sábado, junho 09, 2012
Edgar Allan Poe Gnóstico: os vídeos
sábado, junho 09, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Vamos dar início a uma série de postagens com vídeos produzidos pelos meus alunos
da Disciplina Estrutura de Roteiro da Escola de Comunicação na Universidade
Anhembi Morumbi. Foi proposto para eles o seguinte desafio: fazer roteiros literários livremente
adaptados de contos do escritor norte-americano Edgar Allan Poe. Porém,
deveriam manter o núcleo do argumento, ou seja, as atmosferas góticas e reflexões
metafísicas e gnósticas do autor. Esses são os primeiros vídeos resultantes desses roteiros.
Edgar Allan Poe (1809 - 1849) foi o primeiro escritor do continente
americano a influenciar os rumos da literatura para além do seu país. Se Freud
ao visitar os EUA e avistar a Estátua da Liberdade teria dito “não sabem que
estamos lhes trazendo a peste”, um século antes Allan Poe já havia contaminado
o mundo com o seu gótico “impulso pelo perverso” cuja psicanálise é um dos seus
frutos.
Seus contos e poemas estão repletos de uma metafísica
gnóstica: um dualismo radical que vê a alma como aprisionada na materialidade
do mundo como uma prisão e a única forma de escapar é através de um supremo ato
de autoconhecimento, a gnose. Daí o fascínio de Allan Poe por personalidades
divididas, pela Queda, desamparo, saudades, latência, dormência, intoxicação.
Seus relatos sempre começam como relatos sóbrios e verídicos
que logo mergulham em atmosferas de horror crescente até adquirir tons
fantásticos e metafísicos. Allan Poe tinha o talento para descrever situações
intoleráveis onde sua clareza analítica revelava o prazer mórbido do autor em
se aprofundar nas origens dos impulsos da natureza humana e na sua condição de
estrangeira ou de exilada em um mundo cujo Deus é o do Abismo.
quinta-feira, junho 07, 2012
A controvérsia dos games violentos
quinta-feira, junho 07, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Você joga games? Não?
Então, como quer criticá-los”, defendem-se os usuários de jogos por computador
diante das velhas e moralistas críticas de pesquisadores ainda presos a
conceitos como “influência”, “comportamento” e “efeito subliminar”. Ambos os
lados da controvérsia em torno dos games violentos não conseguem se
desvencilhar de duas armadilhas que travam o debate: de um lado a defesa
reflexa do “gosto não se discute” e, do outro, críticas ainda presas a modelos
mecanicistas e comportamentais de comunicação. Uma pesquisa realizada por
alunos da Escola de Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi (UAM/São Paulo)
a partir de uma enquete feita com desenvolvedores de jogos e especialistas na
área de sociologia e psicologia apontou para um enfoque alternativo a essa
controvérsia: o problema dos games violentos não estaria na “influência” mas na
alteração cognitiva da percepção da realidade.
Na controvérsia em torno da suposta influência em jovens e
adolescentes dos games de computador violentos, ambos os lados apresentam
argumentos ou como mecanismos de defesa ou com modelos científicos defasados
que ainda tentam hoje aplicar em mídias digitais e interativas.
De um lado os usuários de games. Tente articular algum
pensamento mais crítico a respeito e logo ouvirá a pergunta: “Você joga games?
Não! Então, como quer criticá-los”. Essa defesa reflexa faz lembrar a mesma
reação que jornalistas tiveram quando o sociólogo francês Pierre Bourdieu
lançou o livro “Sobre a Televisão” com precisas e cortantes críticas ao campo
jornalístico: “Como Bourdieu pode nos criticar, ele não é jornalista!”, diziam
a maioria dos jornalistas à época. É como se diante desse espírito
corporativista fosse impossível qualquer pensamento científico ou crítico a
partir de fora.
Do outro lado, os pesquisadores com os velhos modelos
científicos de comunicação baseados em noções como os de “influência”,
“comportamento”, “efeito subliminar” etc.
quinta-feira, maio 31, 2012
Vídeo "Paranoia Tecnológica"
quinta-feira, maio 31, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O que aconteceria se, de repente, todos os equipamentos de
comunicação de sua casa deixassem de funcionar: celulares, computador,
notebook, Ipads, Iphones e assim por diante? Provavelmente, o usuário rotineiro
desses dispositivos de comunicação seria tomado pela ansiedade, medo, sensação
de vazio e, por fim, a paranoia. Esse é o tema do curta “Paranoia Tecnológica”,
de Gabriela Pagliuca, aluna do curso de Jornalismo. O vídeo fez parte do
trabalho de conclusão da disciplina Estudos da Semiótica que leciono no curso
da Escola de Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi (UAM/São Paulo) cujo
tema era “Obsolescência Planejada”
A narrativa do curta procurou traduzir em imagens algumas
ideias discutidas em torno das relações cada vez mais fetichistas que temos com
os gadgets tecnológicos: investir os objetos tecnológicos de um valor
imaginário onde eles teriam o poder, por si só, de criar uma comunhão ou
relacionamentos da mesma magnitude das relações face-a-face. O poder do modem,
a velocidade da conexão, a atualização dos aplicativos ou a alta performance da
placa de vídeo ou do processador seriam investidos de um valor fetichista onde
a potência tecnológico seria igual à possibilidade de produzir gratificação,
afetos e reconhecimento.
Com a obsolescência acelerada e planejada pelos fabricantes
desses gadgets, a necessidade pelo consumo de cada “novo” aplicativo,
atualização ou simples descarte do que já possui torna-se um imperativo que se transforma
numa espécie de imposição moral: você sente-se culpado se estiver
desatualizado.
O que acaba produzindo uma relação de vício e compulsão
semelhante à dependência química tal como revelado por pesquisa recente pela
Universidade de Maryland, EUA , sobre os sintomas dos usuários em situações de
privação de tencologias de comunicação
ou a pesquisa da Universidade de Bergen, Noruega, sobre a chamada
“Escala de Vício pelo Facebook” (sobre isso veja a postagem anterior nos links
abaixo).
Confira o vídeo a seguir:
quinta-feira, maio 24, 2012
Pesquisas revelam a influência, vício e narcisismo no Facebook
quinta-feira, maio 24, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
As redes sociais devem ser pensadas a partir de conceitos como influência, vício e narcisismo. Essa é a interpretação de um trabalho de conclusão da
disciplina Estudos da Semiótica, que eu ministro dentro do curso de Comunicação Social da Universidade Anhembi
Morumbi (UAM/São Paulo), a partir dos dados de pesquisas empíricas realizadas nos EUA e Noruega sobre usuários do Facebook e redes sociais. A informações levantadas por essas pesquisas mudariam o foco da discussão: a questão não é a tradicional oposição entre os mundos real/virtual, mas a relação fetichista e de viciosidade com os gadgets tecnológicos que se inicia na própria sociedade de consumo, além da diluição das fronteiras entre a vida pública e a privada.
Falar mal das redes sociais, assim como de games de
computadores, parece ter se tornado um lugar comum, mas o diferencial dos
resultados apresentados nesse trabalho intitulado "Escola de Frankfurt e Redes Sociais" (do grupo de alunos formado por Aline Mathias, André Pinheiro, Bruno Cagide, Danilo Alves, Danilo Menezes, Karolina Garcia e Luely Vaz) é que eles se basearam em duas pesquisas
empíricas realizadas recentemente com usuários de redes sociais em várias
partes do mundo.
A primeira pesquisa foi a realizada pela Universidade de
Maryland, nos EUA, levada a cabo em 2011 a partir de um universo de mil universitários
de 37 países entre 17 e 23 anos. Os grupos em estudo foram impedidos de usar
celulares, redes sociais, internet e TV por 24 horas. Somente poderiam usar
telefone fixo e livros e tinham de manter um diário. Segundo os investigadores,
79% dos estudantes relataram sintomas análogos às síndromes de abstinência
química: desespero, “esvaziamento”, ansiedade, confusão e isolamento.
Um em cada cinco alunos relatou sentimentos de abstinência,
enquanto 11% disseram que estavam confusos ou se sentiam fracassados. Quase um
em cinco (19%) relataram sentimentos de angústia e 11% afirmaram que se sentiam
isolados. Apenas 21% admitiram que poderiam sentir os benefícios de ficar
incomunicáveis (veja: http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=48447&op=all).
sábado, maio 19, 2012
A História Secreta do Rock 'n' Roll
sábado, maio 19, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Há uma história de um repórter que entrevistou Jim Morrison
(vocalista da banda The Doors) depois que ele havia gravado “Dionysus”: “Mr. Morrison,
você está tentando imitar Dionísio?”, perguntou o repórter que teria ouvido a
seguinte resposta: “Não. Eu sou Dionísio!”
Do rock progressivo ao hardcore, do punk ao psicodélico, do
glam rock ao heavy metal existiria um traço comum que uniria todos os
subgêneros que explodiram na história do rock and roll: um especial tipo de
introspecção onde músicos e fãs sentir-se-iam como iniciados em algum tipo de
escola de mistérios e a audição e performance musicais seriam como ritos
religiosos onde seria recriada a sensação de transcendência para entrar em um
mundo diferente, cheio de mistério e perigo.
O rock and roll seria uma expressão renovada de mistérios
antigos profundamente enraizados na cultura contemporânea, como os de Orfeu,
Cibele, Átis, Isis, Mitra, Druidas e toda uma miríade de escolas antigas
herméticas. Essa é a premissa do livro “The Secret History of Rock 'n' Roll” de
Christopher Knowles, escritor e editor de comic books e pesquisador sobre
simbologias na cultura pop, com diversos trabalhos publicados nessa área.
sexta-feira, maio 18, 2012
A globalização do "salve-se quem puder" no filme "Nove Rainhas"
sexta-feira, maio 18, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O filme argentino “Nove
Rainhas” (Nueve Reinas, 2000) do falecido diretor Fábian Bielinsnky continua
ainda desconhecido no Brasil. Embora reflita o colapso econômico argentino do
final da década de 1990 e a amoralidade que a corrupção e a inflação estariam
provocando na cultura nacional, permanece bem atual. O impacto mundial (nos EUA
mereceu um remake de qualidade bem inferior) da saga de dois anti-heróis
trambiqueiros que descobrem que, na verdade, a própria sociedade é feita de
pequenos e grandes golpes, fez Bielinsky afirmar que o sucesso do filme
simbolizaria “a globalização do salve-se quem puder”. Provavelmente porque Bielinsky explora dois grandes arquétipos da literatura e do cinema: o "Pícaro" e o "Trickster".
“Nove Rainhas” (Nueve Reinas, 2000) se tornou um dos mais aclamados filmes argentinos recentes. Quase não foi visto no Brasil, renegado
apenas a festivais e obscuras exibições. Nos EUA fez tanto sucesso que rendeu
um remake com qualidade inferior chamado “171” (Criminal, 2004).
À primeira vista o filme se trata de mais uma estória de anti-heróis, pobres diabos que vivem de pequenos golpes na espera de encontrar a oportunidade de aplicar a grande e definitiva trapaça que o faça subir na vida e ser respeitado por todos. Mas há algo de perturbador no roteiro escrito e dirigido por Fábian Bielinsky: e se esse pobre diabo descobrir que, na verdade, a sociedade inteira é formada por anti-heróis e que jogos e trapaças já fazem parte da rotina de todos os níveis sociais, das ruas até as instituições? E se a sociabilidade for uma ficção necessária para encobrir esta realidade crua?
À primeira vista o filme se trata de mais uma estória de anti-heróis, pobres diabos que vivem de pequenos golpes na espera de encontrar a oportunidade de aplicar a grande e definitiva trapaça que o faça subir na vida e ser respeitado por todos. Mas há algo de perturbador no roteiro escrito e dirigido por Fábian Bielinsky: e se esse pobre diabo descobrir que, na verdade, a sociedade inteira é formada por anti-heróis e que jogos e trapaças já fazem parte da rotina de todos os níveis sociais, das ruas até as instituições? E se a sociabilidade for uma ficção necessária para encobrir esta realidade crua?
Toda a narrativa do filme se passa nas ruas e lugares
públicos em Buenos Aires (bares, restaurantes e saguões de hotéis) em um espaço
de tempo de pouco mais de 24 horas, da madrugada até a manhã do dia seguinte.
Marcos (Ricardo Darín) e Juan (Gaston Paulus) vivem de pequenos trambiques até encontrarem-se por acaso em um golpe malogrado em uma loja de conveniência. Tornam-se sócios em uma oportunidade que Marcos chama de “uma oportunidade em um milhão”: uma milionária negociação com um milionário espanhol envolvendo uma série de selos raríssimos falsificados, as “nove rainhas” do título. O negócio tem que ser realizado imediatamente, custe o que custar, já que o milionário deixará a cidade na manhã do dia seguinte. Enquanto o experiente golpista Marcos ensina ao jovem e inexperiente Juan os segredos do “ofício”, conta com a ajuda da irmã Valéria (Letícia Bredice) que trabalha no hotel onde o espanhol está hospedado. Mas questões familiares pendentes azedam a relação com a irmã, dificultando ainda mais o golpe milionário.
Marcos (Ricardo Darín) e Juan (Gaston Paulus) vivem de pequenos trambiques até encontrarem-se por acaso em um golpe malogrado em uma loja de conveniência. Tornam-se sócios em uma oportunidade que Marcos chama de “uma oportunidade em um milhão”: uma milionária negociação com um milionário espanhol envolvendo uma série de selos raríssimos falsificados, as “nove rainhas” do título. O negócio tem que ser realizado imediatamente, custe o que custar, já que o milionário deixará a cidade na manhã do dia seguinte. Enquanto o experiente golpista Marcos ensina ao jovem e inexperiente Juan os segredos do “ofício”, conta com a ajuda da irmã Valéria (Letícia Bredice) que trabalha no hotel onde o espanhol está hospedado. Mas questões familiares pendentes azedam a relação com a irmã, dificultando ainda mais o golpe milionário.
sexta-feira, maio 11, 2012
A Religião é um Meme?
sexta-feira, maio 11, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em 1976 Richard
Dawkins sugeriu a existência de estruturas vivas que replicariam músicas, ideias,
slogans e modas: os memes. De hipótese sugerida “en passant” no livro “O Gene
Egoísta”, hoje se tenta transformar em área científica (a Memética) para
entender o processo de transmissão e seleção natural dos memes principalmente
nos ambientes digitais como Internet e redes sociais. Mas muito tempo antes de
a Publicidade e o Marketing se interessarem pelo fenômeno, certamente a
Religião foi a primeira instituição a por em prática as hipóteses da Memética,
principalmente as chamadas “igrejas eletrônicas” (pentecostais e neopentecostais)
que substituem as antigas liturgias pelos memes como forma de conexão entre o
fiel e o plano do Divino.
Memes e memética não são conceitos novos. Falam-se deles
desde 1976 quando Richard Dawkins no livro “O Gene Egoísta” desenvolveu a ideia
de que a evolução das espécies não procede pelos interesses dos grupos, das
espécies e, muito menos dos indivíduos. Mas no interesse dos genes. Eles seriam
os verdadeiros replicadores e é a competição deles que dirige a evolução do
design biológico. O indivíduo seria um mero veículo desses replicadores. Na
verdade, seria apenas o resultado de uma associação desses replicadores
formando configurações complexas, de um repolho até o ser humano.
No final do livro Dawkins se pergunta se não haveria outros
replicadores. Sim, responde ele, e bem diante de nós: músicas, ideias, slogans,
modas de roupas: os memes. Seriam como estruturas vivas as quais comparou com
parasitas infectando o hospedeiro, agrupando-se e formando memes mais
complexos, assim como os genes.
Ao invés de uma origem nobre com uma grande obra inaugural,
a Memética surge, portanto, como uma proposta “en passant”. Na verdade a
Memética não surge como uma teoria, mas uma analogia curiosa proposta por
Dawkins. Trabalhos de pesquisadores posteriores como Aaron Lynch (Units, Events and Dynamics in Memetic
Evolution) e Douglas Hofstadter (Matemagical
Themes) tentaram trazer algum rigor científico.
Ironicamente a Memética foi vítima dos próprios mecanismos
que ela descreve: ela própria virou um meme, disseminando-se como um hype da
moda nesses tempos de redes sociais e Internet. Nunca se falou tanto em memes,
que instantaneamente tornaram-se objeto de interesse pelo Marketing (viral,
invisível, trendsetters etc.). O meme e a suposta ciência da Memética viraram
instrumentos para tentar anabolizar a eficácia da Publicidade e da Propaganda.
domingo, maio 06, 2012
Um conto sombrio sobre o vazio moral do consumo no filme "Rosalie Vai Às Compras"
domingo, maio 06, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Quando deve 100.000 o problema é seu, mas se você deve um milhão o
problema é do banco”. É essa linha de diálogo solta no meio do filme “Rosalie Vai Às
Compras” (Rosalie Goes Shopping, 1989) que sintetiza toda a crítica que o
diretor alemão Percy Adlon faz da “doença contemporânea”: o cartão de crédito.
Apesar da fotografia com muita luz e cores, uma trilha musical composta
originalmente para o filme e muito bom humor, Adlon faz um conto sombrio sobre
uma sociedade de consumo onde a única barreira para a realização dos desejos
não é mais moral ou religiosa, mas financeira.
“Rosalie Vai às Compras é uma sátira ao consumismo, ao
materialismo yuppie de uma década de 1980 conservadora de Ronald Reagan e
Margareth Thatcher, e que terminou em um violento crash da Bolsa de Nova York
em 1988. Mas que continua ainda muito atual em uma época de crises financeiras
globais, mais uma vez após outra década de conservadorismo neoliberal.
Rosalie (Marianne Sägerbrecht) é uma dona de casa alemã que vive dentro do sonho americano, morando interior do estado do Arkansas: tem um marido perfeito (um aviador de
dedetização aérea), uma família maravilhosa com sete filhos e uma coleção de
cartões de créditos falsos e talões de cheques “borrachas” tão vasta que
consegue alimentar seus filhos como reis e comprar qualquer produto que ela vê
nos comerciais sem fim que toda a família adora (preferem ver os intervalos
comerciais e canais de televendas a filmes ou shows).
Rosalie é uma simpática e carismática tranbiqueira que
sozinha com seus golpes na praça sustenta os desejos de uma família excêntrica
que lembra a de filmes recentes como “Pequena Miss Sunshine” e “Os Excêntricos
Tanembauns”: duas gêmeas limítrofes, um jovem cujo sonho e torna-se um "chef" (Rosalie colabora comprando as mais caras iguarias de gastronomia), outro com
um irritante tique de bater um pé nas refeições, o marido fanático por aviação que grava sons
de motores de aviões para todos ouvirem e vive dando voos
rasantes sobre a casa, e assim por diante.
Todos com um inquebrantável otimismo no sonho americano
transmitido pelos histéricos canais de televendas diante dos quais a família
toda se reúne para acompanhar os jingles e antecipar os slogans. Para eles todo
sonho ou desejo tem o dever de ser realizado pelo consumo. Se a única barreira
que impede isso é a financeira, Rosalie vai dar conta desse empecilho.
domingo, abril 29, 2012
Somos todos Estrangeiros no filme "O Homem Que Caiu na Terra"
domingo, abril 29, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O personagem do Estrangeiro é um dos temas arquetípicos da
nova mitologia pop a partir do pós-guerra: Rebeldes sem causa,
“heroin heroes”, punks gritando “no future”, ácido e música techno em “raves”
associadas ao “trance” (transe) com conotações espiritualista ou “new age” são
representações midiáticas dessa sensação de alienação, estranhamento e
deslocamento em relação ao país, família e amigos.
O Estrangeiro é aquele que não se sente
em casa em lugar algum. Procura sempre esquecer o seu passado, sua história, o
que é. Passa a maior parte do tempo em silêncio, fechado no seu drama, tenso,
crispado. Quieto observa o mundo cair em pedaços.
Esse verdadeiro arquétipo contemporâneo é o
núcleo espiritual de toda tendência midiática que explora a melancolia
adolescente nas mais variadas tendências em moda, comportamento, filmes e
videoclipes: dark, punk, gótico, emo etc.
A cultura pop e o rock’roll irão celebrizar o
personagem do estrangeiro, tornando-o o motor da criatividade poética que
destila desde as dores do amor incompreendido até o sentimento de estranhamento
em um mundo frio e cruel. Dos rebeldes sem causa da década de 1950 aos rebeldes
com causas políticas dos anos 1960, o centro espiritual é o mal estar do jovem
em uma sociedade que prolonga a adolescência o máximo possível por causa de um
mercado de trabalho que não consegue absorver a todos rapidamente. O resultado
é um jovem que não é criança e nem adulto, à margem e alheio aos controles
sociais.
Mas é na década de 1970 que esse sentimento de
estrangeiro ganha suas expressões mais refinadas na cultura pop quando o rock
começa a se inspirar no ocultismo e misticismo para criar letras, músicas e
marcantes álbuns conceituais. Compositores como Peter Hammil do Van Der Graaf
Generator (longas suítes místicas como em “The Plague of the Lighthouse Keepers”
onde o homem é comparado a um guardião de um farol perdido no fim do mundo) ou
a longa composição de Peter Gabriel do Genesis chamada “Supper is Ready” (todo
um lado de um LP) sobre a eterna luta espiritual entre o Bem e o Mal.
sexta-feira, abril 27, 2012
Uma trilogia do Tempo no cinema
sexta-feira, abril 27, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O tempo como uma falha cósmica responsável pela inércia e entropia, o tempo como um hipertexto, o tempo como interface para universos paralelos manipulado por uma máquina antiterrorismo e, finalmente, o tempo como uma prisão criada pela ilusão de ralidade de um programa computacional militar. Essas são as diferentes facetas sobre o tempo no cinema em três produções cinematográficas: "O Feitiço do Tempo" (Groundhog Day, 1993), "Déjà Vu" (Déjà Vu, 2006) e "Contra o Tempo" (Source Code, 2010). Nesses três filmes um ponto temático comum: a luta do protagonista em fugir da ilusão da flecha temporal que permita criar um tempo/espaço alternativo e alterar o destino. Mas nem sempre o cinema mostrou a questão do Tempo dessa maneira.
Até a década de 60 temos a visão clássica da viagem no tempo onde apenas podemos testemunhar os eventos do passado e futuro sem poder alterá-los. Podemos até ser mortos, mas jamais conseguiríamos alterar a seta do tempo. Por exemplo, na cultuada série de TV “O Tunel do Tempo” (The Time Tunnel, 1966-67) isso é marcante: os dois protagonistas (Phillip e Doug) tentam alterar eventos do passado, mas, no último momento, fatos providenciais impedem a mudança da História. Seria a providência divina?
Até a década de 60 temos a visão clássica da viagem no tempo onde apenas podemos testemunhar os eventos do passado e futuro sem poder alterá-los. Podemos até ser mortos, mas jamais conseguiríamos alterar a seta do tempo. Por exemplo, na cultuada série de TV “O Tunel do Tempo” (The Time Tunnel, 1966-67) isso é marcante: os dois protagonistas (Phillip e Doug) tentam alterar eventos do passado, mas, no último momento, fatos providenciais impedem a mudança da História. Seria a providência divina?
A partir da clássica trilogia “De Volta para o Futuro” (Back to The Future, 1985) temos a definitiva mudança dessa concepção clássica do tempo. Podemos voltar ao passado, alterar os fatos para, simultaneamente, alterar o presente. Mais do que isso, em filmes como “O Efeito Borboleta” (The Butterfly Effect, 2004) ou o “O Exterminador do Futuro” (The Terminator, 1984) o tempo transforma-se em um hipertexto onde cada opção cria um futuro ou um passado alternativo, configurando um complexo tempo/espaço com uma série de universos paralelos que, potencialmente, poderiam se tangenciar ou interagirem-se.
quarta-feira, abril 25, 2012
Scorsese faz crítica à cultura das celebridades no filme "O Rei da Comédia"
quarta-feira, abril 25, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O solitário é aquele que tem tempo de sobra para pensar em sua total insatisfação, o infeliz é aquele que jamais terá essa oportunidade. (Alfred Adler)
Para ser feliz, é preciso ser conhecido? Em um mundo atual
onde o número de “seguidores” no twitter ou de “amigos” no facebook cada vez
mais se torna a medida da própria identidade do indivíduo, parece que sim. Essa
medida de felicidade se insere na chamada “cultura da celebridade” onde a vida
real acabou misturando-se com categorias do entretenimento como a “fama”,
“sucesso”, “desportividade”, “passatempo”, “escapismo” etc.
E a busca dessa celebrização de si mesmo implica em um novo
ascetismo, dessa vez mundano: esforço diário em cultivar uma rede de “amigos”, esforços
logísticos em criar acontecimentos que atraiam a atenção de todos (e se
possível da própria mídia), dedicação e esforço em focar seu pensamento ao
sucesso, capacidade em desprezar fatos reais que entrem em contradição com a
imagem que o indivíduo quer criar para todos etc. Tudo isso cria uma luta
brutal contra si mesmo, em negar a própria solidão e insatisfação através da
hiperatividade voltada ao mundo exterior.
O diretor Martin Scorsese vai a fundo nessa espécie de
psicologia da moderna cultura da celebridade em “O Rei da Comédia” (The King of
Comedy, 1983), um filme árido e doloroso ao representar tão bem a miséria
interior de um protagonista que faz de tudo para alcançar a celebridade para
escapar de uma vida vazia e infeliz. Depois de Scorsese apresentar personagens
repletos de violência e sexualidade nos filmes anteriores “Taxi Driver” (1976)
e “Touro Indomável” (1980), em “O Rei da Comédia” vemos personagens agonizando
na solidão e raiva, porém, contidos e emocionalmente estéreis. O diretor
conseguiu arrancar performances contidas e sutis de um comediante (Jerry Lewis)
e um ator (Robert De Niro) que, até então, notabilizaram-se por representar
personagens urgentes e intensos.
sábado, abril 21, 2012
Jerry Lewis, o riso e o horror
sábado, abril 21, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Todo riso está próximo do horror que o prepara”, disse certa vez Theodor Adorno, destacado membro da chamada escola de Frankfurt, ao homenagear o 75° aniversário do seu amigo Charles Chaplin. Jerry Lewis, legítimo decendente da comédia “slapstick” de Chaplin e Buster Keaton, tornou explícita essa proximidade com o seu projeto de 1972 que hoje tornou-se uma lenda no meio de cinéfilos e pesquisadores: o filme “The Day The Clown Cried” (O Dia em que o Palhaço Chorou), um projeto não concluído, jamais exibido e apenas assistido por um grupo restrito de críticos e produtores hollywoodianos cuja opinião foi unânime na época – “isso é simplesmente errado!”.
Um filme cuja sinopse poderia ser assim resumida: um
decadente palhaço de circo — interpretado pelo próprio Jerry Lewis — no começo
da Segunda Guerra Mundial, é despedido e preso por zombar de Hitler. Acaba
parando em um campo de concentração para presos políticos em Auschwitz. E sendo
um palhaço com algum sucesso entre as crianças, ele arranja um trabalho por lá:
levar as crianças quietas e comportadas enquanto se divertem com o palhaço, sem
suspeitar que estão, na verdade, indo para a câmara de gás.
O roteiro de 164 páginas sobre a estória de um
palhaço que leva criança para fornos em Auschwitz virou objeto de lenda, lido e
partilhado através de uma rede de cinéfilos pelo mundo. Desde o filme de 1968
de Mel Brooks “Primavera para Hitler”, ninguém do mundo do cinema poderia
imaginar que seria possível outra comédia envolvendo a Alemanha nazista.
quinta-feira, abril 19, 2012
O Fascismo Espiritual no filme "Ink"
quinta-feira, abril 19, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Uma espécie de organização fascista, os Incubus, habita o plano astral da humanidade, instigando pesadelos relacionados com humilhação e ressentimentos nos humanos no plano físico. Isso faz dois personagens, simultaneamente nos diferentes planos, serem consumidos pela vaidade e orgulho colocando em perigo a alma de uma criança raptada pelos Incubus. Ela será defendida por "Storytellers", guardiões dos bons sonhos. Esse é o filme independente "Ink" (2009) que revoluciona as tradicionais representações do cinema sobre as relações entre os mundos espiritual e físico. Fiel ao moderno hermetismo, o filme mostra a interpenetração entre os dois planos, com consequências que lembram a psicologia do nazi-fascismo tal como discutida por Alfred Adler e Erich Fromm.
domingo, abril 15, 2012
O Homem Diante da Queda no Filme "Dublê de Anjo"
domingo, abril 15, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em plena era dos efeitos especiais digitais no cinema, o indiano Tarsem Singh (veterano diretor de videoclipes e filmes publicitários) resolveu fazer um filme de fantasia baseado unicamente em figurinos, fotografia e locações buscadas em 28 países que acreditamos serem impossíveis. Aparentemente somente poderiam ser imagens geradas em computador. Mas são reais! Com as escadas infinitas e labirintos sem saída que mais parecem gravuras saídas da imaginação de M.C. Escher, o filme "Dublê de Anjo" (The Fall, 2006) narra a tentiva de suicídio de um amargo dublê de cinema hospitalizado após um acidente em filmagens. A improvável amizade com uma menina de quatro anos cria um mundo imaginário, uma simbólica narrativa da Queda e Redenção humanas.
Tarsem Singh Dhabdwar arriscou quase tudo que tinha para
fazer um filme que durante anos ninguém estava disposto a financiar. Tarsem fez
muito dinheiro como diretor de filmes publicitários e videoclipes de bandas
como Green Day e REM (por exemplo, o videoclip “Losing My Religion”) e via o
projeto do filme “Dublê de Anjo” (The Fall, 2006) como a realização de “um
sonho de todos no meio publicitário, o de um dia fazer um grande filme”.
Por quatro anos Tarsem capturou imagens de 28 países em locais que, acreditamos, não seriam possíveis. O diretor afirma que não usou
computadores para criá-los: eles existem. Planos subaquáticos de um elefante
nadando graciosamente enquanto carrega homens nas costas, pátios de palácios
construídos a partir de escadas interligadas que parecem ter saído de gravuras
de M.C. Escher, uma aldeia agarrada a uma montanha onde os prédios parecem ter
sido individualmente pintados em tons sutilmente diferentes de azul.
São imagens surpreendentes porque reais, com detalhes que
escapariam até de um artista digital. Diferente do seu filme anterior, “A Cela”
(The Cell, 2000), Tarsem decidiu fazer um filme baseado unicamente na
fotografia, locações e figurino.
Por isso, o filme é quase impossível de descrevê-lo. Podemos
dizer o que acontece, mas não conseguimos transmitir o espanto de como isso
acontece. Para um dos produtores do filme, o diretor David Fincher (“O Clube da
Luta” e “A Rede Social”), o filme é um cruzamento de “O Mágico de Oz” com
Tarkowsky.
sábado, abril 14, 2012
Por Que os Pais Desapareceram do Imaginário Infantil?
sábado, abril 14, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Animações para o publico infantil apontam para uma característica recorrente: o desaparecimento dos pais no imaginário infantil. Dos "Flintstones" dos anos 1960 aos atuais "Backyardigans" ou "Charlie e Lola" encontramos o progresssivo desparecimento simbólico e literal dos pais nas narrativas. É o sintoma do anacronismo da família como agência sociaizadora, suplantada pela indústria cultural das celebridades e entretenimento que oferecem modelos mais atraentes de "superpais".
Nessa semana discutia com os alunos do curso de Comunicação
da Universidade Anhembi Morumbi algumas ideias da Escola de Frankfurt. Mais
precisamente, discutia a atualidade dos famosos “Estudos sobe a Autoridade e a
Família” que Theodor Adorno e Max Horkheimer empreenderam na década de 1950.
Nesses estudos os autores encontraram uma tensão dialética no interior da
família no capitalismo tardio: de um lado, a família podia ser vista como a
terrível matriz dos mecanismos de internalização da submissão (agência
psicológica da sociedade), mas, do outro, a possibilidade de se tornar uma oposição
crítica ao Estado Totalitário.
Principalmente no momento atual em que a chamada Indústria
Cultural esvazia a autoridade e competência da família, tornando-a um
suplemento supérfluo já que toda a indústria das celebridades e entretenimento
suplantaram a figura paterna ao oferecer novas figuras de “super-pais” como
modelos de internalização da autoridade.
Exatamente nesse momento em que a função de socialização da
família desaparece para transformar-se em meras imagens paródicas em filmes
publicitários de cereais matinais e margarinas (imagens congeladas de
felicidade), a instituição familiar pode tornar-se uma instância “negativa”:
libertar a inteira estrutura familiar da sua tradicional função repressiva e
“realizar o princípio do amor”, como afirmava Adorno.
sexta-feira, abril 06, 2012
O Sabor Gnóstico dos Muppets
sexta-feira, abril 06, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A longevidade dos Muppets, que resistiram à concorrência das modernas animações digitais, parece apontar para uma mudança da sensibilidade infantil em relação aos universos ficcionais: muito mais metalinguística, reflexiva e irônica. A percepção de que a realidade não é mais estável e perene, mas uma construção artificial, plástica, que pode a qualquer momento ser alterada pela força da imaginação. Mas os Muppets parecem atribuir um valor a mais a essa força, um sentido místico.
Nessa Páscoa resolvi inovar. Ao invés de dar ovos de páscoa
para meus filhos, resolvi dar dois DVDs clássicos dos Muppets: “Os Muppets: o
filme” de 1979 e “Os Muppets Conquistam Nova Iorque” de 1984. Para quem não
conhece, a série “Os Muppets” é um universo ficcional criado por Jim Henson que
iniciou na TV norte-americana nos anos 1970. A principal característica das
narrativas é que os diversos personagens que compõem o universo Muppets (Caco,
Miss Piggy, Gonzo, Urso Fozzie etc.) convivem com humanos de uma forma natural.
O que já é suficiente produzir uma série de situações cômicas e inusitadas.
Assistimos juntos aos filmes: o primeiro que narra a ascensão dos
Muppets, do anonimato de Caco, o Sapo, nos pântanos até o sucesso em Hollywood e o outro onde eles tentam fazer um musical de sucesso na Broadway.
A primeira questão levantada por eles: por que ninguém no
mundo humano preocupa-se com o fato de os Muppets serem diferentes dos seres
humanos? A questão levantada chamou-me a
atenção de uma espécie de sensibilidade metalinguística ou irônica das crianças
contemporâneas em relação aos filmes e animações.
terça-feira, abril 03, 2012
Religião e a Origem do Totalitarismo Moderno
terça-feira, abril 03, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O livro “The New
Inquisitions” do professor da Michigan
State University Arthur Versluis localiza as origens do Totalitarismo moderno e
das práticas de controle do pensamento no século II com a institucionalização
da Igreja Católica e o surgimento da ortodoxia que iria identificar heresias
e hereges. As primeiras vítimas foram os gnósticos, herdeiros de uma anterior tradição religiosa pluralista. Se no passado os Impérios dominavam exclusivamente
recursos naturais e escravos, a partir da Igreja Católica em II DC surge também
a necessidade do controle do pensamento, aprimorado até chegar à Inquisição no
século XII. Hoje não são mais necessárias câmaras de torturas já que a Internet
e redes sociais tornaram os pensamentos mais acessíveis do que nunca.
A
institucionalização da Igreja historicamente se fundamentou na ortodoxia que
criaria figura do “herege” e a identificação das “heresias”. Mas antes do
Cristianismo institucionalizado havia outro modelo bem diferente.
Olhando para o
cristianismo oriental e, mais a leste, para as religiões da Índia, China e
Tibet havia toda uma tradição muito mais pluralista: o Hinduísmo abrigava uma variedade
de tradições (vedanta, védica, tântrica etc.); o pluralismo chinês onde budismo,
taoismo e confucionismo conviviam lado a lado.
No Cristianismo primitivo havia também um modelo pluralista fundamentado nas antigas tradições
da Ásia (Platonismo, Hermetismo, misticismo judaico etc.) que foi denominado
“Gnosticismo” porque a sua unidade não era dada por uma forma externa –
organização burocrática ou histórica – mas por um conhecimento interior, a
“gnosis”.
Mas tudo
mudou com a institucionalização da Igreja no século II DC: os padres da
primeira Igreja como Tertuliano de Cartago pressentiram a necessidade de
racionalizar os dogmas da religião através de termos como “ortodoxia” oposta da
“heresia”. Pela primeira vez surge a necessidade do controle do pensamento por
meio de uma forma de Poder. Além de conquistar terras, escravos e riquezas,
pela primeira vez as estratégias políticas de dominação passaram a ter
necessidade de reprimir por diversos instrumentos qualquer pensamento
divergente da norma. Essa é a origem das modernas formas de Totalitarismo como
o fascismo, nazismo até instrumentos contemporâneos da “nova inquisição” como
as redes sociais na Internet e teorias conspiratórias como a “illuminatifobia”.
sexta-feira, março 30, 2012
A Ironia do Foguete de Brinquedo da NASA
sexta-feira, março 30, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Depois da corrida
espacial que culminou com a chegada do homem na Lua em 1969 e de toda a
construção da mitologia em torno dos astronautas como “eleitos” e símbolos da
ideologia do “destino manifesto” norte-americano, ironicamente tudo isso se converteu
em brinquedos e souvenirs licenciados pela NASA. Foguetes retros e nostálgicos
de uma época que acabou, onde os riscos e gastos econômicos substituiriam o
espaço sideral pelo ciberespaço . Toda a tele-exploração através de sondas automáticas
e robôs desde o Projeto Viking em Marte nos anos 1970 resultaram na
aposentadoria dos heroicos astronautas e o desenvolvimento da tecnologia telemática
aplicada à endocolonização do planeta Terra por meio de satélites, estações orbitais
e GPS para finalidades de monitoramento e controle.
Nessa semana meu filho de quatro anos chegou da escola
acompanhado de seu amiguinho que, percebi, segurava um brinquedo colorido e
brilhante. Aproximei-me para recebê-los e observei mais atentamente o
brinquedo: era um foguete espacial, grande, aerodinâmico, com belas asas arredondadas. Atentei a um detalhe na fuselagem do foguete. Era o logo da NASA, a Administração
Nacional de Aeronáutica e Espaço dos EUA, em destaque no centro do foguete, o
que dava ao brinquedo um ar de ser licenciado pela agência americana.
O brinquedo havia sido comprado pela Internet em um site chamado
“Space Store & NASA Gift Shop” com produtos licenciados pela agência
aeroespacial: roupas de astronauta, jogos e tudo o que envolve a conquista do
espaço para crianças e jovens.
Uma franquia da NASA? Sim. Todo o imaginário da corrida espacial
transformado em brinquedos e souvenirs. Há uma ironia nesse brinquedo: toda a
heroica e épica aventura da conquista do espaço que culminou, em 1969, com a
chegada do homem na Lua transformado em uma franquia que vende brinquedos com
um indiscutível ar retro ou nostálgico. O design aerodinâmico e as asas
arrojadas do brinquedo lembram os velhos tempos do início da corrida espacial
representados em desenhos animados do Pica-Pau ou séries de TV como “Jornada
nas Estrelas” das décadas de 1950-60.
sábado, março 24, 2012
°°°°°°°°°A Paranoia Gnóstica de Philip K. Dick no Filme "O Homem Duplo"
sábado, março 24, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Baseado no livro escrito por Philip K. Dick em 1977, o filme “O Homem Duplo” (A Scanner Darkly, 2006) foi profético, principalmente após as recentes notícias do projeto da CIA em fazer uma “Internet das coisas” a partir da tecnologia de “computação em nuvem”: o monitoramento total a partir dos objetos que utilizamos no dia-a-dia. “O Homem Duplo” narra uma sociedade devastada por uma droga sintética e monitorada integralmente por um “scanner holográfico” e apresenta a paranoia como a única possibilidade de encontrar a “centelha interior” em um mundo onde a tecnologia supera todos os pesadelos criados pela literatura ou pelo mundo onírico.
Desde 1982 com o filme “Blade Runner – O Caçador de Andróides” roteiristas e produtores de Hollywood passaram a ter um nítido interesse pela obra do escritor de sci fi assumidamente gnóstico Philip K. Dick. As diversas adaptações posteriores dos livros do autor (“O Vingador do Futuro”, “Minority Report”, “O Pagamento” etc.) sempre acabaram ressaltando os atributos heroicos dos protagonistas em tramas movimentadas para se conformar aos ditames de Hollywood.
Em “O Homem Duplo”, adaptação do livro de 1977 “A Scanner Darkly”, encontramos o mesmo protagonista dividido, tema recorrente em sua obra – como era o próprio autor que tinha a vida marcada pela divisão esquizofrênica: a ambiguidade que as pessoas devem assumir em uma sociedade de vigilância total onde a paranoia diante de um inimigo invisível rege a vida de todos.
Temos um filme focado não mais nas ações hollywoodianamente heroicas dos protagonistas, mas na paranoia de “losers” imersos em uma sociedade totalitária.
No caso do livro “A Scanner Darkly”, K. Dick foi profético ao mostrar uma sociedade monitorada integralmente por um “scanner holográfico” e ao apresentar a percepção paranoica como a única possibilidade de verdade em um mundo onde a tecnologia supera todos os pesadelos criados pela literatura ou pelo mundo onírico.
sexta-feira, março 23, 2012
O Fim do "Modelo Matrix" de Gnosticismo Pop
sexta-feira, março 23, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A partir do bombástico lançamento do
Windows 95, tivemos o crescimento especulativo das potencialidades da Internet
e das tecnologias computacionais. Paralelo a isso, o crescimento das técnicas
motivacionais e de auto-ajuda explicitamente inspirados em modelos de
programação de computadores. Em 2.000 tivemos a quebra das empresas “ponto com” e
da bolsa Nasdaq e, com isso, a desaceleração de toda uma ciberutopia. Os filmes
gnósticos refletem essa mudança com a crise do "modelo Matrix" de gnosticismo pop
e a mudança na busca da gnose, cada vez mais focada em conflitos internos do
protagonista.
Para o historiador francês Marc Ferro todo filme é um documento porque
representaria o imaginário de uma determinada sociedade ou período histórico:
"o imaginário é tanto história quanto História, mas o cinema,
especialmente o cinema de ficção, abre um excelente caminho em direção aos
campos da história psicossocial nunca atingidos pela análise dos
documentos" Não importa se o filme refere-se a um passado remoto ou
imediato, pois sempre vai além do seu conteúdo.
Fortemente conectado com o imaginário social deste final e início de
novo século, a produção cinematográfica atual, em particular a norte-americana,
refletiria não apenas o imaginário tecnológico transcendentalista como, também,
questões existenciais, éticas e espirituais decorrentes de tal imaginário.
Percebe-se uma nítida alteração temática nos filmes gnósticos na
passagem de final de século para início de novo século. Os anos de 1999-2000
marcam uma mudança da representação da irrealidade do mundo no qual o
protagonista vive.
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