domingo, outubro 04, 2020

O terror interdimensional gnóstico em 'Intersect'


O tema da viagem no tempo no cinema certamente é aquele em cujo pressuposto está uma das grandes discussões da Filosofia: livre-arbítrio X determinismo, a esperança de que através da tecnologia o homem vencerá a entropia da seta do Tempo. Mas com o auxílio luxuoso do horror cósmico de HP Lovecraft, o filme “Intersect” (2020) encerra de vez essa esperança. Se a viagem do tempo moderna é quântica (múltiplas dimensões e timelines) ela se aproxima da mitologia Gnóstica dos “muitos céus” - em cada um deles, entidades malévolas chamadas “Arcontes” mantêm o homem na ilusão para aprisiona-lo no mundo material. Em “Intersect”, um grupo de jovens cientistas cria uma máquina do tempo. Para confirmar a mitologia gnóstica dos Arcontes: somos manipulados por forças invisíveis interdimensionais.

quinta-feira, outubro 01, 2020

Trump X Biden: a desconstrução pós-moderna de um debate político

Toda a desconstrução pós-moderna de Wittigenstein, Lyotard e Derrida ironicamente se transformaram em “pratical joke” nas estratégias semióticas da chamada “direita alternativa”. É o que foi mostrado ao vivo, como uma espécie de show metaliguístico de desconstrução de um debate político: o tão aguardado debate entre o republicano Donald Trump e o candidato democrata Joe Biden. Trump foi o grande “vencedor” porque a “magia do caos” é o fio condutor de uma estratégia “desconstrutivista” que vai muito além da mentira ou das “fake news” – orienta-se pelo fenômeno da pós-verdade na qual a comunicação e a linguagem foram pulverizados em jogo e performance. O caos semiótico metodicamente criado através de cinco estratégias: Comunicação Indireta, Técnica de Dissociação, Desautorização do Interlocutor, Roll Over e forçar ao limite os pontos fracos das regras.

segunda-feira, setembro 28, 2020

Bolsonaro na ONU, grande mídia e as queimadas: esquerdas devem conhecer Ernst Bloch


O filósofo alemão Ernst Bloch foi uma das influências de Theodor Adorno e da chamada “Escola de Frankfurt”: foi o primeiro pensador marxista a considerar o imaginário nos meios técnicos (rádio e cinema) explorados pela propaganda nazi-fascista no século passado. Sua “Teoria da Assincronia” mostrou como o imaginário social foi politizado pela propaganda política: os tempos latentes, arcaicos e idílicos se mantêm em camadas mais antigas nas mentes das pessoas, mantendo a contradição em relação às modernizações tecnológicas e econômicas. E a propaganda atuou nesse tempo assíncrono do imaginário. Tanto o discurso de Bolsonaro na ONU quanto a cobertura da grande mídia das queimadas no Pantanal e Amazônia exploram esse imaginário assíncrono do “ódio ao presente”, o material explosivo das bombas semióticas da extrema-direita: religião, nacionalismo etc. A esquerda precisa urgentemente conhecer Ernst Bloch: como atuar nesse espaço assíncrono do imaginário? 

sábado, setembro 26, 2020

Série 'Upload': quando as corporações irão monetizar a imortalidade?


No cinema e audiovisual, sempre as representações sobre a existência após a morte fala muito mais sobre os vivos do que sobre o Além.  Porque o espírito de cada época cria sua própria representação da morte – hoje, influenciada pela Inteligência Artificial e a possibilidade de a alma ser transcodificada em bytes para um dia, conquistarmos a imortalidade no “céu” de uma nuvem de dados. A série da Amazon Prime “Upload” (2020-) tematiza esse sonho que é na atualidade levado bem a sério pelos engenheiros das Big Techs do Vale do Silício. A série acompanha a trilha atual de diversas séries e filmes onde a imortalidade é conquistada por meio da transferência da consciência digital. À beira da morte, um programador aceita os termos de um serviço de upload da consciência para um Paraíso transformado em luxuoso resort virtual hospedado em um servidor da corporação Horizon. No pós-morte descobrirá que a imortalidade pode ser tão enlouquecedora quanto a vida entre os vivos. E como as corporações serão capazes de monetizar a mais íntima experiência humana.

quinta-feira, setembro 24, 2020

Cinegnose lança livro 'Cinema Secreto: temas gnósticos, alquímicos e quânticos no cinema, audiovisual e cultura pop'

Este editor do Cinegnose está lançando o livro: “Cinema Secreto: Temas Gnósticos, Alquímicos e Quânticos no Cinema, Audiovisual e Cultura Pop”. O livro é o resultado dos dez anos de pesquisa deste blogue em mapear as principais mitologias gnósticas presentes no cinema (o Mito do Demiurgo, o Mito da Alma Decaída, o Mito do Salvador, o Mito do Feminino Divino etc.) e a sua categorização: filmes CosmoGnósticos, TecnoGnósticos, PsicoGnósticos, AstroGnósticos e CronoGnósticos. E as implicações tanto na cultura pop quanto na Ciência que esse conjunto de filmes sugere: as conexões do Gnosticismo com as filosofias herméticas, Alquimia e Física Quântica. 

domingo, setembro 20, 2020

Curta da Semana: 'Lady Gaga: 911" - o esotérico airbag mental diante da morte


Basicamente a estética videoclipe consiste na passagem de significante a significantes (alusões, referências etc.), sem apresentar significados, criando jogo para as referências culturais presentes no repertório do espectador. Essa é a chave do sucesso da cultura pop:  a metonímia no lugar do aprofundamento de metáforas. O novo videoclipe de Lady Gaga, “911” (faixa do seu novo álbum “Chromatica”) confirma essa lógica, mas vai além ao aproximar a fórmula metonímica pop da linguagem freudiana dos sonhos e do fenômeno esotérico da “tela mental” criada no momento da morte – o “airbag” emocional criado pela mente como proteção diante do medo da morte, do mergulho no desconhecido. Dos filmes de Jodorowsky (“El Topo” e “A Montanha Sagrada”) o videoclipe pega inúmeros simbolismos cristãos, budistas, zen, magia negra, paganismo etc. E dos filmes “The Wave” e “A Passagem”, o tema do fenômeno da “tela mental” no momento da morte. Criando um final ambíguo: Lady Gaga foi ressuscitada pelos paramédicos ou está morta num limbo entre vida e morte?

sexta-feira, setembro 18, 2020

Entre a utopia e a distopia, 'O Dilema das Redes' esquece do principal dilema do Capitalismo


“O Dilema das Redes” (The Social Dilemma, 2020) chega à Netflix na trilha de uma série de produções sobre a manipulação mercadológica e política dos dados de usuários das mídias sociais, desde a controvertida vitória eleitoral de Trump em 2016. Mas traz uma novidade: entrevista os primeiros executivos de Bigtechs como Twitter, Facebook e Instagram. Envergonhados, tentam explicar como projetos tão altruístas deram tão errado, como o botão do “Curtir” que pretendia “espalhar positividade pelo mundo”. O documentário tenta apresentar o “dilema” que dá título à produção: as redes e aplicativos simultaneamente entre utopias e distopias. Porém, não consegue enxergar o principal dilema que tem a ver com própria natureza do Capitalismo: bens de interesse público (comunicação, conhecimento, informação) apropriados como produtos de interesse privado – o lucro.

quarta-feira, setembro 16, 2020

'The Boys' e 'O Dilema das Redes': esquerda precisa de hackers e 'artivistas'

Ataques massivos de hackers de extrema-direita estão derrubando lives acadêmicas com temáticas progressistas revelando o campo mais bruto da guerra semiótica: os ataques cibernéticos em uma terra de ninguém no qual hackers agem livres como as gangs no deserto distópico de “Mad Max”.  Escandalizada, a esquerda ainda crê no senso de obrigação moral a direitos universais ou republicanos, simplesmente ignorando o paradigma comunicacional da viralização. Séries ficcionais como a segunda temporada de “The Boys” (2019-) e o documentário “O Dilema das Redes” (2020) mostram com a tática de viralização leva ampla vantagem sobre as estratégias tradicionais de propaganda. Restará à esquerda lutar no mesmo campo semiótico da extrema-direita, mesmo que seja nos limites da moral e da ética. Como mostra a “violência metafórica” do “Freedom Kick” do coletivo de artistas ativistas “Indecline”: vídeos de protesto com esculturas de cabeças hiper-realistas de Putin, Trump e... Bolsonaro – chegam aos países afetados pelas suas políticas para os seus opositores jogarem futebol com elas. A esquerda precisa de harckers e "artivistas".

sábado, setembro 12, 2020

Na série 'Ares', 'O Guia Pervertido da Ideologia' de Zizek encontra-se com as sociedades secretas


O documentário “O Guia Pervertido da Ideologia” (2012), com o filósofo Slavoj Zizek, no qual mapeia uma série de filmes para explicar a natureza atual da ideologia, certamente contaria com a série holandesa “Ares” (2020-) como mais um exemplo audiovisual. Disponível na Netflix, acompanha uma jovem e ambiciosa estudante de Medicina que, apesar de não carregar um sobrenome com pedigree, é convidada a entrar numa sociedade secreta de universitários que mais parece um culto. Cujos participantes são capazes de identificar seus tataravôs na conhecida pintura de Rembrandt “Ronda Noturna”. Um terror psicológico que sintetiza a ideologia cínica que permeia todas as elites: “Eu sei muito bem o que estou fazendo, mas mesmo assim faço”. Uma sociedade secreta que gira em torno de um culto aparentemente demoníaco cujo propósito principal é a expiação do sentimento de culpa - o legado do colonialismo da história da Holanda na sua elite: uma riqueza fundada historicamente na exploração, escravidão e violência.  

quinta-feira, setembro 10, 2020

A canastrice na política: os vídeos do Porta dos Fundos, Bolsonaro e Lula

Três vídeos marcaram esse feriado da Independência. O primeiro, um vídeo da série “#Polêmicadasemana” da trupe de humor Porta dos Fundos. E depois, o pronunciamento do presidente Bolsonaro e a fala de Lula à Nação. Dois paradigmas comunicacionais opostos: o vitorioso, até aqui, da viralização (através da canastrice na política em linguagem audiovisual tosca) da direita alternativa; e do outro o paradigma da “sedução”, com vídeo profissionalmente produzido trazendo o discurso racional de um estadista. E o vídeo do Porta dos Fundos, mais um exemplo da estranheza do humor que tenta fazer a paródia da política que já faz de antemão uma paródia de si mesma. Onde as esquerdas encontrarão o alfinete para furar a bolha que separa esses dois paradigmas comunicacionais? No campo semiótico da canastrice,  meta parodiado no vídeo do Porta dos Fundos.  

segunda-feira, setembro 07, 2020

Os infinitos mundos interiores da mente em "Estou Pensando em Acabar com Tudo"


Uma estória simples e direta: Jake quer apresentar a sua namorada para seus pais. Cruzam uma noite gelada de neve em direção à fazenda dos pais em uma pequena cidade. Porém, estamos em um filme do diretor e roteirista Charlie Kaufman: nada é tão simples ou parece ser o que aparenta. O filme “Estou Pensando em Acabar com Tudo” (I’m Thinking of Ending Things, 2020), disponível na Netflix, carrega todas as obsessões temáticas e ousadias formais dos filmes anteriores de Kaufman (“Quero Ser John Malkovich”, “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças” etc.) – personagens presos nos labirintos do próprio psiquismo. Explorações sobre arrependimento, fracassos e solidão contadas através de narrativas surrealistas que parecem dobrar sobre si mesmas em infinitos mundos interiores. Por isso, muitos sentem-se “bugados” ao assistir a um filme “confuso” e “enigmático”. O “Cinegnose” explica.

sábado, setembro 05, 2020

VAR no país da Lava Jato transforma futebol em esporte quântico


“Existe Justiça no Futebol?”, pergunta o Globo Esporte depois das polêmicas envolvendo o VAR nas últimas rodadas do Campeonato Brasileiro. Diferente da Europa onde a ferramenta tecnológica é um mero assistente do árbitro no campo, aqui foi contaminada pelo paradigma do moralismo ao estilo Lava Jato: teremos que passar tudo a limpo - política, economia, esporte... tudo deverá ser regido pelos princípios da Transparência, Verdade e Justiça. Então, o VAR é o instrumento para encontrar o “quantum” da Verdade que deve estar em algum frame infinitesimal da mecânica cinemática. Ao pretender remover a suposta subjetividade de um esporte essencialmente interpretativo, a “objetividade” do VAR pode ser uma farsa. Em busca do último frame, do quantum da Verdade, o VAR transforma o futebol em um “esporte quântico”. Porém, a separação dos frames, a resolução da imagem e interferência humana no processo para determinar o instante exato do passe ou posição dos atletas envolvidos na sucessão dos quadros esquece do “Princípio da Incerteza” de Heisenberg: o olhar do observador sempre altera aquilo que é observado.

quinta-feira, setembro 03, 2020

A mercadoria notícia da grande mídia banaliza a pandemia e seus mortos


Por que, apesar de toda a extensiva cobertura midiática da pandemia, a percepção do público parece muito mais de fastio, cansaço, do que de mobilização e emergência? Parece que a pandemia foi banalizada, como se as notícias não passassem de mais do mesmo. A grande mídia se autodescreve como de “utilidade pública”: o cidadão precisaria de informações para se orientar num momento de crise sanitária. Porém, a notícia é mais um produto mercadológico com interesses privados: atrair anunciantes e proporcionar ao espectador/consumidor uma experiência positiva. Horror, indignação ou mal-estar são sensações evitadas por estratégias discursivas: abstração dos números e infográficos, “canastricização” dos mortos, as palavras “população” e “sociedade” substituindo “classes sociais” e a indignação seletiva: aglomeração nas praias não pode, ônibus e metrôs lotados sim... desde que a aglomeração esteja gerando mais-valia aos anunciantes do noticiário.  

domingo, agosto 30, 2020

Com Neuralink, Elon Musk quer privatizar a mente humana com interface bio-eletrônica


Quem assistiu ao filme “Matrix” deve lembrar de como o protagonista Neo (Keanu Reeves) aprendia lutas marciais pelo simples download de programas em sua mente. Pois essa realidade sci-fi está próxima, pelo menos para o bilionário tecnológico sul-africano Elon Musk. Depois de anunciar o envio de colonos a Marte com sua empresa SpaceX, agora através da sua nova empresa, a Neuralink, o empresário pretende fazer um “upgrade” na mente humana: criar a interface bio-eletrônica definitiva entre mente e a “nuvem” de inteligência artificial, criando o que chama de “telepatia consensual”. Por que? Para Musk, as máquinas nos ameaçarão no futuro, tornando a humanidade irrelevante. Por isso, devemos impulsionar nossas habilidades cognitivas, nos livrando da linguagem (signos, palavras, símbolos etc.) ao nos conectar diretamente nas “nuvens de bites”. Musk fez esse anúncio numa live no Youtube nessa última sexta-feira em uma demonstração com três porcos. Para quê essa chicana pseudocientífica? Depois de querer privatizar Marte, agora Musk pretende privatizar a mente e a linguagem, atraindo a atenção de gigantes como Facebook, já interessada na Neuralink.

sexta-feira, agosto 28, 2020

Quando o eletromagnetismo abriu portas para estranhos mundos no filme "A Vastidão da Noite"

Estamos no final dos anos 1950. Há algo no céu nos arredores de uma pequena cidade em uma noite em que todos estão no ginásio assistindo à uma partida de basquete. Menos dois jovens em seus empregos noturnos: ele, na estação de rádio; e ela como telefonista da central da cidade. Rádio e telefone, eletromagnetismo e eletricidade: essas duas descobertas abriram a humanidade para o mundo desconhecido micro e macro (o quântico e o cósmico): e a possibilidade de formas de comunicação com outros mundos ou dimensões. O filme “A Vastidão da Noite” (“The Vast of Night”, 2019) capta essa atmosfera misteriosa que cercou o eletromagnetismo, desde 1899 quando o físico Tesla acreditou ter recebido sinais codificados vindos do espaço. Paranoia da invasão soviética na Guerra Fria, interferência da CIA, visitantes alienígenas, fantasias adolescentes, tudo envolve uma misteriosa transmissão de rádio que invade as linhas telefônicas naquela noite.

quarta-feira, agosto 26, 2020

Mídia corporativa sacrifica seus próprios repórteres à humilhação e lacração das esquerdas



Desde o chamado “escândalo da Wikipédia” em 2014, no qual os perfis na enciclopédia digital de Carlos Sardenberg e Miriam Leitão teriam sido adulterados pelo “Palácio do Planalto”, a mídia corporativa sacrifica seus jornalistas à humilhação pública para criar uma estratégia semiótica de “isenção”. Desde o primeiro dia de Governo Bolsonaro, docilmente os jornalistas se submetem aos “cercadinhos” e agressões do presidente, enquanto seus patrões se limitam a notas protocolares de indignação. E os editoriais passam o pano.  É o jogo do Consórcio Militar-Judiciário-Midiático que facilmente coopta as esquerdas: agora festejam a suposta “atuação inédita da oposição ao presidente nas redes sociais” - as mais de um milhão de mensagens uníssonas repetindo a pergunta “presidente, porque Michellle recebeu 89 mil de Fabrício Queiroz?”.  Apenas dão pernas às notas burocráticas da grande mídia e associações de imprensa. Como sempre, reativamente continua prisioneira da pauta agendada pelo Consórcio.

sábado, agosto 22, 2020

Série "Sl⌀born": a pandemia é uma profecia autorrealizável?


Uma pandemia global avança pelo planeta. Numa comunidade em uma pequena ilha no Mar do Norte as telas de TV mostram o drama que avança pelo mundo. Mas todos estão indiferentes, imersos em seus próprios problemas pessoais. Até que um veleiro abandonado encalha em uma das praias, mudando para sempre o destino da ilha: traz a cepa do vírus que fará aquela ilha fazer parte de uma crise sanitária global sem precedentes. A primeira temporada da série alemã “Slborn” (2020-) descreve de forma precisa e detalhada todas as consequências que estamos vivendo nos últimos meses – políticas, sociais e econômicas. Porém, as coisas ficam mais assustadoras quando sabemos que a série foi rodada e produzida no ano passado – em todos os detalhes, os episódios parecem antever a pandemia COVID-19. Ao lado do “Event 201” de 2019, vazamentos de informações da comunidade de inteligência do EUA e de outros filmes como Contágio (2011), “Slborn” seria mais uma peça de uma gigantesca profecia autorrealizável? Peça de um “Grande Reset” do Capitalismo? 

quarta-feira, agosto 19, 2020

Adnet e Hélio de la Peña revelam no Roda Viva o ardil semiótico da direita... e a esquerda ignora


A repercussão da participação do humorista Marcelo Adnet no Roda Viva da TV Cultura foi muito reveladora de como a esquerda ainda continua prisioneira da cilada semiótica armada pela guerra híbrida brasileira desde 2013. Como sempre de forma reativa, resolveu “lacrar” contra Marcelo Tas e sua pergunta sobre a posição de Adnet como humorista “de esquerda”. “Se serviu para alguma coisa, o Roda Viva confirmou que Marcelo Tas é idiota”, foi o tom reativo. Mas serviu sim! Só que a esquerda não percebeu. A oportuna pergunta do humorista Hélio de la Peña e a resposta de Adnet revelaram o segredo do ardil semiótico das estratégias da extrema-direita que a esquerda simplesmente ignora: a canastrice na política, desafiadora até para humoristas: quando os próprios políticos antecipam e emulam a charge política, neutralizando a crítica do humor. 

terça-feira, agosto 18, 2020

Em "Um Amor Inesperado" a quebra do elo geracional amplia a intransitividade do amor


O filme argentino “Um Amor Inesperado” ("El Amor Menos Pensado", 2018) aparentemente é mais uma comédia romântica, um subgênero marcado por clichês e personagens estereotipados. Mas essa produção mostra que ainda é possível fazer uma comédia romântica sofisticada para adultos. Quando o filho único deixa a casa para estudar na Espanha, seus pais chegam à conclusão que o único motivo para estarem juntos se foi. Síndrome do ninho vazio? O filme vai além das situações tragicômicas de um casal recém-separado em desventuras amorosas: coloca em questão como o esvaziamento da função de elo geracional dos pais potencializa duas facetas da condição humana: a angústia existencial e a intransitividade do desejo e do amor.

Cinegnose lança versão impressa do "Bombas Semióticas na Guerra Híbrida Brasileira (2013-2016)"


Por último, mas não menos importante... Finalmente saiu a versão impressa do livro “Bombas Semióticas na Guerra Híbrida Brasileira” (2013-2016): Por que aquilo deu nisso”. Junta-se à versão digital “Kindle Edition”, lançada primeiramente. Como os leitores deste Cinegnose sabem, o livro reúne de forma cronológica e narrativa a série de 52 postagens que o blog fez, acompanhando o dia-a-dia da guerra híbrida brasileira iniciada com as “Jornadas de Junho em 2013” e executada com o impeachment de 2016. 

domingo, agosto 16, 2020

Alguém ainda se espanta com os números Datafolha de Bolsonaro?

  

Os números do último Datafolha mostram que Bolsonaro bateu seu recorde de popularidade apesar dos mais de 100 mil mortos pela pandemia e as informações diárias sobre as “rachadinhas” do seu clã. Quem se espanta? Se os 150 reais do Bolsa Família deram certos por que não os 600 do auxílio emergencial? Só que não! Pelo menos não através das leituras apressadas e preconceituosas sobre um povo supostamente ignorante que se deixaria comprar. Como sempre, a Globo coloca a culpa nos nordestinos e a esquerda na “ignorância e alienação”. Mas uma pista para entender em profundidade esses números começa em uma matéria de 2016 do jornal “El País”: num bairro periférico de São Paulo, Lula e Doria Jr eram igualmente considerados “trabalhadores que começaram por baixo”. E se nunca tivemos um governo “de esquerda”? E se os motivos que elegeram Lula também foram os mesmos que levaram ao poder a extrema-direita de Doria e Bolsonaro? Será que a ideologia do mérito-empreendedorismo é a verdadeira motivação psicológica do auxílio emergencial numa sociedade precarizada e, finalmente, uberizada? Essa é a matéria-prima das operações psicológicas da atual extrema-direita – “alt-right”.

quinta-feira, agosto 13, 2020

Em "Coma" podemos ficar prisioneiros nas nossas próprias telas mentais

  

Num estilo semelhante ao conceito visual do filme “A Origem”, a ficção científica russa “Coma” ("Koma", 2019) apresenta um misterioso universo alternativo para onde vão as consciências de todos os paciente em estado de coma do planeta -  um mundo estruturado por redes neurais que desafiam todas as leis da física, reunindo memórias coletivas que criam um contínuo tempo-espaço que parece dobrar sobre si mesmo. Depois de um grave acidente, um arquiteto desperta nesse universo. Ele terá que compreender as leis que regem esse mundo para poder voltar ao mundo “real”. A forma como “Coma” desenvolve esse argumento aproxima-se dos clássicos temas da Teosofia (formas-pensamento no Plano Astral) e a noção de “sonho da consciência” do gnosticismo samaeliano. Principalmente como podemos nos tornar prisioneiros das telas mentais da nossa própria consciência. 

segunda-feira, agosto 10, 2020

Por que comemos pipoca no cinema?

 

Por que o impulso de comer pipoca no cinema? Ou em casa, assistindo a um filme em uma plataforma de streaming com um balde de pipoca ao lado? Por que a experiência do cinema é acompanhada pela pipoca? A história social da pipoca e a psicanálise do cinema nos ajudam a entender que essa conexão não é assim tão natural como imaginamos. No início, os cinemas resistiram à ideia de comer pipoca dentro da sala de projeção, enquanto espectadores escondiam os saquinhos nos bolsos. Desde as origens da sociedade do espetáculo (circos e feiras no século XIX) a pipoca tornou-se sinônimo de entretenimento. O impulso voyeurista de olhar para o que é exibido acompanhado pelo prazer oral da pipoca é um fenômeno psíquico que tem a ver com a própria lógica mercadológica da sociedade de consumo. A psicanálise do cinema pode ajudar a entender por que essa dupla cinema/pipoca funciona tão bem. 

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