terça-feira, setembro 20, 2016

O estranhamento gnóstico de "Eraserhead" de David Lynch


Considerado o mais influente dos filmes cult, clássico do chamado “Cinema da Meia-Noite”, “Eraserhead” (1977) foi o filme de estreia na carreira do diretor David Lynch. Num mix de terror gótico, surrealismo e humor negro, o filme manteve os seus mistérios simbólicos ao longo dos anos. Embora se baseie em um simples plot (a namorada engravida e leva seu namorado para que seus pais o conheçam), os cenários alucinatórios, o design de som hipnótico e uma das melhores fotografia em PB da história do cinema fazem desse filme o fundador do tema que acompanhará David Lynch por toda a carreira: por mais banal que pareça a realidade, nosso psiquismo a interpreta por meio de sonhos, pesadelos e alucinações que criam uma relação de estranhamento com o mundo. Mas alguém controla essa realidade, e não somos nós. Para chegarmos a esse Demiurgo, somente através do conhecimento dos mecanismos do psiquismo. Por isso, “Eraserhead” tem um evidente sabor gnóstico.

domingo, setembro 18, 2016

Curta da Semana: "ANA" - o apocalipse da inteligência artificial


Um fábrica de automóveis em Detroit, totalmente automatizada, é controlada por uma Inteligência Artificial chamada ANA, cujo software também está presente nos setores mais importantes do mundo como recursos médicos, alimentos e bancos. Mas ANA parece ter outros planos, além do que fazer tarefas repetitivas – não quer mais produzir mais carros, mas alguma outra coisa que pretende liberar naquela fábrica em Detroit para o mundo. E o único operador humano responsável pela produção será traído por ANA. Esse é o curta “ANA” (2015) do estúdio inglês Factory Fifteen, especializado em produzir filmes distópicos nos quais explora uma versão particular do conceito de “singularidade” – algum momento no futuro a supercomputadores produzirão o acidente terminal: o momento no qual a máquina trairá o próprio criador.

sábado, setembro 17, 2016

PowerPoint nos torna estúpidos?


O programa Excel produz “cabeças de planilha”. E o PowerPoint produz o quê? Uma pequena amostra foi dada na delação-show protagonizada pelo procurador Deltan Dallagnol ao dizer: “provas são fragmentos da realidade que geram convicção”. O PowerPoint invadiu a estrutura mental, de decisão e compreensão da realidade. A princípio, qualquer coisa pode ser “bullet-izabel” (“itemizável”). É a pré-formatação da realidade, uma verdadeira estrutura de decomposição do real. Tão fragmentadas e genéricas como as supostas provas contra o “general do maior esquema de corrupção da História”. O PowerPoint se expandiu a todos os setores da sociedade, das empresas ao Estado e à escola onde alunos vão deslizando o olhar por tópicos através dos quais o efeito de conhecimento se confunde com o próprio conhecimento. Cria a linguagem powerpointiana: ilusão, simplificação, distração e anestesia.

quinta-feira, setembro 15, 2016

O enigma Cicada 3301 e a filosofia "I Did It!": uma nova Matrix?


Considerado por muitos o maior mistério não resolvido da Internet, “Cicada 3301” consiste num conjunto de quebra-cabeças lógicos envolvendo criptografia e esteganografia publicados na Internet desde 2012 com o suposto propósito de uma misteriosa organização recrutar as pessoas mais inteligentes do planeta. Mas para quê? CIA? NSA? Uma Sociedade Secreta? O fato é que vem mobilizando uma massa de jovens gênios matemáticos que tentam resolver um labirinto de enigmas dentro de enigmas. Lembra a aventura de Alan Turing em decifrar a máquina Enigma dos nazistas, porém sem o heroísmo e glória do passado. Hoje, apenas um sintoma da filosofia minimalista do “I did It!” (“Eu consegui!”) na cultura atual – lógica fetichista de delírio no vazio e exaltação de uma façanha sem consequência. Se isso for verdade, Cicada 3301 pode ser uma armadilha: gênios matemáticos entregando o “modus operandi” hacker ativista como Big Data para a futura Matrix. Uma Internet recém-senciente, como uma gigantesca IA, ávida em prever cyber-ataques de possíveis dissidentes.

segunda-feira, setembro 12, 2016

Os ataques de 11 de setembro foram os primeiros não-acontecimentos transmídia do século XXI


Nesse último domingo foram completados os 15 anos dos atentados de 11 de setembro nos EUA. Barack Obama homenageia os mortos com coroas de flores como fossem a contraprova necessária para dar veracidade a um evento marcado por uma espiral de “teorias conspiratórias”: Falsa Bandeira? Trabalho Interno? Ou simplesmente, a mãe de todos os “não-acontecimentos”? Ensaiados através da década de 1990, desde a Revolução Romena, Guerra do Golfo, passando pelos bombardeios em Kosovo e Sarajevo, finalmente em 2001 surge não-acontecimento completo - a matriz do mesmo “modus operandi” dos atentados subsequentes: Maratona de Boston, atentados na França, Boate Pulse etc. Mas dessa, vez o 09/11 trouxe uma novidade que marca esse início de século: o primeiro não-acontecimento transmídia: assim como um produto transmídia de entretenimento, o evento foi propositalmente roteirizado com erros de continuidade, contradições, lacunas e inverossimilhanças para gerar uma espiral de interpretações (“teorias conspiratórias”), produzindo intermináveis “spin-offs”. Assim como projetos transmídias como a série “Lost” ou franquias “Star Wars” ou “Harry Potter”.

Não haverá catástrofe real, porque vivemos sob o signo da catástrofe virtual” (Jean Baudrillard)

domingo, setembro 11, 2016

O terror do passado assombra a vida doméstica em "O Espelho"


O gênero terror atual persegue uma fórmula básica: combinar os medos atávicos do horror clássico com os medos domésticos da vida cotidiana: o ladrão, a infidelidade, o abandono na infância, pais ausentes etc. “O Espelho” (Oculus, 2013) é um exemplo dessa combinação perfeita que consegue contornar os clichês do gênero – a história de um espelho assombrado por uma suposta força maligna que vem colecionando vítimas por séculos. Os medos de uma típica família de classe média são potencializados por um conjunto de simbolismos arquetípicos que povoa esse simples objeto doméstico – o medo do reflexo e seu duplo. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

sexta-feira, setembro 09, 2016

Quando o Brazil se encontra com o Brasil em "Brazil, O Filme"


Nesses dias em que o Brasil transformou-se em uma verdadeira república distópica, um bom filme para assistir é “Brazil, O Filme” (1985) de Terry Gilliam, integrante da trupe de humor inglês Monty Python. Gilliam criou uma nova versão de “1984” de George Orwell: um sistema totalitário obcecado pela posse de informações numa sociedade onde pessoas e coisas estão totalmente interligadas por dutos, tubos e canos. O filme vislumbrou 31 anos atrás a vigilância e totalitarismo das redes de informação atuais e a dissidência de hackers – aqui representado por “encanadores” free-lancers, considerados dissidentes terroristas. Direitos individuais inexistem e qualquer um pode ser condenado e executado através de “provas” recolhidas pelo Ministério da Informação. Alguém pode ser morto por engano, mas tudo foi feito com “boa-fé”. Em tempos onde policiais federais aparecem na mídia como heróis hollywoodianos, “Brazil, O Filme” torna-se amargamente atual.  

quarta-feira, setembro 07, 2016

Por que a "Folha" também tornou-se tautista?


Em seu editorial “Fascistas à Solta” de 02/09 o jornal "Folha de São Paulo" exige a repressão mais dura aos “fanáticos por violência”, jovens desarmados que insistem em gritar “Fora Temer” nas ruas.  Como explicar um jornal que um dia foi sintonizado com o espírito do seu tempo, quando deu visibilidade às “Diretas Já” e tornou-se modelo de modernização do Jornalismo, como pode a “Folha” terminar dessa maneira? Naquele momento jovens ocupavam as ruas exigindo eleições diretas. Por que hoje a mesma Folha, orgulhosa da “revolução gerencial da mídia brasileira” do "Manual de Redação", é incapaz de perceber o limiar de uma nova geração que também clama por eleições diretas? A Folha, no meio impresso, padece do mesmo mal da Globo, no meio audiovisual: o tautismo (autismo + tautologia). E a origem desse tautismo pode estar no próprio Projeto Folha iniciado em 1984 cuja contradição era confundir o conceito de opinião pública com uma relação privada de consumo com seus leitores.

segunda-feira, setembro 05, 2016

Curta da Semana: "Movie Mind Machine" - somos viciados em esquecer


Cansados de sempre buscar novos filmes que repitam o prazer dos filmes clássicos, dois fãs de cinema desenvolvem uma máquina que consegue escanear o cérebro e localizar as memórias específicas de cada filme assistido. A memória é apagada e o mesmo filme pode ser assistido de novo com o prazer da primeira vez. O mesmo filme pode ser assistido infinitas vezes, por toda a vida! Esse é o impagável curta “Movie Mind Machine” (2015), uma comédia em estilo mockumentary sobre a neuro-máquina que promete revolucionar o mercado audiovisual. O curta é uma crítica bem humorada da cultura atual retro e obcecada por nostalgia. Mas também suscita uma questão mais séria: como a cultura atual estimula o psiquismo do vício e do esquecimento, por meio da indústria de drogas, fármacos e sociedade de consumo, como mecanismos psíquicos de negação da realidade.

domingo, setembro 04, 2016

A gravidez é a alienação do sexo no filme "Antibirth"



Há um assustador subgênero dentro dos filmes de terror: protagonistas tomadas por uma assustadora gravidez que pode trazer dentro de si a própria semente do Mal. É um tema recorrente no cinema, passando por clássicos como “O Bebê de Rosemary”, “It’s Alive” ou, recentemente, “Prometheus”. Toda recorrência na produção cinematográfica significa a existência de algum imaginário ou arquétipo que procura expressão audiovisual. O independente “Antibirth” (2016) é mais um filme que se enquadra nessa temática onde a gravidez é representada como algo estranho e invasor, alienado da própria sexualidade. Tema que ganhou espaço no cinema paralelo à revolução sexual e o individualismo e narcisismo da sociedade de consumo. A gravidez se torna a alienação da sexualidade e a própria alienação de nós mesmos. Por isso, no estranho filme noir-psicodélico “Antibirth” pessoas alienadas de seus próprios desejos são candidatos perfeitos para algum estranho experimento.

sexta-feira, setembro 02, 2016

Impeachment, o não-acontecimento e a psico-história


Comparam a consumação do impeachment de Dilma Rousseff com as circunstâncias do golpe militar de 1964. Lá estavam a força de armas e coturnos. Aqui em 2016, todas as “data venias” dos rapapés de juízes, juristas e parlamentares. Mas os eventos são incomparáveis: lá em 1964 tivemos a tragédia de um evento histórico. Hoje, assistimos ao vivo pela TV a farsa de um “não-acontecimento” que simulou ser um evento histórico. Desde a seminal Guerra do Golfo em 1992, os não-acontecimentos dominam o horizonte de eventos das sociedades, seja por guerras, atentados terroristas ou golpes parlamentares. Em todos eles, um complexo jurídico-midiático inverte as relações de causa-efeito: não se trata mais de acontecimentos que geram informação, mas o inverso – a História transforma-se em “Psico-História”, para usar uma expressão de Isaac Asimov. Compreender os mecanismos dos não-acontecimentos é fundamental para uma ação política que vise não apenas ocupar as ruas. É urgente também ocupar o contínuo midiático que compreende a zona virtual de interface entre a mídia e a realidade. Lá estão estão os “agentes Smiths”  (repórteres e editores) a serem enfrentados por guerrilhas midiáticas.

quarta-feira, agosto 31, 2016

Um Triângulo das Bermudas quântico no filme "Triângulo do Medo"


O misterioso Triângulos das Bermudas  foi pouco explorado pelo cinema, restringindo-se a filmes e séries de baixo orçamento para a TV. Mas “Triângulo do Medo ” (Triangle, 2009) do inglês Christopher Smith fez mudar esse cenário – mais três filmes sobre o tema estão atualmente em produção. Além de se inspirar em “O Iluminado” de Kubrick e num antigo filme francês chamado "La Jetee" (que inspirou Terry Gilliam a fazer “Os Doze Macacos”), “Triângulo do Medo” renova as teorias sobre as estranhas anomalias que aconteceriam naquela região: não mais fenômenos paranormais ou extraterrestres – agora, o Triângulo das Bermudas seria uma gigantesca “caixa de Schrödinger”: fenômeno quântico onde diferentes versões de nós mesmos se sobrepõem de forma catastrófica. “Triangle” se inspira nas hipóteses discutidas pela Física atual como a “Interpretação dos Muitos Mundos” e a do “Mundos em Choque”. Filme sugerido pelo nosso leitor João Carlos.

segunda-feira, agosto 29, 2016

Anjos, demônios e LSD no filme "Alucinações do Passado"


“Mestre Eckhart [teólogo da filosofia medieval] também viu o inferno. Sabe o que ele disse? Ele disse que a única coisa que queima no Inferno é a parte de você que não te deixa ir adiante na sua vida, suas memórias, suas amizades. Eles as queimam por completo. Mas eles não estão te punindo. Estão libertando a sua alma. Se você está com medo de morrer e resiste você verá demônios arrancando sua vida. Mas, se estiver em paz, então os demônios se tornam anjos libertando-o da Terra” - Louis (Danny Ayello) no filme “Alucinações do Passado”(Jacob's Ladder, 1990). 

sábado, agosto 27, 2016

O estilo "Welcome to Brazil" no filme "Boi Neon"



Enquanto em 1979 o filme “Bye Bye Brasil”, de Cacá Diegues, era a despedida de toda uma geração para um País que não mais existiria graças a americanização trazida pela TV, no filme “Boi Neon” (2015), de Gabriel Mascaro, a geração atual declara: “Welcome to Brazil”. Não mais o Brasil da “Caravana Rolidei” cuja trupe visitava rincões de subdesenvolvimento, mas agora o Brasil de um road movie que circula nos bastidores dos agro shows do Nordeste – vaquejadas e leilões. A selvageria por trás do "mise en place" dos agronegócios é amenizada através dos signos do “rústico”, do “rural”, do “selvagem” padrão exportação. Desdobramento do chamado “cinema de retomada”, cujos diretores e produtores são egressos do mercado audiovisual publicitário e televisivo. “Boi Neon” é a história de um vaqueiro que tem um sonho: transformar-se em estilista de Moda.

quinta-feira, agosto 25, 2016

Globo News dá "pérolas coxinhas" para desempregados


Diariamente acompanhamos na grande mídia um desfile de clichês do manual do perfeito empreendedor de si mesmo, “pérolas coxinhas”: pessoas proativas, criativas etc. teriam mais chances de arrumar um emprego... apesar da crise. O adjunto adverbial de concessão é o único elemento que dá racionalidade a essa fábula diária na TV. Uma dessas fábulas foi narrada pela Globo News: a história de dois jovens que ficavam com placas de cartolina na Avenida Paulista pedindo emprego. E o telejornal mostrou o sucesso da “proatividade”. Um exemplo de como as notícias estão abandonando o Jornalismo para entrar no campo morfologia do Conto Fantástico, como estudou Vladimir Propp. E mais um exemplo de como as esquerdas até hoje não entenderam a eficácia comunicativa da Direita – ideologia não se combate com crítica ideológica, mas com guerrilha e anarquia midiáticas.

segunda-feira, agosto 22, 2016

A distopia do esquecimento no filme "Embers"



Uma doença neurológica contaminou a maioria da população do planeta, na qual as pessoas perdem as memórias de curto prazo. A vida em sociedade torna-se impossível, transformando grandes cidades em espaços vazios e ruínas por onde vagam pessoas tentando sobreviver imersas no esquecimento. Esse é o filme “Embers” (2015), uma co-produção Polônia/EUA que faz uma abordagem bem diferente do tradicional tema das distopias pós-apocalipse: aqui não há um mundo novo a ser reconstruído por adição, mas um mundo cruel que opera por subtração. O filme questiona: o que nos torna humanos? A memória ou o esquecimento? Mas “Embers” também é sombriamente profético -  num mundo digital no qual a memória é frágil e efêmera, a única coisa que sobrará serão os suportes analógicos dos livros, a última esperança para recuperar a humanidade esquecida. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

domingo, agosto 21, 2016

Curta da Semana: "Third Reich" - Hitler não morreu para os "The Residents"


A banda mais estranha da história do rock faz um vídeo obscuro e surreal de um dos discos mais enigmáticos dos anos 1970. Estamos falando da banda “The Residents” e do disco “Third Reich N’Roll” de 1976. Ao comemorar o trigésimo aniversário em 2001, “The Residents” lançaram o box com DVD e CD chamado “Icky Flix”. Ao longo de décadas os membros da banda se mantiveram incógnitos, não dão entrevistas e nos shows apresentam-se em estranhos disfarces. O vídeo-clip “Third Reich” do DVD Icky Flix” é tão estranho quanto a banda. Se o pensador Theodor Adorno estivesse vivo, certamente gostaria desse curta – Hitler e o nazi-fascismo foram destruídos, mas seu “modus operandi” permaneceu na Indústria Cultural.

sábado, agosto 20, 2016

Grande Mídia vê Olimpíadas Rio 2016 como anestésico político


Depois da Copa de 2014, cujo baixo astral culminou com os 7 X 1 da Alemanha contra o Brasil, as coisas mudaram na cobertura da grande mídia dos Jogos Olímpicos Rio 2016: tudo é espetáculo, da organização do evento ao desempenho olímpico dos atletas brasileiros. Se em outros tempos eventos negativos eram repercutidos para criar evidências de desorganização e fracasso, agora são minimizados ou se transformam em instrumento de uma inesperada verve patriótica, como no caso dos nadadores norte-americanos pegos na mentira, depois de anos de um interesseiro culto ao complexo de vira-latas. Porém, na cobertura tautista (autismo + tautologia) principalmente da Globo “gafes” acontecem: William Waack que acidentalmente saiu script patriótico que a Globo agora quer turbinar (o vício falou mais alto para Waack) e, mais uma vez, o narrador Galvão Bueno comete atos falhos, sempre alheio à realidade externa ao seu falatório. Para a grande mídia as Olimpíadas se transformaram num anestésico político para o grave momento que atravessa o País do impeachment.

quinta-feira, agosto 18, 2016

Em "Esquadrão Suicida" o Coringa foi a maior vítima


A maior vítima do filme “Esquadrão Suicida” não foi a super-vilã do Outro Mundo Enchantress. Foi o Coringa de Jared Leto, vítima da diluição de todos os vilões do filme na estratégia ideológica do “good-bad evil”: maus, porém com bom coração. Os brutos também amam. Forma hollywoodiana de esvaziamento do Mal ontológico – o vilão não quer se vingar do herói, mas da sociedade hipócrita que o produziu. Em tempos de endurecimento da guerra contra o terrorismo, Hollywood não pode permitir mais um Coringa como o de Heath Ledger. Com a neutralização do arquétipo do Coringa, pelo menos Leto livrou-se da maldição sincromística que o palhaço do crime parece lançar sobre os atores que o encarnam.

terça-feira, agosto 16, 2016

Pokémon GO: bem vindo ao deserto do real!


O filme “Matrix” e o conto “Sobre o Rigor da Ciência” do argentino Jorge Luís Borges ajudam bastante a entender a atual febre em torno do jogo Pokémon GO. Não a compreender o jogo em si (de forma positiva ajuda a nos familiarizar com o ambiente urbano e nos tira do sedentarismo, a velha crítica contra os tradicionais games de computadores e consoles) mas a elucidar para qual futuro ele aponta. Realidade aumentada é a união da representação com a tecnologia, do mapa com o território, do virtual com o real. Mas se no conto de Borges pedaços do mapa ficaram grudados ao real, no mundo Matrix é o real que vira um deserto e se agarra na virtualidade. Por enquanto programas como Pokémon GO são metafóricos, anedóticos e, por isso, divertidos. Mas a tecnologia da realidade aumentada vai muito além do que ajudar a compreensão da realidade: pode desertificá-la.

segunda-feira, agosto 15, 2016

O peso da decadência moderna no filme "High-Rise"


Um misterioso arquiteto planeja um arranha-céu que deveria ser uma incubadora de mudanças na sociedade. Um edifício idílico com todas as comodidades modernas destinado a ser uma “máquina de morar” autogerida. Mas algo deu errado, transformando o projeto em um pesadelo apocalíptico que mistura horror, sexo, drogas e a principal ironia: a Razão e a Racionalidade de um projeto futurista se converte em niilismo, hedonismo e violência. É o filme “High-Rise” (2015), adaptação de obra do escritor J.G. Ballard de 1975 cujas visões sobre o futuro são considerados por muitos como proféticas – a sociedade corroída pelos seus principais males: a luta do homem contra si mesmo e de todos contra todos.

domingo, agosto 14, 2016

Curta da Semana: "Getting Fat in a Healthy Way" - a Terra, a Lua e a obesidade


Em um universo alternativo a força gravitacional do planeta se enfraqueceu devido a uma catástrofe geofísica envolvendo Terra-Lua. Quem tiver menos de 120 quilos terá sérios problemas para levar uma vida normal – poderá sair flutuando e se perder na atmosfera. Por isso a obesidade passa a ser valorizada e vira o novo padrão de beleza. E se nesse mundo um homem magro se apaixonasse por uma mulher obesa? O curta “Getting Fat in a Healthy Way” (2015) do búlgaro Kevork Aslanyan coloca esse argumento sci-fi como pano de fundo para uma singela história de amor que suscita uma discussão sobre os padrões de beleza: se são relativos, por que se transformam em padrões ditatoriais?

sábado, agosto 13, 2016

Galvão Bueno: do patriotismo ao tautismo


O locutor da Globo Galvão Bueno é o homem certo para o lugar certo. Os nadadores preparavam-se para a largada na piscina do Parque Olímpico da Rio 2016 quando a árbitra parou tudo. Em meio ao silêncio exigido para a concentração dos atletas alguém não parava de falar, alheio ao momento: era Galvão Bueno, que mereceu ao vivo uma reprimenda de um comentarista do canal inglês BBC: “o colega perto de mim precisa calar a boca”, disse. Bueno é o homem certo, com sua verborragia patriótica cultivada nos tempos dos bons resultados brasileiros no futebol e F1. Os bons resultados acabaram, mas o cacoete ficou.  Agora tornou-se sintoma do tautismo (autismo + tautologia) crônico de uma emissora que de tão centrada nela mesma começa a contaminar seus jornalistas, apresentadores e artistas. Em muitos momentos o monopólio político e econômico da Globo parece fazer seus profissionais terem lapsos de memória sobre a existência de alguma coisa de real do outro lado dos muros da emissora.

Tecnologia do Blogger.

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | Bluehost Review