segunda-feira, novembro 23, 2020

Não existe ficção científica no país do futuro em 'Branco Sai, Preto Fica'

O ano é 1986. Cidade-satélite de Ceilândia. Uma violenta repressão policial em um baile funk resulta em dois jovens negros com sérias sequelas: um, na cadeira de rodas; e o outro, andando com ajuda de uma prótese. Baseado nesse fato real, o filme “Branco Sai, Preto Fica” (2014), do documentarista Adirley Queirós, constrói uma curiosa ficção científica (gênero rarefeito no cinema brasileiro) “hipo-utópica”: o futuro não existe nem mesmo como distopia, sendo uma mera projeção hiperbólica do presente dos protagonistas – um apartheid racial e social em volta de uma Brasília sitiada. De um futuro que parece o Brasil atual, vem um “agente terceirizado do Estado brasileiro” investigar os responsáveis pela tragédia de 1986. A mistura de gêneros documentário e sci-fi é proposital: mostrar como no “País do Futuro”, passado, presente e futuro se estendem num estranho eterno presente. Sem existir o amanhã.

sábado, novembro 21, 2020

Guerra Híbrida: racismo, meganhacização e caos sistêmico

Os pronunciamentos do vice-presidente Mourão e do Governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, parecem querer salvaguardar alguma coisa no revoltante episódio de espancamento até a morte de um cliente negro por seguranças de uma unidade do supermercado Carrefour, em Porto Alegre. Para eles, tudo foi uma questão de “excesso” ou “despreparo”.  Ação necessária, porém “excessiva”. Protegem um ardil semiótico que foi decisivo para o envenenamento do psiquismo na guerra híbrida brasileira: a “meganhacização” do cotidiano através de anos de shows diários das conduções coercitivas cultuando policiais corpulentos armados com armas reluzentes e toucas ninjas. A violência policialesca amparada pela meganhacização da Justiça como única forma de “passar o país a limpo”. Tática indireta da guerra híbrida para gerar caos sistêmico ao aglutinar duas feridas abertas de uma nação fundada no esquecimento: racismo e militarismo. Enquanto isso, as ações do Carrefour fecharam em alta no Ibovespa. Por que? 

quinta-feira, novembro 19, 2020

Por que 'Utopia' é a série mais azarada do ano?

Criada em 2013 e transmitida pelo canal britânico Channel 4, “Utopia” era uma série inventiva e inquietante: conseguiu elevar o olhar conspiratório para a realidade a um nível crítico e de relevância cultural. Mas o seu remake da Amazon Prime Video “Utopia” (2020) não teve a mesma sorte. No contexto da atual pandemia, “Utopia” teve um destino amargo: o enredo conspiratório parece ter saído de alguma fábrica de memes negacionistas de extrema-direita e seus protagonistas um grupo de crentes QAnon. Fãs de uma HQ acreditam que nas suas páginas estão codificados pistas e símbolos que de alguma forma previram uma série de pandemias, do Ebola à SARS. E também a atual pandemia de vírus que invade a América, originada em morcegos no Peru. Um magnata da Big Pharma está por trás de uma conspiração global através de uma misteriosa vacina. E começa a perseguir e matar os fãs da HQ que descobriram a verdade... O grande azar da série “Utopia”: a propaganda da “direita-alternativa” apropriou-se do discurso conspiratório da série de 2013, conseguindo fazer ruir as noções de Crítica e Verdade.  

terça-feira, novembro 17, 2020

Eleições 2018 e 2020: Bolsonaro foi um 'candidato manchuriano'?


O termo “Candidato Manchuriano” (superespião com Desordem Dissociativa de Identidade artificialmente criado pela CIA e Inteligência militar na Guerra Fria; programado para matar, ativado mediante um sinal aparentemente prosaico, sem conservar alguma recordação disso) foi popularizado no cinema pelo filme “Sob o domínio do Mal”, nas duas versões de 1962 e 2004. Candidato cuidadosamente criado da Inteligência militar brasileira, Bolsonaro não chega à dramaticidade das manipulações neurocientíficas da Guerra Fria: sua Desordem Dissociativa está ao nível discursivo como bomba semiótica de guerra criptografada – Bolsonaro foi programado para rodar três programas que se tornaram mais visíveis nesse ano eleitoral: (a) “Manchuriano Entertainer”; (b) “Guerra Cultural Despolitizadora”; (c) “Aloprar o Cenário Político”: criar o medo antes de vender a bomba.

sábado, novembro 14, 2020

A nova Guerra Fria quântica divide a humanidade na série "Counterpart"


Em todas as culturas, conhecer o seu duplo (o “doppelgänger”) é uma experiência terrível e talvez prenúncio da morte. Tema recorrente no cinema, a série “Counterpart: Mundo paralelo” (2017-2019) leva esse tema para outra direção: e se você descobrisse que cada um de nós possui um duplo que vai muito além de um doppelgänger? Um duplo que partilha da mesma genética, memórias e experiências. Mas que criou uma personalidade e uma linha do tempo muito diferente da sua. Qual seria o impacto nas nossas vidas e no nosso mundo ao descobrirmos o segredo da existência de um mundo duplicado (efeito de um experimento científico durante a Guerra Fria que criou acidentalmente uma Terra Paralela) no qual, por exemplo, as torres gêmeas jamais foram derrubadas em 2001 e que o cantor Prince continua lançando CDs?  “Counterpart” explora as consequências existenciais e políticas em uma nova Guerra Fria envolvendo espionagem e novas formas de terrorismo, dessa vez a partir de um acidente quântico que dividiu a humanidade.

terça-feira, novembro 10, 2020

Deixa esse mundo Ciro Marcondes Filho, o escavador de silêncios


Faleceu nesse domingo (08) aos 72 anos um dos mais importantes teóricos brasileiros da Comunicação e Jornalismo, Ciro Marcondes Filho. Um pesquisador, professor e educador para o qual rótulos não eram coisas bem-vindas: silenciosamente, à margem do mainstream acadêmico da mera replicação das teorias tradicionais, construiu uma nova metodologia e filosofia da comunicação a partir do resgate do pensamento dos estoicos à crítica contemporânea da Metafísica e a Fenomenologia de nomes como Bergson e Merleau-Ponty. Ciro não era um escavador de coisas fossilizadas como dinossauros (que, aliás, queria envenená-los...). Queria escavar o novo cujas ferramentas de prospecção, ironicamente, se esconderiam nas camadas do passado. Professor e orientador desse humilde blogueiro, a existência desse blog deve-se diretamente à sugestão de Ciro e da professora Glória Kreinz em conversas pós aulas: “por que não faz um blog?”... Nada mais gnóstico! Como Theodor Adorno, Ciro parecia querer resgatar aquilo que foi esquecido para se tornar em ensinamento que auxiliasse na construção daquilo que é novo: o acontecimento comunicacional. 

domingo, novembro 08, 2020

Blog lança versão impressa de 'Cinema Secreto' no Encontro Internacional de Cultura Gnóstica

Neste domingo (08/11) este editor do “Cinegnose” participou do evento on line Encontro Internacional de Cultura Gnóstica, quando lançou a versão impressa do livro “Cinema Secreto: Temas Gnósticos, Alquímicos e Quânticos no Cinema, Audiovisual e Cultura Pop” – já lançado no mês passado na versão e-book Kindle. Abordando o tem “O Divino Casal: Autoiniciação e Autoconhecimento através do Cinema Gnóstico, este humilde blogueiro resumiu as principais teses contidas no livro. Veja o vídeo.

sexta-feira, novembro 06, 2020

Será Trump o Coringa agente do caos?

Para a grande mídia brasileira as eleições dos EUA são “eletrizantes”, o sistema eleitoral daquele país “complexo” e as bravatas de Trump “polêmicas”. Na sua síndrome de vira-lata tenta salvaguardar o mito da América como a maior democracia do mundo, enquanto dão às costas para um evento histórico que está sendo transmitido ao vivo: assim como foi a queda do Muro de Berlim, vemos agora a derrocada da democracia liberal, transformada em pleito plebiscitário – seja qual for o resultado, a extrema-direita “alt-right” já venceu: como é do seu “modus operandi”, tensionou os pontos fracos de um sistema eleitoral elitista criado por proprietários de terras e de escravos. Implodiu o sistema por dentro ao criar polarizações baseadas na pauta identitária e de costumes, impedindo a opinião pública criar algum consenso a partir de um debate racional. Tal como o Coringa em “The Dark Knight” de Christopher Nolan, poderíamos considerar Trump o “agente do caos” que explora as fraquezas do sistema? Assim como o Coringa que explorou os pontos fracos da moralidade de Gotham City? 

segunda-feira, novembro 02, 2020

Cinegnose participa do 'Encontro Internacional de Cultura Gnóstica' discutindo como fugir da Matrix

Quem éramos, o que nos tornamos, onde estávamos, para onde fomos lançados, para onde estamos indo, do que estamos libertos, o que é o nascimento e o que é renascimento. Como essa jornada espiritual de autoconhecimento (rota de fuga da Matrix) é representada através do filme gnóstico, seja pela simbologia e narrativas, seja pela própria experiência em assistir a um filme. Esse é o tema que esse editor do “Cinegnose” discutirá no Encontro Internacional de Cultura Gnóstica que terá como tema geral “A jornada iniciática do arquétipo de Parsifal presente em nossa vida diária”. O evento totalmente online acontece nos próximos dias 07 (sábado) e 08 (domingo) de novembro.

domingo, novembro 01, 2020

Outra semana de guerra híbrida: fechamento da pauta midiática e do universo de locução

Depois do dinheiro na cueca, traficante do PCC sendo libertado pelo STF e jogador condenado por estupro contratado no futebol, o show não pode parar: mais uma semana de “crises” com o “Caso Nhonho”, o “Boi Bombeiro” ganhando status de “tese” nos telejornais e Bolsonaro fazendo piada homofóbica com o Guaraná Jesus no Maranhão. Cenas de uma recorrente guerra semiótica criptografada, que se intensifica na proximidade das eleições e aprofundamento da recessão econômica. Os chamados “fatos diversos” (outrora confinados nas colunas de “drops da política”) agora trancam a pauta como fossem temas relevantes para a opinião pública. Mas a eficácia desse fechamento noticioso não vem do nada: foram necessários anos de bombas semióticas para criar o “fechamento do universo da locução”, uma nova espécie de “novilíngua”. Afinal, é por meio das palavras que uma sociedade aceita ou rejeita os “novos normais”.

sexta-feira, outubro 30, 2020

O Tempo destrói o cinema e a vida no filme 'Irreversível'


“Irreversível” (Irréversible, 2002) é brutal e cruel. Assim como o Tempo, no qual todo momento de felicidade depende de uma linha tênue que é corroída pela entropia na medida em que avançamos para o futuro. O diretor franco-argentino Gaspar Noé nos mostra como a vida seria insuportável sem a inocência da nossa ignorância sobre o Tempo – uma estória contada em ordem cronológica invertida: começamos pelas cenas brutais e selvagens para recuarmos para as cenas calorosas e divertidas de um casal apaixonado cujas vidas estão prestes a ser alteradas para sempre. Gaspar Noé desconstrói tanto o tempo da narrativa cinematográfica (que nos deixa desarmados diante das sequenciais iniciais), quanto a nossa inocência diante do Tempo: a ilusão do livre-arbítrio diante do Tempo que tudo destrói.

quarta-feira, outubro 28, 2020

O obscuro vazio lacaniano do desejo no filme 'The Special'


Alguém lhe entrega um saco de ouro. Uma grande responsabilidade e você não pode desperdiça-la. Um tesouro ou uma oportunidade perdida? O filme “The Special” (2020) parte desse conto moral simples para transformar em uma experiência de terror corporal: desconfiado que sua esposa está o traindo, Jerry decide se vingar: ele e seu amigo vão a um misto de prostíbulo e gabinete de uma vidente chamada Madame Zorah. Porém, a principal atração não são as prostitutas, mas uma misteriosa caixa preta chamada “The Special”. Uma simples caixa que revela ser um estranho dispositivo que lhe dá a maior experiência sexual da sua vida. “The Special” é uma história de um homem que descobre que não está no controle de sua compulsão quando experimenta uma estranha forma de prazer pela primeira vez. A misteriosa caixa é uma das melhoras metáforas cinematográficas sobre o obscuro objeto do desejo – o desejo como o vazio tal como descrito por Lacan: o impulso que por aproximações tenta recuperar alguma coisa que foi perdido entre o Real, o Simbólico e o Imaginário. O desejo de algo que nem o próprio desejo sabe o que é.

domingo, outubro 25, 2020

Em 'Borat Subsequent Moviefilm' o humor enfrenta uma realidade que quer superar a ficção


Catorze anos depois, Sacha Baron Cohen encontra um mundo pós-Borat que realizou na prática tudo aquilo que o primeiro Borat ridicularizava em 2006: confederados, supremacistas, o Sul Profundo da América e negacionistas conspiratórios que encontraram na Internet e na tecnologia digital (que, acreditávamos, nos tornaria mais sábios) o seu mundo para crescer e se reproduzir. E chegaram ao Poder. Como será que o novo filme de Sacha Cohen, “Borat Subsequent Moviefilm” (2020, disponível na Amazon Prime Video), vai conseguir fazer uma sátira crítica de uma realidade que parece ter superado qualquer ficção imaginada pelo Borat de 2006? Resposta: através do paroxismo - enfrenta o desafio de superar a realidade que está além da mockufiction fazendo um humor crítico travestido de comédia vulgar. 

sexta-feira, outubro 23, 2020

Série dinamarquesa 'Borgen' desmonta a bomba semiótica de gênero

Ao assistirmos a série dinamarquesa “Borgen” (2010-2013, agora disponível na Netflix), é inevitável não fazermos uma comparação com "House of Cards" e os maquiavelismos do senador Frank Underwood para chegar à Casa Branca. E lá permanecer em sórdidas conspirações. “Borgen” acompanha a meteórica ascensão de Birgitte, presidenta do partido dos Moderados, ao cargo de Primeira-Ministra da Dinamarca. Apesar de cada episódio abrir com uma epígrafe de Maquiavel, “Borgen” está bem longe da mitologia política do sistema presidencialista que a série americana popularizou: o mito do “Mr. President”, o “Estado Sou Eu”, o “Príncipe Maquiavélico” e jornalistas como patifes desesperançados. A grande virtude da série é não cair nos clichês fáceis do sexismo, como sugere o tema de uma mulher comandando uma nação cercada de homens que lutam para arrancar um naco que seja do poder. Há sexismo na Dinamarca, mas as mulheres de “Borgen” não jogam com estereótipos fáceis: com anos de antecedência, “Borgen” desmonta a bomba semiótica que mais tarde a extrema-direita utilizaria para criar a política de polarizações identitárias e de gênero que transformam a discussão política em um debate irracional.

segunda-feira, outubro 19, 2020

André do Rap, o Caso Robinho e o dinheiro na cueca: cenas de uma guerra híbrida invisível

O velho semiólogo Roland Barthes usava a “técnica de comutação” para descobrir as unidades mínimas de significados em um sistema linguístico ao substituir arbitrariamente um signo por outro, para descobrir os sentidos ocultos no sistema. No caso da guerra semiótica híbrida basta algo mais simples: o exercício de jornalismo comparado - por que casos semelhantes no passado não foram pautados pelo jornalismo corporativo e agora monopolizam a pauta com direito a infográficos caprichados e extensos holofotes midiáticos sobre figuras vaidosas como a do presidente do STF, Luiz Fux? Os casos André do Rap, do dinheiro na cueca do senador Chico Rodrigues e da contratação do jogador Robinho pelo Santos mostram que o gênio da guerra híbrida é o fato dela funcionar como uma “macro” em ciência da computação: regra ou padrão que especifica uma certa rotina de atividades determinada por um macrocomando invisível. A partir desse macrocomando (a “guerra cultural”) todos os lados começam a agir no automático, criando a polarização política que é a própria atmosfera na qual a extrema-direita respira e se reproduz.

sábado, outubro 17, 2020

'Jodorowsky's Dune': o maior filme que nunca foi feito

Um filme que talvez fosse mais importante do que “2001” de Kubrick. Diante do portentoso volume do roteiro e storyboard da adaptação do livro “Dune” feito pelo diretor franco-chileno Jodorowsky em 1975, os grandes estúdios de Hollywood tiveram medo e recusaram um projeto no qual tinha presenças confirmadas de Salvador Dali, Mick Jagger, Orson Welles, Gloria Swanson, David Carradine. Além de trilha musical original de Pink Floyd e Magma. “Dune” de Alejandro Jodorowsky transformaria “Star Wars” (lançado dois anos depois) numa pálida imitação. A história do maior fracasso bem-sucedido da história do cinema é contada no documentário “Jodorowsky’s Dune” (2013). Se realizado, o projeto “Dune” mudaria toda a estrutura dos blockbusters como conhecemos. Mas o roteiro, imagens e conceitos de Jodorowsky foram recusados, para depois serem imitados em doses homeopáticas a partir de ‘Star Wars’: ‘Alien’, ‘Bladerunner’, ‘Indiana Jones’, até chegar em ‘Matrix’ e ‘Prometheus’.

quarta-feira, outubro 14, 2020

Descendo pela toca do coelho da viagem no tempo com Christopher Nolan em 'Tenet'


Um filme opulento em que o estrondoso orçamento de US$ 200 milhões aparece em cada enquadramento. Somente o diretor Christopher Nolan poderia obter tamanho orçamento com um roteiro original. Em “Tenet” (2020) ecoam todos os temas de seus filmes anteriores (Amnésia, A Origem, Interestelar, Dunkirk etc.), chegando ao estado da arte de um tema recorrente na sua obra: a desconstrução da realidade. Em “Tenet”, Nolan combina conceitos abstratos (entropia invertida, viagem no tempo, universos em colisão etc.) com o gênero mais norte-americano do cinema: os filmes de perseguição. Uma bomba espaço-tempo invertida é enviada do futuro com o objetivo de destruir a nossa geração, a causadora do futuro apocalipse climático. Um rico e poderoso traficante de armas tenta reunir os fragmentos do dispositivo escondidos no tempo. Enquanto um grupo de agentes especiais tentam detê-lo. Acompanhamos uma guerra no tempo entre universos com tempo-espaço invertidos. Que muitas vezes ocorrem na mesma sequência, batalhas impossíveis no mesmo espaço-tempo. Nolan desafia o espectador a descer pela toca do coelho da viagem no tempo.

sexta-feira, outubro 09, 2020

Trump e Bolsonaro desconstroem a lógica do Papai Noel na Propaganda

Até aqui as estratégias de comunicação da chamada “direita alternativa” vêm sendo bem-sucedidas. Fala-se muito no poder de eleições viciadas, cheias de aplicativos, robôs e fake news com postagens automáticas em grupos de Whatsapp e mineração de dados pessoais de usuários de redes sociais. Porém, essas ferramentas somente são potencializadas através de uma deliberada desconstrução do campo da Política. Principalmente de duas instituições que são a alma dessa esfera pública: a Propaganda e a Publicidade – através de discursos hiperbólicos cheio de pegadinhas e iscas para jornalistas fisgarem, desconstrói o seu núcleo: a “Lógica do Papai Noel”. A eficácia da Propaganda e Publicidade sempre esteve muito menos na persuasão e muito mais na fábula e adesão. Trump e Bolsonaro ridicularizam não apenas a política, mas a própria Propaganda ao expô-la como uma piada. Um exemplo: a forma proposital como o presidente expõe os currículos fraudados de seus indicados.

quarta-feira, outubro 07, 2020

"Rent-a-Pal": a manipulação psicológica através do 'Efeito Forer' na era da solidão midiática


O diretor e roteirista Jon Stevenson encontrou um vídeo VHS de 1987 chamado “Rent-a-Friend” (“Alugue um Amigo”) cujo conceito era insólito: você apenas alugaria um amigo. Levaria a fita para casa e falaria com um personagem na fita. Era uma conversa unilateral, mas para os anos 80 era interativa. Isso inspirou o filme “Rent-a-Pal” (2020), passado em 1990 no auge do videocassete e das videolocadoras. Mas que discute o tema atual da solidão e incomunicabilidade em plena Era da Informação: David passa dias solitários cuidando de uma mãe idosa e que sofre de demência, enquanto procura uma garota em uma espécie de Tinder em VHS. Até que encontra na videolocadora a fita “Rent-a-Pal”, cujos “diálogos” começam a plantar sementes de amargura e ressentimento na mente de David, criando a dinâmica do ódio que alimenta grupos atuais como os “Incels” (celibatários involuntários) da Deep Web – matéria-prima do atual protofascismo que dá energia à extrema-direita. Técnica psicológica de manipulação chamada “Efeito Forer”. Uma eficiente técnica de “validação subjetiva”, largamente usada por astrólogos, videntes e coaches motivacionais.

domingo, outubro 04, 2020

O terror interdimensional gnóstico em 'Intersect'


O tema da viagem no tempo no cinema certamente é aquele em cujo pressuposto está uma das grandes discussões da Filosofia: livre-arbítrio X determinismo, a esperança de que através da tecnologia o homem vencerá a entropia da seta do Tempo. Mas com o auxílio luxuoso do horror cósmico de HP Lovecraft, o filme “Intersect” (2020) encerra de vez essa esperança. Se a viagem do tempo moderna é quântica (múltiplas dimensões e timelines) ela se aproxima da mitologia Gnóstica dos “muitos céus” - em cada um deles, entidades malévolas chamadas “Arcontes” mantêm o homem na ilusão para aprisiona-lo no mundo material. Em “Intersect”, um grupo de jovens cientistas cria uma máquina do tempo. Para confirmar a mitologia gnóstica dos Arcontes: somos manipulados por forças invisíveis interdimensionais.

quinta-feira, outubro 01, 2020

Trump X Biden: a desconstrução pós-moderna de um debate político

Toda a desconstrução pós-moderna de Wittigenstein, Lyotard e Derrida ironicamente se transformaram em “pratical joke” nas estratégias semióticas da chamada “direita alternativa”. É o que foi mostrado ao vivo, como uma espécie de show metaliguístico de desconstrução de um debate político: o tão aguardado debate entre o republicano Donald Trump e o candidato democrata Joe Biden. Trump foi o grande “vencedor” porque a “magia do caos” é o fio condutor de uma estratégia “desconstrutivista” que vai muito além da mentira ou das “fake news” – orienta-se pelo fenômeno da pós-verdade na qual a comunicação e a linguagem foram pulverizados em jogo e performance. O caos semiótico metodicamente criado através de cinco estratégias: Comunicação Indireta, Técnica de Dissociação, Desautorização do Interlocutor, Roll Over e forçar ao limite os pontos fracos das regras.

segunda-feira, setembro 28, 2020

Bolsonaro na ONU, grande mídia e as queimadas: esquerdas devem conhecer Ernst Bloch


O filósofo alemão Ernst Bloch foi uma das influências de Theodor Adorno e da chamada “Escola de Frankfurt”: foi o primeiro pensador marxista a considerar o imaginário nos meios técnicos (rádio e cinema) explorados pela propaganda nazi-fascista no século passado. Sua “Teoria da Assincronia” mostrou como o imaginário social foi politizado pela propaganda política: os tempos latentes, arcaicos e idílicos se mantêm em camadas mais antigas nas mentes das pessoas, mantendo a contradição em relação às modernizações tecnológicas e econômicas. E a propaganda atuou nesse tempo assíncrono do imaginário. Tanto o discurso de Bolsonaro na ONU quanto a cobertura da grande mídia das queimadas no Pantanal e Amazônia exploram esse imaginário assíncrono do “ódio ao presente”, o material explosivo das bombas semióticas da extrema-direita: religião, nacionalismo etc. A esquerda precisa urgentemente conhecer Ernst Bloch: como atuar nesse espaço assíncrono do imaginário? 

sábado, setembro 26, 2020

Série 'Upload': quando as corporações irão monetizar a imortalidade?


No cinema e audiovisual, sempre as representações sobre a existência após a morte fala muito mais sobre os vivos do que sobre o Além.  Porque o espírito de cada época cria sua própria representação da morte – hoje, influenciada pela Inteligência Artificial e a possibilidade de a alma ser transcodificada em bytes para um dia, conquistarmos a imortalidade no “céu” de uma nuvem de dados. A série da Amazon Prime “Upload” (2020-) tematiza esse sonho que é na atualidade levado bem a sério pelos engenheiros das Big Techs do Vale do Silício. A série acompanha a trilha atual de diversas séries e filmes onde a imortalidade é conquistada por meio da transferência da consciência digital. À beira da morte, um programador aceita os termos de um serviço de upload da consciência para um Paraíso transformado em luxuoso resort virtual hospedado em um servidor da corporação Horizon. No pós-morte descobrirá que a imortalidade pode ser tão enlouquecedora quanto a vida entre os vivos. E como as corporações serão capazes de monetizar a mais íntima experiência humana.

Tecnologia do Blogger.

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | Bluehost Review