terça-feira, janeiro 24, 2017

Globo virou black bloc

A Globo ainda tinha a tênue esperança de que delegados dissidentes do Colégio Eleitoral não ratificassem a vitória de Trump. Mas a cerimônia da posse e o discurso “porrada” do presidente arrasaram qualquer sonho dos ainda incrédulos correspondentes da emissora nos EUA. Mais eis que os esquecidos black blocs voltam a ação nas manifestações anti-Trump em Washington, tirando os analistas da emissora da depressão. Entusiasmada, a Globo News até reprisou o documentário sobre os black blocs exibido na época das manifestações de rua em 2013 no Brasil. Agora a Globo assume uma espécie de anarcotautismo: entrar na onda de turbinar as manifestações contra Trump, assim como fez nas manifestações anti-Dilma. Mas o tautismo crônico da sua bolha virtual não consegue perceber os movimentos do “deserto do real” que Trump representa: a crise do “neoliberalismo progressista” que sustenta a ordem da Globalização: o alinhamento perverso entre correntes dos movimentos sociais (feminismo, LGBT, antirracismo, multiculturalismo, entre outros), o setor de negócios baseados em serviços simbólicos e tecnológicos (Vale do Silício e Hollywood) e o capitalismo cognitivo representado por Wall Street e a financeirização.

segunda-feira, janeiro 23, 2017

Curta da Semana: "Help Us" - medo e culpa no altruísmo moderno


Caro leitor, chegou o momento de abrir o seu coração e esvaziar sua carteira para ajudar a curar alguma coisa que está errada com as pessoas desse curta-metragem. “Help Us” (2016), de Joel Cares, lembra aqueles vídeos institucionais de ONGs como Médicos Sem Fronteiras, Save The Children etc. Mas ao invés de vermos flagelados de algum lugar remoto e sem esperança, vemos uma família de classe média pedindo ajuda e o nosso dinheiro. O que há de errado com eles? Um curta que aplica  dissonância cognitiva e o método de comutação para fazer o espectador refletir sobre o destino da velha caridade e humanitarismo que hoje se transformou em “voluntariado” e “ativismo”. Qual a recompensa psíquica que encontramos na velha filantropia profissionalizada pelas ONGs? Qual a relação entre essa recompensa e os rostos "psychos" dos personagens do curta que ao invés de inspirarem altruísmo dão medo. 

sábado, janeiro 21, 2017

Paraty é o Triângulo das Bermudas da política brasileira?


Nesses momentos de tragédias que abrem possibilidades de inesperadas mudanças no cenário político (Quem perderá? Quem ganhará?) é sempre interessante ver as reações reflexas da grande mídia pega de surpresa. Ela parece sempre ter uma “narrativa reflexa”, pronta, que se manifesta como um ato falho: descrever um mundo onde os eventos são sempre aleatórios, fora de contextos, desconectados e sempre sujeitos a “trapaças da sorte”. A morte do Ministro do STF Teori Zavascki no acidente aéreo em Paraty rapidamente foi enquadrada em uma narrativa protocolar como se a grande mídia já tivesse o resultado antes mesmo das investigações: foi tudo uma fatalidade! Não importa a existência de estranhas anomalias, depoimentos contraditórios, sincronismos e o oportuno timing dos acontecimentos. Será que a grande mídia quer impor à sociedade uma “narrativa reflexa” para criar um fato consumado? Criar uma atmosfera de pressão política nas investigações oficiais que ora se iniciam? Ou será que, desde o desaparecimento de Ulysses Guimarães em 1992, a região de Paraty se transformou numa espécie de Triângulo das Bermudas brasileiro onde impasses políticos são resolvidos de forma drástica?

sexta-feira, janeiro 20, 2017

Um fim do mundo gnóstico e budista em "O Livro do Apocalipse"


Os filmes-catástrofes hollywoodianos sempre tiveram um papel bem freudiano: criar o objeto fóbico de medo para oferecer um bode expiatório capaz de espiar o mal estar da sociedade. Para quê? Para manter as pessoas na linha esquecendo dos seus problemas de obediência e disciplina com as obrigações que a sociedade cobra. Como fazer uma releitura dos clichês hollywoodianos desse subgênero? O filme sul-coreano “O Livro do Apocalipse” (“In-yu-myeol-mang-bo-go-seo, 2012) nos oferece uma surpreendente abordagem alternativa de zumbis, ameaça de robôs e meteoros que caem na Terra, temas tradicionais dos filmes apocalípticos ocidentais. Humor negro, “non sense”, Budismo e Gnosticismo se combinam em três contos onde o objeto fóbico é invertido: zumbis, robôs e alienígenas transformam-se em oportunidades para as pessoas repensarem a si mesmas e a sociedade.

terça-feira, janeiro 17, 2017

Algo engraçado aconteceu a caminho da Lua


Se no passado falar que o homem jamais pousou na Lua era coisa de velhos e iletrados incapazes de acompanhar a marcha do Progresso, hoje acabou se transformando em um verdadeiro subgênero audiovisual com filmes, documentários e minisséries para TV e cinema. Dessas dezenas de produções, uma se destaca: A Funny Thing Happened on the Way to the Moon (Algo Engraçado Aconteceu a Caminho da Lua, 2001) do jornalista investigativo Bart Sibrel – ele até chegou a levar um soco de Buzz Aldrin ao tentar fazê-lo jurar sobre a Bíblia que havia caminhado na Lua. O documentário foge dos temas clichês - anomalias nas fotos da Nasa e o “hoax” do diretor Stanley Kubrick envolvido na conspiração. Sibrel destaca o contexto da corrida espacial nos anos 1960, a flagrante vantagem tecnológica da URSS sobre os EUA naquele momento e algumas questões: como, depois de uma década de fracassos envolvendo explosões, incêndios e astronautas carbonizados na plataforma de lançamento, de repente a NASA empreende uma ousada e bilionária missão que, de cara, consegue colocar homens caminhando na Lua? Por que acreditamos? Só porque vimos na TV? Mas, e se tudo foi encenado sem a TV saber? Siebrel supostamente comprova a farsa com imagens de um vídeo da Nasa não editado no qual vemos astronautas da Apollo 11 simulando, na órbita da Terra, estarem a meio caminho da Lua enquanto ouvem a transmissão da direção da filmagem.

segunda-feira, janeiro 16, 2017

Inteligência Artificial como novo espelho individualista em "HyperNormalisation"


Certo dia um cientista do MIT criou um “computador terapeuta” chamado Eliza. Na verdade uma brincadeira, uma parodia sobre as tentativas frustradas em fazer uma Inteligência Artificial. As pessoas digitavam o que estavam sentindo e Eliza repetia a última frase, reformulando como fosse uma pergunta. Os “pacientes” começaram a levar à sério, passando horas diante de Eliza digitando seus problemas, desejos e motivações mais íntimas. Uma brincadeira que, sem querer, criou o paradigma que reformularia toda o conceito de Inteligência Artificial e abriria o campo dos algoritmos que controlam as atuais redes sociais e mecanismos de busca na Internet. Essa é uma das histórias do documentário “HyperNormalisation” (2016) de Adam Curtis. Analisado pelo “Cinegnose” em postagem anterior, vamos agora destacar como a fuga das pessoas para o ciberespaço, para escapar das complexidadse do mundo real, criou um outro aspecto da “HiperNormalização”: a Inteligência Artificial como um espelho individualista feito para criar a falsa sensação de estabilidade e segurança. Mas, às vezes, aspectos do “deserto do real” invadem essa bolha virtual.

sexta-feira, janeiro 13, 2017

O tautismo politicamente correto da Globeleza vestida



“Mudança de pensamento”. “Reflexo das pressões feministas e das discussões sobre diversidade”. Alguns mais eloquentes falam em “vitória da sociedade”. São as repercussões de primeira hora da nova vinheta do carnaval da TV Globo na qual vemos uma nova Globeleza vestida, decretando o fim da tradicional nudez maquiada por camadas de tintas coloridas e adereços metálicos imortalizados pela estética retro-futurista do designer digital Hans Donner. Esse suposto avanço deve ser colocado na perspectiva de uma emissora pós-impeachment que vive a tensão de ter que aparentar ser imparcial e progressista. Mas o tautismo (autismo + tautologia) crônico da emissora transforma qualquer demanda da sociedade em um signo vazio no interior de um sistema linguístico autônomo sem qualquer referencia no mundo real. A vinheta é binária e circular. Não consegue superar o simbolismo da Globeleza que sempre foi expressão de um projeto nacional secreto no qual a Globo teria um papel decisivo - criar uma embalagem supostamente moderna para o único produto que o Brasil teria a oferecer para o mundo: suas belezas naturais e hiperssexualizadas, desfrutáveis para todo o planeta a um preço módico pela diferença cambial.

quinta-feira, janeiro 12, 2017

A ficção contaminou a Política no documentário "HyperNormalisation"



Era uma vez o colapso econômico da antiga União Soviética. Diante da inevitável decadência do modelo comunista de Estado, seus dirigentes partiram para uma inédita tática de “gestão da percepção”: manter a aparência de normalidade através de narrativas ficcionais que minavam a percepção das pessoas, criando aversão à política fazendo-as tocarem a vida como se nada estivesse acontecendo. Isso chama-se “HiperNormalização”, tática copiada pelo Ocidente desde Ronald Reagan nos anos 1980 – levar conceitos do teatro de vanguarda e dos roteiros hollywoodianos para o centro da Política a tal ponto que a diferença entre realidade e mentira passa a ser desprezada pelas pessoas e pelo próprio jornalismo. Dessa maneira, Trump “surpreendentemente” chegou a poder nos EUA. Esse é o tema do documentário da BBC “HyperNormalisation” (2016), realizado pelo britânico Adam Curtis. A história de como a política foi derrotada pela ilusão enquanto as pessoas apolíticas desistiram de mudar o mundo, refugiando-se no ciberespaço. Enquanto isso, corporações e o sistema financeiro administram tranquilamente o deserto do real.

terça-feira, janeiro 10, 2017

David Bowie: a morte mais bem encenada do rock


David Bowie fez parte de uma elite para a qual o futuro não existe: na verdade ele é feito como “Psico-História” – o futuro é vendido como “previsão” ou antecipação de “cenários futuros” (por isso Bowie era chamado de “camaleão”, como um artista que estaria sempre “à frente do seu tempo”), mas já foi decidido e escrito no presente por uma elite de artistas e empresários como Tony DeFries, Brian Eno ou Robert Fripp . Certa vez John Lennon chamou essa elite de “artesãos” que, segundo ele em entrevistas, estiveram por trás dos Beatles. Lennon os confrontou e, dizem, pagou com a própria vida. Já o gnóstico pop David Bowie decidiu partir para uma estratégia irônica: combater a simulação com a própria simulação – decidiu encenar a própria morte como uma suposta profecia contida de forma cifrada na letras e vídeos do álbum “Blackstar”. Um timing tão irônico que dois dias antes do aniversário da sua morte, é lançado o vídeo póstumo “No Plan” no qual Bowie parece relatar suas experiências pós-morte. Encenação suficiente para criar o “hoax” de que David Bowie ainda está vivo...

segunda-feira, janeiro 09, 2017

Curta da Semana: "Reset" - nada é o que parece


No curta sueco “Reset” (2013) nada é o que parece. Uma amorosa mãe lê rotineiramente para a filha cartas de um pai ausente que promete retornar em breve ao lar. Uma fazenda remota e isolada do resto do mundo guarda um mistério que, para ser resolvido, dependerá que a menina compreenda o sentido de estranhos códigos numéricos. Um surpreendente drama alusivo às mitologias gnósticas sintetizado em 16 minutos – a mitologia do retorno de Sophia à Plenitude, a função consoladora e ilusória das religiões para nos manter esperançosos dentro de uma prisão e a diversidade de mundos simulados.

domingo, janeiro 08, 2017

Em "Don't Blink" podemos ser apagados como fotogramas em um filme


À primeira vista, “Don’t Blink” (2014) é mais um filme sobre um grupo de jovens que se hospeda em uma cabana em algum lugar remoto para serem punidos por seus vícios e pecados, por algum serial killer. Mas estamos no terreno do horror independente e nada é o que parece: sem explicações um a um começa a desaparecer assim que o grupo tem a atenção desviada ou simplesmente fecha os olhos. Mais um filme inspirado no misterioso desaparecimento, sem deixar qualquer rastro, de uma colônia inteira no início da colonização dos EUA em 1587. Filmes como “O Mistério da Rua 7” e adaptações de Stephen King como “A Tempestade do Século” e “A Fenda no Tempo” (“The Langoliers”) também exploraram esse misterioso acontecimento, cada um com sua própria interpretação. “Don’t Blink” discute as consequências morais (o que você faria, sabendo que desapareceria nas próximas horas?) e deixa uma série de pistas narrativas para o espectador montar sua própria explicação. De uma hora para outra poderíamos ser arbitrariamente apagados como se a realidade fosse um conjunto de fotogramas, assim como o cinema? Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

sexta-feira, janeiro 06, 2017

Os 10 filmes mais estranhos de 2016


Esqueça os filmes oscarizáveis e assista a uma lista de filmes com “estranhas” narrativas: um cadáver flatulento que evita o suicídio de um náufrago, a filha de Deus que hackeia o computador divino para se vingar do Pai, uma mulher grávida de um vírus fetal e dois filmes sobre salsichas sencientes: um sobre homens-salsicha nazis que invadem uma cidadezinha no Canadá para serem enfrentados por protagonistas que utilizam o poder da Yoga; e outro sobre salsichas em um supermercado que questionam a religião que esconde o terrível destino – no “Grande Além” serão comidas pelos próprios deuses que veneram. São os chamados “filmes estranhos” (“weird movies”) que exploram o duplo sentido da palavra “weird”: “destino” e “surreal, estranho”. Muitos deles aproximam-se da noção de “filme gnóstico” pela forma como desconstrói conceitos religiosos, morais e a própria percepção daquilo que chamamos de “realidade”. Para o leitor, uma lista do “Cinegnose” com os 10 melhores Filmes Estranhos de 2016.

quarta-feira, janeiro 04, 2017

Tautismo fonoaudiológico da Globo quer legitimar capitalismo de desastre



Depois de entrar em metástase e, a partir das “hardnews” dos telejornais, contaminar o jornalismo esportivo, teledramaturgia e entretenimento, encontramos uma das origens da doença do tautismo (autismo + tautologia) da TV Globo: o método fonoaudiológico responsável há décadas pela fala dos atores, repórteres, radialistas e âncoras da emissora. É o chamado “Método do Espaço Direcional” cujas estratégias vocais reforçam subliminarmente a descrição que a Globo faz de si mesma - a crença de um destino manifesto que na fase metastática atual assume um delirante messianismo religioso: tons de voz graves, ressonância e ritmo da fala cada vez mais lúgubres e patibulares dos âncoras como se a Globo testemunhasse algo que já foi profeticamente gravado a ferro e fogo nas pedras da História desde tempos imemoriais:  “Vejam, já estava escrito!”. Cânone do “Método”, é sintomático que Cid Moreira tenha virado um apóstolo bíblico que decidiu levar o Evangelho “até os últimos dias”. Afinal, esse é o subtexto diário das inflexões de voz dos apresentadores globais que procuram conformar os telespectadores ao atual “capitalismo de desastre” implantado no País.

terça-feira, janeiro 03, 2017

O Gnosticismo politicamente incorreto em "Festa da Salsicha"


Uma das teses do Cinegnose é que as animações atuais cada vez mais exploram temas gnósticos de desconstrução da realidade. Afinal, em relação aos filmes live action, as animações são meta-ilusões dos movimentos reais criadas pela ilusão do desenho e computação gráfica. “Festa da Salsicha” (“Sausage Party”, 2016) leva essa tendência às últimas consequências. Alimentos antropomorfizados em gôndolas de um supermercado estão imersos em uma religião na qual acreditam que serão escolhidos por “deuses” (os clientes do supermercado) e levados para o “Grande Além”. Lá viverão na paz e amor, em comunhão com os “deuses”. Mas a religião esconde um destino cruel: os deuses são monstros insaciáveis que comem alimentos para ficarem fortes. Uma comédia politicamente incorreta e desbocada na qual o espectador cria forte empatia com o drama das salsichas – será que vivemos também em um gigantesco supermercado? Como elas, também partilhamos de ilusões religiosas apenas porque nos tornam felizes e otimistas?

sexta-feira, dezembro 30, 2016

Cinco filmes para ver depois do Ano Novo


Cinco filmes sobre o Ano Novo para ver depois das comemorações do Ano Novo. Filmes que vão do humor politicamente incorreto, humor negro ao pessimismo filosófico e o próprio fim do mundo. Filmes que nos fazem pensar sobre as principais instituições que envolvem essas festas: a contagem regressiva, as promessas para o próximo ano, o futuro e o passado. Rituais que cuidadosamente repetimos todo ano. Mas se o leitor quiser assistir antes das festas da virada de ano, é por sua conta e risco...




1. “200 Cigarrettes” – Ano Novo, cigarros e a geração MTV

O filme “200 Cigarettes” (1999) é um programa oportuno para essa época de comemorações do ano novo, pois nos faz refletir sobre o tempo e as mudanças da cultura e identidade entre as gerações X, Y e Z.

Por que na virada para o terceiro milênio, a MTV produziu um filme tão nostálgico, cuja história se passa na noite de ano novo de 1981? “200 Cigarettes” é o testamento de uma geração que a MTV soube muito bem moldar, aquela que acreditava que a própria vida poderia ser um vídeo clip.

Porém, não esperava que a cultura punk DIY (Do It Yourself – “faça você mesmo”) que ela ajudou a destruir com a cultura pop retornaria como vingança, dessa vez renascida pela Internet 2.0. Mas o mal estar da incomunicabilidade permanece porque os meios digitais se tornaram nada mais do que uma nova plataforma comercial.


2. Curta “Dinner For One” – tenha um final de ano politicamente incorreto

Por que TVs europeias, principalmente alemãs, a cada 31 de dezembro exibem um velho curta em preto e branco chamado Dinner For One, desde 1963? Alemanha, Leste Europeu e países nórdicos exibem todo final de ano o curta original ou versões com um humor mais politicamente correto.

Dinner For One é a síntese da fleugma e humor negro inglês: uma senhora da alta sociedade comemora seus 90 anos e um mordomo finge servir a convidados em uma grande mesa de jantar com cadeiras vazias – são os lugares de amigos de outras comemorações, já falecidos. Um bizarro mix de embriaguez involuntária, morte e aniversário. Por que a cada final de ano os europeus continuam assistir fascinados a esse estranho curta?




3. “A Roda da Fortuna” – a gnose de Ano Novo

Vale a pena assistirmos ao filme “A Roda da Fortuna” (The Hudsucker Proxy, 1994) dos irmãos Coen. Ainda mais nas comemorações de chegada do ano novo, onde todos parecem querer capturar e reter um momento no tempo, que então já será passado.

Por isso, “A Roda da Fortuna” é um grande filme para ser visto e refletido nesses últimos momentos de ano velho. Uma fábula sobre os nossos vícios temporais que estão sempre presentes em todo final de ano: ou caímos no tempo linear (as famosas promessas e desígnios para o ano novo) ou no tempo cármico - a ilusão de que tudo depende de nossa vontade para a roda da fortuna girar, sem entendermos que somos prisioneiros da cilada do “eterno retorno”.



4. “Last Night” – Ano Novo e o fator humano no fim do mundo

Não sabemos como e porque o mundo vai acabar à meia noite nas comemorações do Ano Novo. Habitualmente nos filmes-catástrofes hollywoodianos temos muita ação, destruição e explosões que acabam desviando a atenção do espectador do sintoma cultural que representa a recorrência do tema fim do mundo no cinema.

Ao contrário, no canadense Last Night (1998) a narrativa disseca uma variável que nenhum filme-catástrofe desenvolve: o fator humano. No filme não há ônibus espaciais, generais estressados ou cientistas heroicos. Apenas pessoas comuns que tentam realizar seus últimos desejos antes do fim. E esses desejos transformam-se em termômetro do mal estar cultural que estava por trás da histeria midiática do “novo milênio” no final do século XX.






5. “Lua de Fel” – quando a contagem regressiva do final de ano é uma bomba-relógio

Mais um final de ano e outra contagem regressiva para a meia-noite. Por que essa contagem, como fosse uma bomba relógio? Essa é uma pergunta feita por pensadores como Jean Baudrillard até chegarmos ao filme Lua de Fel (Bitter Moon, 1992) de Roman Polanski.

A poucas horas da festa de réveillon em um cruzeiro marítimo, forma-se um bizarro triângulo amoroso entre um casamento que tenta sobreviver e outro que se transformou em ódio mútuo. Um flashback episódico da história de um homem destruído pela paixão. “Por que as coisas boas nunca duram?”, pergunta-se Polanski.

A aproximação que o diretor faz dessa questão com a festa do réveillon, sugere uma resposta: a percepção do tempo como bomba-relógio cria as doenças espirituais contemporâneas: o niilismo e o hedonismo.


quinta-feira, dezembro 29, 2016

Em "Lua de Fel" a contagem regressiva de fim de ano é uma bomba-relógio


Mais um final de ano e outra contagem regressiva para a meia-noite. Por que essa contagem, como fosse uma bomba relógio? Essa é uma pergunta feita por pensadores como Jean Baudrillard até chegarmos ao filme “Lua de Fel” (“Bitter Moon”, 1992) de Roman Polanski. A poucas horas da festa de réveillon em um cruzeiro marítimo, forma-se um bizarro triângulo amoroso entre um casamento que tenta sobreviver e outro que se transformou em ódio mútuo. Um flashback episódico da história de um homem destruído pela paixão. “Por que as coisas boas nunca duram?”, pergunta-se Polanski. A aproximação que o diretor faz dessa questão com a festa do réveillon, sugere uma resposta: a percepção do tempo como bomba-relógio cria as doenças espirituais contemporâneas: o niilismo e o hedonismo.

terça-feira, dezembro 27, 2016

Na série "The OA" a obsessão científica pelas experiências de quase morte


Desde “ET” e “Contatos Imediatos do Terceiro Grau” Spielberg transformou os subúrbios de classe média dos EUA, com suas bikes BMX e jovens aventureiros, em ícones da cultura pop, revividos de forma retro em séries atuais como “Strange Things”. Na série Netflix “The OA” (2016) esses ícones são retomados, porém de forma sombria: casas com famílias cada vez mais vazias que tentam manter à força a coesão. Até surgir uma jovem que ficou desaparecida por sete anos e mudar a vida de um grupo de inadaptados àquela comunidade suburbana. Uma protagonista que sobreviveu a sucessivas Experiências de Quase Morte (EQM) feitas por um cientista obcecado em provar cientificamente a existência pós-morte. Mas por algum motivo ela pretende retornar àquele pesadelo científico para recuperar alguma coisa de natureza espiritual que lhe foi roubada. A série “The OA” é mais um exemplo de como o Netflix vem arriscando em temáticas estranhas e gnósticas narradas em linguagens pouco convencionais.

sexta-feira, dezembro 23, 2016

Seis filmes para pensar o Natal


Em sete anos de existência o blog “Cinema Secreto: Cinegnose” sempre quis homenagear o Natal com sugestões e análises de filmes e curtas metragens que celebrassem com muito humor negro e surrealismo não apenas a data festiva mas também a controversa figura do Papai-Noel. Afinal, os leitores do “Cinegnose” merecem um olhar alternativo para uma data tão previsível como um Roberto Carlos Especial de todo final de ano na TV. Aqui estão seis sugestões de filmes que farão o leitor refletir sobre os simbolismos e ícones natalinos.

Das crianças sírias ao atentado em Berlim o rastro dos não-acontecimentos


Por que em fotos vemos policiais sorrindo no meio da tragédia da feira de natal em Berlim? De novo, um documento de identidade do terrorista encontrado na cena de um atentado? Outra vez, o autor do atentado era um conhecido pela polícia e agências federais de inteligência. Repete-se o roteiro dos atentados de Boston, Bataclan, Nice e Boate Pulse etc. – as mesmas anomalias, lacunas, ambiguidades, coincidências e sincronismos, sugerindo um tipo especial de “não-acontecimento”: o “meta-terrorismo” – ambiguidades narrativas propositalmente criadas  para tornar virais vídeos e fotos. O mesmo acontece com as imagens das supostas crianças sírias vítimas da guerra naquele país. Reforçando a hipótese de que o atentado de Berlim, ao lado da guerra na Síria, faz parte de elaborada engenharia de percepção (não mais “de opinião”) pública – a exploração do emocional para criar um curto-circuito na análise racional e senso crítico.

quarta-feira, dezembro 21, 2016

Estranho objeto cai na China e lembra filme "Show de Truman"



No dia 12 de dezembro moradores de um remoto vilarejo no interior da China foram surpreendidos com um enorme estrondo. No local, encontraram uma cratera em chamas e ao redor inúmeros fragmentos metálicos. Entre eles um grande anel de metal no qual foram encontrados letras e números gravados. Lixo espacial? OVNI? Nave extraterrestre? O irônico é que o episódio faz lembrar da famosa sequência do filme “Show de Truman” (1998) quando o protagonista é quase atingido por um objeto que cai do céu, também com uma misteriosa inscrição, e que marca o início da descoberta de que sua vida não passava de um gigantesco reality show televisivo. Até que ponto a narrativa ficcional de Truman guarda analogias com a nossa vida supostamente real? Nossas vidas e o planeta inteiro estariam, de certa forma, na mesma situação do infeliz protagonista Truman Burbank?

terça-feira, dezembro 20, 2016

Tautismo da Globo ainda não engoliu vitória de Trump




A vitória de Donald Trump pegou de surpresa a mídia internacional. Mas para jornalistas, comentaristas e colunistas da Globo foi devastador. Colocou em xeque o tautismo (autismo + tautologia) da emissora – a maneira pela qual a Globo interpreta a realidade que está além dos seus muros a partir da descrição que ela faz de si mesma. O triunfo de Trump parece que desmentiu o que a emissora entende como o seu destino manifesto: cobrir como a História cria fatos exclusivamente para a Globo transmitir. Mas o que acontece quando a História contraria as apostas da emissora? Tenta encaixar aquilo que é dissonante no seu roteiro, projetando nos outros países as mazelas brasileiras que a própria Globo ajuda a criar. Torce para que o roteiro pré-fabricado pela emissora também dê certo nos outros países. Um roteiro dividido em três atos: o “clima de incertezas”; o “caos”; e a “virada de mesa”. Com direito a um ato adicional: a vidente que disse que Trump “será o fim”.

domingo, dezembro 18, 2016

Curta da Semana: "Monkey Love Experiments": amor, macacos e corrida espacial



Corrida espacial entre EUA e URSS nos anos 1960. Enquanto os americanos mandavam para o espaço macacos, na Terra um cientista fazia cruéis experiências para estudar a privação do amor maternal e social com filhotes de macacos rhesus. Essa situação paradoxal da Ciência inspirou o curta “Monkey Love Experiments” (2014) que emula os famosos vídeos das experiências do Dr. Harry Harlow sobre a natureza do amor. Um pequeno filhote em sua cela agarrado a sua mãe artificial sonha em ser mais uma macaco que será enviado para o espaço. O curta sugere duas discussões: os rituais de sacrifício aos quais sociedade submete a infância; e como Ciência, para estudar o amor, não deve amar o próprio objeto que estuda.

sábado, dezembro 17, 2016

Na série "Westworld" o labirinto da mente bicameral das máquinas e humanos


Um dos raros exemplos em que a refilmagem supera o original – o filme de 1973 “Westworld – Onde Todos Não Têm Alma” baseado no livro de Michel Crichton, criador do subgênero tecno-thriller depois de se inspirar em uma visita que fez à NASA e Disneylândia em 1970. Mas a série HBO “Westworld” (2016) foi além do filme clássico, ao associar o drama dos “hospedes” humanos e “anfitriões” androides em um parque temático “high tech” com a mitologia gnóstica, cientificamente baseada na arqueologia da consciência do filósofo Julian Jaynes – a Teoria da Mente Bicameral. Diferente de 1973, a série concentra-se na jornada espiritual interior dos androides, na busca da consciência através de simbolismos xamânicos como o labirinto, a espiral e a serpente: romper com a narrativa das linhas algorítmicas de programação como uma voz externa divina e descobrir a narrativa interior em cada um de nós, androides e humanos.

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