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quinta-feira, julho 06, 2023

Bolsonaro inelegível caiu para cima: cabo eleitoral da grande mídia... e do bandeirante-frankenstein


Para a grande mídia, Bolsonaro é uma figura tóxica: extrema-direita, golpista, autoritário, intolerante, negacionista... Mas não consegue esquecer dele! Por que não o condena à “Sibéria do esquecimento” (Brizola), como tentaram com Lula e fizeram com outros tantos personagens políticos na história recente? Inelegível e sem cargo, Bolsonaro não sai da ribalta. Porque, afinal, ele “caiu para cima”: virou cabo eleitoral da grande mídia, na busca até aqui fracassada de encontrar uma direita “limpinha” e de centro. Nem que seja através da psicologia reversa, como satiriza a capa do “Le Monde Diplomatique Brasil”: diretamente dos laboratórios do PMiG (o Partido Militar Golpista), uma nova criatura está sendo construída – um bandeirante-frankenstein. Tarcísio de Freitas ganha cada vez mais espaço na mídia como protagonista da reforma tributária e seu cabo eleitoral é... Bolsonaro. Em psicologia reversa.

sábado, junho 24, 2023

Pedagogia do medo e o não-acontecimento do golpe tabajara


Como assim? Um golpe de Estado sendo discutido em um grupo de WhatsApp? E o roteiro encontrado no celular do ajudante de ordens de Bolsonaro? Golpe Tabajara? jornalistas acreditam em qualquer coisa, talvez por assistirem a muitos filmes da Netflix. Ou porque estão dominados pelo vício epistemológico de que as notícias só podem ser fatos grandiloquentes. Dominados por esse empirismo grosseiro, são incapazes de entende um cenário de guerra híbrida. Isto é, golpes como PROCESSOS. Mas, principalmente, o fato de que a guerra (principalmente informacional) é a arte do engano. “Vazou” um plano de golpe de Estado? É a não-notícia, estratégia difusa da pedagogia do medo para criar a paralisia estratégica no oponente – mais um tijolo para tentar emparedar o governo Lula. Aquele mal-agradecido, por não reconhecer que Biden salvou a nossa “frágil” democracia... de um golpe tabajara.

“A arte da guerra se baseia no engano” (Sun Tzu)

sexta-feira, junho 23, 2023

Última temporada de 'Succession': o quão super ricos podem ser tão tristemente ridículos


A série “Succession” (2018-2023) encerrou sua quarta e última temporada com o seu criador, Jesse Armstrong, sem a menor intenção de criar personagens que arranquem alguma empatia do espectador. “Succession” é um show sobre a amoralidade corporativa de uma família, CEOs e acionistas que disputam o controle de uma gigante de mídia e entretenimento. Explicitamente inspirada na família Redstone (Viacom) e Murdoch (Fox News/News Corp), acompanha irmãos disfuncionais com personalidades formadas em infâncias super ricas, mas que cresceram emocionalmente pobres. Um drama shakespeariano sobre a disputa da coroa do patriarca Logan Roy, numa competição de crueldades, traições e mentiras que sempre termina da pior forma possível. “Succession” apresenta uma tendência atual no cinema e audiovisual: o prazer do público em ver o quão tristemente ridículos podem ser super ricos mimados. A questão é que são eles que controlam a informação e entretenimento globais.  

sexta-feira, junho 09, 2023

Lula escapa do ardil semiótico da Marcha de Jesus... e Folha tenta lucrar com isso


Parece haver alguma inteligência semiótica no governo Lula. O presidente recusou o convite para participar da Marcha para Jesus 2023, em São Paulo. O ardil era evidente: se Lula fosse à Marcha, daria a deixa para a narrativa da “polarização” do jornalismo corporativo: “Lula repete Bolsonaro e politiza evento religioso”. Nunca a polarização foi uma questão para a grande mídia. Passou a ser quando Lula saiu dos cárceres de Curitiba, gerando uma mais-valia semiótica midiática: Bolsonaro e Lula são iguais, polarizam, mas apenas têm sinais trocados. É a retórica “nem-nem”, colocada em ação desde as últimas eleições. Nesse momento, o jornalismo hegemônico mobiliza seu arsenal retórico do “Lula repete Bolsonaro”, estratégia subliminar para substituir a política pelo “bom-senso” neoliberal. Enquanto isso, a “Folha” tenta lucrar mercadologicamente com tudo isso, com a “campanha para incentivar furo de bolhas e diversidade de ideias”.

sexta-feira, junho 02, 2023

General do Comando Sul dos EUA fala em "intensificar o jogo"... E mídia obedece


Recentemente, após a embaixadora dos EUA visitar os estúdios da CNN, o canal de notícias “vazou” vídeo que provocou crise política que tornou inevitável a CPI do 08/01. Também, sincronicamente, após a general comandante do Comando Sul dos EUA, em reunião na Atlantic Council, falar em “intensificar o jogo” na geopolítica da América do Sul, o jornalismo corporativo também intensifica o tom dos chiliques de seus “colonistas”. Principalmente na terça-feira: depois de um dia inteiro de gritaria com a “passada de pano” de Lula no “amigo” Maduro, com timing e sincronismo a veterana repórter Delis Ortiz toma “um soco por toda imprensa” de segurança do GSI numa entrevista com o líder venezuelano no Itamaraty. Inexplicavelmente sem imagens, num ambiente totalmente mediatizado. “Intensificar o jogo” significa duas coisas: melar midiaticamente a geopolítica sul-americana; e tirar Lula do cenário internacional para só negociar no Congresso... mas, quando negocia, é porque “está de joelhos”. Grande mídia ouve bem os “apitos de cachorro” do Império.

sábado, maio 13, 2023

CPI das apostas esportivas e linchamento no Guarujá: como mídia faz pseudo-eventos e não-notícias


Pseudo-eventos em jornalismo se caracterizam por timing e oportunismo. É o caso da Operação Penalidade Máxima 2 que, AGORA, ganha destaque da grande mídia (depois da primeira fase da Operação ter sido escondida pelo escândalo que envolveu o técnico Cuca). Por quê? Porque AGORA a Operação ganhou sentido: a oportunidade de turbinar a criação de mais uma CPI no Congresso, dentro da agenda para criar desgastes ao governo. “... uma CPI a gente sabe quando começa, mas não sabe COMO termina”, críptica afirmação de uma “colonista” da Globo, revelando o ardil. Ansiedade midiática capaz de dar pernas também a não-notícias: o suposto linchamento no Guarujá (SP) por conta de uma “fake news”. O caso teve uma reviravolta, criando mais uma “barriga” jornalística: como o jornalismo corporativo sempre tenta encaixar acontecimentos em scripts. Dessa vez, gerado pela pressão da Globo pela necessidade da aprovação da PL das Fake News. 

sexta-feira, maio 05, 2023

Globo e Google no espelho, a capivara híbrida e... cadê o "smoking gun" contra Bolsonaro?

Desde a votação à presidência do Senado, a Globo não se mostrava tão ansiosa quanto na votação da PL das Fake News. Mais uma vez colocou seus “colonistas” dentro do Congresso para o corpo a corpo em defesa da PL e fez chilique quando o Google também começou a jogar pesado contra a aprovação. Globo e Google apontam o dedo uma para o outra. Google faz nada mais do que a Globo já não tenha feito por décadas. Globo quer também meter a mão no bolo publicitário das redes e plataformas para ganhar sobrevida, sob o álibi do “jornalismo profissional” como único remédio contra as fake news. Criadas pelo próprio jornalismo corporativo através do abuso do poder econômico do qual acusa o Google de fazer. Um olha para o outro no espelho. Atrás dessa espuma midiática, grande mídia volta ao modo jornalismo de guerra: o caso da “capivara filó” híbrida, relembrado caso parecido na guerra híbrida de 2013, e a psyOp dos escândalos semanais de Bolsonaro com modus operandi de sempre: timing, sincronismo...e sem "smoking gun".

sexta-feira, abril 28, 2023

Jornalismo de guerra 2.0: etnografia do golpe, a embaixadora e a CNN

Depois da guerra na Ucrânia criar a expressão “Guerra Fria 2.0”, será que o terceiro governo Lula está fazendo a grande mídia entrar no modo “jornalismo de guerra 2.0”, reeditando auge da guerra híbrida 2013-16? Entre o retorno das velhas bombas semióticas, Folha parece repetir uma estratégia bem-sucedida em passado recente, a etnográfica: mapear desiludidos, revoltados e ressentidos – novos tipos-ideais urbanos. Aqueles cuja insatisfação existencial ou profissional é ainda difusa. Apenas precisando de um significante político que aponte para o culpado. É o que aponta a matéria “Millenials chegam frustrados à meia-idade”. Mapeamento etnográfico para encontrar novos descontentes, como no passado: “simples descolados”, “coxinhas 2.0”, “novos tradicionalistas” etc. que engrossaram as massas verde-amarelas nas ruas. Enquanto isso, a visita da embaixadora dos EUA aos estúdios da CNN parece ter sido a mensageira de algum tipo gatilho: imediatamente o canal de notícias "vazou" vídeo que provocou crise política e publicou fake news da Antonov. Será que voltamos ao velho jornalismo de guerra?

sexta-feira, abril 21, 2023

Vazamento da CNN revela que ataques de Brasília foram uma bomba semiótica transmídia


O “vazamento” da CNN do vídeo que fez cair o ministro-chefe do GSI foi a evidência de que os ataques de 08/01 em Brasília foram muito mais uma calculada bomba semiótica transmídia, do que uma tentativa real de um clássico golpe de Estado. O suposto vazamento tornou inevitável para o Governo a CPI, prometendo expandir o universo narrativo dos ataques de janeiro em múltiplas mídias e plataformas – cada vez mais o circo midiático das CPIs é transmídia. Bomba semiótica completa: polissemia, novidade, efemeridade, movimento e imprevisibilidade. E, principalmente, os sincronismos em torno do “vazamento” nesta semana. A invasão de Brasília foi um golpe virtual para a TV. O início de um universo em expansão que ameaça virar um golpe real.

quarta-feira, abril 19, 2023

Do chilique à excitação midiática: o "ruído" geopolítico e as entrelinhas do vídeo "vazado"


Uma semana bipolar para o jornalismo corporativo: do chilique à feliz excitação com o bom e velho “vazamento”. Como sempre, com timing, oportunismo e sincronismo - após aceno geopolítico de Lula aos BRICS e semana com generais depondo e coronéis indiciados. O chilique começou quando viu Lula sair da “zona de conforto” da agenda de consenso ambiental para impor uma agenda geopolítica (para a mídia, "ruído") na visita à China: ao contrário da mídia, não se alinhou automaticamente com os EUA. E depois, o “vazamento” que dá um xeque-mate em Lula: terá que aceitar o “Circus Maximus” de uma CPI dos atos antidemocráticos. Exultantes, “colonistas” transformam em má notícia a “queda do primeiro ministro de Lula”, o ministro-chefe do GSI, general Gonçalves Dias, a partir de vídeo “vazado” supostamente mostrando ajudando invasores no Palácio do Planalto. Nas entrelinhas, o suposto “outro lado” do 08/01: Lula também incentivou e faturou com as invasões. Silogismo implícito dos “colonistas”: Por isso Lula não queria uma CPI.

quarta-feira, abril 12, 2023

Caos como método: "meganhar" a escola para formar futuros eleitores da extrema-direita


Há algo que a extrema-direita tem de sobra que falta à esquerda: o élan conspiratório. Nos treze anos de governo, o PT jamais viu a educação como espaço para a conquista do imaginário que cimentaria o apoio ideológico das massas. Com o economicismo acreditou que bastaria a entrada dos excluídos no mercado de consumo para se sentirem cidadãos. Ao contrário, a extrema-direita (principalmente sua versão alt-right) sabe que o ambiente escolar é o locus decisivo para vencer a “guerra cultural”. Por isso, sob a complacência da grande mídia e Big Techs, enceta o caos como método: “meganhar” (militarização + policialização) a escola através da disseminação do medo pelas redes, com o apoio de subgrupos extremistas que deixaram a Deep Web com a ajuda dos algoritmos interesseiros. Quer conquistar o imaginário das futuras gerações de eleitores.

sexta-feira, abril 07, 2023

Mídia não liga lé com cré no ataque de SC e protege seu ativo: o Exército Psíquico de Reserva


Com um delay de mais de 30 anos, grande mídia agora dá ouvidos a estudiosos e muda política de cobertura a ataques como a da escola em São Paulo e a creche em Blumenau (SC): evitar o chamado “efeito copycat” de imitação de criminosos a partir da repercussão que a mídia oferece a esse tipo de notícia. Mas sabemos que o jornalismo corporativo não dá ponto sem nó. Destaca apenas as medidas do governo (estadual ou federal) para o aumento do patrulhamento e a criação de “protocolos” nas escolas contra esse tipo de crime. Com o seu notório empirismo grosseiro, sob o álibi de não querer dar visibilidade a criminosos, não quer ligar lé com cré: o sincronismo entre o crescimento de células nazistas e neonazistas nas redes sociais e a escalada de ataques a creches e escolas. Por quê? Para manter em stand by um dos seus principais ativos: o Exército Psíquico de Reserva. Uma espécie de exército de zumbis, útil num passado recente, e sempre a postos para entrar em ação a cada “apito de cachorro”.

quarta-feira, abril 05, 2023

'Luther - O Cair da Noite': somos hackeados pelo impulso confessional


“Luther – O Cair da Noite” (2023, disponível na Netflix) é a continuação nas telonas da série para TV sobre o detetive brilhante, mas com uma questionável bússola moral. O resultado foi um pastiche de “Black Mirror”, o pior de James Bond (da era Craig) e a versão negra do detetive John McClane de “Duro de Matar”. Porém, o argumento central do filme é atual e urgente:  usuários são capazes de compartilhar ou guardar seus maiores segredos, vícios, confissões e toda sorte de detalhes pessoais em plataformas que sabidamente não são públicas - negócio privados e vulneráveis às ingerências políticas e mercadológicas. Como explicar esse “impulso confessional” que torna as pessoas vulneráveis ao hackeamento e chantagem?

sábado, abril 01, 2023

Guerra do controle da agenda e arcabouço fiscal: grande mídia tem o tempo a seu favor


Depois dos anos de governos do PT prisioneiros do chamado “efeito fliperama” (sempre reativo à agenda midiática – como bolinhas que batem num fliperama – sem conseguir impor agenda própria), nessas últimas semana o Governo parece ter aprendido: conseguiu reagir à agenda de judicialização e meganhagem que iniciava e conseguiu impor a agenda econômica com anúncio do arcabouço fiscal (no dia da volta de Bolsonaro ao país, evento que “flopou”). Com a ajuda do contra-ataque do depoimento do advogado Tacla Duran incriminando Sérgio Moro. Porém, o tempo está do lado da grande mídia – a âncora fiscal de Haddad precisará combinar com os russos: queda dos juros para o crescimento econômico e da receita; e a colaboração do Congresso para medidas de saneamento fiscal. Rentista, grande mídia avisa que o arcabouço fiscal será uma “longa jornada” e nada será “da noite para o dia”. Isto é, mídia aposta na crise econômica e no “terceiro turno” no Congresso.

“A longo prazo, estaremos todos mortos” (John Maynard Keynes)


O que já estava em germe na obra de Walter Lippmannn “Opinião Pública” (1922), os pesquisadores Maxwell McCombs e Donald Shaw, na década de 1970, tornaram explícita com a teoria Agenda Setting ou “Agendamento”: consumidores de notícias tendem a considerar mais importantes os assuntos que são mais pautados e destacados na cobertura jornalística.

Lippmann falava como “nossas imagens mentais” (a “opinião pública”) eram formadas por um “pseudoambiente” a partir do embate de diferentes agendas de grupos de interesses, líderes de opinião e meios de comunicação. A teoria da Agenda Setting comprovou empiricamente essa tese de Lippmann no estudo em uma cidade da Carolina do Norte para verificar a correlação entre a agenda midiática, a agenda da opinião pública e a agenda dos candidatos nas eleições presidenciais.

De Lippmann à teoria do agendamento de Shaw/McCombs, o que resultou foi a sofisticação da engenharia da opinião pública e a percepção de que a “opinião pública” nada mais seria do que o resultado da uma luta entre os grupos de interesses pela hegemonia da agenda midiática – uma batalha na qual conceitos como timing, acumulação, consonância e onipresença são fundamentais na guerra da modelagem do “pseudoambiente”.

Nos treze anos os governos do PT nunca conseguiram impor uma agenda própria, para fazer um movimento anticíclico contra a grande mídia. Acabou caindo na armadilha daquilo que chamamos “efeito fliperama” (ou “pinball”) – limitou-se compulsivamente ou à reatividade ou a pura e simples estratégia de controle dos danos sucessivos provocados pelas agendas criadas pela mídia e replicada pela oposição parlamentar.

O que criava efeito análogo ao fliperama: com a mesma dinâmica da diversão eletrônica, a grande mídia disparava a bolinha que começava a rebater em pinos e flips, somando pontos - mensalão; caos aéreo; a descontrolada inflação do tomate; as manifestações de rua do “gigante que acordou”; o “terceiro turno”; o “petrolão” etc. – clique aqui.

Elas rebatiam aleatoriamente nos pinos e flips criando ressonância, recursividade, loopings: numa estratégia reativa de controle de danos o governo era obrigado a dar respostas em notas aqui e ali. Dando legitimidade e pertinência ao jogo... e as bolas batiam e rebatiam... tlim!... tlim!... tlim!.... E pontos eram somados num ciclo vicioso infernal.


Controle da agenda

Depois de todos esses anos de guerra híbrida, pelo menos o PT aprendeu uma lição: a guerra da comunicação começa pelo controle da agenda.

Estratégia que a direita alternativa (alt right) conhece desde sempre: controlar a agenda através do caos como método. Basta ver a máquina de promoção semanal de “caneladas” do governo Bolsonaro com o vice Mourão como a “tecla SAP” para traduzir os coices do presidente nos jornalistas no “cercadinho”, a crise do “golden shower” no Carnaval de 2019 que ganhou capa na revista Veja, esporros nas lives semanais, participação em atos golpistas, motociatas, o “manifesto do apocalipse” compartilhado por Bolsonaro nas redes sociais (clique aqui), Xvideos compartilhados pelo Carluxo no perfil do presidente etc.

 Aquilo que o linguista Chomsky falou sobre a estratégia de Trump, facilmente aplica-se a Bolsonaro:

Olhe a televisão e as primeiras páginas dos jornais. Não há nada mais que Trump, Trump, Trump. A mídia caiu na estratégia traçada por Trump. Todo dia ele lhes dá um estímulo ou uma mentira para se manter sob os holofotes e ser o centro da atenção. Enquanto isso, o flanco selvagem dos republicanos vai desenvolvendo sua política de extrema direita, cortando direitos dos trabalhadores e abandonando a luta contra a mudança climática, que é precisamente aquilo que pode acabar com todos nós – clique aqui.

Mesmo fora do Governo (auto exilou-se na Flórida para não passar a faixa presidencial a Lula), Bolsonaro não sai das escaladas dos telejornais e capas de jornais: vídeo fazendo compras num mercado e supostamente sinalizando um “apito de cachorro”; o ex-presidente teria estimulado a invasão de Brasília no 08/01? A denúncia do senador Marcos “Swat” do Val sugerindo a participação do ex-presidente numa “tentativa de golpe de Estado”; o episódio da “minuta do golpe”; Bolsonaro discursa em eventos de extrema direita nos EUA; e finalmente o escândalo das joias das arábias – Bolsonaro será preso quando voltar para o Brasil? Não percam os próximos episódios!


Ilustração: Roberto Negreiros, 2019

Agenda de Governo, Agenda de Estado

Desde o Gabinete do Governo de Transição, a grande mídia dava sinais de que não iria respeitar o tal handicap dos “cem dias”: já partiu para o ataque com lobby de jornalistas em frente ao CCBB montando a chantagem da “responsabilidade fiscal”.

O divisor de águas certamente foram os episódios do 08/01: a princípio, os ataques aos prédios dos três poderes deveria ser o evento que complementaria o emparedamento do governo, forçando-o a cair mais uma vez no efeito fliperama: sempre reagir ao invés de pro-agir. 

Lula contra-ataca com mais um evento de forte poder simbólico: cruzar a Praça dos Três Poderes caminhando lado a lado com governadores e políticos de todo espectro político, ao vivo nos canais de notícia, todos indo na direção do prédio do STF destruído. Lula ao lado da presidenta do STF Rosa Weber.

Tudo num dia em que presidentes de vários países, além de um telefonema de Biden a Lula, deram apoio irrestrito ao governo eleito.

Resultado: por algumas semanas, Lula passou a ter uma agenda não só de Governo, mas principalmente de Estado.

As duas últimas semanas o timing dos plot twists para reverter a agenda da grande mídia foram perfeitos. 

Seguindo o modus operandi de outros episódios (p.ex., o dia da aprovação da Reforma da previdência no Congresso), a Juíza lava-jatista Gabriela Hardt e a PF do Paraná desfecharam a “Operação Sequaz” para desarticular um plano do PCC para sequestrar e matar autoridades, supostamente envolvendo também o senador ex-juiz Sérgio Moro. Foi o contra-ataque lavajatista para responder à hegemonia da pauta econômica que dominava a agenda midiática: primeiro, pelos ataques de Lula ao Banco Central e os juros altos; e depois, o aprofundamento da discussão econômica com evento no BNDES que promoveu o retorno da pauta econômica em alto nível na grande mídia, com debates em torno das críticas à racionalidade da taxa Selic em 13.75% feitas pelo prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz e pelo economista de renome mundial Jeffrey Sachs.

Voltava para a ribalta midiática a judicialização e a meganhagem com o bordão “policiais nas ruas!” exortado por apresentadores na TV.

Apesar do “bate cabeças” entre Flávio Dino e Lula (Lula sugeriu armação na operação da PF... mas Dino tinha conhecimento da ação meses antes), o ministro da Justiça respondeu com a impecável performance na sabatina na CCJ da Câmara. 

E Lula saindo sincronicamente de cena acometido por uma “pneumonia leve”, após uma semana de “caneladas” contra o governo. 

“Colonistas” da grande mídia festejaram o destempero de Lula e o ex-juiz Moro, até então condenado ao esquecimento pela sua intrínseca mediocridade como “marreco de Maringá”, foi revivido como o cruzado anticrime. 



O contra-ataque da agenda econômica

Mas o contra-ataque governista veio já na segunda-feira (27) quando o advogado Tacla Duran prestou depoimento ao juiz Eduardo Appio no âmbito do processo em que é réu por lavagem de dinheiro para a empreiteira Odebrecht. O advogado apresentou provas incriminando Sérgio Moro em práticas criminosas de extorsão na Lava Jato.    

Embora escondido nas prime time da grande mídia, o depoimento foi o suficiente para a grande mídia esquecer Moro e retornar à agenda econômica do chamado “arcabouço fiscal” – a demora do anúncio da âncora fiscal parece que foi até proposital: só alimentou a ansiedade dos “colonistas” que quiseram ver nisso uma “crise” interna no governo. A isca foi jogada e a pauta da economia permaneceu na semana.

E, por último e não menos importante, o Dia D do anúncio do “arcabouço fiscal” pelo ministro Haddad (quinta-feira, 30) propositalmente colocado no mesmo dia da chegada de Bolsonaro ao Brasil, esvaziou a estratégia de comunicação do PL. Bolsonaro apostava em mais um momento de caos: ser recebido por milhares de bolsonaristas enlouquecidos, dominando as manchetes e as redes sociais. Alguns até apostavam que algum juiz de primeira instância decretaria a prisão do ex-presidente, propositalmente para criar um fato político explosivo. 

Mas a agenda econômica, prioridade para Lula, dominou - estudo realizado pela consultoria Genial Quaest revelou que as novas regras fiscais do país foram mais comentadas nas redes sociais do que o retorno do ex-presidente.

De acordo com o levantamento, a chegada de Bolsonaro ao Brasil foi o assunto mais comentado das redes até as 10h. Porém, foi superado pelo arcabouço fiscal, que foi anunciado em coletiva de Fernando Haddad por volta das 12h – clique aqui.



Projeções

A luta do controle da agenda das últimas semanas entre o Governo e bolsonarismo/lavajatismo leva a algumas projeções:

(a) Grande mídia tem uma predileção pelo lavajatismo. Tanto pela retórica da judicialização e meganhagem (a despolitização é uma das ideologias midiáticas) mas, principalmente, porque seus “colonistas” jamais farão a mea culpa (quem sabe, só daqui a 60 anos – p. ex., Globo News só AGORA está apresentando documentário sobre o Golpe de 1964 sob a perspectiva da intervenção da CIA) sob pena de perderem definitivamente a credibilidade. Moro poderá ser um fusível a ser queimado para salvar a Lava Jato – esse movimento já começa a ser feito por alguns analistas;

(b) Mas também a grande mídia é rentista e os grupos midiáticos cada vez mais se tornam holding financeiras – a Globo, p. ex., apresentou em 2022 receita financeira de R$ 2,1 bi e lucro líquido inferior de R$1,2 bi – clique aqui. Por isso é sensível à agenda econômica como arena de combate em defesa do hiperliberalismo, da independência do Banco Central e da estratégia dos juros elevados como única forma de combater a inflação.

Essa é a isca para o Governo manter a agenda econômica na pauta do dia, acentuando a contradição do jornalismo corporativo: de um lado, forçosamente admite que juros altos prejudicam o desenvolvimento; por outro, aceitam a ortodoxia do BC como fatalidade e tecnicalidade.

Mas a mídia corporativa joga com o tempo a seu favor: o discurso é que a âncora fiscal não terá efeito a curto prazo, que será o início de uma "longa jornada", apostando que o atual viés ortodoxo do BC só mudará no ano que vem. Como dizia o economista John Maynard Keynes, “a longo prazo, estaremos todos mortos” – o jornalismo corporativo aposta na crise econômica com os juros elevados para desgastar do governo Lula, principalmente junto àqueles que o elegeram: a faixa de até dois salários-mínimos, mais sensível às crises.

Anteve-se até o futuro mote dos "colonistas": "Lula não entrega promessas de campanha"...

(c) Os “colonistas” da grande mídia sabem que o arcabouço fiscal costurado por Haddad é frágil porque depende da combinação com os “russos”: primeiro, que os juros caiam para possibilitar crescimento econômico e aumento da receita; segundo, que o Congresso apoie as medidas de saneamento fiscal (fazer aqueles que não pagam impostos começarem a pagar). 

O Governo parte do wishifull thinking de que o Congresso não poderá ficar contra as medidas que beneficiam a Nação (medidas que até volátil mercado financeiro deu, pelo menos nesse início, sinalização positiva). Mas pode! A ex-presidenta Dilma Rousseff sentiu na pele como a grande mídia pode transformar a batalha no Congresso em uma espécie de terceiro turno eleitoral. 

 

 

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sábado, março 25, 2023

Sem estratégia de comunicação Lula tem Governo, mas não o Estado


O que deveria ser uma operação psicológica de retomada do controle da agenda política, transformou-se numa crise tanto de comunicação como política, que poderá render efeitos exponenciais – a não ser que o Governo transforme a visita à China numa oportunidade para retomada de pauta. O modus operandi é previsível e recorrente: diante do debate econômico (juros, independência do BC, desenvolvimento etc.) PF e lavajatismo preparavam-se para desfechar uma operação para retomada de agenda: a volta da República de Curitiba, dessa vez não mais para combater a corrupção, mas o crime organizado – fabricar conexões entre PT e PCC, tese criada pelo Partido Militar, pelo menos desde 2017: o suposto projeto da facção tornar-se um partido político ao estilo das FARC. Mas a fala infeliz de Lula numa exclusiva a um site progressista e as cabeças batendo na estratégia de comunicação do Governo criam uma grave suspeita: Lula tem o governo, mas não o Estado.

sexta-feira, março 10, 2023

Realidade paralela midiática: "presentes" de Bolsonaro e a terra arrasada do Congresso


Bolsonaro, o aventureiro que quer humilhar as Forças Armadas, quis embolsar, sem pagar imposto, um presente com joias no valor de milhões de reais dado ao presidente-aventureiro pela Arábia Saudita. O jornalismo corporativo suspeita de que o presente na verdade poderia ser uma “comissão” por alguma coisa, mas parece não muito motivada para investigar essa pauta. Mas mostra-se muito mais motivada em anunciar que o governo “já perdeu” na terra arrasada do Congresso. Em desespero, Lula marcou um jantar com Arthur Lira para reverter a derrota certa. Bem-vindo à realidade paralela do jornalismo corporativo, zelosa em blindar um dos seus ativos (o Partido Militar), queimar o fusível Bolsonaro e dar pernas a não-notícias para criar as profecias autorrealizáveis do “já perdeu” e da ingovernabilidade.

sexta-feira, março 03, 2023

Nietzsche e o sabor gelado, muito gelado, da vingança no filme 'O Cidadão do Ano'


Nils foi homenageado como “O Cidadão do Ano” numa pequena e gelada comunidade norueguesa próxima do Círculo Polar Ártico. Ele mantém as estradas limpas da neve, o funcionário público modelo que acredita que o interesse público sempre vem primeiro. Até o seu filho ser assassinado e a polícia local encerrar o caso apenas como overdose. Será o início de uma escalada de vingança tragicômica, lembrando filmes como “Fargo” e a estética da violência de Tarantino. “O cidadão do Ano” (Kraftidioten, 2014, disponível no MUBI) acompanha o pacato servidor público que vira um implacável assassino vingando a morte do filho, revelando uma rede de tráfico de drogas. O filme é bem nietzschiano: se a vingança social (Justiça, o Direito) falha, aquilo que está latente, o ressentimento, retorna na vingança pessoal. As religiões salvacionistas tentam sublimar esse perigo, prometendo a verdadeira justiça só depois da morte. Mas o Nils quer a justiça aqui e agora: ele procura nesse mundo a simetria entre potências que somente poderá ser através da vingança.

quarta-feira, fevereiro 15, 2023

OVNIs e Jung na Guerra Cognitiva da Guerra Fria 2.0


Em 2021 este “Cinegnose” já apontava o início da estratégia cognitiva de aproximação entre OVNIs e Guerra Fria 2.0 contra o eixo Rússia/China. Naquele ano, começava o hype das autoridades dos EUA e da mídia em torno do fenômeno OVNI com a publicação de relatório da Inteligência e imagens de jatos de caça perseguindo objetos voadores. No mesmo ano, a OTAN promovia um encontro cujo painel principal era sobre Guerra Cognitiva – aspecto da Guerra Híbrida que vai além da guerra da informação. Os três “OVNIs” abatidos por EUA e Canadá, cuja natureza seria mais terrestre (chinesa) do que interplanetária, já é a guerra cognitiva em ação. Além de desviar a atenção da denúncia de terrorismo dos EUA no Nord Stream e o novo Chernobyl criado por um acidente ferroviário em Ohio, há algo maior: alterar a nossa cognição ao contaminar ficção e realidade através do arquétipo dos discos voadores, tal qual descrito por Carl G. Jung.

quinta-feira, fevereiro 09, 2023

Banco Central autônomo: o mercado vota todo dia na grande mídia


Como a grande mídia percebeu que dar chiliques não está dando certo (vide os casos da AGu querendo combater fake news e a “moeda única” do Mercosul), partiu para outra estratégia: cobertura ansiosa dos acontecimentos. Se nas eleições do Senado, a Globo criou um estúdio dentro do Congresso para o corpo-a-corpo, agora na “guerra” entre Lula e Banco Central coloca em ação seus informantes de pauta das mesas de operações das corretoras de valores. E até trazem para os estúdios, numa ação rara ou inédita. George Soros disse certa vez: “o mercado vota do dia”. No campo econômico, vota através da “porta giratória” das políticas monetárias do Banco Central. E no campo semiótico através da cegueira da patuleia com efeitos midiáticos de ciência econômica: números, tabelas e infográficos caprichados, com operadores sendo entrevistados tendo ao fundo múltiplas telas com gráficos coloridos – criando o efeito de tecnicidade neutra.  Enquanto Lula é “palanqueiro” e faz “jogadas”, Roberto Campos Neto divulga “atas”, faz “política monetária” e “não gosta de fortes emoções”.

quinta-feira, fevereiro 02, 2023

"Se tomar posse não governa": mídia transforma eleição do Senado em "Terceiro Turno"


“Se tomar posse, não vai governar”, dizia o udenista Carlos Lacerda contra Getúlio Vargas. Hoje usa-se o eufemismo do “terceiro turno”. Ansiosa, a grande mídia nem esperou pelos primeiros 100 dias: depois dos chiliques contra as evidências de política desenvolvimentista no Mercosul, transformou a eleição à presidência do Senado num “terceiro turno polarizado”. A reeleição de Rodrigo Pacheco era dada como certa. De repente, o quadro mudou: a mídia passou a inventar que a disputa se tornou “acirrada” e que adversário Rogério Marinho (PL-RN) já contava com “traições” e de que teria virado o placar. A profecia autorrealizável (que contou com o tradicional lobby da Globo com estúdio dentro do Congresso) não deu certo. Mas o jornalismo corporativo está cevando seus ativos: o bunker bolsonarista do Senado, a ambígua figura de Arthur Lira e o “Exército Psíquico de Reserva” dos bolsomínios – agora espicaçados com a mitomania do senador Marcos “Swat” do Val denunciando plano de grampear o ministro Alexandre de Moraes.

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