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terça-feira, novembro 11, 2014
"Quando Eu Era Vivo" mergulha na matriz edipiana do terror
terça-feira, novembro 11, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O gênero
terror é um ótimo objeto para as análises de psicanálise no cinema.
Principalmente porque a sua matriz é essencialmente edipiana: dramas envolvendo
culpa, incesto, a sedução da inocência, sexo culpado (sadomasoquista), a
percepção corpo fragmentada do corpo pelo infante pré-formação do ego (daí o porquê
do fascínio pelos corpos despedaçados, vísceras e sangue no cinema de terror)
etc.
E,
principalmente, o Mal e o Estranho como os nossos próprios impulsos aos quais
deveremos renunciar na resolução do Édipo e na entrada ao mundo da Cultura. Os
filmes de terror dramatizariam a nossa própria luta interna em ter que
renunciar a Natureza (prazer, impulso, gratificação imediata) em nome da
Cultura (renúncia e sublimação).
terça-feira, julho 22, 2014
"Killer Cuisine" faz paródia surreal dos chefes de cozinha midiáticos
terça-feira, julho 22, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A série de curtas “Killer Cuisine” (2010) do norte-americano Ross Goodman é uma surreal e hilária paródia dos clichês da gastronomia midiática: um cozinheiro, cujo avô foi um açougueiro na Alemanha à época do nazismo, fuma compulsivamente na cozinha enquanto manipula alimentos e facas de forma agressiva, sob uma trilha sonora que varia de um melancólico blues às músicas de terror B nos anos 1950. Enquanto isso uma mulher é amarrada e embebedada com vinho branco à espera de ser o próximo ingrediente culinário. Os curtas são uma verdadeira aula sobre aquilo que em linguagem cinematográfica se chama “efeito Kuleshov” e também suscitam um debate sobre os alimentos regidos pela lógica do “look” e do “light” dos chefes de cozinha midiáticos. Veja os curtas.
quarta-feira, julho 02, 2014
"Agnosia" revela formas alternativas da mente no cinema
quarta-feira, julho 02, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O filme espanhol “Agnosia” de Eugenio Mira e “A Origem” de Christopher
Nolan foram lançados no mesmo ano de 2010. São dois filmes com versões
diferentes para o mesmo tema: um thriller de espionagem industrial que envolve
a invasão da mente de alguém para extraírem um segredo que envolve interesses
corporativos. Um exercício de análise comparativa entre os dois filmes revela
diferentes formas de representar a mente humana: se na Europa a Psicanálise e a psicologia da percepção possuem prestígio no meio artístico e intelectual, nos
EUA a mente não é pensada como uma máquina desejante, mas informática onde
dados são deletados ou inseridos. Enquanto “Agnosia” é um conto gótico inspirado
em psicanálise, “A Origem” é o inconsciente traduzido pelas neurociências.
A análise comparada em cinema (o exercício de analisar diferentes visões
de filmes e diretores sobre um mesmo tema) sempre dá surpreendentes resultados
ao revelar as diferenças ideológicas e culturais de países ou de polos de
produção cinematográfica.
Um exemplo evidente é o filme espanhol Agnosia (2010) do diretor Eugenio Mira e escrito por Antonio
Trashorras. Assistindo ao filme, é impossível não comprarmos com o filme de
Christopher Nolan A Origem
(Inception, 2010), produção norte-americana lançada no mesmo ano da produção
espanhola. Ambos exploram o tema da espionagem industrial: há um segredo de
grande interesse industrial que está na mente de uma pessoa e que deve ser
extraído.
terça-feira, junho 03, 2014
Por que as aves atacam em "Os Pássaros"?
terça-feira, junho 03, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Hitchcock não levava a sério as ideias freudianas e irritava-se com as interpretações psicanalíticas de seus filmes, principalmente do filme “Os Pássaros” (The Birds, 1963): “Idiotas estúpidos! Sempre estive consciente do que fiz em todas as minhas obras”, esbravejava. Mas as imagens dos pássaros atacando seres humanos em um pequeno vilarejo litorâneo tornaram-se atemporais, como se Hitchcock, mais do que roteirizar, dirigir, montar e editar, inconscientemente tivesse buscado seus insights tanto em fatos científicos ocorridos com aves em 1961 na Califórnia, quanto nos arquétipos do inconsciente coletivo da humanidade. Por isso, de todos os filmes do diretor (Hitchcock considerava o filme como o “menos Hitchcock” da sua carreira), “Os Pássaros” foi o filme que mais rendeu interpretações, sejam científicas, psicanalíticas, filosóficas e gnósticas: por que os pássaros de Hitchcock atacaram? É o que vamos tentar responder.
A crítica especializada
em geral considera o filme Os Pássaros
o último grande filme de Hitchcock, rodado em 1963 quando a reputação do
diretor estava no auge. O filme anterior Psicose
(1960) tinha sido um sucesso e a Universal Pictures deu para o diretor três
milhões de dólares para o seu próximo projeto. Hitchcock já havia se tornado a
marca exclusiva do cinema de suspense com narrativas sobre espionagem,
psicopatia, frieza, romance e muito humor negro.
Porém, Os Pássaros foi o filme que o redefiniu
ou, como o próprio diretor considerou, era o filme “menos Hitchcock” da sua
cinematografia até aquele momento: ele pela primeira vez se valeu da tecnologia
como os efeitos sonoros construídos por um instrumento eletrônico chamado
Mixtur-trautonium (o filme não possui trilha musical a não ser diegéticas –
crianças cantando na escola, som do rádio do carro ou quando a protagonista
toca ao piano); efeitos especiais indicados ao Oscar para criar os temíveis pássaros
assassinos; e a utilização de muitas tomadas externas, técnica que ele nunca
preferiu – costumava rodar os filmes completamente em estúdios.
quarta-feira, fevereiro 19, 2014
Quando fantasmas aparecem quem você chama: The Ghost Busters ou Ghostbusters?
quarta-feira, fevereiro 19, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Poucos sabem, mas
o filme “Ghostbusters” de 1984 foi inspirado em uma série de TV exibida em 1975
nos EUA e no Brasil, chamada “The Ghost Busters”. Baseado no humor “pastelão” e
“trash” a série contava as aventuras e desventuras de um trio (entre eles um
gorila!) que perseguia fantasmas e seres sobrenaturais com um “desmaterializador
de fantasmas”. O roteiro original do
filme “Ghostbusters” escrito por Dan Aykroyd e Harold Ramis (mais fiel ao
espírito da série de TV de 1975) foi recusado pela Columbia Pictures e recriado
dentro de um tom bem diferente, dessa vez cínico e marcado pelos valores do “cinema
recuperativo” dos anos 1980 – os valores do empreendedorismo, individualismo,
fama, sucesso e ambição misturados com os fantasmas que deveriam ser
exorcizados em um país que tentava se reerguer através do neoliberalismo após a recessão da década de 1970.
Se o historiador francês Marc Ferro estiver certo de que o filme pode
ser considerado um verdadeiro documento primário por expressar por meio de
imagens e movimento o imaginário e sensibilidades de uma determinada época,
então encontraremos uma expressão cinematográfica das diferentes sensibilidades
de cada década em remakes ou
adaptações.
Podemos fazer um exercício dessa análise comparativa com dois filmes, o
original e o remake, dentro do subgênero “caçando fantasmas”: a série original The Ghost Busters (1975) e Ghostbusters (1984).
Esse verdadeiro subgênero tem uma longa tradição no cinema
norte-americano onde fantasmas ou seres sobrenaturais surgem para perturbar a
ordem do mundo dos vivos para depois serem caçados por heróis especializados
nos fenômenos paranormais (ou nem tanto) e despachados para o outro mundo de
onde não deveriam ter saído.
sábado, janeiro 04, 2014
Uma versão sinistra do Mágico de Oz no filme "YellowBrickRoad"
sábado, janeiro 04, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Uma equipe de psicólogos, cartógrafos e fotógrafos tenta transformar uma lenda em registro histórico: por que uma cidade inteira desapareceu depois de assistir ao filme “O Mágico de Oz” em 1940? Inspirado em um caso real onde os habitantes de uma vila esquimó desapareceram repentinamente deixando todos os seus afazeres para trás, o filme “YellowBrickRoad”(2010) faz uma sombria releitura do filme clássico de 1939 por um viés metalinguístico do cinema, forte tendência dos filmes independentes atuais. Assim como Dorothy levantou a cortina e descobriu que Oz não era um mágico no filme clássico, em "YellowBrickRoad" os espectadores daquela pequena cidade remota descobriram da pior maneira possível, após saírem do cinema, que a Cidade de Esmeralda do Mágico de Oz não existia.
quarta-feira, agosto 28, 2013
O demônio é um anjo caído em "O Advogado do Diabo"
quarta-feira, agosto 28, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Apesar
de flertar com temas místicos e espirituais não ortodoxos, Hollywood ainda precisa
manter as convenções dos gêneros cinematográficos. Um dos exemplos dessa
dualidade vivida pelo cinema comercial é o filme “O Advogado do Diabo” (Devil’s
Advocate, 1997) onde o diretor Taylor Hackford tenta inserir uma visão mais
matizada e ambígua da figura do Diabo em meio aos tradicionais clichês
satânicos reforçados por efeitos de computação gráfica. Através da inesquecível
performance de Al Pacino, o filme nos apresenta uma sutil visão do Diabo como uma figura prometeica, um anjo caído e condenado pelo
Criador por ter apresentado ao homem o fruto do conhecimento.
O ano é 1997. Na segunda metade dessa década Hollywood
vive uma espécie de guinada metafísica. Desde “Dead Man” (1995) do diretor Jim
Jarmusch, um western místico onde as religiões institucionalizadas são ridicularizadas,
roteiristas e produtores começam a flertar com temas e abordagens místicas ou
espirituais não ortodoxas, tal como o gnosticismo. Nesse ano estão em produção
“Show de Truman” e “Cidade das Sombras” (que serão lançados no ano seguinte) e o
filme “Matrix” está sendo gestado pelos irmãos Waschowski. Esses filmes
fazem parte de uma tendência cinematográfica da época repletas de temas,
arquétipos e simbolismos religiosos, mas com uma abordagem mística e gnóstica.
Também, nesse ano é lançado o filme “O Advogado do
Diabo” dirigido por Taylor Hackford, adaptação do livro de Andrew Neiderman. Se
no livro há uma ambiguidade fundamental em relação ao personagem principal (não
sabemos se ele é um louco ou a própria encarnação do Diabo, ambiguidade resolvida
no monólogo final), no filme percebe-se uma ambiguidade de outra natureza: o
conflito entre as convenções do gênero terror/suspense imposta pelos produtores
em apresentar o Diabo na tradicional visão judaico-cristã e a adaptação ao
livro que procura apresentar esse personagem de uma forma mais matizada –
uma visão alternativa
do Diabo, própria da literatura do Romantismo que o via como uma figura
prometeica, um anjo caído e condenado pelo Criador por ter apresentado ao homem
o fruto do conhecimento.
quarta-feira, agosto 21, 2013
A morte é uma mercadoria na animação "A Pequena Loja de Suicídios"
quarta-feira, agosto 21, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
De forma despretensiosa através de muito humor negro e cinismo, a animação francesa “A Pequena Loja de Suicídio” (Le Magasin des Suicides, 2012) de Patrice Laconte nos faz pensar em uma questão fundamental para a História da Cultura: por que o suicídio foi sempre objeto de tabus religiosos e repressão ao longo da História? Talvez porque nesse momento derradeiro da vida do indivíduo se exponha de forma dramática as mazelas da sociedade. Na animação de Laconte é a crise europeia e a forma como a ideologia dos negócios consegue ver a infelicidade e o desespero como mais uma oportunidade de mercado.
terça-feira, julho 23, 2013
Monstros e crianças se encontram em uma exposição
terça-feira, julho 23, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Por que o imaginário
infantil sempre esteve às voltas com monstros? Por que esses seres fantásticos
presentes em todas as culturas, mitologias e lendas ao mesmo tempo assustam e fascinam
crianças há gerações? A exposição “Monstros” do artista multimídia Térsio
Greguol ajuda a responder essas questões porque expressam o passado e presente
desses assustadores seres: a importância do arquétipo do monstro para a criança
enfrentar psicologicamente esse mundo e a nova sensibilidade infantil com esses
seres, dessas vez paródica e metalinguística.
Desde que Sigmund Freud descobriu
que as crianças não eram exatamente anjinhos barrocos, mas detentoras de uma
vida psíquica tão ou mais complexa que os adultos, a maneira como encaramos o
imaginário infantil com suas fábulas, lendas e cantigas de ninar mudou. Desde a
mais tenra idade as crianças estão familiarizadas com emoções perturbadoras
como o medo e a angústia. São experiências que fazem parte do cotidiano. Elas
têm que lidar constantemente com frustrações, angústia de perda e abandono, o
medo da escuridão e do isolamento.
Diferente dos outros animais, a
Natureza nos colocou nesse mundo, totalmente desprotegidos e dependentes – nascemos
carecas, sem pelos e sem dentes, desajeitados e sem coordenação motora. E como
a criança lida com essa situação? Através da imaginação e da fantasia, a melhor
maneira de lidar com os monstros, arquétipos de seres fantásticos que
simbolizam as ameaças dessa deplorável condição que viemos ao mundo.
sábado, novembro 10, 2012
Sintoma e verdade nos zumbis
sábado, novembro 10, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Por que pessoas
fingem-se de mortos que se arrastam pelos centros urbanos do mundo, famintas
por cérebros e sangue dos vivos? Como interpretar um flash mob como o “Zombie Walk” onde centenas de
pessoas se transformam em realísticos zumbis, há onze anos espalhando-se por diversas
capitais do mundo? Desde as lendas afro-caribenhas de pessoas que retornam do
mundo dos mortos como assustadoras sombras de si mesmas até a recorrência dos
mortos vivos no cinema, o fascínio pelos zumbis já produziu uma razoável
bibliografia de pesquisadores que chegam a vê-los como um objeto de estudo
etnográfico. Mas é inegável que os mitos e lendas dos zumbis possuem uma dupla
dimensão: de um lado são sintomas de crises sociais e, do outro, possuem um
momento de verdade ao fazer nos lembrar da condição humana nesse mundo.
O flash mob “Zombie Walk” vem nos últimos anos ganhado cada
vez mais espaço na mídia e seus participantes aprimorando cada vez mais no
realismo das maquiagens e máscaras, trôpegos arrastando suas fantasias
lentamente através de centros urbanos pelo mundo. No evento surgido em 2001 na
Califórnia e que rapidamente se espalhou pelo mundo, vemos centenas de humanos
fingindo-se de mortos que apodrecem enquanto lançam olhares e gestos ameaçadores
para os desavisados, como se quisessem comer uns aos outros. Por que queremos
fazer tais coisas? Por que os zumbis ou mortos vivos acabaram se tornando uma
fantasia cinemática tão recorrente a ponto de produzir uma razoável
bibliografia de pesquisadores que chegam a tratá-los como objeto etnográfico?
Se olharmos atentamente a história da lenda dos zumbis, suas
origens e desenvolvimento até chegar no cinema e na mídia, perceberemos que ela
claramente apresenta duas dimensões: como sintoma social (conflitos de raça e
classes) e como arquétipo, isto é, como um simbolismo do inconsciente coletivo
que se filia ao imaginário dos autômatos, fantoches e bonecos como
representação da condição humana nesse planeta.
quarta-feira, julho 25, 2012
Adendo ao post "O Coringa e o massacre do Colorado"
quarta-feira, julho 25, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Nosso leitor Felipe Cardoso enviou para nós essa incrível "coincidência".
Após James Holmes, de 24 anos, matar 12 espectadores
durante a estreia do último filme do Batman, em Aurora, no Estado do Colorado,
muitos fãs das histórias em quadrinhos notaram a tétrica semelhança entre o
massacre e um capítulo da HQ lançada em 1986 "Cavaleiro das Trevas"
("The Dark Knight Returns"), de Frank Miller.
Na publicação, o personagem Arnold Crimp, visivelmente fora de si, entra em um cinema armado e atira contra a plateia.
Na publicação, o personagem Arnold Crimp, visivelmente fora de si, entra em um cinema armado e atira contra a plateia.
Isso é mais do que um exemplo do célebre provérbio de
que “a vida imita a arte”. Apenas comprova o aforismo de que “os pensamentos
são coisas”. É difícil conceber outro lugar onde pensamentos, arquétipos,
mitos, lendas e fatos históricos podem se cristalizar, sedimentar e misturar do
que a indústria do entretenimento. Outrora era a Religião. Hoje são os produtos
midiáticos, com uma diferença: a tecnologia de irradiação, tanto física como
mental.
quinta-feira, julho 12, 2012
Góticos, darks e emos vagam pelos shoppings
quinta-feira, julho 12, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O poder dos símbolos e divindades pagãs é estetizado há décadas pela
indústria do entretenimento, por exemplo, através do imaginário dark, gótico ou
de todo um "sub-zeitgeist" que fascina sucessivas gerações. Seria o sintoma ao mesmo tempo de tendências depressivas principalmente de jovens e adolescentes e do anseio pela "experiência
religiosa imediata". Com o esvaziamento da mitologia política, temos agora o Sagrado e o Religioso como um novo imaginário para canalizar a angústia por transcendência do jovem.
"Toda ideologia tem o seu momento de verdade" (Theodor Adorno)
Recentemente
os alunos da disciplina de Estrutura de Roteiro da Escola de Comunicação da
Universidade Anhembi Morumbi produziram seus primeiros Argumentos e Sinopses,
apresentando oralmente suas produções na sala de aula. Uma característica
recorrente nos argumentos das narrativas apresentadas me chamou a atenção: de
14 estórias apresentadas, quase a metade se inseriam em um imaginário gótico e
místico, recheado de simbologias alquímicas, protagonistas esquizofrênicos que
não distinguem ilusão de realidade, lugares subterrâneos e mundos paralelos
atacados por vampiros etc.
Estórias cujos protagonistas em geral adolescentes, que levam uma vida normal até descobrirem que têm estranhos poderes e que são observados secretamente por entidades sombrias. Por que jovens com idades em torno dos 20 anos são fascinados por esse imaginário dark, com tonalidades ao mesmo tempo depressivas e épicas?
É marcante
o constante revival entre jovens deste universo que ao longo
das décadas assume diversos rótulos.
terça-feira, junho 19, 2012
Edgar Allan Poe, a tortura e a ditadura militar
terça-feira, junho 19, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Dando sequência às adaptações dos contos de Edgar Allan Poe realizadas pelos alunos da disciplina
Estrutura de Roteiro da Escola de Comunicações da Universidade Anhembi Morumbi,
temos o vídeo “Somos Todos Filhos de Deus”. Inspirado na música “Deus lhe Pague”
de Chico Buarque, transpõe o terror e delírio do protagonista do conto “O Poço
e o Pêndulo” para os porões da tortura durante os “anos de chumbo” da ditadura
militar brasileira. O vídeo consegue captar dois elementos universais do conto
de Allan Poe: a manipulação do tempo e espaço como técnica histórica nas torturas
e inquisições e o simbolismo metafísico do poço, que o autor norte-americano
apenas sugere no conto, mas o vídeo vai explorar até as últimas consequências.
O conto “O Poço e o Pêndulo” do escritor norte-americano
Edgar Allan Poe é um típico exemplo clássico do estilo gótico e de terror
psicológico no qual era mestre. Ao contrário dos demais autores que se
concentrava no terror externo, Poe prestava atenção ao terror originado no
interior do próprio protagonista. Como era do seu estilo, o conto inicia com
uma descrição objetiva de tempo e espaço que vai, aos poucos, misturando-se com
o delírio e terror da gradiente de sentidos do personagem (visual e auditivo no
caso desse conto). Tempo e espaço objetivos misturam-se com tempo/espaço
psicológicos.
“O Poço e o Pêndulo” narra o julgamento e a condenação de um
rebelde que, após receber a sentença dos inquisidores, é atirado inconsciente
em um calabouço onde sofrerá diversas torturas físicas e psicológicas. Ao
tentar reconhecer o lugar onde estava se depara com um poço que lhe desperta os
mais terríveis pressentimentos quanto ao seu destino naquela cela.
sábado, junho 09, 2012
Edgar Allan Poe Gnóstico: os vídeos
sábado, junho 09, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Vamos dar início a uma série de postagens com vídeos produzidos pelos meus alunos
da Disciplina Estrutura de Roteiro da Escola de Comunicação na Universidade
Anhembi Morumbi. Foi proposto para eles o seguinte desafio: fazer roteiros literários livremente
adaptados de contos do escritor norte-americano Edgar Allan Poe. Porém,
deveriam manter o núcleo do argumento, ou seja, as atmosferas góticas e reflexões
metafísicas e gnósticas do autor. Esses são os primeiros vídeos resultantes desses roteiros.
Edgar Allan Poe (1809 - 1849) foi o primeiro escritor do continente
americano a influenciar os rumos da literatura para além do seu país. Se Freud
ao visitar os EUA e avistar a Estátua da Liberdade teria dito “não sabem que
estamos lhes trazendo a peste”, um século antes Allan Poe já havia contaminado
o mundo com o seu gótico “impulso pelo perverso” cuja psicanálise é um dos seus
frutos.
Seus contos e poemas estão repletos de uma metafísica
gnóstica: um dualismo radical que vê a alma como aprisionada na materialidade
do mundo como uma prisão e a única forma de escapar é através de um supremo ato
de autoconhecimento, a gnose. Daí o fascínio de Allan Poe por personalidades
divididas, pela Queda, desamparo, saudades, latência, dormência, intoxicação.
Seus relatos sempre começam como relatos sóbrios e verídicos
que logo mergulham em atmosferas de horror crescente até adquirir tons
fantásticos e metafísicos. Allan Poe tinha o talento para descrever situações
intoleráveis onde sua clareza analítica revelava o prazer mórbido do autor em
se aprofundar nas origens dos impulsos da natureza humana e na sua condição de
estrangeira ou de exilada em um mundo cujo Deus é o do Abismo.
sábado, maio 19, 2012
A História Secreta do Rock 'n' Roll
sábado, maio 19, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Há uma história de um repórter que entrevistou Jim Morrison
(vocalista da banda The Doors) depois que ele havia gravado “Dionysus”: “Mr. Morrison,
você está tentando imitar Dionísio?”, perguntou o repórter que teria ouvido a
seguinte resposta: “Não. Eu sou Dionísio!”
Do rock progressivo ao hardcore, do punk ao psicodélico, do
glam rock ao heavy metal existiria um traço comum que uniria todos os
subgêneros que explodiram na história do rock and roll: um especial tipo de
introspecção onde músicos e fãs sentir-se-iam como iniciados em algum tipo de
escola de mistérios e a audição e performance musicais seriam como ritos
religiosos onde seria recriada a sensação de transcendência para entrar em um
mundo diferente, cheio de mistério e perigo.
O rock and roll seria uma expressão renovada de mistérios
antigos profundamente enraizados na cultura contemporânea, como os de Orfeu,
Cibele, Átis, Isis, Mitra, Druidas e toda uma miríade de escolas antigas
herméticas. Essa é a premissa do livro “The Secret History of Rock 'n' Roll” de
Christopher Knowles, escritor e editor de comic books e pesquisador sobre
simbologias na cultura pop, com diversos trabalhos publicados nessa área.
sábado, março 10, 2012
O filme "REC" e a Natureza dos Monstros Contemporâneos
sábado, março 10, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Longe dos pastiches dos atuais filmes sobre zumbis, o espanhol “REC”
(2007) faz jus à saga iniciada por George Romero em 1968 com “A Noite dos
Mortos Vivos”: os zumbis são vistos por um ângulo diferente como um problema de
epidemiologia e vigilância sanitária (repórter, cinegrafista e bombeiros presos
em um prédio posto em quarentena enquanto o vírus se propaga e zumbis pululam
por todos os lados). Por isso, “REC” faz parte de imensa galeria de novos
monstros que vão dos zumbis de Romero à criatura de “Cloverfield – Monstro” (2008)
que romperam com o paradigma clássico da monstruosidade (“o disforme, o feio e
o mau”). O que há por trás dessa mudança da representação dos monstros no
cinema contemporâneo?
De um momento para o outro a situação se converte em um infernal pesadelo: quando tentam sair do prédio descobrem que a polícia fechou todas as saídas, agentes sanitários estão lacrando o prédio sob um inédito “protocolo NBC” que se usa frente a ameaças de armas nucleares, biológicas e químicas. Todos caem em si. O prédio está infectado por uma bizarra doença que enlouquece tornando-as espécie de zumbis raivosos que atacam as vítimas para comê-las ou apenas mordê-las, transmitindo a doença por meio de sangue e saliva.
O filme inicia com uma jovem e
telegênica apresentadora (Angela Vidal) do programa “Enquanto Você Dorme” que
apresenta a vida daqueles que trabalham nas madrugadas. Nessa noite Angela,
junto com o seu cinegrafista Pablo, vai passar a noite em um agrupamento de
bombeiros para mostrar sua rotina. Percebemos que a narrativa transcorrerá por
meio da tensa estética de ponto de vista de uma câmera de mão, pontuada pelo
liga-desliga da câmera, trepidações, e longos plano-sequência tal como a
estética dos já clássicos filmes como “A Bruxa de Blair” e
“Cloverfield-Monstro”.
Tudo transcorre em amenidades
sobre a vida dos bombeiros até o agrupamento receber um chamado sobre uma
senhora que supostamente estaria presa em um apartamento, gritando
histericamente e deixando os vizinhos assustados. Angela, Pablo e mais dois
bombeiros entram no prédio e são recebidos por um apavorado grupo de moradores
e dois policiais diante de uma sinistra escada em espiral que conduzirá ao
apartamento onde se iniciará o pesadelo: lá encontram uma senhora idosa, em pé,
transtornada e enraivecida com a pele repleta de espécie de feridas e pústulas.
Ela investe contra um deles e morde violentamente o pescoço provocando uma
hemorragia fatal.
De um momento para o outro a situação se converte em um infernal pesadelo: quando tentam sair do prédio descobrem que a polícia fechou todas as saídas, agentes sanitários estão lacrando o prédio sob um inédito “protocolo NBC” que se usa frente a ameaças de armas nucleares, biológicas e químicas. Todos caem em si. O prédio está infectado por uma bizarra doença que enlouquece tornando-as espécie de zumbis raivosos que atacam as vítimas para comê-las ou apenas mordê-las, transmitindo a doença por meio de sangue e saliva.
quarta-feira, fevereiro 08, 2012
Uma Mercadoria Chamada Cometa Halley
quarta-feira, fevereiro 08, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Vinte e seis anos depois do último grande fenômeno astronômico (a passagem do cometa Halley pela imediações da Terra cercado mensagens "new age" de paz, boas novas e otimismo), agora as notícias sobre a suposta visita de um misterioso corpo celeste com diversos nomes para as mais variadas crenças (Nibiru, Planeta X, Hercólobus, Marduk, planeta “Chupão” etc.) vem acompanhado de previsões apocalípticas. Por que essa mudança de sensibillidade e simbolismos em relação a fenômenos celestes? Talvez a resposta esteja na mercantilização dos fenômenos celestes pela indústria do entretenimento.
Após o último post sobre o filme “Another Earth” (veja links abaixo), lembrei-me de um artigo de minha autoria de priscas eras, do tempo em que era repórter de Economia no
Jornal “A Tribuna de Santos”, lá pelos idos de 1986.
Apesar de trabalhar na época em uma
editoria de assuntos tão áridos, meu verdadeiro interesse era mesmo pela área
cultural. Numa dessas puladas de cerca dos limites da editoria, consegui
emplacar um artigo no suplemento de cultura do jornal, um texto que refletia
sobre a histeria mercadológica que envolvia um fenômeno astronômico de
importância naquele ano: a passagem do cometa Halley que de tão próximo da
Terra seria visível a olho nu.
O que chamou a atenção naquele ano foi a onda de produtos e
mensagens das mais diversas áreas (desde Astrologia e Espiritualismo até Moda,
Turismo e HQs) que, em linhas gerais, associavam ao fenômeno astronômico prenúncios de
boas novas, otimismo, renovação e saúde para a espécie humana. O que tornou o
cometa Halley um fenômeno de “New Age” (movimento espiritual buscando
a fusão Oriente/Ocidente ao mesclar autoajuda, psicologia motivacional,
parapsicologia, esoterismo e física quântica).
Curioso, pois se em toda a História a passagem de corpos
celestes era interpretado como prenúncio de guerras, pestes e cataclismos (e na
última passagem do Halley em 1910 não foi diferente – chegou-se a falar que o
gás da calda do cometa envenenaria a atmosfera da Terra, criando um onda de
pânico), em 1986 o cometa se transfigurou em arauto de novas e promissoras
eras.
Mas por que 26 anos depois as notícias sobre a passagem de
um misterioso corpo celeste com diversas nomeações (Nibiru, Planeta X,
Hercólobus, Marduk, planeta “Chupão” etc.) é marcada por profecias apocalípticas?
Lendo aquele artigo de 1986 pode-se arriscar uma tese:
naquela época em que o movimento ecumênico da New Age crescia, o cometa Halley
foi investido de um simbolismo que ajudou a expandir a consciência da “Nova
Era” que seria um dos pilares ideológicos da Globalização pós-queda do Muro de
Berlin em 1989.
quarta-feira, janeiro 11, 2012
O Mito do Vampiro Chega à Maturidade no filme "Deixe Ela Entrar"
quarta-feira, janeiro 11, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Esqueça filmes como “Crepúsculo” onde vampiros com “sex appeal” seduzem adolescentes. Aclamadíssimo em Festivais de cinema Fantástico, o filme sueco “Deixe Ela Entrar” (Let The Right One In, 2008) igualmente narra uma estória de amor impossível entre adolescentes, mas rompe com os principais cânones do gênero ao apresentar o vampiro não mais como encarnação, mas como representação do Mal: o vampiro abandona a adolescência dos “shopping centers” para ingressar na rotina da adolescência repleta de ambiguidades, indecisões e desejos de vingança.
sexta-feira, dezembro 30, 2011
Os Fantasmas do Tempo no Filme "Christmas Carol"
sexta-feira, dezembro 30, 2011
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O livro “Christmas
Carol” (Um Cântico de Natal, 1843) de Charles Dickens é atemporal por
apresentar dois grandes arquétipos que marcarão a vida moderna: Fantasmas e o Tempo.
Ao fazerem uma adaptação usando animação digital (através da tecnologia de “captura
de performance”), a Walt Disney Pictures e o diretor Robert Zemeckis ("De Volta para o Futuro" e "Forrest Gump") produzem
um efeito paradoxal: esvaziam o olhar crítico de Dickens sobre o início da
modernidade ao reduzir a narrativa à estética videogame por meio de uma
tecnologia moderna. O Ocultismo e a problematização do Tempo, marcas da
literatura do século XIX como formas de questionar a modernidade, são temas
oportunos para uma reflexão nesses momentos que antecedem a celebração de Ano
Novo onde todos querem reter um momento do tempo, que então será passado.
O livro clássico de Charles Dickens “Christmas Carol” já recebeu centenas de adaptações. É um dos livros mais lidos,
lembrados e citados de todos os tempos. A narrativa conta a estória de Ebenezer
Scrooge, velho ranzinza e sovina que passou a vida inteira juntando uma
fortuna, desprezando qualquer contato com as pessoas. Ele odeia o Natal por
achar que é uma época onde as pessoas gastam mais do que têm e ironiza como
gente tão pobre pode ser feliz. Na noite de Natal recebe a visita de três
fantasmas (que mostram para ele as visões do passado, do presente e do futuro)
levando-o a uma transformação íntima e reavaliando o significado da vida.
Só para ficar no cinema (as adaptações do livro de Dickens
abrangem teatro, televisão, ópera, história em quadrinhos etc.) existem
adaptações desde 1901. Desde então praticamente toda década há alguma
adaptação, referência ou revisitação da obra, passando pelos mais diversos
gêneros.
De Walt Disney temos o personagem do Tio Patinhas (Uncle
Scrooge) inspirado no protagonista avarento do livro de Dickens, um curta de
1983 “Mickey’s Christmas Carol” e o recente “Os Fantasmas de Scrooge” (Christmas
Carol, 2009) dirigido por Robert Zemeckis (“De Volta para o Futuro”, “Forrest
Gump” e “Contato”).
Essa produção repete a velha fórmula dos estúdios Disney: a
capacidade de lidar com temas trágicos, pesados e adultos de uma forma
divertida para crianças e jovens ao diluir simbolismos arquetípicos. No caso da
adaptação de Zemeckis, a utilização da tecnologia chamada “captura de
performance” onde a animação digital é feita a partir do escaneamento das
expressões dos atores. O diretor já havia utilizado essa tecnologia em “A lenda
de Bewulf” e “Expresso Polar”, mas em “Os Fantasmas de Scrooge” há um estranho
efeito: se a maior qualidade do conto de Dickens é a sua atemporalidade, na
produção Disney a tecnologia converte a narrativa, em muitos momentos, em um
videogame com cenas de ação desnecessárias. Os grandes temas arquetípicos da
obra de Dickens (que induzem à reflexão existencial e moral das ações humanas) são
esvaziados pelo ritmo frenético e uma estética cujas opções que o protagonista
sovina tem que tomar parecem alternativas de um game em computador.
sábado, outubro 08, 2011
Em "Contraponto" a "Alice" de Lewis Carroll se encontra com "Psicose" de Hitchcock
sábado, outubro 08, 2011
Wilson Roberto Vieira Ferreira
"Contraponto" (Tideland, 2005) é uma mistura de "Alice no País das Maravilhas" de Lewis Carroll com "Psicose" de Hitchcock. Com uma atmosfera sombria, agressiva e crua com a tradicional câmera inquieta com ângulos delirantes, o ex-Monty Python Terry Gilliam parece querer fazer um acerto de contas com a sua geração:se um dia os jovens de Maio de 1968 pretendiam que a imaginação chegasse ao poder, agora a imaginação pode criar monstros e pesadelos numa geração marcada pela "ausência dos pais".
Ex- integrante do histórico grupo inglês de humor o Monty Python,
Terry Gilliam é de uma geração cujo senso de humor estava sintonizado com a
cena vivida à época: contracultura, movimentos estudantis e utopias
revolucionárias na década de 60. Seu humor anárquico e “non sense” trazia a
pretensão secreta de a arte e a estética desmontar o poder e todos os pilares
conservadores da sociedade. Em outras palavras: a “imaginação no Poder”,
palavra de ordem da geração da Revolução Estudantil de Maio de 1968 na França.
Com a extinção do Monty Python, a carreira cinematográfica
como diretor continuou a levantar essa bandeira em filmes como “Brazil – O Filme”
(Brazil, 1985)” e “As Aventuras do Barão de Munchausen” (The Adventures of
Baron Munchausen, 1988), sempre com personagens e temas recorrentes: o herói
proveniente de um universo onírico que consegue, a partir da força dos sonhos e
fantasias, enfrentar uma realidade opressiva e derrotar demiurgo e sistemas
autoritários.
Mas tudo isso acaba com o filme “Contraponto” (Tideland,
2007) onde Gilliam parece fazer um acerto de contas com a sua geração ao
mostrar que os sonhos e fantasias podem se transformar no contrário, isto é,
escapismo e negação da realidade. O psicodélico universo onírico pode se transformar
em sombrios pesadelos. Algo em torno da atmosfera que inspira o filme
“Contraponto”: um cruzamento entre “Alice no País das Maravilhas” de Lewis
Carroll com “Psicose” de Hitchcok.
Ao apresentar como um conto de “terror poético” a estória de
uma menina que vive num mundo escapista de fantasias para negar a realidade de
pais negligentes e viciados em heroína, Terry Gilliam insere o filme no
contexto de discussões sociológicas sobre a chamada “geração sem pais”, os
chamados “baby boomers”, e os reflexos em gerações posteriores.
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