sexta-feira, setembro 08, 2023

Uma invasão alienígena ambígua e fora do tempo no filme 'Sob a Pele'


O filme “Sob a Pele” foi lançado em 2013, mas tem o sabor dos filmes sci-fi cult dos anos 1970: intensidade visual subjetiva, montagens dissociativas e estranhos efeitos sonoros. Estamos aqui no velho tema da invasão alienígena. Porém, narrado de uma forma ambígua: um alien travestido de mulher sexy e misteriosa vaga pelas ruas de Glasgow, Escócia, dirigindo uma van e atraindo homens para o que parece ser uma dança de acasalamento fatal. O que está acontecendo? Qual é o plano? A vanguarda de um plano de invasão alienígena? Ou algum tipo de turismo sexual intergaláctico? Como nos informa o título, o filme explora a dualidade entre o interior e o exterior do ser. E, como superfície, a pele é a grande metáfora.

quinta-feira, setembro 07, 2023

Em 'CEO em Fuga: A História de Carlos Ghosn' o mundo corporativo parece uma seita


Gênios e gurus do mundo corporativo vão e vem a cada estação, sempre com um sistema messiânico que promete novos “valores” e “visões” para o sucesso. E o início desse século teve o seu: o libanês-brasileiro Carlos Ghosn, que salvou Renault e Nissan da falência. Muito bem pago e intocável teve ascensão meteórica na escada corporativa, baseada em abordagem de gestão multiculturalista. Mas, no chão de fábrica, a receita é a de sempre: corte de custo e demissões em massa. O documentário Netflix “CEO em Fuga: A História de Carlos Ghosn” (2022) descreve como essa ascensão terminou numa fuga cinematográfica do Japão após ser preso em um escândalo financeiro: dentro de uma caixa de instrumentos musicais, direto para o aeroporto. “CEO em Fuga” revela como o mundo corporativo está cada vez mais parecido com uma seita.

terça-feira, setembro 05, 2023

Mídia contra-ataca 'pibão' de Lula, dissonâncias cognitivas e envenenamento semiótico do Sete de Setembro


Cadê as imagens da missão impossível do Hacker de Araraquara? Quem sabe, em alguma edição dos contos dos Irmãos Grimm... que deveria ser lido nas faculdades de jornalismo... Isso e muito mais será discutido na Live Extra Cinegnose 360 #17, nessa quarta-feira (06/09), às 18h, no YouTube e Facebook. Depois de mais trepidantes Comentários Aleatórios, a Crítica Midiática do meio da semana: HOW CONVEEEENIENT! CPI não encontra imagens do hacker no Ministério da Defesa: é dissonância cognitiva! Operação Escudo no Guarujá matou mais do que o ciclone no Rio Grande do Sul; Por que Gregório Duvivier está tão interessado pela próxima indicação de Lula ao STF? Educação explosiva em SP: PowerPoint + dissonância cognitiva; Pibão do Lula? Jornalismo econômico contra-ataca! Por que Dilma Rousseff incomoda tanto a grande mídia? Os perigos do envenenamento semiótico do Sete de Setembro. E muito mais!

sábado, setembro 02, 2023

Tears for Fears: do Mod ao Pop; SP educa o precariado; o escossistema do 'agrojornalismo' dos depoimentos na PF


AVANTE SÃO PAULO!!! A vanguarda educacional mundial do precariado! Vamos homenagear os visionários e incompreendidos gestores Tarcisão e Feder na Live Cinegnose 360 #123, nesse domingo (03/09), às 18h, no YouTube e Facebook. Vamos começar com Tears for Fears: da subcultura Mod ao Grito Primal e o Pop. E depois dos Comentários Aleatórios, discutiremos o filme taiwanês “The Sadness” (a mitologia zumbi ressignificada) e a tragicomédia italiana “Tempos Super Modernos” (descendo no inferno da precarização). Na sessão dos livros do humilde blogueiro, cinema, catástrofe e Gnosticismo. E na Crítica Midiática da Semana: o ecossistema do “agrojornalismo” dos depoimentos na PF de Mauro Cid e Cia; PF e Partido Militar alopram cenário político: estratégia Nem-Nem ou PsyOp da anti-política?  CPI do 08/01: um flagrante do papel dos aloprados de extrema-direita no telecatch; São Paulo: educando o precariado para a dissonância cognitiva; Por que Dilma Rousseff incomoda tanto o jornalismo corporativo? E muito mais nesse domingo! 

sexta-feira, setembro 01, 2023

Descida ao inferno tragicômico da precarização em 'Tempos Super Modernos'


As engrenagens de uma máquina industrial engolindo Chaplin em “Tempos Modernos” foi o ícone do velho capitalismo industrial. E qual seria o melhor ícone que representaria o atual capitalismo de plataforma que “liberta” o trabalhador da linha de montagem para ser precarizado? Uma boa contribuição é dada pelo personagem Arturo, com sua bike, mochila e smartphone na comédia dramática italiana “Tempos Super Modernos” (“E noi come stronzi rimanemmo a guardare”, 2021). Acompanhamos a tragicômica saga do protagonista pelo inferno da precarização, depois de ter sido demitido pelo próprio algoritmo que criou. 

quinta-feira, agosto 31, 2023

'The Sadness': zumbis e humanos entre a civilização e a barbárie


No cinema a mitologia zumbi passou por várias transformações: escravos de fazendeiros, símbolos do racismo, representação sanitária e viral do Mal etc. Mas seja qual for o roteiro, há um prazer catártico nesse subgênero: o prazer dos sobreviventes por poderem matarem zumbis como num jogo de tiro ao alvo. Afinal, eles são trôpegos e idiotas. Mas a produção taiwanesa “The Sadness” (Ku bei, 2021) inverte totalmente isso: dessa vez o prazer catártico é dos mortos-vivos. Uma praga viral toma conta da capital Taipé tornando os infectados monstros amorais que matam e estupram com um sorriso sádico no rosto. Como em todos os filmes sobre zumbis, “The Sadness” reflete a crise social ou econômica do momento (no caso, a pandemia global) e a própria condição humana, no limite entre civilização e barbárie.

terça-feira, agosto 29, 2023

Nessa quarta: Celulares, offshore, o ardil midiático do coração do Faustão, Lula e as estratégias semióticas irônicas


Com o humilde blogueiro preocupado com possíveis taxações do seu rico dinheirinho do jogo “Banco Imobiliário”, acontece a Live Extra Cinegnose 360 #16 nessa quarta-feira, 18h, no YouTube e Facebook. Depois dos Comentários Aleatórios, a Crítica Midiática do meio da semana: o Telecatch dos celulares: como suspeitos produzem propositalmente provas contra si mesmos; a manipulação semiótica da taxação dos Fundos e Offshore; Bolsonaro será preso: é o silogismo da estratégia “Nem-Nem”; O coração de Fausto Silva: o ardil semântico da mídia quando confunde “fila” com “lista”; Macron também quer a Amazônia: é a chantagem climática, estúpido! Lula indica uma mulher ao STJ: estratégia semiótica irônica? Guerrilha semiótica: como a esquerda pode testar limites da grande mídia? E muito mais, nessa quarta-feira.  

sábado, agosto 26, 2023

Duran Duran; Mídia não viu BRICS na Lua; martirização calculada de Trump e Bolsonaro; Zanin e as estratégias irônicas


É acreditando no Papai-Noel, no coelhinho da Páscoa e nas FFAA legalistas garantidoras da nossa democracia que acontece nesse domingo (27/08) a Live Cinegnose 360 #122, às 18h, no YouTube e Facebook. Começando com Duran Duran: da subcultura New Romantics ao Pop. Depois, dois filmes: “Corner Office” (a distopia da cultura corporativa) e a comédia argentina “Matrimilhas” (a cultura dos aplicativos e a invasão das métricas na vida privada). Na Sessão dos Livros, o humilde blogueiro fala também de um livro seu. E na Crítica Midiática da Semana: jornalismo corporativo – má-fé ou ingenuidade geopolítica? CPI e o acordão para livrar cúpula militar; Quem NÃO matou Prigozhin? Grande mídia não viu os BRICS na Lua; a martirização calculada de Bolsonaro e o “mugshot” de Trump; Caso Zanin mostra que esquerda precisa usar estratégias políticas irônicas. Isso e muito mais nesse domingo! 

Amor, cultura dos aplicativos e milhagens no filme 'Matrimilhas'


Dos cálculos das milhagens do cartão de crédito à cultura dos aplicativos, cada vez mais as métricas estão tomando conta não só da vida pública. Também da privada, como, por exemplo, nos aplicativos de relacionamentos. A comédia argentina da Netflix “Matrimilhas” (Matrimillas, 2022) leva essa tendência às últimas consequências quando um casal tenta salvar o seu casamento em crise. A solução para reacender a chama do relacionamento só poderia ser encontrada em três elementos que compõe o imaginário da classe média atual: a cultura dos aplicativos, as milhagens do cartão de crédito e o negócio das criptomoedas – um App que promete esquentar o amor entre casais através do acúmulo de milhagens na medida em que cada uma satisfaça o parceiro. Através dos algoritmos, o amor se transforma num game interesseiro.

sexta-feira, agosto 25, 2023

A atmosfera distópica da cultura corporativa no filme 'Corner Office'


A frieza dos ambientes corporativos é um tema bem explorado pelo cinema em diversos gêneros: da comédia em “The Office” ao sci-fi opressivo da série “Ruptura” - ambientes com atmosfera distópica, estéril, labirínticos e cinzentos. Organizações burocráticas modernas tão autocentradas que parecem ter esquecido o seu propósito: é mais importante reproduzir o status quo do que permitir qualquer inovação que, remotamente, possa desafiar a hierarquia . “Corner Office” (2022) é uma comédia sombria sobre o novo funcionário que chega otimista uma organização, para descobrir a hipocrisia da cultura corporativa: a ilusão de que somos livres para pensar fora da caixa. Lá descobre que penas em um lugar poderá ser criativo e independente: em uma misteriosa sala atrás de uma porta que só ele consegue enxergar. O problema é que uma organização não pode tolerar uma atitude tão disruptiva. 

quarta-feira, agosto 23, 2023

Comunicação 'alt-right' cria dissonâncias cognitivas para aloprar cenário político


O escândalo das joias das arábias. Um militar ajudante de ordens operador financeiro e vendedor de muambas, além de não saber deletar arquivos do celular. Um hacker contratado para um trabalho inútil: hackear urnas eletrônicas sem ligação com Internet. O presidente que atiça o golpe com empresários no WhatsApp. Bem-vindos ao primeiro golpe de Estado anunciado à luz do dia na História! O “gênio” da comunicação alt-right é “aloprar” o cenário político. Criar uma profusão de acontecimentos, reviravoltas, desmentidos, vazamentos, delações, “caneladas”. Em síntese, criar uma atmosfera de dissonância cognitiva. Acelerar o tempo político para coincidir com o tempo midiático da velocidade e instantaneidade com não-acontecimentos que simulam suposta tentativa de golpe para criar dissonâncias cognitivas e ocultar o verdadeiro golpe militar híbrido que já aconteceu. Esconder os rastros das FFAA e fazer a esquerda reagir com o fígado.

terça-feira, agosto 22, 2023

Live Extra: Brasil em transe com não-acontecimentos; viralatismo geopolítico midiático e guerrilha antimídia


Entre a fervura climática global e a fervura dos não-acontecimentos de Brasília, acontece mais uma Live Extra Cinegnose 360 #15, nessa quarta-feira (23/08), 18h, no YouTube. Depois de mais uma trepidante sessão dos Comentários Aleatórios, a Crítica Midiática do meio da semana:  Brasil em transe: os vazamentos, denúncias e áudios do primeiro golpe de Estado anunciado da História; A estratégia semiótica “nem-nem”: PL já estuda como transformar Bolsonaro em mártir; Mídia OTAN começa a admitir: Putin já tinha ganhado a guerra desde o início; Ingenuidade ou má-fé? Flagrante de viralatismo geopolítico do jornalismo corporativo na análise das eleições no Equador; uma brainstorming sobre guerrilha antimídia para a esquerda. 

sábado, agosto 19, 2023

Banda R.E.M.; os pequenos escroques e a comunicação alt-right militar; como Milei conquista imaginário argentino


Bolsonaro vai ser preso hoje? Amanhã? E o Cid? Vai delatar? Qual será o próximo round desse telecatch? Porém a única certeza é que nesse domingo (20/08), às 18h, no YouTube, acontece a Live Cinegnose 360 #121. Que vai começar com a banda R.E.M.: o efeito zapping e o fim do mundo. Depois, vamos discutir o filme clássico “Um Dia, um Gato” (a simbologia política e esotérica dos gatos) e a minissérie “Império da Dor” (toxicomania de minorias versus toxicomania de massas). Na sessão dos livros do humilde blogueiro: jornalismo e gnosticismo. E na Crítica Midiática da Semana: a urgência climática e a presunção midiática da catástrofe; Pseudo-eventos, não-acontecimentos e eventos-encenação: como os pequenos escroques moldam a comunicação alt-right-militar; a simulação midiática do conflito Haddad-Lira; Como Javier Milei está conquistando o imaginário argentino. É tudo nesse domingo! 

Toxicomania de minorias versus toxicomania de massas na minissérie 'Império da Dor'


A pior crise de saúde pública nos EUA, entre e epidemia da AIDS e a pandemia do coronavírus. Uma epidemia de opioides iniciada com o lançamento do analgésico OxyContin, em 1995, fabricado pela Purdue Pharma, que matou 500 mil pessoas nas duas últimas décadas. Como a família Sackler descobriu a pedra filosofal da Big Pharma: o ciclo vicioso da dor e prazer com uma simples pílula. Esse é o tema da minissérie Netflix “Império da Dor” (2023) que explicita toda a hipocrisia por trás do debate em torno das drogas: o diferente tratamento dado à toxicomania de minorias e a toxicomania de massas. A primeira, criminalizada e alvo de toda a condenação moral pelas mídias. E a segunda, a criação legalizada da dependência química em massa sob aprovação das agências federais que executam uma inversão mercadológica: primeiro inventa-se a droga, depois a doença.

quinta-feira, agosto 17, 2023

A simbologia esotérica e política dos gatos em 'Um Dia, um Gato'


Um clássico cult da República Tcheca que consegue convergir crítica política, entretenimento e simbologia esotérica. Graças à presença disruptiva de um gato com óculos escuros. Esse é o filme “Um Dia, um Gato” (Az Pridje Kocour, 1963 aka When the Cat Comes eThe Cassandra Cat), um conto de fantasia satírica e colorida do diretor Vojtech Jasný. Da simbologia crepuscular dos gatos à crítica política de um país sob a dominação soviética, “Um Dia, um Gato” transforma esse felino no veículo através do qual se revela a hipocrisia dos sistemas autoritários. Uma trupe circense chega a uma pequena cidade com um curioso gato usando óculos escuros. Mas, se retirá-los, o seu olhar confrontará os humanos, revelando, através das cores, a verdade, a desordem e o caos.

terça-feira, agosto 15, 2023

Live Extra: o apagão da luz e midiático; Império ataca: Milei é normalizado pelo Ocidente... e mídia brasileira obedece


Com luz ou sem luz, vai rolar a Live Extra Cinegnose 360 #14, nessa quarta-feira (16/08), às 18h, no YouTube. Depois do olhar 360 graus dos Comentários Aleatórios, a Crítica Midiática do Meio da Semana: Apagão no sistema elétrico privatizado – a mercadista Miriam Leitão gagueja em choque (desculpem o trocadilho) enquanto ao vivo “colonistas” tentam criar uma narrativa; o império contra-ataca: depois de Boric no Chile e Petro na Colômbia, agora a ascensão de Javier Milei na Argentina; Vitória de Milei nas Primárias e a questão do imaginário para as esquerdas; Mídia Ocidental normaliza Milei... e mídia brasileira acompanha; Expertise de false flags do governador Tarcísio de Freitas? – o que a PF fazia em comunidade no Guarujá? Folha sacrifica imagem “limpa” da energia eólica só para atacar Lula; o dilema midiático da eventual prisão de Bolsonaro; PT vai votar a favor da PEC da Globo?


sábado, agosto 12, 2023

O dadaísmo sônico do 'Cabaret Voltaire'; afinal: militares querem dar golpe ou vender muamba? A esquerda e o imaginário


O que querem os militares? Dar o golpe ou vender muamba? E com essa dúvida atroz que abriremos a Live Cinegnose 360 #120, nesse domingo (13/08), às 18h, no YouTube. Que começa com o dadaísmo sônico do “Cabaret Voltaire”: por que o rock abraçou a música eletrônica? Em seguida, vamos discutir dois filmes: “Paraíso” (agenda tecnognóstica e luta de classes) e “Cosmodrama” (a metafísica vai ao espaço). Na sessão dos livros do humilde blogueiro, Werner Heisenberg faz Filosofia e a morte da Verdade. E na Crítica Midiática da Semana, duas perguntas: Por que a esquerda precisa criar um novo imaginário? Para quê lançar o PAC se o Dias dos Pais vai salvar o Brasil? Equador e o Narcocapitalismo. O sistema operacional do Partido Militar em ação: joias, fusíveis queimados e Rolex. Filme “Entrevista com o Vampiro” nos ensina o modus operandi da “direita alternativa”. O aplicativo fantasma: em São Paulo, o estudante é o produto.

sexta-feira, agosto 11, 2023

A esquerda precisa construir um novo imaginário


Desde que os nazistas e fascistas chegaram ao poder na Europa com o apoio do rádio e cinema, a esquerda continua sem entender até hoje o que aconteceu. Ainda acha que as massas são enganadas pelas ideologias, manipulações e mentiras. E que a sua missão (inglória) é denunciar fake news, desmascarar farsas, na esperança de que um dia as massas caiam em si e descubram a verdade. A questão é que a ideologia não se define pela “falsa consciência”, mas pela força do imaginário. E o imaginário não é derrotado pela “razão”, “verdade” ou “Ciência”. Somente um outro imaginário pode derrotar o imaginário dominante. Depois de uma história vendo seus oponentes usando a vanguarda midiática e tecnológica para impor seu imaginário, a esquerda ainda insiste na “crítica ideológica”. Sua única chance será criar um outro imaginário, muito diferente do atual, auto descritivo: o imaginário da “luta e resistência”.

quinta-feira, agosto 10, 2023

Em 'Paraíso' a agenda tecnognóstica se encontra com a luta de classes


Tempo é dinheiro. Essa frase deixou de ser um mero provérbio motivacional para contos sobre empreendedorismo. Realizou-se na própria literalidade na financeirização: tempo é monetizado através dos juros e especulações no mercado financeiro. Mas e se o próprio tempo de vida de todos nós for monetizado e se transformar em bem para garantia em transações financeiras? Esse é o ponto de partida da produção Netflix alemã “Paraíso” (2023), trazendo a agenda tecnognóstica (a imortalidade através da tecnociência) para o campo da luta de classes. uma gigante farmacêutica descobriu uma maneira de reverter o processo de envelhecimento - alguém precisa sacrificar anos da sua própria vida para doá-la” ao receptor. Em troca de dinheiro, excluídos, refugiados e migrantes ilegais “doam” décadas das suas vidas, enquanto os super ricos têm a eventual imortalidade.

Dois temas interligados atravessam a produção original Netflix alemã Paraíso (2023): a busca da imortalidade pela elite da sociedade e a monetização do tempo.

Escrito por Simon Amberger, Peter Koclya e Boris Kunz (que também dirigiu), Paraíso gira em torno de uma gigante farmacêutica chamada Aeon (a referência gnóstica às entidades divinas não é casual, como veremos) que descobriu uma maneira de reverter o processo de envelhecimento. Porém, como acompanhamos na cinematografia recente, desde Parasita, nada condescendente com os super ricos, no filme a nova descoberta em manipulação genética não vem sem o elemento da luta de classes: alguém precisa sacrificar anos da sua própria vida para doá-la ao receptor – doadores e receptores precisam ter DNA correspondente.

Por exemplo, um indivíduo na casa dos 80 anos pode querer viver mais, e por uma quantia incrivelmente grande de dinheiro, poderia pedir a uma pessoa de 18 anos com um padrão genético semelhante que tivesse de 50 a 60 anos tirados de sua vida, permitindo que a pessoa de 80 anos retornasse aos 30 anos e a de 18 anos envelhecesse dramaticamente até os 70 anos dentro de alguns dias.

Mas quem se disponibilizaria a entregar para alguém os anos da própria vida? Claro, alguém que esteja desesperado, necessitando de uma soma de dinheiro que ajude a vida de seus familiares – refugiados, migrantes ilegais e excluídos da própria sociedade.

O marketing promocional da empresa fala em liberdade de escolha e livre-arbítrio: dispor parcela da própria vida em troca de dinheiro para dispor da liberdade de aproveitar o restante da existência como quiser. 



Em Paraíso, ageísmo e classismo se encontram – os ricos podem essencialmente viver para sempre se continuarem com o processo, mas são as classes subalternas que mais devem pagar o preço, sacrificando décadas das suas vidas por uma soma de dinheiro suficiente para resolver seus problemas financeiros.

Em muitos aspectos, Paradise lembra o filme de 2011, O Preço do Amanhã (In Time), no qual a imortalidade de poucos significava a mortalidade de muitos ao transformar o Tempo em moeda acumulável e estocável – o Tempo como moeda de especulação, reprodução da desigualdade e controle do crescimento populacional. 

Que a elite sempre almejou a imortalidade para perpetuar o poder, isso não é novidade. Veja o exemplo das pirâmides, nas quais faraós eram mumificados junto com seus bens e riquezas almejando a vida eterna. 

A diferença é que se no passado a imortalidade era buscada pelas vias metafísicas ou religiosas, hoje, através da tecnociência (manipulação genética, neociências, nanotecnologias e ciências computacionais), vislumbra-se a possibilidade da imortalidade ainda nesse mundo. Como, por exemplo, a agenda tecnognóstica do Vale do Silício: digitalizar a consciência e fazer um upload final para o céu da informação, superando as limitações da corporalidade – finitude, temporalidade e senso de fragilidade corporal.

Mas tudo isso confirma a máxima do Capitalismo: Tempo é dinheiro. Principalmente nesse momento da financeirização do Capitalismo – o controle do tempo através da velocidade em tempo real da manipulação de títulos, ações, fundos de investimentos, pregões das bolsas de valores conectadas em tempo real através do planeta. A produções de riqueza especulativa através da manipulação do tempo em si mesmo.



Como didaticamente o filme Os Imorais (The Grifters, 1990) nos explica como uma transferência rápida de informações entre o fechamento da Bolsa de Tóquio e a abertura da Bolsa de Nova York pode render fortunas: receber informações de Tóquio antes da Bolsa americana abrir, com uma vantagem de sete segundos, significaria ganhos milionários. 

Portanto o tema da monetização do tempo em filmes como O Preço do Amanhã e Paraíso, combinado com a utópica (ou distópica, dependendo do ponto de vista de classe social) imortalidade da classe dominante é um reflexo do atual espírito do tempo. 

O Tempo como dinheiro deixou de ser um mero provérbio motivacional para contos sobre empreendedorismo. Realizou-se na própria literalidade.

O Filme

Em Paraíso acompanhamos Max Toma, um corretor de vendas da Aeon altamente bem-sucedido, cujo trabalho é conversar com jovens pobres para que aceitem dinheiro em troca dos anos de suas vidas. 

Nas primeiras sequências encontramos Max convencendo um imigrante de 18 anos a “doar” 15 de seus anos por uma quantia fixa de 700.000 euros. Isso é dinheiro suficiente para tirar seus pais da pobreza e contratar um advogado de imigração para ajudar a garantir o visto de seu pai. Tudo isso em um miserável cenário decadente de um bairro repleto de refugiados e migrantes ilegais.

O marketing da farmacêutica Aeon é, como sempre, otimista e repleto de nobres intenções: imagine doar mais anos para gênios ganhadores de prêmios Nobel. A morte não mais interromperá suas pesquisas, revertendo suas descobertas para o benefício de toda sociedade – certamente não para os “doadores” de tempo de vida.



Apesar da aparência publicitária, o sistema criado pela Aeon é controverso e repleto de possibilidades de corrupção e potenciais abusos – há inclusive um crescente mercado negro de doação de tempo, obviamente através de máfias do Leste europeu. 

Há também um grupo terrorista chamado Adam Organisation que denuncia a imoralidade dessa reprodução da desigualdade mediante a limitação do tempo de vida dos pobres – seus militantes invadem clínicas da Aeon para matar os milionários receptores das “doações”.

No centro de tudo está Max, uma estrela em ascensão na empresa e com uma boa vida. Max não só recebeu um reconhecimento de funcionário do ano e um tapinha nas costas da CEO da AEON, Sophie Theissen, mas ele e sua esposa, Elena, acabaram de financiar um apartamento de luxo e estão tentando ter um bebê. Mas tudo desmorona quando o apartamento do casal sofre um não totalmente elucidado incêndio. O seguro deles não pagará um centavo e o banco cobrará deles a única garantia dada ao empréstimo residencial: 40 anos de vida de Elena – lembre-se, o tempo de vida tornou-se não só uma moeda como um bem que pode ser colocado como garantia em qualquer transação financeira.

Elena é levada por coerção policial e judicial à Aeon para entregar à força suas décadas de vida. Max está furioso, exigindo justiça. E a vida de sua esposa de volta. Isso imediatamente o coloca em rota de colisão com a CEO da Aeon, Sophie Theissen. Principalmente quando ele planeja sequestrá-la para reverter o processo de doação, ao descobrir que ela foi a receptora dos 40 anos de vida Elena.  Reverter o processo, obviamente, através da ajuda do mercado negro no Leste europeu.

É quando Paraíso se transforma: vira num thriller genérico de perseguição, abandonando a inteligente premissa inicial – espere tiros, explosões e loucas perseguições motorizadas na terra e asfalto.



Agenda tecnognóstica

A agenda tecnognóstica da imortalidade marcou bastante os filmes das primeiras décadas deste século, desde Vanilla Sky (2003), o pós-humano em The Machine (2013), a fábula de tecnologia e poder em Transcendence (2014) ou o pesadelo tecnognóstico na série Altered Carbon (2018).

Mas agora essa agenda parece transformada com a tendência recente do cinema infernizar a vida daquele 1% da população obscenamente rica: Parasita, O Cardápio, Glass Onion ou Triângulo da Tristeza. Das reflexões metafísicas e gnósticas sobre o pós-humano, passamos para o tema da imortalidade tecnognóstica ser colocada no campo da luta de classes.

O tema do tecnognosticismo está lá, no próprio nome da gigante farmacêutica: “Aeon”. Na tradição gnóstica simboliza simultaneamente o aspecto feminino de Deus e a alma humana, emanação divina proveniente do Pleroma para manter a conexão entre a Luz interior e esse plano fora do cosmos no qual vivemos aprisionados.

Foi um Aeon (Sophia) que foi responsável pela transição do imaterial para o material, do numenal ao sensível, causado por uma falha – uma paixão que produziu um filho (o Demiurgo, Yaldabaoth, o “filho do caos”). Sophia decai no mundo material conseguindo infundir alguma fagulha espiritual no cosmos físico produzido pelo Demiurgo. Tanto Sophia quanto a humanidade tornam-se prisioneiros desse cosmos. Embora tenha conseguido retornar ao Pleroma (o plano da plenitude espiritual e cósmica), ela observa a humanidade, tentando ajudá-la a alcançar a gnose e retornar à antiga morada, o Pleroma.

Como farsa, a empresa chama-se “Aeon”. Numa sociedade fraturada em classes, a reinterpretação dessa mitologia gnóstica pelo Capital somente pode ser através da imortalidade da elite, cuja missão é manter em funcionamento esse cosmos que aprisiona a todos.


 

Ficha Técnica

 

Título: Paradise

Diretor: Boris Kunz, Tomas Jonsgården, Indre Juskute

Roteiro:  Simon Amberger Peter Kocyla Boris Kunz

Elenco:  Lisa-Marie Koroll, Kostija Ullman, Marlene Tanzcik

Produção: Neuesuper

Distribuição: Netflix

Ano: 2023

País: Alemanha

   

 

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terça-feira, agosto 08, 2023

Live Extra: a bomba semiótica da secessão brasileira, telecatchs e a estratégia "Nem-Nem" na crítica à ozonioterapia


Os Nordestinos estão chegando! Mas cidadãos de bem como os governadores Zema e Eduardo Leite estoicamente nos unirão em torno do Mito, que o jornalismo corporativo não quer esquecer. Esses e outros temas vão ser discutidos na Live Extra Cinegnose 360 #13, nessa quarta-feira (09/08), às 18h, no YouTube. Depois dos Comentários Aleatórios, a Crítica Midiática do meio da semana: mais um capítulo da estratégia semiótica “Nem-Nem”: a crise da sanção de Lula a ozonioterapia; Brasil é o país que mais aposta em sites esportivos no mundo: o que tem a grande mídia a ver com isso? Rodando o sistema operacional das FA: os telecatchs Mauro Cid e Anderson Torres na CPI; jornalismo corporativo hipernormaliza secessão brasileira: fim dos livros didáticos nas escolas de São Paulo e fala de Zema torna-se relevante; estudante de medicina brasileiro morre na guerra na Ucrânia: jornalismo corporativo descontextualiza a notícia.  

sábado, agosto 05, 2023

Jimi Hendrix; Chacina no Guarujá: false flag Rota/PCC? Mídia não quer esquecer de Bolsonaro e se incomoda com "Gilmarpalooza"


QAP! QAP! Cinegnósticos... Jesus e meganhagem estão dominando os Aparelhos Ideológicos de Estado. Mas não precisa avisar a esquerda... ela não vai entender mesmo! Esse é o tema central da Live Cinegnose 360 #119, desse domingo (06/08), às 18h, no YouTube. Live que começa com uma questão: quem matou Jimi Hendrix? CIA? Máfia? Ou ele mesmo? Dúvidas justificadas de quando a guitarra ganhou status experimental. Depois, dois filmes: “LOLA” (o mais engenhoso filme sobre o tempo das últimas décadas) e “O Congresso Futurista” (Dez anos atrás o filme anteviu impactos da IA no cinema e audiovisual). Na sessão dos livros do humilde blogueiro: PCC e vida digital. E na Crítica Midiática da Semana: Chacina no Guarujá e “PMs de Cristo”: Aparelhos Ideológicos de Estado e porque a extrema-direita virou “revolucionária”; Mauro Cid ou como mídia não quer esquecer de Bolsonaro; O que tem a ver a delação premiada do Caso Merielle e a Lava Jato? Por que só agora o “Gilmarpalooza” incomoda os “colonistas”; Putin cerca Europa: os golpes militares anti-Ocidente na África.

Em 'LOLA' o lado prometeico e sombrio de cada progresso tecnocientífico


Desde o cultuado “Primer” (2004) não se viu um filme tão engenhoso sobre viagem no tempo quanto “LOLA” (2022). Não exatamente uma viagem no tempo, mas sobre duas irmãs que na década de 1930 inventaram um dispositivo que captava ondas de rádio vindas do futuro. Em 2021 foi encontrada a filmagem sobre a invenção e a história das irmãs que no início apenas queriam estudar o Tempo – apaixonaram-se por David Bowie e Stanley Kubrick antes mesmo deles nascerem. Mas da pior maneira possível descobriram que a tecnociência é prometeica: tal como o titã que foi acorrentado por roubar o fogo dos deuses, elas foram cegadas pelo brilho da própria invenção. Viram-se prisioneiras dos dilemas éticos e morais em conhecerem o futuro no meio da Segunda Guerra Mundial e o dispositivo do tempo virar arma contra os nazistas. No entanto, como em qualquer grande poder, há um potencial lado sombrio. 

sexta-feira, agosto 04, 2023

Operação Escudo, PMs de Cristo e fim dos livros nas escolas: a conquista política do imaginário


Três eventos simultâneos em São Paulo: a Operação Escudo na Baixada Santista vingando a morte de um policial militar (com anomalias que sugerem false flag), blindado pela grande mídia; a associação “PMs de Cristo" (vendendo bíblias com logo da PM-SP); e a abolição de livros didáticos nas escolas paulistas pelo governo do Estado – no lugar, equipamentos eletrônicos. “O Rio é o laboratório para o Brasil”, disse o interventor general Braga Netto em 2018. E agora, São Paulo é a bola da vez como laboratório de um projeto nacional do consórcio Forças Armadas/extrema-direita: a conquista do imaginário através do controle dos Aparelhos Ideológicos de Estado (AIE): Mídia, Escola e Igreja. Enquanto o governo Lula tem no neodesenvolvimentismo 2.0 (picanha e cerveja para todos) o seu único projeto ideológico, a conquista do imaginário através dos AIE no cotidiano faz a cabeça daqueles que comem picanha e bebem cerveja.

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