terça-feira, maio 25, 2021
A realidade paralela da psy op militar: a bomba semiótica 'Operação Pícaro'
domingo, maio 23, 2021
Live Cinegnose 360 #4: filmes, Psicanálise e Gnosticismo, efeito Heisenberg na CPI e Parapolítica
sábado, maio 22, 2021
Efeito Heisenberg na CPI: atirou no que viu, acertou no que não viu... e nem percebeu
Ao querer terceirizar as funções investigativas da CPI da Pandemia (ou do Genocídio?) para agências de checagem, o relator Renan Calheiros revelou a natureza midiocêntrica da Comissão: um grande efeito Heisenberg no qual prints de portais de notícias entram como “provas” e as “perguntas” dos senadores são na verdade longos discursos para gerar vídeos virais nas suas redes sociais. Não há nenhuma estratégia para cercar os depoentes com perguntas indiretas para induzi-los a contradições. Por isso, a CPI passou batida por duas verdadeiras confissões de culpa do ex-ministro Pazuello: justamente nos momentos em que ele ficou mais relaxado e desandou a falar, assumindo a persona de herói militar – orgulhoso, expôs a sua “missão cumprida” dentro da psy op da guerra semiótica criptografada militar. O orgulho de caserna do general falou mais alto. E a CPI atirou no que viu e acertou no que não viu... e nem percebeu!
quinta-feira, maio 20, 2021
Freud e Jung encontram-se com o Gnosticismo em 'Super Me'
A produção Netflix chinesa “Super Me” (“Qi Huan Zhi Lv”, 2019) é um didático exemplo da complexidade atual dos produtos de entretenimento, muito além dos algoritmos da plataforma de streaming. O filme acompanha um roteirista insone, sem sorte e quase um sem-teto. Até que descobre, nos sonhos, uma forma de trazer tesouros para o mundo real, tornando-se super rico. Porém, hedonismo e ressentimento poderão destruí-lo. Uma fantasia que combina realismo fantástico, romance e comédia com uma narrativa bem adaptada às exigências ideológicas do atual capitalismo chinês moderno e global. Porém, para não se tornar mais uma narrativa-clichê vazia, faz um mix de Jung e Freud dentro de uma cosmogonia PsicoGnóstica: somos prisioneiros nesse mundo e os sonhos seriam uma forma de libertação. Mas, em todos nós, há uma Sombra que sem misericórdia nos vigia e pune.
terça-feira, maio 18, 2021
Objetofilia: a atração amorosa por objetos como espírito do tempo em "Jumbo"
Uma francesa casou-se com a Torre Eiffel. Mais tarde, divorciou-se do famoso monumento e, atualmente, vive um relacionamento com um guindaste. Uma norte-americana casou-se com uma roda gigante na Flórida, depois de um longo namoro de décadas. Esse é a estranha subcultura do “objectum” ou “objetofilia”: pessoas atraídas amorosamente por objetos. O filme francês “Jumbo” (2020) se inspira nesse universo ao acompanhar uma jovem que se apaixona pela nova atração de um parque temático de um vilarejo: uma enorme roda giratória multicolorida em neon com cadeiras cheias de turistas aos gritos. Um filme estranho que mergulha no psiquismo do desejo e do erotismo com placas de metais e óleo viscoso. Como todo filme estranho, é um sintoma do atual zeitgeist: uma sociedade mercadologicamente organizada para explorar neuroticamente nossas fantasias e desejos mais profundos. No caso, o animismo do chamado “objeto transicional” descrito pela psicanálise de Winnicott.
segunda-feira, maio 17, 2021
Live Cinegnose 360 #3: aconteceu, apesar do Facebook
Apesar de um imprevisto no momento da transmissão no Facebook, aconteceu a “Live Cinegnose 360 #3”. Simplesmente a live programada na fanpage do Cinegnose não iniciava, obrigando esse humilde blogueiro a iniciá-la no perfil pessoal do Facebook. Mas não tem problema: para aqueles que perderam, a gravação está no Youtube (canal Wilson Ferreira), com minutagem na descrição. Ou assista aqui no blog.
Na pauta os seguintes temas: os filmes “Titãs” (uma terrível produção Netflix, mas que revela sintomas do atual espírito do tempo) e o cultuado “Bagdad Café” (1987), do diretor alemão Pery Adlon, filme que se tornou urgente três décadas depois; CPI da Pandemia (ou do Genocídio?) como show midiático dentro da estratégia de guerra semiótica criptografada; Receita para fazer uma Guerra Híbrida explicada para iniciantes; e, dando continuidade à discussão sobre Parapolítica da Live anterior, Semiótica da Macumba: bombas semióticas e Magia.
sábado, maio 15, 2021
É a CPI da Pandemia ou do Genocídio? Pouco importa, o show psy op tem que continuar
Desde o primeiro dia, todo dia, incansavelmente, o governo Bolsonaro opera a psy op da guerra criptografada: gerenciamento de informações caóticas, dissonantes, repletas de pseudo-eventos, não-acontecimentos, balões de ensaio, que depois são desmentidos, confirmados... ou não! Para a grande mídia transformar em narrativas episódicas, com ação, drama, indignação, num jogo de morde-assopra. Com a CPI da Pandemia (ou do Genocídio?) o show continua com um novo pseudo-evento: timing, sincronismos, conflitos de interesse e logística para a cobertura midiática tautista na qual repórteres viram protagonistas da própria notícia em matérias metalinguísticas (primeira evidência de um pseudo-evento). Para quê tudo isso? Seguindo a cartilha de Milton Friedman (Escola de Chicago), criar crises reais ou percebidas como reais para tornar politicamente inevitável a agenda neoliberal. No radar, a privatização do SUS.
sexta-feira, maio 14, 2021
Nesse domingo, Live Cinegnose 360: Filmes, receita de guerra híbrida e semiótica da macumba: bombas semióticas e magia
quinta-feira, maio 13, 2021
Mais de três décadas depois, 'Bagdad Café' revela um eterno-retorno sem solução
Assistir ao filme “Bagdad Café” (“Out of Rosenhein”, 1987), do diretor alemão Percy Adlon, nos remete a uma estranha sensação de nostalgia melancólica. É uma comédia dramática sobre encontros multiculturais e raciais num café e motel empoeirados e perdidos no meio do Deserto de Mojave. Um filme otimista sem ser agridoce sobre a possibilidade de que as diferenças culturais e raciais, num conjunto de personagens excêntricos e marginalizados pela sociedade, podem encontrar a redenção. Um microcosmo do mal-estar da subjetividade contemporânea sintetizada por personagens que representam todos nós: detetives, viajantes e estrangeiros, embalados pela música “Calling You”. Mais de três décadas depois, vemos que aqueles mesmos temas intensamente discutidos na década de 1980 continuam sem solução. E o que é pior: se transformaram em ferramentas para criar polarizações e dividir politicamente sociedades.
terça-feira, maio 11, 2021
Filme 'Titã': a patafísica tecnológica como sintoma do nosso tempo
“Titã” (“The Titan”, 2018) é um dos piores filmes que este humilde blogueiro já assistiu, com sérios problemas com o princípio básico de qualquer roteiro: verossimilhança e suspensão da incredulidade. E com um ator protagonista tão inexpressivo que os diretores insistem em transformá-lo em híbrido ou alienígena. Um filme destinado a ficar aninhado naquela lista do Netflix “Por que você assistiu...”. E por que este Cinegnose se interessou pela produção? “Titã” revela um sintoma do espírito do nosso tempo: o momento em que a tecnologia se torna tão hipertrofiada e invasiva que acaba inviabilizando as próprias finalidades para as quais surgiu para cumprir, cruzando um “vanish point”. É a patafísica dos sistemas, quando a tecnologia se torna non sense: a “hipertelia”. O nosso planeta está acabando. Temos que fugir para uma das luas de Saturno chamada Titã. Como salvar a humanidade? Resposta patafísica: deixando de ser humanos!
sábado, maio 08, 2021
Domingo, Live Cinegnose 360 #2: filmes, canastrice e ocultismo na política e bombas semióticas
Nesse domingo (09/05) acontece a segunda edição da “Live Cinegnose 360” que você acompanha no Facebook e aqui no blog. Esse humilde blogueiro trará a seguinte pauta: a série “Them”; o filme “Black Box”; a bomba semiótica da falsa capa do jornal The New York Times e a questão dos memes e guerra semiótica nas redes pelo ponto de vista da neurofisiologia; a canastrice na política: por que queremos acreditar em qualquer coisa?; e o conceito de Parapolítica: quando o ocultismo e o esoterismo se tornam ferramentas da política. Além dos últimos lances do xadrez da guerra híbrida brasileira. Fuja do tédio do final de domingo, com informação e conhecimento, na Live Cinegnose 360!
Live Cinegnose 360 no Fecebook: https://www.facebook.com/cinegnose/live/
Pauta da live desse domingo:
quinta-feira, maio 06, 2021
Bombas semióticas e neurofisiologia: falso The New York Times, Globo e Paulo Gustavo
As eleições de 2022 aproximam-se e as primeiras bombas semióticas começam a ser ensaiadas: a ressurreição na TV Cultura do, até então, esquecido programa Manhattan Connection (que virou “o gabinete do ódio do Dória”) e a falsa primeira página do New York Times que circulou nos perfis bolsomínios repercutindo as manifestações das camisetas verde-amarelas no primeiro de maio. As denúncias de agências de checagem e das mídias progressistas são inócuas e só reforçam os efeitos dessas bombas semióticas. Porque elas jogam no campo do automatismo da percepção do aqui e agora, o “acontecimento comunicacional”. Muito mais eficiente do que qualquer denúncia “a posteriori”. A neurofisiologia explica. Enquanto isso, a política do “morde-assopra” da TV Globo em relação a Bolsonaro ficou mais evidente em dois episódios: o mico do jornalista Álvaro Pereira Jr. e o obituário do comediante Paulo Gustavo.
quarta-feira, maio 05, 2021
'Black Box' e a endocolonização: 'Total Recall' se encontra com 'Corra' e 'Amnésia'
segunda-feira, maio 03, 2021
O ódio racial pós-moderno na série 'Them'
Seguindo a esteira do terror racial de Jordan Peele “Corra” e “Nós”, a série da Amazon Prime Video “Them” (2021-) converge o clássico gótico americano de Lovecraft com o, por assim dizer, “afrogótico”. Dessa vez a casa mal assombrada é uma típica casa de um subúrbio de classe média dos anos 1950, o paraíso idílico do sonho americano. Só que agora, ameaçado pela chegada dos Emory, uma família afro-americana em pleno bairro supremacista branco. Uma família ameaçada por dentro por fantasmas e uma maldição do passado puritano religioso, e por fora pelo ódio racial da vizinhança. Passado e presente são confrontados: na história, a metanarrativa bíblica justificando o racismo. E no presente, a desconstrução pós-moderna que destruiu os meta-relatos, como os da religião. Deixando aflorar a fina flor do ressentimento pós-moderno das sociedades meritocráticas de consumo. Que vai impulsionar o ódio racial, dessa vez sem mais rodeios ou filtros.
Primeira 'Live Cinegnose 360': xadrez da guerra híbrida, filmes gnósticos e bombas semióticas
sábado, maio 01, 2021
Nesse domingo, estreia a live do blog no Facebook: 'Cinegnose 360'
Neste domingo estreia a primeira live “Cinegnose 360” no Facebook, na página do “Cinema Secreto: Cinegnose”, blog que completará doze anos de existência nesse ano. Um olhar “360 graus” para a semana que passou, com informações e análise crítica. Sempre com o olhar gnóstico e transdisciplinar. No cardápio dessa estreia, vamos conversar sobre o grande vencedor do Oscar, “Nomadland”, o curta da semana “Coda”, os últimos lances do xadrez da guerra híbrida brasileira e geopolítica: o evento “Cyber Polygon” e o “Grande Reset Global. A guerra política semiótica brasileira, agora, no modo criptografado na fase “apito de cachorro”, como demonstrou o episódio da reunião vazada com as declarações de pornografia política explícita do ministro Paulo Guedes. A quem interessa “vazamentos” como esses? Ate lá!
quinta-feira, abril 29, 2021
Guerra semiótica criptografada: o 'apito de cachorro' de Paulo Guedes
Grande mídia exclama fazendo-se passar por inocente: “quem é essa gente?” A mídia progressista comemora: “um terremoto na abertura da CPI da pandemia!”. Em vídeo vazado, vemos um Paulo Guedes raiz falando em “vírus chinês” e reclamando que “todos querem viver 100 anos!”. E depois vem candidamente para as câmeras dizer: “não sabia que a reunião estava sendo transmitida...”. Esse governo se notabiliza por uma deliberada e metódica estratégia de “vazamentos”, desde a infame reunião ministerial de maio de 2020. É a guerra semiótica de informações criptografada, que agora entra na fase “apito de cachorro” com a proximidade das eleições de 2022: manter a fidelidade da sua base eleitoral fundamentalista que garanta o segundo turno para Bolsonaro. Para, depois, entrar em ação o expertise semiótico “alt-right” nas redes sociais.
terça-feira, abril 27, 2021
No vencedor do Oscar 'Nomadland', as estradas que nos levam a lugar nenhum
Um filme que começa pelo fim, assim como na cosmologia gnóstica: todos vivemos agarrados aos destroços do que sobrou da Criação que na verdade foi o Apocalipse. Uma cidade inteira acaba com o fim de uma fábrica. Uma viúva pega a estrada levando numa van tudo o que restou da sua vida, para conhecer a subcultura dos nômades: vítimas do desemprego, casamentos desfeitos, pensões que foram perdidas e valores familiares em colapso na esteira da Grande Recessão pós-2008. Vivendo em veículos e sobrevivendo em “bullshit jobs” do capitalismo de plataforma. Esse é o grande vencedor do Oscar “Nomadland” (2020). Um olhar de uma diretora estrangeira (Chloé Zhao) para aqueles que se sentem estrangeiros dentro do próprio país, em desérticas paisagens com estradas que levam a lugar nenhum – a melhor metáfora do atual espírito do tempo.
sexta-feira, abril 23, 2021
'Godzilla Vs. Kong': muito além da jornada do herói, por Claudio Siqueira
“Godzilla vs Kong” fecha(?) o universo compartilhado conhecido como “MonstroVerso”, numa tradução livre. Muito bem, cinegnósticos, vamos mostrar que o filme não é apenas o embate entre duas figuras mitológicas da cultura pop. Muito além da clássica Jornada do Herói, a trama é fundamentada no acróstico V.I.T.R.I.O.L., “Visita Interiora Terrae, Rectificando, Invenies Occultum Lapidem” que significa “Visita o Centro da Terra, Retificando-te, encontrarás a Pedra Oculta” (a Pedra Filosofal) - o caminho a ser trilhado pelos adeptos da Maçonaria, Rosa-Cruz, ordens templárias, thelêmicas ou quaisquer que trabalhem o hermetismo em geral.
terça-feira, abril 20, 2021
Curta da Semana: 'Coda' - por que a morte é impaciente?
Poucas produções fílmicas ou audiovisuais escapam da tradicional representação do pós-morte, como uma espécie de julgamento que poderá nos levar para o Céu ou Inferno, entre a punição e a gratificação. O curta de animação “Coda” (2013), de Alan Holly, nos oferece um olhar entre o esotérico e o gnóstico: embriagado após sair de uma balada, acompanhamos o protagonista distraído ser mortalmente atropelado para depois tentar fazer um acordo com a Morte, na sua tradicional representação sombria do Ceifador. Ele quer mais tempo, mas a Morte é impaciente. Para o quê? A resposta está entre o Budismo e o Gnosticismo, muito próximo ao ciclo vicioso da vida-morte-reencarnação que nos prende a esse mundo.
Passamos 1/3 das nossas vidas dormindo e sonhando, enquanto a morte nos rodeia a cada respiração, não importa o quão vigilantes sejamos – o destino é a nossa constante companhia, mas tentamos não pensar que num simples piscar de olhos a existência como a conhecemos pode desaparecer até o nada, levando-nos junto.
Por isso, é incrível como o sono e a morte sempre foram relegados na cultura ou a um segundo plano, ou simplesmente negados ou neutralizados. Sono e sonhos são racionalizados através da ciência (a “Ciência do Sono”) ou pela Psicanálise popular ou de autoajuda que promete decodificar os simbolismos dos sonhos. Enquanto a morte é ocultada por uma cultura da positividade da indústria da cosmética, da saúde e da eterna juventude cujas imagens promocionais celebrizam “idosos que nem parecem velhos”.
Quando a morte vira tema na cinematografia, ela é restrita aos cânones da moralidade religiosa, dentro da polaridade culpa/gratificação: ou encontra a punição pelos pecados ou a premiação pela boa índole e legado terrestre.
Poucas são as produções audiovisuais que escapam dessa polarização, buscando um viés mais esotérico, ou, por que não, gnóstico – o pós-morte não como a busca de punição ou redenção, mas de iluminação como caminho fuga da matrix terrestre.
O curta de animação Coda (2013, indicado ao Oscar de Melhor Curta de Animação em 2015) é um exemplo desse olhar alternativo para a morte. Dirigido por Alan Holly e produzido pelo estúdio irlandês And Maps And Plans, Coda nos mostra a tradicional representação icônica da morte como o Ceifador: uma figura esguia, envolta num manto negro aguardando o espírito se desfazer do corpo para capturá-lo e conduzi-lo, mesmo que seja a força. Para onde? Céu? Inferno? Algum Tribunal? Ou algum limbo entre a vida e a morte no qual o espírito pagará suas dívidas? Nenhuma dessas opções. Alan Holly e o co-roteirista Rory Byrne propõem uma abordagem mais esotérica, simultaneamente doce, triste e melancólica: o Ceifador quer apenas nos reconduzir de volta à esfera terrestre, nos preparando para a reencarnação.
O Curta
Coda acompanha alguém que está saindo de uma boate, bêbado e com um copo na mão. Distraído, atravessa a rua procurando em seus bolsos alguns trocados para pagar alguma coisa para comer no caminho de volta para casa. Até ser acertado em cheio por um carro, e jogado para longe até cair já sem vida.
Pessoas se reúnem em torno dele, enquanto seu espírito levanta e começa a vaguear pelas ruas às cegas, ainda sentindo os efeitos da embriagues. Sem saber que a Morte, uma figura alta, esguia e ameaçadora, já está no seu encalço.
Cansado de vagar sem destino, o protagonista entra num parque e senta-se num banco para descansar, quando a Morte também se senta ao seu lado. Assustado, as expectativas do protagonista são as piores possíveis. Ele implora por mais tempo e tenta negociar com aquela figura sombria e ameaçadora que o encara.
Com um estilo de animação minimalista, a música e até mesmo as vozes dos personagens passam uma sensação de tranquilidade ao longo dos 9 minutos de narrativa. A sensação inicial para o espectador é de felicidade e aceitação. Mas há uma melancolia e fatalismo sutis a partir do momento em que o espírito desencarnado do protagonista transforma-se em um bebê e o sombrio Ceifador em uma mãe que abraça amorosamente sua cria.
É o início de um aprendizado no qual o protagonista aceitará o seu destino: retornar à vida como um novo humano reencarnado. Ou não! O final ambíguo revela uma oposição entre as intenções do espírito convertido em bebê (ele sempre pede mais tempo para “relembrar” de sua existência terrena – por quê não conversava com seu avô, por exemplo), enquanto a Morte, impaciente, sempre fala “agora”, como se quisesse levá-lo definitivamente para a inexistência.
Numa leitura budista, o protagonista está experimentando o seu “Bardo”: estados de existência dentro do fluxo contínuo da vida, da morte e da reencarnação. Palavra tibetana que quer dizer “transição” ou “intermediário”. A apresentação mais simples no livro budista tibetano Bardo Thodói (“Libertação do Estado Intermediário”), conhecido também como “Livro Tibetano dos Mortos”, descreve quatro bardos: o da vida, o do momento da morte, o bardo da vacuidade (a consciência fundamental da luz do próprio espírito) e o do renascimento.
Mas para o Gnosticismo, o bardo da vacuidade é o mais importante – após a morte vivemos as ilusões cármicas: o conteúdo da mente é projetado, tornando-se visível como num sonho.
Criamos uma tela mental com imagens em fluxo dentro do qual a vida parece continuar em outra dimensão, e nos perdemos na confusão entre a realidade e as alucinações. Sem lucidez, o “sonhador” não consegue se abrir à realidade dos mundos para além dos sonhos e nem para a própria luz espiritual. Perde-se num padrão repetitivo, para renascer e continuar o mesmo padrão sem autoconsciência ou auto distanciamento – a “gnosis”.
“Coda” (traduzido do italiano para o português significa “cauda”) é a seção em que termina uma música, na qual o compositor utiliza ideias musicais já apresentadas durante a composição. Na animação, é a representação do senso comum de que no momento transitório entre a vida e a morte é como se assistíssemos a uma espécie de “vídeo-clip” com os momentos mais importantes da nossa vida terrena.
Mas do ponto de vista gnóstico, seria uma tela mental (ou um “air bag” emocional criado pela nossa mente) na qual imergimos inconsciente no fluxo de imagens, sem conseguir o auto distanciamento necessário para escaparmos da ilusão. Até sermos capturados pelo “Ceifador” ou a “Morte” personificada pelo ícone tradicional na animação. Na mitologia gnóstico, um Arconte (“Archon”), entidade “demoníaca” (na verdade, seres criados juntamente com o mundo material subordinada a divindade chamada Demiurgo) que bloqueia o caminho da elevação espiritual após a morte através dos diversos “céus”, mantendo-nos prisioneiros ao mundo material.
Ou mais precisamente, aos Bardos que compõem os sucessivos estados do fluxo de vida-morte-reencarnação. Submetido ao esquecimento: o protagonista tenta lembrar-se, recordar, diante da Morte impaciente que quer levá-lo o mais rapidamente possível.
Ficha Técnica |
Título: Coda (Curta de animação) |
Diretor: Alan Holly |
Roteiro: Alan Holly, Rory Byrne |
Elenco: Joseph Dermody, Orla Fitzgerald, Brian Glesson |
Produção: And Maps And Plans |
Distribuição: The Criterion Channel (digital) |
Ano: 2013 |
País: Irlanda |
sexta-feira, abril 16, 2021
Guerra Híbrida: engenharia do caos cria o pseudo-evento da 'Vacina Prozac'
quarta-feira, abril 14, 2021
Experiência sensorial e anomalias telefônicas na série 'Calls'
quinta-feira, abril 08, 2021
A gnose junguiana na tela mental dos sonhos no filme 'Come True'
Imagine combinar o clássico “A Hora do Pesadelo” com o filme “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças”, de Michel Gondry. Tudo numa atmosfera com referências a “O Iluminado” de Kubrick e plot twist ao estilo dos filmes de M. Shyamalan. E para completar, alusões aos conceitos junguianos de Persona, Anima e Animus, Sombra e Self. Teremos como resultado o ambicioso filme do cineasta canadense Anthony Scott Burns “Come True” (2020): uma jovem está imersa em um sonho ativo, no qual as fronteiras entre o onírico e o real estão desaparecendo até se transformar em cobaia de uma pesquisa de ponta em um laboratório do sono de uma universidade. Os sonhos são dotados de complexos mecanismos para nos manter inconscientes no interior de um fluxo onírico, sem conseguirmos nos auto observar e alcançar as camadas mais profundas do nosso Self – a iluminação interior. “Come True” é uma jornada de gnose junguiana: superar a Sombra ao alcançarmos um nível meta na tela mental que sempre criamos para nós mesmos.