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quinta-feira, junho 20, 2019

Livro "A Morte da Verdade: a culpa é dos russos e pós-modernos

A Internet era um sonho do Vale do Silício, um paraíso inspirado na fé pela natureza humana criado por pioneiros tecnológicos. Então, apareceram “agentes mal-intencionados” que deturparam tudo com o pecado – fake news, pós-verdades, obscurantismo e preconceitos. Na capa do livro que nos conta essa história bíblica vemos uma serpente que se esgueira para fora de um balão de HQ. Essa serpente é Donald Trump e a chamada “direita alternativa”, ajudados por hackers russos. Mas também inspirados nos pensadores pós-modernos como Baudrillard e Derrida que teriam destruído a âncora filosófica da Verdade – a noção de Realidade, fazendo o Paraíso decair no niilismo e relativismo.  A crítica literária norte-americana Michiko Kakutani vai encontrar o pecado original das fake news nos hackers russos e pensadores do pós-modernismo no seu livro “A Morte de Verdade”. Kakutani revela um discurso que transforma não só a teoria das fake news em um novo rótulo do jornalismo corporativo no mercado das notícias. Também é uma forma ideológica de varrer para debaixo do tapete as mazelas da financeirização global, das "machine learnings" e algoritmos do Vale do Silício – a culpa é sempre dos russos e franceses...

terça-feira, abril 16, 2019

O destino da arte é a simulação no filme "Minha Obra-Prima"


No passado Renzo Nervi foi um pintor bem-sucedido. Hoje, não consegue vender um único quadro. Amargo, ressentido e à beira da indigência, ele recebe a ajuda de um amigo marchand dedicado a lucrar com a arte alheia. Até que um inesperado acidente proporciona a oportunidade inédita (e ilegal) de ganhar dinheiro em um mercado de arte onde o luxo e o esnobismo concorre com o artifício e a mentira.No filme argentino “Minha Obra-Prima” (“Mi Obra Maestra”, 2018) acompanhamos uma comédia farsesca de humor negro que apresenta o destino da arte no mundo pós-moderno: a simulação - simular o valor de uma obra como se fosse puramente artística, quando na verdade é tão vazia quanto um suspiro. Não se trata mais, como no passado, de dissimular a falsidade. Mas agora de simular qualquer vocação artística.
Theodor Adorno acreditava que a arte continha a alteridade e a transcendência. Como obra do espírito, a arte tendencialmente pretenderia ultrapassar a si mesma, criando uma tensão com a sociedade e o próprio espírito – a negação do Todo, social, político, econômico etc.
Como músico que era, além de filósofo (Adorno tocava violino), via essa natureza transcendente da arte na “Música Nova” – a música atonal de Schoenberg e o serialismo da nova música erudita como alternativa à integração da cultura de massas e Indústria Cultural.
Mas os tempos pós-modernos do pós-guerra integraram toda qualquer pretensão de “alteridade” ou “tensão” da arte: virou “intervenção” ou “performance” em exposições que se transformaram em “instalações artísticas”. Artistas “incompreendidos” ou “rebeldes” passaram a ter cotação no mercado, assessorados por “marchands” e donos de galerias de arte.
Então, o que é arte? Qual a diferença entre um quadro e um pôster publicitário? Ou entre a cópia e o original, já que tudo é “commoditie”, reprodução, cópia? Filmes como Cópia Fiel (2010) ou Velvet Buzzsaw (2019) são exemplos cinematográficos dessa desconstrução pós-moderna da arte, ao reduzi-la à ilusão, simulação, artifício, mentira.


Por isso, nada melhor do que assistir à comédia argentina farsesca e de humor negro Minha Obra-Prima (Mi Obra Maestra, 2018) sobre Renzo Nervi (Luis Brandoni), um pintor que já foi bem-sucedido nos anos 1980 em Buenos Aires, mas hoje não consegue vender um único quadro. Porém, um inesperado acidente proporciona a oportunidade inédita (e ilegal) de ganhar dinheiro em um mercado de arte onde o luxo e o esnobismo concorre com o artifício e a mentira.
Minha Obra-Prima continua com a visão ácida sobre os intelectuais argentinos do filme anterior (El Ciudadano Ilustre) da dupla de diretores Gastón Duprat e Mariano Cohn: como a burguesia (e principalmente os novos ricos em busca do verniz cultural) se movem em ambientes artísticos, voltando a fazer uma dura crítica ao banal na vida cultural.
Mas há também algo universal, sobre o destino da arte no mundo pós-moderno: como o processo de valorização do objeto artístico é uma simulação e não uma dissimulação – não se trata mais de falsificar uma obra assim como se imprime dinheiro falso. Mas simular o valor de uma obra como se fosse puramente artística, quando na verdade é tão vazia quanto um suspiro – resultado de um jogo de especulação, ausente de escrúpulos ou qualquer de qualquer vocação artística.

O Filme


Arturo Silva (Guillermo Francella) há décadas dedica-se a venda de obras de arte em sua galeria no Centro de Buenos Aires. Seu único interesse é lucrar com a arte alheia. Encantador e sempre com um discurso sedutor e persuasivo, desde vários anos mantém uma amizade com Renzo Nervi (Luis Brandoni) que se encontra nos últimos anos da sua vida – depois de uma carreira bem-sucedida, há anos não consegue vender uma única obra.
Sua paixão pela arte acabou resultando num estilo de vida prá lá de decadente: amargo, cínico, misantropo e autoindulgente parece que conscientemente prepara sua própria ruína, com um final a uma morte trágica parecida com os boêmios pintores impressionistas parisienses.


Os egos, as mesquinhezas e as misérias desses dois personagens os unem numa estranha amizade. Arturo tenta impulsionar novamente a carreira de Renzo até que Arturo logra associar-se a uma influente colecionadora de obras de arte internacional, Dudu (Andrea Frigerio).
Conseguem para Renzo uma encomenda para a confecção de um mural. Mas a autoindulgência e orgulho do pintor decadente falam mais alto: ele jamais aceitou fazer qualquer tela sob encomenda, como se sua arte fosse um mero produto. Mas estranhamente aceita, para depois sabotá-la, como mais um ato de protesto autodestrutivo.
Renzo está à beira da indigência, sustentado pelo seu único aluno, o espanhol Alex (Raúl Arévalo) – um personagem contrastante, comparado ao cinismo de Renzo e do seu amigo Arturo. Alex é idealista e admira a arte do autodestrutivo mentor.


“Argentina é um país singular” – Alerta de spoilers à frente


Tudo caminha para o desfecho inevitável: a morte trágica – Renzo é atropelado por um caminhão depois de displicentemente atravessar a rua, quase que pedindo para alguém abreviar seu sofrimento. No hospital, sugere para seu amigo Arturo a eutanásia.
Mas Arturo acaba tendo uma ideia muito melhor, seguindo seu instinto de especulador da arte alheia – por que não simular a morte de Renzo? Afinal, Van Gogh só alcançou a fama e suas obras o valor de milhões de dólares somente após a sua morte!


Com a ajuda da influência internacional de Dudu, Arturo da um incrível impulso “pós-morte” para as obras de Renzo – ganha exposições exclusivas em diversas capitais do mundo.
O marchand e o artista decadente criam o golpe perfeito: Renzo vive isolado numa região remota, produzindo cópias que emulam seu ápice criativo dos anos 1980. Tudo quadros “descobertos” em casas de parentes. Enquanto xeiques novos ricos compram lotes das suas obras a milhões de dólares.
Nível inédito de especulação artística: na “pós-morte” Renzo faz cópias “falsas” de si mesmo. De um ápice artístico do passado que só depois da própria morte passa a ter valor de mercado.
Se no passado a questão da arte era o confronto entre a cópia e o original artístico (a arte como um signo que ainda gozava de uma referência ou legitimidade socialmente sancionada), hoje o valor se desprende do campo da arte para entrar nas estratégias de simulação – dizer que existe alguma coisa (a morte de um gênio), quando na verdade só existe o vazio: o blefe.
A partir daí a narrativa desdobra esse blefe a um nível que, a certa altura, Renzo afirma: “Argentina é um país singular”.
A simulação como um blefe é a própria essência da comédia farsesca. Mas a amizade de um marchand com o artista é a própria definição do blefe pós-moderno na arte, como uma espécie de “cinismo esclarecido”, termo cunhado pelo filósofo Peter Sloterdijk: o cínico integrado aos seus postos e privilégios (gerentes, executivos, professores, jornalistas ou artistas) que mantêm um autodistanciamento irônico e melancólico sobre o que fazem, um sentimento de “inocência perdida”, de ironizar e depreciar a si mesmo e ao que faz (“é o que tem prá hoje”, dizem), uma falsa consciência conformista e sem sonhos diante do sistema de onde tira seus privilégios – leia SLOTERDIJK, Peter. Crítica da Razão Cínica, Estação Liberdade, 2012.
É a amoralidade e o pragmatismo de uma comédia farsesca, cujo gênero parece ser uma especialidade do cinema argentino.



Ficha Técnica 

Título: Minha Obra-Prima
Diretor: Gastón Duprat, Mariano Cohn
Roteiro:  Andrés Duprat, Gastón Duprat
Elenco:  Luis Brandoni, Guillermo Francella, Andrea Frigerio, Raul Arévalo
Produção: Arco Libre, Hei Films
Distribuição: A Contracorriente Films
Ano: 2018
País: Argentina

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sábado, março 02, 2019

Cinegnose em Londrina: na guerra semiótica a esquerda descerá ao abismo para se encontrar


Desde o século passado a direita sempre esteve vários passos à frente ao lançar mão das tecnologias de ponta de cada momento. Lá atrás, nazistas usaram o rádio e o cinema. E hoje o nacionalismo de direita manipula algoritmos, inteligência artificial e mídias de convergência. Somente com uma formação interdisciplinar articulando ciências da comunicação, computação e política será possível a esquerda compreender as diferenças entre as dinâmicas de massificação e viralização, reformulando o ativismo e militância política. A esquerda terá que descer ao abismo simbólico para encontrar a si mesma. Esse foi o tema que dominou o workshop “Guerra Híbrida e Guerra Semiótica” ministrado por este editor do “Cinegnose” no último sábado (23/02) em Londrina/PR. Organizado pela Frente Ampla Pela Democracia, com apoio da Associação dos Professores do Paraná, o evento contou com auditório lotado de acadêmicos, estudantes, ativistas e sindicalistas, com muita curiosidade e entusiasmo para o debate. 
Este humilde blogueiro esteve em Londrina/PR no último sábado (23/02) para abrir a “caixa de ferramentas” de referências teóricas e práticas fornecidas pela Ciência da Comunicação para servir de instrumento de ação naquilo que este “Cinegnose” vem denominado como “guerra semiótica” – episódio brasileiro da estratégia geopolítica de guerra híbrida que a geopolítica norte-americana vem encetando em países estratégicos e sensíveis às suas ações.
Lá encontrei o lotado auditório da Associação dos Professores do Paraná e um público bem heterogêneo (de acadêmicos e estudantes a ativistas e sindicalistas) e disposto ao bom debate – quando a curiosidade pelo saber motiva a busca por ações e alternativas. Um público vivamente disposto a entender a conjuntura atual e como o papel estratégico da Comunicação nesse momento.
Se a comunicação é a criação de um acontecimento, parece que o debate em Londrina alcançou o objetivo – até agora chegam perguntas e colocações através do grupo, criado após o workshop, no WhatsApp chamado “Guerra Híbrida Semiótica”. 
“O que aconteceu?” e “O que fazer?”. Essas duas questões existenciais foram as que nortearam o debate, questões-chave desde os resultados eleitorais do ano passado que parece que ainda não terminou.

Ilusão consensual

Com todo o tempo disponível pela natureza de um workshop, este editor do “Cinegnose” começou definindo os conceitos de “bomba semiótica”, “guerra semiótica” e “guerra híbrida” e, principalmente, uma introdução à ciência da Semiótica. Principalmente a sua latente aplicação política com a noção de “signo”: se o que vemos não é a realidade, mas o signo da realidade, o que entendemos por realidade passa a ser uma “ilusão consensual”. 
Em outras palavras, o que entendemos por realidade passa a ser de natureza perceptiva. O que abre margem à existência de “engenharias” de percepções. Portanto, isso altera o que entendemos por “comunicação”: de informação ou sinalização de um conteúdo (ideologia, discursos, doutrina etc.) passa a ser a criação de acontecimentos, “bombas” que criam repercussões destinadas especificamente a alterar essa ilusão consensual.

O workshop demonstrou como os nazistas no século XX compreenderam bem essa natureza, naquilo que Walter Benjamin chamou de “esteticização da política”: líderes que emulavam personagens do cinema mudo (a “canastrice” na política), ridicularizados no começo, mas que depois se tornaram críveis graças à analogia com a ficção cinematográfica. Hoje a TV faz esse papel – como Bolsonaro foi promovido como um mito tosco em programas de humor como Pânico na TV e CQC para depois virar um personagem ficcional que invadiu a “ilusão consensual” da realidade política.

Massificação e viralização

A partir desse ponto, passamos a manhã de sábado tentando compreender a grande novidade que a guerra híbrida trouxe para a comunicação e a política: a passagem das estratégias de massificação para as dinâmicas de viralização. 
Muitos analistas ainda tomam como idênticos esses dois conceitos, como fossem regidos pelos mesmos princípios da psicologia de massas. Mas são muito diferentes, principalmente quando o workshop apresentou como a tecnologia algorítmica em Inteligência Artificial utilizado pela Cambridge Analytica e o fundo de hedge Renaissance Technologies de Robert Mercer foi decisiva para a vitória de Donald Trump e Bolsonaro – a aplicação dos algorítmicos probabilísticos da área financeira aplicada na mineração e análise de dados para comunicação política estratégica.
Enquanto a massificação implica em panfletagem, doutrinação ou disparo de discursos de forma indiscriminada para a sociedade como um todo, a viralização significa modular o discurso para perfis específicos que, sabe-se, irá compartilhar para sua rede de relações. 
Na realidade, influenciadores ou líderes de opinião já eram conhecidos desde as pesquisas empíricas de recepção de Paul Lazarsfeld nos anos 1930-40 nos EUA. A diferença é que na atualidade a tecnologia de mineração de dados potencializou essa estratégia. 


Métodos dedutivo e indutivo na política

Isso significa que no espectro político há duas maneiras bem distintas de atuação política na comunicação: enquanto a esquerda se orienta por um método dedutivo (parte de valores éticos e morais universais para tentar transformar a realidade – do universal ao particular) a direita é indutiva -  do particular para o universal, da manipulação das percepções e sensações para depois criar uma narrativa política geral.
Enquanto a esquerda se escandaliza ao ver a sociedade ir contra os valores kantianos universais de dignidade, cidadania e liberdade e tenta conscientizar as massas dessa realidade, a direita induz percepções (signos da realidade) para depois criar narrativas “universais” – conspirações comunistas, LGBTs, midiáticas etc. Não à toa que a direita se apropriou da imagem antissistema ou revolucionária que sempre esteve do lado da esquerda.
Por isso, somos capazes de ver o “filósofo” Olavo de Carvalho (guru da “alt-right” tupiniquim) usar o mesmo discurso da esquerda, mas com sinais trocados – por exemplo, denunciar o “autoritarismo dos meios de comunicação” que quer impor o “politicamente correto”, a “ditadura gay”, o “petismo”... 

O que fazer?

A partir desse ponto, o “o que fazer” tomou conta dos debates: como se contrapor ao tripé semiótico no qual se baseia a tática de guerra semiótica da direita? – apropriação (do discurso antissistema, dos símbolos nacionais com a técnica semiótica da iconificação etc.), provocação (formas de comunicação indireta para falar com a maioria silenciosa e não com o interlocutor) e polarização (usar o discurso beligerante para travar qualquer debate público racional).
Discutimos desde a necessidade de modelagem o discurso (direcionar mensagens para perfis ou líderes de opinião para conseguir efeitos virais – o que implicaria entrar na área do “ativismo cibernético”).

E também as polêmicas, por assim dizer, “baterias anti-áereas” contra as bombas semióticas da grande mídia: as táticas de guerrilhas anti-mídia – pegadinhas (“media prank”) e trolagens (“culture jamming”) com o objetivo sistemático de desmoralizar a mídia corporativa.
Principalmente quando sabemos que a mídia clássica ainda tem um importante papel, mesmo com o crescimento das mídias de convergência (smartphones, tablets etc.). Hoje a grande mídia tem um papel de agendamento da pauta e não mais de doutrinação ideológica, como no passado. Daí a importância da existência de uma sistemática ação de guerrilha midiática.
Nesse sentido, a recente trolagem criada pelo ator José de Abreu (se autoproclamando presidente do Brasil, da mesma maneira como a mídia auto empossou Juan Guaidó como presidente da Venezuela) é uma bomba semiótica perfeita. Um exemplo que a esquerda poderia replicar.


Respostas a questões levantadas nos debates no workshop:

(1) Teremos que fatalmente nos apropriarmos dessas armas (elas demandam conhecimento, grana, operadores especializadíssimos e, fundamentalmente, a Munição da Indução, a qual, a ética não tem lá tanta relevância) ou se, descobrindo e construindo Baterias Antiaéreas seria suficiente para resistirmos com danos menores?
Resposta: A direita de hoje possui o mesmo modus operandi do século XX. Se lá o nazifascismo utilizou-se das tecnologias de ponta da época, rádio e cinema, hoje se apropria da inteligência artificial que rendeu milhões para Robert Mercer no mercado financeiro – algoritmos probabilísticos que preveem tendência de ações e títulos. E agora preveem escolhas ideológicas e partidárias de determinados perfis. De alguma maneira, em algum momento, a esquerda terá que se tornar interdisciplinar: sair do campo familiar das ciências humanas e se enveredar pelo ativismo digital no campo das chamadas “ciências exatas”. 
Isso nos leva à questão ética: teremos que usar o mesmo condenável modus operandi de indução da direita? Essa é uma questão que esse humilde blogueiro não tem ainda uma resposta pronta, mas também em algum momento a esquerda terá que lutar no mesmo campo simbólico da direita. A esquerda terá que descer no abismo para encontrar a si mesma.
(2) O que explica que mesmo com o uso dessa arma poderosíssima já em ação em toda a campanha, caso não fosse impedido de disputar a eleição, Lula venceria já no primeiro turno, como indicavam todas as pesquisas a menos de um mês para a eleição?
Resposta: Isso talvez seja relativo. Como demonstrou uma reportagem do insuspeito jornal “El País” sobre os motivos que levaram João Doria Jr a ganhar votos na periferia de São Paulo, para muitos a leitura sobre Lula era meritocrática – um metalúrgico que chegou à presidência pelas vias do mérito e do trabalho, aquele que “começou de baixo”... assim como Doria Jr que chegou à prefeitura de SP... (leia “A metamorfose do eleitor petista da periferia que decidiu votar em Doria” – clique aqui). A promoção “Sebastiana” do mito Lula (como o “salvador” e “conciliador”) pode chegar a essas interpretações bizarras.
(3) Será que para termos uma perspectiva de sucesso à nossa Resistência e consequentes avanços, não é  necessário  juntarmos o aprendizado em identificarmos os disparos desses Mísseis poderosos, aprendermos a operar as Baterias Antiaéreas e, ao mesmo tempo, treinarmos nossas tropas nos quartéis de "média patente" através do resgate de Programas de Formação de Formadores? Programas já desenvolvidos há tempos atrás, com sucesso, pelas Centrais Sindicais nos Sindicatos e CPCs (Centros Populares de Cultura) nas Universidades e comunidades periféricas?
Resposta: Pergunta que faz a gente voltar à primeira questão acima: a partir do ponto em que chegamos, é urgente repensar a formação e formas de atuação política. Na verdade, desde a vitória do nazismo na Alemanha, a esquerda se tornou o cachorro-que-caiu-do-caminhão-de-mudança. Se mal compreendeu o papel do rádio e do cinema naquele contexto entre guerras, o que dirá diante das tecnologias de convergência atuais? Como disse, é necessária uma formação interdisciplinar na atuação política – Ciências da Computação e Comunicação combinadas com a Ciência Política. E muito bom humor, ironia e sagacidade com as “baterias antiaéreas” das pegadinhas e trolagens contra-midiática.
(4) Minha questão que eu gostaria que ele comentasse é a relação da semiótica no Teatro Imagem de Augusto Boal.  Lembro que uma frase que sempre repetimos nas oficinas de Teatro Imagem é que " a imagem é real enquanto imagem".
Resposta: Com o Teatro do Oprimido, Boal focava as linguagens não verbais: pensar com as imagens, sem o uso das palavras, usando o próprio corpo do ator e objetos como forma máxima de expressão. Com isso, Boal queria expandir as possibilidades de expressão do oprimido – imaginação, percepção, relacionamento etc. 
De fato, uma analogia perfeita para a expansão das táticas de ação política em torno da comunicação: não ficar apenas no campo do discurso verbal e de conscientização (método dedutivo) e se aventurar pelo campo semiótico da percepção, da iconificação e da apropriação imaginativa de todo signo, principalmente daqueles produzidos pela própria grande mídia no sentido de invertê-la.
De novo, a trolagem do ator José de Abreu: ridicularizar a autoproclamada posse de Juan Guaidó, tão levada a sério pelo jornalismo corporativo.
A todos os organizadores e participantes do workshop meu sinceros agradecimentos pela oportunidade e contribuições com novas ideias que todos trouxeram ao debate!





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terça-feira, janeiro 15, 2019

A vaidade é o pecado predileto do Diabo em "A Casa Que Jack Construiu"

Jack é um engenheiro que sonha em ser arquiteto. Quer sair do anonimato dos cálculos matemáticos para o impacto público da produção de ícones. Arte e Morte andam juntas. E para comprovar sua tese Jack se transforma num cruel e paradoxal serial killer que faz de tudo para chamar a atenção da polícia e da imprensa para suas “obras-primas”. Esse é o filme “A Casa Que Jack Construiu” (2018), do controvertido, diretor Lars von Trier, que discute a atual “arte degenerada” que confunde a produção “artística” com a capacidade de produção imagética viral. Tipo de arte que vai encontrar no fenômeno do serial killer o seu paroxismo. Mas, da pior forma possível, Jack vai descobrir que a vaidade é o pecado mais admirado pelo Diabo.

segunda-feira, dezembro 24, 2018

"Cinegnose" faz nove anos, na direção da primeira década

Em dezembro, o “Cinegnose” completa nove anos de existência, aproximando-se da primeira década de intensas atividades – postagens, cursos e palestras. Em todo esse tempo, o “Cinegnose” passou por dois momentos de mudança: no terceiro aniversário (2012), quando deixamos de ser um site “sobre Gnosticismo” para se tornar “Gnóstico” – a criação de um olhar gnóstico (ontológico, sincromístico, irônico e sintomático) mais amplo para Cinema, Cultura e Sociedade. E agora no seu nono aniversário: esse “olhar gnóstico” coverte-se num pressuposto metodológico para a Teoria da Comunicação, Semiótica e Crítica Ideológica. Por quê?  Porque a realidade é uma ilusão. Mas não uma ilusão qualquer, como “mentira” ou “falsa consciência”. Mas porque a realidade cada vez mais imita roteiros cinematográficos e narrativas ficcionais. Cada vez mais se aproxima do Cinema, a moderna Caverna de Platão.

sexta-feira, outubro 26, 2018

O capitalismo é apenas mais uma forma de gerir o hospício humano em "Insanidade"



O filme checo “Insanidade” (“Silení, 2005) é para poucos pela sua alta carga de niilismo e humor negro. O diretor Jan Svankmajer volta à crítica da sociedade de consumo do filme anterior “Little Otik” (2000), mas dessa vez por um viés político e ontológico: a história humana é comparada a um problema de gestão de um manicômio no qual há duas formas de fazê-lo - ou a liberdade absoluta na qual o prazer e orgia se aproximam do crime e da morte, ou o totalitarismo da dor e castigo que também flerta com a morte. Um jovem tem recorrentes pesadelos até encontrar um milionário excêntrico que emula o próprio Marquês de Sade. Ele apresenta o médico gestor de um manicômio que apresenta uma técnica supostamente revolucionária que irá livrá-lo dos seus pesadelos. “Insanidade” é uma fábula sobre como a História até aqui não conseguiu conciliar Eros e Thanatos, prazer e morte. E como o capitalismo é mais uma forma de gerir essa loucura.

terça-feira, setembro 11, 2018

Zygmunt Bauman e o incêndio "líquido" do Museu Nacional


Conceito de Zygmunt Bauman, a “Modernidade Líquida” aqui no Brasil assume aspectos dramáticos, como um Projeto que deve ser colocado em prática a todo custo: a drenagem do Estado até a sua liquefação e a transformação em mero gestor de “fluxos”. Um sintoma foi o incêndio do Museu Nacional no Rio. Mas, principalmente, as notícias em torno do futuro do Museu: investigações com alta tecnologia e a possibilidade de imprimir réplicas em 3D a partir de fotos do patrimônio perdido. É notável que toda essa sofisticação não estivesse disponível para mantê-lo sólido e em pé. Só entrou em cena depois que o Museu desapareceu! A ideia de liquidez transformou-se em algo muito além de uma categoria econômica: virou uma espécie de “a priori” cognitivo, no qual não há sentimento de luto ou perda que poderiam promover crítica ou indignação. O pensamento “líquido” transforma catástrofes e tragédias como essas em vulgata ou banalidade: a tecnologia poderá trazer tudo de volta mesmo...

sábado, agosto 25, 2018

O fim do mundo é um sintoma, discute "Cinegnose" em Simpósio no Rio


Quase diariamente é previsto o fim do mundo na TV ou na Internet, enquanto no cinema narrativas ficcionais reforçam essas previsões com protagonistas às voltas com apocalipses climáticos, cósmicos, geológicos, tecnológicos, alienígenas etc. Por que o mundo tem que ser destruído? Por que essa necessidade pelo fim, embalada como ficção e entretenimento para consumo de massas? Ideologia? Manipulação político-ideológica? Ou algum tipo de sintoma do inconsciente coletivo? Como o Gnosticismo pode oferecer uma explicação e uma narrativa alternativa esse mistério sobre o “fim dos tempos”? Essa foi a discussão que este humilde blogueiro levou para o Simpósio “Do Mundo Arcaico às Cosmologias Modernas”, evento que aconteceu de 22 a 24 últimos no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas no Rio de Janeiro.

terça-feira, julho 31, 2018

Como ler as intenções de um produto Disney com "Os Incríveis 2"


Em 2001 Karl Rove, Vice-Chefe da Casa Civil do presidente Bush, reuniu os chefões de Hollywood em Beverly Hills. Num esforço de propaganda, Rove exigiu da indústria do cinema mais filmes sobre família, heróis e ameaças externas. Foi o ponto de partida da onda de filmes de super-heróis com franquias da Marvel e DC Comics. E a animação da Disney “Os Incríveis” em 2004 fez parte dessa agenda. Depois de 14 anos, “Os Incríveis 2” é lançado. Diferente do tom motivacional das outras produções do estúdio Pixar, a franquia “Os Incríveis” se distingue pela explícita temática social e política. Dessa vez, Mulher Elástica é a protagonista, patrocinada por um megaempresário de uma rede de comunicação numa estratégia de propaganda para reabilitar a imagem dos super-heróis. E os problemas da família do Sr. Incrível às voltas com a opinião pública, as leis e os políticos. Que se tornam inimigos tão nefastos quanto a nova geração de super-vilões. “Os Incríveis 2” é um exemplo didático da “Agenda Hollywood” proposto por Karl Rove: anti-intelectualismo e repulsa à política como novas estratégias para conquistar as mentes de crianças e adultos. Pauta sugerida pelo nosso leitor Saulo Regis.

sábado, julho 21, 2018

Pós-verdade e Fake News são notícias falsas para colocar jornalistas hipsters "na linha"


Diretores, presidentes e executivos da grande imprensa e associações jornalísticas, historicamente sempre avessos às “teorizações” da área acadêmica, de repente passaram a participar ativamente de congressos e simpósios sobre jornalismo investigativo, ciberjornalismo e jornalismo online. Para repercutirem não só junto a pesquisadores, mas também clientes, profissionais e líderes de opinião a já extensa lista de livros e artigos sobre o fenômeno da “pós-verdade” e das “fake news”. Para provar como a supremacia da verdade deixou de existir no debate público atual. E os vilões: Internet, blogs, redes sociais. Por que esse repentino esforço profissional-acadêmico para dar um ar de novidade a um fenômeno tão velho quanto a própria história do Jornalismo? A necessidade em dar verniz científico para noções retóricas de “pós-verdade” e “fake news” através de um velho macete de engenharia de opinião pública: publicação de artigos científicos e livros. Conferir verossimilhança a uma agenda que traz lucros para a grande mídia: transformar jornalismo investigativo em “checagem”, colocar os jornalistas hipsters “na linha”, sentados, sem ir a campo. E com desdobramentos mercadológicos: monopólio e censura da concorrência no mercado de notícias.

domingo, julho 15, 2018

Por que agora a Globo apoia movimentos identitários? Brizola explica.


Em toda sua história, a Rede Globo foi acusada de sexismo e racismo: uma teledramaturgia com um cast de atores que mais parecia ter saído de algum país nórdico, enquanto os poucos negros ocupavam papéis subalternos; as mulheres eram objetificadas em programas de entretenimento e o machismo sempre figurado como uma prova do verdadeiro amor. Ao mesmo tempo, o seu diretor de Jornalismo dizia que o Brasil nunca foi racista e que isso não passava de uma invenção da esquerda para dividir o País. Mas de repente, a emissora começou a apoiar e dar visibilidade a movimentos identitários e culturais (movimentos de gênero, étnico-raciais, geracionais que postulam a diversidade, alteridade e reivindicação de direitos sociais) como nunca antes. Política de “controle de danos” para tentar descolar a sua imagem do Golpe de 2016 e dar alguma credibilidade ao telejornalismo? Ou há algo além? De natureza estratégica em um ano eleitoral decisivo. “Se a Globo é a favor, somos contra!”, alertava o velho Brizola. E se nesse momento a emissora estiver pondo em prática outra velha máxima: “dividir para conquistar”? A Globo estaria desempenhando o seu derradeiro papel? Ser o para-raio do ódio tanto da esquerda quanto da direita?

terça-feira, fevereiro 13, 2018

Guerra antimídia no sambódromo, zumbis no Carnaval e Grau Zero na política... mas não conte prá esquerda!


Enquanto a escola Paraíso do Tuiuti no Rio de Janeiro deixava Fátima Bernardes e Alex Escobar constrangidos ao vivo, quebrando o silêncio com cacos de falas desconexas enquanto alas de passistas mostravam Temer como “o vampiro neoliberatista”, “manifestoches” com patos amarelos da Fiesp e operários bradando carteiras de trabalho, em Curitiba o Carnaval era assombrado por uma Zombie Walk em plena cidade-sede da Lava Jato. Ao mesmo tempo a esquerda pensa em “frentes suprapartidárias” para ganhar tempo na eminente prisão de Lula e simplesmente se exime em ocupar o campo semiótico da sociedade. E a grande mídia ganha a guerrilha semiótica por W.O.. Com raras exceções como mostrou a Paraíso do Tuiuti... mas não conte para a esquerda, sempre muito ocupada com o jogo parlamentar no qual cada um tenta salvar a própria biografia com narrativas de “luta” e “resistência”. Será que alcançamos o “grau zero da política” como anteviu o pensador Jean Baudrillard, a Matrix política que simula escândalos e golpes para colocar em movimento signos vazios? Teoria da Conspiração? E se descobrirmos que essa expressão foi criada pela CIA em 1967 para tentar desacreditar todas as narrativas não-oficiais?

quarta-feira, janeiro 03, 2018

Curta da Semana: "5 Films About Technology" - cinco acidentes em nossas bolhas virtuais


Cinco contos sobre a nossa obsessão pelos smartphones. Cinco pequenas vinhetas sobre acidentes (físicos, mal entendidos, incontroláveis efeitos virais etc.). Pequenos momentos que retratam a vida de pessoas normais através de gags sobre efeitos inesperados das nossas relações com os celulares nos quais cada efeito é rapidamente interligado com o personagem da próxima vinheta. É o curta de Peter Huang chamado “5 Films About Technology” (2016) que nos permite fazer uma reflexão sobre dois fundamentos da nossa experiência na modernidade: a tecnologia e o acidente. Mas principalmente o irônico destino dos dispositivos móveis: ao invés da comunicação, a incomunicabilidade – bolhas solipsistas que tornam a realidade um conjunto de impressões sem existência própria. Mas o acidente está sempre à nossa espera: sempre as bolhas estouram.  

quinta-feira, setembro 21, 2017

Curta da Semana: "State of Emergency Motherfucker!" - distraídos venceremos!


Um fantasma ronda o Poder e o Estado. O fantasma da apatia e indiferença das massas para o quê quer eles façam ou planejem. Não por serem “alienadas”. Mas simplesmente porque as pessoas estão absorvidas pela absoluta banalidade da vida. Dois jovens muçulmanos comem kebab em uma lanchonete, concentrados num hilariante relato de uma aventura amorosa do Dia dos Namorados. Absolutamente distraídos e indiferentes à chegada de policiais que os abordam como os suspeitos de sempre, com ações cada vez mais invasivas e violentas. O que se segue é uma narrativa de humor surreal e absurdo: a contradição entre uma animada conversa sobre façanhas amorosas e a violência policial que não consegue quebrar a atenção daqueles jovens adolescentes. Esse é o curta State of Emergency Motherfucker! (Etat D’Alert Sa Mere!, 2017) do belga Sebastién Petretti.

domingo, setembro 10, 2017

Santos à espera do tsunami no feriado de sete de setembro


Cidade de Santos/SP. Feriado nacional de sete de setembro. Esse humilde blogueiro em mais uma caminhada pela cidade natal juntando lembranças da infância e juventude se confronta com uma sucessão de sintomas de um País psiquicamente doente. Ao redor do tradicional desfile cívico-militar na orla da praia, de singelas selfies de famílias com filhos e cachorros tiradas com soldados em trajes de ações de choques civis (talvez antevendo futuros distópicos) com reluzentes espadas a pessoas transtornadas gritando xingamentos contra Lula, Dilma etc.. Tudo isso ao lado de sem tetos e catadores de latas de alumínio nos jardins da praia replicando o mesmo ódio, dessa vez contra um escultor de areia acusado de fazer uma estátua da Dilma... A ex-presidenta falou em “calmaria que antecede o tsunami”. Mas talvez esse tsunami seja uma explosão de ressentimento sem direção ou sentido, apenas à espera de um gatilho sócio-econômico. Um tsunami bem longe da tradicional narrativa de “luta e resistência” tão apreciada pela esquerda. 

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