terça-feira, julho 31, 2012

A materialidade das produções midiáticas (parte 2): as "acoplagens"

Quais as diferentes “acoplagens” que os receptores têm com as diferentes mídias? Ao longo da história da comunicação, cada mídia criou um diferente regime de recepção (temporal e espacial). Oralidade, manuscrito, escrito até chegarmos ao impresso, cada uma dessas mídias criou uma cultura própria que altera a recepção, assimilação e compreensão de conteúdos. Discos de vinil e CDs foram os últimos representantes da “acoplagem” inaugurada pela cultura tipográfica que será desmaterializada pela cultura digital do mp3. Sendo as materialidades da comunicação “a totalidade dos fenômenos que contribuem para a constituição do sentido sem serem, eles próprios, sentido”[1], vamos fazer uma breve análise de como os diferentes suportes (indiciais, icônicos...

segunda-feira, julho 30, 2012

A vida antes das redes sociais no filme "Denise Está Chamando"

Por que um filme premiado em Cannes com o “Caméra D’Or” como “Denise Está Chamando” (Denise Calls Up, 1995) foi sendo pouco a pouco  esquecido nas prateleiras de VHS das locadoras pelas novas gerações? Talvez porque a narrativa tragicômica sobre alienação e estranhamento com o telefone tenha se tornado incompreensível para uma geração que euforicamente abraça as redes sociais onde a diferença entre noções como “presencial” e “simulação da presença” desapareceram. O filme é sobre uma geração onde telefone, secretárias eletrônicas e fax começavam a substituir as relações presenciais: sexo, morte e nascimento são eventos experimentados pelos personagens exclusivamente através do telefone com um mix de culpa e estranhamento. A comparação...

A materialidade das Produções midiáticas (parte 3): as desreferencializações

Imagine uma pessoa chegando a um restaurante. Ela pede o cardápio e começa a comer os signos dos pratos (as fotos) ao invés dos referentes (as comidas que são representadas no cardápio). Pois algo parecido ocorre nas mídias eletrônicas e digitais: passamos a tomar ícones, imagens e a própria tela como fosse o próprio real e não mais uma representação, como tínhams consciência nas mídas anteriores. O resultado é que nas novas tecnologias paradoxalmente as mídias atuias retornarão a muitas características das formas presenciais e orais de comunicação. As consequências encontraremos em diversos gêneros televisivos e digitais. Como afirmamos na postagem anterior (veja links abaixo), a produção imagética eletrônica e digital, aparentemente...

sexta-feira, julho 27, 2012

Sobre coincidências e sincronicidades

Da esquerda: James Holmes, o atentado ao WTC em 2001 e Mateus Meira (o "maníaco do Shopping) em 1999 Coincidências que são encontradas diariamente em eventos extremos como o massacre do Colorado têm acendido a imaginação política dos teóricos de conspirações e a imaginação sociológica das discussões acadêmicas. Apesar de opostos, ambos os lados tentam encontrar uma causalidade secreta que explique os efeitos, de Iluminatis à cultura da violência. Mas e se eventos como esse não tiverem “causa” e serem a parte com maior visibilidade midiática de uma dinâmica cotidiana e sincrônica que nos envolve assim como o ar que respiramos? Um “oceano de pensamentos” que por determinadas condições sedimentam-se em egrégoras e arquétipos capazes de produzir...

quarta-feira, julho 25, 2012

Adendo ao post "O Coringa e o massacre do Colorado"

Nosso leitor Felipe Cardoso enviou para nós essa incrível "coincidência". Após James Holmes, de 24 anos, matar 12 espectadores durante a estreia do último filme do Batman, em Aurora, no Estado do Colorado, muitos fãs das histórias em quadrinhos notaram a tétrica semelhança entre o massacre e um capítulo da HQ lançada em 1986 "Cavaleiro das Trevas" ("The Dark Knight Returns"), de Frank Miller.  Na publicação, o personagem Arnold Crimp, visivelmente fora de si, entra em um cinema armado e atira contra a plateia. Isso é mais do que um exemplo do célebre provérbio de que “a vida imita a arte”. Apenas comprova o aforismo de que “os pensamentos são coisas”. É difícil conceber outro lugar onde pensamentos, arquétipos, mitos, lendas...

terça-feira, julho 24, 2012

O Coringa e o massacre do Colorado

“Os pensamentos são coisas” (antigo aforismo oriental) Desde que o ator Jack Nicholson falou “Eu o avisei!” após a morte do ator Heath Ledger pouco depois de interpretar o Coringa no filme “Batman: o Cavaleiro das Trevas”, estranhas “coincidências” passaram a cercar esse personagem. Nicholson havia interpretado o Coringa em versão anterior do Batman do diretor Tim Burton. Parecia que ele já havia experimentado a estranha força desse personagem, espécie de alter ego invertido do protagonista Batman. O massacre provocado por um atirador na estreia do novo filme do Batman em um cinema em Aurora, Colorado (EUA), reabre essa discussão: será que esse episódio é um eco de uma realidade mais profunda que se tenta esconder? James Holmes foi...

segunda-feira, julho 23, 2012

Um passeio pelo consumo subliminar no curta "Supermercado"

Finalista do “Vimeo Awards 2012” o curta-metragem brasileiro “Supermercado” faz um bizarro tour em um centro de compras onde um consumidor “surta” e transforma-se em um imundo “monstro” que passeia calmamente empurrando seu carrinho de compras diante de clientes perplexos. O que os publicitários chamam de identificação do consumidor com o produto e a marca, o curta leva às últimas consequências: a revelação de que grandes centros de compras como supermercados são locais de manipulação subliminar tanto da arquitetura quanto da percepção. Entramos em um supermercado através de um plano sequência pelo ponto de vista do interior de um carrinho de compras. Passamos pelos corredores formados pelas gôndolas de produtos. A lente em grande angular...

quinta-feira, julho 19, 2012

Uma dura lição para as crianças em "A Era do Gelo 4"

Culpa, renúncia e sacrifício são as palavras-chave dessa continuação da franquia “Era do Gelo”. Comparado com os episódios anteriores da série os temas dessa continuação parecem ser mais duros, sérios, como se tivesse uma mensagem para todos: se preparem para os tempos difíceis que virão e mantenham a família e amigos juntos e disciplinados! Por isso, a alusão que a narrativa faz ao épico da Antiguidade “Odisséia” de Homero não é mera coincidência: assim como Homero ajudou a modelar a cultura grega ao se apoderar dos mitos e submetê-los à astúcia racional de Ulisses, da mesma forma “A Era do Gelo 4” (Ice Age: Continental Drift, 2012) organiza os medos e mitos do imaginário infantil para submetê-los à necessidade civilizatória da repressão. Férias...

terça-feira, julho 17, 2012

"Ad-Gnose: a Engenharia do Espírito na Publicidade" será discutida na COMUNICON 2012

Foi aceito o resumo expandido de um artigo científico desse humilde blogueiro submetido à comissão de avaliação do II Congresso Internacional Comunicação e Consumo - COMUNICON 2012, evento que será realizado nos dias 15 e 16 de outubro na Escola Superior de Propaganda e Marketing em São Paulo com o tema “Comunicação, Consumo e Ação Reflexiva: caminhos para a educação do futuro” (clique aqui para ver a programação). O resumo expandido refere-se ao artigo “Ad-gnose: a engenharia do espírito na publicidade”. O artigo será apresentado dentro do Grupo de Trabalho"Comunicação, Consumo e Cultura Contemporânea; Imagem, Cidade e Juventude" “Ad-gnose” foi um conceito criado a partir das pesquisas nesse blog sobre a linguagem publicitária contemporânea:...

Demiurgo prisioneiro do tempo em "Crimes Temporais"

Como fazer um filme sobre um tema tão revisitado e com tantas versões como viagem no tempo? Na época estreando em longa-metragens, o espanhol Nacho Vigalondo, escreveu e dirigiu o filme “Crimes Temporais” (Los Cronocrimenes, 2007) que dá uma resposta criativa e inovadora ao gênero ao misturar o voyeurismo de Hitchcock no clássico “Janela Indiscreta” com uma curiosa sacada metalinguística onde o diretor faz o próprio cientista que perde o controle de uma experiência temporal – cientista, roteirista e diretor, todos demiurgos prisioneiros de limites análogos: na Física as leis da entropia e inércia; no roteiro, as regras narrativas e a verossimilhança. Física e roteiro governados pelo mesmo inimigo implacável: o Tempo. Após ser indicado...

sábado, julho 14, 2012

Vidro e cultura da interface em "A Day Made Of Glass"

O vidro talvez tenha sido um dos objetos que mais representaram a Modernidade na arquitetura, design e decoração. Da transparência, passando pelo fumê e espelhado dos shoppings e mansões dos novos ricos, hoje chegamos à opacidade definitiva – a conversão em tela touchscreen. O curta publicitário “A Day Made Of Glass” apresenta de forma sintética a ideologia por trás dessa transformação do vidro em interface: da transparência como uma janela aberta para o mundo e para si mesmo (telescópios e espelhos), o vidro transforma-se em tela onde ícones e diagramas fazem a mediação com o real criando a ilusão de controle e funcionalidade. Cada vez menos nosso interesse em objetos, pessoas e eventos é orientado pela curiosidade da descoberta, e muito...

quinta-feira, julho 12, 2012

Góticos, darks e emos vagam pelos shoppings

O poder dos símbolos e divindades pagãs é estetizado há décadas pela indústria do entretenimento, por exemplo, através do imaginário dark, gótico ou de todo um "sub-zeitgeist" que fascina sucessivas gerações. Seria o sintoma ao mesmo tempo de tendências depressivas principalmente de jovens e adolescentes e do anseio pela "experiência religiosa imediata". Com o esvaziamento da mitologia política, temos agora o Sagrado e o Religioso como um novo imaginário para canalizar a angústia por transcendência do jovem. "Toda ideologia tem o seu momento de verdade" (Theodor Adorno) Recentemente os alunos da disciplina de Estrutura de Roteiro da Escola de Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi produziram seus primeiros Argumentos...

quarta-feira, julho 11, 2012

Terrorismo e a propaganda política no filme "Iron Sky"

Imagine uma co-produção finlandesa, alemã e australiana que mistura “Star Wars”, bases lunares nazistas, filme “Independence Day”, a republicana Sarah Pallin na presidência dos EUA, Naziexploitation e um astronauta negro símbolo do marketing político dos republicanos que cai nas mãos dos nazistas lunares para ser embranquecido e tornar-se ariano por médicos da SS. Pois essa combinação delirante foi premiada no Festival de Cinema Fantástico de Bruxelas e no Festival de Berlim. É o filme “Iron Sky” (2012). Pode parecer um pastiche de inconsequente humor negro, mas por trás dessas camadas de puro absurdo estão interessantes insights sobre o terrorismo de Estado e propaganda política além de fazer refletir sobre a natureza das teorias conspiratórias...

domingo, julho 08, 2012

A história secreta da Moda e dos manequins

Os modernos manequins nas vitrines dos shoppings são herdeiros de uma longa tradição do fascínio humano por bonecos, fantoches, autômatos e demais simulacros humanos. Esse fascínio teria suas origens mágicas e herméticas na Teurgia e Alquimia. Se isso for verdadeiro, a história dos manequins revelaria uma nova narrativa sobre a Moda que vai além dos tradicionais discursos antropológico e semiótico/linguístico. Uma narrativa que descreveria a história de como o corpo humano foi ao poucos transformado em um “golem” (o “não formado”): um corpo inanimado à espera de um Espírito (o “Estilo”) que lhe traga a vida...

sexta-feira, julho 06, 2012

O que há em comum entre a fotografia e o dinheiro?

Com essa pergunta não queremos falar sobre a profissionalização da fotografia ou sobre os conflitos entre a arte e a mercantilização. Estamos mais interessados em encontrar as semelhanças entre essas duas invenções no plano do imaginário social. Devido à função de representação que eles carregam (representar o real e a riqueza), a sociedade investe neles um alto valor moral: respectivamente objetividade e verdade; gratificação pelo empreendimento pessoal. Porém, a "obesidade" tecnológica parece inverter essa função ao reservar à fotografia e ao dinheiro o destino da dissimulação, simulação e hiper-realidade. A fotografia e o dinheiro talvez sejam as principais bases imaginárias do Capitalismo. A primeira foi a invenção que deu início...

terça-feira, julho 03, 2012

Filme "Eva": o que você vê quando fecha os olhos?

A chamada “senha sagrada”, a pergunta “o que você vê quando fecha os olhos?”, é uma bomba lógica e fatal para os robôs no filme espanhol “Eva” (2011), usada em situações extremas quando o robô deve ser imediatamente “desligado”. Com temática semelhante a “I.A.” (2001) de Spielberg, o diretor Kike Maíllo evitou os clichês dos mundos sombrios, pós-apocalípticos e distópicos para colocar a questão em um futuro próximo ao focar os robôs dentro do problema central da inteligência artificial: a lógica linear e binária dos robôs não consegue entender os paradoxos lógicos como o que está contido nessa pergunta fatal. Sem vida interior os robôs somente enxergam a escuridão. Isso até tentarem fazer um robô especial que seja capaz de ver a Luz da consciência,...

domingo, julho 01, 2012

Meios "Quentes" e Meios "Frios" - paradoxos das produções midiáticas

Um dos aforismos mais conhecidos de McLuhan é "o meio é a mensagem". Para ele, o conteúdo de uma mensagem não tem uma grande importância. O meio muda mais do que a soma das mensagens incluídas nesse meio. As mesmas palavras ditas de forma presencial, impressas em papel ou apresentadas na televisão fornecem três mensagens diferentes. Oral, escrito ou eletrônico, o canal primário da comunicação molda o modo como entendemos o mundo. O meio dominante numa época domina as pessoas. A partir dessa ideia podemos entender os diversos paradoxos que envolvem a produção midiática e os fenômenos de recepção e das novas linguagens.  1. Paradoxo Fascinação versus Dispersão O fato de a televisão e o rádio terem sido as mídias de massa...

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