quarta-feira, agosto 16, 2017

Revisitando o 7X1 de Brasil e Alemanha: uma bomba semiótica na guerra híbrida?


“Massacre de Belo Horizonte”. “Mineiraço”. Ou ainda jocosamente “Mineiratzen” para nomear a inacreditável goleada de 7X1 da Alemanha sobre o Brasil na semifinal da Copa do Mundo no estádio do Mineirão em BH. Em meio a uma pesada atmosfera de radicalização política e ideológica iniciada pelas “jornadas de Junho” de 2013 que deram início a chamada “Primavera Brasileira”, a goleada encaixou-se tão perfeitamente em uma narrativa da mídia corporativa (um país à beira do abismo) e na sinistra cadeia de eventos (a queda do guindaste na Arena Corinthians, o “escândalo Edward Snowden, a queda de uma ponte em BH às vésperas do “mineiraço” etc.) que incendiou a imaginação dos teóricos da conspiração. Revisitado agora, três anos depois, a controversa goleada revela inúmeras “coincidências” e “conveniências” para aquele momento: uma goleada geopolítica, anomalias reveladas em vídeos, a “teratopolitização” tanto da presidenta Dilma como do técnico da Seleção Felipe Scolari e, agora, o coincidente destino de dois jogadores pivôs das “teorias conspiratórias” da época – Thiago Silva e Neymar: os dois no time francês PSG, comprado por empresa de investimentos do Qatar, sede da Copa do Mundo de 2022.

Essa postagem levou três anos para ser redigida. Em 08 de julho de 2014 ocorreu um evento tão peculiar, tão sem precedentes e tão bizarro que o primeiro impulso deste humilde blogueiro foi saltar para o teclado do computador e batucar algumas hipóteses conspiratórias. Hipóteses que quase de imediato começaram a pipocar nos blogs e redes sociais.

Mas o Cinegnose foi contido em função de um enorme problema em todas as “teorias da conspiração”: como estrelas milionárias do futebol brasileiro jogariam fora a chance de serem imortalizados como campeões mundiais, atraindo ainda mais dinheiro e contratos? É até compreensível denúncias de manipulações de resultados em torno de jogadores pobres em campeonatos africanos ou da América Central. Mas não com ricos astros internacionais.

Porém, o 7x1 da Alemanha sobre o Brasil na partida semifinal da Copa do Mundo foi um resultado absolutamente anômalo: o futebol, por natureza, é um esporte com baixa pontuação (0-0, 1-0, 2-1 etc.), principalmente em jogos decisivos envolvendo forças futebolísticas equivalentes.

Além disso, até aquele momento no histórico das copas do mundo, a defesa brasileira havia sofrido 89 gols em 97 jogos, uma média de menos de um gol por jogo. E em apenas um jogo, numa semifinal onde tradicionalmente forças equivalentes se enfrentam, a seleção tomou sete gols.

O chamado “massacre de Belo Horizonte” ou “mineiraço”, assim como todos os meses que antecederam desde a Copa das Confederações, foi acompanhado de pesada atmosfera política, iniciada com as “jornadas de Junho” em 2013 – manifestações de rua, polarização política, radicalizações ideológicas e a desestabilização do governo Dilma chegando à ingovernabilidade.


Além de uma “Operação Anti-Copa” posta em ação diariamente pela grande mídia (com direito a “barrigas” e “não-notícias” – clique aqui) com o objetivo claro de jogar pedras na vitrine internacional dos governos petistas (Copa e Olimpíadas), além de impedir qualquer clima de vitória e otimismo que facilitasse a reeleição da presidenta Dilma.

Efeito Heisenberg e esquizofrenia midiática


  Naquele momento, a avaliação desse Cinegnose para o “massacre de Belo Horizonte” foi de que a Seleção foi vítima de dois fatores extra-esportivos: o chamado “efeito Heisenberg” (a Seleção pautada pelas exigências de cobertura midiática) e a esquizofrenia crônica da grande mídia – sabotar politicamente o evento e, ao mesmo tempo, faturar comercialmente com ele – clique aqui.

Porém, três anos depois e colocando a bizarra goleada em perspectiva (principalmente após revelações dos detalhes que diariamente vem à tona de que a “Primavera Brasileira” fez parte de uma elaborada “guerra híbrida” planetária disparada pela geopolítica do Departamento de Estado dos EUA) não há como negar que o episódio foi, no mínimo, sincrônico e pleno de sentido. Alinhado com a sequência de causas e efeitos que era desencadeada com absoluta precisão.

Até o desfecho, com o impeachment da presidenta em 2016 e a consumação do golpe político jurídico-parlamentar-midiático.

Esta postagem não pretende levantar ainda mais hipóteses “conspiratórias” sobre a improvável goleada da Seleção. 

Porém, vamos tentar demonstrar como semioticamente aquele fatídico jogo foi mais uma peça de dominó que caiu numa sequência sincrônica de eventos. Uma sincronia tão perfeita que é impossível não parar para pensar na “beleza” das coincidências e conveniências.


(a) A teratopolítica de Dilma e Felipe Scolari


Coincidentemente, Dilma e Scolari foram alvos da estratégia da teratopolítica – estratégia semiótica da criação de inimigos monstruosos, morfologicamente disformes como monstros ou simulacros humanos.

Assim como Dilma, o técnico da Seleção era figurado como teimoso, velho, ultrapassado – sintoma de um País supostamente atrasado e que não dá certo. Parceiro de um evento que roubaria dinheiro público, corrupto na sua essência, e que tiraria dos brasileiros os serviços básicos de saúde e educação.

Personagens de um Brasil que não dá certo. O “massacre de Belo Horizonte” foi o desfecho lógico de uma guerra semiótica de desmoralização tanto da mídia nacional como internacional.

Em contraste, Alemanha era aquilo que dá certo: planejamento, eficiência, foco... todo o jargão meritocrático. Além do surpreendente uniforme com as cores do Flamengo (a maior torcida brasileira) como estratégia mercadológica para ganhar a simpatia nacional.

Após o “mineiraço”, prontamente ocorreram nas ruas manifestações de ofensas à presidenta Dilma e onda de assaltos e vandalismos foram registrados em várias cidades brasileiras, como observou a CBS News – clique aqui. Bandeiras brasileiras eram incendiadas nas ruas de São Paulo, mesmo antes do jogo ter terminado.

A tragédia esportiva caia como uma luva, quase como mais um ato na narrativa dominante da mídia corporativa de figurar um País à beira do abismo político e econômico.

(b) O vídeo de Brasil X Alemanha


De toda a massa de vídeos analisando o massacre futebolístico, um deles chama a atenção: isola apenas as ações dos jogadores alemães envolvidos nos lances dos gols – 5 X 0 em 18 minutos. Observa-se que os alemães avançam e chutam sem fazer qualquer manobra evasiva, dribles ou esforços nas jogadas que resultaram em gols - veja vídeo abaixo.


Em ritmo de treino ou um “rachão” recreativo pós-treino, a Alemanha chega a um inacreditável placar em uma semifinal de Copa de Mundo, em poucos minutos.

Nos gols vemos defensores brasileiros que sequer tentam obstruir os lances – por exemplo, David Luiz vaga na área como zumbi e sequer tenta obstruir o homem atribuído a marcar; Marcelo literalmente fica plantado dentro do gol no primeiro tento alemão; o goleiro Júlio César parece sempre fora do lugar, fazendo mergulhos teatrais após a bola ter entrado e assim por diante.


Alegou-se “pânico”, alguma espécie de “black out”, imputados em jogadores experimentados internacionalmente. A maioria deles jogando no cenário esportivo europeu exigente e altamente competitivo.

Tim Vickary, um jornalista inglês free-lancer e correspondente da BBC Sports (além de morar no Brasil desde 1994) deu o tom geral de um recado supostamente modernizante para um País politicamente sublevado: “uma oportunidade para que o Brasil possa recuperar sua identidade histórica e reconstruí-la num contexto moderno, global” – “Brazil must learn lessons from Germany humiliation”, BBC News, 2014 – clique aqui.


(c) Goleada geopolítica


A críptica fala de Vickary mais parecia um Think Tank da mídia internacional em relação à geopolítica brasileira naquele momento: junto com a Venezuela e Argentina o País matara o projeto da ALCA – projeto globalista de fazer crescer uma versão americana da União Europeia.

Adiciona-se ainda o insulto do Brasil se alinhar à Vladimir Putin no bloco comercial dos BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Além de condenar o tratamento dado aos palestinos por Israel e a recusa em impor sanções comerciais ao Irã.

De fato, para a mídia internacional o Brasil necessitava ser reconstruído em um “contexto moderno e global”.


(d) Uma oportuna cadeia de eventos


Além da suspeitíssima “Primavera Brasileira” (conjunto de táticas de engenharia social – ONGs, “spin doctors”, “paid experts” etc. – ação direta – faixas em língua inglesa nas manifestações “rent-a-mobs” estudantis, manjadas ações de black blocs – e a pesada estratégia de “lawfare” criando o complexo jurídico-midiático – Lava Jato-vazamentos-TV Globo), o “mineiraço” foi antecedido por uma oportuna cadeia de eventos que serviram como um aperitivo para o que estava por vir.

(d.1.) A queda do guindaste na Arena Corinthians.


A mídia nacional e internacional relatou com fôlego a “preocupação” com os preparativos da Copa 2014: um enorme guindaste caiu através da cobertura do estádio programado para receber o jogo de abertura. Duas pessoas morreram e pelo menos outra pessoa ferida. Muitos mais poderiam ter morrido se os operários não estivessem na hora do almoço.

Passava do meio-dia quando ocorreu o acidente. Oportunamente no horário dos telejornais regionais, nacionais e esportivos da grande mídia, principalmente da Globo. E também oportunamente, um “cinegrafista amador” registrou o exato momento da queda. Um vídeo de 11 segundos, prontamente entregue aos telejornais.


(d.2.) A “denúncia” de Snowden.


Em pleno horário nobre, em 2013, a grande mídia divulga documentos da NSA vazados por um funcionário dissidente chamado Edward Snowden. Uma verdadeira bomba sobre o Brasil – a “Carta Aberta ao Povo do Brasil” de Snowden, dizendo que a NSA  teria revogado o direito à privacidade digital e que Dilma e a Petrobrás eram as maiores vítimas de espionagem de e-mails pela agência norte-americana.

Um segredo de polichinelo - há décadas, desde o chamado Projeto Echelon nos anos 1970, qualquer professor de comunicação sabe sobre a espionagem global de ligações telefônicas por satélites com a colaboração das empresas de telefonia – clique aqui).

Mas a “Carta Aberta” surtiu como mais um evento desestabilizador interno e da geopolítica brasileira. Não é à toa que a mídia corporativa nacional “sambou em cima” como mais uma evidência da tibieza de uma presidenta à beira do abismo.  

E para Nicholas Kozloff, em artigo no Huffington Post, uma evidência de que “o Brasil está comprometido e não deve desafiar Obama” – clique aqui.

Enquanto isso, a “Primavera Brasileira” com os bem organizados “rent-a-mobs” ajudaram a promover o escândalo Snowden revertido como mais um ingrediente na desestabilização política.

(d.3.) Uma ponte cai às vésperas do “mineiraço”.


Porém, faltava o componente mais sinistro e profético dos eventos: um dia antes do Brasil ser promovido à semi-final (vitória sobre a Colômbia nas quartas de final) e cinco dias antes do “mineiraço”, no dia 03 de junho em plena Belo Horizonte (e não muito longe do estádio do Mineirão) uma ponte inacabada colapsou. Matou duas pessoas e feriu outras 22.

Além de ser um desastre em uma das obras inacabadas para a Copa do Mundo (corroborando com o discurso midiático do “desperdício de dinheiro público”, a mentira sobre o legado da Copa etc.), foi mais um evento que se somou aos incidentes envolvendo a perda de dois importantes jogadores do Brasil para a semi-final: o zagueiro Thiago Silva (suspenso após falta absurda e estúpida) e Neymar, supostamente lesionado em uma vértebra após entrada “criminosa” do jogador colombiano Zuñiga – sobre eles, leia o “bônus track” abaixo.

As teorias conspiratórias mais delirantes falaram em “mensagem siciliana” aos jogadores brasileiros na queda da ponte em Belo Horizonte, local do jogo decisivo brasileiro: ameaça de morte caso não entregassem o jogo...

Mas temos que admitir: o incidente elevou ainda mais a tensão numa seleção na qual jogadores cantavam o hino nacional a capela junto com a torcida como fosse ato simbólico num ambiente já politicamente carregado.


(e) Bônus Track  - para incendiar a imaginação conspiratória


Teorias conspiratórias na época deram conta dos “estranhos incidentes” envolvendo Thiago Silva e Neymar.

Thiago Silva marcaria o primeiro gol do Brasil logo no início contra a Colômbia para logo depois levar o segundo cartão amarelo numa falta estúpida – em lance inusitado e primário, o jogador entrou na frente de Ospina que ia repor a bola em jogo com um chute, irritando o técnico Filipão. Proibido pelas regras, o jogador levou o segundo amarelo e a suspensão automática para o próximo jogo contra a Alemanha.

E a polêmica contusão de Neymar – ele teria sinalizado para o jogador colombiano, segundos antes da contusão, que significaria “vá em frente, este é o momento!”.

Será que Neymar e Thiago Silva participaram da "entrega" do jogo contra a Alemanha ao deliberadamente enfraquecer a Seleção? Ou, temerosos, pularam fora do barco que inevitavelmente viraria?

Coincidentemente, os dois jogadores estão no PSG – Neymar, na maior transação financeira do futebol mundial. O clube francês foi comprado em 2011 pelo Qatar Sports Investments, entidade que faz parte da estatal Qatar Investment Authority que visa espalhar investimentos do país em várias partes do mundo.

O Qatar sediará a próxima Copa do Mundo em 2022 e a contratação de Neymar é a demonstração do poder e vitrine para o evento esportivo mundial que é a menina dos olhos do príncipe Hamad bin Khalifa al-Thani, no poder desde 1995.

Mais do que esporte, a contratação tem um simbolismo geopolítico: apesar de manter relações diplomáticas com o Irã e supostamente abrigar movimentos como o Hizbollah, o Qatar permite a manutenção de uma base militar norte-americana em seu território.

Thiago Silva e Neymar no time do PSG, um dos jogadores pivôs das especulações em torno do 7X1 da Alemanha sobre o Brasil, só acende ainda mais a imaginação dos teóricos da conspiração.

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