sexta-feira, outubro 31, 2014
Em "Amantes Eternos" a melancolia dos vampiros denuncia a decadência dos vivos
sexta-feira, outubro 31, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Conhecido pelos seus protagonistas que vivem sempre à margem da
sociedade, arrebatados pelo vazio existencial e, por isso, capazes de um olhar mais
crítico e verdadeiro, o diretor Jim Jarmusch (“Estranhos no Paraíso”, “Down By
Law”, “Dead Man”, “Flores Partidas”) agora acrescenta os vampiros a sua
galeria de anti-heróis. Em “Amantes Eternos” (Only Lovers Left Alive, 2013) Jarmusch questiona
como seria viver eternamente em um mundo de seres mortais. Como seres que atravessaram séculos por todas as cenas culturais, científicas e artísticas
poderiam viver num mundo que parece ter esquecido de tudo que de mais
importante a História ofereceu (como, por exemplo, o trágico destino das ideias do
cientista Nikola Tesla), e vê no You Tube a sua única fonte de cultura e
entretenimento. Ironicamente, para os
vampiros os mortais não passariam de “zumbis” – seres condenados
pela morte a recomeçarem sempre do zero do esquecimento.
Parecia que
o cinema já tinha mostrado tudo sobre os vampiros: seres da noite, mortos
vivos, encarnação do próprio Mal, seres dotados de perigoso poder de sedução,
amores platônicos entre vampiros e mortais, amaldiçoados com a imortalidade,
doentes contagiosos etc. Mas faltava um diretor como Jim Jarmusch para trazer
esse personagem para a sua galeria de anti-heróis underground, aqueles que
vivem à margem da sociedade e que, por isso, são capazes de um olhar crítico
para uma sociedade de resignados.
terça-feira, outubro 28, 2014
O humano, demasiado humano no filme "Relatos Selvagens"
terça-feira, outubro 28, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O homem atual seria um Sísifo moderno? Assim como o personagem da mitologia grega, condenado a carregar eternamente uma enorme pedra ao topo da montanha, o homem estaria condenado a não encontrar Deus, sentido ou propósito na existência, a não ser encontrar a si próprio – o humano, demasiado humano. Esse é a desconcertante co-produção Argentina/Espanha “Relatos Selvagens”, seis curtos relatos de pessoas comuns diante de circunstância incomuns: situações extremas com muito humor negro (e bota negro nisso) onde acabam sendo despertados em cada um os instintos mais básicos de vingança e violência. Em falso tom de comédia, o diretor Damián Szifrón parece querer brincar com o espectador: afinal, estamos rindo do quê?
domingo, outubro 26, 2014
A grande mídia ameaça: meu ódio será a sua herança
domingo, outubro 26, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Tal qual uma serpente, um muro cinza escuro serpenteia o
Brasil dividindo o País do Acre ao litoral. É com essa sinistra animação que o
infográfico do site da “Folha de São Paulo” chamado “Folhacóptero” explica o
cenário eleitoral brasileiro, em um previsível silogismo cuja conclusão é a de
que somente os pobres e ignorantes mantêm a candidata Dilma Rousseff na frente
das pesquisas eleitorais. Divisão e Muro são as metáforas que a grande mídia
sistematicamente vem utilizando para explicar o cenário político. Enquanto
publicações estrangeiras como a “The Economist” usam infográficos mais neutros
e elegantes para explicar as desigualdades históricas do Brasil, nossa grande
mídia usa a imagem do muro, simbolicamente carregada de ódio e separatismo. A
grande mídia sabe que vive o fim do seu poder político-financeiro e parece
querer deixar para a História o ódio como a sua única herança.
Quem não se
lembra do filme clássico do mestre da violência, Sam Peckimpah, Meu Ódio Será Sua Herança (The Wild Bunch, 1969)? Considerado o
sexto melhor western de todos os tempos pela American Film Institute (AFI). O
filme é um hino ao crepúsculo da era do Velho Oeste e da figura mítica do
cowboy, com um general mexicano aparecendo em um carro vermelho no lugar do
cavalo e metralhadoras e pistolas automáticas substituindo o tradicional
revólver de seis tiros.
O mau
presságio para os protagonistas do filme começa com a célebre cena quando
entram em uma cidade e avistam um grupo de crianças que empurram dois
escorpiões para um formigueiro para se divertirem com a imagem da violência no
meio natural.
sábado, outubro 25, 2014
A "bala de prata" é sintoma do "tautismo" da revista Veja
sábado, outubro 25, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Motivo de piadas e memes nas redes sociais, o verdadeiro remake do layout
da capa de 2012 sobre a novela Avenida Brasil em mais uma “bala de prata” da
revista “Veja” (matéria de capa sobre suposta denúncia de que Dilma e Lula
sabiam de todos os esquemas na Petrobrás) é muito mais do que falta de
criatividade ou preguiça de uma revista que definha financeiramente. É um
sintoma do “tautismo” (tautologia + tautismo), fenômeno de fechamento da mídia
em si mesma, a tal ponto que desaparecem as diferenças entre ficção e não-ficção,
telenovela e notícia. A própria resposta dada pela “Veja” às críticas comfirma
aquilo que pretende negar: através de um raciocínio tautológico diz que os acontecimentos
são verdadeiros porque “teimosamente” têm relevância eleitoral... e por isso sempre
acontecem na reta final das eleições!
O programa Redação Sport TV recebeu na semana
passada o ex-presidente do Fluminense Francisco Horta. Famoso nos anos 1970 por
ter montado a chamada “máquina tricolor” na base do “troca-troca” (intercâmbio
ao invés de compra de jogadores), ele era entrevistado por André Rizek e Xico
Sá. Para demonstrar a relevância do entrevistado, foram mostrados para os
espectadores fac-símiles de edições do Jornal O Globo da época, com manchetes sobre o ex-dirigente.
Rizek, então,
passou a fazer uma rápida contabilização do número de manchetes que o
Fluminense gerava no jornal entre 1975-77. Para o jornalista, o sucesso da
estratégia de Horta passou a ser discutido não pela sua contribuição para o
futebol brasileiro, mas pela capacidade de Horta tinha em produzir manchetes
para O Globo. Auto-referência: o
jornal toma a si mesmo como medida para avaliação da realidade. O jornalista
passou a confundir relevância midiática com relevância histórica.
sexta-feira, outubro 24, 2014
Em Observação: "Amantes Eternos" (2013) - por que os vampiros são melancólicos?
sexta-feira, outubro 24, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Profundos
conhecedores de arte, literatura, música e cinema. Aristocráticos, vintages, sensíveis,
e... melancólicos. Esses são os vampiros do diretor Jim Jarmusch em “Amantes
Eternos” (Only Lovers Left Alive, 2013). Por que seres imortais e tão poderosos
podem ser tão tristes e melancólicos? Esqueça os clichês de maldições,
insaciabilidade por sangue e amores platônicos tão comuns nos vampiros para
adolescentes da franquia “Crepúsculo”. Jarmusch recoloca o mito do vampiro na
sua tradição romântica e literária. Mas tem algo mais: o toque gnóstico ao ver
o vampiro como um ser privilegiado – ele jamais esquece, ao contrário dos
mortais presos no ciclo vicioso morte-reencarnação-esquecimento.
quinta-feira, outubro 16, 2014
A simplicidade descolada, coxinhas 2.0 e o novo neoconservadorismo
quinta-feira, outubro 16, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Diga
adeus a nomes de pratos requintados e ornamentais da culinária francesa, se
despeça de bikes de alta performance, abandone esportes de elite. Agora prefira
osso buco e rabada, bicicletas caloi 10 dos anos 1970 reformadas e peladas
regadas a cervejas artesanais. O coxinha evoluiu para a sua versão
“sustentável”: a simplicidade descolada. Eles são os novos tradicionalistas,
uma simplicidade estudada e “descolada”, isto é, de grande valor agregado no
mercado cultural. Sua psicografia é hoje explorada pelo marketing tanto
político como de consumo – ele aspira à simplicidade, pureza e renovação, muito
mais por atitudes do que por ações. Por isso, é campo fértil para crescer o
neoconservadorismo: a aversão à Política como algo complicado e, por isso,
suspeito e corrupto.
Assim como
os Pokemons evoluem para se adaptar melhor às batalhas nos game cards, da mesma forma o chamado “coxinha” parece ter evoluído
para fazer frente às críticas e rejeições que sempre marcaram a sua cena social:
evoluiu para a “simplicidade descolada”, um novo tipo humano aparentemente mais
“consciente”, antenado e sintonizado aos novos tempos mais politicamente
corretos e sustentáveis.
Essa sua
nova roupagem, esse verdadeiro coxinha 2.0 é o protagonista de uma série de
programas da grande mídia e seguido por um séquito de fiéis jovens que se distribuem em inúmeras áreas onde exibem seus requintados gostos pela
“simplicidade”: gastronomia, bebidas, futebol, bicicletas, moda etc.
quarta-feira, outubro 15, 2014
Aranhas, morte e identidade no filme "O Homem Duplicado"
quarta-feira, outubro 15, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Ver a si mesmo em uma réplica ou imagem sempre foi
considerado um evento misterioso e mágico. Em muitas culturas, ver o próprio
duplo pode ser um prenúncio da morte. Inspirado em livro do escritor português
José Saramago, o filme “O Homem Duplicado” (Enemy, 2013) do diretor canadense
Denis Villeneuve vai atualizar essa mitologia, trazendo-a para uma tradição de
filmes que tematizam o problema da identidade: o que você faria se visse em um
filme um ator que fosse uma réplica exata sua? Villeneuve vai explorar o
tema psicanalítico da busca da identidade através do espelho. Uma jornada
perigosa, pois nesse caminho podemos nos confrontar com os nossos desejos mais
íntimos, criando uma nova ordem: caos é a ordem que ainda não foi decifrada.
Em um
cultura atual de selfies e timelines das redes sociais repletas com
nossas fotografias fica difícil imaginarmos um tempo onde as pessoas podiam
ficar com medo das suas própria imagens.
Do espelho à
fotografia, a contemplação de uma réplica de si mesmo sempre foi considerado um
evento misterioso, como, por exemplo, todo o misticismo que cerca os espelhos
ou os primórdios da fotografia – as pessoas ficaram assustadas com a fidelidade
do resultado, só se tornando popular depois que descobriram que era possível
retocá-las. Ou seja, depois de que elas passaram para o campo da simulação.
domingo, outubro 12, 2014
Ebola é bomba biológica ou semiótica?
domingo, outubro 12, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Desde que os nazistas elaboraram as primeiras peças de
propaganda antitabagistas durante a Segunda Guerra Mundial, sabe-se que a
questão da saúde é uma poderosa arma semiótica. Ebola, vaca louca, gripe
aviária, gripe suína e outras ameaças sazonais de pandemias, mais do que
ameaças biológicas, tornaram-se bombas semióticas arquitetadas para criar
vitimização, culpa e segregação. O ebola é agora a pandemia da moda onde, no
Brasil, surge em um “timing” perfeito: o segundo turno das eleições
presidenciais. A grande mídia cinicamente anuncia que a informação é a única
forma para “tranquilizar a população”. Um pouco de teoria semiótica revela que
as manchetes da grande mídia são tudo, menos informativas: elas são “performativas”,
desenvolvem uma ação – ambiguidade, boatos, medo e segregação.
Nos anos
1990 e no auge da carreira como técnico do Palmeiras na chamada vitoriosa era
Parmalat, Vanderlei Luxemburgo sabia como ninguém manipular os jornalistas
esportivos e as mesas redondas de debates da TV. Após mais um jogo do
Palmeiras, Luxemburgo, no meio de uma coletiva para a imprensa, disparava do
nada: “quero aproveitar esse momento e dizer que eu jamais fui sondado pelo
Corinthians. É tudo mentira!”. Os jornalistas se entreolhavam: quem disse isso?
De onde partiu essa informação?
Pronto! Era
tudo o que Luxemburgo queria. O seu balão de ensaio corria como fogo em
rastilho de pólvora pelos debates nas TVs. E os desmentidos da diretoria do
Corinthians só alimentavam ainda mais os boatos.
Luxemburgo
nada mais fazia do que explorar a natureza performática da linguagem: os signos
não apenas existem para designar o mundo – eles são proferidos dentro de um
contexto, o que resulta numa ação performativa. Segue-se que toda comunicação
tem uma função constatativa (o
enunciado, a informação, o relato factual) e outra performativa - a enunciação onde implicitamente podem estar
comandos como ordens, pedidos, ofensas, promessas, apostas etc.
sábado, outubro 11, 2014
"Jogo de Cena" embaralha cartas da ficção e do real
sábado, outubro 11, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Câmeras
de vigilância, celulares através dos quais performamos constantes selfies,
telas de computador, de TVs e de cinema, imagens dos indivíduos captas pelas
câmeras de vitrines nos shoppings e exibidas para os próprios consumidores etc.
Estamos cercados de dispositivos visuais que acabaram criando uma espécie de
saber inconsciente audiovisual: criamos nossas próprias auto-mis-en-scènes.
Sabemos criar personas através do cinema e fotografia, de tal maneira que
ficção e História, ilusão e realismo acabaram se fundindo na modernidade. Esse é o tema latente no
documentário “Jogo de Cena”(2007) de Eduardo Coutinho: anônimos contam suas
histórias, enquanto atores tentam reencenar essas narrativas anônimas. Quem é
ator e quem é anônimo, quem é profissional e quem é amador diante da câmera?
Esse é o vertiginoso jogo proposto por Eduardo Coutinho.
Na banalidade do cotidiano
estão os rastros da verdade. Esta parece que foi a grande revolução estética
trazida pela modernidade, desde que Vitor Hugo escreveu que uma sociedade se
conhece através do seu esgoto, ou quando Marcel Proust descobre as memórias
involuntárias em cheiros, flagrâncias e sons do dia-a-dia na sua obra-prima Em Busca do Tempo Perdido.
Graças a essa revolução na
sensibilidade moderna, desviamos nossa atenção artística das grandes narrativas
dos gêneros tradicionais (tragédia, comédia, drama etc.) com seus temas
elevados sobre heróis, nobres ou pícaros, para a vida dos esquecidos nas
multidões. A fórmula foi invertida: o anônimo tornou-se o objeto artístico e o
seu registro através da fotografia e o cinema como as novas obras de arte.
Por isso, o documentário Jogo de Cena de Eduardo Coutinho se
inscreve nessa tradição modernista da linha de Dziga Vertov e seu filme O Homem da Câmera de 1929 ou Berlin –
Sinfonia de uma Metrópole (1927) de Walther Huttmann: trazer para a cena
artísticas as massas e os anônimos.
quarta-feira, outubro 08, 2014
Adendo ao post "Sociedade de Consumo e o ovo da serpente do PT": César Tralli, MasterChef e o metrô
quarta-feira, outubro 08, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Após a publicação da
postagem anterior “Sociedade de Consumo e o ovo da serpente do PT” uma curiosa
sequência de eventos sincrônicos em questão de horas foram vivenciados por
esse humilde blogueiro. Suspeitas de supostas mensagens subliminares do PT no metrô
de São Paulo, palestra do jornalista César Tralli em uma Universidade, leituras
de time lines do Facebook no metrô e as humilhantes “lições de vida”
meritocráticas do reality MasterChef da Band. O ovo está se quebrando e através
da fresta um olho ameaçador observa o futuro.
Cinco horas da tarde na
conexão CPTM/linha amarela do metrô na Estação Pinheiros em São Paulo. Seguindo
a multidão que se aperta preparo-me para descer mais uma escada rolante. Dou de
cara com um cartaz de viagens turísticas para Cuba. O nome do país em destaque com uma estrela logo abaixo com a
foto de uma paradisíaca praia dominado o anúncio.
Atrás de mim, dois jovens
trajados com roupas sociais e mochilas, indicando que estão saindo do trabalho.
Param de conversar entre si e olham para o grande cartaz. “Olha lá: Cuba... e
uma estrela vermelha embaixo... não lembra coisa do PT?”. Trocam rapidamente
sugestões de um possível propaganda subliminar do partido. E voltam a conversar
sobre empresas para trabalhar, falando daquelas “que te achincalham” e daquelas
“que te tratam bem”, nas palavras dos jovens.
terça-feira, outubro 07, 2014
Sociedade de Consumo e o ovo da serpente do PT
terça-feira, outubro 07, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Qual o significado de uma comédia brasileira chamada “O Candidato Honesto” (sobre um candidato à
presidência popular, corrupto e mentiroso) ser lançada nos cinemas em plena
reta final das eleições? Mais do que senso de oportunismo mercadológico, a
produção surfa na onda da aversão popular à Política e o fenômeno da
despolitização. A inclusão de grande parte dos brasileiros na sociedade de
consumo implementada pelo neodesenvolvimentismo dos governos do PT parece
mandar a conta: chocou o ovo da serpente que agora arma o bote. Sem educação
política, a sociedade de consumo brasileira produz os efeitos ideológicos do
próprio consumismo verificados desde o pós-guerra – ideologia meritocrática,
ilusão de mobilidade social por meio do consumo de gadgets e aparatos
tecnológicos, a competitividade e o
ressentimento. Combustíveis para o discurso midiático da corrupção que ironicamente só
cola no PT.
O cinema tem uma longa
tradição de representar os políticos (assim como os jornalistas) como
personagens corruptos, que abusam da autoridade e sempre metidos em narrativas
conspiratórias de negociações obscuras ou figurados como fantoches de
interesses inconfessáveis.
A comédia brasileira O Candidato Honesto, de Roberto
Santucci, é o último exemplo desse clichê cinematográfico. Pelo oportunismo de
ser lançado em plena reta final da campanha eleitoral, o filme se reveste de
significado político inegável – o reforço de um sentimento anti-política alimentado pela oposição ao Governo Federal como arma de
impedir a reeleição de Dilma Rouseff.
sábado, outubro 04, 2014
"O Doador de Memórias" e a terceira onda do Gnosticismo Pop no cinema
sábado, outubro 04, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Com o filme “O Doador de
Memórias” (The Giver, 2014) Hollywood acrescenta mais uma produção a uma série
de filmes sobre mundos distópicos dominados por estados policiais totalitários.
Essas produções vem retomando símbolos e narrativas gnósticas, mas dessa vez em
uma nova fórmula: um mix de Gnosticismo
com “1984” de Orwell e “Admirável Mundo Novo” de Huxley. Essa terceira onda de
Gnosticismo pop no cinema, assim como nas ondas anteriores, está relacionada
com alterações nos paradigmas tecnológicos. Na atualidade, o projeto da
Internet das Coisas e a nanotecnologia, criando
possibilidades de geolocalização e controle total da privacidade. A obsessão
atual de Hollywood por essas distopias faz surgir teorias conspiratórias como a
chamada “hipótese Fox Mulder”, extraída de um episódio da série “Arquivo X”.
O
Doador de Memórias,
adaptação do livro de 1993 The Giver
de Lois Lowry (premiado best seller
de ficção científica para o público jovem) é o último filme de uma série de
produções recentes que exploram distopias futuristas totalitárias: Snowpiercer (2013), No Limite do Amanhã (Edge of
Tomorrow, 2014), Elysium (2013), Jogos Vorazes (The Hunger Games, 2013), A Viagem (Cloud Atlas, 2012), Oblivion (2013), Capitão América 2: O Soldado Invernal (2014) etc.
Por que o público está sendo
inundado com essas narrativas futuristas sobre novas ordens mundiais e estados
policiais despóticos? Por que esse súbito interesse de Hollywood em nos fazer
torcer por heróis que lutam por escapar de sistemas totalitários enquanto
tentam encorajar a todos (inclusive o espectador) a fazer o mesmo?
terça-feira, setembro 30, 2014
A canastrice de Marina Silva e o DNA hollywoodiano
terça-feira, setembro 30, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Muitas teorias
conspiratórias veem a candidata Marina Silva como um “instrumento de
Washington”, “a nova direita” etc. Se isso for verdade, não seria tanto pelas
teses neoliberais que seu programa de governo defende. Seu DNA não está em
Washington, mas em Hollywood. Marina Silva se filia a uma lista de personagens
políticos construídos a partir do imaginário coletivo cinematográfico como
Hitler e Mussolini (o cinema mudo), Jânio Quadros (Jacques Tati) e Collor de
Mello (Gordon Gekko de “Wall Street”). É a “canastrice” na propaganda, noção
que a ciência política deveria levar mais à sério: políticos tornam-se
verossímeis quando se reconhecem neles elementos de uma certa mitologia pop ou
cinematográfica. Mas por que eleitores não percebem o artificialismo das performances
exageradas, melodramáticas e esteticamente kitschs, características da
canastrice? Talvez porque um século de Hollywood não apenas tenha afetado nossos
corações e mentes, mas a própria percepção.
Era
1997. Em plena crise de um escândalo sexual envolvendo o então presidente dos
EUA Bill Clinton e uma estagiária da Casa Branca, era lançado o filme Mera Coincidência (Wag The Dog). O Título em português não poderia ter sido mais feliz
pela ironia. No filme, um presidente concorrendo à reeleição nos EUA é
envolvido em um escândalo sexual. Com a ajuda de um produtor de Hollywood e um
relações públicas cria uma guerra fictícia com a Albânia como estratégia de
desvio da atenção.
Um
suposto vídeo documental (na verdade produzido em estúdio como tática
diversionista) é exibido pelas emissoras de TV: vemos uma jovem albanesa
com um gatinho branco nos braços fugindo de terroristas estupradores em meio ao
fogo cruzado de bombas e incêndios. Tudo muito melodramático, over, kitsch, estereotipado e com o appeal
e look semelhante às produções medianas
de Hollywood e “sitcons” do horário nobre. Apesar disso, jornalistas e a
opinião pública mordem a isca do suposto vídeo “vazado” como fosse um vídeo
realista.
sábado, setembro 27, 2014
O carro e a experiência fora do corpo
sábado, setembro 27, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um carro pode proporcionar uma experiência mística fora do corpo? Com a
análise semiótica em 360 graus do caso do filme publicitário do Novo Honda
Civic 2015, que apresenta o consumo como um ato muito mais de transformação
espiritual do que de aquisição, o curso "A Linguagem das Mercadorias" da pós em
Comunicação e Semiótica da Universidade Anhembi Morumbi fez seu último encontro dissecando a
mais nova ferramenta semiótica: a “Adgnose”. Diferente das formas anteriores de
busca de identificação do consumidor por meio de fantasias-modais (através de pesquisas
por perfis sócio-econômicos e de estilos de vida), hoje o Marketing e a
Publicidade obtêm o descolamento máximo do consumo em relação à materialidade
do produto com a exploração dos arquétipos: símbolos e imagens do inconsciente
coletivo. Surge uma irônica operação semiótica publicitária: ao invés de
“comprar-consumir-ter”, agora temos “comprar-consumir-espiritualizar-se”.
Nessa
última segunda feira (22 de setembro) esse humilde blogueiro ministrou o último
encontro do curso “A Linguagem das Mercadorias” da pós-graduação em Comunicação
e Semiótica da Universidade Anhembi Morumbi (informações sobre o curso clique aqui). Nos seis encontros do curso,
acompanhamos como a linguagem que promove as mercadorias no capitalismo através
da Publicidade foi progressivamente tornando-se cada vez mais abstrata:
estudamos uma série de ferramentas semióticas que operaram um verdadeiro
descolamento dos signos em relação à materialidade dos produtos.
Vimos
que essa operação de “descolamento” é necessária por duas exigências econômicas
bem concretas:
(a)
Acompanhando o raciocínio dos teóricos da chamada Crítica da Estética da Mercadoria (Peter Haug, Michael Schneider),
percebemos que todas as estratégias do Capital em maximizar lucros se chocam no
limite físico do valor de uso das mercadorias: sua materialidade e finitude
pode limitar o consumo no tempo e espaço (satisfação, saciedade, durabilidade
etc.), diminuindo a velocidade da substituição dos produtos no mercado. Por
isso, historicamente o grande papel da Publicidade foi convencer o consumidor a
comprar o produto não pela sua utilidade,
mas pela inutilidade. Isto é,
associar o produto simbolicamente a um tipo de signo que torna-se cada vez mais
abstrato.
quinta-feira, setembro 25, 2014
Filme "O Fantasma do Paraíso" e o "cinema da meia-noite" dos anos 1970
quinta-feira, setembro 25, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Uma época em que o cinema era menos auto-indulgente e jovens diretores
tinham acesso a altos orçamentos para realizar os projetos mais bizarros. Foi
nos anos 1970, na onda de um subgênero chamado de “cinema da meia-noite” onde
cinéfilos aventureiros embalados com muita maconha frequentavam cinemas nas
madrugadas, assistindo a filmes que foram imediatamente cultuados. Foi o caso
de “O Fantasma do Paraíso” (1974) de Brian De Palma, em uma ousada paródia em que
funde os clássicos “Fausto” com “O Fantasma da Ópera” e o glam rock e o hard
rock da época. Nesse subgênero começou também o revival de muitos temas
mitológicos gnósticos, como nesse filme: o mito do Demiurgo ressurgindo como um
cruel produtor musical que se apossa definitivamente da alma de seus artistas
por meio de pactos de sangue.
Antes de toda onda do gnosticismo
pop que esse blog detectou a partir do filme Dead Man (1995) de Jim Jarmusch e cujo ápice de popularidade foi
inegavelmente Matrix (1999), os temas
gnósticos eram explorados em filmes cults ou autorais. Filmes ainda sem
pretensão de popularidade e restrito a pequenos grupos de cinéfilos com gostos
bem particulares.
É o caso do filme de Brian de
Palma O Fantasma do Paraíso, um filme
produzido deliberadamente para ser um sucesso cult, para um nicho de público
que nos anos 1970 era chamado de “cinema da meia-noite”: filmes com temática
livremente estranha e bizarra que eram exibidos em horários alternativos das
madrugadas, para espectadores aventureiros e sedentos por experimentações. Uma época em que a indústria do entretenimento
permitia que jovens diretores fizessem todo tipo de filme.
sábado, setembro 20, 2014
Sílvio Santos anteviu Patrícia Poeta e o Infotenimento
sábado, setembro 20, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Quando revelou que ia sair da bancada do Jornal Nacional (acendendo as mais diversas teorias conspiratórias), Patrícia Poeta disse que preparava um “projeto de programa de entretenimento” e afirmou “ter se preparado a vida inteira para isso”. Se isso for verdade, é a repetição de um fenômeno que vai da apresentadora Daniela Albuquerque (que descobriu a profissão de jornalismo em uma caixa de toddinho) ao jornalista esportivo Tiago Leifert escalado para apresentar o reality show musical da TV Globo “The Voice Brasil” – confirmando a profética iniciativa de Silvio Santos quando colocou a jornalista Lilian Witte Fibe no júri do “Show de Calouros” em 1991. É o infotenimento, fenômeno no passado restrito ao mundo das “notícias diversas”(notícias insólitas e inexplicáveis), mas hoje recorrente quando jornalistas egressos das “hard news” decidem partir para projetos de entretenimento. Mais que exceções, parecem revelar secretas conexões que sempre existiram entre notícia e entretenimento.
Três parábolas televisivas:
(a) Em 1991 a jornalista
Lilian Witte Fibe foi contratada por Silvio Santos para comandar o Jornal do
SBT. Logo depois, a jornalista foi convocada pela dono da emissora para fazer
uma participação especial no Show de Calouros, quadro do programa das tardes de
domingo de Silvio Santos, ao lado de figuras como Pedro de Lara e Elke
Maravilha. Contrariando o princípio da época da credibilidade do jornalismo,
Silvio coloca a apresentadora do principal telejornal da emissora em um
programa de auditório ao lado das figuras mais caricatas da TV brasileira ;
(b) No início dos anos 2000
é lançado em Toronto, Canadá, o Naked
News. Apresentado pela Internet e TV a cabo, é um telejornal apresentado
ainda hoje onde as apresentadoras fazem strip-tease enquanto leem as notícias.
Com o slogan “um programa que não tem nada a esconder”, faz um irônico
trocadilho com o suposto ideal do jornalismo por “transparência” e de querer apresentar “a realidade nua e
crua”.
quarta-feira, setembro 17, 2014
A Química transforma-se em Alquimia na série "Breaking Bad"
quarta-feira, setembro 17, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Após cinco temporadas, a premiada série televisiva de dramas, crimes e thriller “Breaking Bad” (2008-2013) ingressou na lista de filmes de diversos gêneros que exploram simbologias alquímicas de transformação como “Blue Velvet” de David Lynch ou “Beleza Americana” de Sam Mendes. Narrativas que exploram as possibilidades de transformações íntimas em nossas vidas através de elementos que tradicionalmente tomamos como negativos: caos, trevas e morte. Um professor de Química confronta a morte, o câncer e um vida fracassada por meio de uma jornada radical de redenção no submundo do narcotráfico. A metanfetamina azul se transforma na série em simbologia alquímica ao mesmo tempo de redenção espiritual e destruição de um mundo de aparências. Por isso, “Breaking Bad” também foi um “experimento sociológico”, segundo seu criador Vince Gilligan.
sábado, setembro 13, 2014
Professora da PUC aponta suposto perigo subliminar das ciclofaixas em SP
sábado, setembro 13, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A professora da PUC/SP e uma das principais especialistas em Semiótica
no Brasil, Lucia Santaella, alertou em rede social que as ciclofaixas pintadas
de vermelho em São Paulo são “uma descarada propaganda vermelha do PT,
provavelmente encomendadas do diabo em pessoa” e recomenda que prefeito e
assessores leiam sobre Semiótica para descobrirem o quanto essa diabólica cor
afeta o sistema nervoso central dos incautos cidadãos. Curiosa semiose seletiva
da eminente pesquisadora e da grande mídia: quando bicicletas são da cor
laranja com o logo de um conhecido banco chama-se “projeto de
sustentabilidade”; mas quando ciclofaixas são pintadas de vermelho pelo poder
público viram demoníacas propagandas políticas subliminares. Mas a discussão
sobre cores, Semiótica e Neurociência pode ser um mero sintoma de algo mais
profundo: a zona cinza do conservadorismo.
Cuidado,
incauto leitor. Você talvez não tenha percebido, mas está em andamento nesse
exato momento uma sórdida estratégia de espalhar mensagens subliminares pelas
ruas de São Paulo: estranhas faixas vermelhas, supostamente ciclofaixas, seriam
na verdade uma estratégia subliminar para furtivamente direcionar a intenção de
voto dos cidadãos para o partido do maquiavélico prefeito da cidade, o PT.
Em seu perfil no Facebook a professora Lucia Santaella (titular do Programas de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica e Tecnologias da Inteligência da PUCSP e autora de diversos livros adotados em inúmeras faculdades de comunicação pelo Brasil afora) acusou que “essas faixas não passam da mais descarada propaganda vermelha do PT”.
Em seu perfil no Facebook a professora Lucia Santaella (titular do Programas de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica e Tecnologias da Inteligência da PUCSP e autora de diversos livros adotados em inúmeras faculdades de comunicação pelo Brasil afora) acusou que “essas faixas não passam da mais descarada propaganda vermelha do PT”.
quinta-feira, setembro 11, 2014
Freud explica: encha o estômago antes de comprar
quinta-feira, setembro 11, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Por que as pessoas quando olham para vitrines das lojas em shopping centers
passam a língua ou mordem os lábios, ficam de boca aberta e roem unhas? Por
que os comerciais de produtos de limpeza domésticos como sabão em pó ou
desinfetantes utilizam tantas hipérboles como mostrar a sujeira como
monstrinhos que se escondem na trama dos tecidos ou nos vasos sanitários? Por
que ao lado de cada Ferrari ou Masserati em feiras de automóveis estão sempre
lindas e atraentes modelos? Por que precisamos encher o estômago antes de comprar para evitar o consumo impulsivo? Durante o quarto encontro do
curso “A Linguagem das Mercadorias” na Universidade Anhembi Morumbi (UAM),
ministrado por esse humilde blogueiro, as discussões mergulharam no universo
das técnicas psicanalíticas aplicadas pelo Marketing e Publicidade.
Dentro do Módulo 2 da pós em
Comunicação e Semiótica da UAM, nessa última segunda-feira demos continuidade
ao curso “A Linguagem das Mercadorias” que objetiva apresentar e discutir as
diversas mutações que a forma-mercadoria assume na sociedade de consumo. Pressionada
pelas constantes mudanças das necessidades mercadológicas, vimos que a
mercadoria deve se transformar em signo (abandonar a materialidade do “aqui
está o produto, agora compre-o!) para assumir sucessivas mutações como o
signo-fetiche, o signo-afeto, o signo-desejo, o signo-dádiva etc.
Isso significa que a
mercadoria deve cada vez mais ocultar a sua operação econômico-comercial
(compra, troca e consumo) para se transformar em signos de experiências,
narrativas pessoais, fantasias e desejos. Nesse quarto encontro do curso
acompanhamos os mecanismos de transformação da mercadoria em signo-desejo e
signo-dádiva mergulhando no universo da psicanálise do consumo.
sábado, setembro 06, 2014
Morpheus retorna, mas sem as pílulas vermelha e azul no filme "The Signal"
sábado, setembro 06, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Premiado nesse ano no festival Sundance de
filmes independentes, “The Signal” (2014) escrito e dirigido por William Eubank
faz um instigante mix entre a atual onda de insegurança com a fauna digital que
habita nossos pesadelos cibernéticos (hackers, worms, bugs, vírus etc.), agência
governamentais de espionagem eletrônica e a mitologia gnóstica e platônica de
que toda a tecnologia computacional na verdade seria uma gigantesca caverna
digital em que viveríamos ignorando a verdadeira natureza da realidade.
Laurence Fishburne parece reviver o mítico personagem Morpheus da trilogia
“Matrix”, porém sem as pílulas vermelha e azul com as quais oferecia uma
oportunidade de escolha. Em “The Signal”, a Verdade será empurrada goela abaixo
dos espectadores.Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
Computadores,
Internet e todo o mundo dos bytes sempre exerceu sobre seus usuários um misto
de fascínio e mistério. Nós, usuários de redes sociais e aplicativos, lidamos
muito mais com efeitos de conhecimento do que propriamente com o conhecimento
em si: lidamos apenas com interfaces gráficas, sem compreender o intrincado
mundo dos códigos fontes, algoritmos e das complexas linhas de programação que
faz tudo funcionar. Então, quem os cria (uma fechada casta de nerds, geeks, hackers etc.), passam a
ser cercados por uma aura de lendas e mitos. E suas empresas e start ups
carregados de uma visão mágica de sucessos instantâneos supostamente iniciados
por simples ideias.
E por sermos meros usuários de um conhecimento
que nos chega encapsulado, sem termos acesso à compreensão de como funcionam
hardwares e softwares, somos tomados periodicamente pela paranoia: malwares, vírus, bugs, phishing, cavalos
de troia, worms e toda fauna digital
que habita em nossos pesadelos.
Por
isso, também periodicamente o cinema expressa essa sensibilidade social em
relação a essas novas tecnologias. O filme independente de ficção científica The Signal (2014), premiado nesse ano no
Sundance Film Festival de cinema independente nos EUA, é mais um produto
fílmico que expressa essa sensibilidade ambígua em relação ao mundo digital – a
história de uma sinistra realidade por trás de um misterioso hacker.
quinta-feira, setembro 04, 2014
Curso discute o afeto no consumo e no marketing político
quinta-feira, setembro 04, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Através da linguagem das mercadorias a grande mídia e a sociedade de
consumo conseguem produzir efeitos ideológicos através de meios não
ideológicos: a captura dos nossos afetos, uma dimensão pré-cognitiva e corporal
que é cooptada por uma cadeia semiótica para produzir emoções e decisões de
consumo e políticas. Esse foi o tema de mais um encontro do curso “A Linguagem
das Mercadorias”, ministrado por esse humilde blogueiro, na pós em Comunicação e Semiótica da Universidade Anhembi
Morumbi. Afastando a confusão que normalmente fazemos entre as noções de afeto,
sentimento e emoção, as discussões revelaram a ainda pouca estudada dimensão
dos fenômenos da percepção: como o mundo e principalmente as mídias nos afetam não só mentalmente mas, principalmente, fisicamente e como essas
sensações podem ser instrumentalizadas.
Dando
continuidade ao curso “A Linguagem das Mercadorias” na pós em Comunicação em
Semiótica da Universidade Anhembi Morumbi, nesse segunda-feira aprofundamos a
noção de “signo-afeto” – na aula anterior discutimos o conceito de
“signo-fetiche” presente tanto em Marx como em Freud e as suas aplicações na
sociedade de consumo contemporânea – sobre esse tema clique
aqui.
O
principal objeto das discussões foi apresentar como as estratégias semióticas
da linguagem das mercadorias consegue capturar nossos afetos para direciona-los
através de construções simbólicas que suscitem emoções e pensamentos
previamente indexados nas imagens publicitárias.
Afastando a
confusão que normalmente fazemos entre as noções de afeto e emoção, tomamos o
conceito de afeto como afecção, isto é, a materialidade da
sensação, a concreticidade da experiência – nosso percepção e o corpo são
constantemente afetados por sensações e intensidades como cores, sons, cheiros,
texturas, tonalidades, timbres etc., que nos sinalizam para a existência de
alguma coisa, evento ou realidade e que, posteriormente, os simbolizamos em
emoções ou pensamentos – a chamada “cadeia semiótica” ou cognição.
domingo, agosto 31, 2014
Marina e as novas bombas semióticas do "Sim!" e do "Storytelling"
domingo, agosto 31, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O trágico mergulho fatal do Cessna Citation em Santos não só mudou o
cenário eleitoral como modernizou o arsenal de bombas semióticas midiáticas. No
momento em que a grande mídia esgotava sua estratégia semiótica ainda
condicionada pela Guerra Fria (criar a percepção de caos e pré-insurreição ao
anabolizar as manifestações de rua), eis que surge Marina Silva com o mix de
ambientalismo, fundamentalismo religioso e neoliberalismo potencializado por
duas poderosas bombas semióticas saídas diretamente do atual kit linguístico de
manipulação do mundo corporativo globalizado: a bomba do “Sim!” e a bomba
neuromarketing do “Storytelling”. O problema para os marqueteiros é que Marina
Silva não é um candidato à venda, mas uma narrativa sincromística oferecida
para pessoas sedentas por histórias que seduzem mais do que os dados frios e
duros da realidade.
Quem
não se lembra do personagem Church Lady feito pelo comediante Dana Carvey no
quadro chamado Church Chat no programa Saturday Night Live de 1986-1990? Sempre
preocupada com as conspirações de Satã nesse mundo, Church Lady sempre soltava
um bordão irônico ao perceber satânicas coincidências: “How con-VEEN-ient!”
("Tão conveniente!").
É
difícil não perceber a extrema feliz coincidência e conveniência no trágico
acidente aéreo de Santos que vitimou o candidato à presidência Eduardo Campos:
foi um divisor de águas no cenário eleitoral, substitui um combalido Aécio
Neves pelo fator novidade de Marina Silva e, principalmente, renovou de uma
hora para outra o arsenal de bombas semióticas justamente a poucos meses das
eleições. Exatamente num momento em que se iniciava a propaganda eleitoral na
TV com a candidata à reeleição ocupando a maior fatia de tempo para mostrar
suas realizações.
sábado, agosto 30, 2014
Em Observação: "9 - A Salvação" (2009) - A vida gnóstica dos bonecos
sábado, agosto 30, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Ao lado animações sombriamente lindas como “Coraline” (2009) e “A Noiva
Cadáver” (2005), “9 – A salvação” de Shane Acker, baseado em um curta indicado
ao Oscar de animação em 2005, é outro exemplar que nos oferece uma alternativa
ao estilo do estúdio Pixar da Walt Disney. O seu estilo obsessivamente
detalhista que os fãs chamam de “stitchpunk” dá um sentido visual à clássica
mitologia gnóstica onde máquinas auto-replicantes tornam-se Demiurgos que
dominam um planeta arrasado, auxiliados por bestas metálicas que perseguem
pequenos bonecos de pano que ganham vida e se descobrem prisioneiros naqueles
cosmos hostil. A animação também é mais um exemplo de como o cinema explora os
antigos simbolismo que envolvem fantoches, bonecos e autômatos.
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