sexta-feira, abril 08, 2011
Mídia tenta racionalizar a presença do Mal no Massacre em Realengo
sexta-feira, abril 08, 2011
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Diante do massacre de adolescentes cometido por um jovem armado com dois revólveres em uma escola do bairro do Realengo no Rio de Janeiro (um fato tão cruel, arbitrário e aparentemente sem sentido), a mídia tenta buscar uma causa lógica. Como sempre, o que a mídia chama de informação é, na verdade, a tentativa de encaixar fatos tão irredutíveis a “plots” ou “roteiros” pré-estabelecidos. Tenta expurgar a presença do Mal na realidade. Porém, uma criminologista e um antropólogo foram vozes alternativas dentro dessa estratégia midiática de dissuasão.
Um psiquiatra forense vai à TV e declara que o atirador sofria de “cisão mental”; o jornal Folha de São Paulo on line informou que “irmã do atirador diz que ele era ligado ao Islamismo e não saia muito de casa” (07/04/2011 às 10h53); o site do Jornal Extra das Organizações Globo às 11h37 do mesmo dia noticiou que o atirador “se interessava por assuntos ligados ao terrorismo”; em vários telejornais do dia pessoas próximas ao atirador declararam que ele era “fechado” e “só vivia na Internet”.
Por todos os lados vemos o tradicional esforço midiático para, diante da irrupção de fatos irracionais, aleatórios ou arbitrários, racionalizar ou dar algum sentido para o fato, muitas vez de forma atabalhoada (vide o caso da “barriga” jornalística do cão caramelo na tragédia nas serras fluminenses). Psicólogos e especialistas são mobilizados em cima da hora para tentar dar uma explicação lógica diante das câmeras. Quase sempre esses especialistas mal conseguem esconder a perplexidade (com os olhos “vidrados” para as câmeras) e a cara de surpresa enquanto se esforçam em teorizar falando o óbvio.
Motivos místico-religiosos? Internet? Esquizofrenia? Um nerd que fazia pesquisas sobre bombas, armas e islamismo na Internet?
Porém, duas vozes escaparam desse rolo compressor racionalizante que pretende neutralizar a presença do Mal: a criminóloga Ivana Casoy e o antropólogo Roberto Albergaria (Doutor em Antropologia pela Universidade Paris VII).
Em uma entrevista na bancada do Jornal Hoje Ivana tentou associar essa tragédia a um fenômeno de “globalização”. Não conseguiu desenvolver mais o raciocínio porque os entrevistadores estavam ávidos por uma descrição do “perfil de uma mente criminosa”.
domingo, abril 03, 2011
Para Cada documentário como “Trabalho Interno”, Hollywood responde com vários “Sem Limites”
domingo, abril 03, 2011
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O filme “Sem Limites” (Limitless, 2011) a princípio representa uma reação ideológica à tendência de documentários críticos à financeirização global trazida pelo modelo neoliberal ao narrar a estória de um protagonista “neuro-yuppie” (legítimo representante da chamada “Geração Y) que vê seu cérebro turbinado por “smart pills” e enriquece no mercado financeiro. Um novo modelo de self made man, não mais legitimado por modelos éticos ou morais protestantes, mas, agora, fundamentado no paradigma neurocientífico.
Eddie Morra (Bradley Cooper) quer ser um escritor, mas nunca consegue começar seu livro. Vive maltrapilho em um pequeno apartamento sujo e empilhado de lixo. Enquanto isso, sua ex-esposa (Lindy, Abbie Cornish) é bem sucedida e recentemente promovida ao cargo de editora. Seu cotidiano se arrasta entre bares, ruas e a tela de seu laptop para a qual olha sem conseguir iniciar a primeira linha de seu livro. Um “looser”. Até que um dia encontra nas ruas Vernon (Johnny Whitworth), seu ex-cunhado, que lhe apresenta uma nova droga chamada NZT, capaz de fazer seu usuário ter acesso a 100% das informações do cérebro, indo além dos 20% da média das pessoas.
Após experimentar a droga e ter uma experiência extra-corpórea, tudo na sua mente fica claro e limpo. A matiz da fotografia do filme adquire um tom avermelhado, o ritmo de Eddie fica frenético e é capaz de escreve um livro em quatro dias e aprender línguas em poucas horas. Acessando qualquer fragmento de informação no seu cérebro, é capaz de aprender qualquer coisa e adquirir habilidades que antes ignorava que pudesse ter. Por exemplo, é capaz de em poucos segundos aprender golpes de luta marcial apenas em relembrar imagens fragmentadas dos filmes de Bruce Lee dos anos 70.
Torna-se um mega-cérebro anabolizado, um super-homem da era da informação. Se no livro no qual se baseia o filme (“Dark Fields” de Allan Glyn) temos uma irônica reflexão de uma mudança cultural americana em um país onde figuras como Bill Gates e Steve Jobs são celebradas como novos heróis, o mesmo não acontece na adaptação de “Sem Limites”: o tom torna-se apologético, um elogio às “smart pills” e a toda cultura terapêutica onde o aprimoramento pessoal se baseia na fármaco dependência (prozacs, valiums etc.).
terça-feira, março 29, 2011
Filme "O Primeiro Mentiroso": Uma Fábula Sobre a Mentira e Religião
terça-feira, março 29, 2011
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Embora seja enquadrado dentro do gênero “comédia romântica”, "O Primeiro Mentiroso" (The Invention of Lying, 2009) é o resultado de um poderoso roteiro carregado de humor negro sobre os temas da mentira, amoralidade e religião. Diferente dos parâmetros hollywoodianos, a mentira não é tratada pelo viés moral. O filme é uma corrosiva fábula sobre um mundo incapaz de mentir não por livre-arbítrio, mas por amoralidade.
quinta-feira, março 24, 2011
Documentário "Trabalho Interno" faz Crítica Moralista Sobre os Fatores que Desencadearam a Crise Financeira Global de 2008
quinta-feira, março 24, 2011
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Ao limitar a crítica sobre os motivos da crise global de 2008 à denúncia sobre homens poderosos motivados pela ganância, cobiça e luxúria, deixa de colocar em questão as próprias bases do funcionamento do sistema financeiro. A financeirização, a liquidez do capital e a volatilidade do valor no capitalismo global não são colocadas em discussão. Tudo é apresentado como uma questão de regulamentação para evitar que raposas astutas tomem conta do galinheiro do mercado.
“Trabalho Interno” de Charles Ferguson segue uma tendência pós-atentados de 11 de setembro de filmes críticos em relação aos fatos políticos e econômicos ocorridos nos EUA desde então. "Syriana" (2005), "O Senhor das Armas" (2005) e "Fahrenheit 11 de Setembro" (2004) de Michel Moore são alguns exemplos. Ao ganhar o Oscar de melhor documentário, Hollywood premia essa tendência que, ao longo dos anos finais do governo Bush, serviu para a preparação de terreno para os novos tempos de governo democrata que estava por vir, agora iniciado com a eleição de Barack Obama.
Mas, como o próprio documentário denuncia, até agora o governo Obama nada fez para reverter a política de desregulamentação dos mercados financeiros, política esta que foi a origem da grande crise global de 2008.
“Trabalho Interno” analisa de forma pormenorizada (e em alguns momentos de forma árida) a gênese do desenvolvimento da crise financeira em escala global e que custou ao mundo um prejuízo de 20 trilhões de dólares. O documentário não se limita a fazer críticas conjunturais: dá os nomes de diretores, executivos e empresas (de seguros, bancos de investimentos etc.). Descreve a ficha completa de cada nome e a engenharia financeira irresponsável que torrou dinheiro público e fez poucos ficarem milionários com a explosão da “bolha” financeira.
Mas uma questão incomoda: como explicar que filmes tão ácidos e críticos em relação às mazelas do modelo neo-liberal sejam indicados ao Oscar e até premiados pelo mainstream hollywoodiano? Se historicamente a indústria hollywoodiana sempre esteve sintonizada com a agenda política da Casa Branca, como interpretar esses prêmios a documentaristas como Michael Moore e Charles Ferguson? Uma ruptura dos produtores e executivos dos estúdios de Hollywood (a maioria deles nas mãos de grupos transnacionais como a Sony e a News Corporation) com o Estado norte-americano?
sábado, março 19, 2011
"O Mistério da Rua 7": Quando a Religião Se Encontra Com O Pensamento Ecologicamente Correto
sábado, março 19, 2011
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O filme "Mistério da Rua 7" (Vanishing on 7th Street, 2010) representa uma nova tendência hollywoodiana: a construção de um novo fundamentalismo moral baseado no pensamento ecologicamente correto. No caso desse filme, uma bizarra mistura de antiga lenda da época da colonização norte-americana, demônios indígenas e o pensamento místico ecológico da Teoria Gaia.
Todo filme com temática apocalíptica guarda uma lição de moral: por que a humanidade chegou a esse ponto? Como exemplares da espécie humana, qual a culpa dos indivíduos sobreviventes para a catástrofe que ocorreu? E, principalmente, qual lição pode se tirar de tudo que ocorreu para que não cometamos os mesmo erros no futuro?
O filme “O Mistério da Rua 7” partilha dessa mesma premissa moral com uma novidade: a mescla do subgênero ficção científica pós-apocalipse com o terror. O resultado é um surpreendente encontro entre a religião e o pensamento ecologicamente correto que encobre a velha estrutura clichê moralista da narrativa hollywoodiana: quebra-da-ordem-e-retorno-a-ordem, isto é, a punição dos personagens que ousam quebrar a ordem moral, política, social e, no caso desse filme, o pensamento ecologicamente correto.
quarta-feira, março 16, 2011
Da NASA à Hollywood: o Cinema Reflete a Agenda Tecnognóstica
quarta-feira, março 16, 2011
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em palestra proferida na World Future Society no mês passado em Boston, o cientista chefe da NASA Dennis Bushnell apresentou a nova roupagem para a Tecnognose: a preocupação ecologicamente correta pelo aquecimento global e mudanças climáticas. Despachar o homem para mundos virtuais para deixar o planeta em paz, através da IA, nano e biotecnologia, é a sua proposta. Hollywood parece refletir essa agenda tecnológica ao narrar estórias de tecnologias que escaneiam e mapeiam os sonhos, memória e o psiquismo humano.
Um mundo ameaçado pelo aquecimento global e guerras. Causa: política, religião, megalomania, crescimento populacional, relações face-a-face e disputas territoriais. Solução: Inteligência Artificial (IA), Nanoteconolgia e Biotecnologia, substituindo progressivamente a ação humana pela automação e robótica.
sábado, março 12, 2011
Filme "Cisne Negro": o Drama do Artista Privado de Sua Arte
sábado, março 12, 2011
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O filme “Cisne Negro” é brilhante ao criar uma fábula sobre drama mítico gnóstico : a interioridade humana (Luz, espontaneidade etc.) sendo explorada por um cosmos essencialmente corrompido que não permite a transcendência. As necessidades mercadológicas de uma companhia de balé que transforma o autossacrifício público do artista no palco como um espetáculo. A plateia extasiada acredita estar diante da arte. Não percebe que, na verdade, está diante de uma exposição sensacionalista de aberrações em um parque de variedades.
Como encontrar perfeição artística e transcendência se os meios para alcança-las são corruptos e falhos por natureza? Esse parece ser o pressuposto do diretor Darren Aronofsky para a estória do balé soturno de Natalie Portman em “O Cisne Negro” (Black Swan, 2010). Muito mais do que um mergulho através do lado escuro da mente da protagonista Nina, Aronofsky narra de forma dura, seca e, em muitos momentos, violenta a forma como a indústria do entretenimento explora a espontaneidade humana (emoções, sentimentos, paixões) para colocar em movimento as estruturas rígidas e sem vida do mundo do showbiz.
A dinâmica dessa indústria exige sempre algo novo e excitante para ser apresentado, e essa novidade, cada vez mais, manifesta-se como um verdadeiro desnudamento ou sacrifício emocional do ator diante de uma plateia sedenta por novas emoções.
Darren Aronofsky parece familiarizado com temas gnósticos, como no filme “A Fonte da Vida” (The Foutain, 2006 – filme analisado nesse Blog) com muita simbologia alquímica. Aqui em “O Cisne Negro” ele aborda outro tema mítico gnóstico: o aprisionamento do ser humano em um universo essencialmente corrupto e inautêntico. Prisioneiro nesse cosmos, o seu artífice (o Demiurgo) objetiva extrair da humanidade a Luz na vã esperança de tornar a sua criação uma obra autêntica.
quarta-feira, março 09, 2011
Retrofascismo e a Bomba Tecnológica
quarta-feira, março 09, 2011
Wilson Roberto Vieira Ferreira
"Quem é duro consigo mesmo, também é com os demais" (Theodor Adorno)
Uma novidade ronda o início de século XXI: o Retrofascismo.Se o fascismo clássico foi uma reação à depresssão econômica e a humilhação do nacionalismo, o Retrofascismo atual é uma formação reativa contra a "bomba tecnológica": o último espasmo do corpo diante do destino da virtualização da carne.
O que há em comum entre os fatos abaixo?
- Vinte ciclistas atropelados intencionalmente numa mobilização do grupo Massa Crítica em Porto Alegre;
- As recorrentes notícias de homossexuais agredidos na região da Avenida Paulista, São Paulo, por grupos de jovens;
- Relatos crescentes de prática de bullying digital nas escolas (criação de perfis falsos nas redes sociais que agridem ou difamam pessoas ou instituições);
- Após os atropelamentos em Porto Alegre, o blog do movimento Massa Crítica vem recebendo ameaças anônimas onde se elogia a ação do motorista que intencionalmente atropelou os ciclistas, lamentam não ter morrido ninguém e incentivam novos ataques;
- Principalmente após as últimas eleições presidenciais, redes sociais foram invadidas por mensagens incitando o ódio aos nordestinos e invocando um suposto “orgulho paulista”.
Esses episódios parecem ser exemplos de um fenômeno novo que ronda o início de século: o Retrofascismo. O fascismo, que supostamente jamais voltaria a acontecer novamente, retorna como farsa, como uma forma latente de personalidade autoritária, como uma formação reativa à bomba tecnológica em plena era democrática. Uma formação reativa ainda à espera de uma tradução política para se tornar um Estado Fascista.
segunda-feira, março 07, 2011
Documentário “O Século do Ego”: cartografias da mente de um sujeito fractal
segunda-feira, março 07, 2011
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Documentário da BBC "The Century of the Self" (2002) descreve a irônica jornada de como a revolução de psicoterapeutas e filósofos nos anos 60 e 70 contra as idéias de Freud sobre o inconsciente (acusadas de terem se tornado instrumentos do mundo do Markenting, Publicidade e Propaganda Política para fins de manipulação) resultou no oposto: o surgimento do sujeito fractal, vulnerável, isolado e, acima de tudo, ganancioso.
Em postagens anterioras (veja links abaixo) viemos desenvolvendo o conceito de cartografia e topografia da mente como uma tendência dentro da agenda tecnognóstica que, a partir da confluência das neurociências, ciências cognitivas, cibernética e Inteligência Artificial, procura fazer um mapeamento do funcionamento do cérebro para desvendar o enigma da mente e da consciência. Em termos práticos, criar modelos simulados do cérebro para sua virtualização, monitoramento e controle para fins mercadológicos e políticos.
Partindo da constatação que o cinema hollywoodiano reflete a agenda tecnocientífica das últimas décadas, em nossos estudos sobre os filmes gnósticos na produção cinematográfica norte-americana recente percebemos uma tendência introspectiva dos protagonistas: narrativas em que se descreve como o protagonista torna-se prisioneiro do seu próprio mundo mental (memórias, traumas, sonhos, projeções, etc.) e como ele realiza um mapeamento desse território onírico para encontrar o caminho de saída de conspirações e tramas.
De filmes como “Vanilla Sky” (talvez o primeiro nessa linha) até o recente “Alice no País das Maravilhas” de Tim Burton, vemos estórias com geografias alegóricas de mundos mentais, cartografias da mente coletiva (como a série “O Prisioneiro”, 2009) e elaboradas topografias da mente por meio de sonhos dentro de sonhos ("A Origem", 2010).
Tendo essa discussão como contexto, o documentário da BBC “O Século do Ego” (The Century of the Self, 2002) trás preciosas informações históricas sobre as origens desse verdadeira tendência de endocolonização dos indivíduos pela Ciência, Publicidade e Marketing. A série é dividida em quatro episódios: episódio 1: “Máquinas da Felicidade”; episódio 2: “Engenharia do Consenso”; episódio 3: “Há um Policial Dentro da Sua Cabeça e Devemos Destruí-lo”; episódio 4: “Oito Pessoas Bebericando Vinho em Kettering”.
A série (240 minutos no total) inicia descrevendo como as ideias de Freud foram traduzidas nos EUA através de sua filha, Anna Freud, e pelo seu sobrinho, Edward Bernays (o inventor da profissão de Relações Públicas) como técnicas para controle das massas na era da democracia: a teoria do inconsciente trazida para o cerne do mundo da propaganda e do marketing. É a era da produção em massa e do conformismo em uma sociedade de consumo cujo leque de opções para o mercado era limitado.
sexta-feira, março 04, 2011
Os Ciclistas Atropelados de Porto Alegre e a Bomba Tecnológica
sexta-feira, março 04, 2011
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Precisamos encarar o atropelamento dos ciclistas do grupo Massa Crítica em Porto Alegre como um sintoma dessa verdadeira bomba tecnológica que, ao criar uma relação inorgânica e virtual com o espaço, o ambiente e o Outro, propicia a indiferença, amoralidade e violência.
Indignação é a mínima reação civilizada que podemos ter diante das imagens do atropelamento proposital de 20 ciclistas durante a passeata do grupo Massa Crítica na noite da última sexta em Porto Alegre. Para pessoas como eu que utilizam diariamente a bicicleta como meio de transporte, a notícia da prisão do responsável (que, segundo consta, detém uma ficha de antecedentes de violência e contravenções no trânsito) não é motivo de alívio ou de sensação de justiça feita.
As imagens bizarras de ciclistas sendo jogados para o alto com suas bicicletas retorcidas contém algo de incômodo que não está apenas no conteúdo das imagens, mas no fato delas se constituírem em sinais de uma espécie de sismógrafo do movimento mais profundo, de uma história subterrânea que vai além da eficácia de leis, regras éticas ou legislações de trânsito que protejam ciclistas no caos motorizado.
Este episódio captado em imagens que repercutiram na mídia internacional é um desses sintomas mais visíveis da armação de uma verdadeira bomba tecnológica: a lenta constituição de um novo paradigma que rege as relações do homem com a tecnologia (tecnologias “tecnognósticas”) que virtualiza as relações com as ferramentas e cria uma relação inorgânica com o meio ambiente.
sexta-feira, fevereiro 25, 2011
Walter Benjamin e o "Caveirão" de Brinquedo
sexta-feira, fevereiro 25, 2011
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O brinquedo Roma Tático Blindado (réplica perfeita dos “caveirões” do BOPE no Rio de Janeiro) escandaliza educadores e psicólogos que o acusam de induzir as crianças à violência. Mas se Walter Benjamin estiver correto, a imitação é a grande característica do jogo infantil: reproduzir o mundo adulto no espaço lúdico para subvertê-lo. O problema não só do “caveirão”, mas de todos os brinquedos industrializados, é que esse impulso espontâneo é desviado do jogo para o brinquedo-réplica. O problema não está na violência, mas para onde o impulso pela imitação da violência é conduzido.
Início de ano, começo de ano letivo para os meus filhos. Hora dos pais irem às compras com as listas de material escolar nas mãos numa peregrinação em busca dos melhores preços. No meio de uma busca entre as gôndolas de imensas papelarias em um largo em Pinheiros, São Paulo, dou de cara com um brinquedo, para mim, inusitado: um carro blindado todo negro, com riqueza de detalhes, uma réplica quase perfeita do famoso “Caveirão” – veículo usado pelo BOPE (Batalhão de Operações Especiais) no Rio de Janeiro para combater os traficantes nos morros. Só não é uma miniatura perfeita porque os fabricantes modificaram o nome para ROTB (Roma Tático Blindado).
O veículo está acompanhado de dois soldados fardados (boinas e coletes à prova de bala) e duas armas de brinquedo.
Segundo as notícias, esse brinquedo foi um sucesso de vendas no Rio de Janeiro, esgotando o estoque previsto para durar até o final do ano passado. Os “caveirões” sumiram das prateleiras já no Dias das Crianças.
É claro que os fabricantes aproveitaram o sucesso de bilheteria do filme “Tropa de Elite 2”: “Mas o que é isso? Um carro da polícia igualzinho ao do filme Tropa de Elite? Vou levar uns cinco”, como afirmou entusiasmada uma comerciante em uma distribuidora de brinquedos de Sorocaba.
Como não poderia deixar de ser, psicólogos e educadores se ergueram moralmente escandalizados com um velho discurso pronto: brinquedos com armas ou temas agressivos induzem a criança à violência. Velha crítica de fundo behaviorista que parece desprezar a inteligência ou espontaneidade da criança em nome de um modelo comportamental que a vê como um ser amorfo, sempre passivamente induzido e condicionado.
sábado, fevereiro 19, 2011
O Álibi Sci-fi Retro do Projeto MARS500: os objetivos bem terrestres de uma missão espacial
sábado, fevereiro 19, 2011
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Para além do álibi sci-fi retro (viagens tripuladas a Marte), na verdade o Projeto MARS500 atende indiretamente a dois objetivos: agenda tecnognóstica do assalto à mente e consciência humanas e, segundo, o reforço da mitologia sobrevivencialista dos reality shows.
Depois de uma viagem de oito meses, no dia 14 de fevereiro desse ano o russo Alexandr Smoleevsky, o italiano Diego Urbina e o chinês Wang Yue finalmente pousaram na superfície de Marte às 13h00, horário de Moscou, e deram os primeiros passos no terreno marciano. Após essa saída do módulo de serviço, eles irão se aventurar mais duas vezes pela superfície do planeta: dias 18 e 22 de fevereiro.
É o ponto alto do projeto MARS500 patrocinado pela ESA (Agência Espacial Européia) em parceria com o Instituto de Problemas Biomédicas de Moscou. Apenas um detalhe: tudo faz parte de um projeto que pretende simular uma viagem a Marte, lançado no primeiro semestre de 2009. Composta por uma tripulação de seis pessoas (três russos, um italiano, um chinês e um francês), toda a missão ocorre no interior de uma instalação de 500 metros cúbicos no Instituto de Problemas Biomédicos onde, desde junho de 2010, os seis homens estão confinados. O plano é que fiquem dentro dessa nave simulada até novembro de 2011.
O objetivo do programa MARS500 é estudar os efeitos mentais, psicológicos e físicos em um grupo que, numa viagem real a Marte, ficaria encerrado por longos meses em alojamentos compactos. O programa limita-se unicamente ao estudo desses efeitos, já que, na superfície da Terra é impossível simular a gravidade zero (a não ser por breves momentos).
quinta-feira, fevereiro 17, 2011
WALL-E e EVA: Disney faz Releitura do Gênesis Gnóstico
quinta-feira, fevereiro 17, 2011
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em postagem anterior discutíamos o chamado “paradigma Disney” e nos perguntávamos como é possível animações voltadas para o público infantil tratar de temas tristes e até cruéis de uma forma lúdica e divertida.
A animação “WALL-E” (2008) é um desses exemplos: uma fábula dark, cínica, sobre um planeta Terra devastado e tomado por lixo e escombros pacientemente compactados e empilhados por um robô, enquanto o que restou da humanidade se exilou numa gigantesca nave mais parecida com um shopping center onde o consumismo, ociosidade e conveniência são tão excessivos que acabaram produzindo seres que, de tão obesos, não conseguem mais manter-se em pé.
Nessa animação talvez encontremos a resposta para esse nossa indagação: o filme explora intensamente simbologias e arquétipos da interpretação gnóstica do gênesis bíblico. Afinal, a busca pela pureza, inocência e simplicidade do protagonista WALL-E é a busca pela transcendência, o retorno ao Paraíso perdido, a busca pela inocência infantil, aquela nostalgia que toda criança sente por uma unidade que foi perdida com a entrada forçada no mundo simbólico adulto (a escola, estudos, deveres etc.). E toda essa busca possibilitada pelo auxílio do robô high tech chamado de EVA, nome altamente simbólico para essa narrativa.
sexta-feira, fevereiro 11, 2011
O Gótico Gnóstico “La Casa Muda”: é possível o horror em tempo real?
sexta-feira, fevereiro 11, 2011
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Exibido no Festival de Cannes e no Festival do Rio 2010, “La Casa Muda” (Uruguai, 2010) de Gustavo Hernandéz é um suspense/terror que promete “o medo em tempo real”. Filmado num único plano- sequência, Hernandez surpreende o espectador ao inserir no filme (supostamente sem os truques dos planos e montagens) o tempo psicológico e a confusão entre percepção e projeção psíquica da protagonista. Ou seja, o filme insere elementos góticos e gnósticos em uma narrativa supostamente objetiva, onde a verdade não está nas imagens em movimento, mas nas fotografias.
Webcams, “vídeo-cassetadas”, reality shows e a popularização das câmeras digitais sem dúvida alteraram nossa sensibilidade em relação àquilo que definimos como “realidade”. As transformações ocorridas no gênero Terror no cinema, assim como a experiência do horror, certamente refletem essa evolução das mediações tecnológicas. Desde filmes como “A Bruxa de Blair” (The Blair Witch Project, 1999) há uma busca da experiência do horror em tempo real: o registro visual de uma câmera hesitante, em plano-sequência, tudo aparentemente sem cortes, a imagem granulada e borrada. O horror diante de uma realidade documental.
Esse movimento já era perceptível no cinema dos anos 70 como os primeiro horror explícito em “O Exorcista” (vômitos verdes e violência explícita), as lendas dos “snuffs movies” (Filmes violentos de caráter mórbido e sexual em que depois de violada e humilhada a vítima era assassinada) e o sucesso da série de vídeos VHS “As Faces da Morte” nos anos 80 (vídeos documentais de mortes bizarras).
O filme uruguaio “La Casa Muda” do diretor Gustavo Hernandez aparentemente se inscreve nessa tendência ao ser promovido como “o medo em tempo real” onde vemos 74 minutos de plano-sequência narrando a tentativa desesperada da protagonista Laura (Florencia Colucci) em escapar de uma casa que oculta um sinistro segredo. Além disso, o filme também é oferecido como baseado em fatos reais que teriam ocorrido em 1944 em um vilarejo no Uruguai quando foram encontrados dois corpos mutilados em uma casa de campo.
segunda-feira, fevereiro 07, 2011
Sinais do nosso tempo no filme "Enterrado Vivo": a vítima de uma sociedade terceirizada
segunda-feira, fevereiro 07, 2011
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Todo produto cinematográfico é histórico na medida em que é produto do seu tempo. Por isso carrega consigo, de forma indireta, inconsciente e subreptícia, as mentalidades ou as sensibilidades de cada época. Em "Enterrado Vivo" (Buried, 2010) o medo ou a fobia de ser enterrado vivo (tão presentes em obras literárias e cinematográficas) transforma-se em uma metáfora da amoralidade pós-moderna em uma sociedade dominada pela terceirização de empresas e serviços.
Assistir ao filme “Enterrado Vivo” (Buried, 2010) fez-me lembrar de outras obras (literárias e cinematográfica) que abordam esse medo que, de tão recorrente na História, transformou-se numa fobia (tafofobia). Cada uma dessas obras ofereceu uma abordagem sobre o medo de ser enterrado vivo em sintonia com a sensibilidade do seu tempo.
quinta-feira, fevereiro 03, 2011
A Mídia e os Cientistas "Cavalo de Tróia"
quinta-feira, fevereiro 03, 2011
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Quem não conhece a origem da expressão “cavalo de Tróia”? Diz a narrativa lendária que as legiões gregas deixaram o artefato de madeira oco, abrigando soldados gregos em seu ventre, junto às muralhas de Tróia. Os troianos acreditaram ser um presente dos gregos como sinal de rendição. Durante a noite os gregos deixaram o artefato e abriram os portões da cidade, que foi facilmente invadida, incendiada e destruída.
Atualmente essa expressão é famosa pela associação com códigos maliciosos (“worms”) que infestam computadores.
Mas também podemos aplicar essa expressão “cavalo de Tróia” a um recorrente fenômeno do encontro entre a ciência e a mída. Mais precisamente, a exposição de cientistas na mídia onde expressam seus posicionamentos políticos “progressistas” ou “de esquerda”. Pela sua projeção midiática, passam a ser celebrados pela a intelectualidade e simpatizantes dessa ala política. Alguns passam a ser mais conhecidos pelas suas declarações políticas do que pela pesquisa cientifífica. Mas há algo contraditório: apesar dos posicionamentos midiáticos progressistas, os fundamentos das suas pesquisas científicas são conservadores, para não dizer reacionários em alguns casos.
Mas também podemos aplicar essa expressão “cavalo de Tróia” a um recorrente fenômeno do encontro entre a ciência e a mída. Mais precisamente, a exposição de cientistas na mídia onde expressam seus posicionamentos políticos “progressistas” ou “de esquerda”. Pela sua projeção midiática, passam a ser celebrados pela a intelectualidade e simpatizantes dessa ala política. Alguns passam a ser mais conhecidos pelas suas declarações políticas do que pela pesquisa cientifífica. Mas há algo contraditório: apesar dos posicionamentos midiáticos progressistas, os fundamentos das suas pesquisas científicas são conservadores, para não dizer reacionários em alguns casos.
domingo, janeiro 30, 2011
A Gnose após a Morte no filme "O Terceiro Olho"
domingo, janeiro 30, 2011
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O Filme “O Terceiro Olho” (The I Inside, 2004) talvez seja um dos primeiros filmes a representar a experiência pós-morte de uma forma gnóstica. Ao abandonar as representações demoníacas e grotescas do sobrenatural, a dimensão pós-morte é apresentada não somente como uma oportunidade da gnose, mas, também, como a continuidade da ilusão da realidade terrena: o esquecimento da dimensão espiritual, aqui simbolizada pela perda da memória do protagonista. (alerta: esse post tem spoilers)
Perda da memória, paranoia, incerteza dos limites entre a realidade e a fantasia/ilusão/delírio e a procura do protagonista de alguma coisa perdida dentro dele mesmo (identidade, memória, certeza, verdade, iluminação etc.). Essas são algumas características do filme gnóstico. É claro que poderíamos encontrar tais características em muitos filmes de diversos gêneros como Thriller, terror, drama e assim por diante.
Mas uma diferença fundamental é encontrada, o que torna o filme gnóstico uma abordagem distinta dos demais filmes: a diferença entre daimon e demon.
quarta-feira, janeiro 26, 2011
Jaron Lanier e a Religião das Máquinas do Vale do Silício
quarta-feira, janeiro 26, 2011
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Sempre nos telejornais aparecem notícias pitorescas sobre os últimos desenvolvimentos em Inteligência Artificial (IA): máquinas que sorriem, um programa que pode prever os gostos humanos musicais, robôs que ensinam línguas estrangeiras para crianças etc. Este fluxo constante de histórias nos sugere que as máquinas estão se tornando cada vez mais inteligentes e autônomas? Devemos considerá-las criaturas ao invés de ferramentas?
Não na opinião do cientista de computadores Jaron Lanier. Para ele, isso está não só alterando a maneira como pensamos os computadores. Também está alterando de forma errada os pressupostos de como pensamos nossas vidas: a criação de um dogma digital com o seu credo – o “computacionismo” ou “totalitarismo cibernético” – uma religião das máquinas que, ao encarar os computadores como criaturas, inversamente passamos a interpretar a mente e a consciência como fossem um computador. E o centro dessa nova religião com os seus messias está no Vale do Silício, Califórnia.
segunda-feira, janeiro 24, 2011
Cristo Salva? Não, Cristo Funciona! A Fé Pragmática no filme "O Paraíso é Logo Ali"
segunda-feira, janeiro 24, 2011
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Quem assiste ao filme “O Paraíso é Logo Ali” (Henry Poole is Here, 2008) pensa estar diante de um filme com tema espiritual ou religioso. Nem uma coisa nem outra. Embora estejam presentes elementos como a imagem de Cristo, fé, milagres e um padre, o filme é uma abordagem tragicômica sobre o tema da esperança. Dessa forma, esse filme é um flagrante exemplo de como roteiristas de Hollywood trabalham com elementos religiosos e espirituais: os convertem em cenários ou signos que evocam a vida espiritual, quando na verdade o filme trata da vida interior – a fé convertida em pensamento positivo. É a influência da filosofia do Pragmatismo americano ao converter o espiritual e o religioso ao “inspirador” e “motivacional”. A fé em Cristo não salva. Ela apenas funciona.
Henry Poole (Luke Wilson) é o protagonista do filme. Ele é um homem desiludido que tenta se isolar em uma casa no subúrbio degradado na periferia de Los Angeles. Desenganado por um médico, Poole acredita que morrerá em breve. Tudo o que ele quer é se isolar, acumulando várias garrafas de vodka e muitos sacos de salgadinhos, melancolicamente à espera da morte. Mas, para o seu incômodo, os vizinhos se recusam a deixá-lo sozinho.
sexta-feira, janeiro 21, 2011
Do Projeto Biosfera 2 ao reality show "Big Brother": a Ecologia Maléfica
sexta-feira, janeiro 21, 2011
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O que há em comum entre o fracasso científico do Projeto Biosfera 2 em 1991 e o atual sucesso do gênero reality show? A ecologia maléfica. Das baratas e ervas daninhas que destruíram o Biosfera 2 à crueldade, preconceito e violência dos reality shows, ambos mantêm um vínculo secreto: a prospecção da mente e da consciência.
Em 26 de setembro de 1991 quatro homens e quatro mulheres entraram numa gigantesca estrutura geodésica de vidro e metal com 12.000 metros quadrados, em Tucson, Arizona, em pleno deserto, para ali ficarem trancafiados por dois anos. Era o projeto Biosfera 2, abrigando 3.800 espécies animais e vegetais e simulações dos cinco principais biomas do planeta Terra , com o propósito de entender como a biosfera planetária funciona e como o ser humano interage com os ecossistemas. Foram monitorados por dois mil sensores eletrônicos e assistidos por 600 mil pagantes em todo o mundo.
Alguns meses depois, em 15 de fevereiro de 1992 sete jovens entre 18 e 25 anos entraram no prédio 565 da Broadway Street, em Nova York, para ali permanecerem por três meses com diversas câmeras acompanhando suas vidas e seus relacionamentos. Era o início daquele que é considerado o primeiro Reality Show da TV mundial, o “The Real World” (Na Real) da MTV norte-americana.
Alguns meses depois, em 15 de fevereiro de 1992 sete jovens entre 18 e 25 anos entraram no prédio 565 da Broadway Street, em Nova York, para ali permanecerem por três meses com diversas câmeras acompanhando suas vidas e seus relacionamentos. Era o início daquele que é considerado o primeiro Reality Show da TV mundial, o “The Real World” (Na Real) da MTV norte-americana.
quarta-feira, janeiro 19, 2011
A "Barriga" Jornalística do Cão Caramelo: uma lição sobre a racionalização do Mal na mídia
quarta-feira, janeiro 19, 2011
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Mais do que sintoma da espetacularização da notícia, a “barriga” jornalística do cão Caramelo é uma lição de como a mídia busca eliminar o Mal do horizonte da experiência humana. Por trás da urgente busca pela comoção do público está a racionalização e moralização para eliminar dos fatos a sua crueza, estupidez e tragédia.
Podemos aprender muito sobre o funcionamento da indústria do entretenimento em momentos trágicos como os que atravessamos com as enchentes e deslizamentos de terra em Teresópolis, Petrópolis e Nova Friburgo no Estado do Rio de Janeiro.
A chamada “barriga” (gíria jornalística para designar uma grave bobeada de um jornalista que pensa estar publicando um “furo” quando não passa de engano ou má fé do próprio repórter) publicada por diversos veículos de imprensa ao comover a todos com a suposta história do cão Caramelo que guardava o túmulo da dona morta pelos deslizamentos de terra que atingiram as regiões serranas do Rio é um desses casos que denunciam a verdadeira natureza da indústria do entretenimento: ela não apenas produz “infotenimento” (informação + entretenimento) ou espetacularização da notícia, mas também em um nível ontológico, ela tem que produzir scripts para racionalizar a presença do Mal em nossas vidas.
sexta-feira, janeiro 14, 2011
Incomunicabilidade em banda larga no filme “A Rede Social”
sexta-feira, janeiro 14, 2011
Wilson Roberto Vieira Ferreira
"A Rede Social" é mais do que um filme sobre a história do Facebook: é sobre as consequência da virtualização das relações humanas. O filme explora o paradoxo de como a incomunicabilidade pode definir uma geração que, como nenhuma outra, teve em suas mãos tantas mídias e ferramentas de comunicação.
O diretor David Fincher já havia nos brindado com o filme “O Clube da Luta” nos anos 90 centrado na personalidade dividida de um executivo yuppie, incapaz de se comunicar com o mundo exterior e diluindo sua ansiedade por meio do consumismo e da violência ao arrebentar a cara dos outros no Clube da Luta, irmandade marcial underground do qual aos poucos vai perdendo o controle até se transformar numa gigantesca rede terrorista.
“A Rede Social” (“The Social Network”, 2010) desenvolve um tema muito semelhante.
Um jovem nerd de Havard (Mark Zuckenberg, interpretado por Jesse Eisenberg), gênio em algoritmos e linguagem de programação, com uma grande dificuldade em se comunicar e estabelecer uma rede de relacionamentos, desconta sua ansiedade difamando pessoas em um blog enquanto tem uma ideia divertida, pelo seu ponto de vista: um jogo com as fotos de todas as moças da universidade para que as pessoas possam escolher qual a mais bonita.
Um jovem nerd de Havard (Mark Zuckenberg, interpretado por Jesse Eisenberg), gênio em algoritmos e linguagem de programação, com uma grande dificuldade em se comunicar e estabelecer uma rede de relacionamentos, desconta sua ansiedade difamando pessoas em um blog enquanto tem uma ideia divertida, pelo seu ponto de vista: um jogo com as fotos de todas as moças da universidade para que as pessoas possam escolher qual a mais bonita.
Dessa ideia vai surgir o Facebook que, de rede de relacionamentos de alguns campi universitários nos EUA, cresce até atingir outros continentes. Pela sua incomunicabilidade em relações humanas, perde a noção das tramas de interesses e dos inimigos que vai acumulando ao longo do caminho na medida em que o projeto cresce empresarialmente.
“A Rede Social” é muito mais do que um filme sobre a história do site Facebook e relacionamentos humanos. É sobre a virtualização dos relacionamentos humanos e do perfil da geração desse início de século por trás da idealização de sites de relacionamentos como o Facebook.
terça-feira, janeiro 11, 2011
O Delírio Digital de Nicolelis: o Brasil alinhado à agenda tecnognóstica internacional
terça-feira, janeiro 11, 2011
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A entrevista ao jornal "O Estado de São Paulo" concedida pelo internacionalmente prestigiado neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis é um flagrante exemplo das principais características da retórica do "delírio digital" que justifica a agenda tecnognóstica atual: o mix de messianismo, exterminismo e transcendentalismo para racionalizar os esforços das neurociências e ciências cognitivas em virtualizar a consciência.
Definitivamente, a pesquisa científica brasileira se alinha à agenda tecnognóstica desse início de século. Miguel Nicolelis, um dos pesquisadores brasileiros de maior prestígio mundial, na última quarta-feira foi nomeado membro da Pontifícia Academia de Ciências do Vaticano, na qual já foi membro Galileu Galilei e tendo como um dos seus atuais membros o físico inglês Stephen Hawking.
Tecnologia do Blogger.