domingo, março 26, 2017
Curta da Semana: "The Internet Warriors" - o lado oculto dos "haters"
domingo, março 26, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Haters”, “trolls”, “comandantes do caps lock”. Eles são os “guerreiros
da Internet”. Depois de uma pesquisa de quatro anos entrevistando-os por todo o
mundo, o cineasta e fotografo norueguês Kyrre Lien produziu uma série de
documentários curta-metragem chamada “The Internet Warriors”(2017). Lien ouviu
usuários que dedicam a maior parte do seu tempo para ficar diante da tela do
computador, “opinando” sobre qualquer coisa através de um discurso polarizado,
agressivo, intolerante, racista e preconceituoso. O documentário quer entender
como pessoas comuns, pessoalmente agradáveis e educadas com seus filhos e
esposas, são capazes de ocupar redes sociais e fóruns de discussão com um
discurso tão carregado de ódio.
sábado, março 25, 2017
A celebração da loucura e destruição na viagem do tempo em "Os 12 Macacos"
sábado, março 25, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Uma ambiciosa releitura do clássico francês “La Jetée”(1962), o filme
que mudou a perspectiva da viagem no tempo no cinema. Em “Os 12 Macacos” (1995)
Terry Gilliam explora o tema do protagonista prisioneiro em um loop temporal,
tema dominante naquela década como em “Feitiço do Tempo” ou “12:01”. A
humanidade foi devastada por uma praga viral, os animais dominaram o planeta e
os sobreviventes vivem em subterrâneos. A esperança é voltar para o passado e
trazer uma amostra do vírus antes da sua mutação para que a humanidade retorne
à superfície. Em busca de perdão, um presidiário chamado James Cole é enviado
ao passado para a difícil missão. Paranoico e perseguido como um louco
esquizofrênico, a partir de um estranho sonho recorrente, Cole descobrirá que
sua vida rebobina e avança rapidamente numa espécie de
fita do tempo, como em um filme antigo.
sexta-feira, março 24, 2017
Uma ponte para a gnose no filme "Os Famosos e os Duendes da Morte"
sexta-feira, março 24, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
"Os Famosos e os Duendes da Morte" (2009) é uma das raras
incursões da produção do cinema nacional no imaginário arquetípico gnóstico. A
narrativa é um exemplo de como, através do cinema, a subjetividade
contemporânea é representada por meio de personagens gnóstico. No filme,
caracterização do protagonista como o "Viajante" - aquele que
através do silêncio, melancolia e introversão busca um particular estado
alterado de consciência: a "suspensão": a busca de uma ponte (no
filme, ao mesmo tempo simbólica e literal) entre esse mundo e a iluminação
espiritual.
quinta-feira, março 23, 2017
Ataque em Londres: mais um atentado que não aconteceu
quinta-feira, março 23, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Mais um atentado, desta vez em Londres com
atropelamento em série de civis e invasão dos jardins do Parlamento Britânico
por um homem armado com duas facas. O local é ao mesmo tempo icônico e
sincrônico: escolhido pelos roteiristas para as cenas mais espetaculares do
filme “V de Vingança”, cuja famosa máscara foi inspirada em Guy Fawkes, líder
da “Conspiração da Pólvora” no século XVII – considerada a primeira “False
Flag” da História, que pretendia mandar pelos ares o rei junto com o
Parlamento como parte de uma propaganda de guerra. Novamente o ataque revela as mesmas recorrências e anomalias dos
atentados desde o ataque ao WTC em 2001: a execução final do vilão, o “lobo
solitário”, as conclusões rápidas da mídia e da polícia e a “coincidência” de
72 horas antes do ataque exercícios antiterror foram realizados no rio Tâmisa,
com lanchas rápidas, resgatando hipotéticas vítimas civis. Assim como aconteceu
no atentado “real”. Mais uma vez, o atentado “não aconteceu”: foi uma forma de
meta-terrorismo para irradiação midiática.
terça-feira, março 21, 2017
Filme "Nuit Noire": sonhamos os sonhos ou os sonhos é que sonham conosco?
terça-feira, março 21, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Oscar é um entomologista solitário que
trabalha no museu de história natural e em casa cria insetos em estufas numa
monótona rotina. Ele vive num mundo que parece ser um purgatório noturno: há
um eterno eclipse solar que só deixa o Sol aparecer por quinze segundos. Até
que um dia volta para casa e encontra uma mulher negra, doente e grávida, na
sua cama. Oscar usará a ciência da Entomologia para lidar com o problema
inesperado. No filme belga “Nuit Noire” (2005) o diretor Olivier Smolders faz
um mix do cinema surrealista de Buñuel e David Lynch com a paranoia de “A
Metamorfose” de Kafka. O filme mostra como o cinema europeu lida com os temas
da mente e do inconsciente de forma bem diferente das produções
norte-americanas: não há mais a luta e vitória da Razão sobre a mente, mas como
os sonhos e o inconsciente contaminam os diversos níveis da realidade. Será que
sonhamos os sonhos ou os sonhos é que sonham conosco?
domingo, março 19, 2017
Curta da Semana: "Beleza Americana 2" - a vingança dos descartados
domingo, março 19, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
No filme "Beleza Americana"(1999) o diretor
Sam Mendes via em um saco plástico que girava ao vento um momento no qual uma
“força benevolente” mostrava o sublime por trás das coisas banais. Mas, e se
essa força não for assim tão benevolente e se revoltar contra a humanidade que
teima em banalizar as coisas através do descarte e obsolescência? O resultado
pode ser uma sangrenta perseguição protagonizada por uma sacola plástica em
busca de vingança. Esse é o curta “Beleza Americana 2” (2017) de Zak Stoltz,
uma bizarra e surreal releitura da poética sequência do filme original. O curta
se integra a uma tradição no cinema de objetos que ganham vida e parecem querer
se vingar do homem: tomates, carros, bonecos, pneus, árvores de natal. E agora,
sacos plásticos. Uma tendência que reflete o novo mal estar da civilização: de
ver na descartabilidade dos objetos a expressão da própria obsolescência
humana.
sábado, março 18, 2017
Teoria da Terra Plana renasce mais uma vez em tempos difíceis
sábado, março 18, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A Terra é um disco plano e cercada por um
muro de gelo que chamamos de Antártida. O Sol e a Lua são apenas discos
luminosos que giram sobre o plano terrestre e os planetas não existem. São
apenas estrelas firmadas em uma abóboda. E a NASA esconde tudo simulando
viagens espaciais e fotos da curvatura terrestre. Acredite, essa teoria que
cada vez mais ocupa espaço na Internet com textos e vídeos com um crescente
número de seguidores. Mas teoria da Terra Plana não é nova na era moderna. É
recorrente na História em momentos de crise política e econômica, como hoje. Por
exemplo, teorias da Terra Oca e Plana foram adotadas pelo Nazismo para se opor
à “ciência materialista” e injetar magia e misticismo na Política por meio de
sociedades secretas como a Vril e Tule, antes da Segunda Guerra. A Ciência
transforma-se em fundamentalismo religioso, expressão da polarização e
intolerância política do momento. Mas os terraplanistas acertam em um ponto:
toda cartografia é uma representação político-imaginária.
sexta-feira, março 17, 2017
Em "Rubber" um pneu quer se vingar da civilização
sexta-feira, março 17, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Surpresa em festivais de cinema fantástico pelo mundo, a comédia francesa de horror “Rubber” (2010) nos brinda com a bizarra estória de um pneu assassino com poderes telepáticos que rola pelas estradas e desertos em busca de vingança. Somente o olhar de um diretor francês para ter a ironia e o distanciamento necessários para criar uma alegoria sobre o centro espiritual da civilização americana: o automóvel e o deserto.
quinta-feira, março 16, 2017
"Radio Free Albemuth" politiza o Gnosticismo e vai além da ficção científica
quinta-feira, março 16, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em um passado alternativo em 1985, Mark
Chapman matou Mick Jagger ao invés de John Lennon e os EUA vivem sob o domínio de
um Estado totalitário. Um grupo subversivo planeja incitar a revolução por meio
de hits musicais com mensagens subliminares.
E o líder, produtor da gravadora, é inspirado por epifanias
místicas enviadas pela VALIS (“Vasto Sistema Vivo de Inteligência Alienígena”)
por meio de um satélite que secretamente orbita o planeta. Esse é o filme
“Radio Free Albemuth” (2010), a melhor adaptação cinematográfica já feita de um
livro do escritor gnóstico Philip K. Dick. Uma produção que conseguiu ir além
dos cânones da ficção-científica (que sempre orientaram as adaptações hollywoodianas
de K. Dick – robôs, aliens e planetas distantes), traduzindo para a tela as
especulações filosóficas que sempre inspiraram o escritor: Gnosticismo, Cabala,
Hermetismo e Budismo. Mas, principalmente, como K. Dick, através da sua obra, conseguiu politizar o
Gnosticismo através do tema da paranoia.
quarta-feira, março 15, 2017
O Marketing paranormal no filme "Branded"
quarta-feira, março 15, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Imagine um expert em Publicidade que enxergasse muito mais do que promoção, preço, produto e ponto de venda no Marketing. Um expert que descobrisse que a guerra das marcas pelo mercado e pela mente dos consumidores não é meramente retórica através de símbolos, imagens e estímulos visuais – é uma gigantesca batalha travada por monstros gelatinosos em forma de balões em um invisível plano astral da humanidade. O Marketing Paranormal! Esse é apenas um dos temas levantados pelo filme “Branded” (2012), co-produção Rússia/EUA que mistura temas teosóficos com a provocativa tese de que Lênin teria inventado o Marketing em 1918: o Comunismo teria sido o produto e a KGB a “polícia da marca”.
terça-feira, março 14, 2017
Tautismo da Globo vê na virada do Barça lição motivacional para brasileiros
terça-feira, março 14, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O final de domingo é um momento
reconhecidamente depressivo para os telespectadores que repentinamente voltam a
lembrar da segunda-feira. Nesse momento, a TV ataca com vídeos de pets
engraçados e acidentes domésticos, ou, como no caso da Globo, também vídeos
“motivacionais”. Como na introdução do “Fantástico” desse domingo na qual a
virada histórica do time do Barcelona na “Champions League” serviu de mote para reunir
várias outras histórias para provar que “o impossível acontece” e que “jamais
podemos desistir” como fossem lições de moral para todos enfrentarem o baixo
astral da vida e do próprio País. Ao sugerir que histórias sobre atletas e
profissionais de alto nível poderiam ser fontes de inspiração moral e
motivacional para os telespectadores comuns, revela a natureza da linguagem
televisiva: o discurso metonímico ou “lateral” que vem se tornando crônico com
o crescimento da doença do “tautismo” (autismo + tautologia) na grande mídia. A
consequência é a “motivação” através do esquecimento e despolitização do
telespectador, além da introjeção da culpa pelas mazelas do cotidiano.
sábado, março 11, 2017
A fronteira final: neoliberalismo vai ao espaço com Elon Musk
sábado, março 11, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“O Espaço, a fronteira final...”. Os leitores
devem conhecer a introdução dos episódios da série Jornada nas Estrelas. Mas
dessa vez, não teremos o Capitão Kirk ou o Sr. Spock. Mas o jovem empresário
Elon Musk que promete com a empresa SpaceX levar turistas para dar volta na Lua
e colonos para Marte e além. Cientistas e operadores de Wall Street o
qualificam como alguma coisa entre “fraude” e “máquina de queimar dinheiro”,
embolsando verbas públicas enquanto faz intrincadas manobras societárias com suas empresas como a Tesla Motors e a SolarCity. Em
muitos aspectos lembra a trajetória do ex-oitavo homem mais rico do planeta,
Eike Batista. Mas a retórica de Musk enche os olhos da grande mídia: é o “Tony
Stark da vida real”, pronto para provar como os velhos valores do capitalismo
(competição e mercado) podem ser combinados com economia sustentável e
“tecnologias limpas” do século XXI. Ele promete levar o neoliberalismo à última
fronteira. Mais do que ninguém, Elon Musk sabe como são voláteis as fronteiras
entre a especulação do mundo das finanças e da mídia.
quinta-feira, março 09, 2017
O suicídio ao vivo de uma estrangeira em "Christine"
quinta-feira, março 09, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em 15 de julho de 1974, ao vivo, no Canal 40
de Sarasota, Flórida, a jornalista investigativa Christine Chubbuck leu uma
breve nota. Sacou um revólver, colocou atrás da orelha e puxou o gatilho. O
filme "Christine" (2016) busca o porquê esse histórico suicídio diante das
câmeras procurando fugir dos tradicionais clichês: depressão, solidão,
frustração profissional diante das pressões do sensacionalismo televisivo,
machismo e misoginia que dominavam as redações nos anos 1970 etc. “Christine” se desvia dessas armadilhas narrativas ao privilegiar uma abordagem mais existencial
e gnóstica: há uma constante e insuperável sensação de deslocamento e alienação
de uma personagem que não encontra lugar nesse mundo, muito além de ideologias,
profissão e vida pessoal. Christine sempre foi uma Estrangeira mesmo nos
ambientes mais familiares porque sempre pressentiu que estava em um jogo cujo
propósito ela nunca entendeu. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
terça-feira, março 07, 2017
Curta da Semana: "Night Mayor" - Aurora Boreal, Nikola Tesla e a energia livre
terça-feira, março 07, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Quando pensamos em Modernidade o que lembramos? Tecnologia, velocidade, capitalismo, urbanidade, eletricidade, o cinema. Um verdadeiro turbilhão para onde somos transportados quando assistimos ao curta “Night Mayor” (2008) do canadense Guy Maddin. Misturando o atual estilo do falso documentário (mockumentary) com a linguagem e fotografia do cinema mudo, Maddin nos conta a história de um inventor bósnio que em 1939 descobriu no Canadá que a Aurora Boreal é na verdade constituída por melodias e imagens. E que poderiam ser transmitidas livremente pelas linhas telefônicas através do “Telemelodium”. Mas o governo não vai gostar muito dessa invenção... O curta é uma pequena obra-prima claramente inspirado no inventor croata Nikola Tesla que pagou com a própria vida uma descoberta feita em 1899 que poderia colocar em risco o Capitalismo: a energia livre.
segunda-feira, março 06, 2017
O Barão de Munchausen, reforma da Previdência e a lógica do refém
segunda-feira, março 06, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O material de propaganda do PMDB cujo slogan
é “Se Reforma da previdência não sair, tchau Bolsa Família, adeus Fies, sem
novas estradas, acabam programas sociais”, mais do que desespero de um governo
que corre contra o relógio (Lava Jato e Eleições 2018) revela a natureza do
Estado contemporâneo: o terrorismo e a lógica do refém. Se antes o terrorismo
era restrito a territórios como aeroportos e embaixadas, agora tornou-se
prática de governo: todos nós somos reféns sob a estratégia da chantagem dos
rombos e dívidas que se transforma na nova função do Estado. Lógica que se
sustenta em um mito, assim como aquele que o Barão de Munchausen, no filme
clássico de Terry Gilliam de 1988, destruiu: não existem exércitos turcos por
trás dos muros que mantém a cidade submissa pelo medo e a ignorância.
sábado, março 04, 2017
"Terminus": o sci-fi que anteviu Era Trump
sábado, março 04, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O EUA empreendem o Projeto Terminus de
ocupação permanente do Irã por tropas americanas. O que só faz aumentar a tesão
diplomática com Rússia e China, disparando a contagem regressiva para uma
guerra nuclear. Enquanto isso um estranho meteorito cai em uma cidadezinha no
interior dos EUA, onde vivem desempregados e veteranos da guerra no Irã,
amputados e paralíticos, que lutam para sobreviver em meio a depressão
econômica. Este é o sci-fi australiano “Terminus” (2015) sobre um futuro próximo que
poderia muito bem ser o presente. Um filme que representa mais um
sintoma do crescente sentimento anti-Globalização – a percepção de que enquanto
sofremos no dia-a-dia para conseguir tocar as nossas vidas, lá em cima os
poderosos tramam a nossa própria destruição em seus jogos de guerras e das
altas finanças. Em 2015, “Terminus” antecipou o mal-estar que criaria muitos
subprodutos, assim como a atual Era Trump.
quinta-feira, março 02, 2017
O homem se tornará irrelevante diante de algoritmos e aplicativos?
quinta-feira, março 02, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em uma entrevista para a "Wired Magazine", o
historiador e escritor Yuval Harari alertou para o perigo da humanidade em
pouco tempo se tornar “irrelevante” e “redundante” diante dos avanços da
Inteligência Artificial. Dessa vez, não mais através das distopias como a do computador
HAL 9000 que tenta matar a tripulação de uma nave no filme “2001” ou por replicantes
que perseguem um policial no filme “Blade Runner”. Mas agora por meio dos
aplicativos e algoritmos que “compreendem melhor nossos desejos e sentimentos
do que nós mesmos”. Porém, o discurso de Harari atira no que vê e acerta no que
não vê – só podemos achar que os algoritmos são realmente inteligentes se o
próprio homem rebaixar ou tornar mais flexível o conceito de “inteligência”. A
fala de Harari faz parte de uma nova narrativa publicitária das corporações
tecnológicas: projetar para o futuro distopias que sempre fascinaram a
humanidade por toda a História: ver a si própria substituída por
duplos tecnológicos como reflexos em espelhos, fotografias, frankensteins,
golens, robôs, replicantes e, agora, aplicativos.
terça-feira, fevereiro 28, 2017
"Envelopegate": por que "La La Land" não ganhou o Oscar de Melhor Filme?
terça-feira, fevereiro 28, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O que há por trás do chamado “Envelopegate”,
a histórica gafe da troca dos envelopes de premiação do Melhor Filme no Oscar
2017? Certamente, “La La Land” era o favorito da crítica especializada,
consciente da lógica da premiação da Academia de Cinema na última década da Era
Obama. O seu anúncio foi um “ato falho” cometido por uma empresa (a
PricewaterhouseCoopers - PwC) cujo auditor minutos antes postava fotos dos bastidores
da cerimônia no Twitter. Ironicamente, uma das empresas responsabilizadas em
2008 pela crise financeira por ter sido “desconcertadamente negligente”. Se
Hillary Clinton tivesse ganho as eleições, e junto com ela o “neoliberalismo
progressista”, assistiríamos à vitória de “La La Land”. Mas “Moonlight: Sob a
Luz do Luar” foi a premiação “the last minute rescue” que
serviu de bala para o canhão apontado diretamente na cara de Donald Trump. E o
pior é que, ao contrário dos roteiro de filmes hollywoodianos, nessa história
não há fronteiras que separem os mocinhos dos bandidos.
domingo, fevereiro 26, 2017
História do beijo do Kama Sutra a Hollywood
domingo, fevereiro 26, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O cinema não inventou o beijo. Apenas o
tornou mais icônico nas relações dos amantes. Porém, Hollywood deu continuidade
a uma, por assim dizer, ocupação semiótica da boca e do beijo atribuindo a eles
novas representações simbólicas de velhos significados: distinção de classes,
de gêneros e substituto do ato sexual. Da mesma forma, o hindu “Kama Sutra” não
inventou o beijo, mas atribuiu a ele a comunhão erótica que o Ocidente fez
questão de reprimir e controlar desde os persas e romanos, submetendo-o à ordem
do Poder. No cinema, o beijo transformou-se na alienação do desejo ao
submetê-lo ao espectador voyeur que, com a boca aberta, também espera o beijo.
Porém, a pipoca sublima a compulsão enquanto nos filmes atuais ou o beijo se
submete à performance e eficácia ou à reconciliação dos casais diante do
apocalipse nos filmes-catástrofe.
sábado, fevereiro 25, 2017
Uma jornada espiritual felina em "Virei um Gato"
sábado, fevereiro 25, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Apesar de contar com dois vencedores do Oscar
(Kevin Spacey e Christopher Walken) a comédia romântica familiar “Virei um
Gato” (Nine Lives, 2016) foi destruída pela crítica: o que esses atores
consagrados estão fazendo nessa catástrofe? Eles devem ter contas pesadas para
pagar! Mas para o Cinegnose esse filme é um trunfo que confirma uma tese: desde
que o Gnosticismo deixou de ser uma exclusividade de filmes cults e foi adotada
pelos filmes populares a partir dos anos 1990, os elementos gnósticos deixaram
de figurar apenas em sci-fis e dramas cerebrais, para também incursionar em
comédias, thrillers e outros gêneros. Por trás de camadas de clichês de uma comédia popular,
“Virei um Gato” nos conta a narrativa gnóstica de transformação íntima através
da jornada espiritual no corpo de um gato e, principalmente, por um “salto de
fé” ao mesmo tempo literal e simbólico, a exemplo de filmes gnósticos mais sérios como “Vidas em
Jogo” (1997) e Vanilla Sky (2001).
quinta-feira, fevereiro 23, 2017
Fissuras no monopólio da Globo: Atletiba, blocos de rua e impeachment no Corinthians
quinta-feira, fevereiro 23, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O muro do monopólio da Rede Globo está
trincando. Nos últimos dias, uma série de fissuras começaram a surgir: o
histórico cancelamento do clássico Atletiba como reação ao monopólio das
transmissões esportivas da emissora; o impeachment mal sucedido no Corinthians, no ápice de recorrente pauta negativa da emissora envolvendo a arena do Itaquerão; e o
crescimento exponencial do carnaval de blocos, atraindo verbas publicitárias
que migram do sambódromo para as ruas, ameaçando um dos principais produtos oferecidos
pela emissora ao mercado. Por trás dessas fissuras estão tecnologias de
convergência, mídias sociais, empreendedorismo e competição. Tudo aquilo que o
telejornalismo e colunistas globais raivosamente defendem como o futuro ético
para o País. Mas que, na prática, o monopólio tautista da Globo foge, assim
como o diabo foge da cruz.
terça-feira, fevereiro 21, 2017
Comercial vende carro e ética na política detonando bomba semiótica
terça-feira, fevereiro 21, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Bombas semióticas 2, A Missão! O Império
Contra-ataca! Após as recentes pesquisas revelarem que Lula está mais vivo do
que nunca, liderando com folga todos os cenários eleitorais para 2018, e que ainda
seus principais adversários estão se desgastando com a evaporação do mar de
rosas que, acreditava-se, seria o País pós-impeachment, o complexo
jurídico-midiático reage. Depois de novos vazamentos seletivos e busca de mais
espécimes assustadores do “Brasil profundo” para figurar na capa de revistas
semanais, retiram mais uma vez do paiol midiático a artilharia pesada das
bombas semióticas. Dessa vez, em um comercial para TV da GM Brasil no qual se
posiciona sobre temas como “ética” e “política” para vender o novo Chevrolet
Cruze. Mais uma vez, a tática de engenharia
de percepção – por meio de gestalt, cores e a palavras metonimicamente
contaminadas, bombas semióticas criam um pano de fundo para tornar mais crível
o cenário político do momento. Reforçam subliminarmente pautas, slogans e
clichês disseminados liminarmente pela grande mídia. Um exemplo de como a
criação publicitária torna volátil a fronteira entre consumo e cidadania.
domingo, fevereiro 19, 2017
Curta da Semana: "The Crossing" - os subterrâneos do terror
domingo, fevereiro 19, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Uma mulher tenta desesperadamente ligar para
seu namorado, sentindo-se culpada por um desentendimento que poderá colocar fim
na relação. É tarde da noite, e ela desce as escadarias de uma passagem
subterrânea para, lá dentro, encontrar o Mal. Ou a si mesma. Esse é o curta
russo “The Crossing” (2016) que explora um dos temas preferidos do terror: os
subterrâneos. Porões, metrôs, garagens subterrâneas, tuneis etc., ao mesmo
tempo que nos fascinam, também nos apavoram. O medo que pode ser tanto
interpretado como um arquétipo gnóstico (a metáfora da condição humana
prisioneira nesse mundo), como compreendido pelo viés psicanalítico: nos
subterrâneos está o nosso inconsciente – culpas e traumas dos quais queremos
nos livrar. Mas o reprimido sempre retorna, transformado em monstros e pesadelos.
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