entre outros.

sábado, junho 13, 2015

No curta "Alma" o fascínio gótico pelos bonecos e brinquedos

Trabalhando desde 2002 na Pixar, o animador espanhol Rodrigo Blaas resolveu em 2009 colocar em prática algumas ideias pessoais que não podiam se encaixar nas produções comerciais do estúdio. O resultado é o curta “Alma” que trás para uma animação aquilo que a assepsia comercial da Pixar retira dos seus produtos: o Estranho e o Gótico, a essência do fascínio humano pelos bonecos, marionetes e, modernamente, androides, robôs e animações. Blaas devolve ao universo infantil dos bonecos e brinquedos o seu arquétipo central: a rememoração das relações homem/Deus – através da brincadeira e do jogo a rememoração da própria condição humana prisioneira em um universo onde alguém nos manipula.Curta sugerido pela nossa leitora Luiza Hernandez.

Rodrigo Blaas é um artista gráfico espanhol que trabalha nos estúdios da Pixar desde 2002, animando personagens como a Dory em Procurando Nemo, a dupla Luigi e Guido em Carros, as cenas de ação em Os Incríveis e a sequência final da luta do capitão da nave Axion contra o piloto automático em Wall-E. Depois de muito trabalho em equipe e aborrecido em ter muitas ideias que não podiam ser encaixadas nas produções de um estúdio mainstream, resolveu reunir alguns colegas para fazer um curta.

O resultado é Alma (2009), com uma protagonista infantil com olhar doce e um visual que lembra o estilo da Pixar. Mas as semelhanças param por aí: há algo de estranho, tão sinistro quanto a atmosfera dos episódios da clássica série de terror e mistério Além da Imaginação - veja o curta abaixo.

sexta-feira, maio 29, 2015

Pesquisadores da NASA e Oxford acreditam que Universo é um game de computador

Sempre ouvimos dizer que “a vida é um jogo”. Mas e se essa frase for mais do que uma metáfora e nesse exato momento estivermos todos nós vivendo em um jogo desenhado por alguém que está em algum ponto num futuro distante? Tão velha quanto a história humana, a ideia gnóstica de que a realidade é uma ilusão retorna através das leis da Inteligência Artificial e a evolução dos games de computador: Nick Bostrom, da Universidade de Oxford, e Richard Terrile, da NASA, apontam para evidências de que o Universo seria uma gigantesca simulação de um game de computador cósmico e que o salto qualitativo na capacidade dos nossos computadores nos permitiria repetir a experiência da simulação de mundos, assim como o nosso. Tal hipótese explicaria inconsistências e mistérios que cercam o nosso cosmos, como, por exemplo, a natureza da “matéria escura”. Ciência e gnosticismo mais uma vez se encontram, dessa vez no fascínio atual pelos games de computador. Pauta sugerida pelo nosso leitor André De Paula Eduardo.

De acordo com as teorias de dois pesquisadores também distantes no tempo e espaço, um acadêmico de Oxford (Inglaterra) e um cientista da NASA (EUA), haveria uma certeza matemática que estamos imersos em uma simulação intrincada criada por seres (aliens ou mesmo seres humanos) que existem em algum lugar distante no futuro a partir de 30 anos até cinco milhões de anos. Seríamos como um passa-tempo desses futuros seres, a sua versão de um roler-playing como um World of Warcraft.

Uma ideia alucinante com o velho toque da cosmologia gnóstica da antiguidade (o homem como prisioneiro em um cosmos criado por um demiurgo enlouquecido que se diz Deus), mas em suas defesas esses pesquisadores argumentam que a hipótese não é mais rebuscada do que acreditarmos na religião que nos diz que Deus criou as terras e os céu. Ou de que tudo surgiu de uma enorme explosão que começou a esticar o tecido do espaço como um balão, formando trilhões de galáxias e, por pura sorte, surgiu o ser humano, como nos informa a teoria do Big Bang.

sábado, abril 18, 2015

"Lost River": o estranho filme incompreendido pela crítica

Vaiado no Festival de Cannes e trucidado pela crítica, o filme de estreia na direção do ator Ryan Gosling, “Lost River” (2014), teve um destino injusto. Filmado em Detroit, Gosling transformou-a numa cidade gótica que lembra Louisiana pós furacão Katrina – crise econômica, ruínas e um mistério que envolve uma parte submersa pela construção de uma represa na fictícia cidade de Lost River. Por trás das camadas de estilizações da fotografia, personagens e cenografias (que fizeram a crítica chamar o filme de “um David Lynch de segunda mão”), estão alusões à crise econômica dos EUA pós explosão da bolha especulativa de 2008 combinados com misticismo gnóstico: qual o mistério que torna os protagonistas prisioneiros daquela cidade? O filme tem estreia prevista nos cinemas brasileiros em julho desse ano.

Recentemente poucos filmes foram tão destruídos pela crítica como Lost River, produção que marca a estreia na direção do ator Ryan Gosling -  A Passagem (2007) e Drive (2011). Quando estreou no Festival de Cannes em 2014 foi muito mal recebido pelo público: nos créditos finais a plateia respondeu com assovios e vaias como uma torcida irritada em um estádio de futebol. Depois disso Gosling e seu filme desapareceram e nada foi falado deles por dez meses.

Mas agora Lost River reaparece com nova edição (foram retirados 10 minutos da edição original) para ser exibido em alguns cinemas selecionados em Nova York e Los Angeles, além de canais de TV pay-per-view e arquivos torrent na Internet – no Brasil é esperado nos cinemas em julho.

sábado, fevereiro 21, 2015

Em "O Destino de Júpiter" os Wachowski esquecem a pílula vermelha do Gnosticismo Pop

Com o filme “O Destino de Júpiter”, mais uma vez os irmãos Wachowski criam uma fábula gnóstica pop. E dessa vez sincronizando um evento astronômico (a ascensão do planeta Júpiter nos céus em fevereiro) com uma releitura do mito gnóstico da Criação, Queda e Ascensão do “Apócrifo de João” escrito em 150 DC. Tal como na “Trilogia Matrix”, a humanidade é prisioneira dos Demiurgos para ter sua energia drenada. Lá em Matrix presos em incubadoras.  Aqui em “O Destino de Júpiter” para serem semeados e colhidos por uma casta real alienígena em uma espécie de gigantesco latifúndio cósmico. Porém, dessa vez os Wachowski fizeram grandes concessões à Hollywood: a pílula vermelha da gnose que despertava para a Verdade da Matrix desapareceu para ser substituída pelo obediente retorno do espectador à ordem.

Originalmente O Destino de Júpiter (Jupiter Ascending, 2015) tinha lançamento previsto para junho do ano passado. Foi adiado e, “coincidentemente”, só entrou em cartaz em fevereiro desse ano, no momento em que o planeta Júpiter ascendeu à posição oposta ao Sol – Júpiter sobe no céu no momento em que o Sol se põe, brilha mais alto à meia-noite e se põe em torno do nascer do Sol. Júpiter nesse momento está mais próximo da Terra, aparecendo maior e mais brilhante.

Em se tratando dos irmãos Wachowski e pelo emaranhado de simbologias gnósticas e esotéricas que o filme explora, tudo NÃO é mera coincidência. Andy e Lana Wachowski sabem o que estão fazendo: com essa sincronia entre os eventos cinematográfico e astronômico, reforçam ainda mais a mitologia por trás do verdadeiro delírio visual de um filme que parece que fundiu Matrix, Star Wars e Flash Gordon dentro de uma gigantesca space opera.

sexta-feira, janeiro 16, 2015

A humanidade está no fogo cruzado entre deuses e reis no filme "Êxodo"

O homem está colocado em uma espécie de fogo cruzado entre deuses e reis, demiurgos vingativos e ciumentos perante os quais somos apenas aquilo que representa a mosca para uma criança. Ao homem nada mais resta do que desafiá-los para, no final, resgatar dentro de si o bem mais precioso – aqueles a quem ama. Esse é o tema que perpassa a obra do diretor Ridley Scott e que, mais uma vez, está presente na versão do Êxodo bíblico feita por um cineasta assumidamente ateu. “Êxodo: Deuses e Reis” (2014) retrata um Moisés convertido em anti-herói amargurado: “É tudo vingança!”, critica em um dos ríspidos diálogos com Deus. Scott repete a mesma desesperança dos tripulantes da nave Prometheus que, ao descobrirem a raça dos criadores do homem em um planeta distante, na verdade encontraram “Engenheiros” enlouquecidos.

O diretor Ridley Scott tem um inegável talento para lidar com narrativas em diferentes épocas históricas: da Roma antiga (Gladiador, 2000) para a época das Cruzadas ( Cruzada, 2005; Robin Hood, 2010); da era do Renascimento (1492 – A conquista do paraíso, 1992) para o século XIX (Os Duelistas, 1977); e no futuro com Alien (1979), Blade Runner (1982) e Prometheus (2012).

Confirmando uma velha crença de que um artista conta uma única história em toda a sua vida, em Scott percebe-se que ele volta sempre ao tema do estranho que desafia a tudo e a todos ao seu redor para, no final, resgatar algo que é exclusivamente precioso para si mesmo.

Foi assim com Deckard em Blade Runner (o simbolismo do unicórnio que o protagonista resgata para saber se ele é humano ou mais um replicante) e também com a Dra. Elizabeth Shaw em Prometheus (desafiando a tudo para manter a fé em um sentido para a criação humana perpetrada pelos “Engenheiros”).

domingo, novembro 23, 2014

Amor e entrelaçamento quântico no filme "Interestelar"

Depois de desafiar os espectadores com desconstruções narrativas como “Amnésia” e articular sucessivas camadas de mundos oníricos em “A Origem”, agora Christopher Nolan em “Interestelar” (Interstellar, 2014) nos desafia com os paradoxos da mecânica quântica e relatividade.  Aqui não há mais heróis tentando salvar a Terra, mas pessoas que se sacrificam na procura de um caminho para a humanidade abandonar um planeta agonizante. E a única saída será através de buracos negros e “buracos de minhoca” cósmicos. Porém, as equações falham em tentar conciliar a dimensão quântica e a relatividade. Qual a solução proposta por Nolan? Amor e Comunicação, os únicos elementos que atravessam os diferentes espaços-tempos e que resolveriam o enigma do chamado “entrelaçamento quântico”. Tudo com muitas alusões gnósticas e religiosas, criando uma poderosa atmosfera mística.

John Smith trabalha como projetista em um cinema nos EUA. John fez um curioso relato no início desse mês: ao receber a cópia do filme Interestelar percebeu que ela veio embrulhada e rotulada como “Flora’s Letter” – The Hollywood Reporter, 22/10/2014.

Já é bem conhecida essa estratégia onde os filmes são distribuídos ou mesmo produzidos com títulos falsos a fim de dificultar a pirataria ou roubo.

Mas também é conhecido que muitos produtores não resistem à tentação de deixar nesses falsos rótulos pistas inteligentes e sugestões. É o exemplo de filmes anteriores de Nolan que foram distribuídos dessa maneira, com intrigantes pistas: “Backbreaker” para o filme Batman - O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, 2008) e “Be Kind, Rewind” para Amnésia (Memento, 2000).

quinta-feira, setembro 25, 2014

Filme "O Fantasma do Paraíso" e o "cinema da meia-noite" dos anos 1970

Uma época em que o cinema era menos auto-indulgente e jovens diretores tinham acesso a altos orçamentos para realizar os projetos mais bizarros. Foi nos anos 1970, na onda de um subgênero chamado de “cinema da meia-noite” onde cinéfilos aventureiros embalados com muita maconha frequentavam cinemas nas madrugadas, assistindo a filmes que foram imediatamente cultuados. Foi o caso de “O Fantasma do Paraíso” (1974) de Brian De Palma, em uma ousada paródia em que funde os clássicos “Fausto” com “O Fantasma da Ópera” e o glam rock e o hard rock da época. Nesse subgênero começou também o revival de muitos temas mitológicos gnósticos, como nesse filme: o mito do Demiurgo ressurgindo como um cruel produtor musical que se apossa definitivamente da alma de seus artistas por meio de pactos de sangue.

Antes de toda onda do gnosticismo pop que esse blog detectou a partir do filme Dead Man (1995) de Jim Jarmusch e cujo ápice de popularidade foi inegavelmente Matrix (1999), os temas gnósticos eram explorados em filmes cults ou autorais. Filmes ainda sem pretensão de popularidade e restrito a pequenos grupos de cinéfilos com gostos bem particulares.


É o caso do filme de Brian de Palma O Fantasma do Paraíso, um filme produzido deliberadamente para ser um sucesso cult, para um nicho de público que nos anos 1970 era chamado de “cinema da meia-noite”: filmes com temática livremente estranha e bizarra que eram exibidos em horários alternativos das madrugadas, para espectadores aventureiros e sedentos por experimentações. Uma época em que a indústria do entretenimento permitia que jovens diretores fizessem todo tipo de filme.

sábado, julho 26, 2014

Por que "E.T. O Extraterrestre" tornou-se um clássico AstroGnóstico?


Quase três gerações depois o filme “E.T. O Extraterrestre” (1982) continua emocionando, tornando-se um clássico como “O Mágico de Oz”. Como uma produção cinematográfica alcança esse estágio atemporal? O filme oferece mais do que uma história de amizade e amor entre um menino e um ser extraterrestre: de um lado refletiu a incipiente cultura adolescente dos subúrbios norte-americanos da época, mas também o arquétipo contemporâneo do Estrangeiro, a condição humana de alienação e estranhamento através de uma fantasia AstroGnóstica: o paralelo da condição humana com a de um ser extraterrestre querendo retornar para casa.

sábado, maio 17, 2014

Um marco gnóstico no filme "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças"

Um marco entre os filmes gnósticos. Se Matrix se tornou um clássico no Gnosticismo pop onde o homem é prisioneiro em um cosmos simulado por máquinas, no filme “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças” (2004) temos uma mudança nas representações do Gnosticismo no cinema: agora o homem é prisioneiro em um mundo interno, a própria mente, através do sono do esquecimento induzido por uma tecnociência demiúrgica. “Brilho Eterno” é profético em relação ao novo século que então se iniciava ao fazer uma crítica às chamadas tecnologias do espírito (autoajuda, neurociências etc.) e a sua popularização através da cultura Prozac que promete deletar nossas inquietações (sonhos e memórias) por meios de recursos fármacos e neurocientíficos para, em troca, nos proporcionar a paz dos cemitérios.

Ao lado do filme Vanilla Sky (2001), o filme de Michel Gondry  Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (Eternal Sunshine of the Spotless Mind, 2004) é um marco na história dos filmes gnósticos. Esses dois filmes representaram o fim do que chamamos modelo Matrix de Gnosticismo pop: o mundo ilusório no qual o protagonista se encontra aprisionado é mais uma simulação tecnológica perfeita produto de um Demiurgo computacional como em Matrix (1999), aliens como Cidade das Sombras (Dark City, 1998) ou um diretor de TV como em Show de Truman (1999); a partir de Vanilla Sky e Brilho Eterno vemos o protagonista preso em um mundo interior devido a alguma desordem neurológica ou psíquica, conflitos interiores, alucinações ou sonhos.

Se no modelo Matrix de Gnosticismo pop já era colocado a necessidade da gnose através de uma busca interior ou reforma íntima para conseguir superar a ilusão aprisionadora, agora a partir de filmes como Brilho Eterno, esse mergulho interior passa a ser mais profundo, demonstrando que a prisão começa a partir dos próprias bloqueios psíquicos como traumas, ressentimentos e angústias.

segunda-feira, abril 28, 2014

A Serpente do Paraíso rouba a cena no filme "Noé"

No livro bíblico do Gênesis, a história da arca de Noé tem apenas três páginas. Conhecendo o senso hollywoodiano de espetáculo e a inclinação de Darren Aronofsky em explorar complexas simbologias místicas e esotéricas, era de se esperar que o filme “Noé” (Noah, 2014) não fosse um thriller bíblico nos moldes de “Os Dez Mandamentos”. Pelo contrário, Aronofsky subverte o famoso personagem bíblico através de uma releitura gnóstica e cabalística. O diretor não só abandonou a Bíblia como transformou a Serpente do Jardim do Éden no personagem principal, trazendo para as telas a antiga versão gnóstica do mito do Paraíso, sob uma embalagem atual política e ecologicamente correta.

Quem conhece a obra do cineasta Darren Aronofsky, sabe que se pode esperar de seus filmes profundos simbolismos místicos e esotéricos. Foi assim em filmes como Pi (um thriller cabalístico onde um gênio matemático procura uma constante numérica universal), Cisne Negro (fábula gnóstica sobre a exploração da luz interior humana por um demiurgo representado pelas exigências mercadológicas de uma companhia de balé) e Fonte da Vida (uma jornada de elevação espiritual através de complexos simbolismos gnósticos e alquímicos).

  Com o filme Noé (Noah, 2014) não poderia ser diferente. Porém, desta vez Aronofsky saiu do campo dos dramas seculares traduzidos por simbolismos para entrar em uma narrativa bíblica fazendo uma releitura paradoxalmente sem referência à Bíblia: Aronofsky fez uma subversão flagrantemente gnóstica e cabalística do famoso personagem bíblico.

segunda-feira, novembro 04, 2013

O espectro do gnosticismo ronda a cultura na animação "The Painting"


Um espectro ronda a produção cultural contemporânea: o Gnosticismo. Não, não se trata de uma conspiração ou de alguma seita secreta que silenciosamente se espreitaria subliminarmente em filmes e animações. Trata-se de uma mudança de sensibilidade em relação à realidade e aos próprios produtos culturais que procuram representá-la, um senso mais metalinguístico e auto-referencial que questiona a representação e a própria natureza da realidade. A animação francesa “The Painting” (Le Tableau, 2011), dirigida por Jean- François Laguionie é um flagrante exemplo onde personagens fauvistas no interior de quadros em um empoeirado estúdio estão em busca do Pintor, numa evidente analogia com questões teológicas e filosóficas: ele existe? Retornará um dia para completar suas obras? Quem desenhou o Pintor?

De programas infantis como “Mister Maker”, passando por animações como “Hora de Aventura” e “Apenas um Show” ou quadrinhos como “Capitão Cueca”, até os filmes mais elaborados para adultos como “Matrix”, “Show de Truman” e “A Origem”, a sensibilidade é a mesma: ironia, auto-referência, discurso indireto, metalinguagem, uma espécie de autoconsciência dos personagens de que a narrativa em que estão imersos é ficcional, um constructo de algum autor, demiurgo ou entidade arbitrária, que algumas vezes quer lhes controlar e confinar.

A animação francesa de Jean-François Laguionie, “The Paiting” (Le Tableau, 2011) é um bom exemplo dessa sensibilidade contemporânea, além de ser uma ótima alternativa às animações computadorizadas das produções norte-americanas. A narrativa é centrada em um mundo no interior de um quadro em ambientes fauvistas ao estilo de Matisse e cacos de Chagall. É apenas mais um quadro entre vários que estão no atelier de um pintor, mas para os habitantes daquela tela é um cosmos fechado em si mesmo.

Apesar da beleza das cores, texturas e traços, percebemos que aquele mundo não é tão poético: possui uma rígida ordem social dividida em três castas: a elite formada pelos Toupins que habitam um castelo. São pinturas finalizadas e de estilo definido. Em seguida vêm os Pafinis, os “não terminados”: figuras não acabadas nas quais o pintor da obra não deu um acabamento final ou deixou de pintar um detalhe qualquer. E abaixo de todos, os Reufs, verdadeiros esboços vivos, personagens cujo pintor nem iniciou e dotados apenas de linhas e contornos de lápis.

terça-feira, agosto 13, 2013

A distopia AstroGnóstica da animação "Planeta Fantástico"


Ao contrário de muitos filmes anti-autoritários da década de 1970 que com o passar do tempo se tornaram datados e ingênuos, a estranheza da animação francesa “Planeta Fantástico” (La Planèt Sauvage, 1973) garantiu a ela um caráter a-temporal. A estranha, e muitas vezes cruel, história da animação sugere uma atmosfera resultante do cruzamento do surrealismo de Salvador Dali com a narrativa de Gulliver de Jonathan Swift. “Planeta Fantástico” se insere em um subgênero que cresceu nessa década desde o sucesso do filme “Planeta dos Macacos” (1968), o filme AstroGnóstico - narrativas onde aliens caem na Terra e se tornam prisioneiros da crueldade humana, ou o inverso: o homem dominado por aliens cujo conhecimento superior tecnológico e espiritual não é garantia de que sejam bondosos e tolerantes .
Um pai e sua filha passeiam pelo campo até se depararem com uma minúscula criatura órfã. A mãe da pequena criatura morreu pelas mãos de um cruel grupo de crianças. Após ouvir uma prelação do pai sobre a importância da responsabilidade, a menina convence-o a deixá-la levar a pequena criatura para casa. Lá brinca com o novo animal de estimação. Ela escolhe roupas para ele, como fosse uma boneca, embora a pequena criatura demonstre não gostar muito disso. Esse parece ser uma narrativa familiar sobre filmes de animais de estimação, mas não se engane. No estranho universo criado pelo francês René Laloux na clássica e cult animação “Planeta Fantástico” (1973), a pequena criatura é um bebê humano (chamados de Oms) e a menina e seus familiares enormes membros de pele azul da espécie Draag em um estranho planeta.
                Essa bizarra e muitas vezes cruel história parece o resultado do cruzamento do surrealismo de Salvador Dali e a história de Gulliver de Jonathan Swift, usando a técnica de animação cutout, comum na atualidade em series como South Park. Mas para a época não era muito habitual, a não ser em vinhetas da série de humor do grupo Monty Python na TV inglesa.

segunda-feira, junho 24, 2013

O tempo conspira contra os algoritmos no filme "Cosmópolis"


Baseado em livro homônimo de 2003, o filme “Cosmópolis” (2012) do diretor David Cronenberg ganha atualidade com os movimentos antiglobalização como Occupy Wall Street e o colapso do Euro: a bordo de uma limusine, que na verdade é uma alegoria do ciberespaço, um jovem multimilionário do mercado financeiro cruza uma Nova York caótica enquanto acompanha através das telas de computadores a falência dos seus algoritmos que não conseguem prever a sua derrocada financeira. Mais do que uma alegoria sobre uma geração que construiu uma arquitetura da informação abstrata e desconectada da humanidade, Cronenberg discute a morte dos novos deuses criados pelas tecnologias baseados na fé de que a matemática estaria por trás tanto de espirais galácticas quanto das operações financeiras. Deuses que esqueceram a principal falha cósmica: o tempo.

Eric Parker (Robert Pattinson), um multibilionário príncipe do mundo financeiro com seus vinte e poucos anos, atrás de seus óculos escuros, um rosto blasé e a bordo de uma limusine high tech, decide cruzar a cidade de Nova York para cortar o cabelo em uma antiga barbearia que remonta a sua infância.

Porém, a cidade vive o caos com a visita do presidente dos EUA. Um grupo de seguranças ao redor de Parker o alerta do perigo eminente de sofrer um atentado. Na verdade, ele e o presidente dos EUA parecem ser os alvos preferenciais em meio às ruas tomadas por protestos antiglobalização.

Todas as suas operações financeiras são monitoradas a partir da limusine através de diversas telas. Parker acompanha com ansiedade uma arriscada operação, uma aposta na queda da moeda chinesa, o Yuan. Ao longo do difícil e congestionado trajeto até o barbeiro, Parker acompanhará a valorização da moeda daquele país e a sua derrocada financeira pessoal até a falência.

domingo, abril 21, 2013

Deus está nos números no filme "Número 9"


Três personagens em três episódios. Cada um em uma espécie diferente de prisão: o primeiro em uma prisão domiciliar; o segundo em um reality show; e o último preso ao vício por games de computador. Em sua estreia como diretor no filme “Número 9” (The Nines, 2007), John August  faz uma reflexão metalinguística sobre o trabalho do diretor/roteirista no cinema usando uma poderosa metáfora gnóstica do protagonista como o próprio ser humano prisioneiro na Terra, cujo planeta é visto como uma realidade mal produzida e roteirizada por um “deus ex machina”: toda vez que o protagonista começa a compreender o simbolismo místico da recorrência do número nove na sua vida, o mundo é desmanchado para recomeçar em um próximo episódio, do zero, levando o personagem principal ao esquecimento da sua verdadeira identidade.

Chris Carter, criador da série “Arquivo X”, em um comentário sobre o episódio chamado “Improbable” da nona temporada fez a seguinte detalhamento do argumento da estória: “tudo é sobre a compreensão da natureza de Deus através do uso da numerologia, sincronicidade, probabilidade, reconhecimento de padrões, física teórica ou algo parecido”.

Nesse episódio de Arquivo X a personagem Agente Scully trava um interessante diálogo com a Agente Reys:
“Scully: veja, Agente Reys, você não pode reduzir tudo na vida, toda criação, toda obra de arte, arquitetura, música, literatura... num jogo de vencedores e perdedores.
Reys: Por que não? Talvez os vencedores sejam aqueles que jogaram melhor o jogo. Eles conseguiram ver padrões e conexões, assim como nós estamos tentando fazer nesse momento.”
Pois o filme “Número 9” dirigido e escrito por John August (em seu primeiro filme como diretor depois de fazer o roteiro de diversos filmes de Tim Burton) lida diretamente com esse tema ao propor que a compreensão do simbolismo místico das coincidências e sincronicidades permitiria um ser divino escapar da sua prisão corporal. A compreensão dos significados das sincronicidades como ferramenta para a libertação.

segunda-feira, abril 15, 2013

Somos todos aliens no filme "Earthling"


O tema “alienígenas” encontra a sua maturidade no cinema no filme indie “Earthling” (2010). Nesse filme abandonamos os temas da invasão, dominação e submissão para entrarmos em um campo mais metafísico e gnóstico: será que todos nós seríamos aliens aprisionados nesse mundo? Alienígenas aos poucos vão despertando nesse planeta e descobrem que na verdade não são quem pensavam ser. Um acidente de carro e um incidente em uma estação espacial são os acontecimentos que despertarão nos aliens humanos o desejo de retornar à suas origens. Seríamos todos nós estrangeiros nesse planeta e a nossa condição de estranhamento e alienação sintomas dessa verdade? Esse é o tema central de um subgênero que podemos nomear como filmes AstroGnósticos.

O Gnosticismo clássico nos ensinou que os seres humanos são criaturas celestes prisioneiras de um Demiurgo sádico e louco. Somos prisioneiros nesse planeta apenas para acalmar seu ego ferido. Todos nós, incluindo o Demiurgo, seriamos emanações do Pleroma ou da Plenitude e de lá fomos expulsos devido a uma espécie de terrível aborto cósmico: a Criação.

Por sua vez, o Gnosticismo Cristão nos ensina que Cristo era um ser puramente espiritual, um “aeon” que foi enviado a nós diretamente do Pleroma com o objetivo de nos despertar para a realidade de que somos prisioneiros de um Deus cego auxiliado pelos seus Arcontes. Despertarmos através do conhecimento trazido por Ele sobre a nossa verdadeira natureza e identidade.

domingo, janeiro 20, 2013

A mitologia da Queda é renovada em "Upside Down"

Ao mesclar ficção científica com romance, “Upside Down” (uma co-produção Canadá/França dirigida pelo argentino Juan Diego Solanas) dá nova roupagem aos mitos da Queda, tão antigos quanto a humanidade: relatos míticos que tentam relacionar a dor e sofrimento à queda da humanidade de um estado de pureza e inocência. Em um engenhoso roteiro, Solanas constrói uma versão literal da Queda ao criar um universo onde a Lei da Gravidade ao mesmo tempo une e separa dois planetas que não possuem céu ou horizontes, mas apenas a versão invertida da sua própria sociedade: o opulento mundo “de cima” que sempre faz lembrar a pobreza do mundo “de baixo”. Mas um amor proibido desafiará a gigantesca corporação que mantém essa ordem através da exploração da energia e dos meios de comunicação.

Os mitos da Queda são tão antigos quanto a história humana.  Das tradições das religiões abraâmicas (que se referem a um estado de transição humana da inocência e obediência a Deus para um estado de culpa e pecado) às heresias gnósticas (a Queda como uma catástrofe de dimensão cósmica da qual o homem tenta se libertar), são relatos que tentam explicar a origem de tanta dor e sofrimento humanos que teria iniciado em algum momento posterior a Criação.

A esse mito associa-se o de uma “Era Dourada” derivada da mitologia grega e de diversas lendas que via o início da humanidade como um estado ideal quando o gênero humano era puro e imortal. Isso criou o arquétipo do “mito das origens” presente em obras como a do filósofo francês Rosseau que vai, por exemplo, influenciar teorias psicopedagógicas: a infância como um momento de feliz  espontaneidade e pureza que será perdida na entrada da fase adulta.

Pois o filme “Upside Down”, uma coprodução Canadá/França dirigido pelo argentino Juan Diego Solanas, vai não só se inspirar nessas fontes míticas como também vai dar uma nova roupagem, dessa vez literal a essa “Queda” – associá-la às leis gravitacionais através de um engenhoso roteiro que parte das seguintes premissas:

segunda-feira, dezembro 24, 2012

O conhecimento secreto do Cristo de Nag Hammadi

A descoberta e as posteriores traduções da chamada “biblioteca de Nag Hammadi” no Egito trouxeram uma nova luz sobre os ensinamentos de Cristo. O foco comum dado pelas religiões na morte-ressurreição de Cristo e no plano ético e devocional da sua passagem pela Terra esconderia a sua principal missão: a de trazer o conhecimento secreto que nos faça ter a consciência de que estamos perdidos e longe de casa, e o caminho de volta já está dentro de nós. Cabe a nós relembrarmos.

"O pensamento aguarda que, um dia, a lembrança do que foi perdido venha despertá-lo e o transforme em ensinamento" (Theodor Adorno)

O Gnosticismo em geral, e os evangelhos apócrifos descobertos em Nag Hammadi no Egito em 1945 (conjunto de antigos pergaminhos composto pelos evangelhos que revelariam a natureza do antigo cristianismo e as interpretações místicas de Cristo feitas pelos gnósticos) em particular, apresentam um espectro de crenças cujo núcleo central filosófico é bem discernível, aquilo que Kurt Rudolph chama de "mito central": o Gnosticismo nos ensina que algo está desesperadamente errado com o universo. Dessa forma os escritos gnósticos tentaram delinear os meios de explicar essa falha cósmica e corrigir a situação.

O universo, tal como atualmente constituído, não é bom, nem foi criado por um Deus todo poderoso. Em vez disso, um deus menor, ou “demiurgo” (como é chamado às vezes), moldou o mundo na ignorância. O Evangelho de Filipe de Nag Hammadi, diz que "o mundo surgiu através de um erro. Para aquele que o criou queria criá-lo imperecível e imortal. Ele ficou aquém de alcançar o seu desejo.” A origem do demiurgo é diversas vezes explicada como resultante de alguma perturbação pré-cósmica na cadeia de seres que emanam do incognoscível Deus-Pai. Isso originou a “queda” de uma divindade inferior, com credenciais bem menores. Tentando recriar nos planos inferiores a Plenitude da qual “decaiu”, acabou por criar um cosmos material encharcado de dor, ignorância, decadência e morte - um trabalho malfeito, com certeza.

domingo, dezembro 16, 2012

No Terceiro Aniversário uma questão: o "Cinegnose" é um blog "sobre Gnosticismo" ou "Gnóstico"?

O blog “Cinema Secreto: Cinegnose” chega ao terceiro aniversário com a notícia de que chegamos ao Top 3 dos finalistas do prêmio Top Blog 2012 na categoria “Arte e Cultura”. Projeto iniciado com as análises dos filmes gnósticos na dissertação de mestrado, o “Cinegnose” começou com uma linha editorial “sobre Gnosticismo”: especializado na análise de filmes gnósticos como ponto de partida para aprofundar temas filosóficos do Gnosticismo. Chegamos ao terceiro ano expandindo a discussão, dessa vez optando pelo “olhar gnóstico”, resultando numa abordagem mais abrangente para o Cinema, Audiovisual e Cultura Pop.

Esse mês o “Cinema Secreto: Cinegnose” faz aniversário. Pela terceira vez! Esse foi o terceiro ano de um projeto iniciado com a dissertação de mestrado “Cinegnose: a recorrência de elementos gnósticos na produção cinematográfica norte-americana – 1995 a 2005”, defendida na Universidade Anhembi Morumbi. Como sempre, ao final da edição de qualquer produto cultural (seja um CD, filme, livro ou dissertação) muito material acaba ficando de fora por absoluta falta de tempo e espaço físico.

Ao final da análise sobre a recorrência de elementos gnósticos (narrativas, mitologias, símbolos, iconografia etc.) até 2005, percebi que, na verdade, o objeto da análise estava em constante desdobramento e evolução: filmes posteriores como “Ilha do Medo” (2010), “A Origem” (2010) e até o brasileiro “Os Famosos e os Duendes da Morte” (2009) demonstravam que o Gnosticismo era uma influência cada vez mais presente (explícita ou implícita) em temas e roteiros fílmicos.

Foi então que ao final de uma das aulas no doutorado da ECA-USP, a professora Gloria Kreinz sugeriu-me: por que não faz um blog? Seria uma forma de dar vazão a todo esse material que ficou de fora do inevitável corte metodológico que todo trabalho científico impõe.

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