segunda-feira, setembro 06, 2021

Bomba semiótica da Anvisa é o 'esquenta' para o 7 de setembro



Pelas telas da TVs, assistimos neste domingo ao vivo à detonação de mais uma bomba semiótica na guerra híbrida de comunicação: a bomba semiótica da Anvisa. Uma frenética “Health Authority” (como estampava o colete de campanha do agente) invadiu o campo do jogo Brasil e Argentina, decidido a retirar quatro jogadores argentinos por desrespeito a uma portaria sanitária interministerial. Bomba que começou a ser armada furtivamente pela Polícia Federal ao deixar os jogadores entrarem no País, para todas as decisões sanitárias serem propositalmente adiadas, preparando a explosão semiótica ao vivo com grande audiência. Mais um “apito de cachorro” para assanhar as manifestações prometidas para o 7 de setembro. Show de meganhagem e justiçamento para despertar a narrativa lavajatista da grande mídia: “algemas neles”... “a lei é para todos”, gritaram alguns notórios na grande mídia. Estratégia semiótica com as digitais da comunicação alt-right: polissemia, novidade, efemeridade, movimento e imprevisibilidade.

“Olha só o policiamento lá fora! O ônibus do Choque, a polícia militar, a polícia Federal... como disse o Guilherme, a polícia federal estava presente com carros normais, sem caracterização, e agora estão aí com os carros normais... e também carros do batalhão de choque... polícia federal, polícia militar... a polícia federal, os carros entraram na garagem da Arena do Corinthians...”

Esse foi Galvão Bueno, em seu estilo apoplético de sempre, descrevendo as recorrentes imagens do desfile da meganhagem policial, dentro e no entorno do estádio do jogo que não houve. 

Enquanto isso, o “craque” Neto gritava histérico na Band: “Tem que meter algemas neles e levar para a cadeia!”.

Aos quatro minutos do jogo Brasil e Argentina, pelas eliminatórias da Copa do Mundo, irrompe na beira do campo um frenético funcionário da Anvisa, paramentado com um colete de campanha com o logo da Agência com o indicativo em inglês “Health Authority”, munido de prancheta nas mãos. 

Resoluto, peita o delegado da partida e entra no campo decidido a retirar quatro jogadores argentinos que deram informações erradas das suas procedências ao entrar no País e não cumpriram o protocolo sanitário da quarentena. 

As imagens do resoluto agente da Anvisa, diante do vestiário da Argentina fechado, com peito estufado, agitado e sempre levantando-se na ponta dos pés como se quisesse se destacar para as câmeras dentro da aglomeração de jornalistas e autoridades da CBF e Comenbol, falaram por si mesmas: assistimos ao vivo e em rede nacional a detonação de uma bomba semiótica com todas as digitais alt-right: polissemia, novidade, efemeridade, movimento, imprevisibilidade

O que mais se via e ouvia nos canais de TV, sejam abertas ou fechadas, era, além da perplexidade de comentaristas e apresentadores, frases como “a lei é para todos”, “regras têm que ser respeitadas”, além do desfile de imagens de autoridades e, principalmente, viaturas e motos de policiais federais e militares. E, quando a noite caia, a aglomeração de giroflex com as luzes intermitentes brancas, azuis e vermelhas.



Para aqueles que estavam órfãos do bordão dos telejornais “Policiais Federais nas ruas!” a cada condução coercitiva do longo auge da Operação Lava Jato, ontem foi um dia para matar saudades.

A função das bombas semióticas é fazer a ligação entre o imaginário e a narrativa midiática (o simbólico). Como já discutimos em postagens anteriores, o plano do imaginário é o primeiro alvo da guerra híbrida: detectar os “pontos fracos”, os traumas ou as feridas psíquicas coletivas abertas de uma nação que serão os “botões a serem apertados” para provocar cismogêneses.

No caso do Brasil, o militarismo e a escravidão, traumas de uma nação que não fez um acerto de contas com sua própria história.



Meganhagem e justiçamento são as fantasias-clichê decorrentes do militarismo. E que, mais uma vez, foram botões apertados pela bomba semiótica da Anvisa, conectando com a narrativa lavajatista do justiçamento que se transformou num traquejo da grande mídia: o enquadro constante de meganhas e viaturas, além do justiçamento instantâneo: “algemas neles!”, como gritava o intempestivo ex-jogador Neto.

O jornalista Moisés Mendes afirma que tudo foi “um show para aquecer o fascismo antes da aglomeração do 7 de setembro” – clique aqui. Acertou na mosca! A seleção argentina estava desde sexta-feira no País. Entrou pelo aeroporto, entrou e saiu do hotel, treinou na “fazendinha” do Corinthians. Sem serem incomodados pela Anvisa.

O médico e contra-almirante (outro militar no governo), presidente da Anvisa Antônio Barra Torres, agora posa de vítima por “ter acreditado na boa fé” dos argentinos de que supostamente mandariam para casa os quatro jogadores que estavam desrespeitando a portaria interministerial.

Propositalmente criaram o problema (a Polícia Federal deixou os jogadores entrarem no País, mesmo checando nos passaportes a procedência deles) para, mais tarde, lançar um ato de justiçamento ao vivo, diante das câmeras, jornalistas e o mundo. Uma ação totalmente irregular, sabendo-se que a Anvisa não tem poder de força, coerção e imposição – essa é a função constitucional da Polícia Federal. Que deixou de fazer o que tinha de ser feito para ajudar a armar a bomba semiótica.




E nesse momento, tudo leva a crer que o caso será levado para a judicialização. A consequência ideológica dessa armação de meganhagem e justiçamento.

Essa bomba semiótica tem todas as características das estratégias de comunicação alt-right:

(a) Polissemia – por todas as posições do espectro política a “sardinha” está sendo empurrada para suas respetivas brasas:  para a extrema-direita, o Governo venceu porque “deu o troco na Globo”; para a esquerda, foi uma “derrota de Bolsonaro”; e para a direita, “os argentinos nem deveriam ter entrado no Brasil, debocharam do Brasil”. Como bomba semiótica polissemia, atinge o objetivo do controle total de espectro.

(b) Novidade: não no sentido jornalístico, mas pelo impacto e sensacionalismo – depois de mais de 600 mil mortos e de todo negacionismo sanitário, agora o Governo resolveu fazer valer protocolos sanitários?

(c) Efemeridade: num cenário de consonância informativa (a narrativa generalizada da meganhagem lavajatista da grande mídia), a bomba semiótica surge como uma rápida estocada, mas o suficiente para iniciar um efeito exponencial narrativo

(d) Movimento: bombas semióticas são nômades, em acontecimentos sequenciais, simultâneos – a bomba semiótica da Anvisa cria links ao vivo simultâneos entre Brasília e Buenos Aires.

(e) Imprevisibilidade: o tom perplexo dos jornalistas (por exemplo, Sidney Garambone, da GloboNews, lamentou ao vivo: “a gente pensa que já viu tudo como jornalista e agora estamos vendo isso...”) já é evidente em si mesmo – o acontecimento comunicacional gerado pela bomba semiótica não avisa ou dá sinais de que vai acontecer.

Diante de tudo isso, o leitor pode ter certeza: se ainda o presidente da Argentina fosse o direitista neoliberal Maurício Macri, e não o esquerdista peronista Alberto Fernandéz, essa bomba semiótica jamais teria acontecido. 

Outra bomba seria criada para o “esquenta” do 7 de setembro.

 

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