Era uma vez os velhos dispositivos panópticos de vigilância e punição: do Deus monoteísta ao Estado e Polícia. Mas tudo mudou com a Internet, novo dispositivo que, paradoxalmente, vigia e controla através de uma estratégia de não só facilitar, mas também premiar quase todos os antigos pecados capitais: inveja, ira, ganância, orgulho e, principalmente, a luxúria. Um gigantesco confessionário anônimo no qual os metadados de redes sociais, geolocalizadores e plataformas de relacionamentos poderão voltar-se contra nós. A série Netflix “Clickbait” (2021) sugere essa discussão ao acompanhar um homem de família aparentemente decente que desaparece a caminho do trabalho. Para horas depois aparecer em um vídeo na Internet no qual admite, aparentemente sob coação, ter abusado de mulheres. Segurando um cartaz indicando que será morto quando o vídeo atingir 5 milhões de visualizações.