sexta-feira, fevereiro 22, 2019

Cinegnose discute em Londrina "Guerra Semiótica e Híbrida"


Por que aquilo deu nisso? Por que toda aquela energia das manifestações nas ruas brasileiras, de jovens estudantes e ativistas, que queriam mudar o País (“desculpe o transtorno, estamos mudando o Brasil” eram as faixas mais vistas nas manifestações) resultou num retrocesso geopolítico de deixar atônito jornalistas e pesquisadores estrangeiros? Isso é que o Workshop “Guerra Híbrida e Guerra Semiótica” tentará responder nesse sábado (23/02), em Londrina, Paraná. Este editor do Cinegnose levará elementos teóricos das ciências da comunicação que poderão ser referências para construção de ferramentas e estratégias de ação nas guerras semióticas anti-mídia. Principalmente quando sabemos que grande mídia e novas tecnologias de convergência estão por trás das atuais formas inéditas de ação geopolítica.

terça-feira, fevereiro 19, 2019

Globo adota "a boa notícia é que..." para tentar se salvar do baixo astral nacional


O telejornalismo é um dos principais produtos televisivos. Não importa se as notícias sejam boas ou ruins. No todo, o produto deve garantir uma experiência esteticamente agradável para o espectador. Em suma, ser um “infotenimento”, para atrair prestígio, anunciante e rentabilidade. Porém, a atmosfera pesada desse início de ano baixou nos telejornais: Brumadinho, jovens atletas mortos no incêndio do CT do Flamengo, notícias diárias de feminicídios, câmeras nas ruas mostrando valentões armados disparando e matando em prosaicas brigas de trânsito ou simples disputa de vaga num estacionamento e seguranças matando pobres em supermercados. Conjunções adversativas e adjuntos adverbiais já não dão mais conta de neutralizar o tsunami de tragédias e violência – amenizar as más notícias para garantir a experiência "infotenimento". Agora, repórteres da Globo repetem a expressão “a boa notícia é que...”: encontrar alguma brecha de esperança no "outro lado" das más notícias. A grande mídia perdeu o controle do próprio monstro que criou... 

domingo, fevereiro 17, 2019

Deus e o Diabo querem nossas memórias e identidades em "Coração Satânico"


Em 1987 o filme “Coração Satânico” (Angel Heart) de Alan Parker (“Pink Floyd - The Wall” e “Fama”) alcançou o mesmo impacto de “O Sexto Sentido” de Shymalan: violentas viradas narrativas que comprovam como as nossas certezas em relação à realidade podem sumir em um instante. Porém, no thriller de horror “Coração Satânico” o problema fica mais complexo quando as próprias memórias e a identidade podem nos enganar. Um detetive particular é contratado para encontrar uma pessoa desaparecida. A investigação leva a um mergulho no obscuro mundo de religiões, magia negra e vodu. Mostrando que tanto Deus como o Diabo nos iludem ao criar a impressão de que nossos cultos e rituais nos mantém sob o controle do caos em que vivemos. Filme sugerido pelo nosso leitor infatigável Felipe Resende. 

terça-feira, fevereiro 12, 2019

Avise a esquerda: luta de classes existe, e está em Brumadinho e no CT do Flamengo

Cansada de tantas derrotas nos últimos tempos, a esquerda simplesmente comemora como fosse um gol a forma como a Globo detonou a ministra Damares Alves no quadro “Detetive Virtual” no Fantástico do último domingo. Uma detonação bem seletiva: enquanto a emissora demonstra toda sua indignação e furia investigativa nas questões identitárias e de costumes (vide a caça aos abuso sexuais de João de Deus), as tragédias de Brumadinho e do incêndio no Centro de Treinamento do Flamengo são encaixadas na narrativa “tragédia-emoção-homenagens” – com direito a Galvão Bueno narrando os nomes dos jovens atletas mortos... Depois de colocar Lula na prisão perpétua e por os militares no Governo, agora o novo papel da Globo é varrer a luta de classes para debaixo do tapete – cônscia de que, a partir de agora, acidentes como esses e a tensão social tenderão a crescer sob o modelo econômico de extrativismo selvagem: vender commodities módicas como ferro, manganês e jovens jogadores. Tudo a baixo custo, no limite da irresponsabilidade. Enquanto isso, sem se ater à tática semiótica de dissonância posta em ação pela parceria Governo/Globo, a esquerda reage de forma reflexa a cada bravata “politicamente incorreta” e esquece da luta de classes.

domingo, fevereiro 10, 2019

O apocalipse foi a própria Criação em "Oblivion"

Se "Matrix" (1999) foi o auge hollywoodiano do gnosticismo pop, “Oblivion” (2013) é outro filme que consegue sintetizar o mito central dos gnósticos: o apocalipse já aconteceu, e foi a própria Criação: um erro cósmico no qual nos tornamos prisioneiros da ilusão e do esquecimento. Tom Cruise é Jack, um técnico de manutenção de drones e robôs cumprindo sua última missão na Terra: conduzir os recursos naturais remanescentes de um planeta devastado para uma lua de Saturno, último refúgio humano. Mas Jack aos poucos começa a questionar os propósitos da sua missão. Principalmente quando a mulher dos seus recorrentes flashs de memória aparece na queda de uma nave.

terça-feira, fevereiro 05, 2019

A Ciência é a última resistência contra a onda conservadora em "Boy Erased"


O cancelamento da Universal Pictures em exibir o filme “Boy Erased – Uma Verdade Anulada” nos cinemas brasileiros, mesmo sob a justificativa comercial de baixa perspectiva de bilheteria, acendeu a suspeita de autocensura – numa atmosfera política atual pesada e conservadora, uma produção que contesta a chamada “cura gay” não seria conveniente para a distribuidora. Mas o filme “Boy Erased” levanta outra questão tão sombria quanto a “conversão gay”: o projeto “científico” que está por trás – reescrever a própria história da Ciência, assim como o nazismo tentou ao criar um bizarro mix Ciência, Religião e Ocultismo. Depois da economia (neoliberalismo pentecostal) e a política (a direita nacionalista), a Ciência (escolas e universidades) é a última resistência. Da “Terra Plana” à “cura gay”, hoje ridicularizados, agora necessitam do verniz “científico”. Por isso, “Boy Erased” dá um alerta em suas entrelinhas: a Ciência poderá ser reescrita pela Religião.

domingo, fevereiro 03, 2019

A arte vinga-se do capitalismo no filme "Velvet Buzzsaw"

A arte pode ser perigosa e aqueles lucram com isso estão arriscando suas próprias vidas nessa sátira misturada com horror gore na produção Netflix “Velvet Buzzsaw” (2019). Se no filme anterior “O Abutre” o diretor e escritor Dan Gilroy figurava os bastidores da competição por audiência de programas sensacionalistas de TV, em “Velvet Buzzsaw” o alvo é o mundo do mercado das artes: artistas pretensiosos, gananciosos donos de galeria, clientes milionários e, principalmente, temidos críticos de arte – uma crítica publicada pode valer milhões de dólares ou o fim de uma carreira. Até encontrarem um acervo de pinturas e desenhos hipnóticos de um obscuro artista falecido. Uma oportunidade de lucro rápido. Mas um rastro de mortes começa a acompanhar aquelas telas. A fixação fetichista que temos pelas imagens (como, por exemplo, a ilusão de que a Mona Lisa sempre nos observa) é levada ao limite do horror. Como se a arte e as imagens estivessem se vingando da sociedade mercantil que as subjugou.

sábado, fevereiro 02, 2019

A ameaça simbólica de Lula e a Síndrome de Brian da esquerda

“Covardia!”, “desumanidade!”, “barbárie!”. Assim reagiu a esquerda, chocada com a proibição de Lula (prisioneiro há nove meses) participar do velório do seu irmão em São Bernardo do Campo/SP. Até a ditadura militar autorizou que Lula fosse ao velório da mãe, em 1980!, acusa inconformada a esquerda. A Polícia Federal apresentou seis motivos para não conceder o benefício. Em cada um deles, está a evidência de que o atual oponente da esquerda não são mais os toscos militares da ditadura que, ironicamente, permitiam até gestos humanitários. Agora há um atento e utilitarista cálculo dos riscos na guerra semiótica: as repercussões simbólicas de Lula repentinamente aparecer em público, diante das lentes das câmeras. PF e Judiciário são mais zelosos com a ameaça simbólica de Lula do que a esquerda jamais foi – entregou de bandeja sua maior arma semiótica, agora condenada à invisibilidade. Enquanto isso, convive com a sua autoindulgente “síndrome de Brian” (relativo ao filme "A Vida de Brian" do grupo de humor Monty Python), imaginando ainda estar enfrentando os velhos inimigos toscos do passado.  

quarta-feira, janeiro 30, 2019

No filme "Apóstolo" o assassinato e a mentira fundam seitas e religiões

Há um “modus operandi” na fundação de seitas e religiões: um assassinato que se transforma no sofrimento necessário do mártir; e a mentira decorrente dessa narrativa. Em consequência, o Sagrado mistura-se com o profano, e o Divino com a violência. Como é possível emergir amor e compaixão nesse modelo psíquico doentio? Essa é a questão principal do filme “Apóstolo” (“Apostle”, 2018). Um jovem ex-religioso, descrente de tudo após um passado traumático, tem a missão de resgatar sua irmã, raptada por uma estranha seita reclusa em uma ilha. Ele se infiltra entre os seguidores de um profeta enlouquecido, mas estranhamente não consegue determinar, afinal, o quê aquela seita adora. Através do horror gore (nada gratuito, já que o tema do filme é como sangue e violência são a outra face das seitas e religiões), o protagonista mergulha em uma sociedade que se pretendia utópica, mas que revela uma questão bem atual: o flerte da religião com o poder político por meio do Estado Teocrático. Filme sugerido pelo nosso incansável leitor Felipe Resende.

segunda-feira, janeiro 28, 2019

Curta da Semana: "Fake News Fairytale" - quando notícias falsas viram contos de fadas

“Políticos são como mágicos, acenando com as mãos, fingindo que o truque está acontecendo em outro lugar. Enquanto isso, eles nos distraem, escondendo aquilo que está acontecendo diante de nossos olhos.” Essa é a conclusão de “Fake News Fairytale” (2018), um curta sobre como se articulam as noções de verdade, ficção, realidade e ilusão nas fake news, abordadas pela diretora Kate Stonehill como narrativas análogas a contos de fadas. Em um divertido documentário que simula ser um “mockumentary”, baseia-se num caso real: a repentina fama que a pequena cidade de Veles, no interior da Macedônica, ganhou como o centro da “corrida do ouro” das fake news: adolescentes que ganharam muito dinheiro com anúncios em website que publicavam notícias falsas repercutidas nas redes sociais a partir de perfis falsos. E ajudando a vitória de Trump nos EUA. Sem emprego ou futuro, jovens viram a chance de ganhar dinheiro rápido. Essa é a matéria-prima da atual ultradireita nacionalista. 

domingo, janeiro 27, 2019

Rebaixamento dos padrões de inteligência da Revolução Industrial 4.0 criou Bolsonaro

No momento em que o presidente eleito Jair Bolsonaro saiu da sua zona de conforto e se expôs em cenários não controlados como o Fórum Econômico de Davos ou a tragédia humano-ambiental de Brumadinho/MG, revela-se a sua condição limítrofe, com sérias deficiências cognitivas. E diante de pesquisas de opinião cujos resultados se colocam contra as principais linhas da sua “plataforma de governo”, muitos questionaram: mas afinal, como ele foi eleito? Discurso fascista? Anti-petismo? Há um fator ainda não tematizado - as relações intrínsecas entre a chamada “alt-right” (direita alternativa) e as redes sociais não é um mero acaso ou oportunismo. Personagens como Bolsonaro ou Trump são produtos das tecnologias de convergência da Revolução Industrial 4.0. Tecnologias que criaram uma cultura de aplicativos e redes sociais estruturada na noção algorítmica de “Inteligência Artificial”, que consiste em rebaixar os padrões do que entendemos como “inteligência”, enquanto os usuários se tornam simples processadores de informação.

sexta-feira, janeiro 25, 2019

A nova sensibilidade gnóstica do horror no filme "Ghost Stories"

Desde a Era Vitoriana, quando os fenômenos paranormais (mesas girantes, fantasmas, fotografias de ectoplasmas etc.) entraram em cena na cultura Ocidental, as explicações sobre esses eventos sempre estiveram sintonizadas com o “zeitgeist” de cada época. Na virada de século, as tentativas de explicações científicas deram lugar à mistura de fé com espiritualidade. Nesse cenário, a sensibilidade gnóstica começa a se esgueirar pelos filmes de terror, um gênero que sempre foi canônico. Apesar de parecer uma homenagem às velhas antologias cinematográficas de terror, “Ghost Stories” (2017) vai mais além: é um exemplo que segue a linha das violentas viradas narrativas como “Sexto Sentido” e “Os Outros” – a abordagem PsicoGnóstica da paranormalidade, na qual a mente pode ser a nossa principal prisão. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

quinta-feira, janeiro 24, 2019

Ano 2019 é um Vortex Temporal? Como modular a atenção em tempos extremos, por Nelson Job

Este ano de 2019 aparece com recorrência no imaginário especulativo como um ano de "turning point". Parece ter sido privilegiado por obras do passado de cineastas, escritores e médiuns que o elegeram como um ano marcante. Os filmes “Blade Runner” e “O Sobrevivente”, o animê “Akira”, as previsões de Isaac Asimov e de Chico Xavier, todos fazem referência a este ano. Quais as razões disso? 2019 será, de fato, o trampolim de uma Nova Era, como astrólogos e esotéricos do mundo inteiro anunciam, ou será uma completa catástrofe? Podemos entender o ano de 2019 como uma espécie de vortex transtemporal? Forças dos acontecimentos anteriores e do futuro estariam de auto-organizando no tempoNeste artigo, investigaremos essas ocorrências e traçaremos um desdobramento delas.

terça-feira, janeiro 22, 2019

Marketing pós-humano e pós-verdade na ascensão dos influenciadores virtuais

Lentamente uma nova raça de avatares está se infiltrando nos “feeds” das redes sociais: são os influenciadores virtuais – supermodelos lindíssimas, como vidas cheias de música e ativismo social, promovendo marcas famosas de moda. Mas por trás estão algoritmos probabilísticos combinando o trabalho de fotógrafos, computação gráfica e inteligência artificial. Faz parte da chamada “Revolução Industrial 4.0” que nada mais faz do que estender para o século XXI o espírito do velho capitalismo: redução de custos e enxugamento da cadeia produtiva, aumento de lucros e incremento do controle social e político.  Mas para os seguidores dessa nova geração do Marketing de Influência, pouco importa se os influenciadores são reais ou virtuais – se artistas, celebridades e famosos sempre foram simulacros, então chega de intermediários! Assim como as fake news, o marketing pós-humano está criando a pós-verdade: o mix de autodistanciamento irônico e niilismo. Pauta sugerida pela nossa leitora Alana Pinheiro.

sábado, janeiro 19, 2019

"Tempo Compartilhado": Marketing e Publicidade criam a religião do Capitalismo Pentecostal

O pensador alemão Karl Marx teve que escrever muitas páginas para demonstrar que por trás da racionalidade do Capitalismo existia uma gigantesca fantasmagoria – mercadoria, capital e dinheiro apareciam como entidades-fetiches autônomas aos nossos olhos. Hoje, o Marketing e a Publicidade, sem maiores rodeios, diariamente nos mostram que a gestão corporativa e o discurso publicitário se tornaram análogos a seitas ou cultos. O Capitalismo sempre foi uma religião, mas hoje ele é “pentecostal” – é o “american way of management”. O filme mexicano “Tempo Compartilhado” (“Tiempo Compartido”, 2018) mostra as férias frustradas de uma típica família de classe média que acreditava ser possível comprar o Paraíso a preços módicos em suaves prestações. Um resort internacional esconde um propósito sinistro: transformar tanto seus “colaboradores” como clientes em membros de um tipo de seita messiânica no qual o Paraíso religioso se confunde com o próprio turismo.  

quinta-feira, janeiro 17, 2019

A autoabdicação humana no filme "Cam"

Se em “A Rede”, de 1995, o tema do roubo da identidade de bancos de dados era tratado dentro do gênero thriller policial, no filme “Cam” (2018) torna-se agora um evento entre o fantástico e o sobrenatural. Por que o tema da invasão de privacidade sofreu uma guinada de gênero tão radical? Uma jovem que faz “lives” de pornografia softcore, cujo sonho é chegar ao Top 50 de um website erótico, vê uma réplica exata de si mesma roubar sua identidade virtual, substituindo-a. Sem controle do seu “doppelgänger”, sofre as consequências na vida familiar. Porém, seu duplo parece ser mais destemido do que o original, a tal ponto que os limites entre o real e o virtual desaparecem. Se no passado ver o seu duplo no espelho e na fotografia despertava assombro e medo, hoje na cultura das “selfies” e webcams das “lives” em redes sociais o duplo gera inveja e aspiração por uma vida dinâmica, alegre, sem culpas e preocupações. Abdicamos de toda humanidade pela representação algorítmica de nós mesmos. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

terça-feira, janeiro 15, 2019

A vaidade é o pecado predileto do Diabo em "A Casa Que Jack Construiu"

Jack é um engenheiro que sonha em ser arquiteto. Quer sair do anonimato dos cálculos matemáticos para o impacto público da produção de ícones. Arte e Morte andam juntas. E para comprovar sua tese Jack se transforma num cruel e paradoxal serial killer que faz de tudo para chamar a atenção da polícia e da imprensa para suas “obras-primas”. Esse é o filme “A Casa Que Jack Construiu” (2018), do controvertido, diretor Lars von Trier, que discute a atual “arte degenerada” que confunde a produção “artística” com a capacidade de produção imagética viral. Tipo de arte que vai encontrar no fenômeno do serial killer o seu paroxismo. Mas, da pior forma possível, Jack vai descobrir que a vaidade é o pecado mais admirado pelo Diabo.

domingo, janeiro 13, 2019

A conspiranoia pop gnóstica em "Under The Silver Lake"

A cultura pop nada mais representaria do que o abismo geracional entre jovens e adultos? Por trás de cada gesto de revolta seja grunge, punk ou gótico estaria um adulto vigilante através de mensagens criptografadas em músicas? As vertiginosas alusões de “conspiranoia” pop em “Under The Silver Lake” (2018), de David Robert Mitchell (“Corrente do Mal”), conferem uma nova abordagem do tema da paranoia no cinema. Um jovem desocupado tenta investigar o mistério do desaparecimento de sua vizinha para mergulhar no submundo das subcelebridades aspirantes a atores e atrizes em Hollywood e na subcultura de HQs e fanzines que tentam construir uma Teoria Unificada das conspirações. O fio da meada pode levar o espectador a conspirações ao melhor estilo Hitchcock e David Lynch. Mas o fio pode estar desplugado da tomada! Filme sugerido pelo nosso leitor David Góes.

sexta-feira, janeiro 11, 2019

Novo logo revela que Bolsonaro não consegue sair do personagem

Em cinema e teatro fala-se muito de atores que, de tão concentrados no personagem, não conseguem mais sair do papel. Uma análise semiótica da nova identidade visual do Governo Federal revela que nada mais resta para o presidente Jair Bolsonaro do que se manter no personagem da campanha eleitoral – belicoso e provocativo, pronto para criar sempre um novo inimigo.  Para além do ufanismo e da nostalgia idealizada dos governos militares, a nova logomarca revela muito mais uma estratégia de comunicação do que de propaganda clássica – simbolização ou doutrinação ideológica. A marca visual expressa a atual estratégia visual da chamada alt-right (“direita alternativa”): polarização, provocação e apropriação. Assim como a bandeira nacional e a camisa amarela da CBF, agora o último verso do hino nacional foi apropriado. Do simbolismo original da Pátria como “mãe gentil”, foi ressignificado como ícone de polarização: a divisão entre patriotas e antipatriotas.  

quinta-feira, janeiro 10, 2019

Quando a realidade supera a comédia na série "Who is America?"

Como fazer uma sátira política de um país que parece imitar os estereótipos que a própria mídia faz da América? Como fazer humor de um país que já teve um ex-ator de Hollywood como presidente e, o atual, um dublê de empresário e ex-apresentador de reality show de TV? Esse é o desafio do comediante Sacha Baron Cohen na série “Who is America?” (2018-): como satirizar um país no qual a realidade parece superar a comédia. Cohen interpreta cinco hilários personagens que entrevistam e fazem “pegadinhas” em norte-americanos que vão desde desconhecidos até senadores, deputados e juízes dos EUA, através de todo espectro político e cultural. Cada episódio consegue persuadir os entrevistados (seja de esquerda ou direita) a colocar para fora seus extremismos, preconceitos e qualquer coisa bizarra sugerida pelas ainda mais bizarras caricaturas de Sacha Cohen. “Who is America?” mostra que, na atualidade, estar diante de uma câmera é a nova hipnose: ajuda a revelar o pior de nós mesmos.

terça-feira, janeiro 08, 2019

Os dez melhores filmes gnósticos analisados pelo Cinegnose em 2018


Desde 1995, com o filme “Dead Man” com Johnny Deep, a mitologia gnóstica começa a interessar roteiristas e produtores hollywoodianos, trazendo à cena da indústria do entretenimento o “Gnosticismo Pop”- Gnosticismo: conjunto de seitas sincréticas de religiões iniciatórias e escolas de conhecimento do início da Era Cristã, séculos III e IV, que apresentavam uma visão mística de Cristo. Por isso, nunca fizeram parte da cultura sancionada pelas instituições, sempre se mantendo em canais subterrâneos ao longo da História. Até o final do século XX. Dando continuidade às análises da presença de narrativas, argumentos e elementos da mitologia gnóstica, o “Cinegnose” apresenta a lista dos dez melhores filmes gnósticos resenhados pelo blog em 2018. Filmes AstroGnósticos, PsicoGnósticos, CronoGnósticos, CosmoGnósticos e TecnoGnósticos.

sábado, janeiro 05, 2019

As guerras táticas da comunicação de Bolsonaro

Guerra econômica, guerra cinética, guerra da informação. Esses três princípios da guerra moderna parecem estar estruturando a tática militar de comunicação do “staff” de Bolsonaro. Em quatro dias desde a posse do capitão da reserva, ficou evidente a linha de continuidade entre a campanha eleitoral e a rotina diária do governo. Marcadas não pela estratégia clássica de propaganda, mas por táticas diversionistas de comunicação: “Marxismo cultural”? “Ideologia de gênero”? Bolsonaro desautorizou Paulo Guedes? Quem é menina ou menino? Quem veste rosa ou azul? A logística da guerra é uma questão de desorientar e criar pânico no adversário – no caso atual, criar dissonâncias e ambiguidades. Com isso, qualquer discussão sobre a “guerra econômica” (“tirar”, “acabar”, “reduzir”, “diminuir” etc.) e a guerra cinética (a guerra ao pan terrorismo narco-político), embora com impactos bem concretos num futuro próximo, está oculta da opinião pública com a proliferação de memes, metamemes e análises da grande mídia que escondem o essencial: a guerra produzida sob o discurso da “terra arrasada”.

quinta-feira, janeiro 03, 2019

O trabalhador precarizado vai ao Paraíso em "Sorry to Bother You"

Uma surreal comédia de humor negro com realismo fantástico e ficção científica inspirado no mundo do telemarketing. “Sorry to Bother You” (2018), filme de estreia de Boots Riley, pode ser tanto o momento atual como aquilo que nos espera em um futuro muito próximo: modernos trabalhadores precarizados que viram máquinas cognitivas de vendas sem quaisquer garantias ou direitos. Cassius Green é um jovem excluído negro que descobre a chave para a ascensão corporativa na RegView, a gigante do telemarketing: encontrar a “voz de branco” interior. Mas tal como “Fausto”, de Goethe, o Diabo vai cobrar algo de volta – algo assustador e surreal que definitivamente fará o protagonista cair “na real” e perceber o cenário entorno.

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