quinta-feira, julho 12, 2018
Frankenstein, Inteligência Artificial e pós-feminismo em "Desejos Virtuais"
quinta-feira, julho 12, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Esse é outro filme para cinéfilos que adoram se aventurar por filmes
estranhos. Dessa vez, para aqueles que acreditam que por trás do senso de humor
trash de filmes que aparentemente não se levam à sério há importantes temas para
serem discutidos. “Desejos Virtuais” (“Teknolust”, 2002) é um filme que reflete
todo o ciber-imaginário pós-humanista (com motivações místicas) e do velho
conceito de Inteligência Artificial (que ainda tentava emular a inteligência
humana) por trás da antiga Web 1.0. Uma bio-geneticista clona seu próprio DNA
em três mulheres “Autômatos Auto Replicantes” (SARs) que habitam um site da
Internet. Porém, necessitam de constantes quantidades de cromossomo Y presente
no sêmen humano. Uma delas deve se aventurar no mundo real para, através de
sexo casual em bares locais, obter preservativos usados que servirão de sachês
que serão consumidos pelas SARs. Frankenstein de Mary Sheeley se encontra com o
psicodelismo de Timothy Leary e o pós-feminismo de Camile Paglia.
terça-feira, julho 10, 2018
Moro e Neymar: a vaidade é o pecado favorito do Diabo
terça-feira, julho 10, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em 72 horas os maiores investimentos semiótico-ideológicos da grande
mídia foram desconstruídos: Sérgio Moro e Neymar Jr. O primeiro caiu na
armadilha do habeas corpus que supostamente iria soltar Lula. E o segundo, na
arapuca tautista midiática que fez o jogador acreditar que era intocável, até a
viralização do mote “cai-cai” em vídeos pelo mundo eliminá-lo junto com a Seleção. Duas
bombas semióticas: uma intencional (o objetivo não era soltar Lula, mas criar
um fato político para o mundo) e outra involuntária (efeito da blindagem
tautista da mídia e mercado publicitário). Al Pacino fazendo o papel do próprio demônio em “O Advogado
do Diabo” tinha razão: “a vaidade é meu pecado favorito...”. A vaidade dos juízes e do
jogador deixou-os cegos. A mídia sentiu o golpe: enquanto o Fantástico teve
que se desfazer de Neymar (“hoje não se tolera mais ludibriar o juiz”, fuzilou Tadeu Schmidt), Globo News começou a falar em “instabilidade jurídica” e
“politização do Judiciário”. Bombas semióticas perfeitas que produzem efeitos
fatais: detonação, letalidade, impasse midiático e dissonância cognitiva.
domingo, julho 08, 2018
Curta da Semana: "Craig's Pathetic Freakout" - quando "Show de Truman" se aproxima da maconha
domingo, julho 08, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
E se ao invés de cerveja, o amigo Marlon desse a Truman um cigarro de
maconha para tentar acalmar suas crises paranoicas sobre as
suspeitas de que sua vida era um programa de TV? Será que Truman ficaria
“anestesiado” ou chegaria mais rapidamente à verdade no filme “Show de Truman?”. O curta “Craig’s Pathetic Freakout” (2018), de Graham Parkes, levanta essa
curiosa questão de cinéfilo – Craig é um cara orgulhoso demais para aceitar que
não pode lidar bem com drogas. Fuma uma erva e começa a ficar paranoico,
acreditando estar dentro de um filme. Ficção e realidade se misturam num
curioso exercício metalinguístico e de narrativa em abismo – um filme dentro de
um filme. E, como toda metalinguagem no cinema e audiovisual, trás um sabor
gnóstico: e se a realidade for também um filme dirigido por alguém muito louco?
sábado, julho 07, 2018
Por que o Brasil não podia ser campeão?
sábado, julho 07, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A máquina semiótica da Guerra Híbrida faz nesse momento um pesado
investimento ideológico para justificar os efeitos do atual modelo neoliberal
imposto ao Brasil: crise, desemprego e precarização do trabalho, no qual
milhões de desempregados foram promovidos repentinamente a “empreendedores”. E no rescaldo da
eliminação do Brasil diante da Bélgica na Copa da Rússia está
sendo mobilizado uma operação de emergência para salvar o alto investimento
semiótico-ideológico feito no futebol pela grande mídia e mercado publicitário:
salvar Tite e Neymar e colocar em ação o tradicional sacrifício do bode
expiatório – o volante Fernandinho. Por que? Ao contrário do “pão e circo” que
cercava o futebol nos anos da ditadura militar, hoje a função é mais
sofisticada: a de “cimento ideológico” através de um discurso
mérito-empreendedor no qual Tite é o maior garoto-propaganda. Enquanto isso,
Neymar é o reflexo da “commoditização” do futebol brasileiro: jogadores
exportados com baixo grau de transformação para, nos clubes europeus, se
transformarem em “craques-commodities” de alto valor agregado. Mas cronicamente
disfuncionais em suas seleções de origem.
sexta-feira, julho 06, 2018
O pesadelo tecnognóstico na série "Altered Carbon"
sexta-feira, julho 06, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O sonho tecnognóstico por séculos, desde a Teurgia e Alquimia, foi
transcender a matéria – abandonar os nossos corpos como condição para a
verdadeira evolução espiritual. Mas como Santo Irineu de Lyon alertou no século
II, “O que não é assumido não pode ser redimido”. E o sonho milenar pode se
transformar em pesadelo com uma tecnologia que promete a imortalidade: a
consciência digitalizada em “pilhas cervicais” que podem, a qualquer momento,
serem transferidas para qualquer corpo (ou “capa”). Mas isso acabou provocando
uma sociedade tremendamente desigual e violenta. Essa é a série Netflix
“Altered Carbon” (2018-), um cyberpunk-noir que suscita profundas reflexões
teológicas: se pudermos ser ressuscitados após a morte em uma nova “capa”, a
alma persistirá entre os códigos que transcreveram nossa consciência e
memórias? Ou nos transformaremos em “capas” ocas manipuladas por uma elite
amoral? Uma elite que alcançou a verdadeira imortalidade – fazer backups da
própria consciência via satélite.
quarta-feira, julho 04, 2018
Globo cria "crocodilo napolitano" na Copa da Rússia
quarta-feira, julho 04, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em 2009 o jornal inglês “The Telegraph” contou a pitoresca história de
um mafioso napolitano que ameaçava comerciante locais com um imenso crocodilo.
Qualquer um deles poderia ser a próxima refeição do bicho se não lhe pagasse
proteção. É melhor ser temido do que amado, como afirmava Maquiavel? Depois de
pouca mais de uma década de pauta diária com Mensalão e Lava jato, intimidação
virou um “modus operandi” tautista da Globo. Traquejo tão natural que até invadiu outras editorias. Assim como a hábito do cachimbo entorta a boca. Até
na cobertura da Copa da Rússia. Às vésperas do jogo das oitavas do Brasil contra
o México, a Globo colocou sob suspeita o árbitro italiano em possíveis
conspirações no VAR (árbitro de vídeo) e, de quebra, requentou notícia antiga
sobre suposto envolvimento de jogador mexicano com cartéis de drogas. A Globo
apresentou o juiz e o jogador para o seu “crocodilo napolitano” intimidando-os
caso se intrometessem em seus interesses? Na verdade a mensagem da Globo não
foi para nenhum dos dois. Foi para os seus potenciais inimigos internos.
Principalmente porque, ao contrário da Copa de 2014, agora o sucesso da Seleção
é estratégico para Globo e mercado publicitário.
segunda-feira, julho 02, 2018
Perdido no labirinto da Inteligência Artificial em "Lunar"
segunda-feira, julho 02, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
No filme “2001” de Kubrick o computador HAL 9000 queria matar toda a
tripulação da nave Discovery a caminho de Júpiter. Já no filme de estreia do
diretor Duncan Jones, “Lunar” (“Moon”, 2009), o computador Gerty de uma estação
lunar automatizada é mais amigável, sempre com um “smile” no monitor. Mas não
menos perigoso: ele representa o atual estágio algorítmico da inteligência
artificial – sempre com uma voz amigável, é como se jogasse migalhas de pão em
um labirinto para que o sigamos. Até nos perder de nós mesmos e esquecermos do
que foi um dia a noção de “inteligência humana”, envolvidos que somos em bolhas virtuais
que acreditamos ser a realidade. É o que acontece com Sam Bell em “Lunar” - um
solitário astronauta em uma estação lunar de mineração que, após três anos na
Lua, espera o final do contrato de trabalho com uma empresa, para retornar à
Terra. Mas seu único companheiro, o computador Gerty, criou o seu próprio
labirinto para Sam se perder.
quinta-feira, junho 28, 2018
O Mal está na crueldade cotidiana no filme "Experimentos"
quinta-feira, junho 28, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A velha questão permanece: como são possíveis holocaustos e genocídios,
sistemática e profissionalmente organizados seja na guerra ou em sistemas
metódicos cotidianos? Quem são essas pessoas que executam as ordens? Burocratas
que apenas obedecem superiores ou monstros frios e maus? No filme
“Experimentos” (“Experimenter”, 2016), sobre os célebres experimentos sobre
autoridade e obediência realizados pelo psicólogo social Stanley Milgram em
1961, a resposta é paradoxal: nem uma coisa e nem outra, intuiu Milgram. Para
entender o jogo da autoridade que cria ilusões, somente criando uma outra
ilusão: uma experiência de simulação no qual o voluntário era colocado em um
dilema moral – é possível obedecer ordens mesmo que confrontem convicções
íntimas? “Experimentos” mostra como o insight gnóstico muitas vezes está
presente na Ciência: a ilusão pode definir um cenário no qual a verdade pode
ser revelada – a “banalidade do mal”, que é mais cotidiana do que podemos
imaginar.
domingo, junho 24, 2018
Neymar + efeito Heisenberg = outro ovo da serpente chocado
domingo, junho 24, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Observe leitor a fotografia que abre essa postagem. Ela poderá explicar
bastante o futuro que talvez esteja reservado para a Seleção brasileira nessa
Copa. A imagem mostra Neymar Jr. correspondendo às câmeras em um flagrante do
chamado “efeito Heisenberg” midiático – o jogador tenta criar algum tipo de empatia
após desfilar, nos minutos anteriores ao achar que estava tudo perdido,
arrogância e xingamentos que sobraram até mesmo para o próprio capitão do time,
Thiago Silva. O mesmo efeito Heisenberg (no qual a mídia transmite nada mais do
que os próprios efeitos que ela cria ao cobrir eventos) que levou o Brasil às
cordas frente à Alemanha em 2014 (choros, hinos a capela, etc.), agora leva
sincronicamente o dublê de técnico e pastor motivacional Tite e o astro Neymar
Jr. ao chão: um tropeço e logo depois o choro como marcas publicitárias. Assim
como muitos outros ovos de serpente chocados nos anos de neodesenvolvimentismo
dos governos petistas, Neymar Jr. é mais um. Com a leniência da grande mídia e
do mercado publicitário.
sexta-feira, junho 22, 2018
Em "Rebirth" a liquefação das seitas no marketing e nas empresas
sexta-feira, junho 22, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A produção Netflix “Rebirth” (2016) é mais uma dentro da recente onda
de filmes sobre seitas ou cultos. Aos fazer constantes alusões a clássicos como
“Vidas Jogo”, “Clube da Luta” e à série “Black Mirror”, o filme em alguns momentos
torna-se previsível. Mas a grande virtude de “Rebirth” é mostrar como na
atualidade as seitas estão se “liquefazendo” – deixam de serem exclusivas a
grupos sectários místicos ou religiosos para se tornarem ferramentas
motivacionais nas empresas, marketing e estratégia de vendas. Técnicas de
manipulação como “breaking sessions”, “temor e intimidação”, “controle do
tempo”, “love bombing” etc. integram-se ao cotidiano de empresas e marketing de
rede. Enquanto assistimos na TV notícias sobre líderes malucos que levam grupos
ao suicídio, sem sabermos podemos estar trabalhando agora mesmo em uma seita.
domingo, junho 17, 2018
Terço abençoado pelo Papa faz agência de checagem Lupa exigir "Deus ex-machina"
domingo, junho 17, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Parido pela guerra híbrida (que em uma das suas etapas criou a base
etnográfica de jovens neoconservadores através da confluência entre mídia e
universidades privadas), o jornalismo hipster costuma reciclar velhas ideias
por meio de eufemismos embalados em high tech. Agora é o “hip” das fake news e “agências
checadoras”, com nítidos conflitos de interesses, sob o frisson de algo tão
antigo quanto o jornalismo: as notícias falsas. A polêmica criada pela Agência
Lupa em torno de um prosaico terço benzido pelo Papa Francisco para ser
entregue a Lula revelou o quanto são arbitrárias as “etiquetas de checagem”
supostamente técnicas e objetivas. Quando colocadas em xeque por desmentido de
um site de notícias do Vaticano, a Lupa recorreu a um quase literal “Deus ex-machina”
(velho truque de roteiros de cinema mal feitos): “então, que o Vaticano ou o
próprio Papa façam um “posicionamento oficial” para que a agência ponha a
etiqueta “Verdade!”, exigiu a agência em
esclarecimento. Mesmo preso, Lula ainda não sai da cabeça da Direita. Porque
algo falhou na narrativa imposta pós-impeachment: não foi entregue o
crescimento econômico prometido. Resta à grande mídia requentar um prato frio: mais uma vez bater em Lula.
E ensaiar uma nova forma de censura à mídia independente.
quinta-feira, junho 14, 2018
Copa do Mundo na Rússia enfia grande mídia em dupla saia justa
quinta-feira, junho 14, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Definitivamente essa é uma Copa
do Mundo curiosa: a grande mídia está nesse momento lidando com uma dupla saia
justa. De um lado, o risco de humanizar demais os russos. Afinal, tanto o
cinema como o jornalismo os celebrizaram como “RAVs” (Russos, Árabes e Vilões
em geral) – terra dos soviéticos, comunas, terroristas e hackers que mudam
resultados eleitorais de outros países. Como cobrir a Copa, evitando que eles
pareçam gente como a gente? E do outro lado, o recorde de desinteresse dos brasileiros
com o evento, divulgado pelas últimas pesquisas. Ainda o rescaldo do tiro no pé
do “Não vai ter Copa!” de 2014 e numa situação em que os brasileiros estão
pensando muito mais na própria sobrevivência. Por isso, assistimos ao esforço em
vinhetas e chamadas na TV para didaticamente tentar ensinar ao brasileiro que ele
é torcedor! E promover os jogadores (tão “alienígenas” quanto os russos) a
modelos mérito-empreendedores de sucesso para motivar a massa deprimida a sair
do buraco.
quarta-feira, junho 13, 2018
Cinegnose discute bombas semióticas e guerra híbrida na FACIP/Universidade de Uberlândia
quarta-feira, junho 13, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Na noite da última quinta-feira, 07/06, no Anfiteatro I do Bloco B da Faculdade
de Ciências Integradas do Pontal/UFU – Universidade de Uberlândia – este humilde
editor do “Cinegnose” ministrou a palestra de abertura do Curso “O Golpe de
2016 e o futuro da democracia”. “Guerra Híbrida e Bombas Semióticas” foi o tema
discutido depois que esse blogueiro estoicamente enfrentou o pânico de avião. A
contribuição que a Semiótica e as ciências da comunicação podem dar como
ferramenta para dissecar a ação da grande mídia na guerra híbrida e as
detonações das chamadas “bombas semióticas” que transformam opinião pública em “clima
de opinião”. E também como referência para ações anárquicas anti-mídia, tendo
em vista a centralidade da grande mídia e da judicialização da vida pública
brasileira.
domingo, junho 10, 2018
Mulheres com testosterona demais para fazer Ciência em "Aniquilação"
domingo, junho 10, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O que de imediato é notável em “Aniquilação” (“Annihilation”, 2018) é o
elenco de protagonistas totalmente feminino e alusão à ficção científica
soviética de “Stalker” do mestre Andrei Tarkovsky. Mas estamos numa produção
hollywoodiana de um estúdio traumatizado com o fracasso do filme “Mãe!” no ano
passado – uma reflexão gnóstica e metafísica fora da curva. Por isso, o que era para seguir uma reflexão
metafísica (a queda de um meteoro cria uma área de distorção magnética e
biológica que se expande), resultou em um sci-fi com mais armas e militares do
que Ciência e Filosofia. Um grupo de cientistas forma uma expedição para tentar
desvendar o enigma da “Cintilação”. Mas elas passam a maior parte do tempo
dando tiros. Mulheres com testosterona demais para fazer Ciência.
quarta-feira, junho 06, 2018
Editor do Cinegnose abre curso sobre "Golpe de 2016" na Universidade Federal de Uberlândia
quarta-feira, junho 06, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Este
humilde blogueiro fará nessa quinta-feira, 07/06, a palestra de abertura do
curso “O Golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil” na Universidade
Federal de Uberlândia (UFU), Campus Pontal, em Ituiutaba, Minas Gerais.
O tema será “ “Guerras Híbridas e
Bombas Semióticas midiáticas: por que aquilo deu nisso?". O evento começa às
19 horas no Anfiteatro I, Bloco B, FACIP/UFU.
O evento não será
transmitido ao vivo. Porém, será gravado e disponibilizado posteriormente on line. Tão logo seja disponibilizado,
o Cinegnose divulgará o vídeo para os
leitores.
A palestra
A palestra pretende descrever como foi possível uma ação midiática organizada ter não só
desestabilizado um governo para jogar o País numa surreal crise política, mas
também ter envenenado psiquicamente a esfera pública de opinião, travando o
debate político racional pelo ódio e intolerância.
Através da articulação dos conceitos de “Bomba Semiótica” e
“Guerra Híbrida” podemos entender os momentos em que a grande mídia nacional
interveio politicamente, desde o golpe militar de 1964 até os atuais movimentos
táticos da Guerra Híbrida. Como se forma uma engenharia de opinião pública e as
possíveis táticas de “guerrilha antimídia”.
Os efeitos socialmente letais daquilo das “bombas semióticas” dentro de
uma guerra geopolítica mais ampla – a “Guerra Híbrida”, nesse momento
impactando o contínuo midiático nacional e por trás das diversas “primaveras”
que rondaram o planeta nos últimos anos.
E também uma avaliação das oportunidades de contra-hegemonia perdidas e
a possibilidade de uma guerrilha semiótica anti-mídia. Mas, principalmente,
entender: afinal, por que aquilo deu nisso?
Para acessar a programação completa do curso, clique
aqui.
domingo, junho 03, 2018
Curta da semana: "The Cut-Ups" - o filme que fez pesoas fugirem desorientadas do cinema
domingo, junho 03, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Esse curta metragem é para cinéfilos aventureiros e corajosos. Numa
parceria entre o escritor norte-americano “beatnik” William Burroughs e o
distribuidor de filmes de terror B Anthony Balch, o curta “The Cut-Ups” (1966)
foi exibido por duas semanas em Londres naquele ano, causando uma
“desorientação de sentidos” na plateia pega de surpresa. Pessoas corriam da
sala de projeção largando seus pertences, com sensações de náusea, nojo e desorientação.
Burroughs conhecia a técnica dadaísta do “cut-up” (recorte) de justaposição
aleatória de recortes. Então, o escritor resolveu aplicar em outras mídias como
fitas de áudio e cinema. Para ele, a
técnica (muito usada depois por compositores do rock como David
Bowie) ajudaria a nos libertarmos das formas de controle da linguagem que nos
tranca em formas tradicionais de pensamento. Seria a saída para uma questão
semiótica: se o que chamamos de real é apenas o signo do real, o que existe lá
fora, para além dos signos?
sábado, junho 02, 2018
Toda a democracia que o dinheiro pode inventar em "Terra Prometida"
sábado, junho 02, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Era para ser mais uma operação comercial de rotina: convencer os
moradores de uma pequena cidade a venderam suas terras para uma grande
corporação extrair gás natural sob a cidade, por meio de uma técnica de alto
risco ambiental. Mas tudo se complica quando um professor mostra para os
moradores evidências de catástrofes ambientais ocorridas anteriormente: envenenamento do
gado e das águas. E para complicar, chega na cidade um ativista ambiental que
rastreia as atividades escusas da empresa. Além disso, a tensão cresce com a
proximidade do dia da eleição na qual os moradores devem decidir se aceitam a
oferta de compra. “Terra Prometida” (Promised Land, 2012) de Gus Van Sant
discute até que ponto a opinião pública se confunde com propaganda – as
modernas estratégias de engenharia de opinião pública na qual as grande
corporações têm gigantescos interesses financeiros. Muito dinheiro para ficarem
à mercê do imponderável dos resultados eleitorais. Quanto dinheiro é necessário
para simular uma discussão pública e democrática? Confrontado com a atual crise
política brasileira, fruto da guerra hibrida e geopolítica do petróleo, “Terra
Prometida” dá no quê pensar...
quinta-feira, maio 31, 2018
A "Nova Ordem" do bullying e intolerância no filme "Klass"
quinta-feira, maio 31, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A princípio, o filme estoniano “Klass”(2007) é mais um filme sobre
assassinatos seriais em escolas, na linha de “Elephant”, “Tiros em Columbine”
ou “Precisamos Falar Sobre Kevin”. Também baseado em um incidente real, “Klass”
se esforça em não ser mais um filme “sobre” violência escolar, mas procura
falar “da” violência, sem estilização tradicional do tema – fetichização das
armas e atiradores vestidos com trajes snipers negros. Formado por um cast de
atores amadores e não-atores, “Klass” arranca performances espontâneas e
brutais sobre a história de Joosep, vítima de bullying e desprezo de uma classe
que cria um mundo fechado. Incompreensível para adultos preocupados com seus
próprios afazeres. “Klass” vai ao fundo psicológico do nascimento do extremo desejo
de vingança: uma Nova Ordem na qual família e escola pouco significam ou
compreendem um movimento que está muito além da Razão: uma secreta aliança
entre Id e Superego – autoritarismo aliado ao prazer sadomasoquista. Filme sugerido pelo nosso onipresente leitor Felipe Resende.
domingo, maio 27, 2018
O roteiro da greve dos caminhoneiros: um filme já visto?
domingo, maio 27, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Se a política é a continuidade da guerra por meios semióticos, então a
atual crise provocada pela greve dos caminhoneiros deve ser analisada dentro de
dois princípios de engenharia de opinião pública: clima de opinião e espiral do
silêncio - criar atmosferas difusas de medo, pânico, emergência, instabilidade.
Para construir uma conjuntura política visando efeitos imediatos e de médio
prazo. E sempre o petróleo como pivô. Greve de caminhoneiros é um filme já
assistido em momentos de instabilidade política e social que antecedem golpes
políticos (João Goulart em 1964 e Allende no Chile em 1973, por exemplo). Em
muitos aspectos o script da greve que atinge todo o País é idêntico ao das
“Manifestações pelos 20 centavos” de 2013: “espontaneidade”, suposta organização
horizontal, redes sociais etc. Mais uma ação de guerra híbrida para melar as
eleições? Para criar comoção pública que justifique intervenção e adiamento das
eleições? Para, na falta de um candidato competitivo da situação, ganhar tempo
para a realização da agenda neoliberal de privatizações?
sábado, maio 26, 2018
O Capitalismo se desmancha no ar no filme "Fome de Poder"
sábado, maio 26, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Tudo que era sólido se desmancha no ar”, dizia Karl Marx sobre o poder
do Capitalismo revolucionar incessantemente seu modo de produção. “Fome de
Poder” (The Founder, 2016) descreve como um vendedor ambulante de mixer para milk
shakes chamado Ray Kroc encontrou no gênio dos irmãos McDonald muito mais do
que uma revolucionária linha de montagem de hambúrgueres. Viu nos arcos de uma
loja dos irmãos algo além de um mero detalhe arquitetônico: vislumbrou a
máquina semiótica de produção de marcas e símbolos como uma nova força
produtiva do Capitalismo que não oferece mais produtos tangíveis. Consome-se
uma fé, uma ideia ao invés de um hambúrguer que se desmanchou no ar – pouco
importam as suspeitas sobre a procedência das batatinhas fritas ou da carne do
Big Mac. Ray Kroc fez o mundo consumir muito menos um sanduíche do que a marca
e um sistema de conveniência.
quarta-feira, maio 23, 2018
Os fantasmas daquilo que esquecemos no filme "Radius"
quarta-feira, maio 23, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um homem acorda sem memórias após um acidente automobilístico. Na
medida em que vaga pela estrada em busca de ajuda, vê pessoas e animais caindo
mortos na sua frente. Ao mesmo tempo, flashs de fragmentos de lembranças
aparecem involuntariamente, mostrando que ele está em meio a um gigantesco
quebra-cabeças. Tudo lembra a atmosfera dos episódios da série clássica “Além
da Imaginação”. Mas estamos diante da nova safra de filmes de ficção-científica
independente, onde nunca sabemos o que vamos encontrar pela frente. É um
sci-fi? Um thriller sobre ataques terroristas? Ou uma discussão metafísica
sobre a responsabilidade sobre atos de um passado do qual não lembramos? O
filme canadense “Radius” (2017) eleva os temas gnósticos da “amnésia” e do “detetive”
(aquele que tenta solucionar um enigma) para um novo patamar: sempre tentamos
reunir cacos de um mundo desmoronando, sem saber que o enigma que buscamos desvendar
tem a ver com nós mesmos – o passado esquecido que vem cobrar responsabilidades,
culpas ou contas a acertar.
sábado, maio 19, 2018
A guerra semiótica calça chuteiras para a Copa 2018
sábado, maio 19, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Para quem ainda duvida e acha que guerra híbrida e bombas semióticas não passam
de “teoria da conspiração”, uma simples comparação entre as peças publicitárias
que promoviam a Copa de 2014 e a desse ano, na Rússia, põe fim a qualquer
dúvida: enquanto a Copa no Brasil foi dominada por criações publicitárias para
lá de polissêmicas (ambiguidade entre festa e agressividade, alegria e raiva,
em consonância com a pesada atmosfera das manifestações do “Não Vai Ter Copa!”
+ Lava Jato), nesse ano a publicidade é bem diferente: uníssona e assertiva - a
Nação deve ficar unida, esquecer as diferenças e torcer pela Seleção. Em 2018 a
Guerra Semiótica veste as chuteiras cumprindo duas funções: a primeira
política, pacificar as ruas com a ideia de união e nação; e no campo ideológico,
enfiar goela abaixo da choldra as preleções de Tite, misto de “coaching” e
pastor motivacional. Para nos fazer acreditar que desemprego não é crise. É
oportunidade para virarmos todos empreendedores. Mas, e se algo sair fora do
script? Então teremos um “Plano B” cujos balões de ensaio já estão sendo
lançados.
domingo, maio 13, 2018
Cigarros e niilismo gnóstico no filme "Lucky"
domingo, maio 13, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um homem solitário e ranzinza confronta a chegada da morte. Com quase
90 anos, ele segue uma rotina espartana: faz alguns exercícios de ioga pela
manhã, depois pega o chapéu e caminha através de uma paisagem árida de cactos
numa cidadezinha no meio do nada. Trava conversas aleatórias sobre religião,
filosofia, moral, game shows da TV, saúde e a morte numa cafeteria e num bar.
Enquanto fuma muitos, muito cigarros. E entre seus interlocutores está o famoso
diretor David Lynch, que faz um homem que tem uma tartaruga chamada “Presidente
Roosevelt”. Esse é o filme “Lucky” (2017) sobre um protagonista ateu que entra
na lista de produções sobre personagens excêntricos de uma América profunda.
Mas Lucky tem um ateísmo de natureza muito especial – é dotado de um niilismo
gnóstico. Ele não crê num propósito ou sentido para a vida. Pelo menos, não
para esse mundo.
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