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segunda-feira, março 28, 2016

Em "O Cérebro Que Não Queria Morrer" o pesadelo da ciência tecnognóstica


Um filme que assombrou a infância desse humilde blogueiro. Assistido décadas depois, o filme de terror sci fi “O Cérebro Que Não Queria Morrer” (The Brain That Wouldn’t Die, 1962) comprova ser uma verdadeira cápsula do tempo: mostra uma Hollywood onde a herança cultural europeia ainda estava presente na crítica à ética do progresso científico – a consciência ou “alma” não se localiza exclusivamente no cérebro (ecos da psicologia Gestalt e da Fenomenologia), o que torna a experiência do protagonista (o transplante da cabeça de sua noiva) moralmente abominável. Bem diferente da atualidade, onde a agenda tecnognóstica na Ciência crê numa consciência descorporificada que poderia ser traduzida em bytes e aspirar à eternidade.

sexta-feira, agosto 28, 2015

Por que Hollywood está interessada na mente humana?

Por que Hollywood anda tão interessada na mente humana? De filmes como “Amnésia” (2000) até a atual animação da Pixar “Divertida Mente” (2015) é recorrente o tema da possibilidade representação, mapeamento ou virtualização da mente para que possamos melhor controlá-la ou aumentar suas potencialidades. Sabendo-se que desde a II Guerra Mundial Hollywood tornou-se uma poderosa ferramenta de repercussão das agendas políticas ou econômicas dos EUA, o que representaria essa recorrência temática desse início do século? Esse foi o tema desenvolvido por esse humilde blogueiro na CONACINE 2015, onde procurei expor que nesse momento o cinema estaria repercutindo duas agendas: uma “tecnognóstica” e a outra religiosa, cujo epicentro estaria no Vale do Silício:  a propagação da “religião das máquinas”.

Por que o roteiristas e diretores do cinema andam tão interessados pelo tema da mente humana? É visível a recorrência desse tema na cinematografia desse início de século, desde Amnésia (2000), passando por Vanilla Sky (2001) e Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (2004) até os recentes Transcendence, Lucy e a animação da Pixar Divertida Mente.

Nesse conjunto de filmes está sempre presente a ambição pela possibilidade de mapeamento, simulacão e controle da mente humana. Por que esse tema é tão recorrente no cinema nesses últimos tempos?

segunda-feira, agosto 17, 2015

Editor do "Cinegnose" participa com palestra no CONACINE 2015

Este humilde blogueiro participará da segunda edição do Congresso Nacional de Cinema (CONACINE), que vai acontecer de 17 a 21 de agosto. Participarei no dia 20 às 13 horas com a palestra on line “Cartografias da Mente Cibernética: o cinema e a virtualização da mente humana”.

O evento é totalmente online. Quem se inscrever terá o direito de assistir às palestras de sua escolha, gravadas em vídeo e exibidas no site do evento em datas e horários específicos. Os interessados podem se inscrever no site do CONACINE. O endereço é www.conacine.org.

segunda-feira, julho 06, 2015

"Divertida Mente" transforma pesquisas de controle da mente em entretenimento


A crítica especializada vem considerando a nova animação da Pixar, “Divertida Mente” (Inside Out, 2015), como a mais criativa e emocionante do estúdio. Certamente comprova como a Pixar é capaz de transformar em entretenimento um conteúdo politicamente sério: as pesquisas do psicólogo Paul Ekman, pioneiro dos estudos das conexões entre as emoções e expressões fisionômicas – estudos iniciados pela CIA e Departamento de Defesa dos EUA para criar modernos detectores de mentira em suspeitos de terrorismo. Dessa maneira, “Divertida Mente” é mais um produto midiático que reflete a atual agenda tecnocientífica: o projeto das cartografias e topografias da mente – criar modelos de simulação baseados nas neurociências, Cibernética e ciências da computação que desvendem o funcionamento da mente e da consciência.  Por trás do entretenimento há um propósito muito mais sério: controle e manipulação da mente, seja pela via fármaco ou pelo controle de massas através de dispositivos como o Neuromarketing.

quinta-feira, junho 04, 2015

Nietzsche se encontra com Inteligência Artificial no filme "Ex Machina"


O roteirista e escritor Alex Garland (autor do livro “The Beach”, com versão cinematográfica em 2000) faz uma sombria estreia como diretor  no filme “Ex Machina” (2015). Sombria porque, ao contrário da tradicional abordagem cinematográfica sobre a Inteligência Artificial (entre a apologia e o apocalipse tecnológico), Garland apresenta uma abordagem verossímil e atual, onde a IA é o resultado de uma singularidade produzida pelo chamado Big Data produzido pelas redes sociais, celulares e dos algoritmos de busca de uma empresa chamada Blue Book – em tudo análoga ao Google. Tão verossímil que se torna assustador: a IA surgirá como um fenômeno pós-humano orientado apenas pela "Vontade de Potência", no sentido atribuído pelo filósofo Nietzsche – um ser unicamente governado pela vontade de realizar-se como potencia em si mesma, para além do Bem e do Mal, tornando o homem uma primitiva ferramenta de linguagem. E esse novo ser é um androide feminino. Filme indicado pelo nosso leitor Felipe Resende.

sábado, maio 09, 2015

"Chappie", a consciência e a seringa hipodérmica

Depois do favelão e lixo nos quais o futuro se transformou em “Distrito 9” e “Elysium”, dessa vez com o filme “Chappie” (2015) Neil Blomkamp visita a pedra filosofal do gênero ficção científica: a Inteligência Artificial. O subtexto político dos filmes anteriores continua (África do Sul, Globalização e apartheid), mas dessa vez parece que Blomkamp cedeu ao “product placement” (inserção subliminar de produtos e marcas) e à agenda que orienta as produções do gênero pelos grandes estúdios: o tecnognosticismo - a ambição pós-humana de nos livrarmos da carne e do orgânico através de uma suposta transcendência espiritual possibilitada pelo escaneamento da consciência e a sua conversão em bytes. Ao contrário do filme “AI” (2001), também uma alusão à fábula de Pinóquio (uma máquina que quer se transformar em ser humano), aqui Chappie tenta emular sentimentos humanos, mas dessa vez através de uma consciência que se assemelha à metáfora da “agulha hipodérmica”. Se em “A.I.” a máquina queria acreditar naquilo que não podia ser visto ou sentido, em Chappie a máquina não tem sonhos – ela quer apenas imitar - filme sugerido pelo nosso leitor Joari Carvalho.

Chappie, do diretor Neil Blomkamp (Distrito 9 e Elysium), é um filme dentro de um subgênero do sci fi que os pesquisadores chamam de “ficção científica do Sul”: filmes em estilo realista monckmentary (feitos em estilo documentário mas em tom paródico) com atores e empresas de países considerados periféricos e com temas ligados às mazelas da globalização sócio econômica – privatização, imigrantes ilegais, favelização, exclusão, máfias internacionais etc.

O tom mais marcante desse subgênero é mostrar como a alta tecnologia (robótica, nanotecnologia etc.) convive de forma conflitiva com favelas, deterioração urbana, lixo, precarização do trabalho e sucateamento do Estado. O que torna os filmes desse subgênero potencialmente críticos em relação ao atual status quo da Globalização.

segunda-feira, dezembro 29, 2014

Blog censurado pelo delírio digital do Google AdSense

Para minha surpresa, o blog “Cinema Secreto: Cinegnose” foi acusado, julgado e executado às vésperas do Natal. Acusação: disseminação de conteúdos “chocantes” de “violência”, “pornografia”, “sangue” e “atitudes repulsivas”. Pelo menos é o que disseram os robôs e scripts do Google AdSense, lembrando a elite de juízes de rua do filme “Judge Dredd” que julgava e executava instantaneamente os violadores – “veiculação de anúncio do Google AdSense foi desativada no seu site por violação do regulamento do programa”, informava o e-mail executor!. Esse será o admirável mundo novo do Google: o delírio digital dos códigos binários que, sem compreender contextos, reduzirá a realidade ao denominador comum do 0/1. Como um blog que analisa filmes e a mídia como sintomas do imaginário social de uma determinada época, poderá tratar dessa temática sem cair na “malha fina” dos onipresentes e oniscientes robôs digitais? Bem vindo à futura blogosfera “disneyficada” e pacificada em tons pastéis semelhantes à cidade cenográfica de Seaheaven do filme “Show de Truman”.

Entre um e-mail e outro na caixa de entrada na véspera de Natal, com os tradicionais desejos de boas festas, surge um com título ameaçador: “A veiculação do anúncio do Google Adsense foi desativada para o seu site”. Um estranho e-mail cujo conteúdo narra algum tipo de julgamento feita à minha revelia no qual fui acusado, condenado e executado! Isso depois de seis meses de anúncios adsense no blog.

terça-feira, agosto 12, 2014

O pós-humano de "Lucy" e o mito dos 10% do cérebro


“Lucy” (2014), do diretor francês Luc Besson (“O Quinto Elemento”, “Leon: The Professional”), é mais um filme da safra atual com o tema do pós-humano (“Transcendence”, “The Machine”, “Limitless” etc.). Todos se baseiam em um mito que é o pressuposto da filosofia pós-humanista que anima a agenda tecnocientífica atual: o homem seria um ser limitado porque utilizaria tão somente 10% da capacidade cerebral. Sua limitação viria do corpo físico que nos aprisionaria no medo e na dor. Mito desconstruído por neurologistas sérios como Barry Gordon,  da John Hopkins School of Medicine. Por meio de drogas ou tecnologias cibernéticas o homem daria em “upgrade” em si mesmo, acessando 100% o “banco de dados” cerebral. “Lucy” revela uma nova religião onde Deus é substituído pela tecnologia e a alma pela informação.

domingo, julho 20, 2014

"Transcendence" mostra fábula nietzschiana sobre tecnologia e poder

Crítica e público estão massacrando o filme “Transcendence – A Revolução” (2014). Todos esperavam um sci fi clássico com super-heróis e narrativas de ação e terror. Mas o filme nos oferece uma extrapolação do atual discurso autopromocional das neurociências e ciências da computação através do olhar de uma autêntica fábula nietzschiana sobre o Poder: a grande questão da onisciência e onipresença de uma suposta superinteligência digital por trás de corporações como Google e do projeto da Internet das Coisas não é a do Poder vulgar em conquistar mais dinheiro e controle político: é o Poder pelo Poder, como jogo, vontade de potência em transcender os limites da ética e moral humana representado pela superação do próprio corpo.

Nelson Rodrigues dizia que toda unanimidade é burra. Certamente essa máxima pode ser aplicada à forma como a crítica e o público está recebendo o filme Transcendence – A Revolução. Bilheterias decepcionantes nos EUA e Brasil e péssimas críticas tanto aqui como lá.

“Muito conceito e pouca história para contar”, “explicações incessantes”, “elenco estrelado (Johnny Deep, Morgan Freeman e Cillian Murphy e Paul Bettany) que parecem não saber o que fazer trocando frases soltas entre si”, “pretensioso e chato” etc. O que parece criar estranhamento para os críticos são os desempenhos “contidos” ou até “robóticos” do protagonista Deep e um filme que parece investir muito mais nas rimas visuais e em conceitos abstratos do que em uma história dramática.

Crítica e público esperavam um “filme de ficção científica” com super-heróis ou narrativas de ação e terror com um “sabor” de sci-fi, que é o que normalmente Hollywood oferece. Mas o que o diretor Wally Pfister (desde o filme Amnésia diretor de fotografia dos filmes de Christopher Nolan) foi uma verdadeira ficção científica: a partir da agenda tecnologia atual, extrapolar para onde estamos indo e o que isso pode significar para a raça humana, intelectual e espiritualmente.

quarta-feira, julho 02, 2014

"Agnosia" revela formas alternativas da mente no cinema

O filme espanhol “Agnosia” de Eugenio Mira e “A Origem” de Christopher Nolan foram lançados no mesmo ano de 2010. São dois filmes com versões diferentes para o mesmo tema: um thriller de espionagem industrial que envolve a invasão da mente de alguém para extraírem um segredo que envolve interesses corporativos. Um exercício de análise comparativa entre os dois filmes revela diferentes formas de representar a mente humana: se na Europa a Psicanálise e a psicologia da percepção possuem prestígio no meio artístico e intelectual, nos EUA a mente não é pensada como uma máquina desejante, mas informática onde dados são deletados ou inseridos. Enquanto “Agnosia” é um conto gótico inspirado em psicanálise, “A Origem” é o inconsciente traduzido pelas neurociências.

A análise comparada em cinema (o exercício de analisar diferentes visões de filmes e diretores sobre um mesmo tema) sempre dá surpreendentes resultados ao revelar as diferenças ideológicas e culturais de países ou de polos de produção cinematográfica.

Um exemplo evidente é o filme espanhol Agnosia (2010) do diretor Eugenio Mira e escrito por Antonio Trashorras. Assistindo ao filme, é impossível não comprarmos com o filme de Christopher Nolan A Origem (Inception, 2010), produção norte-americana lançada no mesmo ano da produção espanhola. Ambos exploram o tema da espionagem industrial: há um segredo de grande interesse industrial que está na mente de uma pessoa e que deve ser extraído.

segunda-feira, junho 09, 2014

Conceito "Cinegnose" é agora verbete em nova edição do Dicionário da Comunicação

O conceito criado por esse humilde blogueiro e a razão da existência desse blog – a noção de “cinegnose” – foi transformado em verbete no “Dicionário da Comunicação – segunda edição revista e ampliada”, lançado na semana passada pela Editora Paulus. Juntamente com os verbetes “filme gnóstico” e “adgnose”, também criados nas pesquisas do blog, o "Dicionário da Comunicação" organizado pelo Prof. Dr. Ciro Marcondes Filho abre a oportunidade para que as pesquisas sobre as confluências entre Gnosticismo, Cinema e Comunicação que foram iniciadas pelo “Cinema Secreto: Cinegnose” se fortaleçam e ganhem espaço dentro dos estudos científicos da área. As pesquisas iniciadas por esse blog se juntam, portanto, às pesquisas da chamada Nova Teoria da Comunicação: o estudo do fenômeno comunicacional como acontecimento e transformação pessoal e coletiva. E para o blog, a abertura para fenômenos espirituais como a gnose.

Na semana passada foi lançado em São Paulo o Dicionário da Comunicação - segunda edição revista e ampliada, pela editora Paulus, organizado pelo Prof. Dr. Ciro Marcondes Filho da ECA/USP. Esse humilde blogueiro fez parte dos 80 colaboradores nacionais e internacionais que trouxeram novas correntes de pesquisas e olhares para a comunicação, incluindo diferentes linhas de pensamentos.

Nesta nova edição do dicionário esse blogueiro que escreve essas mal traçadas linhas foi convidado a transformar em verbetes alguns conceitos desenvolvidos por esse blog dentro do nosso projeto de convergência dos conceitos da Teoria da Comunicação e Cinema com o Gnosticismo: “adgnose”, “filme gnóstico”, “cinegnose”, “arquétipos contemporâneos”, “agenda tecnocientífica”, “cinema esquizo”, além de conceitos tradicionais da ciência da comunicação como “agenda setting” e “mitologia” – no sentido dado pelo semiólogo francês Roland Barthes.

segunda-feira, maio 12, 2014

O pós-humano no filme "The Machine"

Do mito do Golem do misticismo judaico, passando pelo robô Maria do clássico “Metrópolis” de 1927 até chegar ao computador HAL 9000 de “2001” de Kubrick, a Inteligência Artificial (IA) é vista como ameaça ou realização máxima do homem, mas nunca sua superação por supostamente faltar nela a essência da humanidade: a consciência ou alma. Mas o filme inglês “The Machine” (2013) insere a discussão da IA em outro patamar, desenvolvido no cinema desde os personagens dos replicantes de “Blade Runner” (1982) de Ridley Scott: o do “pós-humano”. “The Machine” acrescenta a essa novo enfoque da IA um componente místico que estaria motivando a agenda tecnocientífica atual: o tecnognosticismo - a ambição de nos livrarmos da carne e do orgânico através da transcendência espiritual possibilitada pela tecnologia. Encontrar a imortalidade da alma através de upload final para um banco de dados, “nuvem” de bits ou rede eletrônico-neuronal.

A Inteligência Artificial (IA) é um dos grandes arquétipos do imaginário contemporâneo, capaz de alimentar tanto as utopias mais luminosas quanto os maiores pesadelos distópicos da literatura e do cinema.

Herdeiro direto das mitologias do Golem (ser artificial associado ao misticismo judaico da Cabala, trazido à vida através de processos mágicos), dos homunculus da Alquimia e de Frankenstein (a criação da escritora Mary Shelley que materializou a advertência do pintor Goya de que o sono da Razão produz monstros), a evolução da ambição tecnocientífica pela Inteligência Artificial pode ser dividida em três etapas:

Primeira, representada pelo filme Metrópolis de Fritz Lang: através de uma estética cartesiana emblemática da vanguarda artística da primeira metade do século XX apresenta a personagem robótica Maria, comandada pelos malignos propósitos de uma elite que escraviza trabalhadores – mas também o símbolo da necessidade do homem comandar a máquina com o coração para mediar os conflitos entre a classe dominante e dominada. Em si a máquina é benéfica, bastando ao homem buscar não a Razão, mas a sua humanidade para controlá-la de forma sábia.

domingo, março 30, 2014

Neurogadget que promete sonhos lúcidos é sintoma da cultura dos aplicativos

Um aplicativo que promete para o usuário sonhos lúcidos. É o “Aurora”, criado por uma start up californiana e previsto para ser lançado no segundo semestre desse ano, que promete tornar os sonhos tão produtivos e eficientes que farão a terça parte da vida que passamos dormindo valer a pena. O neurogadget Aurora é um sintoma tanto da cultura atual dos aplicativos que cria nos usuários uma falsa ilusão de racionalidade e planejamento de onde nem os sonhos parecem escapar; e de uma agenda tecnognóstica que une neurociências, ciências computacionais e Inteligência Artificial com o propósito de efetuar a cartografia e topografia da mente com objetivos de manipulação e controle social.

Em postagem anterior discutíamos como o cinema parece antecipar uma espécie de agenda tecnocientífica – sobre isso clique aqui. Dessa vez, os diversos filmes que abordaram o tema dos sonhos lúcidos (Vanilla Sky, A Origem, Sonhando Acordado, entre outros) parecem ter se antecipado ou inspiraram um aplicativo criado pela IWinks, uma start up de San Diego, nos EUA: o “Aurora”, aplicativo que promete ao usuário criar sonhos lúcidos a partir de um dispositivo que mede as ondas cerebrais e o movimento dos olhos.

O sonho lúcido ocorre no momento em que o sonhador começa a ter uma relação de estranheza com o fluxo dos acontecimentos oníricos e passa a questionar a própria realidade. Consciente que se encontra num sonho, passa então a interferir na lógica onírica. O aplicativo “Aurora” supostamente promete criar essa situação para o usuário a partir do momento em que o dispositivo percebe os movimentos REM e a alteração das ondas cerebrais, enviando jogos de luzes e sons personalizados para o usuário que, sem despertar, perceberá que está num sonho - veja abaixo o video promocional do aplicativo.  

domingo, março 23, 2014

"Aurora" supera "A Origem" e inova as representações do inconsciente no cinema

É inevitável a comparação entre “Aurora” (Vanishing Waves, 2012) da lituana Kristina Buozyte com “A Origem” (Inception, 2010) de Christopher Nolan: enquanto a produção hollywoodiana abordava o mundo onírico pelo viés das neurociências (jamais a palavra “inconsciente” era citada), a produção lituana aborda o mesmo tema, mas fiel ao ponto de vista freudiano sobre a dinâmica do psiquismo, inovando as representações do inconsciente no cinema através de engenhosos efeitos inspirados em MC Escher e expressionismo alemão. Se Freud considerava o inconsciente como o “Isso” e o “Estranho”, “Aurora” mostra como uma neurociência atual munida de interfaces digitais e mapas neuronais tenta ignorar essa origem de toda atividade humana impossível de ser apreendida pela ciência racionalista.

Em postagem passada quando discutíamos o filme A Origem (Inception, 2010) observamos que a grande deficiência do filme de Nolan era abordar o tema dos estados imersivos de alteração de consciência e o mundo onírico dos sonhos sob um ponto de vista associado à engenharia do espírito das neurociências: embora tudo ocorresse no mundo dos sonhos, nunca se tocava na palavra inconsciente e o psiquismo era abordado pela possibilidade pragmática de manipulação neurocientífica comandada por interesses corporativos.

O que tornou A Origem num filme estéril e assexuado onde a presença feminina tornou-se masculinizada ou, então, um objeto abstrato tal como uma princesa de contos de fadas. Bem diferente é o filme da lituana Kristina Buozyte Aurora (Vanishing Waves) em que a narrativa revisita alguns conceitos das viagens no mundo dos sonhos de A Origem. Porém, em Aurora, o psiquismo do mundo dos sonhos é uma mix de surrealismo e de uma primitiva psicossexualidade que faria Freud ficar corado. Kristina se aproxima muito mais do funcionamento do psiquismo humano do que Nolan ao capturar como a experiência real do sonho pode ser assustadora e desagradável, mesclada com primitivas e incontroláveis fantasias eróticas. O que torna Aurora um filme diferenciado no gênero de ficção científica: uma erótica e surreal viagem mental.

segunda-feira, fevereiro 17, 2014

Por que somos seduzidos pelo virtual?



“É a verdade... a digitalização da vida real. Você não vai só a uma festa. Vai a uma festa com uma câmera digital. E seus amigos revivem a festa on line.” Essa afirmação de Sean Parker (criador do Napster, interpretado no filme por Justin Timberlake), que aparece solta nas frenéticas linhas de diálogo no filme “A Rede Social” (The Social Network, 2010), é a síntese do “desejo de virtualidade”, essa motivação individual que sustenta todo o projeto tecnognóstico que domina a atual agenda tecnológica e científica. O desejo pela digitalização da vida seria a recorrência de uma milenar aspiração gnóstica pela transcendência da carne e a imortalidade da espécie. Mas essa aspiração por transcendência transforma-se em má consciência ao ser capturada por sistemas econômicos e políticos. Transforma-se em ideologia, como questiona o pesquisador canadense em ciência política, tecnologia e cultura Arthur Kroker.

segunda-feira, janeiro 06, 2014

Exposição faz viagem pela mente de Stanley Kubrick e alimenta conspirações

A partir de uma cenografia que recria os ambientes e a sofisticação visual de cada filme, a exposição Stanley Kubrick, em cartaz até o dia 12/01 no Museu da Imagem e do Som (MIS) em São Paulo cria a curiosa sensação no visitante de estar caminhando no interior da mente do diretor. Mas, além disso, a variedade de documentos, cartas e memorandos expostos alimentam muitas teorias conspiratórias que envolvem um diretor que sempre foi recluso e avesso a entrevistas ou a ter que dar explicações para os significados de seus filmes: a consultoria do mainstream tecnocientífico dos EUA na produção de “2001 – Uma Odisséia no Espaço”; os arrojados efeitos especiais à frente de seu tempo, dez anos antes de “Guerra nas Estrelas”; e a morte do diretor quatro dias depois da exibição interna do filme “De Olhos Bem Fechados” para executivos da Warner Bros, produção que sugere polêmicas histórias sobre conexões da elite político-financeira com orgias sexuais ocultistas.

Nessa última sexta-feira visitei a retrospectiva Stanley Kubrick no Museu da Imagem e do Som (MIS) aqui de São Paulo. Sob um calor escaldante da tarde, aguardei 45 minutos na fila da bilheteria para depois, sob o onipresente olhar de Kubrick com a sua câmera em um enorme pôster no corredor da entrada da exposição, esperar em uma segunda fila a vez para subir a escadaria de entrada. Um segundo pôster com linha do tempo da produção de Kubrick decorava esse corredor, onde você tinha a chance de checar os títulos e datas dos filmes que comporiam os ambientes de cada sala da retrospectiva tão ansiosamente aguardada.

De tão atemporal que se tornaram os filmes do diretor, não havia ainda parado para pensar sobre os grandes hiatos entre as suas produções. Por exemplo, de O Iluminado (1980) a Nascido Para Matar (1987), sete anos; e de Nascido para Matar (1987) a De Olhos Bem Fechados (1999) um intervalo de doze anos. Seu período de produção mais regular está na chamada Trilogia Star Child (Doutor Fantástico (1963), 2001 – Uma Odisséia no Espaço (1968) e Laranja Mecânica - 1971), um período com profundos significados ocultos e metafísicos, como já observamos em postagem anterior.

sexta-feira, dezembro 06, 2013

O aplicativo Lulu e a religião da autoabdicação humana


Processos judiciais, febre entre as mulheres e pânico entre os homens. Por trás desse frisson midiático autopromocional do aplicativo Lulu onde mulheres avaliam homens através de um conjunto de quesitos, estão questões que colocam em xeque a própria cultura dos gadgets tecnológicos que está organizando o nosso lazer e trabalho. O Lulu seria o sintoma de uma verdadeira religião cibertotalitária que estaria motivando a maioria de engenheiros, cientistas e designers digitais do Vale do Silício: a autoabdicação humana – o computador estaria evoluindo para se transformar em uma forma de vida capaz de entender melhor as pessoas do que as próprias pessoas. E quem fala isso não é nenhum tecnofóbico, mas um dos principais nomes do Vale do Silício: o designer de software Jaron Lanier.

Duas cenas em duas épocas distantes entre si no tempo. O que veremos a seguir é que essas duas cenas estão interligadas não só em uma análise sobre o fenômeno do aplicativo Lulu, mas de toda a cultura criada em torno do consumo diário de aplicativos.


Primeira cena: Em meio à euforia da revolução sexual dos anos 1960 desencadeada pela pílula anticoncepcional, a descoberta da sexualidade desatrelada da reprodução e dos papéis familiares e a erotização generalizada da mídia, publicidade e sociedade de consumo, o pensador alemão Herbert Marcuse observava a tudo com desconfiança. Um dos principais nomes da chamada Escola de Frankfurt, Marcuse estava naquele momento no olho do furacão dos movimentos de rebeldia estudantil: professor de filosofia no campus San Diego da Universidade da Califórnia. Para ele, o princípio de realidade contra o qual a revolução se dirigia estava se transformando em algo mais insidioso: o princípio do desempenho, princípio que transformaria toda a revolução sexual e dos costumes muito mais em sucesso de vendas do que em real emancipação.

sexta-feira, março 29, 2013

Geografias Interiores: cartografias e topografias da mente


A cinematografia desse início de século parece expressar nas suas narrativas fílmicas uma agenda tecnológica contemporânea onde não apenas generaliza o modelo computacional como fosse o próprio modelo cognitivo de funcionamento da mente, mas também pretende criar modelos simulados de funcionamento cerebral a partir de verdadeiras cartografias e topografias da mente. O esforço multidisciplinar envolvendo as neurociências, ciências cognitivas, Cibernética, Inteligência Artificial e Teoria da Informação para não só desvendar o funcionamento da mente como também procurar um modelo de simulação que permita não só compreender a dinâmica dos processos mentais e da consciência, mas, principalmente, manipulá-la e controlá-la. Filmes que parecem expressar essa agenda tecnocientífica ao empreenderem uma verdadeira geografia alegórica dos processos mentais. Tal agenda culmina hoje no reforço de um novo tipo de sujeito das novas redes tecnológicas digitais: o sujeito fractal e a sua compulsão em representar cartograficamente seus pensamentos, hábitos, relacionamentos e projetos pessoais por meio de verdadeiras “geografias interiores”.

O filme pode ser considerado um verdadeiro documento primário por expressar através de imagens e movimento o imaginário e sensibilidades de uma determinada época. O historiador Marc Ferro, um dos principais nomes da chamada “Escola dos Annales”, acredita que a relação cinema-história tem um importante papel no campo historiográfico: "o imaginário é tanto história quanto História, mas o cinema, especialmente o cinema de ficção, abre um excelente caminho em direção aos campos da história psicossocial nunca atingidos pela análise dos documentos" (FERRO, 1992, p.12). Não importa se o filme refere-se a um passado remoto ou imediato, pois sempre vai além do seu conteúdo:

sexta-feira, março 15, 2013

Mas afinal, quem é o dono do hardware?

Após resultados positivos nas investigações sobre a interface cérebro/máquina, o cientista Miguel Nicolélis vai além: em artigo publicado na “Cientific Reports” anuncia o sucesso na conexão entre cérebro/cérebro. O arco de benefícios iria desde aplicações médicas como reparos eletrônicos em tecidos cerebrais até o surgimento do primeiro “computador orgânico”, uma Internet formada por cérebros conectados em tempo real. Essas promessas tecnocientíficas adquirem um aspecto messiânico ao serem divulgadas pela mídia de forma descontextualizada e solta em uma espécie de vácuo das boas intenções. Mas quem financia a pesquisa? Qual o destino dessas descobertas ao transformarem-se em comodities em uma sociedade de mercado? Para além das aplicações pontuais, que tipo de paradigma ou modelo de individualidade as neurociências repercutem na cultura? E o principal: mas afinal, quem é o dono do hardware?


Nicolélis tem nobres intenções: ele quer fazer tetraplégicos andarem através da interface cérebro/máquina e tecidos cerebrais lesionados se reconstituírem através da tecnologia e plasticidade inerente às redes neuronais. Nicolélis se deixa fotografar com camisas discretamente abertas para que possamos perceber uma camisa verde e amarela por baixo. Ele faz questão de declarar que todo o know how tecnológico dos laboratórios da Universidade de Duke nos EUA foi trazido para o Instituto de Neurociência de Natal, Rio Grande do Norte. Nicolélis é um nacionalista, sinal do crescente protagonismo do Brasil no cenário internacional após anos de governo Lula e Dilma.

Os avanços tecnocientíficos parecem estar acima de qualquer juízo de valor ou crítica por serem o resultado prático do esforço coletivo do intelecto humano. Esses avanços fascinam pela potencial utilidade e benefícios que podem trazer ao gênero humano: quem poderá ser contra a possibilidade de paralíticos voltarem a andar e cérebros lesionados recuperarem suas funções?

domingo, março 03, 2013

Drogas, discoteca e 3D: o atalho pop para o Sagrado


Dos primeiros espaços sensoriais multimídia das discotecas dos anos 70 ao cinema 3D da atualidade, acompanhamos diante dos nossos sentidos a materialização tecnológica de toda uma dimensão mística e sagrada: a materialização dos simbolismos arquetípicos da espécie diante dos nossos sentidos por meio da convergência das mídias através das tecnologias digitais. Se no passado era necessário a ascese e disciplina espiritual para vivenciar essa dimensão metafísica, hoje as tecnologias sensorias prometem um atalho. Qual o destino da milenar aspiração mística e religiosa por transcendência num ambiente altamente tecnologizado sob o controle de grandes corporações?

Em uma aula da disciplina Comunicação Visual na Universidade Anhembi Morumbi discutia com meus alunos as referências visuais de cada década. Em relação aos anos 70, apresentava as referências visuais da Disco Music: moda, comportamento e, principalmente, os espaços multi-sensorias que eram as discotecas. Luzes estroboscópicas, pistas de dança com luzes em movimento criando formas geométricas randômicas, gelo seco etc. Em termos de comportamento, sabemos que, ao longo das décadas as drogas acompanham cada tendência dentro da cultura pop. Na era da Disco Music acompanhamos a decadência das drogas lisérgicas e a ascensão das drogas "speed" como a cocaína. Diante de tanto estímulo sensorial, o importante era ficar ligado e dançar a noite inteira.

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