terça-feira, junho 09, 2015

A "maldição" do Coringa ameaça também o ator Jared Leto?

“Tenho medo de aproximar-me dele... Eu o conhecia antes dele ser o Coringa... não quero envolver-me com isso”, relatou o ator Scott Eastwood sobre a experiência de acompanhar Jared Leto ("Sr. Ninguém", "Clube de Compras Dallas") nas filmagens interpretando o Coringa, no filme “Esquadrão Suicida” com lançamento previsto para 2016. Vazam na Internet declarações de que, tal como Heath Ledger em “Batman: O Cavaleiro das Trevas”, Leto também não estaria conseguindo “abandonar o personagem”. Estaríamos acompanhando mais uma recorrência sincromística que envolve o sombrio palhaço do crime? Para muitos pesquisadores em Sincromisticismo, desde que o Coringa surgiu em 1940 nas HQs, o personagem transformou-se em uma forma-pensamento autônoma, envolvido em repetidos relatos de atores sobre o desconforto em interpretá-lo. Jack Nicholson ficou furioso por Ledger não tê-lo consultado sobre como lidar com o papel. “Bem, eu o avisei!”, teria dito ao saber da morte de Ledger. Jared Leto pode ser o próximo?

Considere essas duas declarações abaixo feitas durante a produção de dois filmes diferentes:

(a) “A performance de Heath Ledger interpretando o Coringa nos sets de gravação era tão assustadora que muitas vezes chegava a esquecer as minhas próprias linhas de diálogo” Michael Caine durante a produção do filme Batman: O Cavaleiro das Trevas;

(b) “Eu tinha medo de aproximar-me dele [Jared Leto] porque eu não queria me envolver naquilo que estava acontecendo. Eu o conhecia, antes dele ser o Coringa. Eu o conheci como Jared Leto. Não quero envolver-me com isso” (Scott Eastwood, sobre as filmagens do filme Esquadrão Suicida com Jared Leto interpretando o Coringa).


Com lançamento previsto para 2016, no filme Esquadrão Suicida (aventura do supergrupo de mercenários baseado nos quadrinhos homônimos da DC Comics) novamente os telespectadores vão se confrontar com mais uma versão do Coringa, dessa vez interpretado pelo ator Jared Leto.


Fotos da versão de Leto para o Coringa que vazaram na Internet e declarações de atores e técnicos nos sets de filmagem apontam para supostos efeitos psicológicos e mesmo físicos que o sombrio personagem estaria provocando no ator. Como Eastwood declarou acima, Jared Leto não estaria conseguindo “abandonar seu personagem”, mesmo depois das filmagens – sobre isso clique aqui. 

Críticos de cinema e pesquisadores em Sincromisticismo na indústria do entretenimento temem que Leto tenha o mesmo destino de Heath Ledger – ao longo das várias versões do Coringa no cinema e TV, o núcleo de loucura do príncipe palhaço do crime parece sempre de alguma forma afetar os atores que desempenham o papel.

Uma trajetória conflitos e medo


              Em 1966, a série televisiva da Fox Batman trouxe Cesar Romero para o papel. Romero era conhecido pelos seus trabalhos como típico galã latino-americano. Por isso, na verdade nunca entendeu o personagem, minimizando o seu lado homicida para transformá-lo num palhaço trapalhão. Romero falava que não encontrava um lugar para si no personagem, e referiu-se diversas vezes a “problemas de dualidade”. O Coringa teria o deixado confuso, inseguro consigo mesmo e com severas dores de cabeça. Em muitas entrevistas, dizia que viveu uma constante guerra com o Coringa.

Cesar Romero como o Coringa em 1966

Em 1989, Jack Nicholson se juntou à equipe de Tim Burton para fazer o Coringa do filme Batman. O ator adorou a liberdade dada por Burton para cair de cabeça em um personagem sem consciência e que gostava de matar e mutilar por puro divertimento. Porém, a alegria de Nicholson não durou muito: começou a queixar-se de inquietação e insônias severas, fazendo o estresse se infiltrar por todas as partes da sua vida. Mais tarde, Nicholson teria ficado furioso por não ter sido consultado por Heath Ledger que viria a interpretar o Coringa no Batman de Nolan: “Bem, eu o avisei!”, teria declarado Nicholson ao saber da morte de Ledger.

Mark Hammil  (famoso no cinema como Luke Skywalker em Guerra nas Estrelas) tornou-se um recordista em dar a sua voz ao Coringa em uma série de animações nesses últimos 20 anos. Mesmo não performando fisicamente o personagem, Hammill repetidamente referiu-se ao personagem como “um animal” e relatou as mesmas crises de ansiedade e insônias de seus antecessores.

              Com esse histórico envolvendo o sombrio príncipe do crime, era de se esperar que Heath Ledger fosse mais cuidadoso. Quando o papel foi oferecido para ele no Batman: O Cavaleiro das Trevas de Nolan, Ledger desdenhou o personagem e o definiu como ninguém havia feito antes: “um palhaço psicótico e assassino com zero de empatia”. Não demorou para aparecerem crises de depressão, ansiedade e insônia (ao mesmo tempo terminava um relacionamento onde foi separado da sua filha). Durante esse tempo foi atendido por uma variedade de médicos que prescreveram perigosas interações medicamentosas.


Jared Leto como o Coringa em "Esquadrão Suicida"(2016)

O núcleo arquetípico do Coringa


Essa recorrência sincromística (mais detalhes sobre a hipótese do Sincromisticismo clique aqui) precisa ser interpretada em três aspectos: o personagem do Coringa como Arquétipo e Forma-Pensamento, a sobrevivência dos arquétipos na atual indústria do entretenimento e o atual método de treinamento de atores.

Em 1928, o filme que inspirou
o aspecto do Coringa nas HQs
A primeira aparição do coringa seria na revista Batman de 1940, criado pelo co-roteirista Bill Finger, inspirado em uma foto do ator Conrad Veidt no filme The Man Who Laughs de 1928.

As origens do Coringa é mais popularmente reconhecida na HQ A Piada Mortal da DC Comics de 1988, em uma edição especial onde quer provar a qualquer custo que a loucura está a alcance de todos. “A loucura é a saída de emergência da nossa sanidade”, diz em uma das linhas de diálogo. Nos quadrinhos o Coringa se diferencia por ser o único vilão que não quer a morte do Batman, mesmo quando tem a oportunidade de fazê-lo. Parece ter um desejo inquietante de demonstrar que um necessita do outro, em uma relação ao mesmo tempo antagônica e de dependência.

A figura do Coringa é a personificação sombria do arquétipo do Trapaceiro (o Trickster), aquele que quer quebrar a ordem dos deuses ou da natureza. O arquétipo do Trapaceiro parece ser uma comédia de opostos: para cada bom aspecto seu há um aspecto oposto sombrio. Ele é o disjuntor de tabus. Proporciona o alívio cômico dos mitos religiosos: expõe a tolice dos homens e a fraqueza das lições de moral.

              Por isso, esse arquétipo é poderoso, por se confundir com a natureza entrópica do Universo: ordem e caos, energia e entropia, ou seja, a própria representação da seta do tempo que conduz a vida para a morte. Representa a revolta do homem diante dos deuses: ao contrário de xamãs, heróis ou santos, ele quer basear-se na sua própria inteligência, sempre procurando um atalho para no final fracassar. É a condição tragicômica humana, como o herói mitológico grego Prometeu que após roubar o fogo dos deuses foi castigado por eles.


Coiote e Papa Léguas: a vivência do arquétipo do Trapaceiro


Arquétipos na atual indústria do entretenimento


Mas a questão a ser compreendida é o que acontece quando poderosos arquétipos que pertencem ao inconsciente coletivo são reencenados continuamente com entretenimento nas mídias?

Um pequeno exemplo é a oposição que as narrativas de tribos indígenas norte-americanas fazem entre o xamã e o coiote: enquanto o primeiro busca suas forças no sobrenatural, o segundo baseia-se na sua própria inteligência. O xamã seria capaz de voar por meio da meditação, enquanto o coiote tenta um atalho nas costas de um urubu... e sempre se dá mal.

A narrativa soa familiar quando lembramos que milhões de crianças cresceram com estes mesmos personagem com o Wile Coyote tentando pegar o Papa Léguas na série de animações Looney Toons. Sempre o Coiote tem um esquema bem elaborado que inevitavelmente termina no fundo de um penhasco depois de uma longa queda.

             No passado os arquétipos eram revividos em narrativas mitológicas e rituais mágicos e religiosos que garantiam, por assim dizer, um distanciamento entre as dimensões sagradas e profanas, mito e cotidiano, fazendo a energia psíquica contida no arquétipo ser consumida através da catarse ou pelo frenesi das festas até a sua dissipação. A vivência dos arquétipos sempre esteve presente no fenômeno religioso e do fantástico, associados aos sistemas mitológicos, metafísicos, teológicos e grandes manifestações artísticas.


O pensamento cria formas autônomas no Plano Astral, agora amplificado pelas mídias

Com a crise desses sistemas, os arquétipos passaram a ser revividos em uma espécie de sub-zeitgeist místico e sobrenatural das HQs, Magazines, pulp fictions e filmes B sci fi, de horror e fantasia.

Hoje revive na própria indústria do entretenimento como um todo, como a fagulha que fascina e excita os espectadores, porém em um contexto psíquico e astral bem diferente do passado: agora são vividos de forma repetitiva, neuroticamente como clichês. E sua repetição transmitida ao vivo por ondas eletromagnéticas, streaming na Internet ou em sistemas audiovisuais em salas de projeção. Como pesquisadores sincromísticos apontam, a energia viva, psíquica desses arquétipos não mais se dissipa, mas transformam-se em formas-pensamentos – criações mentais que utilizam matéria fluídica capazes de criar formas autônomas no Plano Astral.

Sua energias não são mais se dissipam como em rituais no passado, mas agora são continuamente alimentados e materializados pela indústria do entretenimento, continuamente criando egrégoras de formas-pensamento que do Plano Astral atingem o Plano Físico, criando estranhas “conexões significativas” imprevisíveis quanto aos efeitos.

“O Método” expõe os atores às formas-pensamento


E os atores, verdadeiros médiuns inconsciente, são recrutados por essa indústria a exposto sem proteção a esse vasto material arquetípico da espécie humana.

         Os atores e artistas são as peças-chave para a solução de uma contradição que envolve a própria exploração de arquétipos por um processo industrial: como manter a vivencia do arquétipo espontânea em produtos audiovisuais marcados pela repetição, clichês e estereótipos? – conceitos essenciais para a produção cultural em linha de montagem.


Actors Studio, Nova York

Como vimos em uma antiga postagem desse blog, a solução foi o chamado “Método” criado a partir da Teoria do Ator de Stanislawski. Criado em 1947 pela Actors Studio a partir de uma leitura bem particular de Stanislawski, criou a proposta de que o ator não deve apenas representar, mas ser o próprio personagem a partir de um complexo método composto por exercícios físicos e psicológicos.

Para dar espírito e autenticidade às verdadeiras formas-pensamento que são os personagens, o ator deve arrancar do seu psiquismo diversas personas arquetípicas. O brilho e magnetismo revolucionários de Marlon Brando e James Dean (egressos da Actors Studio) nos anos 50 expuseram uma espécie de animismo do ator: assim como no Espiritismo se chama de animismo a interferência do espírito e sentimentos do médium na comunicação (na verdade, são as personas do médium que falam e não algum espírito), vemos em filmes e teatros personagens cuja força vêm do próprio psiquismo do ator – sobre isso clique aqui: “Pequena história gnóstica da espontaneidade na indústria do entretenimento – parte 2”.

O resultado dramático é que acompanhamos como os relatados pelos efeitos da Forma-Pensamento do Coringa em atores que o interpretam: parte do psiquismo do ator roubada pela próprio personagem em um processo análogo de vampirismo em um plano astral – até as formas-pensamento se dissiparem em efeitos catastróficos como mortes trágicas e acidentes como o bem conhecido “Massacre do Colorado” em 2012 – um atirador que fez dezenas de vítimas na estreia do filme Batman: O Cavaleiro das Trevas nos EUA – sobre isso clique aqui.

A vantagem do Método é que confere aos papéis realismo e naturalismo, dando espontaneidade ao trabalho dos atores – o que combate o perigoso efeito de tédio que as estruturas de fabricação em clichês e estereótipos podem proporcionar aos espectadores. Mas, por outro lado, expõe atores e artistas diretamente a esses energias autônomas, verdadeiros quiasmas astrais. Resultando numa espécie de imolação pública em filmes, shows e espetáculos, como bem demonstrou o filme Cine Negro (2012) de Aronofsky.

O leitor poderá contra-argumentar que esses relatos sobre os supostos efeitos do Coringa em Jared Leto não passam de vazamento promocional na Internet de um filme previsto para o ano que vem. Pode ser, mas por outro lado se for mesmo uma estratégia promocional, ela baseia-se em uma recorrência que envolve o histórico do sinistro personagem. Dessa maneira, Jared Leto poderia estar exposto a uma dupla ameaça: a da forma-pensamento do Coringa e de uma profecia que poderá tornar-se autorrealizável.

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