sábado, outubro 08, 2016
A armadilha quântica do tempo no filme "Arq"
sábado, outubro 08, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em um cenário distópico num mundo em crise energética e ambiental, um
engenheiro cria uma máquina que produz energia ilimitada. Mas que também produz
um efeito colateral imprevisto: o tempo ilimitado – um loop temporal que
aprisiona todos os personagens em uma torsão tempo-espaço. Esse é a produção
Netflix “Arq” (2016), um inteligente mix de “Feitiço do Tempo”, “Contra o
Tempo” e “Efeito Borboleta”. Mas o moto-contínuo de “Arq” é muito mais do que
uma máquina do tempo: os personagens são prisioneiros da própria “gravidade
quântica” – o mesmo acontecimento repetido diversas vezes cria uma “nuvem” de
possibilidades, assim como elétrons em torno do núcleo de um átomo. E somente a
memória e “déjà-vus” poderão tirar os protagonistas dessa nuvem, fazendo
emergir a seta do tempo nesse filme CronoGnóstico.
quarta-feira, outubro 05, 2016
Deus é um homem que enlouqueceu em "On The Silver Globe"
quarta-feira, outubro 05, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Astronautas chegam a um planeta parecido com a Terra com a missão de
povoá-lo e recriar a humanidade a partir do zero. Mas ao invés de se tornarem
livres, repetem, numa versão caricata e sombria, as mesmas mazelas que deixaram
na Terra: a religião, guerras santas, hierarquias, violência e o hedonismo das
drogas alucinógenas. Muitos críticos consideram o filme polonês “On The Silver
Globe" ("Na srebrnym globie", 1988) um “Star Wars com LSD”. Censurado pelo regime comunista polonês em
1977, o diretor Andrej Zulawski conseguiu finalizá-lo em 1988, mesmo com a
filmagem incompleta. Para solucionar o problema, o diretor transformou o filme
em um “found footage”. Por isso, as duas horas e meia do filme são para
espectadores curiosos e corajosos: Zulawski faz um mergulho caótico e lisérgico
no psiquismo de astronautas que tinham tudo para serem livres. Mas apenas
contaminaram aquele planeta com a “peste” que trazemos em cada um de nós.
segunda-feira, outubro 03, 2016
Com Doria Jr. mídia não quer mais intermediários
segunda-feira, outubro 03, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Desde a chamada “crise hídrica”, o Estado de São Paulo é o laboratório de
testes para tudo aquilo que espera o restante do País para o futuro. Lá, foi a
engenharia de opinião pública para demonstrar que a água é um bem escasso e
que, portanto, deve ser regulado pelo mercado como uma mercadoria qualquer. E o
Parque Victor Civita na cidade de São Paulo foi o seu showroom. Agora, o teste
bem sucedido do primeiro “gestor-midiático” vitorioso nas eleições municipais
de São Paulo. João Doria Jr. representa a impaciência da grande mídia em
cumprir sua agenda: chega de intermediários! Políticos tradicionais, com a sua
melodramática “mise-en-scène teatral”, não têm timing midiático. Doria Jr. é o
novo espécime da transpolítica futura: egresso do mundo da mídia e publicidade,
aquele que nega a si mesmo como político. Assim como aquela campanha
publicitária de um banco que foi adquirido pelo Itaú: “nem parece banco...”.
Enquanto isso, as esquerdas lamentam mais uma “revolução traída”.
domingo, outubro 02, 2016
A banalidade do Mal do ocultismo nazi no filme "O Cremador"
domingo, outubro 02, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um operador de um crematório na antiga Tchecoslováquia, às vésperas da
invasão nazista, é um respeitado e aparentemente equilibrado chefe de família
que recita nos jantares teses do Livro Tibetano dos Mortos, é obcecado em
budismo e reencarnação. E também acredita na missão messiânica da sua
profissão: acelerar o trabalho de Deus de fazer o homem retornar ao pó. Essa
mistura de cristianismo e budismo na sua cabeça vai encontrar o esoterismo nazi
que começa a se espalhar pelo país – a pureza da raça ariana cujas origens
milenares estariam no Tibete e a sabedoria guardada pelos lamas. O filme “O
Cremador” (Spalovac Mrtvol, 1969) do diretor tcheco Juraj Herz é um mergulho no
psiquismo da chamada “banalizadade do Mal”, motor psicológico do nazi-fascismo:
como um homem aparentemente equilibrado e sem precedentes violentos mistura
cristianismo, budismo e ocultismo nazi para se auto-investir com um propósito
sinistro: eliminar a dor e a impureza desse mundo através das fornalhas do seu
crematório.
sábado, outubro 01, 2016
Curta da Semana: "Waltz For One" - o medo do futuro
sábado, outubro 01, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Enquanto EUA e URSS disputam a corrida espacial dos anos 1960, um excêntrico milionário financia sua própria viagem espacial buscando quebrar o recorde de permanência solitária em orbita da Terra. Mas um irritante “beep” de mau funcionamento do sistema somado à claustrofobia e delírio no interior de uma minúscula cápsula ameaçam a missão. Esse é o curta “Waltz For One” (“Valsa para Um”, 2012), lançado pelo coletivo de artistas “Intellectual Propaganda”. É muito mais do que uma paródia aos cânones de filmes do gênero (entre eles, “2001” de Kubrick): é uma melancólica desconstrução do gênero ficção científica, enfraquecido na pós-modernidade porque perdeu a própria essência que o constituía - a visão confiante e utópica no futuro. O sintoma de uma sensibilidade atual marcada pela incerteza e temor em relação ao futuro.
sexta-feira, setembro 30, 2016
Branca de Neve e a mídia em "Blancanieves y Los 7 Enanitos Toreros"
sexta-feira, setembro 30, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Como recontar nos tempos atuais a velha estória da Branca de Neve dos Irmãos Grimm? Paradoxalmente, o diretor espanhol Pablo Berger optou narrar o conto clássico através de um filme mudo e em preto e branco. E mais: ambientada na década de 1920 do século passado. Mas com uma forte atualidade: é a década do surgimento da cultura da celebridade onde a madrasta má não tem inveja da Branca de Neve pela sua beleza. Mas porque se tornou uma toureira que ocupa mais espaço nas colunas sociais do que ela, uma celebridade fútil e vazia. “Blancanieves y el 7 Enanitos Toreros” (Branca de Neve e os 7 Anões Toureiros, 2012) é a mais surpreendente adaptação do velho conto cujo modelo atual acabou sendo a versão da Disney de 1937. Mas Pablo Berger cria uma versão mais cáustica, transitando entre o humor negro e a tragédia – como a inocência de Branca de Neve se perde na evolução da indústria do entretenimento, dos “freak shows” do século XIX para a cultura das celebridades atual.
terça-feira, setembro 27, 2016
Coleção "Curta da Semana" do Cinegnose: o Gnóstico, o Estranho e o Surreal
terça-feira, setembro 27, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
No ano passado o "Cinegnose" iniciava a sessão "Curta da Semana". A ideia era celebrar a presença do Surreal, do Gnóstico, do Estranho no universo das produções em curta metragem. Esse gênero de filme vem se tornando verdadeira incubadora de novos diretores, roteiristas, e teasers para futuros filmes. Um tipo de produção que permite liberdade em experimentar novos temas, estéticas, linguagens e efeitos especiais. Visite a Coleção com, até agora, 40 curtas com atualizações semanais.
1 - "Puppets" - Eu sou aquilo que não penso? - clique aqui
2 - "Life and the Mirror" e "Goodbye" - Perdemos a fé na vida pós-morte? - clique aqui
3 - "The Horribly Slow Murderer With The Extremely Inefficient Weapon" - a colher e a gota chinesa - clique aqui
4 - "O Sanduíche" - e no final do abismo tinha um sanduíche - clique aqui
5 - "Estado de Suspensão" - o "estar entre" o sonho e a realidade - clique aqui
6 - "Getting Fat in the Healthy Way"- a Terra, a Lua e a obesidade - clique aqui
7 - "O Homem na Multidão" - Allan Poe se encontra com Física Quântica - clique aqui
8 -"Gnosis" - Monstros, bebês e Gnosticismo - clique aqui
9 - "The Black Hole" - escritórios são as Matrix atuais - clique aqui
10 - "Os Filmes Que Não Fiz" - o fascínio pelos perdedores - clique aqui
MAIS CURTAS
domingo, setembro 25, 2016
A agenda secreta da reforma do ensino: o analfabetismo visual
domingo, setembro 25, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Depois da divulgação da Medida Provisória que “flexibiliza” disciplinas
do Ensino Médio como Artes e Educação Física o Ministério da Educação tentou explicar dizendo que não era bem assim, depois de forte reação de educadores
e pedagogos. Mas está claro: não basta apenas o golpe político. É necessária
uma operação psicológica para anestesiar as outras amargas “flexibilizações”
que serão proximamente enfiadas goela abaixo da sociedade. Uma operação para
manter um sistema de comunicação projetado pela ditadura militar e mantido até
hoje – a concentração das informações para a opinião pública exclusivamente nas
mídias audiovisuais, especialmente a TV. Para isso é necessária a manutenção do
analfabetismo visual: a crença ingênua de que ver é um ato natural e fisiológico,
impossibilitando a educação do olhar e a percepção das intencionalidades por
trás das mensagens visuais. “Flexibilizar” as disciplinas Arte e Educação Física mostra que o “núcleo duro” de Poder, persistente há
décadas na política brasileira, não brinca em serviço. Sabe o que faz: o olhar e a autoconsciência
corporal estão conectados através da “propriocepção”, a base da alfabetização
visual.
sexta-feira, setembro 23, 2016
Quando a morte é o único sentido para a vida em "Bridgend"
sexta-feira, setembro 23, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A cidade de Bridgend (no fundo de vales no sul do País de Gales) no
passado sustentou o império britânico com o seu carvão, para depois ser
esquecida pela História e pelo mundo. Até que, desde 2007, uma inexplicável onda
de suicídios de jovens por enforcamento (79 mortes até hoje) tomou conta da
região. Para a mídia, tornou-se a “cidade da morte” e seus jovens
estigmatizados. O filme Bridgend (2015) do dinamarquês Jeppe RØnde baseia-se nesse caso misterioso: uma adolescente retorna para Bridgend
junto com seu pai, um policial que investiga a causa da onda de suicídios. Um
culto suicida na Internet? Efeito copycat motivado pelo sensacionalismo como a
mídia trata o assunto? Efeito no sistema nervoso central das ondas UHF do
sistema de rádio de emergência da polícia do Reino Unido? Ou um acerto de
contas dos jovens contra a civilização? - quando a existência fica vazia, a
morte pode se tornar o único sentido para a vida. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
terça-feira, setembro 20, 2016
O estranhamento gnóstico de "Eraserhead" de David Lynch
terça-feira, setembro 20, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Considerado o mais influente dos filmes cult, clássico do chamado
“Cinema da Meia-Noite”, “Eraserhead” (1977) foi o filme de estreia na carreira
do diretor David Lynch. Num mix de terror gótico, surrealismo e humor negro, o
filme manteve os seus mistérios simbólicos ao longo dos anos. Embora se baseie
em um simples plot (a namorada engravida e leva seu namorado para que seus pais
o conheçam), os cenários alucinatórios, o design de som hipnótico e uma das
melhores fotografia em PB da história do cinema fazem desse filme o fundador do
tema que acompanhará David Lynch por toda a carreira: por mais banal que pareça a realidade, nosso psiquismo a interpreta por meio de sonhos, pesadelos e
alucinações que criam uma relação de estranhamento com o mundo. Mas alguém controla essa
realidade, e não somos nós. Para chegarmos a esse Demiurgo, somente através do
conhecimento dos mecanismos do psiquismo. Por isso, “Eraserhead” tem um
evidente sabor gnóstico.
domingo, setembro 18, 2016
Curta da Semana: "ANA" - o apocalipse da inteligência artificial
domingo, setembro 18, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um fábrica de automóveis em Detroit, totalmente automatizada, é
controlada por uma Inteligência Artificial chamada ANA, cujo software também
está presente nos setores mais importantes do mundo como recursos médicos,
alimentos e bancos. Mas ANA parece ter outros planos, além do que fazer tarefas
repetitivas – não quer mais produzir mais carros, mas alguma outra coisa que
pretende liberar naquela fábrica em Detroit para o mundo. E o único operador
humano responsável pela produção será traído por ANA. Esse é o curta “ANA”
(2015) do estúdio inglês Factory Fifteen, especializado em produzir filmes
distópicos nos quais explora uma versão particular do conceito de
“singularidade” – algum momento no futuro a supercomputadores produzirão o
acidente terminal: o momento no qual a máquina trairá o próprio criador.
sábado, setembro 17, 2016
PowerPoint nos torna estúpidos?
sábado, setembro 17, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O programa Excel produz “cabeças de planilha”. E o PowerPoint produz o quê? Uma pequena amostra foi dada na delação-show protagonizada pelo procurador Deltan Dallagnol ao dizer: “provas são fragmentos da realidade que geram convicção”. O PowerPoint invadiu a estrutura mental, de decisão e compreensão da realidade. A princípio, qualquer coisa pode ser “bullet-izabel” (“itemizável”). É a pré-formatação da realidade, uma verdadeira estrutura de decomposição do real. Tão fragmentadas e genéricas como as supostas provas contra o “general do maior esquema de corrupção da História”. O PowerPoint se expandiu a todos os setores da sociedade, das empresas ao Estado e à escola onde alunos vão deslizando o olhar por tópicos através dos quais o efeito de conhecimento se confunde com o próprio conhecimento. Cria a linguagem powerpointiana: ilusão, simplificação, distração e anestesia.
quinta-feira, setembro 15, 2016
O enigma Cicada 3301 e a filosofia "I Did It!": uma nova Matrix?
quinta-feira, setembro 15, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Considerado por muitos o maior mistério não resolvido da Internet,
“Cicada 3301” consiste num conjunto de quebra-cabeças lógicos envolvendo
criptografia e esteganografia publicados na Internet desde 2012 com o suposto propósito de uma misteriosa organização recrutar as pessoas mais inteligentes
do planeta. Mas para quê? CIA? NSA? Uma Sociedade Secreta? O fato é que vem
mobilizando uma massa de jovens gênios matemáticos que tentam resolver um
labirinto de enigmas dentro de enigmas. Lembra a aventura de Alan Turing em
decifrar a máquina Enigma dos nazistas, porém sem o heroísmo e glória do
passado. Hoje, apenas um sintoma da filosofia minimalista do “I did It!” (“Eu
consegui!”) na cultura atual – lógica fetichista de delírio no vazio e
exaltação de uma façanha sem consequência. Se isso for verdade, Cicada 3301
pode ser uma armadilha: gênios matemáticos entregando o “modus operandi” hacker
ativista como Big Data para a futura Matrix. Uma Internet recém-senciente, como
uma gigantesca IA, ávida em prever cyber-ataques de possíveis dissidentes.
segunda-feira, setembro 12, 2016
Os ataques de 11 de setembro foram os primeiros não-acontecimentos transmídia do século XXI
segunda-feira, setembro 12, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Nesse último domingo foram completados os 15 anos dos atentados de 11 de
setembro nos EUA. Barack Obama homenageia os mortos com coroas de flores como
fossem a contraprova necessária para dar veracidade a um evento marcado por uma
espiral de “teorias conspiratórias”: Falsa Bandeira? Trabalho Interno? Ou
simplesmente, a mãe de todos os “não-acontecimentos”? Ensaiados através da
década de 1990, desde a Revolução Romena, Guerra do Golfo, passando pelos
bombardeios em Kosovo e Sarajevo, finalmente em 2001 surge não-acontecimento
completo - a matriz do mesmo “modus operandi” dos atentados subsequentes:
Maratona de Boston, atentados na França, Boate Pulse etc. Mas dessa, vez o
09/11 trouxe uma novidade que marca esse início de século: o primeiro
não-acontecimento transmídia: assim como um produto transmídia de
entretenimento, o evento foi propositalmente roteirizado com erros de
continuidade, contradições, lacunas e inverossimilhanças para gerar uma espiral
de interpretações (“teorias conspiratórias”), produzindo intermináveis
“spin-offs”. Assim como projetos transmídias como a série “Lost” ou franquias
“Star Wars” ou “Harry Potter”.
Não haverá catástrofe real, porque vivemos sob o signo da catástrofe
virtual” (Jean Baudrillard)
domingo, setembro 11, 2016
O terror do passado assombra a vida doméstica em "O Espelho"
domingo, setembro 11, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O gênero terror atual persegue uma fórmula básica: combinar os medos
atávicos do horror clássico com os medos domésticos da vida cotidiana: o
ladrão, a infidelidade, o abandono na infância, pais ausentes etc. “O Espelho”
(Oculus, 2013) é um exemplo dessa combinação perfeita que consegue contornar os
clichês do gênero – a história de um espelho assombrado por uma suposta força
maligna que vem colecionando vítimas por séculos. Os medos de uma típica
família de classe média são potencializados por um conjunto de simbolismos
arquetípicos que povoa esse simples objeto doméstico – o medo do reflexo e seu
duplo. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
sexta-feira, setembro 09, 2016
Quando o Brazil se encontra com o Brasil em "Brazil, O Filme"
sexta-feira, setembro 09, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Nesses dias em que o Brasil transformou-se em uma verdadeira república
distópica, um bom filme para assistir é “Brazil, O Filme” (1985) de Terry
Gilliam, integrante da trupe de humor inglês Monty Python. Gilliam criou uma
nova versão de “1984” de George Orwell: um sistema totalitário obcecado pela
posse de informações numa sociedade onde pessoas e coisas estão totalmente
interligadas por dutos, tubos e canos. O filme vislumbrou 31 anos atrás a
vigilância e totalitarismo das redes de informação atuais e a dissidência de
hackers – aqui representado por “encanadores” free-lancers, considerados dissidentes
terroristas. Direitos individuais inexistem e qualquer um pode ser condenado e
executado através de “provas” recolhidas pelo Ministério da Informação. Alguém
pode ser morto por engano, mas tudo foi feito com “boa-fé”. Em tempos onde policiais federais aparecem na mídia como heróis hollywoodianos,
“Brazil, O Filme” torna-se amargamente atual.
quarta-feira, setembro 07, 2016
Por que a "Folha" também tornou-se tautista?
quarta-feira, setembro 07, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em seu editorial “Fascistas à Solta” de 02/09 o jornal "Folha de São
Paulo" exige a repressão mais dura aos “fanáticos por violência”, jovens
desarmados que insistem em gritar “Fora Temer” nas ruas. Como explicar um jornal que um dia foi sintonizado
com o espírito do seu tempo, quando deu visibilidade às “Diretas Já” e
tornou-se modelo de modernização do Jornalismo, como pode a “Folha” terminar
dessa maneira? Naquele momento jovens ocupavam as ruas exigindo eleições
diretas. Por que hoje a mesma Folha, orgulhosa da “revolução gerencial da mídia
brasileira” do "Manual de Redação", é incapaz de perceber o limiar de uma nova
geração que também clama por eleições diretas? A Folha, no meio impresso,
padece do mesmo mal da Globo, no meio audiovisual: o tautismo (autismo +
tautologia). E a origem desse tautismo pode estar no próprio Projeto Folha iniciado em
1984 cuja contradição era confundir o conceito de opinião pública com uma
relação privada de consumo com seus leitores.
segunda-feira, setembro 05, 2016
Curta da Semana: "Movie Mind Machine" - somos viciados em esquecer
segunda-feira, setembro 05, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Cansados de sempre buscar novos filmes que repitam o prazer dos filmes
clássicos, dois fãs de cinema desenvolvem uma máquina que consegue escanear o
cérebro e localizar as memórias específicas de cada filme assistido. A memória é
apagada e o mesmo filme pode ser assistido de novo com o prazer da primeira
vez. O mesmo filme pode ser assistido infinitas vezes, por toda a vida! Esse é
o impagável curta “Movie Mind Machine” (2015), uma comédia em estilo
mockumentary sobre a neuro-máquina que promete revolucionar o mercado
audiovisual. O curta é uma crítica bem humorada da cultura atual retro e
obcecada por nostalgia. Mas também suscita uma questão mais séria: como a
cultura atual estimula o psiquismo do vício e do esquecimento, por meio da indústria de drogas, fármacos e sociedade de consumo, como mecanismos
psíquicos de negação da realidade.
domingo, setembro 04, 2016
A gravidez é a alienação do sexo no filme "Antibirth"
domingo, setembro 04, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Há um assustador subgênero dentro dos filmes de terror: protagonistas
tomadas por uma assustadora gravidez que pode trazer dentro de si a própria
semente do Mal. É um tema recorrente no cinema, passando por clássicos como “O
Bebê de Rosemary”, “It’s Alive” ou, recentemente, “Prometheus”. Toda
recorrência na produção cinematográfica significa a existência de algum
imaginário ou arquétipo que procura expressão audiovisual. O independente “Antibirth”
(2016) é mais um filme que se enquadra nessa temática onde a gravidez é
representada como algo estranho e invasor, alienado da própria sexualidade.
Tema que ganhou espaço no cinema paralelo à revolução sexual e o individualismo
e narcisismo da sociedade de consumo. A gravidez se torna a alienação da
sexualidade e a própria alienação de nós mesmos. Por isso, no estranho filme
noir-psicodélico “Antibirth” pessoas alienadas de seus próprios desejos são
candidatos perfeitos para algum estranho experimento.
sexta-feira, setembro 02, 2016
Impeachment, o não-acontecimento e a psico-história
sexta-feira, setembro 02, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Comparam a consumação do impeachment de Dilma Rousseff com as
circunstâncias do golpe militar de 1964. Lá estavam a força de armas e
coturnos. Aqui em 2016, todas as “data venias” dos rapapés de juízes, juristas
e parlamentares. Mas os eventos são incomparáveis: lá em 1964 tivemos a
tragédia de um evento histórico. Hoje, assistimos ao vivo pela TV a farsa de um
“não-acontecimento” que simulou ser um evento histórico. Desde a seminal Guerra
do Golfo em 1992, os não-acontecimentos dominam o horizonte de eventos das
sociedades, seja por guerras, atentados terroristas ou golpes parlamentares. Em
todos eles, um complexo jurídico-midiático inverte as relações de causa-efeito:
não se trata mais de acontecimentos que geram informação, mas o inverso – a
História transforma-se em “Psico-História”, para usar uma expressão de Isaac
Asimov. Compreender os mecanismos dos não-acontecimentos é fundamental para uma
ação política que vise não apenas ocupar as ruas. É urgente também ocupar o
contínuo midiático que compreende a zona virtual de interface entre a mídia e a realidade. Lá estão estão os “agentes Smiths” (repórteres e editores) a serem enfrentados por guerrilhas midiáticas.
quarta-feira, agosto 31, 2016
Um Triângulo das Bermudas quântico no filme "Triângulo do Medo"
quarta-feira, agosto 31, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O misterioso Triângulos das Bermudas foi pouco explorado pelo cinema,
restringindo-se a filmes e séries de baixo orçamento para a TV. Mas “Triângulo
do Medo ” (Triangle, 2009) do inglês Christopher Smith fez mudar esse cenário –
mais três filmes sobre o tema estão atualmente em produção. Além de se inspirar
em “O Iluminado” de Kubrick e num antigo filme francês chamado "La Jetee" (que
inspirou Terry Gilliam a fazer “Os Doze Macacos”), “Triângulo do Medo” renova
as teorias sobre as estranhas anomalias que aconteceriam naquela região: não
mais fenômenos paranormais ou extraterrestres – agora, o Triângulo das Bermudas
seria uma gigantesca “caixa de Schrödinger”: fenômeno quântico onde diferentes
versões de nós mesmos se sobrepõem de forma catastrófica. “Triangle” se inspira
nas hipóteses discutidas pela Física atual como a “Interpretação dos Muitos
Mundos” e a do “Mundos em Choque”. Filme sugerido pelo nosso leitor João Carlos.
segunda-feira, agosto 29, 2016
Anjos, demônios e LSD no filme "Alucinações do Passado"
segunda-feira, agosto 29, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Mestre Eckhart [teólogo da filosofia medieval] também viu o inferno.
Sabe o que ele disse? Ele disse que a única coisa que queima no Inferno é a
parte de você que não te deixa ir adiante na sua vida, suas memórias, suas
amizades. Eles as queimam por completo. Mas eles não estão te punindo. Estão
libertando a sua alma. Se você está com medo de morrer e resiste você verá
demônios arrancando sua vida. Mas, se estiver em paz, então os demônios se
tornam anjos libertando-o da Terra” - Louis (Danny Ayello) no filme “Alucinações
do Passado”(Jacob's Ladder, 1990).
sábado, agosto 27, 2016
O estilo "Welcome to Brazil" no filme "Boi Neon"
sábado, agosto 27, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Enquanto em 1979 o filme “Bye Bye Brasil”, de Cacá Diegues, era a despedida
de toda uma geração para um País que não mais existiria graças a americanização
trazida pela TV, no filme “Boi Neon” (2015), de Gabriel Mascaro, a geração
atual declara: “Welcome to Brazil”. Não mais o Brasil da “Caravana Rolidei”
cuja trupe visitava rincões de subdesenvolvimento, mas agora o Brasil de um
road movie que circula nos bastidores dos agro shows do Nordeste – vaquejadas e
leilões. A selvageria por trás do "mise en place" dos agronegócios é amenizada através dos signos do “rústico”, do “rural”, do “selvagem” padrão
exportação. Desdobramento do chamado “cinema de retomada”, cujos diretores e produtores são egressos do mercado audiovisual publicitário e televisivo. “Boi Neon” é a história de um vaqueiro que tem um sonho:
transformar-se em estilista de Moda.
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