A crítica especializada parece confusa diante da série Netflix “Sweet Tooth” (2021- ), adaptada das HQs de Jeff Lemire: uma fábula infanto-juvenil sombria? Uma aventura infantil ao estilo Steven Spielberg? Mais um produto Netflix cujos algoritmos tentam fazer um mix entre fábula e a crueldade num mundo distópico sob a pandemia que dizima a humanidade? Gus é um jovem híbrido de cervo que vive numa idílica floresta, protegido pelo seu pai de um mundo que lá fora está sendo destruído. Com sua bondade e otimismo radiantes cruzará uma América devastada e violenta em busca da sua mãe. A suposta ausência de tom narrativo (é uma fábula ou distopia?) na verdade é proposital: é onde pulsa a mitologia gnóstica de anjos decaídos e da luz espiritual (traduzida no otimismo, fé e positividade de Gus) em confronto com um mundo niilista cujo apocalipse distópico começa e termina numa ciência demiúrgica.