quarta-feira, junho 18, 2025

Cobertura da guerra Israel X Irã revela DNA golpista da grande mídia

 


Mais uma vez comprova-se o dito popular de que “o hábito do cachimbo entorta a boca”. Desde que a crise do Mensalão tomou forma em 2005, o jornalismo corporativo não pensa em outra coisa se não em desestabilizações políticas e golpes. Parece que o golpismo foi impresso indelevelmente no DNA da grande mídia. É o que nos revela a cobertura da GloboNews sobre a escalada do conflito entre Israel e Irã. A crise no Oriente Médio seria uma ótima oportunidade para aprofundar temas geopolíticos para o respeitável assinante do canal fechado. Mas somente duas questões norteiam a cobertura: as bombas de Netanyahu criarão um ponto de inflexão para a derrubada do regime dos aitolás ao estimular insurreições populares? Quando as consequências econômicas globais da crise no Oriente Médio baterão forte no governo Lula? E quando Netanyahu bombardeia uma TV estatal e ameaça a vida de uma mulher jornalista não há lamúrias em torno de valores sobre gênero ou liberdade de imprensa... afinal, em um país muçulmano só podem existir NÃO-mulheres e NÃO-imprensa...  

Os leitores desse humilde blogueiro devem se recordar da nossa análise sobre o porquê de a grande mídia ter acreditado na pegadinha mercadológica em vídeo do influenciador Felipe Neto em que anunciava a sua candidatura à presidência para 2026. Na verdade, era uma ação de marketing para o lançamento de um audiolivro. Mas o jornalismo corporativo acreditou na seriedade do vídeo: com estardalhaço e em tom de aposta acreditou no vídeo e partiu para as costumeiras especulações sobre cenários políticos – clique aqui.

Naquele momento, este Cinegnose cravou: o episódio comprovava o dito popular de que “o hábito do cachimbo entorta a boca” – depois dos bons serviços prestados durante a guerra híbrida contra o governo Dilma, acharam que o influenciador estava novamente em modo de guerra política semiótica.

Pois não é que o dito popular novamente se comprovou? Dessa vez, através da cobertura da GloboNews sobre o ataque surpresa de Israel contra 100 alvos no Irã na madrugada de sexta, matando militares do alto escalão e nove cientista nucleares do país. Que a grande mídia anodinamente define como “ataques entre Israel e Irã”.

Bastou o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarar que o ataque-surpresa era para “frustrar a ameaça nuclear e de mísseis balísticos do regime islâmico contra nós", além de frisar que “a luta de Israel não é contra o povo iraniano, mas contra o regime do país”, para a GloboNews expor a sua boca torta – repetiu, sem nenhum contraponto ou análise contraditória, a velha ladainha do governo George Bush para justificar a invasão militar do Ocidente ao Iraque: achar e destruir armas químicas de destruição em massa. Que depois se revelaram como mentirosas.

E, mais importante: até agora vem gastando o tempo e energia dos especialistas em relações internacionais para prospectar opiniões ou ilações que prevejam a premissa sionista: quando o governo islâmico de Teerã cairá?



A escalada da crise no Oriente Médio seria uma ótima oportunidade para os pauteiros da emissora noticiosa fechada proporem temas geopolíticos de pertinência atual para os supostamente tão respeitados assinantes. Ou, pelo menos, tratá-los com a devida inteligência.

Por exemplo, por que, apesar desse discurso de Israel, o país não é signatário do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP)? Se os EUA entrarem tacitamente no conflito, como responderão as nações do Golfo? E se o ataque israelense falhar? E se as instalações nucleares do Irã forem muito profundas, muito bem protegidas? E se os 400 kg de urânio enriquecido a 60% - o combustível nuclear que está a um pequeno passo de se tornar totalmente adequado para armas, o suficiente para dez bombas ou mais - não forem destruídos? Por que um país não signatário do TNP bombardeia um país que é signatário do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares justificando que a questão nuclear é uma ameaça existencial ao Estado de Israel? E assim por diante.

Mas não... nove em cada dez entrevistas estão explicitamente orientadas em especular como ou quando o “governo teocrático” cairá (fazem questão de frisar esse termo para se contrapor a Israel, supostamente um Estado secular, cosmopolita e moderno – não obstante o nome da operação tenha origens bíblicas: “Rising Lion”, alusão ao Rei Davi).

Especula-se a possibilidade de um “levante popular”, “protestos contra crise econômica” ou como a guerra “acelera a política de sucessão do poder”. E ainda corroborando com uma espécie de justificativa para o desejo incontido de Netanyahu: assassinar o líder supremo iraniano Aiatolá Khamenei etc.

  Ou utiliza-se a velha estratégia retórica dos adjuntos adverbiais de concessão: “APESAR do governo totalitário, o nacionalismo faz o povo apoiar o regime dos aiatolás...”.

Ou a criação forçada de supostas unanimidades opinativas, como demonstrou a apresentadora Bárbara Carvalho: “todo mundo está contra o Irã ter armas nucleares...”. Todo mundo quem, cara pálida? Poderia até interrogar alguma voz contraditória, se a emissora deixasse essa heresia acontecer.

Mas as vezes surpreendentemente isso acontece, até de onde menos poderia se esperar. Para receber a devida resposta corporativa da emissora.

Um vídeo da GloboNews foi retirado do ar logo após o jornalista Guga Chacra, correspondente da emissora em Nova York, confrontar surpreendentemente o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, sobre a política nuclear israelense e os recentes ataques ao Irã. “Por que Israel tem bomba atômica enquanto o Irã não?”, questionou Chacra numa pertinente indagação sobre o cenário geopolítico do Oriente Médio – é claro que podemos imaginar uma resposta que estaria na ponta da língua do embaixador: “ora, porque somos o povo escolhido por Deus!”. Afinal, esse é o pressuposto religioso messiânico de cada ação supremacista do sionismo.

Para depois o vídeo ser retirado da plataforma da Globo.

A cobertura da Globonews está pouco se importando com discussões geopolíticas sérias. Aliás, as, por assim dizer, “análises” do jornalismo do canal são norteadas por duas preocupações principais:

(a) Como e de que maneira os bombardeios de Netanyahu na capital Teerã e o assassinato do alto comando militar iraniano criariam um cenário de enfraquecimento da república islâmica, estimulando possíveis insurreições populares?

(b) Quando as consequências econômicas globais da crise do Oriente Médio (por ex., a alta do barril do petróleo) chegarão ao Brasil para se transformar em pressão inflacionária para desgastar ainda mais o governo Lula às vésperas de um ano eleitoral?



Depois de anos de guerra híbrida, desde quando a crise do Mensalão tomou forma em 2005, parece o golpismo foi impresso indelevelmente no DNA do canal dito “de notícias”.

Uma espécie de “pan-golpismo”: são importa a editoria da cobertura, nacional ou internacional. A ideia de golpe parece que se firmou como espécie de significante político que dá inteligibilidade a qualquer cenário político ou econômico.

Espalhando-se como uma metástase pela grande mídia como um todo. Como revelou a entrevista da Folha com Flávio Bolsonaro que um candidato a presidente apoiado por Jair Bolsonaro deverá garantir a concessão de indulto ao ex-presidente, caso ele seja preso por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), por tentativa de golpe de Estado.

Ou a matéria de capa da revista Veja para desautorizar as delações premiadas de Mauro Cid – Bolsonaro deve continuar na política brasileira como uma espécie de espada de Dâmocles para aloprar com qualquer cenário político. Ou como uma espécie de “botão eject” para a Faria Lima.

Operação “Rising Trump”

O mais incrível é uma espécie de reabilitação da credibilidade midiática do presidente Donald Trump em toda essa escalada da crise no Oriente Médio.

Até Netanyahu fazer o bombardeio-surpresa no Irã na madrugada da sexta-feira, Trump era encarado como um bufão: um fator de instabilidade global, imprevisível, irresponsável e um presidente ridículo e instável, arrumando briga com o seu apoiador mais rico mundo: Elon Musk.

Mas, agora, seu status parece que foi elevado: ele tornou-se alguém que pode trazer “um fim real” ao conflito, e quando sugere que “os iranianos deixem Teerã” ganha peso geopolítico. E não mais as costumeiras ironias sobre a falta de credibilidade em torno das bazófias, galhofas e provocações costumeiras de Trump nas coletivas de imprensa ou em postagens na sua rede social “Truth”.

Era mais motivo de comentários irônicos ou catastróficos, como o causador de uma instabilidade global.



Agora ressurge como um mediador, como uma autoridade que pode fechar um acordo diplomático com o Irã – razão pela qual teria deixado a reunião do G7. Ressurgindo como um pacifista: “Quero que o Irã não tenha armas nucleares, e estamos a caminho de garantir que isso aconteça".

As NÃO-mulheres muçulmanas

Mas se Trump foi ressignificado, também a imprensa e a mulheres iranianas também passam pelo mesmo mecanismo semiótico. Porém, não tão positivo.

O vídeo da jornalista iraniana, ao vivo, fugindo das explosões e cenários que caiam no estúdio quando a emissora de TV estatal era bombardeada foi emblemático.



Fosse numa emissora de TV privada ocidental, poderíamos imaginar a escandalização retórica: um ataque à liberdade de imprensa perpetrado por um regime totalitário! E, pior, um ataque a uma mulher, uma jornalista, um ataque à liberdade feminina... afinal, elas podem ser e falar o que quiserem!

Menos as mulheres muçulmanas, que não gozam desse status identitário e de gênero. O jornalismo corporativo enfatizou que as bombas caíram no estúdio de TV no exato momento quando a jornalista criticava Netanyahu. Quase como se testemunhássemos algum tipo irônico de castigo – lembre-se: segundo o sionismo, o povo judeu foi escolhido por Deus.

Quanto ao ataque à liberdade de imprensa, logicamente não vem ao caso... afinal era uma emissora TV ESTATAL. Não goza dos mesmos privilégios civilizatórios de uma emissora de TV PRIVADA...


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