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segunda-feira, março 28, 2016
Em "O Cérebro Que Não Queria Morrer" o pesadelo da ciência tecnognóstica
segunda-feira, março 28, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um filme que assombrou a infância desse humilde blogueiro. Assistido
décadas depois, o filme de terror sci fi “O Cérebro Que Não Queria Morrer” (The
Brain That Wouldn’t Die, 1962) comprova ser uma verdadeira cápsula do tempo: mostra uma
Hollywood onde a herança cultural europeia ainda estava presente na crítica
à ética do progresso científico – a consciência ou “alma” não se localiza
exclusivamente no cérebro (ecos da psicologia Gestalt e da Fenomenologia), o
que torna a experiência do protagonista (o transplante da cabeça de sua noiva)
moralmente abominável. Bem diferente da atualidade, onde a agenda tecnognóstica
na Ciência crê numa consciência descorporificada que poderia ser traduzida
em bytes e aspirar à eternidade.
sexta-feira, agosto 28, 2015
Por que Hollywood está interessada na mente humana?
sexta-feira, agosto 28, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Por que Hollywood anda tão interessada na mente humana? De filmes como
“Amnésia” (2000) até a atual animação da Pixar “Divertida Mente” (2015) é
recorrente o tema da possibilidade representação, mapeamento ou virtualização
da mente para que possamos melhor controlá-la ou aumentar suas potencialidades.
Sabendo-se que desde a II Guerra Mundial Hollywood tornou-se uma poderosa
ferramenta de repercussão das agendas políticas ou econômicas dos EUA, o que
representaria essa recorrência temática desse início do século? Esse foi o tema
desenvolvido por esse humilde blogueiro na CONACINE 2015, onde procurei expor
que nesse momento o cinema estaria repercutindo duas agendas: uma
“tecnognóstica” e a outra religiosa, cujo epicentro estaria no Vale do Silício: a propagação da “religião das máquinas”.
Por que o roteiristas e diretores do cinema andam tão interessados pelo
tema da mente humana? É visível a recorrência desse tema na cinematografia
desse início de século, desde Amnésia (2000), passando por Vanilla
Sky (2001) e Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (2004) até os
recentes Transcendence, Lucy e a animação da Pixar Divertida Mente.
Nesse conjunto de filmes está sempre presente a ambição pela
possibilidade de mapeamento, simulacão e controle da mente humana. Por que esse
tema é tão recorrente no cinema nesses últimos tempos?
segunda-feira, agosto 17, 2015
Editor do "Cinegnose" participa com palestra no CONACINE 2015
segunda-feira, agosto 17, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Este humilde
blogueiro participará da segunda edição do Congresso Nacional de Cinema
(CONACINE), que vai acontecer de 17 a 21 de agosto. Participarei no dia 20 às
13 horas com a palestra on line “Cartografias da Mente Cibernética: o cinema e a
virtualização da mente humana”.
O evento é
totalmente online. Quem se inscrever terá o direito de assistir às palestras de
sua escolha, gravadas em vídeo e exibidas no site do evento em datas e horários
específicos. Os interessados podem se inscrever no site do CONACINE. O endereço
é www.conacine.org.
segunda-feira, julho 06, 2015
"Divertida Mente" transforma pesquisas de controle da mente em entretenimento
segunda-feira, julho 06, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A crítica especializada vem considerando a nova animação da Pixar, “Divertida Mente” (Inside Out, 2015), como a mais criativa e emocionante do estúdio. Certamente comprova como a Pixar é capaz de transformar em entretenimento um conteúdo politicamente sério: as pesquisas do psicólogo Paul Ekman, pioneiro dos estudos das conexões entre as emoções e expressões fisionômicas – estudos iniciados pela CIA e Departamento de Defesa dos EUA para criar modernos detectores de mentira em suspeitos de terrorismo. Dessa maneira, “Divertida Mente” é mais um produto midiático que reflete a atual agenda tecnocientífica: o projeto das cartografias e topografias da mente – criar modelos de simulação baseados nas neurociências, Cibernética e ciências da computação que desvendem o funcionamento da mente e da consciência. Por trás do entretenimento há um propósito muito mais sério: controle e manipulação da mente, seja pela via fármaco ou pelo controle de massas através de dispositivos como o Neuromarketing.
quinta-feira, junho 04, 2015
Nietzsche se encontra com Inteligência Artificial no filme "Ex Machina"
quinta-feira, junho 04, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O roteirista e escritor Alex Garland (autor do livro “The Beach”, com versão cinematográfica em 2000) faz uma sombria estreia como diretor no filme “Ex Machina” (2015). Sombria porque, ao contrário da tradicional abordagem cinematográfica sobre a Inteligência Artificial (entre a apologia e o apocalipse tecnológico), Garland apresenta uma abordagem verossímil e atual, onde a IA é o resultado de uma singularidade produzida pelo chamado Big Data produzido pelas redes sociais, celulares e dos algoritmos de busca de uma empresa chamada Blue Book – em tudo análoga ao Google. Tão verossímil que se torna assustador: a IA surgirá como um fenômeno pós-humano orientado apenas pela "Vontade de Potência", no sentido atribuído pelo filósofo Nietzsche – um ser unicamente governado pela vontade de realizar-se como potencia em si mesma, para além do Bem e do Mal, tornando o homem uma primitiva ferramenta de linguagem. E esse novo ser é um androide feminino. Filme indicado pelo nosso leitor Felipe Resende.
sábado, maio 09, 2015
"Chappie", a consciência e a seringa hipodérmica
sábado, maio 09, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Depois
do favelão e lixo nos quais o futuro se transformou em “Distrito 9” e “Elysium”,
dessa vez com o filme “Chappie” (2015) Neil Blomkamp visita a pedra filosofal do
gênero ficção científica: a Inteligência Artificial. O subtexto político dos
filmes anteriores continua (África do Sul, Globalização e apartheid), mas dessa
vez parece que Blomkamp cedeu ao “product placement” (inserção subliminar de
produtos e marcas) e à agenda que orienta as produções do gênero pelos grandes
estúdios: o tecnognosticismo - a ambição pós-humana de nos livrarmos da carne e
do orgânico através de uma suposta transcendência espiritual possibilitada pelo
escaneamento da consciência e a sua conversão em bytes. Ao contrário do filme
“AI” (2001), também uma alusão à fábula de Pinóquio (uma máquina que quer se
transformar em ser humano), aqui Chappie tenta emular sentimentos humanos, mas
dessa vez através de uma consciência que se assemelha à metáfora da “agulha hipodérmica”.
Se em “A.I.” a máquina queria acreditar naquilo que não podia ser visto ou sentido,
em Chappie a máquina não tem sonhos – ela quer apenas imitar - filme sugerido pelo nosso leitor Joari Carvalho.
Chappie,
do diretor Neil Blomkamp (Distrito 9
e Elysium), é um filme dentro de um
subgênero do sci fi que os pesquisadores chamam de “ficção científica do Sul”:
filmes em estilo realista monckmentary
(feitos em estilo documentário mas em tom paródico) com atores e empresas de
países considerados periféricos e com temas ligados às mazelas da globalização
sócio econômica – privatização, imigrantes ilegais, favelização, exclusão,
máfias internacionais etc.
O tom mais marcante desse subgênero é mostrar como
a alta tecnologia (robótica, nanotecnologia etc.) convive de forma conflitiva
com favelas, deterioração urbana, lixo, precarização do trabalho e sucateamento
do Estado. O que torna os filmes desse subgênero potencialmente críticos em
relação ao atual status quo da
Globalização.
segunda-feira, dezembro 29, 2014
Blog censurado pelo delírio digital do Google AdSense
segunda-feira, dezembro 29, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Para minha surpresa, o blog “Cinema
Secreto: Cinegnose” foi acusado, julgado e executado às vésperas do Natal.
Acusação: disseminação de conteúdos “chocantes” de “violência”, “pornografia”,
“sangue” e “atitudes repulsivas”. Pelo menos é o que disseram os robôs e
scripts do Google AdSense, lembrando a elite de juízes de rua do filme “Judge
Dredd” que julgava e executava instantaneamente os violadores – “veiculação de
anúncio do Google AdSense foi desativada no seu site por violação do
regulamento do programa”, informava o e-mail executor!. Esse será o admirável
mundo novo do Google: o delírio digital dos códigos binários que, sem
compreender contextos, reduzirá a realidade ao denominador comum do 0/1. Como
um blog que analisa filmes e a mídia como sintomas do imaginário social de uma
determinada época, poderá tratar dessa temática sem cair na “malha fina” dos
onipresentes e oniscientes robôs digitais? Bem vindo à futura blogosfera
“disneyficada” e pacificada em tons pastéis semelhantes à cidade cenográfica de
Seaheaven do filme “Show de Truman”.
Entre
um e-mail e outro na caixa de entrada na véspera de Natal, com os tradicionais
desejos de boas festas, surge um com título ameaçador: “A veiculação do anúncio
do Google Adsense foi desativada para o seu site”. Um estranho e-mail cujo
conteúdo narra algum tipo de julgamento feita à minha revelia no qual fui acusado,
condenado e executado! Isso depois de seis meses de anúncios adsense no blog.
terça-feira, agosto 12, 2014
O pós-humano de "Lucy" e o mito dos 10% do cérebro
terça-feira, agosto 12, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Lucy” (2014), do diretor francês Luc Besson (“O Quinto Elemento”, “Leon: The Professional”), é mais um filme da safra atual com o tema do pós-humano (“Transcendence”, “The Machine”, “Limitless” etc.). Todos se baseiam em um mito que é o pressuposto da filosofia pós-humanista que anima a agenda tecnocientífica atual: o homem seria um ser limitado porque utilizaria tão somente 10% da capacidade cerebral. Sua limitação viria do corpo físico que nos aprisionaria no medo e na dor. Mito desconstruído por neurologistas sérios como Barry Gordon, da John Hopkins School of Medicine. Por meio de drogas ou tecnologias cibernéticas o homem daria em “upgrade” em si mesmo, acessando 100% o “banco de dados” cerebral. “Lucy” revela uma nova religião onde Deus é substituído pela tecnologia e a alma pela informação.
domingo, julho 20, 2014
"Transcendence" mostra fábula nietzschiana sobre tecnologia e poder
domingo, julho 20, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Crítica e público estão massacrando o filme “Transcendence
– A Revolução” (2014). Todos esperavam um sci fi clássico com super-heróis e
narrativas de ação e terror. Mas o filme nos oferece uma extrapolação do atual
discurso autopromocional das neurociências e ciências da computação através do
olhar de uma autêntica fábula nietzschiana sobre o Poder: a grande questão da
onisciência e onipresença de uma suposta superinteligência digital por trás de corporações
como Google e do projeto da Internet das Coisas não é a do Poder vulgar em
conquistar mais dinheiro e controle político: é o Poder pelo Poder, como jogo,
vontade de potência em transcender os limites da ética e moral humana
representado pela superação do próprio corpo.
Nelson Rodrigues dizia que toda unanimidade é burra.
Certamente essa máxima pode ser aplicada à forma como a crítica e o público
está recebendo o filme Transcendence – A
Revolução. Bilheterias decepcionantes nos EUA e Brasil e péssimas críticas
tanto aqui como lá.
“Muito conceito e pouca história para contar”,
“explicações incessantes”, “elenco estrelado (Johnny Deep, Morgan Freeman e
Cillian Murphy e Paul Bettany) que parecem não saber o que fazer trocando
frases soltas entre si”, “pretensioso e chato” etc. O que parece criar
estranhamento para os críticos são os desempenhos “contidos” ou até “robóticos”
do protagonista Deep e um filme que parece investir muito mais nas rimas
visuais e em conceitos abstratos do que em uma história dramática.
Crítica e público esperavam um “filme de ficção
científica” com super-heróis ou narrativas de ação e terror com um “sabor” de sci-fi, que é o que normalmente
Hollywood oferece. Mas o que o diretor Wally Pfister (desde o filme Amnésia diretor de fotografia dos filmes
de Christopher Nolan) foi uma verdadeira ficção científica: a partir da agenda
tecnologia atual, extrapolar para onde estamos indo e o que isso pode
significar para a raça humana, intelectual e espiritualmente.
quarta-feira, julho 02, 2014
"Agnosia" revela formas alternativas da mente no cinema
quarta-feira, julho 02, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O filme espanhol “Agnosia” de Eugenio Mira e “A Origem” de Christopher
Nolan foram lançados no mesmo ano de 2010. São dois filmes com versões
diferentes para o mesmo tema: um thriller de espionagem industrial que envolve
a invasão da mente de alguém para extraírem um segredo que envolve interesses
corporativos. Um exercício de análise comparativa entre os dois filmes revela
diferentes formas de representar a mente humana: se na Europa a Psicanálise e a psicologia da percepção possuem prestígio no meio artístico e intelectual, nos
EUA a mente não é pensada como uma máquina desejante, mas informática onde
dados são deletados ou inseridos. Enquanto “Agnosia” é um conto gótico inspirado
em psicanálise, “A Origem” é o inconsciente traduzido pelas neurociências.
A análise comparada em cinema (o exercício de analisar diferentes visões
de filmes e diretores sobre um mesmo tema) sempre dá surpreendentes resultados
ao revelar as diferenças ideológicas e culturais de países ou de polos de
produção cinematográfica.
Um exemplo evidente é o filme espanhol Agnosia (2010) do diretor Eugenio Mira e escrito por Antonio
Trashorras. Assistindo ao filme, é impossível não comprarmos com o filme de
Christopher Nolan A Origem
(Inception, 2010), produção norte-americana lançada no mesmo ano da produção
espanhola. Ambos exploram o tema da espionagem industrial: há um segredo de
grande interesse industrial que está na mente de uma pessoa e que deve ser
extraído.
segunda-feira, junho 09, 2014
Conceito "Cinegnose" é agora verbete em nova edição do Dicionário da Comunicação
segunda-feira, junho 09, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O conceito
criado por esse humilde blogueiro e a razão da existência desse blog – a noção
de “cinegnose” – foi transformado em verbete no “Dicionário da Comunicação –
segunda edição revista e ampliada”, lançado na semana passada pela Editora
Paulus. Juntamente com os verbetes “filme gnóstico” e “adgnose”, também criados nas pesquisas do blog, o "Dicionário
da Comunicação" organizado pelo Prof. Dr. Ciro Marcondes Filho abre a
oportunidade para que as pesquisas sobre as confluências entre Gnosticismo,
Cinema e Comunicação que foram iniciadas pelo “Cinema Secreto: Cinegnose” se
fortaleçam e ganhem espaço dentro dos estudos científicos da área. As pesquisas
iniciadas por esse blog se juntam, portanto, às pesquisas da chamada Nova
Teoria da Comunicação: o estudo do fenômeno comunicacional como acontecimento e
transformação pessoal e coletiva. E para o blog, a abertura para fenômenos
espirituais como a gnose.
Na semana
passada foi lançado em São Paulo o Dicionário
da Comunicação - segunda edição
revista e ampliada, pela editora Paulus, organizado pelo Prof. Dr. Ciro
Marcondes Filho da ECA/USP. Esse humilde blogueiro fez parte dos 80 colaboradores
nacionais e internacionais que trouxeram novas correntes de pesquisas e olhares
para a comunicação, incluindo diferentes linhas de pensamentos.
Nesta nova
edição do dicionário esse blogueiro que escreve essas mal traçadas linhas foi
convidado a transformar em verbetes alguns conceitos desenvolvidos por esse
blog dentro do nosso projeto de convergência dos conceitos da Teoria da
Comunicação e Cinema com o Gnosticismo: “adgnose”, “filme gnóstico”,
“cinegnose”, “arquétipos contemporâneos”, “agenda tecnocientífica”, “cinema
esquizo”, além de conceitos tradicionais da ciência da comunicação como “agenda
setting” e “mitologia” – no sentido dado pelo semiólogo francês Roland Barthes.
segunda-feira, maio 12, 2014
O pós-humano no filme "The Machine"
segunda-feira, maio 12, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Do mito do Golem
do misticismo judaico, passando pelo robô Maria do clássico “Metrópolis” de
1927 até chegar ao computador HAL 9000 de “2001” de Kubrick, a Inteligência
Artificial (IA) é vista como ameaça ou realização máxima do homem, mas nunca
sua superação por supostamente faltar nela a essência da humanidade: a consciência
ou alma. Mas o filme inglês “The Machine” (2013) insere a discussão da IA em
outro patamar, desenvolvido no cinema desde os personagens dos replicantes
de “Blade Runner” (1982) de Ridley Scott: o do “pós-humano”. “The Machine” acrescenta
a essa novo enfoque da IA um componente místico que estaria motivando a agenda
tecnocientífica atual: o tecnognosticismo - a
ambição de nos livrarmos da carne e do orgânico através da transcendência espiritual
possibilitada pela tecnologia. Encontrar a imortalidade da alma através de upload
final para um banco de dados, “nuvem” de bits ou rede eletrônico-neuronal.
A Inteligência
Artificial (IA) é um dos grandes arquétipos do imaginário contemporâneo, capaz
de alimentar tanto as utopias mais luminosas quanto os maiores pesadelos
distópicos da literatura e do cinema.
Herdeiro direto
das mitologias do Golem (ser artificial associado ao misticismo judaico da
Cabala, trazido à vida através de processos mágicos), dos homunculus da Alquimia e de Frankenstein (a criação da escritora
Mary Shelley que materializou a advertência do pintor Goya de que o sono da
Razão produz monstros), a evolução da ambição tecnocientífica pela Inteligência
Artificial pode ser dividida em três etapas:
Primeira,
representada pelo filme Metrópolis de
Fritz Lang: através de uma estética cartesiana emblemática da vanguarda
artística da primeira metade do século XX apresenta a personagem robótica
Maria, comandada pelos malignos propósitos de uma elite que escraviza
trabalhadores – mas também o símbolo da necessidade do homem comandar a máquina
com o coração para mediar os conflitos entre a classe dominante e dominada. Em
si a máquina é benéfica, bastando ao homem buscar não a Razão, mas a sua
humanidade para controlá-la de forma sábia.
domingo, março 30, 2014
Neurogadget que promete sonhos lúcidos é sintoma da cultura dos aplicativos
domingo, março 30, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um aplicativo que
promete para o usuário sonhos lúcidos. É o “Aurora”, criado por uma start up
californiana e previsto para ser lançado no segundo semestre desse ano, que
promete tornar os sonhos tão produtivos e eficientes que farão a terça parte da
vida que passamos dormindo valer a pena. O neurogadget Aurora é um sintoma
tanto da cultura atual dos aplicativos que cria nos usuários uma falsa ilusão
de racionalidade e planejamento de onde nem os sonhos parecem escapar; e de uma
agenda tecnognóstica que une
neurociências, ciências computacionais e Inteligência Artificial com o
propósito de efetuar a cartografia e topografia da mente com objetivos de
manipulação e controle social.
Em postagem
anterior discutíamos como o cinema parece antecipar uma espécie de agenda
tecnocientífica – sobre isso clique
aqui. Dessa vez, os diversos filmes que abordaram o tema dos sonhos lúcidos
(Vanilla Sky, A Origem, Sonhando Acordado, entre outros) parecem ter se
antecipado ou inspiraram um aplicativo criado pela IWinks, uma start up de San Diego, nos EUA: o “Aurora”,
aplicativo que promete ao usuário criar sonhos lúcidos a partir de um
dispositivo que mede as ondas cerebrais e o movimento dos olhos.
O sonho lúcido
ocorre no momento em que o sonhador começa a ter uma relação de estranheza com
o fluxo dos acontecimentos oníricos e passa a questionar a própria realidade.
Consciente que se encontra num sonho, passa então a interferir na lógica
onírica. O aplicativo “Aurora” supostamente promete criar essa situação para o
usuário a partir do momento em que o dispositivo percebe os movimentos REM e a
alteração das ondas cerebrais, enviando jogos de luzes e sons personalizados
para o usuário que, sem despertar, perceberá que está num sonho - veja abaixo o video promocional do aplicativo.
domingo, março 23, 2014
"Aurora" supera "A Origem" e inova as representações do inconsciente no cinema
domingo, março 23, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
É inevitável a
comparação entre “Aurora” (Vanishing Waves, 2012) da lituana Kristina Buozyte
com “A Origem” (Inception, 2010) de Christopher Nolan: enquanto a produção
hollywoodiana abordava o mundo onírico pelo viés das neurociências
(jamais a palavra “inconsciente” era citada), a produção lituana aborda o mesmo
tema, mas fiel ao ponto de vista freudiano sobre a dinâmica do psiquismo, inovando as representações do inconsciente no cinema através de
engenhosos efeitos inspirados em MC Escher e expressionismo alemão. Se Freud
considerava o inconsciente como o “Isso” e o “Estranho”, “Aurora” mostra como
uma neurociência atual munida de interfaces digitais e mapas neuronais tenta
ignorar essa origem de toda atividade humana impossível de ser apreendida pela
ciência racionalista.
Em postagem
passada quando discutíamos o filme A Origem (Inception, 2010)
observamos que a grande deficiência do filme de Nolan era abordar o tema dos
estados imersivos de alteração de consciência e o mundo onírico dos sonhos sob
um ponto de vista associado à engenharia do espírito das neurociências: embora
tudo ocorresse no mundo dos sonhos, nunca se tocava na palavra inconsciente e o
psiquismo era abordado pela possibilidade pragmática de manipulação
neurocientífica comandada por interesses corporativos.
O que tornou A Origem num filme estéril e assexuado
onde a presença feminina tornou-se masculinizada ou, então, um objeto abstrato
tal como uma princesa de contos de fadas. Bem diferente é o filme da lituana
Kristina Buozyte Aurora (Vanishing Waves) em que a narrativa
revisita alguns conceitos das viagens no mundo dos sonhos de A Origem. Porém, em Aurora, o psiquismo do mundo dos sonhos é uma mix de surrealismo e
de uma primitiva psicossexualidade que faria Freud ficar corado. Kristina se
aproxima muito mais do funcionamento do psiquismo humano do que Nolan ao
capturar como a experiência real do sonho pode ser assustadora e desagradável,
mesclada com primitivas e incontroláveis fantasias eróticas. O que torna Aurora um filme diferenciado no gênero
de ficção científica: uma erótica e surreal viagem mental.
segunda-feira, fevereiro 17, 2014
Por que somos seduzidos pelo virtual?
segunda-feira, fevereiro 17, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“É a verdade... a digitalização da vida real. Você não vai só a uma festa. Vai a uma festa com uma câmera digital. E seus amigos revivem a festa on line.” Essa afirmação de Sean Parker (criador do Napster, interpretado no filme por Justin Timberlake), que aparece solta nas frenéticas linhas de diálogo no filme “A Rede Social” (The Social Network, 2010), é a síntese do “desejo de virtualidade”, essa motivação individual que sustenta todo o projeto tecnognóstico que domina a atual agenda tecnológica e científica. O desejo pela digitalização da vida seria a recorrência de uma milenar aspiração gnóstica pela transcendência da carne e a imortalidade da espécie. Mas essa aspiração por transcendência transforma-se em má consciência ao ser capturada por sistemas econômicos e políticos. Transforma-se em ideologia, como questiona o pesquisador canadense em ciência política, tecnologia e cultura Arthur Kroker.
segunda-feira, janeiro 06, 2014
Exposição faz viagem pela mente de Stanley Kubrick e alimenta conspirações
segunda-feira, janeiro 06, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A
partir de uma cenografia que recria os ambientes e a sofisticação visual de
cada filme, a exposição Stanley Kubrick, em cartaz até o dia 12/01 no Museu da
Imagem e do Som (MIS) em São Paulo cria a curiosa sensação no visitante de
estar caminhando no interior da mente do diretor. Mas, além disso, a variedade
de documentos, cartas e memorandos expostos alimentam muitas teorias conspiratórias que
envolvem um diretor que sempre foi recluso e avesso a entrevistas ou a ter que
dar explicações para os significados de seus filmes: a consultoria do
mainstream tecnocientífico dos
EUA na produção de “2001 – Uma Odisséia no Espaço”; os arrojados efeitos
especiais à frente de seu tempo, dez anos antes de “Guerra nas Estrelas”; e a
morte do diretor quatro dias depois da exibição interna do filme “De Olhos Bem
Fechados” para executivos da Warner Bros, produção que sugere polêmicas histórias sobre conexões da elite político-financeira com orgias sexuais ocultistas.
Nessa
última sexta-feira visitei a retrospectiva Stanley Kubrick no Museu da Imagem e
do Som (MIS) aqui de São Paulo. Sob um calor escaldante da tarde, aguardei 45
minutos na fila da bilheteria para depois, sob o onipresente olhar de Kubrick
com a sua câmera em um enorme pôster no corredor da entrada da exposição,
esperar em uma segunda fila a vez para subir a escadaria de entrada. Um segundo
pôster com linha do tempo da produção de Kubrick decorava esse corredor, onde
você tinha a chance de checar os títulos e datas dos filmes que comporiam os
ambientes de cada sala da retrospectiva tão ansiosamente aguardada.
De
tão atemporal que se tornaram os filmes do diretor, não havia ainda parado
para pensar sobre os grandes hiatos entre as suas produções. Por exemplo, de O Iluminado (1980) a Nascido Para Matar (1987), sete anos; e de Nascido para Matar (1987) a De Olhos Bem Fechados (1999) um
intervalo de doze anos. Seu período de produção mais regular está na chamada
Trilogia Star Child (Doutor Fantástico
(1963), 2001 – Uma Odisséia no Espaço
(1968) e Laranja Mecânica - 1971), um
período com profundos significados ocultos e metafísicos, como já observamos em
postagem anterior.
sexta-feira, dezembro 06, 2013
O aplicativo Lulu e a religião da autoabdicação humana
sexta-feira, dezembro 06, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Processos judiciais, febre entre as mulheres e pânico entre os homens.
Por trás desse frisson midiático autopromocional do aplicativo Lulu onde
mulheres avaliam homens através de um conjunto de quesitos, estão questões que
colocam em xeque a própria cultura dos gadgets tecnológicos que está organizando o nosso lazer e trabalho. O Lulu seria o sintoma de uma verdadeira religião cibertotalitária
que estaria motivando a maioria de engenheiros, cientistas e designers digitais
do Vale do Silício: a autoabdicação humana – o computador estaria evoluindo
para se transformar em uma forma de vida capaz de entender melhor as pessoas do
que as próprias pessoas. E quem fala isso não é nenhum tecnofóbico, mas um dos
principais nomes do Vale do Silício: o designer de software Jaron Lanier.
Duas cenas em duas épocas
distantes entre si no tempo. O que veremos a seguir é que essas duas cenas estão interligadas não só em uma análise sobre o fenômeno do aplicativo Lulu, mas de toda a cultura criada em torno do consumo diário de aplicativos.
Primeira cena: Em meio à euforia
da revolução sexual dos anos 1960 desencadeada pela pílula anticoncepcional, a
descoberta da sexualidade desatrelada da reprodução e dos papéis familiares e a
erotização generalizada da mídia, publicidade e sociedade de consumo, o
pensador alemão Herbert Marcuse observava a tudo com desconfiança. Um dos
principais nomes da chamada Escola de Frankfurt, Marcuse estava naquele momento
no olho do furacão dos movimentos de rebeldia estudantil: professor de
filosofia no campus San Diego da Universidade da Califórnia. Para ele, o princípio de realidade contra o qual a
revolução se dirigia estava se transformando em algo mais insidioso: o princípio do desempenho, princípio que
transformaria toda a revolução sexual e dos costumes muito mais em sucesso de
vendas do que em real emancipação.
sexta-feira, março 29, 2013
Geografias Interiores: cartografias e topografias da mente
sexta-feira, março 29, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A
cinematografia desse início de século parece expressar nas suas narrativas
fílmicas uma agenda tecnológica contemporânea onde não apenas generaliza o
modelo computacional como fosse o próprio modelo cognitivo de funcionamento da
mente, mas também pretende criar modelos simulados de funcionamento cerebral a
partir de verdadeiras cartografias e topografias da mente. O esforço multidisciplinar envolvendo as neurociências,
ciências cognitivas, Cibernética, Inteligência Artificial e Teoria da
Informação para não só desvendar o funcionamento da mente como também procurar
um modelo de simulação que permita não só compreender a dinâmica dos processos
mentais e da consciência, mas, principalmente, manipulá-la e controlá-la.
Filmes que parecem expressar essa agenda tecnocientífica ao empreenderem uma verdadeira geografia alegórica dos processos mentais.
Tal agenda culmina hoje no reforço de um novo tipo de sujeito das novas redes
tecnológicas digitais: o sujeito fractal e a sua compulsão em representar
cartograficamente seus pensamentos, hábitos, relacionamentos e projetos
pessoais por meio de verdadeiras “geografias interiores”.
O filme pode ser considerado um verdadeiro
documento primário por expressar através de imagens e movimento o imaginário e
sensibilidades de uma determinada época. O historiador Marc Ferro, um dos
principais nomes da chamada “Escola dos Annales”, acredita que a relação
cinema-história tem um importante papel no campo historiográfico: "o imaginário
é tanto história quanto História, mas o cinema,
especialmente o cinema de
ficção, abre um excelente caminho em direção aos campos da história
psicossocial nunca atingidos pela análise dos documentos" (FERRO, 1992,
p.12). Não importa se o filme refere-se a um passado remoto ou imediato, pois
sempre vai além do seu conteúdo:
sexta-feira, março 15, 2013
Mas afinal, quem é o dono do hardware?
sexta-feira, março 15, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Após resultados positivos nas investigações sobre a interface
cérebro/máquina, o cientista Miguel Nicolélis vai além: em artigo publicado na “Cientific
Reports” anuncia o sucesso na conexão entre cérebro/cérebro. O arco de benefícios
iria desde aplicações médicas como reparos eletrônicos em tecidos cerebrais até
o surgimento do primeiro “computador orgânico”, uma Internet formada por
cérebros conectados em tempo real. Essas promessas tecnocientíficas adquirem um
aspecto messiânico ao serem divulgadas pela mídia de forma descontextualizada e
solta em uma espécie de vácuo das boas intenções. Mas quem financia a pesquisa?
Qual o destino dessas descobertas ao transformarem-se em comodities em uma sociedade de mercado? Para além das
aplicações pontuais, que tipo de paradigma ou modelo de individualidade as
neurociências repercutem na cultura? E o principal: mas afinal, quem é o dono do hardware?
Nicolélis tem nobres intenções:
ele quer fazer tetraplégicos andarem através da interface cérebro/máquina e tecidos
cerebrais lesionados se reconstituírem através da tecnologia e plasticidade inerente
às redes neuronais. Nicolélis se deixa fotografar com camisas discretamente
abertas para que possamos perceber uma camisa verde e amarela por baixo. Ele
faz questão de declarar que todo o know
how tecnológico dos laboratórios da Universidade de Duke nos EUA foi
trazido para o Instituto de Neurociência de Natal, Rio Grande do Norte.
Nicolélis é um nacionalista, sinal do crescente protagonismo do Brasil no
cenário internacional após anos de governo Lula e Dilma.
Os avanços tecnocientíficos
parecem estar acima de qualquer juízo de valor ou crítica por serem o resultado
prático do esforço coletivo do intelecto humano. Esses avanços fascinam pela
potencial utilidade e benefícios que podem trazer ao gênero humano: quem poderá
ser contra a possibilidade de paralíticos voltarem a andar e cérebros
lesionados recuperarem suas funções?
domingo, março 03, 2013
Drogas, discoteca e 3D: o atalho pop para o Sagrado
domingo, março 03, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Dos primeiros espaços sensoriais multimídia das discotecas dos anos 70 ao cinema 3D da atualidade, acompanhamos diante dos nossos sentidos a materialização tecnológica de toda uma dimensão mística e sagrada: a materialização dos simbolismos arquetípicos da espécie diante dos nossos sentidos por meio da convergência das mídias através das tecnologias digitais. Se no passado era necessário a ascese e disciplina espiritual para vivenciar essa dimensão metafísica, hoje as tecnologias sensorias prometem um atalho. Qual o destino da milenar aspiração mística e religiosa por transcendência num ambiente altamente tecnologizado sob o controle de grandes corporações?
Em uma aula da
disciplina Comunicação Visual na Universidade Anhembi Morumbi discutia com meus
alunos as referências visuais de cada década. Em relação aos anos 70,
apresentava as referências visuais da Disco Music: moda, comportamento e,
principalmente, os espaços multi-sensorias que eram as discotecas. Luzes
estroboscópicas, pistas de dança com luzes em movimento criando formas
geométricas randômicas, gelo seco etc. Em termos de comportamento, sabemos que,
ao longo das décadas as drogas acompanham cada tendência dentro da cultura pop.
Na era da Disco Music acompanhamos a decadência das drogas lisérgicas e a
ascensão das drogas "speed" como a cocaína. Diante de tanto estímulo
sensorial, o importante era ficar ligado e dançar a noite inteira.
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