quarta-feira, julho 23, 2025

Semiótica Nem-Nem continua funcionando sem Tarcísio... porque ninguém quer Bolsonaro preso!

 


Apesar do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ter abandonado o papel de “Moderado”, as engrenagens da estratégia semiótica “Nem-Nem” (nem Lula, nem Bolsonaro, nem polarização) continuam funcionando na mídia. Como se estivesse à espera de algum fato novo. Enquanto isso, logo após as “sanções cautelares” do STF contra Bolsonaro, principalmente no que se refere às redes sociais, aconteceu o que era esperado: Bolsonaro vai ao Congresso fazer alopragem política: mostrar a tornozeleira eletrônica e vitimizar-se. E viralizar nas redes através de perfis de terceiros. Deixando “Xandão” irritado com a burla das sanções e a grande mídia desenrolando o novelo jurídico interpretativo sobre “liberdade de expressão”. Então, por que Bolsonaro não é preso preventivamente? Porque ninguém quer. Seja qual for o motivo, sempre passa pela questão midiática.

Tudo estava indo bem. A gestão daquilo que chamamos de “semiótica nem-nem” estava OK.

Em texto anterior analisávamos que a estratégia do Nem-Nem tinha sido a reação imediata da grande mídia à crise do IOF no Congresso e a onda do “Nós contra Eles” que o campo progressista criou com os vídeos em inteligência artificial que inundou as redes sociais – colocar Bolsonaro e Lula como equivalentes extremistas e polarizados (se a extrema-direita tem o “gabinete do ódio”, Lula teria as “milícias digitais”) para lançar uma “terceira via”. Despolarização buscada pela Faria Lima para pôr em movimento, finalmente, o Capitalismo de Choque - clique aqui.

E Tarcísio de Freitas era o nome ideal, desde que mostrou o que podia fazer ao privatizar a Sabesp no ano passado. Para a Faria Lima, Tarcísio comprovou sua fidelidade canina e ainda dobrou a aposta em entrevista para a Globo News: “ainda há espaço para mais privatizações”.

Mas apareceu o “agente do caos” em cena: Donald Trump e sua guerra tarifária que escolheu o Brasil como a bola da vez. Sob o álibi de ser uma resposta política contra Xandão e o STF e uma suposta ditadura que estaria virando o País, prendendo inimigos políticos e incriminando as Big Techs. Álibis para ocultar uma mentira: o Brasil NÃO tem uma balança comercial superavitária com os EUA.

Como sempre, produzir caos, mas com engenharia e timing: sincronicamente veio logo após a onda do “Nós Contra Eles”, como se quisesse dar uma força à semiótica Nem-Nem. Como fosse uma resposta de Trump contra a política de Lula com BRICS e acusações contra o clã Bolsonaro. Para favorecer a narrativa de quanto o político-ideológico atrapalha a rotina “técnica” da economia.

Tudo estava funcionando e as engrenagens azeitadas, com a grande mídia repercutindo como a política polarizada interfere no progresso econômico do País. Só bastava o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas manter-se no seu papel de “Moderado” no qual estava atuando, exortando a Nação a superar a polarização que só atrapalha a Economia.

Mas, não! Acometido pelos incontroláveis sintomas da síndrome de Doutor Fantástico (sobre essa síndrome clique aqui), Tarcísio elogiou o tarifaço de 50% nas exportações brasileiras (não obstante o fato de as principais empresas prejudicadas estarem no Estado que governa) e culpabilizou Lula e o STF.

Sintomas incontroláveis e, aparentemente, sem cura, já que Tarcisão continua no modo bolsonarista raiz: defende Bolsonaro frente ao “arbítrio” da tornozeleira imposta por Xandão ao seu líder e volta a atacar a legitimidade do processo eleitoral brasileiro para 2026.

Tamanho esforço que o jornalismo corporativo teve que fazer para maquiar suas origens bolsonaristas e militares não foi recompensado. E perdeu a paciência!



Como demonstra o editorial do Estadão “A Imprudência de Tarcísio”: “Ao sugerir que eleições sem Bolsonaro não serão justas, ecoando a delinquência bolsonarista, governador lança suspeitas sobre o Judiciário e a democracia, o que verdadeiros estadistas não fazem”, abre o editorial.

Porém, o que chama a atenção no editorial é como, apesar da frustração midiática e da sensação de traição, a mecânica semiótica do Nem-Nem continua a funcionar, mesmo sem o seu “campeão branco” da despolarização.

Tarcísio afirmou: “Não haverá paz social sem paz política, sem visão de longo prazo, sem eleições livres, justas e competitivas (...) Não há notícia de que o sr. Tarcísio tenha considerado injusta a eleição que ele mesmo venceu em 2022. Ou que tenha considerado injusta a eleição de seu padrinho, Jair Bolsonaro, em 2018, a despeito da exclusão de Lula da Silva do páreo, pontua o editorial.

Ou seja, o editorial continua fazendo a igualdade semiótica entre Lula e Bolsonaro: ambos consideraram as eleições injustas. O primeiro, porque foi preso; e o segundo, por conta das urnas eletrônicas.

Mas não apenas no editorial do diário paulista. Apesar da traição de Tarcísio, toda a grande mídia continua com a operação semiótica Nem-Nem como se nada estivesse acontecendo.

Por exemplo, na capa da Folha desse último domingo, a Folha estampa a chamada: “Fator político leva agronegócio a impasse em meio a tarifa de 50%”. Reforça uma suposta contradição entre a irracionalidade ideológica da Política e a racionalidade técnica da Economia.


E Trump agora quer que façam investigações sobre os prejuízos comerciais dos EUA com a Rua 25 de Março, Centro de São Paulo, famosa pelo comércio popular. Oportunidade para o jornalismo corporativo fazer matérias sensacionalistas sobre como o povo empreendedor sofrerá os efeitos de uma disputa política da qual são alheios.

E o jornal local Bom Dia SP, da Globo, continuar com as matérias especiais pauta positiva, às sextas, com a apresentadora Sabina Simonato. Em cada edição, o telejornal apresentado de uma capital do interior de SP. Para fazer matérias sobre a “força do homem do campo” e os números superlativos da pujança econômica da chamada “Califórnia brasileira” governada por Tarcísio, outrora “Moderado”.

Apesar do protagonista da conclusão do silogismo semiótico ter abandonado o script (Tarcísio, outrora “Moderado”), o mecanismo Nem-Nem continua em pleno funcionamento como se nenhum contratempo tivesse ocorrido. Talvez esse automatismo se deva a uma das três opções:

a) Está sendo dado um tempo para que, segundo outro editorial do Estadão, Tarcísio “esconjure Bolsonaro porque a Direita pode fazer melhor que isso” e definitivamente esqueça da “desonestidade intelectual do padrinho” – o “colonista” Valdo Cruz, da Globo News, por exemplo, terminou a semana passada conjecturando otimista que “Tarcísio ainda tem tempo até as eleições de 2026”. “Veja o caso de Lula”, observou o “colonista”;

b) Estadão publica um desesperado editorial exortando os governadores bolsonaristas (Caiado e Zema) a abandonarem o padrinho, apelando aos seus brios para se tornarem “estadistas”. Parece estar atrás de outro governador da extrema-direita que assuma o script;

c) Grande mídia ensaia criar uma suposta tensão entre Alckmin e Lula: enquanto o primeiro é sensato e técnico, o mandatário de esquerda é político e ideológico. Quem sabe, o nome de Alckmin como o campeão da despolarização Nem-Nem... Assim terminou a semana passada. A conferir se Alckmin seja sondado a se tornar um novo player na semiótica Nem-Nem. Exigida pela Faria Lima: o seu projeto de despolarização para implantar um Capitalismo de Choque ao estilo Milei na Argentina.





Ninguém quer Bolsonaro preso

Entre as inúmeras besteiras cometidas pelo outrora candidato a gênio político, Tarcísio de Freitas, foi a sua bizarra visita ao STF para pedir ao ministro Alexandre de Moraes para que liberassem o passaporte de Bolsonaro para que, na condição de ex-presidente, pudesse negociar pessoalmente com Trump.

Acabou selando a determinação da colocação de tornozeleira em Bolsonaro, levantando a lebre sobre uma possível fuga dele que estaria sendo tramada. Entre as sanções a proibição de qualquer contato com embaixadas estrangeira. Mas, principalmente, a proibição de transmissões, retransmissões ou veiculação de áudios, vídeos ou transcrições de entrevistas em qualquer plataforma de redes sociais de terceiros.

Dito e feito. Até as pedras do cais do porto de Santos sabiam que Bolsonaro criaria um fato provocativo: foi ‘a Câmara dos Deputados nesta segunda-feira (21) e mostrou a tornozeleira eletrônica que passou a usar por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF). Em discurso aos apoiadores, Bolsonaro classificou a medida como uma "humilhação".

"Não roubei os cofres públicos, não desviei recurso público, não matei ninguém, não trafiquei ninguém. Isso aqui é um símbolo da máxima humilhação em nosso país. Uma pessoa inocente. Covardia o que estão fazendo com um ex-presidente da República. Nós vamos enfrentar a tudo e a todos. O que vale para mim é a lei de Deus", declarou.

Claro que o vídeo repercutiu nos perfis das redes sociais da grande mídia. E Moraes pediu explicações, ressaltando que o uso desses artifícios para divulgar informações em redes sociais seria “burlar a medida, sob pena de imediata revogação e decretação da prisão”.

A questão é que, de um ponto de vista semiótico-midiático, em todos os lados não há interesse em submeter Bolsonaro a uma prisão preventiva:

a) Para o jornalismo corporativo, as alopragens políticas de Bolsonaro são um gerador de crises, notícias, pautas, conteúdos e debates. Como, por exemplo, a espiral interpretativa dos especialistas convidados pelos canais de notícia para definir “liberdade de opinião” e as interpretações jurídicas da extensão das medidas como “não dar entrevistas”, “falar” ou suas informações serem “divulgados por terceiros”. O novelo interpretativo da casuística jurídica torna-se interminável. Bolsonaro solto é geração de conteúdo garantida.


b) Para a mídia progressista pouco importa, terá sempre pauta garantida. Afinal, Bozo é o “malvado favorito” – solto, será o estímulo para discussões intermináveis sobre o porquê de Bolsonaro ainda estar livre. Claro, sem colocar a judicialização da política e o STF em xeque. Tidos pelo campo progressista a pièce de résistance contra o fascismo.

c) E para o Judiciário e seus juristas, o momento de se tornarem a informação de pauta garantida para os desesperados produtores dos telejornais, correndo atrás de “especialistas” disponíveis para agendar entrevistas ao vivo para os “colonistas” dos canais fechados de notícias.

Por que, apesar de praticamente Bolsonaro pedir para ser preso (ele foi o presidente que mais produziu provas contra ele mesmo), ele nunca o é?

Às vezes as racionalizações do jornalismo corporativo entram em curto-circuito. Como o ocorrido em uma edição do programa “Em Pauta”, da Globo News nessa segunda-feira (21/07). Um dos debatedores, Demétrio Magnoli, entrou em defesa da liberdade de expressão de Bolsonaro e contra uma prisão preventiva.

Segundo ele, deixá-lo livre e falando seria até útil para o STF. Pois, deixando-o falar, seria uma oportunidade de criar “provas contra ele mesmo”... como ele acabou de fazer no Congresso... mas não é preso...

Um inacreditável raciocínio tautológico que apenas quer racionalizar a necessidade real para a mídia: Bolsonaro é um insuperável gerador de acontecimentos e notícias. É bom que ele fique solto, pelo menos até as eleições. Mesmo inelegível.

Porque Bolsonaro é um ótimo termômetro político e gerador de conteúdo para o jornalismo corporativo.

 

 

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