“Bem-vinda ao clube... Isso acontece quando você faz as coisas certas. Talvez esteja chegando a hora da promoção”, dizia Nigel para a esgotada Andy vendo sua vida amorosa ficar arruinada de tanto trabalhar em “O Diabo Veste Prada”. O filme francês “Um Outro Mundo” (Un Autre Monde, 2021) repete essa intuição de Nigel ao mostrar a vida familiar e amorosa de um gerente executivo de uma transnacional irremediavelmente danificada pelas pressões do trabalho. Mas não é apenas “trabalho”, mas a ingerência das cadeias produtivas globais e seus acionistas – a necessidade de o gerente montar um plano de demissões e trair a confiança de seus subordinados do chão de fábrica. Ele tentará lutar contra os CEOs da matriz, revelando como a ética flexível do novo capitalismo (politicamente correto e cheio de eufemismos como “valores”, visão” etc.) é mais um dispositivo para ocultar a velha luta de classes.